
1 minute read
A alegria de um coração límpido
(DA “IMITAÇÃO DE CRISTO”)
Oser humano tem duas asas com as quais se levanta acima das coisas terrenas, que são a simplicidade e a pureza.
A simplicidade há de estar na intenção, e a pureza no afeto.
A simplicidade busca a Deus; a pureza o abraça e nele se compraz.
Nenhuma boa obra te impedirá de voar, se interiormente estiveres livre de todo o afeto desordenado.
Se não quiseres senão o que Deus quer e o que é útil ao próximo, gozarás de liberdade interior.
Sendo o teu coração reto, tens em qualquer criatura um espelho de vida e um livro de santa doutrina.
Não há criatura tão pequena e tão vil que não represente a bondade de Deus.
Se fores bom e puro no interior, logo verias e entenderias bem todas as coisas sem impedimento.
O coração limpo penetra o céu e o inferno.
Cada um julga as coisas exteriores, segundo suas disposições interiores.
Se há alegria no mundo, sem dúvida a possui a pessoa de coração puro.
E se em algum lugar há tribulação e angústia, a má consciência é que melhor conhece.
Assim como o ferro levado ao fogo perde a ferrugem e fica inteiro em brasa, assim quem se converte inteiramente a Deus, se desentorpece e se muda em novo homem.
Quando alguém começa a afrou- xar, teme ainda o menor trabalho, e recebe com gosto a consolação interior.
Porém, quando começa perfeitamente a vencer-se e a andar com valor no caminho de Deus, logo tem por fáceis as coisas que antes lhe pareciam pesadas.
(Imitação de Cristo, Livro II, capítulo IV. Este pequeno e famoso livro de meditações espirituais, composto de 4 partes, sendo a última - o livro IV – dedicado à Eucaristia, originouse em ambiente monástico; foi apreciado e elogiado por muitos autores, inclusive santos. Sua autoria é muito discutida, sendo geralmente atribuída ao monge alemão Tomás de Kempis (1380-1471).
É provável que, na ver-dade, seja obra de vários autores, to-dos monges, sendo talvez Tomás de Kempis o autor principal. Este livro belo e profundo, descontadas certas unilateralidades devidas à mentalidade da época, pode ser meditado ainda hoje com proveito, uma vez que as grandes luzes ou descobertas no sentido espiritual ou moral ultrapassam os limites de tempo e lugar, podendo ser “recolocadas” e redimensionadas, mas nunca anuladas).