A RENDIÇÃO DO ÚLTIMO CORONEL O presidente do Senado anuncia a Lula sua disposição de entregar o cargo para preservar o mandato, abrindo o processo de sucessão. O que o Brasil espera é que ele sirva para mudar as práticas e os vícios que alimentam a corrupção e o fisiologismo na política Otávio Cabral e Diego Escosteguy Fotos Sérgio Lima / Folha Imagem e Paulo Liebert /AE
SARNEY? QUE SARNEY? Lula defendeu publicamente o presidente do Senado até quando lhe foi conveniente para garantir a gratidão e o apoio do PMDB na sucessão presidencial VEJA TAMBÉM • Do arquivo (8/7/2009): A maldição da presidência do Senado • Do arquivo (15/7/2009): Sarney se afunda ainda mais • Do arquivo (22/7/2009): Os novos e bons companheiros • Do arquivo (29/7/2009): A digestão do poder
• Exclusivo on-line: Os rolos de Sarney e O senador José Sarney lutou muito, mas não conseguiu vencer os fatos. Ao decidir disputar a presidência do seus parentes Senado, em fevereiro passado, acreditava que o cargo era uma garantia de imunidade para ele e a família – àquela altura já investigada pela Polícia Federal por suspeita de uma multiplicidade de crimes. A visibilidade, porém, teve efeito contrário e acabou colocando o mais longevo dos políticos brasileiros no centro de uma devastadora crise no Congresso. José Sarney, o último dos coronéis, rendeu-se diante de tantos escândalos. Na semana passada, o senador disse ao presidente Lula que está cansado e que resolveu deixar o cargo. "Não aguento mais. Vou negociar uma saída", afirmou, de acordo com um interlocutor privilegiado do presidente. A conversa aconteceu na segunda-feira, pelo telefone, quando Lula ligou para saber notícias sobre o estado de saúde de Marly Sarney, esposa do presidente do Senado, que se recupera de uma cirurgia em São Paulo. Sarney, de acordo com o relato feito por Lula, estava abatido, disse que não conseguia dormir havia dias e se culpava pelo estado de saúde da mulher, que sofrera um acidente doméstico, fraturando o braço e o ombro. Nos às vezes tortuosos códigos da política, desabafos como o do senador Sarney podem ser interpretados como um simples blefe, uma ameaça velada ou até chantagem de alguém em busca de proteção. Não é o caso. Desde o início da crise, Lula se empenhou pessoalmente na defesa de Sarney, sem nenhum pudor, a ponto de causar constrangimentos ao seu partido, quando desautorizou publicamente o líder do PT, senador Aloizio Mercadante, que havia pedido o afastamento do presidente do Congresso. Depois da conversa telefônica com José Sarney, porém, Lula mudou completamente o tom. Antes disposto a sacrificar um pouco da própria popularidade em troca de um punhado de votos no Congresso e de uma provável aliança com o PMDB na campanha eleitoral de 2010, o presidente vislumbrou a hora de mudar o discurso. Sarney? "Não é um problema meu. Não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem para senador. Votei nos senadores de São Paulo. Quem tem de decidir se ele fica presidente é o Senado", disse Lula em entrevista, recolhendo a boia. Jamais, portanto, poderá ser acusado de ter associado sua credibilidade à tentativa de manter no cargo um presidente do Congresso envolvido em nepotismo, desvio de dinheiro, contas no exterior... E, daqui a alguns dias, Lula pode, quem sabe, invocar até uma conveniente crise de amnésia: Sarney? Que Sarney?... O presidente, o PMDB e seus aliados já começaram a discutir o futuro do Senado pós-Sarney, mas muito distante daquele que deveria ser o ponto de partida. Lula, por exemplo, está preocupado com questões mais práticas, como a sucessão. Trabalha para que Sarney renuncie, o que obrigaria o Senado a convocar novas eleições em cinco dias, evitando que a Casa ficasse sob o comando do vice-presidente, Marconi Perillo, do PSDB. O PMDB, republicano como sempre, quer continuar com a presidência, mas tem dificuldades em encontrar um candidato que seja da absoluta confiança do partido e que tenha a ficha limpa – missão aparentemente impossível. Sarney é o quarto político que presidiu o Senado nos últimos dez anos a cair em desgraça. Antes dele, Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros passaram por processos idênticos, o que mostra que o problema principal nunca foi enfrentado. "O Senado vive uma crise institucional provocada pela falta de ética, pela complacência com o uso indevido dos recursos públicos e pela falta de transparência", analisa o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília. "Não adianta apenas mudar os nomes. É necessária uma mudança radical nas práticas." A questão é que isso não interessa a quem deveria promover as mudanças – e os escândalos envolvendo o senador José Sarney explicam por quê. A família Sarney sempre teve um apreço especial pelo setor energético, feudo do clã há pelo menos duas décadas. Além de dividendos políticos, o controle do setor proporciona outras vantagens. A Fundação José Sarney, criada pelo senador no Maranhão, é acusada de desviar dinheiro de um convênio com a Petrobras. O Instituto Mirante, ONG presidida pelo filho-problema Fernando Sarney, recebeu recursos da Eletrobrás para financiar projetos culturais no estado – parte desviada para contas de empresas da família. Fernando Sarney é o mesmo empresário que fez bons negócios na década de 80
vendendo postes de luz à estatal de energia do Maranhão ao mesmo tempo em que presidia a empresa por indicação do pai. A incursão mais recente e enrolada dos Sarney no campo energético ocorreu em Santo Amaro, no interior do estado. Lá, a Petrobras descobriu um manancial de gás natural. Há três anos, com a valorização do gás no mercado internacional, a Agência Nacional do Petróleo decidiu licitar a área para exploração. Antes que isso acontecesse, porém, o senador José Sarney tomou posse do local. Tomou posse, explique-se, porque há indícios de que houve grilagem de terras e estelionato – tudo coincidentemente conjugado com decisões de órgãos federais do setor energético comandados por pessoas ligadas a Sarney. Fotos Ana Araújo e Celso Junior/AE
O IMPÉRIO SOB INVESTIGAÇÃO Vista aérea do Convento das Mercês (à dir.), sede do Memorial José Sarney, em São Luís, e o poço de gás – a válvula em terras do grupo na região dos Lençóis Maranhenses (à esq.). A situação se agravou com as revelações sobre desvio de dinheiro público, tráfico de influência e grilagem de terras
Oficialmente, as áreas onde ficam os reservatórios de gás pertencem à empresa Adpart, que tem o presidente do Senado como cotista. O problema é que existem enormes discrepâncias entre o que dizem os papéis da empresa de Sarney e o que indicam as certidões dos imóveis. O que se media em poucos metros nas certidões dos cartórios do Maranhão passou a se contar em centenas de hectares nos documentos de Brasília. O milagre da multiplicação é que permitiu ao senador se tornar proprietário da área minada de gás. Numa certidão, Sarney diz ter comprado 200 hectares do lavrador Clodoaldo Garcia Lira. Entrevistado por VEJA, porém, o lavrador disse que vendera somente um "pedacinho" pequeno de terra, onde cultivava caju e mandioca. Ele diz ter vendido o terreno por 25.000 reais, pagos em dinheiro vivo por Ronald Sarney, irmão do presidente do Senado e procurador dele nos negócios de Santo Amaro. Diz o lavrador: "Meu terreninho ficava a uns 10 metros do poço". Depois da venda, o poço apareceu misteriosamente dentro do terreno. "Foi o pessoal do Sarney que cercou", diz o lavrador. O principal poço de gás localizado nas terras também está cercado por arames e madeira. Entrevistado, o capataz de Sarney, José Ribamar Rodrigues de Oliveira, diz ter feito o serviço: "O doutor Ronald (irmão de Sarney) que me pediu. O presidente Sarney já veio aqui três vezes visitar o poço. Isso aqui tudo é do Sarney". Será? Em fevereiro de 2006, o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, indicado por Sarney para o cargo, autorizou a Agência Nacional do Petróleo a licitar a área. A Panergy, empresa que ganhou a licitação, pagou 1,1 milhão de reais ao governo pelo direito de investir na região. A empresa só aguarda a anuência ambiental do Instituto Chico Mendes para começar a exploração. Diz Normando Paes, dono da Panergy: "Trata-se de um campo de gás e não esperamos problemas para explorar. Fui informado pelo governo de que a área é pública e pertence ao estado do Maranhão".
Telma Thomé, presidente da estatal de gás do Maranhão durante o processo de licitação da ANP, confirma que a área é pública. "As terras são do estado do Maranhão. Nós sempre trabalhamos os projetos de exploração de gás com essa perspectiva", diz ela. O cartório da cidade não ajuda a esclarecer o mistério. Diz a tabeliã Elke Viviane: "O pessoal do Sarney trouxe a certidão de compra das terras. Não posso falar mais nada". Nem precisa. O desfecho da crise envolvendo Sarney representa um golpe contra as tradicionais oligarquias políticas brasileiras, mas não o definitivo – aliás, longe disso. Antonio Carlos Magalhães, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Sarney produziram herdeiros, biológicos ou não, que mantêm vivas as seculares práticas coronelistas. O tamanho e a importância que tem o PMDB no cenário nacional é o maior exemplo disso. Como um câncer em processo de metástase, o partido é o abrigo seguro desse jeito peculiar de fazer política, desses grupos que continuam espalhados pela máquina do estado empenhados exclusivamente em girar a roda do fisiologismo e da corrupção. Se a renúncia de Sarney se confirmar, alguém é capaz de imaginar que os indicados pelo senador no setor elétrico serão demitidos? Não, não serão. Eles continuarão lá, fazendo tudo o que sempre fizeram, igualzinho ao que manda a cartilha atrasada pela qual reza a maioria dos políticos brasileiros, independentemente da agremiação a que pertencem. Afinal, essa é, e ainda vai continuar sendo por muito tempo, a mais eficiente e segura forma de fazer política: trocando votos por cargos, permutando verbas por apoio, empregando parentes e amigos – tudo com o nosso dinheiro. José Cruz /ABR
TUDO POR UM VOTO Mercadante, líder do PT no Senado, fez nota pela saída de Sarney e foi desautorizado por Lula
A CIELO O QUE É DE CÉSAR Obtido em Roma, o recorde mundial dos 100 metros, a prova mais nobre da natação, põe César Cielo nos verbetes de enciclopédias do esporte e na história dos poucos (pouquíssimos) ídolos mundiais brasileiros Fábio Altman Gregorio Borgia/AP
A CELEBRAÇÃO DO FEITO Ainda marcado pelos tapas no peito, ritual pré-prova que o faz parecer arranhado, o campeão grita de euforia e dor em Roma VEJA TAMBÉM • Quadro: A evolução dos recordes mundiais nos 100 metros • Quadro: Quadro: Doping de armário Galerias de fotos Cesar Cielo
Numa frase de 37 palavras, dessas que ocupam pouco mais que o espaço aceito por uma mensagem no Twitter, ofegante, quase assustado, César Cielo, o homem mais rápido do mundo dentro d’água, referiu-se quatro vezes ao estrago que o acúmulo de ácido lático em seu sangue lhe causou nos 46s91 do recorde mundial dos 100 metros, em Roma, na quinta-feira da semana passada. "Está doendo muito agora, estou com dores fortes no
corpo, mas tinha decidido que ia ser uma prova em que eu sentiria mesmo muita dor, a mais dolorida da minha vida", disse. "Minhas pernas estão muito, muito pesadas." A dor, nas provas rápidas da natação, é tão lancinante que só tem um remédio: a vitória. Só o primeiro lugar no pódio de um campeonato mundial, com o melhor tempo da história, ou o ouro olímpico, como o dos 50 metros em Pequim, são capazes de aliviar a sensação de queimadura interna provocada pelo acúmulo de ácido lático no sangue quando ele é produzido em esforços musculares sobre-humanos. "Só aguenta a dor quem vence", diz Fernando Scherer, o Xuxa, medalhista de bronze na Olimpíada de Atlanta, em 1996, nos 50 metros, e em 2000, no revezamento 4 x 100. Ao deixar a piscina do Foro Itálico, abraçado pela imponência de um conjunto esportivo construído nos anos 1930 por Benito Mussolini, Cielo ainda exibia manchas vermelhas dos tapas no peito e nas pernas que ele mesmo se aplica antes de cair na água em gesto de autoflagelação que ajuda a empurrar a adrenalina às alturas e mostrar a si mesmo que a dor queima mas não assusta nem paralisa - é uma amiga. Uma hora antes da quente tarde romana, Cielo entregou-se a uma liturgia estranha que há algum tempo se tornou comum nas salas de aquecimento das competições de nado. Fotos JF Diorio/AE e Michael Sohn/AP
DO CLUBE BARBARENSE À ITÁLIA Na infância, com menos de 10 anos, o garoto tímido já tinha a tenacidade que o levaria ao pódio do Foro Itálico (à dir.)
Durante quarenta minutos, com a ajuda de dois membros da delegação brasileira na Itália, concentrado a ponto de se ouvir sua respiração, Cielo sentou-se numa cadeira. Pôs um saco plástico nos pés e, com o auxílio de luvas cirúrgicas, começou o processo de vestir o maiô de competição feito com material especial e tecnologia da Nasa. De tão ajustado, o maiô é quase aplicado sobre a pele como se fosse um adesivo. De tão fino, exige que o nadador use luvas cirúrgicas, pois um fiapo de unha mais afiado pode rasgá-lo. Passar pelo plástico nos pés, escorregadio, foi fácil. Depois, num movimento lento e minucioso, com dedos a eliminar as saliências, a segunda pele de poliuretano (veja mais sobre esses novos trajes no quadro) foi cobrindo o restante do seu corpo. Aos 22 anos, 1,95 metro e 88 quilos, o paulista de Santa Bárbara d’Oeste estava pronto para entrar nos verbetes de enciclopédia da prova mais nobre da natação. O último recorde mundial brasileiro numa piscina foi obtido em 1982, com Ricardo Prado, então aos 17 anos, nos 400 metros medley. Antes, a única marca fadada a permanecer nas enciclopédias foi a de Manuel dos Santos, também nos 100
metros, em 1961 (veja o quadro). Cielo, no entanto, é o primeiro brasileiro a ser campeão mundial e olímpico. Ivo Gonzales/Ag. O Globo
ESTRAGO NA PRIMEIRA VEZ Em maio, no Rio, durante o Torneio Maria Lenk, ao vestir o X-Glide que acabara de desenvolver, Cielo o rasgou na altura da coxa direita
Enfim, o Brasil tem um herói. Um herói sem atos secretos, disciplinado, concentrado e calmo, sem namoradas para distraí-lo do rígido plano de treinos. "É um sujeito de rara capacidade de concentração", diz Gustavo Borges, dono de quatro medalhas olímpicas, duas de prata e duas de bronze. Vindo do aplicadíssimo Borges, é mais do que um elogio. É parte da consagração. Gustavo Borges agora é o segundo maior nadador brasileiro de todos os tempos. O primeiro é Cielo. O feito do novo César romano ajudou também a descontaminar as manchetes dos jornais, há tempos dominadas pelos relatos cada vez mais assustadores das pilantragens políticas nacionais. Foi um momento de luz em meio a tanta treva. Lembrou, em seu efeito positivo, a injeção de autoestima dada pela conquista do ouro pela seleção brasileira de vôlei masculino nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando Fernando Collor marchava para o impeachment, tendo roubado mais uma esperança de renovação na política brasileira. A um jornalista italiano que o comparou a Ronaldinho Gaúcho e Kaká, Cielo respondeu, rindo como provocação: "Queria ter pelo menos a metade do dinheiro deles". Depois da Olimpíada de Pequim, comprou briga com os dirigentes da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos ao dizer, muito claramente, que tivera pouquíssima ou nenhuma ajuda da entidade. "De 2006 até antes do Pan do Rio, tudo foi bancado pelo meu pai, puro ‘paitrocínio’." Agora há patrocínios, necessários porque já não compete pela Universidade Auburn, nos Estados Unidos, que pagava bolsa de 35 000 dólares anuais ao atleta estudante. As pazes com os cartolas foram feitas. Alessandra Tarantino/AP
CENA RARÍSSIMA Derrotado pelo alemão Paul Biedermann nos 200 metros, que bateu seu recorde mundial, Michael Phelps chiou. Fora de forma, reclamou dos maiôs e ameaça sair das piscinas à espera de uma decisão das autoridades
Simples, filho de uma professora de educação física e de um pediatra, além de avó dona de uma banca de revistas no centro de Santa Bárbara, o novo herói nada tem de falsa modéstia. "Apesar de ser um tempo muito louco, eu sabia que ia fazer", diz. "Foi muita dedicação. Sucesso não tem mágica, não. É trabalhar duro e acreditar no que está fazendo. Eu acho que, nestes dois anos, consegui provar isso para todo mundo." Para Ricardo Prado, a vitória de Cielo pode ajudar a diminuir um problema atavicamente brasileiro. "As pessoas poetizam demais as conquistas nacionais", afirma Prado. "Não tem essa história de coitadinho, é do Brasil, não tem recurso. Ele é talentoso e treinou para chegar aonde chegou. É muito prático. Não tem poesia, é simples. Os brasileiros não são piores que ninguém. Temos de lutar como iguais. Precisamos parar de pensar que os sonhos são impossíveis." Sem poesia, Cielo (ou Cesão, apelido familiar) cresceu e apareceu num momento difícil para a natação - difícil e fascinante ao mesmo tempo. Há muita controvérsia, como nunca houve em nenhum outro esporte, em torno dos maiôs, aqueles que levam até quarenta minutos para entrar no corpo, comprovadamente úteis na melhora dos tempos, "doping de armário", como são conhecidos entre os nadadores. Cielo, em Roma, vestiu um X-Glide da Arena (veja o quadro) que ele mesmo ajudou a desenvolver, e que o faz parecer o Batman, como comparou certa vez Flávia, a mãe do campeão. De sunga de algodão, como Johnny Weissmuller, ou bigodudo e peludo como Mark Spitz, Cielo certamente seria um gigante de mesmo quilate. A tecnologia não o diminui - assim como seu desempenho nada subtrai da tecnologia, vital em tudo, hoje. Mas já não há dúvida de que as peças modernas fazem diferença. "Um nadador cansado tende a afundar", diz Scherer. "Com essa família de maiôs, o corpo flutua, e perdem-se menos tempo e energia na piscina." Para Scherer, nivela-se a
CENA MichaelCOMUNÍSSIMA Sohn/AP A italiana Federica Pellegrini, dona de dois ouros e três recordes mundiais, musa das piscinas, impedia o silêncio até nos tiros de largada no Foro Itálico
turma de baixo, de piores marcas, "mas entre os primeiros há pouca influência". Não é o que acha, hoje, o maior vencedor de todos os tempos, o americano Michael Phelps, oito medalhas de ouro em Pequim, catorze somando-se as vitórias de Atenas. Pode soar mentiroso, mas Phelps perdeu em Roma na semana passada - perdeu e pôs a culpa na roupa. Phelps tinha o recorde mundial dos 200 metros, com o tempo de 1min42s96. O alemão Paul Biedermann, com 1m42s, o superou. O americano ostentava um maiô do ano passado. Biedermann, um X-Glide da Arena como o de Cielo. Menos de um ano os separa, e a vestimenta de Phelps parece uma armadura medieval quando confrontada com a do vencedor em Roma. Nos 100 metros de Cielo, o tempo do 16º colocado, impulsionado pela vestimenta, o levaria ao ouro no Mundial de 2007. Em apenas dois anos, foram batidos mais de 100 recordes mundiais - o triplo do habi-tual, quando a Lycra era regra. Irritado com avanços tão espetaculares, especialmente o de Biedermann, que melhorou quatro segundos em apenas um ano, o treinador de Phelps, Bob Bowman, ironizou. "Michael demorou de 2003 a 2008 para baixar de 1min46 para 1min42s96, e esse cara consegue em onze meses? É um programa de treinamento fantástico, gostaria de saber qual." Phelps, incomodado no segundo lugar do pódio, que nunca lhe cabe, tentou diminuir a marola. "Perdi para um nadador." Foi modesto porque sabe ter usado maiôs de última geração, e por meio deles aumentou ainda mais a distância que o separa do comum dos mortais. Mas logo Phelps também mergulhou na polêmica. "A gente não fala mais de nadadores, mas de roupas de competição", diz. Scherer resume a atual temporada nas raias: "Agora, quando tratarmos de natação, teremos a era pré-maiô e a era pós-maiô". O "pós-maiô", a rigor, deve vir mesmo no ano que vem. Em Roma, na semana passada, a Federação Internacional de Natação (Fina) anunciou a formação de um grupo de especialistas, chefiados por JanAnders Mason, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, para definir o que poderá ou não ser usado. No centro da decisão, os cientistas tentam estabelecer o que é têxtil ou não, o que é pano ou não. A Fina defende a utilização de "material composto de fios naturais e/ou sintéticos, individuais e não consolidados", o que excluiria as roupas de poliuretano. Os homens só poderão nadar com bermuda abaixo do umbigo e as mulheres com collant que não pode cobrir o pescoço nem passar dos ombros. O material não poderá revestir o corpo abaixo dos joelhos nem ter zíper. O limite de flutuabilidade também será reduzido para 0,5 newton, metade do patamar atual, podendo cair a zero. Newton é a unidade de força necessária para acelerar uma massa de 1 quilo a um ritmo de 1 metro por segundo ao quadrado. Em outras palavras: nada que ajude a boiar será autorizado. "Com as novas regras da Fina será quase impossível desenvolver trajes com tecnologia capaz de ajudar a produzir novos recordes", diz Renato Hacker, diretor da Speedo no Brasil. Os maiôs espaciais, desenvolvidos com o apoio da Nasa e de empresas de navegação, custam de 1 500 a 1 800 reais e são usados de duas a cinco vezes, no máximo. Fotos Pedro Martinelli e Egberto Nogueira
OS PIONEIROS DO BRASIL Ricardo Prado (à dir.) bateu o recorde mundial dos 400 medley em 1982, aos 17 anos; Gustavo Borges e Fernando Scherer têm, somados, seis medalhas olímpicas
Há uma encrenca à vista. Quando os maiôs forem proibidos, se forem proibidos, o que fazer com os recordes mundiais? Cancelá-los, o que significaria tirar a marca de Cielo? A Fina, em maio, reprovou 146 de 348 modelos testados - inclusive uma versão anterior do X-Glide, agora modificado para obedecer ao controle oficial. Estudiosos acreditam que, caso os maiôs sejam mesmo vetados, os recordes voltarão a cair no ritmo de antes, de quatro em quatro anos, nos ciclos de treinamento olímpico. Na década de 1980, quando foi mudado o centro de gravidade dos dardos, todos os recordes de lançamento de dardo no atletismo foram anulados, e partiu-se do zero. É medida que mataria a natação, esporte que depende de comparações para criar mitos. "Todas as modalidades impuseram limites à ciência e, no entanto, fabricantes e atletas nunca pararam de buscar avanços", diz Darren Stefanyshyn, do Laboratório de Performance Humana da Universidade de Calgary. "Remover toda a tecnologia não é solução." Phelps já foi chamado, inúmeras vezes, de "o Michael Schumacher da natação". Mas seu esporte nunca quis ser como a Fórmula 1, na qual os competidores pulam de patrocinador para patrocinador, de escuderia para escuderia, em busca do melhor equipamento dentro dos limites estabelecidos. Até muito recentemente, todos os maiôs eram feitos, na maioria dos casos, do mesmo modo. O sucesso nas piscinas era dado apenas por treinamento, talento e tenacidade (leia-se Cielo). No ano passado, com a introdução dos modelos de poliuretano, deu-se o início de uma estranha revolução. "É o caos", diz Mark Schubert, diretor da Federação Americana de Natação. "Vi nadadores correndo atrás de vendedores de maiôs em Roma entre uma prova e outra, como se estivessem numa feira." Deu-se o ápice do desespero quando dois atletas, nas preliminares dos 100 metros de Cielo, foram desclassificados por ter usado um segundo maiô, um sobre o outro, tentando ampliar a flutuabilidade. Ficou ridículo, e pior ainda ao serem flagrados na contrafação. Vestir um segundo modelo talvez impedisse a nadadora italiana Flavia Zoccari de mostrar o bumbum, nos Jogos do Mediterrâneo, em julho, quando seu Jaked J01 se rasgou inapelavelmente. Constrangida, chorando, ela abandonou a prova. Cielo, na primeira vez que vestiu o X-Glide, em maio passado, no Troféu Maria Lenk, no Rio, atrapalhou-se e também estragou o uniforme, na altura da coxa. Tudo por centésimos de segundo a menos. No caso de Cielo, convém lembrar, mesmo pelado será sempre um herói. Um herói brasileiro, enfim.
Em Roma, ele só perdeu em popularidade para a bela italiana Federica Pellegrini, que, antes de conquistar as medalhas de ouro nos 200 e 400 metros, posou nua para uma revista. Gritos da torcida no Foro Itálico interrompiam o silêncio que antecede o tiro de largada quando, em movimento ritualístico, ela dava um soco com o punho fechado no lado esquerdo do peito, bem na altura do coração. Depois, punha o dedo no meio da testa, como se estivesse fazendo uma mentalização. Ela e Cielo são os césares de Roma. Ou, como publicou em manchete a Gazzetta dello Sport, "Santo Cielo". Cielo, em italiano, é céu. Com reportagem de Paula Neiva
O fim que deveria ser começo Montagem sobre fotos Bruno Stuckert/Celso Junior/ Roberto Jayme/AE
Trinca assombrosa Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Sarney: mais do que riscar os homens, é preciso cancelar maus usos e péssimos costumes
VEJA TAMBÉM Uma reportagem publicada nesta edição detalha o que • Acervo Digital: Jader Barbalho e Renan pode ser o derradeiro capítulo do escândalo em torno dos atos secretos do Senado, cujo protagonista, José Calheiros Sarney, é o mais antigo parlamentar em atividade no Brasil. Com Sarney, serão três os presidentes do Senado que renunciaram depois de naufragarem por falta de respostas convincentes às acusações de "quebra de decoro parlamentar" – eufemismo que embute um arco de maus comportamentos a ferir a ética e dilapidar os cofres públicos, como nepotismo, abuso de poder e corrupção. Foi assim com Jader Barbalho, em 2001, e com Renan Calheiros, em 2007. Nesses dois casos, vendeu-se a falsa impressão de que com a partida dos indivíduos purgavam-se os pecados de todos e, como corolário dela, vingou a ideia de que, tendo a Casa chegado ao fundo do poço da ética, seria inevitável que dali em diante as coisas começassem a melhorar. A realidade encarregou-se de desmanchar a ilusão – ou trapaça. Tenta-se agora fazer o mesmo em relação ao fim da era Sarney. Não será por isso que os políticos brasileiros de todos os níveis, com as exceções de praxe, passarão a distinguir entre o público e o privado ou ter a mais mínima noção do que seja o interesse nacional. Mas algumas medidas precisam e podem ser tomadas já: • Extinguir o senador sem voto. Os suplentes de senador teriam de se candidatar a esse posto e ser escolhidos individualmente pelo voto. Alternativamente, em caso de vacância do titular, o substituto do senador seria escolhido pelas respectivas Assembleias Legislativas estaduais. • Tornar transparente via internet cada centavo de todos os gastos do Parlamento. Colocar no site os nomes, cargos, salários e benefícios de todos os servidores, bem como seus horários de expediente. • Fazer um corte imediato e drástico no número de funcionários da Câmara e do Senado. Hoje, há 28 funcionários para cada deputado e 119 para cada senador, um abuso sem igual no mundo e sem precedentes na história.
• Varrer dos conselhos de ética os integrantes que sejam eles próprios alvo de inquéritos, acusações de nepotismo ou réus de ações penais. Hoje, 70% deles o são. Talvez seja impossível, no curso de uma geração, fazer com que práticas fisiológicas e coronelistas seculares passem a ser vistas com o estranhamento mental e a repulsa moral necessários à boa política. A adoção imediata das medidas acima, porém, seria um primeiro passo na direção da solução cabal para as bandalheiras – que só virá quando aqueles senhores tiverem vergonha na cara.
Entrevista Guillermo Zuloaga
Na Venezuela, só sobrou ele O dono do canal de televisão Globovisión, o único que ainda pode criticar Hugo Chávez, diz que o controle total da informação é o que falta para seu país virar ditadura assumida Duda Teixeira
Thomas Coex/AFP
" Somos a única janela em que o cidadão pode ver o que está acontecendo no país"
Como uma aldeia de Asterix nos trópicos, resta apenas um canal de televisão que não foi fechado ou cooptado por Hugo Chávez na Venezuela. É a Globovisión, que transmite notícias em tempo integral para as três maiores cidades do país. Desde que, em 2007, o regime chavista não renovou a licença da RCTV, querida por suas novelas, a Globovisión tornou-se a solitária voz independente a transmitir em sinal aberto. Não se sabe por quanto tempo. Chávez trama o tempo todo para fechá-la e, com os freios e contrapesos do estado de direito cada vez mais minados, pode acabar conseguindo. A tática, no momento, é conhecida: inundar a Globovisión com processos de todo tipo. Seu dono, Guillermo Zuloaga, 67 anos, tem sofrido diversas acusações esdrúxulas, que vão de caçar animais silvestres a especular com preços de automóveis. Proibido de sair da Venezuela, Zuloaga falou a VEJA, por telefone. Chávez já ameaçou encerrar as operações da Globovisión diversas vezes. Por que até agora não conseguiu fazer isso? Entre todos os sessenta processos administrativos a que estamos respondendo, não há um sequer que tenha embasamento legal para levar ao fechamento do canal. Além disso, Chávez parece ter se conscientizado do custo político de tomar tal iniciativa. Uma parcela muito grande da população concorda com nossa causa. Pesquisas de opinião pública mostraram que cerca de 80% dos venezuelanos querem que nossa empresa continue funcionando. Recentemente, o governo nos impôs uma multa equivalente a 8 milhões de reais, alegando que não pagamos alguns impostos entre 2002 e 2003. Mentira. Fizemos uma campanha para angariar o dinheiro da multa e 400.000 famílias venezuelanas nos ajudaram. Chávez fechou a RCTV em 2007, independentemente das manifestações que ocorreram contra ele. O presidente é totalmente imprevisível. A nosso favor, pesa o fato de que nossa concessão só acaba em 2015. No caso da RCTV, o governo conseguiu o que queria porque simplesmente não renovou a concessão. Qual seria o impacto do fechamento da Globovisión? Somos a única janela na televisão em que o cidadão pode ver o que acontece no país. Todos os outros canais foram neutralizados por Chávez ou são totalmente complacentes com ele. Nos nossos concorrentes, os jornais só são transmitidos a altas horas da noite. Não há mais notícias em horário nobre. Dessa forma, caso haja uma informação que, mesmo inicialmente considerada benéfica, produza um efeito negativo ao governo, eles sabem que as consequências não serão tão grandes. Que tipo de notícia não aparece nos outros canais? Há inúmeros conflitos trabalhistas nas empresas que foram nacionalizadas. Os diretores chavistas assinaram acordos coletivos e encheram os funcionários de promessas. Como as companhias estão todas fracassadas economicamente, eles agora não conseguem cumprir o que foi combinado. Também somos os únicos a entrevistar acadêmicos e pesquisadores que não compactuam com o governo. Houve empresas que cancelaram anúncios temendo problemas com o governo? Todas as grandes companhias que foram nacionalizadas deixaram de ser nossas clientes, como a empresa de telecomunicações Cantv e a Eletricidade de Caracas, EDC. A estatal petrolífera PDVSA não anuncia mais conosco desde que Chávez demitiu todos os funcionários que participaram da greve geral em 2003. Apesar disso, nossa receita publicitária está crescendo. As empresas privadas aumentaram sua participação. São companhias que compartilham os nossos valores. Acreditam no livre mercado, na propriedade privada e no respeito aos direitos humanos. A Globovisión já deixou de dar uma notícia com medo de represálias do governo? Desde que as agressões começaram, colocamos advogados permanentemente no canal para analisar tudo o que vai ao ar. Não queremos dar ao governo alguma desculpa para nos fechar.
Pessoalmente, como o senhor é afetado? Estou proibido de deixar o país. Se quiser viajar, preciso de uma autorização especial. Isso porque estou sendo processado por manter 24 veículos em minha casa. Os chavistas falaram que eu estaria fazendo isso para forçar uma alta nos preços. Tudo invenção. Tenho pelo menos uma audiência na Justiça por semana. Por que havia 24 veículos na sua casa? Tenho duas concessionárias de automóveis que vendem, cada uma, cerca de 120 veículos por mês. Vinte carros não é nada. O que encontraram em minha casa era uma leva que já estava vendida a clientes da capital. Só faltava entregar. Disseram que eu estava prejudicando a coletividade com isso. Como conseguiria fazer isso com vinte carros? Enquanto Caracas tem um déficit de 300 ambulâncias, o governo dá, de graça, 170 ambulâncias à Bolívia. Quem está prejudicando a coletividade são eles, não eu. E a acusação de que os veículos estavam parados para forçar um aumento nos preços? Quem eleva os preços não são os distribuidores de automóveis, mas a política estatal que obriga os fabricantes de carros a comprar dólares de um órgão do governo, a Comissão de Administração de Divisas (Cadivi). Como essa instituição não libera o dinheiro, faltam peças. Há três montadoras paradas. A produção de veículos caiu 50% em 2008 e mais 50% neste ano. Sem dólares, também não é possível importar veículos prontos. Quando a oferta cai, o preço sobe. Mesmo os clientes chavistas que têm dinheiro não conseguem mais comprar os automóveis de luxo que desejam.
"Não houve uma tentativa de golpe contra Chávez em 2002. Na Venezuela, a única pessoa que sabemos ter experiência em desestabilizar governos é exatamente aquela que está sentada no Palácio de Miraflores"
Depois da visita dos promotores no caso dos carros, o Ministério Público começou a investigá-lo por ter animais silvestres empalhados em sua casa. De onde vieram? Cacei em toda a minha vida. Gosto de pescar também. Mas os troféus que tenho em casa são todos da África e da América do Norte. São antílopes, leões e leopardos. Nenhum deles é da Venezuela.
E como está a investigação? Parada. Até agora, não apareceu um único técnico do Ministério do Meio Ambiente que possa olhar o meu troféu de leão e dizer que não existe esse bicho nas selvas de nosso país. Também não há ninguém que possa escrever que existe uma diferença entre um antílope e um veado. Fazer isso seria contrariar o chefe. Todos têm medo. Até que apareça alguém com coragem, a investigação vai continuar. É uma loucura. Se é o caso de punir todos os lugares em que existam animais empalhados, então que fechem o Museu de História Natural e as churrascarias. Chávez acusa a Globovisión de dar voz somente à oposição. É verdade? Não temos acesso à informação oficial. O governo não abre as portas para que nossos repórteres façam entrevistas com funcionários do estado. Quando um jornalista do nosso time consegue fazer uma pergunta ao presidente, ele responde como um déspota agressivo. Só nos resta produzir reportagens investigativas e trabalhar na rua, mostrando o que acontece. Seu canal também está sendo processado por noticiar um terremoto, acusado de disseminar pânico entre as pessoas. O que ocorreu? Houve um tremor na madrugada do dia 4 de maio. Durante meia hora, ninguém do governo deu nenhuma informação à população ou à imprensa. Como havia medo nas ruas, nossa equipe consultou um instituto sismológico dos Estados Unidos. Então, informamos que o tremor era de baixa magnitude, que não tinham sido registradas mortes. Todos poderiam ficar tranquilos. Isso incomodou muito o governo. Fomos acusados de usar um serviço do imperialismo ianque e outras besteiras. Disseram que estávamos criando terrorismo e pânico entre a
população, quando fizemos exatamente o contrário. Esse é um exemplo de processo administrativo sem embasamento jurídico para nos fechar. O que falta para a Venezuela ser uma ditadura? Muito pouco. Quando terminarem de fechar todas as formas de acesso livre à informação, então teremos ingressado em uma ditadura. Chávez quer tirar 240 rádios do ar. Nenhuma das que estão na lista, obviamente, é chavista. Também quer proibir que as estações de Caracas transmitam para o restante do país. Se isso acontecer, somente o presidente poderá falar em cadeia nacional. Nas bibliotecas públicas, todos os livros de direita ou que não estavam de acordo com a ideologia oficial foram jogados fora. Os jornais impressos continuam independentes, mas alguns donos já reclamam que não conseguem importar papel, porque o Cadivi não libera os dólares. Na televisão a cabo, o governo está discutindo uma lei para limitar o acesso aos canais venezuelanos. Em relação à Globovisión, o governo não nos deixa ampliar a cobertura para outras cidades. Temos sinal aberto em apenas três cidades. Chávez fala muito do apoio dos canais de televisão ao golpe que sofreu. Como a Globovisión se comportou na época? Não houve uma tentativa de golpe contra Chávez em 2002. Na Venezuela, a única pessoa que sabemos ter experiência em desestabilizar governos é exatamente aquela que está sentada no Palácio de Miraflores. Foi ele que tentou derrubar o presidente Carlos Andrés Pérez, em 1992. O que houve dez anos depois foi uma indignação popular muito forte contra Chávez, que promulgara 49 leis contra a propriedade privada. As pessoas foram protestar nas ruas no dia 11 de abril, e nós transmitimos tudo. Quando o presidente enviou as Forças Armadas para controlar a população, houve conflitos e mortos nas ruas. Chávez deixou Miraflores e seu ministro da Defesa, o general Lucas Rincón, anunciou que o presidente renunciara. Ninguém o depôs. Houve um vazio de poder. Dois dias depois, Chávez retornou. O Tribunal Supremo de Justiça, mais tarde, concluiu, após uma investigação, que não houve golpe de estado. Há quatro anos, já com o controle do Judiciário, Chávez alterou essa decisão. E a acusação de "terrorismo midiático"? O terrorismo na mídia é praticado pelo estado com seus próprios meios. O Canal 8, da Venezuelana de Televisão (VTV), tem programas que constantemente destroem a reputação de pessoas que são contra o governo. São acusações inventadas e injustas, que eu nem sequer poderia repetir aqui. A VTV é um canal do governo, mantido graças aos nossos impostos. O presidente também nos ofende abertamente no seu programa dominical, o Alô Presidente. Ele nos chama de ianques, agentes da CIA. Somos vítimas de um terrorismo de estado. Como o senhor vê a posição brasileira em relação a Chávez? Ao Brasil convém muito apoiar nosso presidente. Como a nossa capacidade produtiva foi minada pelas políticas socialistas, toda a população se tornou cliente dos amigos de Chávez, incluindo aí muitos empresários brasileiros. Em dez anos de chavismo, o número de indústrias venezuelanas caiu 40%, enquanto a importação de produtos brasileiros foi multiplicada por dez. Como o volume das nossas exportações não foi alterado, nossa balança comercial com o Brasil hoje é extremamente desfavorável para nós. No ano passado, compramos 5 bilhões de dólares e vendemos pouco mais de 500 milhões de dólares. É uma diferença muito grande. Lula apoia isso porque sabe que essa relação é benéfica aos seus empresários. Para os homens de negócios venezuelanos, é um tormento.
"Em dez anos de chavismo, o número de indústrias venezuelanas caiu 40%, enquanto a importação de produtos brasileiros foi multiplicada por dez. Lula apoia isso porque sabe que essa relação é benéfica aos seus empresários"
Por que Chávez continua popular na Venezuela? Porque o alto preço do petróleo deu a ele uma enorme quantidade de dinheiro. Chávez é querido porque detém o talão de cheques. Mas a cada dia que passa as pessoas estão percebendo que, apesar de todos esses dólares, a vida não mudou. Nada do que se prometeu se tornou realidade. Agora que o talão de cheques está perdendo folhas, o equilíbrio do jogo pode ser alterado.
Cláudio de Moura Castro
O próximo passo "Conseguir uma educação de qualidade é possível, como demonstraram os muitos países que deram esse salto" Ilustração Atômica Studio É preciso entender que em educação, como em outros setores, há etapas a ser vencidas. Enquanto faltam escolas, construí-las tem um impacto fulgurante nas estatísticas. Mas essas escolas são apenas caricaturas se lhes faltam livros, equipamentos e professores. Suprir essas lacunas resulta também num grande salto na matrícula e na qualidade. O passo seguinte é ter professores minimamente preparados, uma administração central operante, currículos claros e não estar em greve todos os meses (seja de quem for a culpa). Esses aperfeiçoamentos trazem ainda bons frutos na qualidade e na deserção. Mas, daí para a frente, os erros e deficiências vão se tornando menos óbvios, as correções mais sutis e o seu impacto resvaladiço. As mudanças fáceis já foram feitas, restam aquelas politicamente mais conflitantes. Ou seja, mais se avança, mais difíceis se tornam os avanços subsequentes. Faz algumas décadas, estávamos vergonhosamente distantes de países como Chile, Argentina e Uruguai – os menos ruins da América Latina. Na verdade, as matrículas eram inferiores às da Bolívia e do Paraguai. A um ritmo espantosamente rápido, conseguimos nos aproximar do nível de matrícula do Chile, da Argentina e do Uruguai. Nenhum outro país latino-americano avançou tão depressa nas últimas décadas. Não é pouca coisa. De fato, a partir da década de 90, acelera-se a expansão do nosso ensino, com a clara liderança dos estados mais prósperos. Crescem Minas, Rio Grande do Sul e Paraná, mais do que os outros. Norte e Nordeste permanecem travados. Mais para o fim da década, começam a avançar os retardatários. Ao fim do milênio, a universalização da matrícula é obtida. O desafio maior passa a ser a qualidade. Não obstante, tanto na matrícula quanto na qualidade, começamos a patinar, avançamos pouco ou estagnamos. Depois que fizemos o fácil, os próximos passos são mais árduos e de impacto mais diáfano. A última rodada do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra que começamos a encontrar problemas para avançar. Estacionaram estados tradicionalmente com melhores resultados, como Minas, Rio Grande do Sul e São Paulo. Em contraste, só avançam os estados do Norte, os mais atrasados. Ou seja, progridem apenas aqueles em que o mais simples ainda estava por fazer. Travam aqueles cujas falhas não estão mais em erros grosseiros, mas em desvios menos óbvios. Conhecemos os problemas. Precisamos lidar com muitos professores que apenas parecem ensinar, porque aprenderam
em arremedos de faculdade. De fato, os professores não aprendem a dar aulas. Nos primeiros anos, seus alunos são cobaias. Não há prêmios para quem faz certo ou puxões de orelha para os incompetentes e negligentes. A administração é perfeita no papel, mas capenga na implementação. O currículo é para gênios ou é ambíguo – ou ambos. Em muitas redes educativas, a politicagem ainda não foi expulsa da escola. O tempo de classe é insuficiente na regra formal e ainda menor depois que se descontam feriados, festas, greves, atrasos e perdas de tempo de todos os tipos. E por aí afora. Para resolver esses problemas, não teremos sucesso sem pisar nos calos dos que resistem às mudanças. Em resumo, é relativamente fácil chegar a uma educação medíocre para todos ou quase todos (embora isso nos tenha consumido cinco séculos). O grande problema é que hoje os números mostram estagnação da matrícula, evasão elevada – sobretudo no ensino médio – e qualidade sem avanços substanciais. O desafio é conseguir uma educação de qualidade. Que é possível demonstraram os muitos países que deram esse salto. Alguns são até mais pobres do que o Brasil, e quase todos os ricos eram mais pobres quando deram esse salto. O grande trunfo do país é a existência de uma avaliação escola por escola. Prova Brasil, Ideb e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram exatamente onde estamos e quanto avançamos – que se calem os palpiteiros. Esperamos que essa avaliação indique os progressos a ser obtidos em um futuro próximo. Porque nunca houve tanta atenção e mobilização social em prol da nossa educação. Não podemos contar com reformas voluntaristas, frutos do idealismo e destemor de um ou outro. Somente uma exigência irrecusável da nossa sociedade será capaz de empurrar o sistema educativo para a frente e para enfrentar as mudanças politicamente penosas. Claudio de Moura Castro é economista
EU, TRADUTOR ELETRÔNICO Quando abro o Google e procuro o que procuro, no mundo inteiro ou aqui na esquina, fico besta com os robôs que sabem tudo, encontram tudo, traduzem tudo. Traduzem, ah! Peraí, já vivi muito disso. Não vão tirar de mim uma atividade da qual ainda posso precisar num amanhã qualquer, ou mesmo amanhã de manhã. Impulsionado pelo medo de perder um emprego ainda exequível, resolvi entrar no campo do invasor eletrônico, usando suas próprias armas. Peguei a frase que Machado de Assis escreveu há mais de 130 anos e que acabaram colocando na entrada da ABI, traduzi de uma língua pra outra e de outra pra uma, desde o português inicial até o português final. Me acompanhem.
PORTUGUÊS ESTA É A GLÓRIA QUE FICA ELEVA HONRA E CONSOLA Para o Inglês this is the glory and honor that is elevated console Para o Sueco detta är ära och heder som är förhöjda konsol Para o Espanhol esta es la gloria y el honor son elevadas consola Para o Alemão Dies ist die Herrlichkeit und Ehre sind erhöhte Konsole Para o Francês Ceci est la gloire et l’honneur sont augmenté console Para o Italiano Questa è la gloria e l’onore essere aumentato console Para o Galego Este é alimento por glória e honra de ser aumentado consola Para o Catalão Aquest és alimentat pels aliments per la glòria i l’honor de ser l’augment de la consola Para o Húngaro Ez az élelmiszer adagolják a dicsöség, és az a megtiszteltetés, hogy a megnövekedett konzol Para o Grego Console. Para o Português Este produto é alimentado para a glória e a honra de o aumento Console
Leitor Assuntos mais comentados O partido do fisiologismo (capa) — 78 Emirados Árabes Unidos — 61 Lya Luft — 24 Gripe suína — 17 Tratado de Itaipu — 15
O PMDB e o fisiologismo "O grandioso e paradoxal PMDB é hoje uma imunda geleia geral da corrupção endêmica, do clientelismo, do fisiologismo adesista e de todos os males possíveis e impossíveis da vida pública brasileira." Kelmo Oliveira Bernardes Santos Feira de Santana, BA Corajosa e brilhante a reportagem "A digestão do poder" (29 de julho), a respeito da voracidade do PMDB por cargos que lhe permitam todo tipo de lesão ao Brasil e aos brasileiros. Até hoje eu não tinha lido um diagnóstico tão preciso das práticas desse partido, das razões para a sua sustentação e permanência, apesar de todos os malefícios que já causou ao país. Zulma Jacinto Garcia Curitiba, PR VEJA está de parabéns por inovar em seu artigo de capa desta semana. Abordar o fisiologismo do PMDB produziu informações que deixam patente a necessidade de mudar o quadro, para que a politicagem nefasta dê lugar a partidos de maior compromisso com os destinos da nação, não com o interesse de seus membros e de pessoas a eles ligadas. Antonio do Vale São Paulo, SP Orlando Brito/Obritonews
ADESISMO FISIOLÓGICO Arthur Virgílio, senador (PSDB-AM): "Em um governo, o PMDB tem uma colher de sopa. Em outro, de sobremesa. Em outro, de chá. Mas ele sempre ganha seu bocado de poder".
Deputado federal constituinte pelo PMDB e filiado desde 1976 ao MDB da Paraíba, certa feita, irritado com as brigas entre o PFL e o PMDB pela indicação dos chefes do Funrural nos municípios e com a indefinição do presidente Sarney sobre as nomeações, fui ao gabinete do doutor Ulysses e, somente eu e ele, perguntei-lhe, de chofre: "Doutor Ulysses, o senhor tem 305 deputados do partido na Câmara, por que o senhor não rompe com o governo?". Ele olhou nos meus olhos e disse: "Meu filho, se eu fizer isso, mais da metade fica com o governo". Passados alguns dias, tive uma audiência com o presidente Sarney e lhe perguntei, também de chofre: "Presidente, por que o senhor não governa com o PMDB?". Ele não titubeou: "João, eu fui da UDN, da Arena e do PDS. Em toda a minha vida pública fiz amigos
nesses partidos e não posso governar com quem não conheço ou não confio". Conclusão: o fisiologismo do PMDB – e não me refiro ao PMDB de Ulysses, Waldir Pires, Mario Covas e tantos outros que construíram a legenda – vem de priscas eras. João Agripino Brasília, DF Após ler a reportagem de capa da edição 2 123, e analisando a biografia dos principais líderes do PMDB, cheguei à conclusão de que na política brasileira trocamos a ditadura militar por uma corja de bandidos. Benedito José do Espírito Santo São José dos Campos, SP Ver um partido que lutou no passado para conquistar a liberdade política e a democracia se vender hoje para quem der mais é desanimador. Já vimos políticos se venderem, mas um partido inteiro é a primeira vez. Roberto Mendes da Silva Cuiabá, MT O PMDB foi um verdadeiro partido da oposição, que infelizmente sucumbiu à sedução dos prazeres da corrupção e aos escândalos. Lamentavelmente, o Brasil e todos nós perdemos com essa exposição de descalabros e escândalos morais. Elisa Horn Balneário Camboriú, SC Já era hora de VEJA denunciar o marasmo ético em que se transformou o antigo arauto da resistência contra a ditadura militar, que foi o PMDB. Merecem admiração os remanescentes honrados das antigas lideranças, como Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon, por terem estômago de ainda permanecer nas suas fileiras e resistirem ao fisiologismo escancarado da sua imensa maioria. Thomas Hartmann Salvador, BA O grande senador Jarbas Vasconcelos não deveria estar mais no PMDB. Sempre votei em Jarbas, em todas as eleições de que ele participou. Não votarei mais nele se continuar nessa legenda podre. Ele não pertence a isso. Paulo Serafim Recife, PE Brilhante a capa de VEJA, porém a hiena seria um símbolo mais apropriado ao PMDB. Jorge Jossi Wagner Ribeirão Preto, SP Com relação à reportagem "O PMDB e seu bocado no governo federal" (29 de julho), apresento meu mais veemente protesto contra a inclusão de meu nome como indicado por partido político à função que ora ocupo. Não tenho relação com políticos de partido algum, o que inclui o PMDB. Tenho uma longa carreira na Receita Federal e participo de alguma função de gerência desde 1992. Trabalho há 25 anos no órgão e exerci minhas atividades nos maiores portos, aeroportos e pontos de fronteira do país. Ademais, eu já era integrante da equipe de chefia dessa unidade quando da aposentadoria da inspetora anterior, em 2004, e minha ascensão à função ocorreu de forma natural. José Guilherme Antunes de Vasconcelos
Inspetor-chefe da alfândega da RFB Santos, SP O PMDB tem quatro principais reparos a fazer na reportagem publicada por VEJA: 1) O PMDB tem identidade e espinha dorsal bem definidas. Seu compromisso com a liberdade democrática e com os avanços sociais é inarredável e público, o que está devidamente inscrito no programa partidário. O PMDB estava em linha com seu programa partidário quando apoiou a eleição de Tancredo Neves e o governo de José Sarney. Foi assim que o Brasil conquistou a democracia; quando apoiou o governo Itamar Franco, expoente do partido. Foi assim que o Brasil conquistou o Plano Real, um notável avanço social. Quando apoiou o governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi assim que o Brasil iniciou o processo de estabilização econômica. E o PMDB está em linha uma vez mais com seu programa partidário ao apoiar o governo do presidente Lula, autor do maior projeto de distribuição de renda do mundo. 2) Os cargos públicos são apenas consequência de ideais convergentes. Neste exato momento, o partido administra 1 201 prefeituras e nove governos estaduais. No Poder Legislativo, sua bancada conta com 8 500 vereadores, 172 deputados estaduais, 95 deputados federais e dezenove senadores. 3) É difícil pensar em algo mais injusto do que montar um quadro intitulado "O PMDB e seu bocado no governo federal". Nenhum ministro de estado, seja do PMDB, seja de qualquer outro partido, toma decisões com a liberdade que a revista sugere no material publicado. 4) Caciques são a expressão do atraso. O PMDB se alimenta da força de seus 2 milhões de filiados e do apoio de seus eleitores. Sem votos não haveria PMDB. No pleito de 2006, o partido obteve 16,8 milhões de votos para governador. Em 2008, foram 18,5 milhões de votos para prefeito. São números que falam por si. Michel Temer Presidente licenciado do PMDB Iris de Araújo Deputada e presidente do PMDB Brasília, DF Esclareço que o diálogo entre mim e o meu irmão, reproduzido em VEJA, retrata informação relativa à investigação de ilícitos cometidos na gestão do ex-governador do Maranhão. As anotações de próprio punho do contador de Aderson Lago, ex-secretário de governo de Jackson Lago, revelam que o valor depositado em conta do filho dele resulta no montante de 900.000 reais, e não 5 milhões, como havia sido informado pelo jornalista Sergio Macedo, por mim referido no diálogo. Também afirmo que, independentemente do valor dos desvios, deveríamos denunciar o ilícito, como afinal foi feito em reportagem, dias após o diálogo. Afirmo ainda na conversa que o "negócio é quente", no sentido de que a denúncia era real e tinha provas. Aderson Lago utilizou notas fiscais frias, da empresa-fantasma PR Cardoso, para sacar os aludidos recursos da prefeitura de Caxias. Essas são as notas frias referidas no diálogo. Faço prova do afirmado acima por intermédio dos documentos que seguem anexos. 1 – Alguns exemplares de notas fiscais, expedidas por empresa-fantasma, para dar cobertura a desvio de recursos repassados pelo governo do estado à prefeitura de Caxias; 2 – Anotações do contador de Aderson Lago, informando que o depósito em conta foi ("+ R$ 900 mil"), sendo o restante do desvio de recursos pago em "cash"; 3 – Rosto da conta bancária que recebeu depósito ilegal, com anotação de próprio punho de Aderson Lago, registrando o recebimento de "R$ 963.931,50"; 4 – Reportagem apresentando a denúncia do desvio de recursos aludido no diálogo. Sarney Filho Deputado Brasília, DF Com relação à reportagem "A digestão do poder", publicada na edição 2 123, venho informar que houve um equívoco de VEJA ao citar o deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT) como parlamentar que "responde a processo no Supremo por peculato e corrupção". A informação precisa ser reparada, porque
nem sequer houve processo em julgado. Na verdade, foi instaurado inquérito perante a Justiça Federal de Mato Grosso, para apurar crimes que teriam sido cometidos no caso conhecido como "sanguessugas" e seus possíveis autores. O inquérito policial foi remetido à Procuradoria-Geral da República, sendo que o procurador Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, após análise e pesquisa, concluiu que o deputado Carlos Bezerra não cometeu crime de nenhuma natureza, já que inexistem nos autos da investigação criminal elementos que justifiquem o oferecimento da denúncia. E por não configurar o seu comportamento ilícito penal, mediante decisão fundamentada, e por absoluta falta de provas, pediu a exclusão do deputado Carlos Bezerra do referido inquérito. Assim, o inquérito foi encaminhado à então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, que, acolhendo o substancioso parecer do procurador da República, excluiu o deputado Carlos Bezerra do inquérito policial, e, por conseguinte, não foi instaurado contra ele ação penal de nenhuma natureza, determinando-se pelo seu arquivamento. Trecho do parecer do Procurador-Geral da República, que orientou a decisão do STF: "Após a devida análise do material angariado, posso concluir que os elementos de convicção colhidos no curso da apuração não são suficientes para formulação de imputação criminal contra o deputado federal Carlos Gomes Bezerra". Arlindo Teixeira Jr. Assessor de imprensa Brasília, DF Gilberto Mestrinho Sobre a nota publicada em Datas (29 de julho) acerca da morte de Gilberto Mestrinho, digo que ele foi, além de político, um homem de vanguarda, com ideias e pensamentos transcendentes à sua época. Ainda na década de 80, tempo em que se preconizava com demagogia a preservação da Amazônia através da sua blindagem e intocabilidade, ele já difundia com entusiasmo, além de nossas fronteiras, suas teses acerca do desenvolvimento sustentável da região. Incompreendido, foi alvo de intolerância e preconceito, decorrentes da falta de informação naquele cenário. Na década seguinte, com a racionalização do tema, seu discurso passou a ser aceito e assimilado até pelos mais radicais; o que antes definiam como "desmatamento" passou a ser chamado de "manejo sustentável". Apaixonado pelo estado do Amazonas, sempre visualizou o progresso através do aproveitamento racional da potência de seus recursos naturais. Não foi ecologista, foi um amazônida, conhecedor profundo do universo amazônico. Foi ainda por três vezes consecutivas presidente da comissão de orçamento, sem nenhuma mácula em sua atuação. Katyuska São Thiago Neta Manaus, AM Radar Não procede a informação de que uma empresa alemã teria oferecido ao Brasil "um negócio semelhante" ao acordo assinado com a França para desenvolver o submarino brasileiro com propulsão nuclear, e ainda por custo inferior (Radar, 29 de julho). A Alemanha não poderia fazer tal proposta, pois não fabrica submarinos nucleares, e propôs apenas a continuidade da construção de submarinos convencionais, com duas novas unidades. No acordo com a França está prevista a fabricação no Brasil de quatro submarinos convencionais, com a transferência, durante esse processo, das tecnologias não nucleares necessárias à construção do quinto submarino, com propulsão nuclear desenvolvida pela Marinha do Brasil. José Ramos Filho Coordenador de Comunicação Social do Ministério da Defesa Brasília, DF
Outlet A reportagem "Viajar é carregar sacolas" (15 de julho) informou que o primeiro outlet multimarcas da América Latina foi inaugurado no Brasil há três semanas, quando a própria Premium tem aberto na Cidade do México, desde 2006, um outlet enorme: http://www.premiumoutlets.com.mx/center/. Adriana Smith Por e-mail Correção: o infectologista Mauro Salles é do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e não da Fundação Oswaldo Cruz, como informou a reportagem "Não há motivo para tanto alarme" (29 de julho).
magem da Semana
O véu é o limite As mulheres precisam se vestir assim? Entre muçulmanos, é discussão de mais de 1 400 anos Vilma Gryzinski Amr Nabil/AP Calor de mais de 40 graus e o único alívio é entrar no mar vestida como a mulher ao lado, na praia da cidade egípcia de Alexandria. O traje usado pelas muçulmanas tradicionais segue escala em três graus de rigor. No grau um, é chamado de hijab. Consiste em alguma espécie de túnica que atenue as formas do corpo e no lenço na cabeça. O dois é o niqab. Como na foto, inclui o véu sobre o rosto, com uma abertura para os olhos. Nos países mais ortodoxos, como a Arábia Saudita, o véu semiopaco encobre o rosto inteiro. A burca, uma peça única que vai da cabeça aos pés, usada no Afeganistão e adjacências, é o grau mais extremo. Encobrir as mulheres, prática evidentemente não exclusiva do Islã, é mandamento ditado pelo Corão. Como em outros textos sagrados, a linguagem, datada de mais de 1 400 anos, dá margem a diferentes interpretações. A "surata da modéstia" conclama as fiéis a "não revelar nenhuma parte de seu corpo exceto aquela que for necessária" quando diante de homens que não sejam parentes ou servos cujo desejo sexual tenha sido neutralizado, esta uma categoria em falta desde que os eunucos sumiram do mercado de trabalho. Num mundo ideal, haveria espaço para que o imperativo religioso fosse suficientemente fluido, preservando-se a essência do Islã – a entrega a Deus, Indulgente e Misericordioso, não controlador de mechas de cabelo. No mundo em que vivemos, nada é tão distante do ideal quanto o Sudão, onde a colunista Lubna Ahmed al-Hussein foi condenada a quarenta
chibatadas por usar calças compridas (folgadas, com lenço na cabeça). Lubna resolveu desafiar a proibição fundamentalista, e a sentença final sai nesta terça-feira. Deus esteja com ela.
Datas Morreram Flavia Vitoria/AE
Sérgio Viotti Ator, diretor e escritor
Philippe Halsman/Magnum Photos/Latinstock
Merce Cunningham Na foto de 1948, com a coreógrafa e bailarina Martha Graham: ele revolucionou a dança contemporânea
• o coreógrafo americano Merce Cunningham, que revolucionou a dança ao subverter a relação entre os quatro elementos básicos das coreografias: movimento, música, cenário e figurino. Cada um era concebido de forma independente e eles só eram reunidos no palco na véspera das estreias. Em muitas de suas criações, a dança não tem relação nenhuma com a música. Em várias delas, usou os sons vanguardistas do compositor americano John Cage, com quem manteve um relacionamento amoroso de cinquenta anos. Também inovou nos cenários, que incluíam obras de artistas pop como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Andy Warhol. Nos anos 60, inseriu vídeos e filmes nas apresentações. Em 2006, distribuiu iPods a seus espectadores para que eles escolhessem sua própria trilha sonora para o espetáculo que criara. Cunningham dançou dos 8 aos 80 anos. Sua técnica apuradíssima e seus saltos incríveis garantiram-lhe por seis anos o posto de solista da também coreógrafa e bailarina Martha Graham, outra referência do balé do século XX. Em 1953, fundou a própria companhia, para a qual assinou quase 200 peças. Dia 26, aos 90 anos, de causas naturais, em Nova York. • o ator e diretor Sérgio Viotti. Paulista, Viotti estreou no teatro em 1949. No mesmo ano, porém, mudou-se para Londres, para trabalhar na BBC. De volta ao Brasil, depois de quase uma década, entregou-se de corpo e alma ao trabalho teatral. A peça O Contato (1961) lhe rendeu o primeiro dos muitos prêmios que receberia. Nos anos 80, ficou conhecido do grande público por seus trabalhos na
TV. Atuou em cerca de vinte séries e novelas, como Sinhá Moça (1986), Anjo Mau (1997) e Duas Caras (2007). Dia 26, aos 82 anos, em decorrência de uma parada cardíaca. • a ex-presidente das Filipinas Corazón Aquino, líder do movimento popular que, em 1986, encerrou os vinte anos da ditadura de Ferdinando Marcos. "Tita (Tia) Cory", como era chamada, encabeçou a resistência a partir de 1983, quando seu marido, Benigno Aquino, líder da oposição ao regime, foi assassinado no aeroporto de Manila, capital do país, ao regressar do exílio nos Estados Unidos. De 1986 a 1992, Corazón resistiu a sete golpes de estado, mas, ao fim, seu governo decepcionou os aliados. Morreu no dia 25, mas sua morte só foi anunciada na última sexta-feira. Aos 76 anos, em decorrência de câncer no cólon, em Manila.
Jacques Brinon/AP
SEG|27|JUL|2009
Liberado depois de passar vinte horas em um hospital em Paris, para realização de exames, o presidente francês Nicolas Sarkozy, de 54 anos. Ele sentiu-se mal no dia 26, durante uma corrida matinal em Versalhes. O desconforto foi causado pela fadiga e pelo calor. Nicolas Sarkozy O presidente francês deixa o hospital com sua mulher, Carla Bruni: exercício puxado demais
QUA|29|JUL|2009
Submetido o atacante do Corinthians Ronaldo a cirurgias para corrigir fraturas em dois ossos da mão esquerda e lipoaspirar o abdômen. Ronaldo recebeu doze pinos e duas placas para emendar os ossos e extraiu 700 mililitros de gordura da barriga. Ficará afastado dos campos por quarenta dias. Felix Ordenez/Reuters
Fachada do quartel-residência, em Burgos: atribuído aos terroristas do ETA, o atentado ocorreu dois dias antes do aniversário de cinquenta anos do grupo
Explodiram na Espanha dois carros em menos de 48 horas, em atentados atribuídos pelo governo ao grupo terrorista ETA, que reivindica a independência do País Basco. Os ataques ocorreram próximos a quartéis. No dia 29, o primeiro destruiu um prédio de catorze andares que alojava famílias de policiais na cidade de Burgos. Mais de cinquenta pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, dois guardas morreram depois que uma bomba foi detonada sob o carro onde eles estavam, na ilha de Mallorca. Os crimes precederam o aniversário de cinquenta anos do ETA, fundado em 31 de julho. Já chega a nove o número de atentados atribuídos neste ano aos terroristas bascos, que assassinaram mais de 800 pessoas desde 1959. QUI|30|JUL|2009
Entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. Pela lei, a negativa passa a ser considerada uma das provas – mas não a única – de que o filho é do réu. A mãe deverá exibir outras provas do relacionamento com o suposto pai.
lofote
Felipe Patury
Os números da oposição Alan Marques/ Uma pesquisa encomendada pelo PSDB ao Instituto Análise indica que a intenção de Folha votos na candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, caiu, em junho, de 5 a 8 pontos porcentuais. Essa variação ocorre quando se substitui a lista de seus possíveis adversários. A perda de votos de Dilma, que equivale ao eleitorado que ela havia conquistado em maio, foi causada por sua menor exposição na imprensa e pelo desgaste sofrido pelo governo por apoiar o presidente do Senado, José Sarney. Foi esse o motivo também da redução em 3 pontos porcentuais na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os números do Planalto Thiago Teixeira/ Os levantamentos eleitorais do Palácio do Planalto também preocupam os partidários Folha da ministra Dilma Rousseff. Eles mostram que a campanha da petista está estagnada. É essa a razão principal para que o presidente Lula insista na candidatura do cariri Ciro Gomes, do PSB, ao governo de São Paulo. Suas pesquisas sinalizam que 60% do eleitorado de Ciro migraria para Dilma caso ele deixasse de lado a corrida presidencial para tentar o Palácio dos Bandeirantes. Seria essa a forma mais fácil de elevar a petista à casa dos 30% das intenções de voto, aproximando-a, assim, do tucano José Serra, líder nas pesquisas.
O mercado da Copa O Pão de Açúcar será o novo patrocinador da Seleção Brasileira. O acordo deve ser anunciado nesta semana. Estima-se que a rede de supermercados de Abilio Diniz pagará 4 milhões de dólares por ano, até 2014, para expor sua marca nos amistosos da seleção e usar imagens do time e o emblema da CBF em propagandas. Nike, AmBev, Vivo e Itaú-Unibanco têm direitos semelhantes. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, contratou a Koch Tavares para arranjar um sexto patrocinador para o time.
O "não" dos pecuaristas
Edu Lopes
É uma situação inédita no mundo da pecuária: 1 550 fornecedores do frigorífico Independência no Centro Oeste rejeitaram o plano de recuperação judicial que a empresa apresentou há dez dias. Miguel e João Russo, do Independência, propuseram pagar à vista quem tem até 80 000 reais a receber (10% dos credores) e parcelar o resto. Condicionavam essa oferta à obtenção de um empréstimo de 300 milhões de reais e ao compromisso de não ser processados em caso de calote. A negativa em massa foi arquitetada pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
Valter Campanato/ ABR
No Maranhão é assim que funciona Roberto Stuckert/ Uma das primeiras providências da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão na O Globo gestão de Roseana Sarney foi contratar o advogado Arão Lobão por 1,5 milhão de reais por um ano. Piauiense, Lobão é desconhecido no Maranhão, não está registrado na OAB local e, por isso, só pode peticionar em cinco causas por ano no estado. É um generalista, que trabalha em todo tipo de processo. Ainda assim, foi contratado sem licitação por "notória especialização". Ele é parceiro de Marcus Vinicius Coelho, que advogou para Roseana na cassação do ex-governador Jackson Lago. Lobão diz que não houve tráfico de influência e que ganhou o contrato por puro senso de oportunidade.
As retransmissoras de Hélio Costa Marcelo Casal Jr/ABR
Desde 2005, quando o ministro Hélio Costa assumiu a pasta das Comunicações, o governo emitiu 2 500 outorgas a emissoras de rádio e TV, uma média de duas por dia. A responsável pelo prodígio é a secretária de Serviços de Comunicação Eletrônica, Zilda Beatriz Abreu, prima do ministro. Ambos têm uma predileção por Minas Gerais quando distribuem concessões de rádios comunitárias. O estado foi agraciado com 605 das 3 754 autorizações para essas emissoras – uma centena a mais que São Paulo, o segundo colocado no ranking. Em 2010, Hélio Costa concorrerá ao governo mineiro pelo PMDB.
SobeDesce
Conversa com Augusto Chagas "Trabalhar, só depois" Raquel Salgado A meta da gestão do novo presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, é convencer o Congresso a aprovar um projeto de lei que transferirá milhões dos cofres federais para os da sua entidade
Ed Ferreira/AE
De que trata esse projeto? Ele prevê que o estado indenizará a UNE por demolir nossa sede na ditadura militar. O valor pode variar de 36 a 72 milhões de reais. O que será feito com esse dinheiro? Queremos construir uma nova sede, projetada por Oscar Niemeyer. A obra está orçada em 35 milhões de reais. Teremos um centro cultural e uma torre comercial, que Chagas: "É dever do governo e das estatais poderá ser alugada. financiar nossos congressos" Então, se conseguir a indenização, a UNE não precisará mais pedir dinheiro ao governo. Aí, não. São coisas diferentes. É dever do governo e das estatais ajudar os estudantes a financiar suas atividades.
Quais? Nossos congressos. Mas eles não são só uma oportunidade para que os esquerdistas arranjem namoradas? Ah, isso não tem nada a ver. Não é por isso que você é esquerdista? Não, é porque só saídas coletivas vão dar uma resposta aos problemas da humanidade. O capitalismo é limitado. Quando você entrou na faculdade? Em 2001. Oito anos não foram suficientes para se formar? Na universidade, você decide quanto vai estudar em cada ano. Estou fazendo devagar. E trabalha? Estou dedicado só aos estudos e à militância. Trabalhar na minha área, a computação, só depois.
Conversa com Augusto Chagas "Trabalhar, só depois" Raquel Salgado A meta da gestão do novo presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, é convencer o Congresso a aprovar um projeto de lei que transferirá milhões dos cofres federais para os da sua entidade
Ed Ferreira/AE
De que trata esse projeto? Ele prevê que o estado indenizará a UNE por demolir nossa sede na ditadura militar. O valor pode variar de 36 a 72 milhões de reais. O que será feito com esse dinheiro? Queremos construir uma nova sede, projetada por Oscar Niemeyer. A obra está orçada em 35 milhões de reais. Teremos um centro cultural e uma torre comercial, que Chagas: "É dever do governo e das estatais poderá ser alugada. financiar nossos congressos" Então, se conseguir a indenização, a UNE não precisará mais pedir dinheiro ao governo. Aí, não. São coisas diferentes. É dever do governo e das estatais ajudar os estudantes a financiar suas atividades. Quais? Nossos congressos. Mas eles não são só uma oportunidade para que os esquerdistas arranjem namoradas? Ah, isso não tem nada a ver. Não é por isso que você é esquerdista? Não, é porque só saídas coletivas vão dar uma resposta aos problemas da humanidade. O capitalismo é limitado. Quando você entrou na faculdade? Em 2001.
Oito anos não foram suficientes para se formar? Na universidade, você decide quanto vai estudar em cada ano. Estou fazendo devagar. E trabalha? Estou dedicado só aos estudos e à militância. Trabalhar na minha área, a computação, só depois.
Radar Lauro Jardim ljardim@abril.com.br
Um contrato de opção para 2010 Germando Luders
Candidato? Meirelles: assim como Serra, diz que só decidirá se é candidato em março Faltam dois meses para Henrique Meirelles, enfim, dizer a que partido se filiará para disputar a eleição de 2010. Ele deve filiar-se ao PP e pode concorrer ao governo de Goiás. Mas o mistério não será desfeito logo. Aos mais próximos, Meirelles tem se servido de uma expressão do mercado financeiro para explicar que vê a filiação a um partido como um "contrato de opção, que pode ou não ser exercido". Decisão mesmo sobre candidatura, só em março. Até lá, fará como José Serra: empurrará com a barriga o assunto.
• Governo Lula irritado com a Vale
Rafael Andrade
Missão difícil Agnelli: tem de enfrentar a crise e agradar a Lula
Na quinta-feira, Lula pediu a Guido Mantega e ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que encontrem uma maneira jurídica de mudar o acordo de acionistas da Vale. Quer que o governo, através do BNDESPar e da Previ, que integram o bloco de controle da empresa, assumam de fato as rédeas da Vale, comandada por Roger Agnelli, ex-Bradesco, também um dos controladores. Nos últimos meses, Lula já vinha demonstrando publicamente sua insatisfação com a companhia. Mais de uma vez, puxou as orelhas de Roger Agnelli, reclamando de demissões na empresa e do que considerou um freio exagerado nos planos de investimentos. Se, de fato, a determinação de Lula andar, está destinada a ser uma fonte de polêmica incessante. Afinal, a companhia foi privatizada em 1997.
• Eleições 2010 Ciro Quadros De um petista muito próximo de Lula sobre a viabilidade da candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo: "O Ciro tem um quê de Jânio Quadros que atrai os paulistas. Mas um Jânio no bom sentido". Falta explicar o que se quer dizer com "Jânio no bom sentido".
• Senado O advogado do Sarney Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, será o advogado de defesa de José Sarney no Conselho de Ética.
• Brasil
Abaixo o socialismo Depois de passar uns dias com o Mickey na Disney World, José Dirceu seguiu para uma temporada de sol na casa de um amigo brasileiro em Saint Barth, no Caribe. A ilha é conhecida por ser um paraíso de milionários. Pelo telefone De lá, manteve vários contatos telefônicos com José Sarney e Roseana, tentando montar uma estratégia para salvar a pele do presidente do Senado.
• Petróleo Queima de 2 bilhões de reais O total de gás natural produzido e não utilizado pela Petrobras em junho foi de 9,2 milhões de metros cúbicos por dia. Parece muito, e é. Para que o leitor possa mensurar, seguem três informações relevantes. Primeiro, é quase o dobro de um ano atrás. Em segundo lugar, em dinheiro essa diferença significa um desperdício de cerca de 5 milhões de reais por dia - ou 2 bilhões de reais por ano. Finalmente, na Noruega, esse desperdício de gás é zero. E a Petrobras ainda paga royalties pelo gás que queima. Prejuízo para o acionista e para a União. Não tem desculpa Essa perda é mais inconcebível ainda quando se sabe que a Petrobras é a segunda empresa de energia que mais investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico no mundo. Em 2008, foram 900 milhões de dólares. Perde somente para a Shell.
• Economia Mudanças na Michelin Será anunciado nos próximos dias o novo presidente da Michelin no Brasil e na América do Sul. É o executivo Jean Phillipe Ollier. Ele substituirá Luiz Roberto Anastácio, que morreu na queda do voo 447, menos de um mês depois de assumir o cargo.
• Copa 2010 Guaraná versus Coca-Cola O guaraná Antarctica patrocina a seleção, mas não contará com as transmissões da Globo na Copa de 2010 para se aproximar do torcedor brasileiro - a exemplo do que fizera em 2006. A Coca-Cola, uma das empresas patrocinadoras da Fifa, exerceu seu direito de preferência e comprou na semana passada uma das cotas da Globo para a Copa da África do Sul.
• Cinema Sumiu o dinheiro
Paulo Giandalia/Folha Imagem
Bolso vazio Padilha: tema de digestão difícil para alguns
José Padilha, diretor de Tropa de Elite, tem um roteiro pronto para dirigir um filme sobre corrupção na política, baseado no mensalão. Só que ele está às voltas com um pequeno problema: não consegue captar um centavo. Ainda não encontrou uma empresa que queira meter o dedo nessa cumbuca.
Home » Revistas » Edição 2124 / 5 de agosto de 2009 Índice • Seções • Panorama • Brasil • Geral • Economia • Internacional • Guia • Artes e Espetáculos • ver capa Seções • VEJA.com • Carta ao Leitor • Entrevista: Guillermo Zuloaga • Claudio de Moura Castro • Millôr • Leitor • Blogosfera Panorama • Imagem da Semana • Datas • Holofote • SobeDesce • Conversa com Augusto Chagas • Números
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Panorama
Veja Essa Editado por Julio Cesar de Barros jbarros@abril.com.br Ilustração Dalcio
"Aqui não se pode mexer a bunda de um lado para o outro. É preciso se vestir com recato, cantar de forma melódica e lembrar as regras morais." Carta aberta à cantora Madonna divulgada pelos comunistas de São Petersburgo, na Rússia, onde ela se apresenta neste domingo
"O Senado não é problema meu. Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele ser senador do Maranhão." Lula, tirando o corpo fora, depois de tentar – até aqui sem sucesso – segurar a barra do presidente do Senado (P.S.: Sarney é senador do Amapá, e não do Maranhão) "Por uma questão de lealdade ao time, eu não posso ignorar essa situação difícil." Michael Schumacher, piloto de Fórmula 1 sete vezes campeão, justificando sua volta às pistas no lugar de Felipe Massa, na Ferrari
Bob Paulino
"Esse Rubinho só atrapalha. Não ganha nada e ainda cria problema. Quase matou o Massa." Maguila, ex-lutador de boxe
"O olho esquerdo do Felipe está inchado, como se ele tivesse levado um soco do Maguila." Titônio Massa, pai do piloto Felipe Massa, da Ferrari, vibrando com a melhora do filho "Minha mulher e eu nunca saímos à noite, nunca vamos a jantares. Eu não bebo, não fumo, mesmo cedendo à fraqueza pelo charuto uma vez ou outra. Então, eu não preciso mudar nada radicalmente na minha vida." Nicolas Sarkozy, presidente francês, garantindo que está bem de saúde, a despeito do susto que levou no domingo passado, quando se sentiu mal enquanto praticava corrida e foi parar no hospital
Andrew Marks/Corbis/Latinstock
"Prefiro levar uma surra durante horas a fazer cenas de sexo." Marion Cotillard, atriz francesa que interpreta Billie Frechette, a namorada de John Dillinger (Johnny Depp) no filme Inimigos Públicos
"Isso não é um movimento do PT, imaginamos que seja um posicionamento de um ou dois senadores." José Múcio, ministro das Relações Institucionais, desqualificando o pedido de afastamento de Sarney feito, em nota assinada pelo líder do partido, senador Aloizio Mercadante "Meu filho vai se casar. Não consigo pensar em mais nada." Aloizio Mercadante, em seu Twitter, negando-se a comentar o assunto
Pier Paolo Cito/AP
"Meu anjo da guarda não impediu meu infortúnio, certamente por ordens superiores." Do papa Bento XVI, falando do tombo em que quebrou o pulso direito, quando passava férias nos Alpes
EDIÇÃO DA SEMANA ACERVO DIGITAL
VEJA
César Cielo Enfim, um herói nacional
Só lá Sarney é santo Como O Estado do Maranhão, jornal da família do senador, cobre os escândalos que envolvem o político Diogo Schelp Clique na imagem para ampliar
"Maranhenses desconfiam da ida do homem à Lua", anunciava, no dia 20 passado, uma manchete no site da TV Mirante. A afiliada da Rede Globo pertence ao grupo de comunicações da família do senador José Sarney (PMDB). O conglomerado inclui as principais retransmissoras de TV do estado, quase duas dezenas de estações de rádio e o jornal diário de maior circulação, O Estado do Maranhão. Nas últimas semanas, todo esse aparato de comunicação - com uma forcinha de afiliadas locais do SBT ligadas ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - dedica-se a esconder dos maranhenses os rolos de José Sarney com nepotismo, conta no exterior, desvio de dinheiro público e tráfico de influência. É mais fácil acreditar que o homem nunca pisou na Lua. O Estado do Maranhão vai às bancas com uma versão peculiar da realidade. Nela, Sarney é uma espécie de santo martirizado pela "mídia paulista", pela oposição no Congresso, pelo Ministério Público e pelas pessoas que vazaram as gravações telefônicas, feitas pela Polícia Federal, entre o senador e seus parentes. O jornal diz que tudo não passa de manipulação política e pede rigor na investigação de quem passou os grampos à imprensa. Quando não dá para ser ainda mais servil, O Estado simplesmente muda de assunto. Sempre que possível, as manchetes exaltam as manifestações de apoio a Sarney, para passar a impressão de que toda a população maranhense é unânime na crença de que o político é vítima de uma campanha para tirá-lo da presidência do Senado e, assim, atingir o governo Lula. VEJA tentou entrevistar o diretor do jornal, Ribamar Corrêa. Mas ele se negou a falar. No Maranhão, 90% dos meios de comunicação do estado estão nas mãos de grupos políticos. Infelizmente, não se trata de exceção. Fora dos grandes centros econômicos do Sul e do Sudeste, praticamente inexiste uma imprensa regional independente e isenta. Estima-se que quase três centenas de governadores, prefeitos e parlamentares sejam donos de veículos de comunicação no Brasil. E o que é pior: a Constituição não permite que deputados federais e senadores sejam sócios de empresas concessionárias de serviço público. Ou seja, eles são proibidos de ter rádios e TVs, sob o risco de perderem o mandato. A regra é ignorada sem solenidade. Quando muito, os políticos colocam as empresas no nome de parentes e laranjas ou assinam um termo "licenciando-se" da gestão de seus negócios de comunicação. Como se isso evitasse que o conteúdo do noticiário obedecesse a seus interesses. Dos oitenta deputados federais e senadores com outorgas de rádio e TV, dois terços são das regiões Norte e Nordeste. No Maranhão, as empresas dos Sarney e de Edison Lobão não são as únicas controladas por políticos. O grupo detentor das afiliadas da Rede Record e de algumas emissoras de rádio tem entre seus sócios o deputado federal Roberto Rocha (PSDB), inimigo dos Sarney. Na disputa pelo posto de o segundo
maior jornal em São Luís estão O Imparcial, dos Diários Associados, um grupo nacional sem ligação direta com políticos locais, e o Jornal Pequeno, alinhado com qualquer liderança que se oponha aos Sarney. Em ambos, noticiam-se os escândalos recentes. Incapaz, portanto, de controlar todas as informações que chegam aos seus súditos, Sarney contratou uma equipe de quinze jornalistas recémformados para inundar a internet - principalmente sites e blogs do Maranhão - com comentários positivos a seu respeito. Em outra tentativa de contrapor-se ao inevitável, na última sexta-feira, em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo, o senador reclamou da falta de uma "lei de responsabilidade da mídia" e se diz vítima de "tortura moral". É mesmo como acreditar que o homem não foi à Lua.
Vacilou, dançou O ministro do Trabalho aproveita um cochilo da oposição para colocar um aliado no comando do bilionário Fundo de Amparo ao Trabalhador Fábio Portela Fotos Marcos Arcoverde/AE e Andre Dusek/AE
ATROPELOU O ministro Carlos Lupi se uniu aos sindicatos para eleger o novo presidente do conselho do FAT. A senadora Kátia Abreu, que já contava com a vaga, ficou na saudade
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, impôs uma dura derrota à oposição. O centro da disputa foi o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), abastecido com dinheiro de impostos e controlado por um conselho deliberativo que inclui governo, sindicatos de empresários e de trabalhadores. Por um acordo de cavalheiros, a presidência do conselho é rotativa: cada bloco passa dois anos no comando.
Até a semana passada, quem dava as cartas no FAT eram os trabalhadores, mais especificamente a Força Sindical, central vinculada ao ministro Lupi. No próximo biênio, o controle caberia aos empresários. As quatro maiores associações patronais – as confederações da indústria (CNI), da agricultura (CNA), do comércio (CNC) e do sistema financeiro (Consif) – se articularam para escolher um nome. Decidiram deixar a indicação para a CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Só que excluíram das negociações duas outras associações patronais, a de serviços (CNS) e a de turismo (CNTur). Aí, abriram uma brecha para que Lupi os derrotasse. O presidente da CNS, Luigi Nese, havia se candidatado a presidente do conselho, mas não foi levado a sério pelas outras confederações por ser um novato: a instituição que ele preside não tem um ano de vida e só ingressou no conselho do FAT em abril. "Quando eu disse que queria disputar a indicação, responderam que ‘pato novo não pia’. Um desrespeito", diz Nese. Ele, então, recorreu a Lupi. O ministro anteviu a oportunidade de dar um tombo na senadora Kátia Abreu, aguerrido nome da oposição, e prometeu apoio a Nese. Munido da bênção oficial, cabalou votos nas centrais sindicais. No dia da eleição, nadou de braçada: elegeu-se com o apoio do ministro e dos sindicatos. "O que aconteceu foi consequência da postura hostil e raivosa que a senadora Kátia Abreu e o DEM mantêm em relação ao governo e às centrais sindicais", diz Lupi. O ministro gaba-se de ter vencido sem quebrar a alternância de poder, já que o novo presidente dirige uma confederação patronal. O grupo da senadora, que ameaça abandonar o fundo, tem outra leitura: Nese seria apenas um preposto de Lupi. Na presidência do conselho, ele comandará um orçamento de 43 bilhões de reais em 2010, ano em que se elegerão o presidente da República, governadores, deputados e senadores. A maior parte desse dinheiro é gasta no seguro-desemprego e no abono salarial do PIS. Mas uma parcela pode ser manobrada por meio de empréstimos do BNDES e de programas de qualificação profissional tocados pelas centrais sindicais. A oposição teme que esses recursos, sob a presidência de Nese, acabem no caixa dois de políticos da base governista. Olho nele, Kátia.
Ambiente
FAXINA NAS ILHAS DE ANGRA
O mais badalado balneário do Brasil é alvo de uma megaoperação ambiental. Mais de 150 processos de licenciamento estão sendo revistos – e as multas são salgadas como o mar Marcelo Bortoloti Fotos Oscar Cabral e Divulgação
MAQUIAGEM NATURAL Do barco, a mata da Ilha da Cavala parece exuberante; do helicóptero, porém, o cenário é de devastação
Vista do mar, a Ilha da Cavala, na baía de Angra dos Reis, no litoral fluminense, parece um pedaço intocado de Mata Atlântica. Mas há um ano, sobrevoando a região de helicóptero, fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) descobriram que, em seu miolo, a floresta dera lugar a uma mansão de 1 800 metros quadrados. Ela pertence ao empresário Antônio Cláudio Brandão, um dos sócios da rede Localiza, e foi construída sem licença ambiental. Multado em 1 milhão de reais, Brandão recorreu, mas a obra, praticamente concluída, está embargada. Outras duas multas, no valor total de 850.000 reais, couberam ao empresário paulista Rolf Baumgart, dono do Shopping Center Norte e da indústria química Vedacit. Ele foi autuado por construir uma casa sobre um costão rochoso, com píer e heliponto, na Ilha das Palmeiras. O Ibama determinou a paralisação da obra, mas não foi atendido. A Polícia Federal, então, prendeu os pedreiros (pois é, sobrou para os coitados) e apreendeu um minitrator e três barcos que transportavam material de construção. Esses são apenas os dois casos mais ruidosos de devastação promovida por gente graúda em Angra dos Reis, cujas ilhas chegam a ser negociadas por até 18 milhões de reais. Desde 2007, o Ibama aplicou dezessete autos de infração a proprietários de mansões da região. O Ministério Público abriu catorze processos para demolição e a prefeitura de Angra dos Reis diz ter outros setenta em andamento. Para completar, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), criado neste ano para cuidar das licenças ambientais no Rio de Janeiro, está revendo 164 processos de licenciamento. Fotos Oscar Cabral e Raul Junior
NA JUSTIÇA Luciano Huck e sua casa em Angra dos Reis: acusado de dragagem ilegal, para fazer uma praia artificial
A baía de Angra dos Reis abriga em suas águas verde-esmeralda 365 ilhas, das quais 150 são habitáveis. Na década de 70, embora o lugar já atraísse famosos, como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, havia apenas uma aldeia de pescadores debruçada sobre o mar. Com a inauguração da Estrada Rio-Santos, a ocupação desse paraíso explodiu – e, agora, a investida dos órgãos de fiscalização e controle ambiental revelou um emaranhado legal. No início, como as ilhas são patrimônio da União, comprava-se o direito de posse adquirido pelos pescadores e construía-se nelas o que se quisesse. Não havia legislação específica a respeito. Embora o Código Florestal, de 1965, a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, e o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, de 1988, já falassem na preservação da área, os órgãos ambientais entendiam – ou fingiam entender – que a restrição se referia apenas à ocupação industrial. Em 1994, finalmente, o governo estadual regulamentou uma lei que transformava as ilhas em Área de Proteção Ambiental. Ela identificava locais onde não se podia mais construir e proibia a ampliação das casas já existentes em mais de 50% do tamanho da construção original. Tudo bonito no papel. Na realidade, a oportuna falta de funcionários que deveriam fazer a lei ser cumprida, somada à corrupção endêmica dos poucos fiscais existentes, permitiu que muitos ricaços continuassem a desmatar. O cerco apertou há apenas três anos. Em 2006, 25 funcionários do Ibama foram presos pela Polícia Federal por fraude na fiscalização. Em 2007, mais dezenove pessoas foram presas, incluindo funcionários da prefeitura de Angra dos Reis e do governo estadual, envolvidos num esquema de venda de licenças. Enquanto vários proprietários ainda insistem em burlar a lei, outros tentam regularizar situações não raro herdadas dos antigos donos. Certos casos exigirão bom senso por parte das autoridades. "Se o problema é somente a falta da licença ambiental, fica mais fácil resolver. Mas há casas já construídas que não podem ser licenciadas, seja porque foram feitas em locais que passaram a ser proibidos, seja porque têm dimensões não mais sancionadas pela lei. Estamos estudando que solução
dar a essas situações", diz Júlio Avelar, superintendente do Inea na região. O apresentador da Rede Globo Luciano Huck foi acionado pelo fato de sua mansão, na Ilha das Palmeiras, ter sido erguida sobre o espelho-d’água e as rochas, o que é proibido. Huck recorreu à Justiça e ganhou, com a justificativa de que a casa original fora construída em 1971, antes da entrada em vigor da legislação atual, e ele apenas a reformara. Ele enfrenta, contudo, outro processo: foi acusado de executar uma dragagem para construção de praia artificial sem licença para tanto. "Não estou preocupado. Mas acho importante que o poder público deixe as regras mais claras", diz Huck. Seria mesmo ótimo que tudo, além da água do mar, fosse cristalino em Angra dos Reis.
Patrimônio
DESTRUIDORES DA HISTÓRIA Vândalos agem sem controle nos sítios arqueológicos brasileiros e ameaçam fazer desaparecer sob pichações e cartazes um precioso conjunto de pinturas rupestres Marcelo Bortoloti Julio Cesar Mello de Oliveira
CACHOEIRA DO ENCANTADO, BAHIA: depredação de um patrimônio ainda pouco conhecido e estudado
O Brasil é dono de um dos mais extensos e diversificados conjuntos de arte rupestre do mundo. Dele, conhece-se apenas uma pequena parte. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registra a existência de 2 000 sítios arqueológicos com pinturas e inscrições pré-históricas, mas estimase que esse número possa ser dez vezes maior. Esses registros gravados em rochas datam de até 40 000 anos atrás e constituem um patrimônio precioso e frágil por natureza, exposto que é à ação do tempo e das mudanças climáticas. No Brasil, a essa agressão inevitável soma-se uma praga vergonhosa. Aqui, o grande inimigo da conservação é o vandalismo. Pinturas milenares têm sido depredadas por pichações, fogueiras, gado – e até por cartazes de propaganda eleitoral. Em janeiro deste ano, no Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, inscrições rupestres feitas há 6 000 anos foram destruídas depois de uma disputa entre guias que trabalhavam informalmente na região. Um deles sentiu-se lesado pelos colegas e jogou um balde de tinta vermelha sobre os desenhos. Até hoje ninguém foi indiciado. Nos precários levantamentos do Iphan, a depredação atinge 3% do patrimônio. Levantamentos feitos por instituições estaduais dão uma ideia mais precisa do problema. A Universidade Estadual da Paraíba está fazendo o Mapa da Destruição no estado, cujo tesouro mais precioso é a Pedra do Ingá, um bloco de 24 metros de largura e 3 de altura coberto de grafismos misteriosos. Até agora, pesquisadores visitaram 44 sítios e encontraram marcas de vandalismo em 38 deles. Outra equipe, da Universidade Federal da Bahia, localizou dezoito casos de depredação em 120 sítios pesquisados no estado. País afora esse panorama desolador se repete, sem que se tome providência alguma para barrar a destruição. O patrimônio rupestre conhecido até agora no Brasil não tem a mesma beleza dos desenhos de locais célebres como as grutas de Lascaux, na França, e de Altamira, na Espanha. Mas os cerca de 20 000 sítios formam uma das maiores concentrações do mundo de pinturas ainda não estudadas. Eles estão espalhados por todo o país e guardam desenhos de diferentes períodos. Alguns são inscrições geométricas, outros sugerem animais, rituais, cenas de luta. São uma ferramenta importante para os estudos sobre o processo de ocupação do continente americano, além de seu valor como registro
artístico. Sua destruição é preocupante porque recai sobre material que ainda não foi sequer cadastrado e examinado. Desde 1961, o Iphan é responsável pela fiscalização desses sítios. Mas, até 2006, em seu quadro havia apenas seis arqueólogos. Atualmente há quarenta, um efetivo ainda ínfimo. "São milhares de sítios, muitas vezes em locais de difícil acesso, e pinturas isoladas, que ficam a centenas de quilômetros umas das outras. É impossível vigiar tudo", diz o diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Dalmo Vieira Filho. Pablo de Sousa / Cia da Luz
PINTURA PRESERVADA Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí: 10 000 visitas guiadas por ano e adeus ao vandalismo
A solução, entretanto, não está fora de alcance. "Na Austrália, as pinturas também são espalhadas, só que há um guarda para vigiar cada sítio", diz a pesquisadora Niède Guidon, diretora do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Desde a década de 1970, a arqueóloga e sua equipe trabalham para fazer desse parque uma referência internacional. Quando decidiram abri-lo à visitação, em 1993, sofreram um revés imediato: em menos de um mês de visitas, começaram a aparecer nomes escritos sobre as pinturas. Desde então, a diretoria do parque só permite visitação com acompanhamento de um guia devidamente treinado, o que praticamente acabou com o vandalismo. Hoje, a Serra da Capivara recebe 10.000 visitantes por ano, tem 240 funcionários e um orçamento anual de 3 milhões de reais, a maior parte bancada por empresas que utilizam o incentivo da Lei Rouanet. Outros conjuntos expressivos de pinturas, como o do Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, e o do Vale do Peruaçu, em Minas Gerais, continuam ameaçados pela falta de fiscalização. "Na França, há regiões que vivem do turismo arqueológico. Aqui, ninguém atenta para o número de empregos que pode ser criado em torno dessas áreas", diz Niède Guidon.
Tecnologia
A CIÊNCIA DO PALPITE O site de aluguel de filmes NetFlix vai dar 1 milhão de dólares a quem melhorar em 10% seu sistema de recomendações. Parece simples? Pois alguns dos maiores cientistas da computação estão há três anos quebrando a cabeça para resolver o desafio VEJA TAMBÉM Qualquer um que navegue em sites de notícias, serviços • Quadro: Livre associação ou compras pela internet já passou pela experiência: assim que abre uma manchete ou clica em um produto para vê-lo em mais detalhe, o usuário é bombardeado com sugestões de outros itens que possam interessá-lo. Esses sistemas de recomendação são a maneira pela qual as lojas virtuais substituem a figura do vendedor e ampliam seu movimento. Nas lojas de verdade, claro, encontram-se bons e maus vendedores – há os que estudam os sinais subjetivos emitidos pelo freguês e enchem sua sacola com produtos que ele não planejava comprar, e há os desastrados, que o irritam com palpites descabidos e acabam por afugentá-lo. O mesmo acontece nos ambientes virtuais. Se o sistema é capaz de traçar um perfil fiel do cliente e seduzi-lo com sugestões que ele considera atraentes, vende mais; se o estorva, perde o negócio. A urgência dos grandes negociantes da internet em refinar seus sistemas de recomendação é tanta que o site americano de aluguel de filmes NetFlix tomou uma atitude inédita: instituiu um prêmio de 1 milhão de dólares para
quem conseguisse melhorar em 10% a precisão de seu sistema de recomendação. A porcentagem pode parecer baixa – mas é uma tremenda barreira do ponto de vista da ciência de computação (e nem é preciso dizer que, rompida, pode reverter em muitos milhões de dólares a mais em volume de negócios). Lançado em 2006, o concurso recebeu milhares de inscritos. No domingo 26, quando ele se fechou a novas contribuições, só dois times haviam atingido a meta. Batizados como Ensemble e BellKor’s Pragmatic Chaos, eles são formados por coalizões de alguns dos mais brilhantes cientistas da área, ligados a grandes institutos de diversos países. Se tentasse contratar algum desses times, o NetFlix dificilmente teria cacife para bancar seu trabalho. Mas, por meio dessa "multiterceirização", não só está prestes a obter o que desejava como movimentou o meio acadêmico. Até que o NetFlix anuncie um eventual vencedor, em setembro, ainda tem muitos números a destrinchar. O desafio, entretanto, já está rendendo frutos. As coalizões deram origem a novas empresas, e seus princípios teóricos começam a ser aplicados por outras corporações (os times são donos dos sistemas que criaram). Isso porque essa margem tão ínfima, de 10% de otimização, redundou em modelos matemáticos ultracomplexos, capazes de contabilizar variáveis que até aqui escapavam aos softwares mais usados. O comum, quando se recebe uma sugestão de um site, é que o sistema a faça analisando o histórico de compras daquele cliente e do produto no qual ele demonstra interesse. Não é um método ruim, mas deixa algo a desejar. Primeiro, porque ignora produtos que até ali foram pouco avaliados pela clientela (as "notas" que essa clientela atribui às compras são peça-chave de qualquer sistema). Segundo, porque às vezes interpreta mal os interesses do freguês. Em um artigo publicado em 2002 no Wall Street Journal, e que virou clássico já a partir de seu título – "Meu TiVo acha que sou gay" –, o colunista Jeffrey Zaslow relatava o caso de um sujeito que, por razão desconhecida, passou a ser inundado pelo gravador digital de sua TV a cabo com programas de cunho homossexual. Na tentativa de persuadir a geringonça do contrário, ele começou a pedir atrações "de macho", como filmes de guerra – só para o aparelho então cismar que ele era um nazista contumaz. Os dois finalistas do Net-Flix adotaram abordagens diversas, mas que podem, em tese, diminuir os equívocos e as sugestões óbvias. Em termos muito simplificados, o modelo matemático da equipe BellKor’s procura dar conta das variações de gosto no tempo e até mesmo dar um peso à maneira como o humor do usuário pode influenciar sua nota – em linguagem técnica, são estudos de "dinâmica temporal". O algoritmo do time Ensemble, por sua vez, agrupa os filmes em "constelações" e determina a intensidade da ligação entre eles (veja o quadro). Muito do sucesso das duas equipes se deve ao fato de elas terem trabalhado com dados verdadeiros: à medida que treinavam seus algoritmos a interpretar os mais de 100 milhões de avaliações de 18.000 filmes, iam comparando os resultados à base real. Ambos os modelos aprimoraram em mais de 10% o sistema de sugestões já utilizado pelo NetFlix. A empresa ainda vai determinar qual deles melhor a atende. Mas, mesmo que não declare um vencedor – o regulamento prevê essa possibilidade –, uma coisa é certa: tais inovações vão propagar-se para outros ambientes virtuais. E a vitória aí é do cliente, que não mais será incomodado por "vendedores" que oferecem geladeiras a esquimós ou areia a beduínos.
Do mínimo, o máximo Com recursos da nanotecnologia, pesquisadores mineiros desenvolvem um remédio inovador contra a hipertensão – mais eficaz e com menos efeitos colaterais Naiara Magalhães Leo Drumond/Nitro
PIONEIRISMO EM NANOTECNOLOGIA Pesquisadora da UFMG prepara placa para cultivar células humanas onde serão testados os efeitos do anti-hipertensivo em desenvolvimento
Uma das frentes mais promissoras nos estudos para o combate à pressão alta é de tecnologia 100% brasileira. Pesquisadores do Laboratório de Hipertensão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nano-Biofarmacêutica (N-Biofar), da Universidade Federal de Minas Gerais, dedicam-se a criar um medicamento inédito contra o distúrbio – a principal causa de derrames e fator de risco para infartos, com 30 milhões de doentes no país. Com recursos da nanotecnologia, geneticistas, biólogos, químicos e físicos desenvolveram um remédio programado para agir em um dos mecanismos mais importantes no controle da pressão arterial, o circuito renina-angiotensina – uma cascata de reações químicas responsáveis pela contração e relaxamento das artérias. Nos hipertensos, tal sistema está fora de sintonia. O composto em experiência no laboratório mineiro tem por objetivo regular o processo da vasodilatação. O novo remédio já está sendo testado em seres humanos. Confirmado o sucesso obtido com ratos de laboratório, o medicamento deve chegar ao mercado em dois anos. O impacto da nanotecnologia no desenvolvimento de remédios é enorme. Por trabalhar com partículas tão minúsculas quanto o bilionésimo do metro, esse ramo da ciência permite que se aumentem a segurança e a eficácia dos medicamentos. Foi nesse mundo invisível, em que as moléculas não podem
ser vistas nem sob as lentes do microscópio, que os pesquisadores mineiros chegaram aos comprimidos de angiotensina 1-7, uma substância que ajuda a relaxar as paredes das artérias e que, em alguns hipertensos, não se apresenta em níveis adequados. Sob a coordenação do professor Robson Santos – que, enquanto fazia pós-doutorado na Cleveland Clinic Foundation, foi um dos descobridores da angiotensina 1-7 –, eles conseguiram encapsular a substância em um conjunto de moléculas de açúcar de proporções infinitesimais. Para se ter uma ideia, um grão de areia é 82.000 vezes maior do que esse transportador químico. Graças a essa proteção, o novo anti-hipertensivo consegue passar intacto pelo trato gastrointestinal (veja quadro abaixo). "Isso o torna mais eficaz", diz Santos. Desse modo, o medicamento tem potencial para se transformar num grande aliado dos cerca de 20% de hipertensos que têm o que se chama de hipertensão refratária, aquela que não se consegue controlar. O novo antihipertensivo também poderá ser uma alternativa mais cômoda para os outros hipertensos brasileiros que já controlam a hipertensão com remédios, mas ainda têm de enfrentar reações adversas que vão de tosse a inchaço nos pés e diarreia. Como o medicamento é feito a partir de uma substância produzida naturalmente pelo próprio organismo, a angiotensina 1-7, os especialistas acreditam que ele deva apresentar pouquíssimos efeitos colaterais – ou nenhum, a exemplo do que aconteceu com os ratos hipertensos usados nos experimentos pré-clínicos. Nascido em 2000, da união de catorze laboratórios da Universidade Federal de Minas Gerais, nas áreas de física, química, biologia e genética, o N-Biofar se transformou em referência em inovações farmacêuticas a partir da nano e biotecnologia. No ano passado, o instituto conquistou um financiamento de 6 milhões de reais, do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a ser recebido em três anos. O novo orçamento é compatível com os distribuídos pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) aos centros de pesquisa americanos. É um salto e tanto para um grupo que, até então, trabalhava com 300 000 reais anuais. O N-Biofar conta com dezessete pesquisadores em nível sênior, ou seja, doutores há mais de dez anos, todos com pós-doutorado no exterior. Colaboram com o instituto pesquisadores de onze centros dos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Canadá, Suíça e Áustria. Além de desenvolver remédios para hipertensão, o N-Biofar pesquisa medicamentos contra o câncer e outras doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica, como a leishmaniose. Neste ano, o instituto abriu a primeira turma de mestrado em inovação biofarmacêutica, que, além de trabalhar na formulação de novos remédios, tem o objetivo de formar profissionais aptos a trabalhar com pesquisa pré-clínica (com animais). O N-Biofar é um modelo a ser copiado.
Só resta exportar bandidos A confusão na transferência de presos do Paraná para o Rio atesta a falência do sistema carcerário fluminense Ronaldo Soares Ernesto Carriço/Agência O dia/AE
FACÍNORAS O trio abaixo comandou ataques no Rio: ônibus incendiados e onze mortos
Isaías Rodrigues, o Isaías do Borel, Marco Antônio da Silva, o My Thor, e Ricardo Lima, o Fu do Zinco, são três traficantes cariocas barras-pesadíssimas. Em dezembro de 2006, comandaram de dentro da penitenciária de Bangu 1, no Rio de Janeiro, uma onda de terror na capital fluminense que resultou em onze mortos, mais de trinta feridos e onze ônibus incendiados. Para evitar que continuassem dando ordens a seus comparsas soltos, foram mandados para o presídio federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná. Na semana passada, a Justiça Federal daquele estado resolveu devolver os facínoras ao Rio, na estrita observância da lei segundo a qual presídios de segurança máxima não se destinam ao cumprimento integral de penas. Sérgio Cabral, governador fluminense, estrilou, alegando que o trio voltaria a pôr em risco a segurança dos cariocas. O Judiciário do Rio recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O STJ entendeu que eles deveriam permanecer no Paraná até decidir que lado tem razão. Nesse jogo de empurra, os traficantes viajaram por vinte horas, numa operação que custou 45 000 reais aos contribuintes. O gasto financeiro da confusão poderia ter sido evitado se a Justiça do Paraná não tivesse comunicado a sua decisão pelo correio, num Sedex que as autoridades fluminenses dizem não ter recebido. Do ponto de vista formal, a Justiça Federal do Paraná agiu corretamente. Além de a legislação determinar que presídio federal não é endereço fixo de bandido, os traficantes não cometeram infrações
disciplinares em Catanduvas, o que estenderia sua estada, nem o governo do Rio forneceu informações adicionais que justificassem a necessidade de mantê-los lá por mais tempo. Mas o governador Sérgio Cabral usa um argumento de peso quando alega que traficantes que continuam sendo uma séria ameaça à sociedade não podem ser tratados sem que se leve em conta o contexto. Se ambos os lados têm suas razões, salta aos olhos a necessidade de duas mudanças. Uma na legislação, para permitir tratamento diferenciado a quem comete reiteradamente crimes graves. Outra no sistema penitenciário do Rio de Janeiro. O governo fluminense tem de deixar seus próprios presídios de segurança máxima em condições de receber traficantes perigosos. Está previsto para esta semana o retorno de mais dois presos, vindos de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e Sérgio Cabral já avisou que não os quer no estado. "Essa briga é o retrato da falência do sistema prisional no Rio e no Brasil. A maioria dos estados exporta seus presos porque não consegue lidar com eles", diz o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior. Uma exceção é São Paulo, onde o governo agiu com mão de ferro. Instituiu o regime que permite isolamento total dos presos mais perigosos, apertou o controle sobre visitas e enquadrou diretores e agentes penitenciários. Como resultado, desde 2007 o estado enfrentou apenas três rebeliões e mantém todos os condenados por crimes em São Paulo devidamente trancafiados nos presídios estaduais.
Fotos Reprodução Ag. O Dia
My Thor Condenado a 29 anos
Fu do Zinco Condenado a 89 anos
Gente Editado por Lizia Bydlowski Colaboraram Bel Moherdaui e Juliana Linhares A barriguinha estava aqui, viram?
Isaías do Borel Condenado a 52 anos
Reprodução
O inimaginável aconteceu: pela primeira vez alguém confessou ter emagrecido no computador fotos da silfídica GISELE BÜNDCHEN - e de lambuja confirmou o que todo mundo sabe. Clicada há três semanas em Los Angeles, de trench coat, calcinha mínima e coxas máximas, para cumprir contrato publicitário assinado há meses com uma grife americana, na versão final das fotos a barriga já saliente de grávida de mais ou menos quatro meses sumiu. "A maioria das imagens foi retocada para respeitar a privacidade dela", esgueirou-se Dari Marder, porta-voz da marca, antecipando-se a possíveis críticas pela gravidez que sumiu no Photoshop, mas alegremente divulgada em fotos originais e transformada em peça de marketing.
Tom Brady, mantenha distância Lara Dassia/Wire Image/Getty Images
Confirmado: BAR RAFAELI, 24 anos, a linda modelo israelense que se parece com Gisele, é também a mais fiel depositária dos ex de Gisele. Depois do ator Leonardo DiCaprio e do surfista Kelly Slater, o ex da vez é o empresário RICARDO MANSUR, 34, que conheceu em Saint-Tropez e com quem viajou para Tel-Aviv. Embora um tabloide inglês afirme que o interesse amoroso atual de Bar é Teddy Sagi - feinho, baixinho e um dos trinta homens mais ricos de Israel -, Mansur confirma, através de amigos, que está tratando do conflito árabe-israelense. Mas, cavalheiro, não dá detalhes: "Não vou falar das minas que eu estou pegando nas minhas férias".
Parece muito, mas não é Alan Marques/Folha Imagem
De longe (e também de perto), a bolsa de couro azul-marinho que apareceu na curva do braço da ministra DILMA ROUSSEFF tem todo o jeito da legendária Kelly, da Hermès, batizada em homenagem à doce princesa de Mônaco e orçada a partir de salgados 10 000 reais. "Mas a aba não é tão plana e o formato é um pouco mais quadrado", analisou, com olho crítico, a blogueira Kelly Cook, do Bag Snob. Formada a crise internacional da bolsa, a assessoria da ministra esclareceu que se trata de uma Francesco Rogani comprada na loja da grife italiana na turística Via Condotti. Especialidade da marca, pouco conhecida entre os fashionistas, mas muito citada em guias de turismo: versões genéricas das bolsas Hermès, por módicos 230 euros, ou 600 reais.
Em compensação, Jesus está com ela Gratton-Baker/Matrix/Brainpix
As más línguas dizem que MADONNA, obcecada por exercícios físicos e intervenções estéticas, tem cara de adolescente e mãos de aposentada. Ao sair para jantar em Londres na semana passada, a cantora de 50 anos deu uma lição completa de anatomia. Bíceps, tríceps, deltoides e demais músculos e veias saltavam de seus enxutíssimos braços, escalavrados pela ginástica e sugados pela alimentação macrobiótica, com zero de gordura. Sua instrutora, Tracy Anderson, exime-se de culpa. "Eu mandei que ela parasse com ioga, porque faz aparecer as veias", declarou recentemente. "Aquelas veias não têm nada a ver comigo." Em tempo: no jantar, além de bolsa e casaco, Madonna levava Jesus Luz a tiracolo. Alguma recompensa ela tem de ter.
MACONHA ANABOLIZADA Cannabis hidropônica cultivada em casas e apartamentos, com poder alucinógeno quatro vezes maior, é a novidade do tráfico de drogas na Flórida Renata Moraes Carisa McCain/AP
FORTE E CARA Pés de maconha em estufa caseira: a 15 000 dólares o quilo, uma mina de ouro para os traficantes
As laranjas fizeram a fama da agricultura da Flórida, mas as plantações que têm chamado atenção nesse estado americano abrigam outro tipo de produto: a maconha hidropônica. Ela é cultivada em tonéis de terra encharcada de água, no interior de casas e apartamentos adaptados para funcionar como estufas, com condições ideais de iluminação e temperatura. Para acelerar seu crescimento e aumentar os níveis de THC, a substância ativa da droga, usa-se um coquetel de fertilizantes. O resultado é uma maconha com poder alucinógeno até quatro vezes maior que o daquela plantada de maneira convencional. A nova variante da Cannabis se tornou uma mina de ouro para os traficantes da Flórida, já que alcança preços nas alturas – até 15.000 dólares o quilo. Apenas no mês de junho, a polícia de Miami apreendeu 6.828 pés de maconha hidropônica em 120 laboratórios de cultivo caseiro. No ano passado, foram desbaratadas 1 022 estufas clandestinas. Muitas vezes a polícia tem dificuldade em prender os donos das plantações porque sua operação é entregue a imigrantes ilegais, que concordam em correr o risco de tocar o negócio em troca de alojar a "Somente em junho, foram família nos imóveis. Sua principal tarefa é controlar complexos apreendidos em Miami 6 800 sistemas de luzes, condicionadores de ar e campos de irrigação que pés da Cannabis ultrapotente funcionam dia e noite a fim de manter o ambiente ideal para o cultivo em 120 laboratórios caseiros da maconha ultrapotente. Para que o alto consumo de eletricidade dos imóveis que abrigam as plantações não chame a atenção da polícia, os traficantes instalam "gatos" que ligam a caixa de luz diretamente à rede elétrica, evitando os medidores. Uma das estratégias da polícia para rastrear as plantações é cooptar como informantes os eletricistas encarregados de fazer as instalações clandestinas. Um relatório elaborado pelo Centro Europeu de Monitoramento de Drogas em 2004 mostra que os níveis de THC da variante hidropônica da maconha são no mínimo o dobro daqueles da planta convencional. A bióloga Eny Floh, da Universidade de São Paulo, explica o segredo de seu cultivo: "O metabolismo vegetal se altera de acordo com as condições de solo, luminosidade, nutrientes, irrigação e temperatura. Quanto mais intensa a fotossíntese, mais a Cannabis produz o alcaloide tetra-
hidrocanabinol, o THC, substância psicoativa responsável pela sensação de euforia". No mundo do crime, drogas mais poderosas significam mais lucro para o tráfico.
Mais perigoso do que se imaginava O bronzeamento artificial é um agente cancerígeno tão poderoso quanto o tabaco ou as armas químicas Gabriela Carelli Adam Woolfitt/Corbis/Latinstock
RADIAÇÃO TRAIÇOEIRA Câmara de bronzeamento: segundo a OMS, os raios UVA, emitidos por ela, nada têm de inofensivos
As câmaras de bronzeamento artificial podem estar com os dias contados. Há tempos se suspeitava que a radiação ultravioleta emitida por esses equipamentos tinha potencial cancerígeno. Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou o nível de alerta para o bronzeamento artificial, colocando-o entre os agentes cancerígenos mais perigosos, ao lado do tabaco e do gás mostarda, arma química usada na I Guerra Mundial. O parecer da OMS se baseia num estudo feito pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer sobre radiação solar recém-publicado no jornal Lancet Oncology. Pesquisadores de nove países reavaliaram os riscos dos raios solares UVA, UVB e UVC. Sabe-se que não é bom abusar do sol na praia nem na piscina porque os dois últimos estão relacionados a vários tipos de câncer de pele. Os pesquisadores concluíram que os raios UVA, justamente aqueles produzidos pelas lâmpadas bronzeadoras, são tão cancerígenos quanto os outros dois. Os raios UVA eram considerados menos nocivos – estavam relacionados apenas ao envelhecimento precoce e ao surgimento de catarata.
O estudo adverte que, em pessoas com menos de 30 anos, o bronzeamento artificial aumenta em até 75% o risco de incidência de melanoma. "Os raios UVA penetram mais fundo na pele do que o A exposição às lâmpadas UVB e o UVC e alteram as fibras de sustentação da pele", explica o solares antes dos 30 anos de dermatologista Sérgio Schalka, diretor da Sociedade Brasileira de idade aumenta em 75% Dermatologia. "Além disso, é importante lembrar que quem se o risco de melanoma submete a essas sessões está exposto a uma quantidade de energia muito maior do que quem se bronzeia naturalmente", ele completa. Para se ter uma ideia do que isso significa, dez minutos numa câmara de bronzeamento artificial equivalem, em média, a uma hora de sol sem proteção. O melanoma é o mais perigoso tipo de câncer de pele. Apresenta enorme grau de metástase, ou seja, grande capacidade de se espalhar para outros órgãos do corpo. O fator hereditário influi no desenvolvimento do melanoma. Quem tem pele clara é forte candidato a ter a doença se abusar da exposição ao sol ou ao bronzeamento artificial. Há muito os médicos condenam o uso das lâmpadas bronzeadoras. "Mesmo antes de a OMS alertar sobre os riscos da radiação UVA, dermatologistas do mundo inteiro já vinham lutando para acabar com o uso indiscriminado das câmaras de bronzeamento pelas clínicas de estética", diz o dermatologista Valcinir Bedin, da Sociedade Brasileira de Medicina Estética. Os donos de clínicas que oferecem bronzeamento artificial – estima-se que existam 5 000 no Brasil – se defendem alegando que ele não provoca mais danos do que a exposição ao sol. Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestou a respeito da pesquisa da OMS e cogita proibir o uso das câmaras de bronzeamento artificial no país.
NOCAUTE A 260 POR HORA Felipe Massa escapa por um triz ao se chocar com peça desgarrada na pista e Michael Schumacher é chamado para substituí-lo na equipe da Ferrari Kalleo Coura
Tamas Kovacs/AFP
O IMPACTO E O SUSTO Massa pouco depois do acidente: concussão e edema no lobo frontal
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No sábado 25, o mundo da Fórmula 1 viveu um daqueles momentos de sobressalto e angústia que Galerias de fotos ocorrem quando um piloto sofre um acidente grave. Imagens do acidente do Enquanto tentava aprimorar sua colocação no grid de brasileiro largada do Grande Prêmio da Hungria, Felipe Massa foi • Cronologia: A carreira de Felipe Massa nocauteado no circuito de Hungaroring. Uma mola de • Linha do tempo: Acidentes da Fórmula-1 12 centímetros e 800 gramas se soltou do amortecedor traseiro do carro de Rubens Barrichello, que estava à sua frente, e, quatro segundos depois, atingiu em cheio o lado esquerdo do capacete de Massa, logo acima da viseira. A Ferrari de Massa estava a 260 quilômetros por hora, numa pequena reta entre as curvas 3 e 4 do circuito. Para se ter uma ideia da magnitude do choque, ele produziu um impacto de 210 quilos, equivalente ao de um disparo de fuzil AK-47, arma militar semiautomática. Massa desmaiou e seus pés pressionaram ao mesmo tempo o freio e o acelerador, antes de se chocar contra uma barreira de pneus a 190 quilômetros por hora. O piloto sofreu uma concussão - movimento brusco da massa encefálica na caixa craniana - e um edema leve no lobo frontal. Levado para o hospital militar de Budapeste, foi submetido a uma cirurgia para corrigir o afundamento do crânio que sofreu no local da pancada e que comprimia seu cérebro. A vida do piloto foi salva pelo capacete que usava, capaz de resistir ao impacto de 1,5 tonelada. Para os brasileiros, num primeiro instante, o acidente teve um gosto especialmente amargo. Trouxe à lembrança a morte de Ayrton Senna no circuito de Imola, na Itália, em 1994. Para alívio dos brasileiros e de todos os fãs da Fórmula 1, quatro dias depois do acidente Felipe Massa já andava pelo quarto do hospital. Alimentava-se normalmente e conversava - em português, inglês e italiano - com familiares e amigos que foram visitá-lo. Sua alta está prevista para esta segunda-feira, quando deve regressar ao Brasil. Mesmo assim, ainda não se sabe quando o piloto brasileiro poderá voltar às pistas. Enquanto isso, para substituí-lo, a Ferrari convocou os serviços do piloto recordista de vitórias da história da Fórmula 1, o alemão Michael Schumacher, 40 anos, heptacampeão da categoria, que havia se aposentado no fim de 2006. No domingo anterior ao acidente de Massa, o inglês Henry Surtees não teve a mesma sorte que ele ao ser atingido na cabeça por uma roda, numa prova da Fórmula 2. "Se Massa usasse um capacete da década passada, não estaria vivo", diz o holandês Derk Evers, engenheiro da fabricante de capacetes
Arai. "Os modelos usados por Senna eram quase como brinquedos comparados aos de hoje. Mas nenhum capacete é projetado para proteger contra um impacto lateral de uma roda, como foi o caso de Surtees", ele completa. Segurança nem sempre foi uma preocupação na Fórmula 1. Nos primeiros grandes prêmios, na década de 50, os pilotos não usavam capacete - apenas uma touca de couro e um par de óculos para proteger os olhos do vento e de choques contra insetos. Além disso, não era obrigatória a presença de equipes médicas no circuito para atender os acidentados. "Na minha estreia nas pistas, como não tinha dinheiro para comprar um capacete de piloto, peguei emprestado com um amigo um modelo usado por paraquedistas", relembra o piloto mineiro Alex Dias Ribeiro, que participou da Fórmula 1 na década de 70 e disputou sua primeira corrida com um carro construído em apenas 25 dias. Daniel Maurer/AP A cada grande acidente, os engenheiros que se dedicam ao automobilismo procuram encontrar soluções para evitar os perigos de andar a mais de 300 quilômetros por hora. Quando o piloto austríaco Niki Lauda sofreu o acidente que deformou seu rosto pela ação de diversas queimaduras, no autódromo alemão de Nürburgring, em 1976, seu capacete já era protegido com material antichama. Para ser mais confortável, porém, o acessório ficava muito frouxo na cabeça e acabou voando com o impacto do acidente. O desastre de Lauda provocou um alerta na Fórmula 1 sobre a importância de aperfeiçoar a tecnologia dos capacetes. Desde a morte de Ayrton Senna, a última ocorrida na categoria, outras precauções foram tomadas com relação à segurança dos pilotos. Passou-se a usar nos carros uma hiper-resistente estrutura deformável em formato de U em volta do pescoço e da cabeça. O chassi foi ampliado até a altura da orelha e adotou-se o dispositivo Hans - destinado a evitar fraturas na A VOLTA DO CAMPEÃO base do crânio. Michael Schumacher: 3,2 milhões de euros por corrida para substituir Massa Ainda é cedo para dizer se o acidente deixará sequelas em na Ferrari na atual temporada de Felipe Massa. Segundo o neurocirurgião Manoel Jacobsen Teixeira, da Universidade de São Paulo, se o edema tiver sido Fórmula 1 mesmo leve e superficial, provavelmente Massa não ficará com sequela alguma. Mas, se tiver predisposição a convulsões, poderá desenvolvê-las. "A concussão, por sua vez, pode causar dor de cabeça similar a uma enxaqueca, dificuldade de concentração e sensações de tontura", diz Teixeira. Enquanto aguarda a recuperação de Massa, a Fórmula 1 celebra a volta às pistas do grande Michael Schumacher. O veterano piloto receberá 3,2 milhões de euros por cada corrida que disputar. Caso substitua Massa até o fim da temporada, mesmo assim suas chances de virar campeão são remotas. Para que isso acontecesse, teria de vencer todas as provas e empatar em pontos com o inglês Jenson Button, o líder do campeonato. Este, por seu turno, não poderia pontuar mais. Nessa situação, Schumacher levaria o título mundial pelo maior número de vitórias na temporada. No hospital, quando soube que Schumacher o substituiria no Grande Prêmio da Europa, em Valência, na Espanha, Massa brincou: "Isso se eu não correr, né?". Todo o Brasil torce para que ele volte logo às pistas.
Educação
Lição de casa para os pais Pesquisas mostram que nada é tão decisivo para um bom desempenho escolar quanto o incentivo dos pais para os estudos. Já se sabe até como eles podem dar esse empurrão Monica Weinberg e Marana Borges Selmy Yassuda
Presença nota 10 Virgínia e Paulo com os quatro filhos, todos com passagem pelo Santo Inácio: a escola estimula a proximidade VEJA TAMBÉM A volta às aulas traz à tona uma das questões mais • Quadro: Uma participação valiosa incômodas para pais de estudantes em todos os níveis de ensino: como ajudar a despertar nos filhos a curiosidade intelectual e fazê-los cultivar o apreço pelo estudo? Para tarefa tão complexa, não existe uma fórmula mágica que, aplicada à risca pela família, resultará num aluno exemplar. A excelência, afinal, é produto de muitas variáveis, tais como o talento individual e os estímulos providos pela própria escola – e não apenas de um ambiente favorável ao
aprendizado em casa. O que já se sabe, no entanto, é que a participação dos pais é fundamental, se não decisiva, para um bom rendimento escolar. "Nenhum outro fator tem tanto impacto para o progresso de um aluno quanto a interferência adequada da família. E isso se faz sentir, positivamente, por toda a vida adulta", diz o economista Naércio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e autor de um recente trabalho sobre o assunto no Brasil. O conjunto de medidas que surtem resultado, uma vez adotadas com persistência em casa, chama atenção pela simplicidade. Apenas incentivar o filho a fazer a lição de casa e a ir à escola todos os dias, providenciar um lugar tranquilo onde ele possa estudar e comparecer às reuniões de pais tem o efeito de elevar as notas em torno de 15%, segundo a pesquisa do Insper. As boas práticas que se originam desse e de outros estudos (listadas abaixo) não fogem muito do que sugere o senso comum. Tome-se o exemplo da lição de casa. Muitos pais se angustiam porque não têm a menor ideia de como responder a dúvidas de matemática ou física. Mesmo quando dominam um assunto, ficam na dúvida: até que ponto prestar ajuda quando são requisitados? Na verdade, tudo o que é necessário é incentivar uma leitura mais atenta do enunciado, indicar fontes de pesquisa ou estimular uma nova reflexão sobre o problema. Jamais dar a resposta certa, procedimento cuja repetição está associada à queda no rendimento do aluno. "Participação exagerada só atrapalha. A independência nos estudos deve ser cultivada, e não tolhida", diz Maria Inês Fini, doutora em educação. Os especialistas concordam que não cabe aos pais agir como professores em casa – confusão comum, e sem nenhum reflexo positivo. O que sempre ajuda, aí sim, é demonstrar, desde cedo e de forma bem concreta, quanto se valoriza a educação, essa talvez a maior contribuição possível da família. Daí a relevância de montar uma biblioteca em casa ou de manter o hábito de conversar com os filhos sobre o que se passa na escola. De acordo com uma recente compilação de 29 estudos sobre o tema, esse tipo de ambiente se traduz numa série de indicadores positivos, como mais vontade de ir à aula, um comportamento melhor na escola e expectativas mais elevadas sobre o futuro. Os pais brasileiros estão longe de figurar entre os mais participativos na rotina escolar. Enquanto nos países da OCDE (organização que reúne os países mais ricos) 64% deles se dizem atuantes, no Brasil esse dado costuma variar entre 20% e 30%, dependendo de quem dá o número. Parte do flagrante desinteresse se deve à baixa escolaridade de uma enorme parcela dos pais, que não permaneceu na escola tempo suficiente para aprender a ler, tampouco para consolidar o hábito do estudo de modo a passá-lo adiante. "Quase não estudei na vida e sempre tive muita dificuldade para ajudar o meu filho nisso", diz a cearense Maria de Fátima Lima, 40 anos, que deixou a escola na 2ª série do ensino fundamental e é mãe de Mailson, de 9 anos. Mas isso não explica tudo. A experiência dos colégios particulares também aponta para a distância dos pais. Uma das razões remete ao fato de a educação no Brasil ainda não ser vista como artigo prioritário – inclusive nas classes mais altas. Em uma nova pesquisa da consultoria Nielsen, a educação aparece em quinto lugar entre as maiores preocupações dos brasileiros. Vem atrás de estabilidade no emprego, equilíbrio entre trabalho e lazer, pagamento de dívidas e a economia do país. Manoel Marques
Quando os pais apitam O cientista social Lotufo e sua família: ele tem cadeira no conselho da escola
Outra explicação para a distância que separa os pais da vida escolar está numa ideia incrustada no pensamento do brasileiro: a de que a escola deve se encarregar, sozinha, do processo educativo. Essa é a visão predominante na América Latina e oposta à que impera nos Estados Unidos ou em países asiáticos. "Os pais fazem fila na porta da minha sala para saber como vão seus filhos", relata Soleiman Dias, professor brasileiro que há sete anos dá aulas na Coreia do Sul. Essa atividade lhe consome uma hora por dia. Nada parecido com o que se vê na maioria das escolas brasileiras. "Em países mais dependentes do estado, como o Brasil, a tendência é terceirizar responsabilidades", diz o economista Claudio de Moura Castro, articulista de VEJA e especialista em educação. "É o que fazem as famílias brasileiras ao esperar que todas as iniciativas partam da escola." A esse caldo cultural somam-se ainda os efeitos do que se seguiu aos anos 60. A partir daí, inicia-se no Brasil um forte processo de contestação à noção de hierarquia, tendo como pano de fundo a escalada dos movimentos estudantis e a contracultura. Na relação entre pais e filhos, o conceito de liberdade passou a ser confundido com permissividade. Avalia Tania Zagury, educadora e autora do livro Escola sem Conflito: Parceria com os Pais: "A inabilidade das famílias em estabelecer limites em casa faz com que deleguem à escola tarefas que deveriam ser delas também". Os efeitos são desastrosos. A pressão exercida sobre a escola não leva a nenhum ganho para os alunos. "Existe aquele perfil de pai que só se preocupa com a nota do filho e chega aqui dizendo: ‘Eu pago por esse serviço e quero um retorno’", conta Sílvio Barini, diretor do São Domingos, colégio particular de São Paulo. "Ele não faz a sua parte e espera da escola soluções milagrosas." Não é, no entanto, a reação mais comum ali. A participação das famílias no colégio se tornou relativamente alta de dois anos para cá, com a presença dos pais num conselho que, entre outras coisas, toma decisões sobre o orçamento e trata das questões do ensino. O sistema, implantado nos anos 90, a princípio não deu certo. As famílias tentavam apitar até no currículo. Estabelecidos os limites, hoje funciona bem. "É uma chance de opinar sobre o destino das mensalidades que pagamos e de conhecer bem os professores", diz o cientista social Hernani Lotufo, 55 anos, que tem cadeira no conselho e é pai de Maria Clara, 6, e João Miguel, 11. Não é preciso, no entanto, despender tanto tempo para influenciar positivamente na rotina escolar. Às vezes, não é necessário sequer ir à escola. É o que propiciam colégios como o Bandeirantes, em São Paulo, que já colocam na internet fichas dos alunos, com notas e faltas, além do programa das aulas. O contato pessoal com os professores fica a critério dos pais. Diz a psicóloga Monica Dib, mãe de André, 16 anos:
"Eu, que tenho pouco tempo para estar inteirada, hoje consigo manter ótimas conversas com meu filho sobre a escola". Manoel Marques
Boletim na rede A psicóloga Monica Dib: ela acompanha o desempenho do filho, André, pela internet
Apesar de ainda raras, as boas iniciativas das escolas brasileiras para atrair os pais começam a revelar seus efeitos. Eles já aparecem, por exemplo, num conjunto de escolas públicas onde a Unesco, em parceria com o Ministério da Educação, encontrou programas eficazes. Alguns de seus princípios podem ser facilmente transplantados para a realidade dos colégios particulares. Por exemplo, a ideia de prestar aos pais um atendimento mais individualizado, bem diferente do das enfadonhas reuniões bimestrais. Um programa implantado em 47 escolas de Taboão da Serra, município localizado na região metropolitana de São Paulo, chega a enviar os professores à casa dos estudantes, para orientar os pais sobre como ajudar nos estudos e saber mais do que se passa com cada aluno. "Com isso, posso traçar um plano de aulas mais ajustado às necessidades reais dos alunos", diz a professora Guiomar Souza, munida dos resultados dessas medidas. Em dois anos, as notas dos estudantes em exames oficiais subiram 10%. Reuniões individuais com cada família, mesmo que sejam na escola, já têm bom efeito. Em 137 colégios municipais de Teresina, professores e assistentes sociais são treinados para conseguir orientar melhor os pais nesses encontros. A diferença se revela na casa de gente como Maria da Silva Costa, 57 anos, responsável pela criação do neto, César. "Não sei ler, então a escola sugeriu que eu pedisse a meu neto que lesse contas e cartas para mim. Ele adorou." Fotos Marcos Rosa e Manoel Marques
Visitas da escola Os estudantes Larissa Silva (acima, no balanço), de Taboão da Serra, e Mailson Lima (à dir.), de Iguatu, no Ceará: o atendimento é em casa
As pesquisas não deixam dúvidas quanto à eficácia de uma boa relação entre a escola e a família, ainda que ela não precise ser assídua nem tão intensa. A experiência de pais como a psicóloga Virgínia Carnevale e o engenheiro Paulo Nessimian aponta para ganhos bem concretos. Com dois filhos formados e outros dois matriculados no Santo Inácio, colégio particular do Rio de Janeiro, o casal sempre manteve um ótimo diálogo com a escola. "Quando aparece uma nota baixa no boletim, sento com o coordenador e traçamos juntos um plano para resolver o problema", exemplifica Virgínia. O colégio dispõe de profissionais de plantão para atender pais como ela, desenvolve atividades esportivas que incluem as famílias e ainda abre as portas para que organizem festas ali – todas medidas para chamar atenção para a escola. Isso certamente ajuda a explicar por que o Santo Inácio aparece entre as dez melhores do país, no ranking do Enem. Conclui a especialista Maria Helena Guimarães: "O esforço conjunto da escola com a família se traduz num potente motor para o aprendizado". Manoel Marques
Alta participação, bons resultados Em Itaiçaba, no Ceará, pais ajudam até no recreio: a evasão caiu a zero
Compensa. Um estudo da Fundação Getulio Vargas mostra que os efeitos da presença dos pais na vida escolar, ainda que mínima, se fazem notar por toda a vida adulta. Na infância e na adolescência, a participação da família não está associada apenas às notas mais altas, mas também a uma considerável redução nos índices de evasão. Para se ter uma ideia, o risco de que crianças egressas de um ambiente favorável aos estudos abandonem a escola cai, em média, 64%. É uma diferença gritante – e decisiva para o sucesso bem mais tarde, no mercado de trabalho. Basta dizer que cada ano a mais na escola faz subir o salário, em média, 15%. O impacto aumenta na medida em que se progride nos estudos. Um ano de pós-graduação, por exemplo, significa um ganho de quase 20% no salário. "Quanto mais educação, maior será o retorno", resume o economista Marcelo Neri, autor da pesquisa. É razão suficiente para que os pais brasileiros comecem a prestar mais atenção à rotina escolar. Manoel Marques
O leitor Maria Costa (à esq.) incentiva o neto, César, a ler para ela: os avanços são visíveis
Com reportagem de Marcelo Bortoloti e Renata Betti
O dever da família As dez principais descobertas dos especialistas sobre quando e como os pais podem ajudar a despertar nos filhos a curiosidade intelectual e fazê-los alcançar um desempenho melhor nos estudos 1. Ter livros em casa E, no caso de filhos pequenos, ler para eles. O hábito, cultivado desde cedo, faz aumentar o vocabulário de forma espantosa. Segundo estudo do americano James Heckman, prêmio Nobel de economia, uma criança de 8 anos que recebeu esse tipo de estímulo a partir dos 3 domina cerca de 12 000 palavras – o triplo de um aluno sem o mesmo empurrão. A diferença se faz sentir na assimilação de conhecimento em todas as áreas. Ao analisar o fato de a Finlândia aparecer sempre na primeira posição nos rankings de educação, um estudo da OCDE confirma: o incentivo precoce à leitura em casa tem um papel decisivo.
2. Reservar um lugar tranquilo para os estudos A ideia é cuidar para que o ambiente ofereça o mínimo necessário: mesa, cadeira, boa iluminação e distância da televisão. Já na pré-escola, os pais podem definir o local e incentivar seu uso diário. Os benefícios, já quantificados, são os esperados: concentrado, o aluno aprende mais e erra menos.
3. Zelar pelo cumprimento da lição Ainda que a criança seja pequena e a tarefa, bem fácil, é importante mostrar a relevância dela com gestos simples, como pedir para olhar o dever pronto ao chegar em casa. Até cerca de 10 anos, monitorar diariamente a execução da lição não é excessivo. Ao contrário. Esse é o momento de começar a sedimentar uma rotina de estudos, com horário e local, mesmo que seja mais uma brincadeira. Um relatório da OCDE não deixa dúvidas quanto às vantagens. Os melhores alunos no mundo todo levam a sério o dever de casa.
4. Orientar, mas jamais dar a resposta certa Solucionar o problema é uma tentação frequente dos pais quando são acionados a ajudar na tarefa de casa. Não funciona. O que dá certo, isso sim, é recomendar uma leitura mais atenta do enunciado, tentar provocar uma nova reflexão sobre o assunto e, no caso de filhos mais velhos, sugerir uma boa fonte de pesquisas. Se o erro persistir, deixe-o lá. Já se sabe que a correção do professor é decisiva para a fixação da resposta certa. 5. Preservar o tempo livre Muitos pais, ávidos por proporcionar o maior número de oportunidades aos filhos, lotam sua agenda de atividades fora da escola. O resultado é que sobra pouco tempo para brincar, esse também um momento sabidamente precioso para o aprendizado. Na escola, por sua vez, crianças com rotinas atribuladas demais costumam demonstrar cansaço, o que frequentemente compromete o próprio rendimento. 6. Comparecer à reunião de pais Mesmo que seja muitas vezes enfadonha, ela proporciona no mínimo uma chance de sentir o ambiente na escola, saber da experiência dos demais alunos e tomar contato com a visão de outros pais. A ida a esses encontros tem ainda um efeito colateral menos visível, mas já bastante estudado: a presença dos pais é uma demonstração de interesse que contribui para o envolvimento dos filhos com a escola.
7. Conversar sobre a escola A manifestação de interesse, por si só, é um indicativo do valor dado à educação pela família. Os efeitos são ainda maiores quando o estudo é tratado como algo agradável e aplicável à vida prática, e não um fardo. Uma recente compilação de estudos, consolidada por um centro de pesquisas do governo americano, mostra que um pai que consegue produzir esse tipo de ambiente em casa aumenta em até 40% as chances de o filho se tornar um bom aluno.
8. Monitorar o boletim No caso de um resultado ruim, o melhor a fazer é definir um plano para melhorar o desempenho – mas não sem antes consultar a escola e avisar o filho de que está fazendo isso. O objetivo aí é estabelecer, junto com o colégio, uma estratégia para reverter a situação e saber qual será, exatamente, sua participação. Está mais do que provado que castigo, nesse caso, não funciona. Só diminui o grau de autoconfiança, já baixa, e agrava o desinteresse pelos estudos.
9. Procurar o colégio no começo do ano É a ocasião em que cabe perguntar, pelo menos em linhas gerais, o que a escola pretende ensinar em cada matéria. Trata-se do mínimo para poder acompanhar tais metas e, se preciso, cobrar sua execução. 10. Não fazer pressão na hora do vestibular O excesso de pressão por parte da família só atrapalha no momento mais tenso na vida de um estudante. À mesa do jantar, os pais darão uma boa contribuição ao evitar falar apenas disso. Mas podem ajudar mais, principalmente zelando para que o ambiente de casa na hora do estudo não fique barulhento demais e para que o filho não se comprometa com muitas atividades. O lazer, no entanto, não deve ser suprimido. É o que dizem os especialistas e os próprios campeões no vestibular: em 2008, os mais bem colocados em dez áreas mantiveram uma pesada rotina de estudos, mas, pelo menos no fim de semana, preservaram algum tempo livre.
Sociedade
VÃO CASAR? SIM, MESTRE Misturando religiões em rituais próprios, celebrantes alternativos são requisitados para fazer casamentos "diferentes" Silvia Rogar Divulgação e Arquivo Pessoal
SIMBOLOGIA À LA CARTE Marcia conduz o casamento de Robinho; Pérola casa noivo judeu com noiva espírita: apanhador de sonhos e hino do Flamengo
Igual, mas diferente. No sempre movimentado e competitivo mundo dos casamentos, esse é hoje em dia o lema de muitos casais. Eles querem uma cerimônia, claro, que tenha votos, troca de aliança e beijo, evidentemente, mas que não seja igualzinha à que todo mundo já conhece. Está criado o ambiente perfeito para a atuação do celebrante, uma figura que, sem ser juiz, padre, pastor ou rabino, formata e comanda cerimônias "personalizadas". O bom celebrante paira acima de crenças e age como se conhecesse o casal de longa data, pontuando suas falas com histórias dos dois. Pode ser médico, professor de ioga, mestre esotérico, radialista, amigão do noivo ou nenhuma das alternativas anteriores, desde que ofereça postura, boa fala e um ritual convincente. Inicialmente requisitado nas festas de quem já caminhava para a segunda união (ou terceira, ou quarta) e por casais homossexuais, os celebrantes passaram a ocupar mais espaço na cena casamenteira tradicional do ano passado para cá. Segundo os mais requisitados organizadores de festas do Rio de Janeiro e de São Paulo, a cada dez casamentos que montam, hoje pelo menos dois são nesse formato. No leque de opções disponíveis, há celebrantes que se especializaram em nichos, como a carioca Pérola Kaminietz, que conduz cerimônias em que um é judeu e o outro não. De currículo eclético – fonoaudióloga, terapeuta familiar, professora de hebraico e mãe de um ex-participante do Big Brother –, Pérola faz em média dois casamentos por mês. Cobra cerca de 4 000 reais por cerimônia, que prepara como se fosse "criar um enredo de filme". O advogado carioca Marcel Britz, 31 anos, judeu, convocou seus serviços em novembro para se casar com a funcionária pública Nathália Diniz, espírita. "Queria que meu casamento tivesse alguma referência à cultura judaica. Pérola contou muitas coisas da nossa intimidade e tocou até o hino do Flamengo, meu time", diz Britz, que se casou sob a chupá, a tradicional cabana de tecido usada em cerimônias judaicas, e quebrou o copo no final. Na comunidade zen, bacana é contratar os serviços de Marcia de Luca, professora de ioga em São Paulo e madrasta da primeiradama da França, Carla Bruni. Requisitadíssima, Marcia escolhe a dedo os clientes, dos quais cobra 6 000 reais, o cachê mais alto do meio. Em julho, no Guarujá, litoral de São Paulo, casou Vivian e o atacante Robinho, que não joga exatamente na tribo esotérica, mas atendeu a uma recomendação da organizadora da festa. Já Marcia desempenha bem em todas as posições: usa roupas indianas estilizadas, tira sons de uma cuba tibetana de cristal, borrifa no ar essência de flor de lótus, salpica pitadas de hinduísmo e ao final saca um apanhador de sonhos, talismã dos índios americanos. "Peço que noivos e convidados coloquem ali sua intenção de felicidade e dou o objeto ao casal. Eu mesma criei essa simbologia", explica.
Arquivo Pessoal
ATENDENDO A PEDIDOS Hoss no comando: fala curta e "sem lenga-lenga", como queria a noiva Roberta
A necessidade de rituais, tão antiga quanto a humanidade, e o espírito da nova era, em que a religiosidade é uma espécie de bufê, com um pouquinho de cada coisa, impulsionam as novas cerimônias. O casamento do chef francês Claude Troisgros com a produtora Clarisse Sette, no Rio de Janeiro, em março, foi celebrado por Philippe Bandeira de Mello, que reúne os coloridos títulos de psicoterapeuta junguiano e mestre da Arca da Montanha Azul, um grupo multirreligioso criado por ele. Entre os adeptos, os casamentos incluem fogueiras e chás, daquele tipo plenamente legalizado. Na festa de Troisgros, Mello apenas leu um texto falando sobre a plenitude da união entre masculino e feminino. "O que praticamos não é reles mistura, e sim a integração de cultura afro, hinduísmo, xamanismo e cabala, entre outras coisas. Todos nós estamos navegando na mesma arca e sou uma espécie de Noé moderno", filosofa mestre Mello, que não cobra cachê, mas aceita doações. Uma vantagem adicional dos celebrantes alternativos é que os noivos podem estabelecer a duração da cerimônia. "Eu não queria lenga-lenga, queria uma coisa bem objetiva", diz a estilista Roberta Tordin, 30 anos, que em abril se casou com o empresário Aleandro Fortunato, 32, numa fazenda em Itatiba, interior de São Paulo, tendo por celebrante Fredh Hoss. Radialista de profissão, com nome de fábrica de Fred Rodrigues, ele tem oitenta festas agendadas até fevereiro de 2010, cobra 1 500 reais e cobre um amplo espectro confessional. Já fez, por exemplo, uma cerimônia fundindo oferenda de frutas (noiva cigana) com bênção e crucifixo (noivo católico). No de Roberta limitou-se a, como ela pediu, ser breve: preparou uma fala curta baseada na história de vida dos noivos, que aprendeu submetendo-os antes a um questionário escrito. Foi show.
História
Uma guerra sem fim
Qual a utilidade de mais um livro de história da II Guerra Mundial? A obra de Andrew Roberts tem a resposta
Bettmann/Corbis/Latinstock
Historiadores de guerra são itens mais ingleses do que os vasos de aspidistra nos jardins. Como as plantas, eles passam imutáveis, de uma geração à seguinte, escrevendo sobre os mesmos temas, sempre do indisfarçável ponto de vista da Inglaterra e do Ocidente. Ao contrário das plantas, eles acrescentam muito em substância e análise ao que ficou para trás. O mais extraordinário desses historiadores atualmente é Andrew Roberts. Aos 45 anos, o bravo e precoce pesquisador já escreveu sobre Napoleão Bonaparte, Lord Wellington, a batalha de Waterloo e a dinastia Windsor. Ele tentou e triunfou em sua própria História dos Povos de Língua Inglesa, livro homônimo de outro escrito por ninguém menos do que Winston Churchill. Roberts acaba de publicar uma nova história da II Guerra Mundial, um calhamaço de 712 páginas intitulado The Storm of War, ainda sem tradução para o português. O título revela a essência moral do livro: a revolta com a violenta destruição de vida e recursos trazida por uma guerra mundial. Andrew Roberts havia antes esmiuçado as tensões latentes entre O PRAÇA E OS GENERAIS os chefes aliados (Churchill, Franklin Roosevelt, Dwight Hitler, que foi cabo na I Guerra, se Eisenhower e sir Alan Brooke) e como eles as superaram achava superior a todo o estadoconvergindo para um único pensamento estratégico. Ele amplia o maior. Ninguémé louco foco em The Storm of War, mantendo, porém, o admirável método impunemente de discorrer sobre os grandes fatos e os grandes homens revelando no percurso a fragilidade, a pequenez e a miséria que as guerras impõem a todos. Mas o diferencial a justificar a publicação dessa nova história da II Guerra está no acesso irrestrito e exclusivo que Andrew Roberts teve a arquivos de documentos e cartas até então mantidos lacrados por herdeiros desconfiados ou desinteressados de estudiosos, generais, políticos e outras figuras-chave do esforço de guerra aliado. O livro de Roberts terá seu lugar assegurado na galeria dos relatos sobre a guerra pela franqueza, honestidade e desassombro das revelações e inferências constrangedoras para governos, países e pessoas envolvidas no conflito. Algumas delas: • Os alemães entraram triunfalmente em Paris em 14 de junho de 1940. O primeiro invasor nazista só foi morto pela resistência, organizada por militantes comunistas, em junho de 1941 – ou seja, logo depois de as tropas de Hitler invadirem a União Soviética (22 de junho de 1941). Até então, comunistas e nazistas tinham um pacto e eram bons amigos. • Mais franceses lutaram ao lado dos nazistas do que dos aliados. • O governo de Vichy, vergonhoso arranjo administrativo da França ocupada, não era tão capacho quanto se pensa. Vichy prendeu e executou espiões alemães.
• A loucura racista de Hitler (que levou ao exílio os melhores cientistas judeus e alemães não nazistas) e seu convencimento de que era superior a seus generais em estratégia condenaram a Alemanha à derrota militar desde o começo. Roberts defende o ataque nuclear ao Japão exatamente como foi executado pelos americanos – duas bombas lançadas sobre cidades populosas. A escolha de um alvo simbólico, diz ele, não teria assustado a obstinada casta dirigente militarista do Japão imperial, que só se renderia mesmo depois de a segunda – e última – ogiva americana ser jogada sobre Nagasaki.
Economia
"MAS NÃO É O GOOGLE" Microsoft e Yahoo! se aliam na briga contra o líder no mercado de buscas na internet. O desafio é simplesmente tentar reverter um hábito de milhões de pessoas Benedito Sverberi e Luís Guilherme Barrucho The New York Times
"MICROHOO" Carol Bartz, do Yahoo!, e Steve Ballmer, da Microsoft, assinam o acordo: unidos para bater o Google
Nos 46 segundos e 91 centésimos que o nadador brasileiro César Cielo levou para vencer, na semana passada, a prova dos 100 metros livres do Mundial de Natação em Roma, 1,4 milhão de buscas foram feitas na rede mundial de computadores em todo o planeta. E o Google – marca que, como nenhuma outra, se transformou em sinônimo de internet – ficou com 70% desse total. No Brasil, a preferência é ainda maior: segundo a consultoria Predicta, 95 em cada 100 operações de busca são feitas com ele. Usar o Google quando necessitamos encontrar algo na internet beira a uma ação instintiva, como se estivesse cravada em nosso subconsciente ou em nosso DNA. Tal domínio demonstra a competência do sistema criado, há onze anos, por dois então estudantes da Universidade Stanford, os hoje bilionários Larry Page e Sergey Brin, cujo modelo matemático é capaz de entregar resultados de pesquisas de forma mais eficiente do que a da concorrência. Qualquer candidato a desafiar o Google, portanto, terá uma missão dupla: possuir uma ferramenta de buscas ainda mais poderosa e, além disso, convencer milhões de pessoas a abandonar um hábito que se tornou mecânico em seu dia a dia. Esse será o desafio à frente da Microsoft e do Yahoo!, que, na semana passada, selaram um acordo para tentar solapar o poderio do atual líder absoluto. A parceria será válida por dez anos e combinará o novo sistema de buscas da Microsoft – o Bing – com a experiência do Yahoo! em atrair anunciantes. A Microsoft passará a fornecer tecnologia de buscas na internet para os sites do Yahoo!, enquanto este cederá a força de sua equipe de vendas para o atendimento de grandes contas de publicidade na internet de ambos os grupos. O Yahoo!, presidido por Carol Bartz, focará também no aprimoramento de seus portais, que estão entre os de maior audiência no mundo. Mas é a companhia de Bill Gates, agora comandada por Steve Ballmer, que cuidará de todo o desenvolvimento tecnológico do programa de buscas e da rede de servidores necessários ao seu funcionamento. A estratégia por trás do acordo, que ainda terá de ser aprovado pelos órgãos de defesa da concorrência, é impulsionar a utilização do Bing, atraindo mais receita com publicidade. Analistas estimam que o Google fique hoje com 75% do faturamento obtido nos Estados Unidos com links patrocinados, que é o negócio mais lucrativo da internet – são aqueles anúncios que aparecem ao lado na tela do computador sempre que se faz uma operação de busca. Segundo o balanço do Google do segundo trimestre, 97% de seu faturamento veio desses links. Não é à toa que a companhia quer capturar o usuário de todas as formas e levá-lo para a internet. "O Google cria mecanismos para tornar a navegação na internet mais intensa. Desse modo amplia o potencial de vender mais e em condições mais vantajosas seus serviços de links pagos", explica o presidente da Predicta, Marcelo Marzola. Esses "mecanismos" são aplicativos dos quais muita gente não se dá conta que pertencem ao Google: Orkut, YouTube, Blogger, Picasa, Chrome e Gmail, entre outros. "A companhia está sempre buscando a inovação para evitar a obsolescência de seu próprio produto", diz o diretor do centro de inovação e criatividade da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Paulo Sérgio Quartiermeister. Esse modelo empresarial, o mais promissor na internet, é agora emulado por Microsoft e Yahoo!, empresas que pertencem a gerações mais antigas na indústria da informática. A principal fonte dos lucros da Microsoft, por exemplo, ainda é a venda de programas para computadores e do seu sistema operacional, o Windows. Mas trata-se de um negócio do passado, desafiado a cada dia por novos e melhores programas oferecidos gratuitamente – entre eles o navegador Chrome, desenvolvido pelo próprio Google. Como afirmou certa vez Jack Welch, o lendário ex-presidente da General Electric: "Se a mudança está ocorrendo fora da empresa mais rápido do que dentro dela, o fim está próximo". É desse destino que a Microsoft e o Yahoo! tentam se salvar. Por enquanto, o Google segue no comando. Prova disso é a maneira irônica como foi apelidado o Bing, da Microsoft: But It’s Not Google – ou seja, "mas não é o Google".
Dois erros e uma gelada Ao dar palpite num caso policial, Obama denuncia racismo, percebe que avançou o sinal e reúne os envolvidos para tomar cerveja e superar... superar... O que mesmo? André Petry, de Nova York BCarter/Demotix
NADA DE DESCULPAS Gates algemado (à dir.) e bebendo cerveja com o policial (de gravata vermelha), na Casa Branca: saída fácil
Depois de dois anos de campanha eleitoral sem pisar uma única vez na casca de banana da questão racial nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama escorregou e, à moda de Zeca Pagodinho, tentou consertar tudo com uma roda de cerveja. O caso começou na tarde de 16 de julho, quando Henry Louis Gates Jr., negro e conhecido professor de Harvard, voltou de uma viagem à China, pegou um táxi e, ao chegar em casa, encontrou a porta emperrada. Com a ajuda do motorista, forçou-a com o ombro. Uma moradora achou que podia ser uma tentativa de arrombamento e ligou para a polícia. O sargento James Crowley, branco, policial há onze anos, atendeu ao chamado e complicou algo aparentemente simples como descobrir que era apenas um morador tentando abrir a porta da própria casa. O sargento relatou que o professor se recusou a mostrar identidade e uma prova de residência. Aos gritos, Gates saiu-se com o clássico "Você sabe com quem está falando?". Crowley algemou-o e levou-o para a delegacia por "conduta desordeira". Solto depois de quatro horas, Gates se declarou vítima de racismo, dando como certo que só foi algemado e preso por ser negro. O caso estava fadado a ter o destino das estatísticas, registrado apenas como mais um dos costumeiros casos de policiais que usam força exagerada contra suspeitos negros nas cidades americanas. A população negra dos Estados Unidos nunca foi tão rica, admirada e bem-educada como agora. A presença de Barack Obama na Casa Branca é apenas um sinal a mais dessas conquistas. Mas, nas batidas policiais, de modo geral, até que provem o contrário, os negros são ainda tratados como culpados. "Se você é negro / melhor não botar a cara na rua de noite / a não ser que queira confusão com a polícia", cantou Bob Dylan em Hurricane, a balada sobre Rubin Carter, pugilista negro que ficou dezoito anos na cadeia condenado em 1967 por um crime que não cometeu. Hurricane virou filme em 1999 com Denzel Washington no papel principal.
A notoriedade ao caso Gates, infinitamente menos grave que o de Rubin Carter, foi dada por Barack Obama. O presidente americano correu em auxílio do professor, de quem é amigo, e acusou a polícia de Cambridge de agir "estupidamente". O professor queria desculpas públicas da polícia. O sargento, admiravelmente firme diante do peso de uma acusação presidencial, disse que não tinha do que se desculpar e, numa contramarcha impensável em outro país que não os Estados Unidos, Obama voltou atrás. O presidente então telefonou para o sargento e aceitou a sugestão para todos tomarem uma cerveja na Casa Branca. De público, disse que talvez o professor e o policial tivessem se excedido. Na quinta-feira, os três, mais o vice-presidente, Joe Biden, sentaram-se sob uma magnólia e, por quase uma hora, beberam e conversaram. A cúpula da cerveja, apelido dado pela imprensa ao encontro, virou uma pantomima em que todos simularam reunir-se num congraçamento para superar... o quê? Abuso policial? Discriminação racial? Conduta desordeira? A cúpula da cerveja serviu só para livrar Obama de uma gelada, na qual entrou supondo que as posições clássicas – o branco opressor, o negro oprimido – estavam nos devidos lugares. Na campanha, Obama evitou os espinhos da questão racial com grande habilidade. Desta vez, espetou-se com notável amadorismo, sem ter detalhes do que, de fato, acontecera na porta daquela casa em Cambridge. Falar de racismo parece ter sido apenas a saída mais fácil. Obama não defendeu o negro. Defendeu seu amigo. Seu amigo denunciou racismo, mas ajudaria mais se reivindicasse a inviolabilidade de seu lar e o direito garantido pela Primeira Emenda de ofender com palavras um representante do estado. "A vitória de Obama indica transformação na dinâmica racial, mas é preciso entender o que mudou do ponto de vista estrutural e, mais importante, o que não mudou", diz Carla Shedd, da Universidade Colúmbia, que estuda a criminalidade e os negros. Por exemplo: Lucia Whalen, a mulher que chamou a polícia, negou ter dito que dois negros forçavam a porta, desmentindo o que o sargento pôs no seu relatório. "Fui chamada de racista, desdenhada e ridicularizada por coisas que nunca disse", desabafou ela, numa entrevista. Na gravação do seu telefonema à polícia, Lucia não falou em negros e teve o cuidado de dizer que não sabia se era arrombamento ou um morador tendo problemas com a chave. Terminada a entrevista, sua advogada disse: "Os três homens altamente tarimbados que agiram mal neste episódio vão tomar cerveja na Casa Branca, o que é bom. A única pessoa cujas ações no caso foram exemplares estará trabalhando em Cambridge". É um perfeito resumo do episódio.
AS ROSAS DE TEERÃ Iranianos não se intimidam com a brutalidade policial e homenageiam os jovens que morreram nos protestos de junho, mas as manifestações estão diminuindo e Ahmadinejad vai, com a risadinha cínica, para o segundo mandato Duda Teixeira Fotos AP
LIBERDADE, LIBERDADE Homens desafiam o governo com flores e faixas verdes, a cor da oposição: no cemitério, outra prova de coragem
Estava proibido homenagear os mortos na quinta-feira da semana passada em Teerã, capital do Irã. Desde cedo, a polícia colocou-se a postos no cemitério principal, armada com o arsenal habitual – cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, capacetes e escudos. Do outro lado, armas que ainda haverão de se provar mais fortes: desejo de liberdade, espantosa coragem e rosas. A cerimônia, tradicionalmente feita entre os xiitas para lembrar os quarenta dias de luto pela morte de entes queridos, era em memória de dez jovens que haviam sido espancados e assassinados durante a onda de furor público que sacudira o Irã depois da reeleição patentemente fraudada do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Pelas ruas eternamente poeirentas, mães, familiares e centenas de oposicionistas aproximaram-se do cemitério. Levavam rosas, tão simbólicas na cultura persa. E fotos dos mortos e faixas verdes, a cor do Islã cooptada pelo movimento espontâneo de repúdio aos poderes atuais. E celulares, onipresentes, incontroláveis. Através deles, as manifestações se organizam. Foi um celular que levou ao mundo a agonia da principal homenageada na semana passada, Neda Soltan, a bela e trágica jovem de 26 anos transformada em mártir com um tiro no peito. "Neda vive", gritava a multidão. A polícia fez o de sempre – bateu, prendeu. Os protestos continuaram noite adentro, terminando com a angústia costumeira – o sentimento de revolta é grande e os que saem às ruas para expressá-lo o fazem com bravura admirável, mas o regime parece mais forte.
Desde a grande explosão de protestos provocada pelo resultado da eleição presidencial de 12 de junho, que saiu tão depressa e tão maquiado que nem urnas hipereletrônicas conseguiriam, as manifestações estão refluindo. A tática dos organismos de repressão, de não ir para o confronto aberto, mas agir com brutalidade circunscrita e exemplar, produziu um número relativamente baixo de vítimas, considerando-se os precedentes: pouco mais de cinquenta mortos e cerca de 2 000 presos, dos quais 200 continuam detidos. Os relatos que saem dos cárceres são, previsivelmente, horríveis e alimentam a impressão de que o Irã, uma bomba que ameaçava devastar o Oriente Médio (e continua a ameaçar em face da perspectiva de um ataque israelense para acabar com a possibilidade de armamentos nucleares), está explodindo por dentro. Os jovens urbanos e instruídos que fazem o grosso dos manifestantes, apoiados SUJEITO SINISTRO Presidente dos outros: corpos seviciados por uma parte da classe dirigente, são movidos por um e presos torturados profundo desejo de liberdade. Querem ter uma vida normal, participar do mundo, não temer a polícia religiosa, que controla os menores desvios das normas mais ortodoxas. E, claro, não ver mais pela frente a risadinha cínica e a cara sinistra de Ahmadinejad. Não propugnam, em princípio, a derrocada dos preceitos da revolução islâmica, que instalou o sistema teocrata no Irã em 1979. O projetos totalitários, no entanto, não permitem reforma ou modernização. Ou existem em sua plenitude ou desabam. Os protestos de rua galvanizam a insatisfação das camadas de elite, mas existe também uma luta política interna nas hostes do regime dos aiatolás. No Irã a autoridade máxima é exercida, como nas piadinhas de marciano, por um líder supremo, Ali Khamenei. Foi o grão-aiatolá que bancou a vitória fraudada de Ahmadinejad e foi ele também que lhe deu um chega pra lá quando tentou pôr as asinhas de fora. No caso, Ahmadinejad teve de recuar, pusilanimemente, quando tentou emplacar como o principal dos vice-presidentes – são doze, existem coisas piores do que Brasília – o sogro de seu filho. Para simular espírito conciliatório, Ahmadinejad também mandou liberar opositores, vivos ou mortos. O efeito foi o inverso. Os cadáveres foram devolvidos às famílias com sinais de tortura e espancamento. Dentre os libertados, surgiram relatos do suplício nas celas, que circularam via internet. "Tinha tanta gente que ninguém podia se mexer. Os guardas à paisana chegaram e quebraram todas as lâmpadas. Na escuridão total, começaram a nos espancar. Quando chegou de manhã, pelo menos quatro estavam mortos", escreveu um anônimo. "Eles obrigaram todos a ficar de pé durante 48 horas, sem dormir. Na primeira noite, amarraram nossas mãos e bateram sem parar com porretes. Havia meninos de 15 anos e homens com mais de 70. Eles choravam e pediam misericórdia; os guardas nem ligavam", contou outro. Persistir nas manifestações sabendo que correm semelhantes riscos é outra prova da coragem dos jovens iranianos. "Eles não podem transformar este país numa prisão de 70 milhões de pessoas", disse Mir Hossein Mousavi, o candidato oposicionista que se tornou repositório de tantas esperanças frustradas. Mas certamente vão continuar tentando.
O cardiologista vai às compras Anna Paula Buchalla abuchalla@abril.com.br
A DIETA DO CORAÇÃO SAUDÁVEL CONTA COM UMA GRANDE OFERTA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS: OVOS ENRIQUECIDOS COM ÔMEGA-3, LEITE E MARGARINA COM FITOESTERÓIS, IOGURTES E PÃES COM QUANTIDADE MAIOR DE FIBRAS. Lailson Santos Para saber o que de fato merece ir para o carrinho do supermercado, VEJA levou o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, de São Paulo, às compras. Parte das escolhas do médico são alimentos que comprovadamente ajudam a prevenir infartos, derrames e outros distúrbios cardiovasculares. A outra parte, que ficou de fora de seu carrinho de compras, é composta de produtos ainda não validados cientificamente para esse fim. Não significa que não sejam alimentos bons ou saudáveis. Simplesmente não têm eficácia comprovada como coadjuvantes na prevenção dos distúrbios cardiovasculares. No caso de alguns desses nutrientes, é impossível obter as porções recomendadas pelos médicos a partir de um único alimento. Para atingir a meta ideal de ômega-3, por exemplo, seriam necessários 2 litros diários de leite enriquecido com a substância. Com a ajuda de nutricionistas, este Guia traz formas de consumir tais nutrientes em porções menos rígidas, mas suficientes para que tenham eficácia. "Alimentos funcionais não operam milagres", diz Daniel Magnoni. "A palavra-chave é bom senso ao incluí-los no cardápio, com uma frequência de pelo menos três vezes por semana."
Fotos Lailson Santos, Carlos Cubie Alex Silva
Amigas do peito O consumo de fibras está relacionado a um risco menor de doenças cardiovasculares, ao reduzir os níveis de gordura e colesterol ruim no sangue. A recomendação são 25 gramas de fibras por dia – metade delas pode ser obtida em uma única refeição, típica e saudável como esta, elaborada pela nutricionista Cristina Menna Barreto, de São Paulo:
Fotos Pedro Rubens e Istock
Foto Claudio Rossi
Com reportagem de Jacqueline Manfrin
Diogo Mainardi
Um mundo correto "Eu tenho um imenso respeito pelos ratos venezianos. Um respeito que beira a vassalagem. Eles, por sua vez, me tratam com certa soberba. Eu entendo. Os ratos venezianos pertencem a uma estirpe nobre" Veneza está infestada de ratos. Quatro ratos para cada habitante. Um total de 200 000 ratos. Perambulo todas as noites à procura deles. Olha o rato saindo do tubo do esgoto! Olha o rato atravessando o canal a nado! Olha o rato morto com um fiozinho de sangue escorrendo pelo canto da boca! Eu tenho um imenso respeito pelos ratos venezianos. Um respeito que beira a vassalagem. Eles, por sua vez, me tratam com certa soberba. Eu entendo. Os ratos venezianos pertencem a uma estirpe nobre. O impacto que seus antepassados –rattus rattus – tiveram no desenvolvimento das artes foi incomensuravelmente maior do que o de todos nós – brasileiros brasileiros – em mais de 500 anos de história. A igreja do Redentor é obra dos ratos venezianos. Melhor dizendo: a igreja do Redentor é obra de Andrea Palladio, um dos mais importantes arquitetos de seu tempo, mas ela só foi erguida para comemorar o fim de uma epidemia de peste, em 1576. Quem propagou a epidemia? Os ratos venezianos e suas pulgas. Eles voltaram a disseminar a peste em 1630, matando outras dezenas de milhares de pessoas. O resultado foi melhor ainda: para comemorar o fim da epidemia, Baldassare Longhena projetou a igreja de Santa Maria della Salute. Nos períodos de epidemia, os navios com pestilentos a bordo tinham de permanecer ancorados ao largo de Veneza, em quarentena, com uma bandeira amarela no mastro. Alguns dias atrás, a imagem se repetiu, quando passageiros e tripulantes de um navio proveniente da Turquia foram impedidos pela guarda costeira de desembarcar na cidade, porque as autoridades temiam que eles fossem portadores de
gripe suína. As barreiras sanitárias erguidas pelos italianos funcionaram até agora. Ninguém morreu de gripe suína na Itália. É o contrário do que ocorre no Brasil. Nós já conquistamos uma primazia nesse campo: de acordo com as estatísticas da Organização Mundial de Saúde, temos a segunda maior taxa de mortalidade por gripe suína do mundo. Atrás apenas deles – os argentinos nos argentinos. Michel de Montaigne passou por Veneza em 1580, quatro anos depois da epidemia que inspirou a igreja do Redentor. Ele associou a peste ao mau cheiro dos canais venezianos, ignorando o papel dos ratos no contágio. Nos Ensaios, ele filosofou que filosofar é aprender a aceitar a própria morte. Nisso ninguém supera os brasileiros. Nós morremos pacatamente, resignadamente, bovinamente, sem atribuir responsabilidades pelas epidemias, sem protestar contra o ministro da Saúde, sem jogar tomates no presidente da República. No Brasil, falta um Andrea Palladio, falta um Baldassare Longhena. Falta também Tamiflu. Por outro lado, morremos melhor do que os outros. Morremos como Montaigne.
Um mundo correto "Trata-se de um mundo cada vez mais correto, no papel – e cada vez mais chato, na vida real." O cidadão que trabalha, paga impostos e trata, basicamente, da sua vida não faz ideia da quantidade de leis e regulamentos a que tem de obedecer hoje em dia para viver bem. Também não sabe a quantidade de coisas que está proibido de ler, ver e ouvir – mais uma vez, para o seu próprio bem. Ele mesmo, naturalmente, não sabe como cuidar de si, nem definir a sua qualidade de vida; é preciso, assim, que o poder público pense e decida em seu lugar, escolhendo o que é melhor para todos e para cada um, e isso desde a primeiríssima infância. A maior parte dos brasileiros não sabe, mas é proibido por lei, por exemplo, fazer publicidade de mamadeiras, chupetas e bicos para mamar, "em qualquer meio de comunicação" – e, para não ficar nenhuma dúvida, também são vetados "promoções, cupons de desconto, sorteios e brindes" envolvendo esses produtos. A ideia superior das autoridades, no caso, é promover a amamentação no seio materno. Para sorte dos bebês que não gostam de se alimentar assim (e das mães que não têm a quantidade de leite desejada pelo governo), continua permitida a fabricação, venda e uso de mamadeiras – mas é ilegal falar que elas existem. Não está claro qual o problema que foi resolvido com essa lei, mas se alguém perguntar a respeito aos peritos em saúde pública infantil provavelmente ouvirá que o Brasil tem uma das políticas de aleitamento "mais avançadas" do mundo. A situação até que seria razoável se esse tipo de coisa ficasse mais ou menos por aí. Mas não fica. Rolam no Congresso Nacional, no momento, mais de 200 diferentes projetos de lei destinados, na visão de seus autores, a fazer o bem; todos eles estabelecem algum tipo de proibição ou de limitação à publicidade de produtos ou serviços. Fora do Congresso, a única instância autorizada pela Constituição a legislar sobre o tema, autoridades estaduais têm as mesmas ambições de criar regras sobre o que pode e o que não pode ser dito. O estado do Paraná, por exemplo, acaba de proibir que seja exposta em seu território qualquer peça de propaganda com palavras em idioma estrangeiro, a menos que esteja acompanhada de tradução. A decisão, desde logo, causa algumas sérias dificuldades de ordem prática. Como faz, por exemplo, um comerciante de computadores que precisa utilizar a palavra software num cartaz a ser colocado em sua vitrine? O texto da lei não apresenta nenhuma sugestão a respeito do procedimento a seguir. O bonito, no caso, é que a própria lei que cria a proibição utiliza, logo no seu artigo 1º, uma palavra em idioma estrangeiro, caput, e não faz tradução nenhuma, o que, tecnicamente, deveria sujeitar o governo estadual a uma multa de 5 000 reais – ou até 10 000, talvez, se for considerado que o caso é de
reincidência. É para lá de esquisita, também, a sintaxe utilizada na redação da lei. "A tradução", escreve-se ali, "deve ser do mesmo tamanho que as palavras em outro idioma expostas na propaganda" – ou seja, o governo do Paraná, tão preocupado com as línguas estrangeiras, não notou que seu principal problema, por enquanto, é mesmo com a língua portuguesa. Tudo isso fica menos cômico quando se considera que a cada medida desse tipo a autoridade pública não apenas vem encher a paciência do brasileiro com mais uma interferência inútil em seu cotidiano; comete, igualmente, uma agressão contra a liberdade de expressão. É inevitável. Todas as vezes que se escreve alguma lei sobre questões nas quais a liberdade de expressão está envolvida, o cidadão fica menos livre para se exprimir; não se conhece, na experiência humana, nenhum episódio em que tenha acontecido o contrário. Outra consequência dessas tentativas de regular cada vez mais coisas é a criação de uma teia de obrigações na qual já não basta que o indivíduo obedeça à lei comum e respeite os direitos dos outros – ele precisa, também, levar uma vida considerada virtuosa e ser protegido de si próprio. Deve consumir alimentos com a quantidade correta de nutrientes e, de preferência, orgânicos. Não deve andar de automóvel. Deve considerar que vegetais como uma árvore, por exemplo, são titulares de direitos. Não deve tomar banhos com duração superior a três minutos, para não esgotar as reservas de água doce do planeta. Deve beber com moderação. Não deve assistir a programas de televisão (ou ler livros, ver filmes, ouvir músicas) que visem à obtenção de lucros comerciais. Deve, ao fim da linha, morrer no peso ideal. Trata-se de um mundo cada vez mais correto, no papel – e cada vez mais chato, na vida real.
Televisão
Como o Brasil vê televisão Do Amazonas ao Rio Grande do Sul, as emissoras locais têm suas próprias estrelas e batem-se em brigas renhidas por ibope. A programação regional que resulta daí é tão diversa quanto o país Marcelo Marthe VEJA TAMBÉM Faz sete anos que Joslei Cardinot não dá as caras em • Quadro: Janela do país nenhum shopping center. O apresentador do policialesco Bronca Pesada, fenômeno de audiência no Recife, foge do assédio dos fãs. "As pessoas querem me agarrar, me beijar. Acho esse negócio esquisito", diz Cardinot – um tipo tão musculoso quanto carrancudo. Em Porto Alegre, os três apresentadores da revista jovem Patrola também são reconhecidos nas ruas – mas apreciam isso. "Todo mundo nos pede autógrafos", diz um integrante do trio, Luciano Lopes, o Potter. A celebridade local alcançada por essas personalidades – ilustres desconhecidos em outras partes do Brasil – demonstra o poder regional da televisão. O país inteiro acompanha os passos dos artistas das novelas e as últimas de Silvio Santos? Pois as emissoras locais também têm seu sistema de estrelas e engalfinham-se em disputas por ibope. No Recife, o mesmo Cardinot está no centro de uma batalha renhida entre a Globo e a TV Jornal, parceira do SBT na cidade e exibidora do Bronca Pesada. A líder nacional em audiência há tempos busca desbancar o brucutu, cujo telejornalismo com sangue resiste em primeiro lugar na faixa do meio-dia. No Rio Grande do Sul, o Patrola foi, por sete
anos, veiculado no horário do Caldeirão do Huck pela RBS, coligada da Globo no estado. Só a partir de 2006, quando a revista local foi transferida para as manhãs de sábado, os gaúchos tomaram conhecimento da existência de um tal Luciano Huck. No que concerne aos hábitos dos espectadores, definitivamente, há vários Brasis. Em seus primórdios, nos anos 50, quando não existia transmissão por satélite e só havia programas ao vivo, a televisão era um veículo essencialmente regional. Na década seguinte, o videoteipe permitiu que o mesmo programa fosse exibido em diferentes localidades. A Globo transformaria o cenário nos anos 70, introduzindo a transmissão em rede nacional – modelo em que os canais locais retransmitem a programação de uma "emissora-mãe". "Tínhamos de ser rígidos para obrigar as TVs regionais a acompanhar nosso padrão de qualidade", diz José Bonifácio de Oliveira, o Boni, comandante da Globo naquele período. Nos últimos anos, contudo, uma maior valorização da "cor local" se impôs. Nos noticiários, tornou-se questão de sobrevivência investir nos temas que estão na esquina do espectador. "As pessoas precisam sentir que a emissora está próxima delas", diz Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo. No diagnóstico da rede, a proximidade explica suas dificuldades atuais na Grande São Paulo, onde amarga suas piores audiências: as concorrentes Record, SBT, Band e RedeTV! têm sede na cidade e investem mais na cobertura local, enquanto a Globo oferece uma programação de sotaque mais neutro. As flutuações na audiência das novelas (veja o quadro) também obedecem a peculiaridades regionais. Hoje, a Globo reserva em média doze a catorze horas semanais para as produções das emissoras das capitais coligadas à sua rede – o dobro do que destinava no começo dos anos 80. Fatores econômicos contribuíram para esse aumento. A ascensão do agronegócio levou o país a crescer em direção ao interior – e a televisão corre atrás dessa riqueza. O Mapa da Mina, estudo da Globo dirigido aos anunciantes, demonstra que os melhores períodos para fazer propaganda de novos produtos e serviços nas emissoras locais são aqueles que coincidem com o início da safra em cada lugar. Vale mais a pena anunciar em certas regiões do interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul de fevereiro a abril, quando a colheita de maçã inunda seu comércio de dinheiro. Nos lugares onde se produz soja, é melhor veicular comerciais na TV entre fevereiro e junho. A produção local, no entanto, tem seus limites, condicionados pela economia de cada região. Para Octávio Florisbal, nas grandes cidades, onde o mercado publicitário é mais vigoroso, ainda haveria espaço para um aumento da programação regional. Nas praças menores, ela já se encontraria próxima de seu limite. Desde 1991, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) que pretende regular a questão. Sua versão original previa que as emissoras dedicassem 30% da programação às atrações regionais. O texto sofreu mudanças ao ser aprovado numa comissão da Câmara: estabeleceramse cotas de programação local crescentes conforme o tamanho da cidade. A tramitação do projeto está parada no Senado desde 2003 – o que não impediu que a produção regional continuasse florescendo. É de perguntar se a camisa de força das cotas é de fato necessária num mercado que há décadas vem se autorregulando. No chamado horário nobre, que se estende das 18 às 23 horas, há mais gente diante da TV do que em qualquer outro momento do dia – e a audiência é atraída pelas produções nacionais das grandes redes. Pois bem: a programação local tem seu próprio horário nobre. Numa tradição que remonta à era cenozoica da TV, suas principais atrações se concentram no período que vai do meio-dia às 2 da tarde, de segunda a sexta-feira. Em capitais como Macapá e Teresina, além de um bom número de cidades do interior, o porcentual de televisores ligados durante esse horário nobre regional fica em torno dos 60% – um índice tão elevado quanto o noturno. Além do jornalismo local, outros dois itens imperam nessa faixa: a programação esportiva e o sensacionalismo. Uma mesa-redonda futebolística transmitida desde 1997 pela TV Alterosa, associada do SBT em Belo Horizonte, deu tão certo que seu formato vem sendo copiado por outras emissoras regionais pelo país afora. Com média de 7 pontos, que lhe garantem o
segundo lugar no Ibope, o Alterosa Esporte coloca torcedores dos três grandes rivais mineiros – Atlético, Cruzeiro e América – para bater boca no ar. "Há dias em que tenho de acalmar os ânimos", diz o editor e apresentador Leopoldo Siqueira. O telejornalismo estilo "mundo-cão" é o prato principal do horário do almoço nordestino. Isso se explica pelos altos índices de criminalidade da região. Além de Cardinot, a TV Jornal, em Pernambuco, emprega mais uma estrela do ramo na sua sucursal de Caruaru, cidade de 300 000 habitantes no agreste pernambucano. O Sem Meias Palavras tem como chamariz as entrevistas de porta de delegacia feitas pelo repórter Givanildo Silveira, contrabalançadas por quadros, digamos, comportamentais. As reportagens sobre um certo bêbado Jeremias e sobre o cachorro que faz sexo com uma garrafa PET transformaram Givanildo em hit no YouTube – ele até lançou um DVD com seus "melhores momentos". O repórter de Caruaru tem uma técnica compassiva para arrancar confissões de bandidos: "Tem repórter que é ríspido. Eu, não. Ofereço o ombro. Dou água. Dou comida. E as pessoas se abrem". Cardinot e Givanildo são verdadeiros gentlemen perto do principal expoente da baixaria baiana, José Eduardo Figueiredo Neves, o Bocão. O programa Se Liga Bocão – da TV Itapoan, parceira da Record no estado – apresenta imagens chocantes de atropelamentos, assaltos e cadáveres. Boa parte desses flagrantes é captada por espectadores munidos de celulares. Depois de ter seus excessos enquadrados pelo Ministério Público, em abril, a atração ficou um pouco mais recatada: se antes chegava até a exibir vísceras, agora só mostra imagens desfocadas de cadáveres. O apresentador se jacta de ter sido o responsável pela eleição de um travesti para vereador. Leo Kret, a figura em questão, foi escalado para proporcionar momentos mais leves ao Se Liga Bocão. "Ninguém aguentava ver só cadáveres por uma hora e meia", diz o apresentador. Com a fama conquistada na TV, Leo lançou-se na política e foi o quarto mais votado para a Câmara Municipal de Salvador. Outra estrela da TV Itapoan, Raimundo Varela – que há 29 anos apresenta o Balanço Geral – se diz cortejado por todos os partidos. "O governador Jaques Wagner já me chamou para o PT, o ministro Geddel Vieira Lima já me convidou para o PMDB, mas sempre me pedem para ser vice. Não topo. Vice não manda em nada", diz. Com uma fórmula assistencialista – o programa sorteia todos os dias um carrinho de supermercado no valor de 350 reais –, o Balanço Geral tornou-se o modelo para mais de trinta versões genéricas espalhadas pela Record no Brasil. A mais bem-sucedida delas é comandada por Wagner Montes no Rio de Janeiro. As produções regionais não vivem apenas das aberrações. Contrariando a surrada teoria esquerdista de que a TV "padroniza" a cultura, vários programas fazem sucesso investindo nas particularidades de cada lugar. Tanto a gaúcha RBS quanto a pernambucana TV Jornal produzem especiais de teledramaturgia – ainda que de forma mais modesta que as grandes redes, as únicas com capacidade econômica de botar uma novela em pé. A TV local também celebra a música e a cultura próprias. No Galpão Crioulo, no ar há 27 anos pela gaúcha RBS, o apresentador Antonio Augusto Fagundes e seu sobrinho Neto Fagundes surgem em cena de bombacha para apresentar os destaques da música gauchesca. Exibido pela TV Anhanguera, coligada da Globo em Goiânia, o Frutos da Terra traz videoclipes (algo mambembes, diga-se) de música típica do cerrado. Em Belém, o bem-sucedido É do Pará, da TV Liberal (outra associada da Globo), enfoca temas como a culinária regional. Também no Pará, a estatal TV Cultura segue a tradição de sua congênere paulista homônima: produz programas infantis de qualidade, como o show de bonecos Catalendas (espécie de resposta amazônica ao fenômeno Cocoricó). Ligadas a grupos que controlam as afiliadas da Globo em suas regiões, a Amazon SAT, de Manaus, e a TV Diário, de Fortaleza, oferecem programação 100% regional. E já a levaram de graça, via satélite, para além de seus estados. Tempos atrás, por pressão da Globo, a Amazon SAT deixou de ter seu sinal liberado para antenas parabólicas. Sob a mesma justificativa – a de que fazia concorrência desleal com as TVs dos estados vizinhos –, a TV Diário voltou a ser transmitida apenas no Ceará. Essa última
produz o humorístico Nas Garras da Patrulha, cujos bonecos toscos – como o personagem Coxinha – ganharam notoriedade no YouTube. Outro de seus programas, o Forrobodó, propulsionou a carreira da maior estrela da TV local cearense, o apresentador e empresário Tony Nunes – que ganha dinheiro cobrando taxas de 2 000 reais das bandas de forró que se apresentam na atração. Nunes acaba de trocar a TV Diário por um canal de transmissão exclusiva por satélite. Ficou irritado com o recente achatamento por que passou seu salário, de 50 000 para 10 000 reais mensais. "Foi um golpe covarde", diz ele. Não é só Gugu Liberato que fica magoado com coisas assim. Com reportagem de Leonardo Coutinho,Luciana Cavalcante, Fernanda Guirra, José Edward, Igor Paulin e Bruno Meier
A importância do sotaque Liane Neves
"Para fazer sucesso por aqui, tem de ter um sotaquezinho regional", diz Ico Thomaz (no centro da foto), apresentador – ao lado de Rodaika Daudt e Luciano Lopes, conhecido como Potter – do Patrola, programa da RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul. O sotaque está até no nome. "Patrola" é como os gaúchos chamam um trator usado para aplanar terrenos – uma niveladora que passa por cima de tudo, tal como o programa de variedades tenta fazer: pode trazer entrevistas com ex-BBBs, pegadinhas com jogadores de futebol e reportagens sobre uma festa no interior. Voltado para os jovens – mas aprovado pelas "vovozinhas", segundo Thomaz –, o Patrola alcança uma média de 11,6 pontos de ibope, 43% dos televisores ligados nas manhãs de sábado.
Conselheira de moda da Bahia Márcio Lima No ar há dois anos e líder de audiência no início da tarde de sábado, o programa Mosaico Baiano, transmitido pela TV Bahia – afiliada da Globo em Salvador –, segue o estilo "revista eletrônica", com uma eclética mistura de reportagens, dicas de cultura e gastronomia. Entre os apresentadores, há até uma das proprietárias da emissora: Paula Magalhães, filha do deputado Luís Eduardo Magalhães, morto em 1998, e neta do poderoso Antonio Carlos Magalhães – cujo espólio (incluindo a TV Bahia) é fruto de uma renhida disputa entre os herdeiros. Ela comanda o quadro Dica de Moda, gravado no interior de shopping centers e de lojas badaladas de Salvador. "Minha intenção é mostrar que qualquer pessoa pode se vestir bem, trazendo conceitos de moda para todos os públicos", teoriza Paula. Ela garante que responde pessoalmente a todos os e-mails de telespectadores que escrevem pedindo conselhos.
Contra as almas sebosas Leo Caldas/Titular
O apresentador Joslei Cardinot é o pit bull da televisão regional. No policialesco Bronca Pesada, que faz sucesso no horário do almoço no Recife, o fortão vocifera contra a bandidagem e exibe muitas imagens de cadáver. Ele ataca, sobretudo, os pedófilos. "Irrita a gente ter de chamar esses elementos de seres humanos", diz. Em 2006, Cardinot teve de incluir um colega de crachá em sua lista negra: Denny Oliveira, ex-apresentador da mesma TV Jornal, afiliada do SBT, foi acusado de abusar sexualmente de meninas em seu camarim. Cardinot, de 45 anos, é praticante de remo, musculação e kung fu. Por trás da fachada de troglodita, há um sujeito que cuida do espírito. Em breve, ele lançará seu primeiro romance policial. Kardecista, inventou uma expressão curiosa para se referir aos bandidos: "almas sebosas". "É um bordão patenteado", informa Cardinot – que fatura cerca de 120 000 reais por mês, rendimento digno de um artista das redes nacionais.
É lixo só Exibido desde 2001 na TV Diário – emissora em UHF da Sistema Verdes Mares, no Ceará –, o humorístico Nas Garras da Patrulha alcança, no pico, meros 3 pontos de ibope no horário da tarde. Mas seus quadros, encenados por 35 bonecos do grupo Circo Tupiniquim(na foto, os manipuladores Carlos César e Francisco Duarte), de Fortaleza, se transformaram em hit no site YouTube – o mais visto já foi acessado 670 000 vezes. Com humor chulo e vocabulário tosco (fala-se, por exemplo, em dar "surras de tauba" na sogra), o programa encena situações cotidianas, como o sufoco de um ônibus cheio. O personagem mais popular é o limpador de fossa Coxinha (à dir. na foto, com tesoura na mão), um perfeito mau-caráter. "Ele é a melhor definição do cara falso, que nos elogia frente a frente, mas diz o oposto quando viramos as costas", conta Marco Antônio Oliveira, diretor do programa. Os cenários, também a cargo do Circo Tupiniquim, utilizam adereços velhos e lixo reciclado – o que define bem a natureza do programa.
Manoel Marques
Matéria-prima amazônica No infantil Catalendas, produzido há dez anos pela TV Cultura do Pará, a Preguiça é uma espécie de avó sábia que conta histórias ao neto – ou, no caso, o macaco Preguinho. Os dois são os únicos personagens fixos do programa, que a cada edição encena um caso popular ou uma lenda amazônica com os bonecos do grupo In Bust, do diretor artístico Aníbal Pacha. "Nós buscamos mesclar bem as fontes das narrativas. Entram contos de terror, causos de pescador e fábulas indígenas e negras", diz o diretor do programa, Roger Paes. Da pesquisa das lendas até a gravação, cada episódio leva em média dois meses para ser concluído. O grupo In Bust procura incorporar a cultura regional até na confecção dos bonecos – cujo material básico é uma palmeira chamada miriti, tradicionalmente usada para fazer brinquedos na região amazônica. Fora do Pará, o Catalendas é exibido em várias outras emissoras da rede educativa e no canal pago Rá-TimBum.
Fernanda Preto
Exposição
UM ARTISTA NO OLHO DO FURACÃO Marc Chagall, o pintor que sobreviveu à revolução bolchevique na Rússia e ao nazismo, tem sua obra extraordinária revista numa mostra em Belo Horizonte Marcelo Marthe Fotos Divulgação
ÊXTASES VISUAIS As Núpcias, de 1918, e Farmácia em Vitebsk, de 1914 (à direita): cosmopolita que manteve um pé na aldeia VEJA TAMBÉM
Em três momentos históricos perigosos para um artista judeu, o pintor Marc Chagall esteve no olho do furacão Galeria de fotos – e escapou ileso. Ele nasceu numa família hassídica na Obras de Marc Chagall cinzenta Vitebsk, atual Bielo-Rússia, no fim do século XIX, quando os judeus eram oficialmente discriminados pelo império czarista. Apesar desses obstáculos, lançou-se com sucesso na carreira artística. Mais tarde, ao se engajar na revolução bolchevique de 1917, chegou a clamar por um "banho de sangue purificador" e assumiu um cargo na administração comunista. Mas, tal como ocorreria com vários outros vanguardistas russos, o regime logo se voltou contra ele. Os animais surreais de suas telas desagradavam aos ideólogos de plantão. "Por que a vaca é verde? Por que o cavalo voa?", perguntavam. Chagall ainda se desgastaria numa polêmica pública com outro vanguardista, Kasimir Malevich, que, defensor radical do abstracionismo, questionou a validade da arte figurativa do colega. Desiludido, o pintor fugiu da Rússia pouco tempo depois – e o fim deprimente do próprio Malevich, proscrito pelo regime que ajudou a acalentar, dá uma ideia do que o esperava se ficasse. Chagall escapou, por fim, das garras de Adolf Hitler. Consideradas exemplos da "arte degenerada judia", suas obras foram destruídas na Alemanha nazista. Durante a II Guerra Mundial, ele e a mulher, Bella, fugiram da França ocupada com a ajuda de um funcionário do consulado americano em Paris. Esse artista extraordinário, cuja trajetória sintetiza as tribulações de seu tempo, é tema da mostra O Mundo Mágico de Marc Chagall – O Sonho e a Vida, que abre nesta terça-feira na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte.
O acervo de mais de 300 peças – entre óleos, guaches, aquarelas, esculturas e gravuras – cobre os aspectos fundamentais da vida longa de Chagall, que morreu em 1985, aos 97 anos. Ele foi um cosmopolita que sempre manteve os pés em sua aldeia. Nos anos 10, depois de viver em Paris no período áureo da agitação modernista, ele voltou a Vitebsk – e lá produziu suas telas mais preciosas. Da coleção da Galeria Tretiakov, de Moscou, vêm seis obras desse período. Entre elas há duas cenas da cidade natal pintadas em 1914, como a paisagem urbana de Farmácia em Vitebsk e Salão de Cabeleireiro, em que retrata um tio que tem seu cabelo cortado. Também se pode ver um testemunho de sua fase engajada: um estudo para os cartazes que produziu para a festa de primeiro aniversário da Revolução Soviética, que mostra um gigante camponês erguendo um palácio em seus braços. Única tela de grande dimensão da exposição, As Núpcias ou o Casamento Religioso (1918) é uma variação noturna de um tema recorrente de Chagall. Nela, um casal de noivos pintado em preto e branco se abraça, enquanto um anjo sépia une suas cabeças e um violinista surge ao longe numa árvore. As gravuras compõem a maior parte do acervo da mostra de Belo Horizonte (que, em outubro, deverá seguir para o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em versão reduzida). Chagall começou a se devotar a essa técnica depois da experiência traumática na revolução bolchevique, quando já morava em Paris e era cidadão francês (fato que explica por que a mostra integra os festejos do Ano da França no Brasil). Ele se tornaria um dos maiores gravadores do século XX. Estarão expostas no Brasil, entre outras, uma série sobre a Bíblia que ele levou nove anos para concluir e outra de cenas russas inspiradas na obra do escritor Nikolai Gogol (1809-1852). "Embora dialogue com as grandes tendências modernistas, do surrealismo ao cubismo, Chagall nunca se filiou a nenhuma delas", diz o curador Fabio Magalhães. De fato, para entender Chagall, é mais adequado atentar para sua ligação com o que se pode definir CENAS RUSSAS como "Rússia profunda". Aquele mundo onírico de vacas coloridas A gravura O Cocho (1924): e casais que flutuam no ar está em consonância com a noção Chagall foi um dos grandes da hassídica do êxtase religioso. Mas os mergulhos metafísicos de técnica no século XX Chagall não tinham fronteiras de credo: nos anos da II Guerra, ele pintou imagens de Cristo na cruz – uma metáfora do sofrimento dos judeus nos guetos. Afora essa fase, a obra de Chagall foi uma celebração da alegria. A paixão por Bella, a primeira de suas duas mulheres (oficiais: o pintor era um rematado mulherengo), rendeu algumas das pinturas mais sensuais do modernismo.
VEJA Recomenda CINEMA Kevin Mazur/Wireimage/Getty Images
À Deriva: pai e filha crescendo juntos, dolorosamente
À DERIVA (Brasil, 2009. Desde sexta-feira em cartaz no país) • Depois de Nina e de O Cheiro do Ralo, o diretor Heitor Dhalia muda radicalmente de tom neste seu terceiro longa-metragem: em vez de enredos urbanos (especificamente, paulistanos), volta ao verão de 1979 na vida de uma família em férias em Búzios, no litoral fluminense. Pelos olhos da filha mais velha, Filipa (a estreante Laura Neiva, encontrada no Orkut quando 600 outras candidatas ao papel já haviam sido reprovadas), acompanha-se a derrocada do casamento dos pais sob o peso de rancores. Filipa, que está ela própria despertando para a sexualidade, acha que a raiz dos problemas está no alcoolismo da mãe (Debora Bloch, em uma chance merecida fora das novelas) e nas infidelidades do pai (o francês Vincent Cassel). Mas, claro, compreende de maneira apenas incompleta ou distorcida o que vê. Com uma condução firme e discreta, que reproduz nas imagens e na bela trilha de Antonio Pinto a qualidade das coisas lembradas, Dhalia concentra-se no duro processo de crescimento não só da menina mas também de seu pai – que, na interpretação excelente de Cassel,é uma dessas figuras expansivas e solares em torno das quais só resta aos outros orbitar, queiram eles ou não.
Home » Revistas » Edição 2124 / 5 de agosto de 2009 Índice • Seções • Panorama • Brasil • Geral • Economia • Internacional • Guia • Artes e Espetáculos • ver capa Seções • VEJA.com • Carta ao Leitor • Entrevista: Guillermo Zuloaga • Claudio de Moura Castro • Millôr • Leitor • Blogosfera Panorama • Imagem da Semana • Datas • Holofote
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À Deriva: pai e filha crescendo juntos, dolorosamente
À DERIVA (Brasil, 2009. Desde sexta-feira em cartaz no país) • Depois de Nina e de O Cheiro do Ralo, o diretor Heitor Dhalia muda radicalmente de tom neste seu terceiro longa-metragem: em vez de enredos urbanos (especificamente, paulistanos), volta ao verão de 1979 na vida de uma família em férias em Búzios, no litoral fluminense. Pelos olhos da filha mais velha, Filipa (a estreante Laura Neiva, encontrada no Orkut quando 600 outras candidatas ao papel já haviam sido reprovadas), acompanha-se a derrocada do casamento dos pais sob o peso de rancores. Filipa, que está ela própria despertando para a sexualidade, acha que a raiz dos problemas está no alcoolismo da mãe (Debora Bloch, em uma chance merecida fora das novelas) e nas infidelidades do pai (o francês Vincent Cassel). Mas, claro, compreende de maneira apenas incompleta ou distorcida o que vê. Com uma condução firme e discreta, que reproduz nas imagens e na bela trilha de Antonio Pinto a qualidade das coisas lembradas, Dhalia concentra-se no duro processo de crescimento não só da menina mas também de seu pai – que, na interpretação excelente de Cassel,é uma dessas figuras expansivas e solares em torno das quais só resta aos outros orbitar, queiram eles ou não.
TELEVISÃO Divulgação
The Alzheimer’s Project: drama humano
THE ALZHEIMER’S PROJECT (estreia na terça-feira 4, na HBO, às 22h) • Esta belíssima série em quatro partes aborda uma das doenças mais temidas da atualidade, a demência de Alzheimer, sob suas várias luzes. Pacientes nos estágios iniciais do mal manifestam seu medo e frustração com os inexplicáveis vazios de memória. Um episódio dedicado aos que cuidam dos doentes mostra o desafio de conviver com pessoas que a cada dia são menos elas mesmas. Alguns dos mais renomados cientistas da área explicam como a doença funciona e o que eles estão fazendo para mitigar seu impacto pessoal e social – já que seus números só fazem crescer. No segundo episódio, é bom ter lenços à mão: crianças entre 6 e 15 anos falam sobre como é conviver com avôs e avós doentes e assim resumem de maneira cristalina o significado do Alzheimer – uma doença que aniquila tudo aquilo que nos faz humanos.
LIVRO MILAGRES DA VIDA, de J.G. Ballard (tradução de Isa Mara Lando; Companhia das Letras; 248 páginas; 47 reais) • Nas páginas finais desta autobiografia, o escritor inglês (nascido em Xangai, onde seu pai trabalhava em uma indústria têxtil) James Graham Ballard relata, com serenidade, o diagnóstico do câncer de próstata que viria a matá-lo em abril último, aos 78 anos. Milagres da Vida é, portanto, a obra de um homem consciente de que seu fim estava próximo. Trata-se de uma narrativa cheia de cor e movimento. Ballard rememora a infância em Xangai e o período em um campo de prisioneiros, durante a invasão da China pelo Japão na II Guerra Mundial (episódio que inspirou seu romance O Império do Sol). Também lembra seu esforço para criar três filhos, na Inglaterra, enquanto tentava a sorte como escritor, e examina o escândalo suscitado por suas obras mais provocativas, A Exposição de Atrocidades e Crash. Leia trecho.
DISCOS Kevin Mazur/Wireimage/Getty Images
Conor Oberst: canções sobre a vida na estrada
OUTER SOUTH, Conor Oberst and the Mystic Valley Band (Music Brokers) • O cantor e guitarrista americano Conor Oberst foi líder do Bright Eyes, que fazia uma excelente combinação de folk, country, pop e eletrônica. No ano passado, Oberst lançou um CD-solo e saiu em turnê com uma nova banda, The Mystic Valley. Outer South é seu novo trabalho com o grupo. Oberst divide os vocais com o baixista Macey Taylor e com o também guitarrista Taylor Hollingst-worth (cuja voz roufenha, na canção Air Mattress, imita o estilo de Bob Dylan). Muito apropriadamente para um disco com levada folk, as dezesseis faixas falam da vida de músico na estrada. É um tema batido, mas as letras de Oberst superam o lugar-comum. O disco também tem grandes momentos instrumentais, como I Got the Reason, canção de sete minutos com guitarras distorcidas e teclados Hammond.
Fernando Mucci
João Carlos Martins: biografia musical
PÁGINAS DE UMA HISTÓRIA, João Carlos Martins (Flautin 55) • Um dos maiores nomes brasileiros da música erudita, João Carlos Martins, de 68 anos,
começou como pianista, especializando-se na obra de Bach. Uma série de problemas de saúde acabaria impedindo que ele seguisse tocando piano. A partir de 2004, ele se dedicou à regência e criou a Orquestra Bachiana, cujo repertório vai de Bach, Beethoven e Mozart a compositores atuais. Como o título anuncia, Páginas de uma História é uma biografia musical de João Carlos Martins – inclui comentários breves do músico antes de cada faixa. Começa com registros de suas leituras de Lizst aos 10 anos, nas quais já se anunciava o talento do intérprete. Entre as gravações mais recentes, o disco traz Martins à frente de sua Orquestra Bachiana, em uma bela versão de Adiós, Nonino, do argentino Astor Piazzolla, com arranjo do maestro e compositor Mateus Araújo.
Cinemateca VEJA
• Em São Paulo e no Rio de Janeiro, nesta semana: Robin Williams é o professor que abre os horizontes de seus alunos em Sociedade dos Poetas Mortos (leia a crítica).
• Nos demais estados, nesta semana: Robert De Niro é o boxeador Jake La Motta na obra-prima Touro Indomável, de Martin Scorsese (leia a crítica).
Como comprar a Cinemateca VEJA Em bancas, livrarias e redes de supermercados, a 13,90 reais o exemplar avulso. Para assinar, ligue 3347-2180 (Grande São Paulo) ou 0800-775-3180 (outras localidades), de segunda a sexta-feira, das 8 às 22 horas. Pela internet, acesse www.assineabril.com
Os mais vendidos
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