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Projeto CRE8IVE Documento Estratégico sobre o Desenvolvimento Profissional Contínuo de Profissionais que trabalham com jovens

Este projeto foi financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação reflete as opiniões dos autores e a Comissão não pode ser responsabilizada por qualquer utilização que possa ser feita das informações nele contidas. 10-7-2017


DOCUMENTO ESTRATÉGICO

Índice Introdução ............................................................................................................................................... 2 Fundamento do projeto ........................................................................................................................... 3 Políticas Nacionais em Perspetiva ............................................................................................................ 5 As profissões do setor do trabalho com jovens ................................................................................... 5 Enquadramento Legal ......................................................................................................................... 5 Estratégias Nacionais........................................................................................................................... 7 Prioridades das políticas governamentais para a juventude e programas de financiamento ............. 8 Desenvolvimento Profissional Contínuo de Profissionais Profissionais que trabalham com jovens ............................. 10 Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC) a Nível Nacional ....................................................... 10 Reconhecimento e validação de aprendizagens ............................................................................... 11 Estratégia de Formação Europeia...................................................................................................... 12 Conclusão .............................................................................................................................................. 15

Recomendações..................................................................................................................................... 16 Referências ............................................................................................................................................ 18

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Introdução Introdução O trabalho com jovens visa melhorar as condições de vida dos jovens e apoiá-los a tornarem-se cidadãos ativos e envolvidos nas decisões e ações que os afetam e às comunidades onde estão inseridos. Neste sentido, o trabalho com jovens é considerado um serviço público pela sua contribuição para a construção da sociedade civil. Apesar de hoje em dia o trabalho com jovens ter ganho maior reconhecimento e visibilidade, ainda há muito por fazer em diferentes áreas. Uma das quais prende-se com a melhoria da qualidade do trabalho com jovens através de programas de formação para os profissionais deste setor. As oportunidades de formação para o desenvolvimento profissional contínuo (DPC) dos profissionais do trabalho com jovens são fundamentais para garantir a credibilidade e a validação profissional destes técnicos, apoiar e sustentar o desenvolvimento de um trabalho de qualidade neste domínio. A importância de formar profissionais do trabalho com jovens é evidente por dois motivos. Em primeiro lugar, para ajudar estes profissionais na aquisição de aptidões e competências que os ajudem a lidar com as questões complexas e desafiantes do trabalho com jovens, nomeadamente as que relacionam com as dinâmicas de vida dos jovens relacionadas com o desemprego e a tecnologia. Em segundo lugar, porque por definição o trabalho com jovens envolve processos de ensino e aprendizagem na medida em que procura apoiar o desenvolvimento pessoal e social dos jovens através da aprendizagem formal, não formal e/ou informal (Comissão Europeia, 2017). Deste ponto de vista a educação e o trabalho com jovens estão intrinsecamente ligados e os profissionais do trabalho com jovens podem ter necessidades de formação na área da pedagogia. Este documento estratégico cobre vários aspetos relacionados com as oportunidades de formação para o desenvolvimento profissional contínuo de profissionais do trabalho com jovens e profissionais da educação de adultos dos Estados Membros da União Europeia. O documento apresenta também uma perspetiva política sobre o trabalho com jovens e a formação dos profissionais deste setor, bem como estratégias nacionais a nível europeu. Este estudo discute o enquadramento legal e as estratégias do trabalho com jovens e sublinha os assuntos relacionados com a formação dos profissionais do setor do trabalho com jovens. Para concluir, é apresentado um conjunto de recomendações que visam a melhoria do desenvolvimento profissional contínuo de profissionais do trabalho com jovens.


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Fundamento do projeto O projeto CRE8IVE assenta no princípio de que a formação de profissionais que trabalham com jovens pode ter um impacto positivo nesse mesmo trabalho. A importância de cursos de formação para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade nesta área está devidamente identificada nos documentos da 2ª Convenção Europeia sobre o Trabalho com Jovens (2015). O documento, que descreve os elementos para a um trabalho de qualidade nesta área, destaca a importância da formação destes profissionais: •

Para um trabalho de qualidade com jovens, são fundamentais debates sobre o conjunto de competências e qualificações necessárias para os profissionais deste setor, assim como o desenvolvimento e a implementação de modelos de competências relacionados.

A formação é um elemento fundamental para apoiar o desenvolvimento de um trabalho de qualidade no setor do trabalho com jovens, assim como estratégias, conceitos e programas de formação para os seus profissionais com base num conjunto de competências previamente estabelecido.

É necessário encontrar formas de reconhecer as qualificações dos profissionais do setor do trabalho com jovens – empregados, freelancers ou voluntários – através de formas adequadas de documentação, certificação e validação das competências que estes profissionais adquiriram ao longo das suas experiências de trabalho.

Para ajudar ao reconhecimento das competências dos profissionais do trabalho com jovens, são necessárias estratégias nacionais de reconhecimento do trabalho com jovens e das aprendizagens não formais e informais desenvolvidas neste domínio.

O projeto CRE8IVE reconhece o impacto positivo de uma formação contínua de profissionais que trabalham com jovens para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade nesse domínio. Este projeto sublinha o papel fundamental a ser desempenhado pelos profissionais ligados ao setor do trabalho com jovens e à formação de adultos e procura assegurar que estes profissionais possam beneficiar de ações de formação que contribuam para o seu desenvolvimento profissional de forma contínua. O projeto reconhece que para muitos jovens carenciados, as abordagens da educação formal não alcançaram os resultados de aprendizagem exigidos para o atual mercado de trabalho. Nesse sentido, sugere-se a utilização dos meios digitais e das artes criativas como áreas de ensino complementares, ou alternativas, para a aquisição de competências básicas e transversais. O projeto CRE8TIVE teve como objetivo específico desenvolver e testar um conjunto de materiais em programas de formação de formadores para apoiar os profissionais do setor do trabalho com jovens e 3


DOCUMENTO ESTRATÉGICO os profissionais de educação a fazerem uso dos meios digitais, da narrativa (storytelling), de técnicas de drama e da música no desenvolvimento de competências básicas. Para cumprir esse propósito, foi desenvolvido o “Currículo de Formação de Formadores CRE8IVE”, com o objetivo de apoiar a realização de um trabalho de alta qualidade no setor da juventude, procurando dessa forma levar a que a maioria dos jovens desfavorecidos da Europa voltem a ser integrados na educação e formação. Como objetivos específicos, o projeto pretendeu: •

Promover a inovação na educação de jovens em risco e garantir que estes adquiram competências essenciais para uma cidadania ativa e desenvolvimento pessoal.

Apoiar a reintegração de jovens em risco na educação formal ou no mercado de trabalho e a sua progressão enquanto membros válidos da sociedade Europeia.

Assegurar que jovens com um percurso na educação não tradicional possam beneficiar destas intervenções pedagógicas inovadoras.

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Políticas Nacionais em Perspetiva As profissões do setor do trabalho com jovens É difícil identificar as características específicas que estão associadas às ocupações e estatuto profissional no setor do trabalho com jovens. Um dos aspetos mais marcantes, e dos pontos fortes, do trabalho com jovens é precisamente a diversidade. Todo uma gama de atividades, métodos, contextos, atores e objetivos são abrangidos pelo trabalho neste setor, muitas vezes em resposta a interesses e necessidades locais. Na maioria dos Estados Membros, os profissionais da juventude não são reconhecidos como profissões oficiais e independentes. No entanto, existe uma série de iniciativas conducentes ao reconhecimento do trabalho neste setor enquanto carreira autónoma e que abrange vários profissionais do setor. Apesar do trabalho com jovens ser reconhecido como uma profissão autónoma, esse reconhecimento não é universal e os requisitos legais são pontuais e estão, na maioria dos casos, relacionados com normas de qualificação (Comissão Europeia, 2015a & 2015c). O trabalho com jovens tem origem em diferentes campos de formação e educação, normalmente relacionados com a pedagogia, a sociologia, a psicologia, o trabalho social, etc. De acordo com o documento orientador do Fórum Europeu da Juventude (2014, o perfil de um profissional deste setor é o de uma pessoa com formação no ensino superior, nomeadamente na área das ciências sociais. Não obstante, o documento refere que os profissionais do setor trabalho com jovens nem sempre procuraram obter formação de nível superior com o objetivo de se tornarem profissionais deste setor de atividade. Enquadramento Legal O enquadramento legal de cada Estado Membro é um fator decisivo para o setor do trabalho com jovens a nível de cada país. Apesar de serem raros os aspetos relacionados com o setor do trabalho com jovens que não são abrangidos pela legislação em vigor, existe, contudo, uma diversidade no quadro legal sobre estas matérias nos diferentes Estados Membro. De acordo com a Fig.1, existe em 13 países legislação que regula especificamente o trabalho com jovens. Enquanto que nos restantes 11 países é a legislação nas áreas como os assuntos sociais e a educação que especifica a normas para os diferentes aspetos do trabalho com jovens. De acordo com o relatório da Comissão Europeia (2014), o Chipre, a Grécia e a Hungria foram identificados como países onde não existe qualquer legislação que cubra os aspetos relacionados com o trabalho com jovens. O relatório argumenta que esta situação se deve largamente “à falta de consciência do potencial de valor acrescentado do trabalho com jovens; à falta de reconhecimento e falta de tradição no trabalho com jovens em cada um dos países mencionados”. A França e a Suécia são os únicos países mencionados como tendo as questões

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DOCUMENTO ESTRATÉGICO referentes a este setor cobertas pela legislação de assuntos sociais. Por seu turno, no Reino Unido e na República Checa essas questões estão enquadradas na legislação relativa à educação. Figura1: Figura1: Contexto legal do trabalho no setor da juventude

Fonte: Comissão Europeia, 2014

O enquadramento legal de cada Estado Membro define as estruturas onde são desenvolvidas as políticas e as estratégias nacionais para a juventude. De acordo com os quadros legais existentes os aspetos do trabalho com jovens, que são alvo de legislação, dizem respeito a: •

Mecanismos de financiamento A legislação regulamenta os mecanismos de financiamento necessários para a distribuição de orçamento para projetos desenvolvido pelo estado e/ou por entidades do terceiro sector. A legislação define também quem pode ser elegível e o que pode ser elegível para financiamento público.

Definição e reconhecimento reconhecimento A legislação indica ou define que organizações e instituições podem ser legalmente reconhecidas como prestadoras de serviços no setor do trabalho com jovens.

Órgãos responsáveis A legislação institui os órgãos de governo para o desenvolvimento de atividades no setor do trabalho com jovens. Para a maioria dos países da União Europeia o trabalho com jovens é da 6


DOCUMENTO ESTRATÉGICO responsabilidade dos ministérios responsáveis pela área da Educação. As leis incluem também os requisitos desses órgãos para a implementação de políticas para a juventude, além de terem a responsabilidade de financiar as organizações de juventude. •

Requisitos e responsabilidades Os requisitos estabelecidos nas leis dos vários países variam desde exigir que o Estado assegure o desenvolvimento de atividades no setor da juventude, que as instalações para o desenvolvimento de atividades extracurriculares sigam um programa de educação específico, à definição do número mínimo de funcionários necessários para o desenvolvimento das atividades.

Estratégias Nacionais Analisando o cenário político de todos os países da União Europeia é possível verificar que os jovens são entendidos como uma prioridade política e o trabalho com jovens é cada vez mais importante. Na grande maioria dos países da Europa existem desenvolvimento políticos críticos com repercussões no trabalho com jovens (Comissão Europeia 2014). Em alguns dos países as políticas para a juventude estão ainda num estado de desenvolvimento inicial. Enquanto que em outros países, já com longas tradições neste setor, as estratégias e os compromissos políticos com a juventude estão já em processo de substituição e revisão. Existem países onde os progressos nos assuntos da juventude têm sido mais lentos, ou foram até interrompidos, devido à crise económica que esses Estados Membros enfrentam. São disso exemplo países como o Chipre, a Grécia, Portugal e a Irlanda (Fórum europeu da Juventude, 2014). Vários Estados Membro desenvolveram estratégias ou planos nacionais para o trabalho com jovens. Enquanto que na maioria dos países os diferentes aspetos relacionados com este setor fazem parte da estratégia ou plano de ação nacional para a juventude (Comissão Europeia, 2017). A Figura 2. indica os casos: •

Onde existe uma estratégia definida de trabalho no setor da juventude a nível nacional.

Onde as estratégias específicas do trabalho com jovens são integradas nas estratégias nacionais para a juventude.

Onde não existem evidências de aspetos relacionados com o trabalho com jovens em nenhum documento estratégico.

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DOCUMENTO ESTRATÉGICO Figura 2: 2: Estratégias Nacionais para o trabalho no setor da juventude

Fonte: ICF GHK, relatórios nacionais

Independentemente de os aspetos referentes ao trabalho no setor da juventude estarem ao abrigo de uma estratégia ou planos de ação específicos, ou sob diretrizes gerais de uma política para a juventude, existem diferentes formas como essas políticas fazerem referência ao trabalho com jovens. Na maioria dos casos, estas políticas: •

Definem as prioridades, valores e objetivos do trabalho com jovens.

Sublinham a importância do trabalho com jovens.

Visam consciencializar e mostrar de que forma o trabalho com jovens pode contribuir para o desenvolvimento dos jovens.

Focam a garantia da qualidade e avaliação do trabalho com jovens, assegurando as normas e melhorando a qualidade no setor.

Garantem o acesso a mecanismos de financiamento.

Definem as condições de acesso a fontes de financiamento para organizações do setor da juventude.

Descrevem medidas específicas para o trabalho no setor da juventude.

Prioridades das políticas governamentais para a juventude e programas de financiamento Os países da União Europeia têm diferentes políticas, programas e fontes de financiamento para desenvolver e apoiar o trabalho com jovens. Estas abordagens variam entre a existência de estratégias de trabalho muito específicas, entre a incorporação de aspetos relacionados com as políticas da juventude em diferentes ministérios, entre a não existência de objetivos políticos específicos, e entre a criação de programas específicos e fontes de financiamento em determinadas áreas com o objetivo de 8


DOCUMENTO ESTRATÉGICO fortalecer o domínio do setor do trabalho com jovens (Comissão Europeia, 2015b). As prioridades estabelecidas nessas abordagens destacam as principais questões a nível político quando se trata do trabalho com jovens. Resumidamente, essas principais prioridades listam-se em: •

Orientar jovens desfavorecidos e em risco de exclusão social;

Desenvolver trabalho preventivo no setor do trabalho com jovens e instalações e serviços para jovens;

Garantir a qualidade no trabalho no setor da juventude;

Desenvolver uma prática baseada em evidências;

Desenvolver um sistema ou infraestruturas de apoio ao trabalho com jovens.

As duas primeiras prioridades mostram que o trabalho no setor da juventude deve ser direcionado para grupos específicos e ser de natureza preventiva. Os jovens desfavorecidos e em risco de exclusão social são uma área prioritária em muitos países da União Europeia e existem fundos específicos para estas áreas. Um trabalho de alta qualidade no setor da juventude parece ser também o principal foco de muitos países, o implica o aumento de padrões e garantias de qualidade. Este trabalho é feito através do incentivo das próprias organizações de juventude para estabelecer e aplicar padrões de qualidade ou um quadro de normas a nível nacional. Neste contexto, as políticas para a juventude abrangem elementos como a formalização da certificação ou a aposta na formação de profissionais neste setor. Muitas dessas políticas passam também pelo investimento direto em infraestruturas através da melhoria de centros de juventude e outras instalações e serviços. As áreas temáticas prioritárias do trabalho com jovens estão em linha com os oito campos estabelecidos na Estratégia da União Europeia para a Juventude: participação, cultura, inclusão social, voluntariado, saúde e bem-estar, emprego, educação e formação, e os jovens e o mundo (Jornal Oficial da União Europeia, 2012). A Cultura é uma das áreas pouco mencionadas ou destacada nestas políticas e programas a um nível político. Só em alguns países as Artes e a Cultura são referenciadas, nas estratégias políticas para a juventude, como áreas temáticas.

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Desenvolvimento Profissional Contínuo de Profissionais que trabalham com jovens Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC) a Nível Nacional Apesar de existirem provas das oportunidades de formação para os profissionais do trabalho com jovens na maioria dos Estados Membro, e de que o reconhecimento e validação dessas competências acontece em certa medida, não há um enquadramento claro em relação ao desenvolvimento profissional destes técnicos. De acordo com o relatório da Comissão Europeia (2015b), as oportunidades de formação e o reconhecimento de aprendizagens são as necessidades apontadas no domínio do setor do trabalho com jovens. Os programas de formação para o desenvolvimento profissional contínuo são apoiados pelos governos, por organizações do setor da juventude e por programas financiados pela União Europeia (Figura 3.). Na maioria dos casos, são as organizações do setor da juventude que desenvolvem cursos de formação específicos para os seus profissionais de forma a colmatarem as suas próprias necessidades. Em muitos países, os programas de formação destinados a profissionais que trabalham com jovens são apoiados pelo Programa Juventude em Ação da União Europeia (Comissão Europeia 2017). Países como a Bulgária, o Chipre, a Grécia e Portugal estão muito dependentes das oportunidades de formação disponibilizadas pelo Programa Juventude em Ação. Apesar do Programa Juventude em Ação assegurar o apoio financeiro para estes cursos de formação, os cursos, são na sua grande maioria, oferecidos por Organizações Não Governamentais do setor da juventude. Figura 3: Oportunidades de formação para os profissionais do trabalho com jovens

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Reconhecimento e validação de aprendizagens O reconhecimento e a validação de aprendizagens são questões tidas em conta nos programas de formação para os profissionais do trabalho com jovens. Mais especificamente, os problemas que dizem respeito à falta de reconhecimento das competências e conhecimentos que estes profissionais adquiriram durante programas de formação. E mais particularmente, as novas competências e conhecimentos adquiridos que não estão relacionados a nenhuma certificação específica. O reconhecimento de aprendizagens entre os profissionais do trabalho com jovens é apenas desenvolvido a um nível nacional e municipal pelas organizações do setor. A nível governamental o reconhecimento centra-se na realização de programas de formação aprovados. As organizações do setor da juventude desenvolvem as suas próprias certificações para os programas de formação que desenvolvem, que em muitos dos casos discriminam a qualidade e os padrões de aprendizagem. No entanto, existem provas que evidenciam alterações nestas práticas com o reconhecimento a nível nacional a considerar competências além das qualificações específicas. Nesse sentido, tanto a nível governamental como ao nível das organizações, são cada vez mais registadas e validadas as competências e aptidões individuais (Comissão Europeia, 2015ª; Conselho da União Europeia, 2015). Ao nível europeu foram criadas ferramentas, como o “Passe Jovem” (YouthPass) e o Portefólio Europeu para Responsáveis e Profissionais do Setor da Juventude para avaliar e descrever as competências adquiridas no trabalho com jovens. As Recomendações do Conselho Europeu sobre a validação de aprendizagens não formais e informais, adotada em dezembro de 2012, preveem que os Estados Membros estabeleçam acordos de validação até 2018. Contudo, muitos países mostraram reservas relativamente ao reconhecimento de competências devido ao papel desempenhado pelos profissionais do trabalho com jovens. De acordo com o relatório da Comissão Europeia (2014), existe: •

Falta de entendimento relativamente ao trabalho desempenhado pelos profissionais que trabalham com jovens. Em muitos países, o trabalho com jovens não é considerado uma carreira.

Necessidade de clarificar as qualificações e/ou as normas relacionadas com o trabalho com jovens de forma a contribuir para um maior reconhecimento das profissões relacionadas com este setor.

Falta de reconhecimento do trabalho com jovens enquanto ocupação e falta de perspetivas de carreira devido a condições de trabalho muitas vezes precárias.

Falta de representatividade dos profissionais neste setor.

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Estratégia de Formação Europeia A Estratégia de Formação Europeia (EFE) da Comissão Europeia foi o principal contributo para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade no setor do trabalho com jovens ao abrigo do Programa da Juventude (2000-2006) e do Programa Juventude em Ação (2007-2013), este último o atual Programa Erasmus+. A implementação da EFE representou um grande passo para garantir a qualidade e quantidade de formação e medidas de apoio necessárias nos programas de apoio no campo da juventude. Dez anos depois da sua implementação, a EFE foi revista de forma a responder aos objetivos das políticas em vigor e também para dar resposta ao renovado enquadramento para a cooperação europeia nos domínios da juventude (2010-2018), assim como para o enquadramento estratégico para a cooperação europeia nas áreas da edução e formação (EF – Educação e Formação 2020). De acordo com o relatório da Comissão Europeia (2010) durante os primeiros dez anos de implementação da EFE registaram-se alguns impactos positivos na melhoria do desenvolvimento de competências dos profissionais do setor do trabalho com jovens e no desenvolvimento de ferramentas para o reconhecimento das qualificações para estes profissionais. O estudo da Comissão Europeia (2014) considera as oportunidades e o reconhecimento das aprendizagens dos profissionais do setor do trabalho com jovens como sendo um dos fatores chave para o seu sucesso. Para este fim, uma das recomendações da EFE (2015, p.4) indica que para alcançar um trabalho de qualidade no setor do trabalho com jovens é necessário “promover, através de oportunidades e programas de qualidade, aprendizagens experimentais e o desenvolvimento de competências (…) e o reconhecimento e a validação dessas mesmas competências”.

1. A EFE segue seis objetivos destinados ao desenvolvimento de um trabalho de qualidade no setor do trabalho com jovens na Europa através da capacitação. Para cada objetivo a EFE define um conjunto de medidas a serem implementadas. A EFE pretende criar uma “Academia Europeia Virtual para a qualidade do trabalho no setor do trabalho com jovens” como um elemento sustentável e contínuo para a capacitação deste setor. 2. Incentivar a cooperação europeia entre as diferentes partes interessadas para fomentar um trabalho de qualidade no setor do trabalho com jovens. O Programa Erasmus+ apoia os promotores de projetos no desenvolvimento de conceitos de formação que incentivem a inovação na qualidade para o trabalho com jovens através de novas formas de capacitação, modelos de formação, materiais, currículos e estratégias.

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DOCUMENTO ESTRATÉGICO 3. A EFE demonstrou que existe um conhecimento limitado acerca da capacitação e do seu impacto a nível da qualidade no setor do trabalho com jovens. 4. No âmbito do Programa Erasmus+ a EFE tem como objetivo desenvolver, junto das Agências Nacionais, um sistema modular de formação de formadores que servirá como um modelo de referência e orientação para os diferentes atores nos domínios da formação de formadores. O sistema assentará num conjunto de competências da EEF para formadores, desenvolvidos no âmbito do Programa Juventude em Ação – “Formação de Formadores da EFF”. A EFE criou a plataforma SALTO-YOUTH (www.salto-youth.net), o mais utilizado e conhecido portal europeu para especialistas, profissionais do trabalho com jovens e formadores. O portal inclui as seguintes ferramentas: •

Calendário Europeu de Formação (convocatórias para formações no âmbito do setor do trabalho com jovens);

Otlas (uma ferramenta que permite encontrar parceiros europeus para o desenvolvimento de projetos neste setor);

Toolbox (permite a partilha de metodologias pedagógicas);

TOY European trainers (ferramenta que disponibiliza serviços de formadores para prestadores de formação).

5. Os Sistemas de Gestão do Conhecimento e Formação de Pessoas das Agências Nacionais disponibilizam formações para as Agências Nacionais com base nas suas competências e perfis, permitindo uma discussão de conceitos, formações e partilha de boas práticas. A EFE desenvolveu um conjunto de competências para formadores que trabalham a nível internacional no setor do trabalho com jovens e está, já há alguns anos, na agenda de instituições europeias que prestam serviços na área da formação não formal e dos programas Erasmus+ e Juventude em Ação. O desenvolvimento de um conjunto de competências, para formadores que trabalham a nível internacional, tem como objetivo disponibilizar aos formadores independentes, a equipas de formadores e a prestadores de formação, como organizações e instituições e seus programas, um modelo que permita: •

O desenvolvimento de ferramentas de avaliação (auto e hétero avaliação) para formadores independentes,

A criação de ferramentas para equipas de formação para o desenvolvimento das suas competências individuais e de equipa, e

O desenvolvimento de estratégias de formação e ferramentas atuais (Centro de Recursos de Formação e Cooperação – SALTO-YOUTH).

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DOCUMENTO ESTRATÉGICO Desde a sua implementação a EFE criou milhares de oportunidades de aprendizagem não formal (cursos de formação, seminários, conferências, atividades de constituição de parcerias, etc.) para várias centenas de milhares de participantes ativos no setor do trabalho com jovens por toda a Europa. No total, foram investidos 152 milhões de euros entre 2007 e 2017 para ofertas de formação no setor da juventude beneficiadas por 300 000 participantes em 16 000 projetos desenvolvidos por organizações não-governamentais, agências nacionais e pelo centro de recursos SALTO-YOUTH (Comissão Europeia, 2015c). Com o Erasmus+ (2014-2020) colocou-se a qualidade do trabalho no setor do trabalho com jovens no topo da agenda política, isto é a Estratégia Europeia para a Juventude (2010-2018), a Declaração da 2ª Convenção Europeia para o Trabalho no Setor da Juventude, as conclusões do Conselho sobre a qualidade do trabalho no setor do trabalho com jovens (2013) e o Plano de Trabalho da União Europeia para a Juventude (2014-2015).

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Conclusão Conclusão A revisão da literatura demonstrou que para garantir a qualidade do trabalho prático no setor do trabalho com jovens é necessário que exista um enquadramento básico das normas de qualidade que tenha em conta os contextos nacionais, incluindo os modelos de competências para os profissionais deste setor e um sistema de acreditação que contemple experiências e aprendizagens já adquiridas. Para se caminhar no sentido de garantir a qualidade neste setor, também é importante que os programas de formação mantenham um equilíbrio adequado entre a aquisição de conhecimentos teóricos e a aplicação de competências práticas. Neste sentido, os programas de formação devem permitir que os profissionais do setor do trabalho com jovens sejam capazes de responder às realidades do setor nos seus diferentes níveis, adotando métodos pedagógicos criativos e inovadores. Concluindo, os programas de formação para o desenvolvimento pessoal contínuo devem também ter a capacidade de dar resposta às necessidades, tendências e mudanças que podem ocorrer nas vidas dos jovens, especificamente para aqueles que dizem respeito aos jovens em risco (desemprego, imigração tecnologia, competências interculturais e extremismo). A seguinte citação descreve as s consequências que podem advir caso não se invista no trabalho no setor da juventude: A falta de investimento no trabalho no setor da juventude tem três consequências. É uma renúncia às responsabilidades das próximas gerações. É uma perda de oportunidade para fortalecer a sociedade civil contemporânea em toda a Europa. E finalmente, é o enfraquecimento do potencial para lidar eficazmente com alguns dos desafios sociais do nosso tempo, como por exemplo o desemprego e o extremismo. (Convenção Europeia da Juventude, 2015, p. 10)

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Recomendações Recomendações As seguintes recomendações dizem respeito aos programas de formação para profissionais do setor do trabalho com jovens em contexto de formação profissional contínua, como forma de garantir validação e credibilidade profissional e garantir o apoio na prestação de um trabalho de qualidade. •

A qualidade no trabalho com jovens precisa de ser mais explorado, sobretudo no que diz respeito ao conjunto de competências e qualificações para os profissionais deste setor e ao desenvolvimento e implementação de modelos de competências relacionados. Tem de existir um enquadramento de base para a qualidade no trabalho com jovens que tenha em consideração os diferentes contextos nacionais, incluindo modelos de competências para os profissionais deste setor e sistemas de acreditação para experiências e aprendizagens adquiridas anteriormente. Apesar de alguns dos Estados Membros reconhecerem o trabalho com jovens como uma profissão independente ainda é necessário estabelecer diretrizes para a profissionalização dos técnicos deste setor em cooperação com o setor da educação.

O reconhecimento de competências e conhecimento ganho pelos profissionais do trabalho com jovens nos programas Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC) tem de estar ligado a credenciais específicas ou a condições melhoradas.

Para ganhar reconhecimento, o trabalho com jovens precisa de ser promovido ativamente e defendido, a vários níveis, por todas as partes interessadas, quer da esfera política, quer do setor público e da sociedade civil.

Para ajudar no reconhecimento das competências do trabalho com jovens e dos profissionais desta área são necessárias estratégias nacionais para o reconhecimento do trabalho com jovens e de aprendizagens não formais e informais neste setor. É necessário um reconhecimento e validação das aprendizagens e concretizações realizadas em contexto de aprendizagem não formal e informal.

A formação é um elemento crucial para apoiar o desenvolvimento de um trabalho com jovens de qualidade, assim como estratégias, conceitos e programas de formação no âmbito do trabalho com jovens assentes num conjunto de competências definidas. Existe uma necessidade de infraestruturas que preparem os profissionais do trabalho com jovens para o desempenho das suas funções e que os apoie num desenvolvimento profissional contínuo como condição essencial à sua profissionalização.

A formação tem de ser capaz de dar resposta aos desafios emergentes enfrentados pelos jovens na Europa e de os capacitar para as mudanças e tendências na sociedade 16


DOCUMENTO ESTRATÉGICO e na política. Os currículos de formação têm de ser adotados de forma a ajudar os profissionais do trabalho com jovens a responder aos desafios atuais e emergentes enfrentados pelos jovens na Europa, desafios como o desemprego, a tecnologia, o extremismo e a imigração. •

Os currículos de formação para os profissionais do trabalho com jovens devem incluir aspetos relacionas com as artes e a cultura uma vez que estas áreas são muitas vezes negligenciadas. Para o fazer, é necessário criar um conjunto de competências e aptidões específicas.

É necessário apoiar a capacidade do trabalho com jovens para dar resposta aos novos desafios e oportunidades que as novas tecnologias oferecem. Os profissionais do trabalho com jovens precisam de ter aptidões e competências relacionadas com os meios digitais para poderem tirar proveito das oportunidades criadas neste setor e que podem contribuir para a sua própria formação e para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade. Isto implica uma melhoria nas atuais práticas formativas para os profissionais do trabalho com jovens, com recurso a novas soluções de serviços digitais e ferramentas online que possibilitem outras formas de ensino, tais como o eLearning e a aprendizagem combinada (ensino à distância e presencial).

À media que o trabalho com jovens se envolve mais com outros setores que também desenvolvem trabalho neste setor, há uma necessidade emergente de educação e formação intersectorial para os profissionais do trabalho com jovens no geral.

A análise da literatura revela que há uma mudança na ênfase dada ao trabalho com jovens com vista a um trabalho mais focado na intervenção e concentrado em grupos de risco e mais apto a dar resposta à crescente necessidade de apoio a jovens desfavorecidos. Os profissionais do trabalho com jovens necessitam de formação para serem capazes de aplicar métodos inovadores e criativos, muitas vezes caracterizados de pouco ortodoxos, mas que podem beneficiar os jovens em risco do ponto de vista da história da educação não tradicional.

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DOCUMENTO ESTRATÉGICO

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