22 minute read
CAMILA CALDERON BARBOSA
o educador passa a ter uma nova postura com a função de mediador, motivador, pesquisador, aprendendo a relativizar, valorizar a diferença e aceitar o provisório.
REFERÊNCIAS
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Londrina: Semina: Ciências Sociais e Humanas, 2011.
BERUTTI, Flávio; MARQUES, Adhemar. Ensinar e aprender história. Belo Horizonte: RHJ, 2009.
BRITO, Glaucia da Silva. Educação e novas tecnologias. Curitiba: Intersaberes, 2012.
CALHAU, Thaís Andrea de Carvalho [et al]. Metodologias ativas: mediação, protagonismo e aprendizagem. Prefeitura de Guarulhos, CEMEAD, 2019.
DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Lajeado, RS: UNIVATES Centro Universitário Centro Universitário Univates, 2017.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e tempo docente. Capinas, SP: Papirus, 2013.
MALACRIDA, Vanessa Ananias; BARROS, Helena Faria de. A ação docente no século XXI: Novos Desafios. Presidente Prudente: Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2011.
MORAN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. PG: Foca FotoPROEX/UEPG, 2015. OLIVEIRA, João Ferreira de; SOUZA, Ângelo Ricardo de. Educação e direitos humanos, diversidade cultural e inclusão social. Série Anais do XXIX Simpósio
Brasileiro de Política e Administração da Educação. [Livro Eletrônico]. – Brasília: ANPAE,2019.
PAIVA, Marlla Rúbya Ferreira [et al]. Metodologias ativas de ensinoaprendizagem: revisão integrativa. Sobral: SANARE, 2016.
PORTO, Humberta Gomes Machado. Currículos, programas e projetos pedagógicos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017
PHILIPPI JR, Arlindo; SILVA NETO, Antônio J. Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia &b inovação. Barueri, SP: Manole, 2011.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 2005.
WUNSCH, Luana Priscila. Tecnologias na educação: conceitos e práticas. Curitiba: Intersaberes, 2018.
CAMILA CALDERON BARBOSA
Resumo:
O presente estudo tem por objetivo compreender se os contos de fadas podem influenciar no desenvolvimento das crianças. Assim realizamos uma pesquisa onde observamos como os contos de fa-
das surgiram, sua função social e como se mantém atrativa até hoje. Em seguida aprofundamos os estudos sobre a psicanálise e analisamos alguns contos de fadas. E por fim o desenvolvimento infantil. A metodologia estudada foi bibliográfica. Constatamos que sim os contos de fada têm seu valor para o desenvolvimento infantil.
Palavras- chave: contos de fada, desenvolvimento infantil, psicanálise.
INTRODUÇÃO
Estamos vivenciando um momento onde as crianças são bombardeadas de informações, brinquedos, histórias, programas e tudo mais que a tecnologia nos trouxe, mas quantidade nem sempre é qualidade. Temos vistos na questão literária histórias esvaziadas, onde as crianças não conseguem aparatos para refletir sobre dilemas da vida. Alguns profissionais que trabalham com crianças, muitas vezes anula a importância dos contos de fadas tradicionais, recriminando por acharem que são histórias cruéis para crianças tão pequenas.
Sabendo sobre alguns questionamentos, buscamos com esse trabalho justificar a importância que os contos infantis têm na aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Para a realização desse trabalho, foi utilizado como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica. Segundo Lakatos, “a pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um lado a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tanto a pesquisa de laboratório quanto à de campo (documentação direta) exigem, como premissa, o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar. A pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser considerada também como o primeiro passo de toda pesquisa científica”. (1992, p.44)
Buscamos através de pesquisas, basear nos estudos de autores que dedicaram a estudar sobre a importância, a história dos surgimentos, os motivos que os mantém tão atrativos para as crianças mesmo sendo histórias muito antigas.
Embasamos a maior parte dos capítulos nos estudos de Karin Hueck, Bruno Bettelheim e o casal Diana e Mario Corso. Mas outros documentos e estudos foram usados como pesquisa para elaboração do mesmo como: Radino, Scheneider, Tatar entre outros.
DESENVOLVIMENTO
Não se sabe ao certo sobre o ano de surgimento dos contos de fadas e muito menos de onde surgiram essas narrativas, o que sabemos, é que são histórias milenares que foram sendo passadas oralmente de pais para filhos, de um povo a outro onde cada versão foi se adaptando as características de acordo com a região e suas tradições.
Hueck no livro “O lado sombrio dos contos de fadas” nos relata que em 850 d.c na China, há registro de uma história muito parecida com a Cinderela que conhecemos, escrita pelo francês Charles Perrault isso em 1967. Na versão chinesa um homem mora com 2 mulheres em uma caverna, com cada uma delas ele teve uma filha. Uma das mulheres morreu e a “madrasta”, passou a tratar Ye
Xian como empregada, ela desmerecia a menina, dava-lhe as piores tarefas. Essa garota tinha como único amigo um peixe dourado e quando a madrasta descobriu, tratou logo de assar e comer o peixe, não queria que Ye Xian tivesse nenhum motivo para sentir alegria. Ela ficou muito triste e guardou os ossinhos do peixe, já que um feiticeiro contou que eles eram mágicos e que eles poderiam atender a pedidos. Aconteceu um festival de Primavera e Ye Xian ficou interessada a participar, a madrasta logo a proibiu com medo que ela ofuscasse sua filha, então a menina recorreu aos ossinhos e em um passe de mágica ela foi coberta com um maravilhoso vestido azul, em seus pequenos pezinhos apareceram sapatos de ouro. No festival, todos só queriam olhar para Ye Xian inclusive a madrasta e a irmã, com medo ela fugiu e perdeu um dos sapatinhos que acabou nas mãos de um guerreiro que se encantou pelo tamanho do sapatinho e foi em busca de sua dona. Ele logo descobriu que o sapato era de Ye Xian mas se espantou quando a encontrou, pois suas roupas eram muito simples, logo entendeu que se tratava da moça mais bonita do condado. A irmã e o madrasta morreram soterrada em uma avalanche que caiu sobre a caverna onde moravam.
O enredo é muito parecido com a história da Cinderela que conhecemos escrita por Perrault, que inspirou Walt Disney, elas têm entorno de mil anos de diferença. E como essa versão chinesa, tem diversas pelo mundo, onde a mocinha é maltratada pela madrasta má e a irmã e ela vence tudo e supera a maldade e as pessoas que a oprimiram. Para ser mais exata no sex. XIX Marian Cox uma colecionadora de Cinderelas, angariou 345 varia “As versões folclóricas espalhadas pelos cinco continentes variam de acordo com o cheiro e o tempero de cada local, e é curioso ver o que cada cultura fez com a heroína.” (HUECK,2016).
Na versão chinesa a menina recebe ajuda dos ossinhos, na versão de Perrault ela recebe ajuda da fada madrinha, já na versão dos irmãos Grimm com
“A gata borralheira” ela recebe ajuda dos animais e da falecida mãe, na versão Sérvia a mãe não morre vira uma vaca, na versão da Filipina um mágico que a ajuda, e ela coloca um chinelinho dourado no lugar do sapato de ouro ou cristal, na versão Turca ela é um homem, na versão Baiana ela é uma menina pobre e se transforma na rainha do Carnaval. Sem falar nas Cinderelas que temos nos programas que transformam meninas, como o do Netinho de Paula e Luciano Huck.
Esses pequenos detalhes, que variam de cultura para cultura, são um dos temas favoritos para os especialistas em folclore. Usadas como pistas para um mundo distante, as particularidades dos enredos servem para descrever a cultura de origem de um conto porque refletem o ambiente do qual foram extraídos. O enxerto de minúcias regionais aparece em qualquer história, não só em Cinderela. Os contadores de histórias ouviam as narrativas, memorizavam o enredo e, na hora de recontá-las, acabavam mudando um detalhe ou outro. Iam, aos poucos introduzindo elementos de seu cotidiano e de sua paisagem para os ouvintes se identificarem com os dramas das personagens com facilidade. (HUECK,2016).
O Antropólogo Americano Frank Hamilton vivenciou essa apropriação da história, no fim do século XIX ele viveu com um povo indígena chamado Zunis e contou a eles uma fábula italiana. Após um ano ele voltou a tribo e ouviu de um indígena a mesma fábula, o enredo continuava o mesmo só que agora com elementos e linguagem indígenas. Virou um conto Zunis.
Para Bernhard Lauer, diretor do Museu Grimm na Alemanha, um dos maiores especialistas em contos de fadas do mundo já temos evidências suficientes que mostra que os contos foram sendo difundidos e adaptado ao longo dos séculos em diversas culturas.
Os contos tem tantos pontos em comum que um folclorista finlandês chamado Annti Arnee os classificou e publicou um livro chamado “Índice de
Tipos de Contos Populares” no qual agrupou as histórias mais conhecidas da Escandinávia, o americano Stith Thompson expandiu essa lista registrando as histórias da Europa, concluiu esse trabalho em 1961. Hoje essa tabela é conhecida como Arnee-Thompson onde as histórias são registradas e separada de acordo com os elementos que a compõe. Esta tabela ajuda no momento de coletar e registras novas narrativas e também a encontrar versões antigas do mesmo conto.
O que torna difícil definir quem as inventou, os mesmos temas, anseios, sonhos e desejos permeiam as diversas culturas. Podemos pensar nos contos de fada como a construção coletiva de povos para explicar situações como morte, perda, partidas ou para entreter o povo com Os contos, em sua essência, não eram destinados ao universo das crianças, uma vez que as histórias eram recheadas de cenas de adultério, canibalismo, incesto, mortes hediondas e outros componentes do imaginário dos adultos. Souza (2005) faz menção aos contos, descrevendo-os como histórias que narravam o destino dos homens, suas dificuldades, seus sentimentos, suas inter-relações e suas crenças no sobrenatural. Eram relatados por narradores profissionais, os quais herdavam essa função dos antepassados, ou como uma simples tradição transmitida de pessoa para pessoa. Geralmente, as narrações ocorriam em campos de lavouras, reuniões sociais, nas salas de fiar, casas de chá, nas aldeias ou nos demais espaços em que os adultos se reuniam (RADINO, 2001, 2003 p.134).
O que não podemos deixar acontecer é confundir o registro escrito dos contos com a sua criação. Muitos consideram Charles Perrault o primeiro a coletar e organizar contos de fadas em um livro para criança no sec. XVII. Ele ouvia as histórias de contadores populares adequava a cultura da época, acrescentava detalhes descritivos e reduzia as questões da cultura pagã, não tem muitas fadas, ele preferiu introduzir figuras humildes, como lenhadores, serviçais, aldeões, damas e cavaleiros. Também modificava histórias que fazia alusão a sexualidade e para finalizar colocava a “moral da história”, nos deixando claro que sua intenção era ensinar moralmente as crianças. Perrault foi imortalizado pelo único volume que escreveu para crianças “Contos da Mãe Gansa”. Ou seja os contos registrados pelo Perrault
Há registros na literatura consultada de que o movimento romântico instaurado na época trouxe aos contos um sentido mais humanitário (Góes, 1991). Dessa forma, a violência presente nos contos de Perrault concede espaço ao humanismo que, de forma delicada, perpassa as histórias escritas pelos irmãos Grimm, preconizando a solidariedade e o amor ao próximo. Os aspectos mais agressivos ainda se mostram presentes, personificados principalmente na figura do Lobo e da Bruxa, porém, ao final, impera a esperança, a confiança na vida e o indispensável final feliz. (SCHNEIDER TOROSSIAN,2009 p.136)
Já na Alemanha os filósofos e irmãos Jacob e Wihelm Grimm também fizeram uma coleta dos contos populares que os irmãos ouviram viajando por aquele país. Mas o interesse não era publicar livros infantis e sim embasar o estudo da língua alemã, registrar o folclore e a cultura de seu povo e recuperar a história do seu país.
É indubitável que o pendor da poesia é a evolução poética, sem a qual a tradição seria coisa morta e estéril. Por este motivo, em cada região, as histórias são contadas diversamente, conservadas as características que lhe são peculiares. Há, todavia, diferença entre esta modificação semi inconsciente, uma como que tranquila continuidade semelhante à das plantas e das flores que desabrocham regadas pela fonte perene da vida, e a interpolação de pormenores intencionais, em que as ligações se fazem arbitrariamente, e, embora bem concatenadas, indicam alteração. Isto não podemos admitir. [...] Se para nós valem as tradições; noutras palavras, se para nós as tradições são o repositório de culturas de outros tempos, compreenderemos, claramente então, que êsse valor intrínseco à própria tradição se perde com aquelas transformações. (GRIMM, 1961, v.1, p. 11)
Os contos coletados foram publicados em dois volumes: “Conto da Criança” e “Conto do Lar”, mesmo não sendo a intenção dos irmãos os livros foram adotados e lidos por crianças do mundo inteiro. Diferentemente de Perrault os Grimm registraram as histórias nas versões originais, poucas ou quase nenhuma alteração. Seus contos são povoados por madrastas malvadas, feras, príncipes encantados, bruxas perversas, casas de chocolate, entre outros personagens singulares.
O poeta e novelista Hans Christian Andersen foi considerado o propulso da literatura infantil, pois ele escrevia os contos diretamente para crianças diferentemente dos demais autores que adequavam as histórias à realidade infantil. Suas histórias eram inspiradas nas histórias contadas pelo seu pai, um humilde sapateiro.
Andersen utilizou-se do sofrimento observado nas crianças menos favorecidas e pobres para rechear seus contos. Soube como ninguém retratar os desejos da população, fazendo com que suas histórias assumissem a estrutura de crônicas tristes, muitas vezes com conteúdos extraídos de seu próprio cotidiano, inaugurando, assim, o que hoje denominamos de literatura infantil.
(SCHNEIDER;TOROSSIAN,2009 p.137)
Há três características principais que coloca Andersen como um escritor para crianças que até então não parecia nos outros escritores: a existência de personagens criança, animação de animais e objetos como brinquedos.
Esses personagens infantis que falam pelas crianças expressando seus sofrimentos e temores têm na obra do Patinho Feio sua representação mais significativa. Alguns autores aludem a esse conto, em especial, como sendo o retrato da vida do escritor e seu difícil percurso. Seus contos, como o Soldadinho de Chumbo, trazem a animação de objetos como os brinquedos, caracterizando a impotência dos pequenos, cheios de desejos, porém não escutados e não compreendidos. E, finalmente, credita um papel de protagonista às crianças, como acontece no conto A Roupa Nova do Imperador, narrativa que delega a uma criança a importante tarefa de alertar o Imperador sobre a falta das vestes dele. (SCHNEIDER TOROSSIAN,2009 p.137)
Suas histórias são recheadas de fadas, animais fantásticos e sereias. Também encontramos os valores morais em suas obras que aparecem delicadamente, mas algo característico dos contos somem na suas produções, o jargão “e foram felizes para sempre”. Ele tem em sua autoria aproximadamente 156 contos.
Também temos os contos considerados “modernos” como do inglês Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, do italiano Carlo Collodi, que escreveu Pinocchio, do escocês James Berrie, descrevendo as aventuras do Peter Pan e do americano L. Frank Baum, autor de O Mágico de Oz. “O que se sabe ao certo é que, clássicos ou modernos, os contos infantis embalam a fantasia e a imaginação das crianças, sobrevivendo aos séculos e sendo apreciados e difundidos até os dias atuais.” (Schneider Torossian,2009 p.137).
Sabemos que na história o olhar voltando para a criança como um ser com características especificas e cuidado especial é algo novo. A transformação das narrativas em contos de fadas acontece com a valorização deste novo mundo, o mundo infantil.
Os contos de fadas encantam as crianças, mesmo sendo algo muito antigo, ele vem disputando a atenção dos pequenos com elementos infantis recheados de tecnologias, mesmo assim, não conseguiram enfraquecer as narrativas. Como se mantém tão viva e intensa nas vidas destas crianças?
Os contos de fadas, à diferença de qualquer outra forma de literatura, dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. (BETTELHEIM, 1903 p.33)
Para Betthelheim os contos de fadas continuam atuais pois através da leitura ou escuta dele as crianças conseguem resolver conflitos psíquicos inconscientes que ainda as rodeiam.
É provável que as técnicas de transmissão oral, que na falta de imagens visuais apelam ao poder imaginativo dos pequenos ouvintes, sejam até hoje capazes de conectar as crianças ao elemento maravilhoso e à multiplicidade de sentidos que caracterizam o mito em todas as
culturas e em todas as épocas, formando, na expressão dos autores, um “acervo comum de histórias” através do qual a humanidade reconhece a si mesma. (CORSO;CORSO, 2006 P.17)
Para as crianças não importa se a história é antiga ou nova, o importante é se reconhecer no personagem, como as crianças ainda não conseguem claramente desvencilhar o imaginário do real o que lhes interessa é compor repertório imaginário para compreender e resolver situações da vida real.
Os contos de fada personificam e ilustram conflitos internos, mas sempre sugerem sutilmente como estes conflitos podem ser solucionados e quais os próximos passos as serem dados na direção de uma humanidade mais elevada. (BETTHHEIM, 1903 P. 34)
As crianças têm bastante interesse nos mistérios, e precisam aprender a lidar com sentimentos como o medo, sentimento esse importante e que muitas vezes nos afasta de perigo. Os contos de fadas nos vêm ajudar a aprender a importância de cada sentimentos os que são considerados “ruins” e após o desenrolar da história vemos com grande apreço os sentimentos “bons”. Como se tornar corajoso sem sentir medo antes?
“O conto de fada é apresentado de um modo simples, caseiro; não fazem solicitação ao leitor. Isto evita que até a menor das crianças se sintam compelida a atuar de modo específico, e nunca a leva a se sentir inferior. Longe de fazer solicitação, o conto de fadas reassegura, dá esperança para o futuro e oferece a promessa de um final feliz”. Estas narrativas ajudam as crianças a reconhecer seu papel na família e no mundo, aprendendo também a resolver seus conflitos íntimos.
Segundo Corso “contar histórias não é apenas um jeito de dar prazer às crianças: é um modo de ampará-las em suas angústias, ajudá-las a nomear o que não podia ser dito, ampliar o espaço da fantasia e do pensamento”.
Conhecer outras histórias nos faz pensar sobre nossas vidas de perspectivas diferentes, algumas histórias trazem consigo temores que carregamos em quantos outras sonhos que nutrimos e assistir a construção desta narrativa como expectador nos ajuda a pensar possibilidades e definir caminhos com mais segurança.
Entre as heranças simbólicas que passam de pais-para filhos, certamente, é de inestimável valor a importância dada à ficção no contexto de uma família. Afinal, uma vida se faz de histórias – a que vivemos, as que contamos e as que nos contam. (CORSO;CORSO, 2006 P.27)
Uma história para conquistar as crianças precisam trazer elementos que a entre-te ia e aguce sua curiosidade, mas para fazer a diferença em sua vida ela dever estimular a imaginação, ajudar no desenvolvimento do intelecto, na compreensão dos seus sentimentos e emoções, reconhecer suas dificuldades e sugerir soluções, da forma que a criança pode aprender no seu nível de compreensão.
Os contos de fadas transmitem algo que as crianças levaram para suas vidas, que lutas e dificuldades são inevitáveis, mas se enfrentarmos com firmeza a
Uma das características dos contos de fada é a existência dos dilemas existenciais, em todos eles temos um problema onde o personagem principal precisa resolver, esse papel é atraente para as crianças que se veem no seus heróis sofrendo com ele nos momentos de suplicio e saboreando a vitória após o desenrolar da trama.
Os personagens dos contos não são dúbios, não são boas e más como somos na realidade, mas essa polarização é dominante para as crianças e isso acompanha os contos de fadas.
Uma pessoa é ou boa ou má, sem meio termo. Um irmão é tolo, o outro esperto. Uma irmã é virtuosa e trabalhadora, as outras são vis e preguiçosas. Uma é linda, as outras são feias. Um dos pais é todo bondade, o outro é malvado.
A justaposição de personagens opostos não tem o propósito de frisar o comportamento correto, como seria verdade para contos admonitórios. (BETTELHEIM, 1903 p.17)
Não é possível definir em que momento o conto trará mais benefícios para a criança, isso não é algo que possamos definir por faixa etária, por exemplo. O único que pode determinar o momento de cada conto é a própria criança, a forma que ela reage emocionalmente consciente ou inconsciente. Se ao contar uma história para a criança ela não se liga ao conto isto quer nos dizer que os motivos ou temais apresentando nesta narrativa falharam em despertar uma resposta significativa neste momento da sua vida. É melhor apresentar um novo conto, ela irá demonstrar qual narrativa se tornou importante para ela por sua resposta imediata ou pela repetição que a criança solicita pelo mesmo título. É perceptivo quando a criança está aprendendo com a história pelo entusiasmo dela com a mesma.
Mesmo que saibamos os motivos pelo qual a criança está envolvidos emocionalmente com a história, devemos deixar que elas continuem vivenciando as experiencias e reações pois o amadurecimento acontece no subconsciente e devemos permitir que ela alcance essa compreensão.
Explicar para uma criança por que um conto de fadas é tão cativante para ela destrói, acima de tudo, o encantamento da estória, que depende, em grau considerável, da criança não saber absolutamente por que está maravilhada. E ao lado do confisco deste poder de encantar vai também uma perda do potencial da estória em ajudar a criança a lutar por si só e dominar exclusivamente por si só o problema que fez a estória significativa para ela. (BETTELHEIM, 1903 p.27)
As histórias fazem parte do arsenal de experiências que auxiliam na vida intelectual das crianças, elas alimentam a imaginação e estimula a fantasia.
Chegará o tempo que a história é substituída por outra, nos adultos conseguimos perceber que a criança perdeu o interesse. Isso só quer nos dizer que os problemas a qual a narrativa respondia foram substituídas por outro onde uma nova história irá aliviar suas angústias e dar lhe prazer.
Como Bettelheim (1903) defende “ao contar histórias de fadas é sempre
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No segundo artigo da LDB temos como finalidade da educação o pleno desenvolvimento do educando, ou seja, a precisamos garantir o desenvolvimento físico, psíquico e emocional das crianças.
A partir das leituras e pesquisas realizada para a confecção deste trabalho pudemos compreender o motivo dos contos de fadas se fazerem presentes até os dias atuais, como encantam até hoje crianças do mundo todo.
Contos de Fadas, este legado que foi construído historicamente por diversas gerações e povos, nos proporcionou o costume de contar e ouvir, de imaginar, de ir em busca do misterioso, de vencer os medos, de se tornar alguém melhor.
A partir das leituras e pesquisa realizadas para a confecção deste trabalho, pudemos compreender que sim, os contos de fadas são importantes para o desenvolvimento intelectual e psíquico das crianças além de favorecer uma relação entre quem o conta e quem o ouve.
A literatura no geral tem um papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças, mas os contos de fada são diferentes, ele transcende e ajuda na resolução de conflitos internos que nem ainda são claros e definidos para as crianças. Este tipo de narrativa consegue se comunicar com a mente consciente, pré-consciente e inconsciente, auxiliando na resolução de problemas universais que ocupam a cabeça de crianças e adultos. Nós devemos auxiliar na medida do possível as crianças nas suas indecisões e angústias, mas de forma indireta, para que eles consigam sobressair destas situações, podemos utilizar os contos como facilitador para esta questão. Pois através deste recurso, as crianças podem se colocar no papel do personagem principal e vencer seus medos e anseios, se colocando no lugar do outro.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5ª ed. São Paulo:
Scipione, 1995.
AGUIAR, V.T. & BORDINI, M.G. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? – literatura infantil e prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 1997.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
BETTELHEIM, Bruno. Na terra das fadas: análise dos personagens femininos (extraído da obra A psicanálise dos contos de fadas). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
BOCK, Ana Mercedes Bahia; FURTADO Odair; TEIXEIRA Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.
CADEMAROTI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CARVALHO, Barbara Vasconcelos de. A literatura infantil: visão histórica e crítica. São Paulo: Global, 1985.
COELHO, Betty. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1994.
COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo: Paulinas, 2009.
COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil. São Paulo: Ática, 1991.
CORSO, D. L. & CORSO, M. Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria & Prática. São Paulo:Ática, 1989.
ESTÉS, Clarissa Pinkola (Ed.). Contos dos Irmãos Grimm. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,1991.
GILLIG, Jean-Marie. O Conto na psicopedagoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,1999.
GOÉS, L. P. Introdução à literatura infantil e juvenil. São Paulo: Pioneira, 1991.
HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. Tradução de Carlos Rizzi. São Paulo: Summus Editorial, 1980.
HISADA, S. A utilização de histórias no processo psicoterápico: uma visão winnicottiana. Rio de Janeiro: Revinter, 1998. HUECK, Karin. O Lado Sombrio Dos Contos de Fada: A origem sangrenta das histórias infantis. São Paulo, 2016
JOLIBERT, J. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª ed. São Paulo: Ática. 2002, p.25.
LAKATOS, Maria Eva. MARCONI, Maria de Andrade. METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTIFICO /4 ed-São Paulo. Revista e Ampliada. Atlas, 1992.
MACHADO, A. M. Como e porque ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro, editora: Objetiva, 2002.
MARICATO, Adriana. O prazer da leitura se ensina. Editora: Crianças. Brasília. S/v, n.40, p.18-26, set. 2005.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. São Paulo: Summus, 1979.
MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens, história e permanência no mundo moderno. São Paulo: Claridade, 2010.
RADINO, G. (2001). Oralidade, um estado de escritura. Psicologia em Estudo, 6 (2), 73-79.
RADINO, G. (2003). Contos de fadas e a realidade psíquica: a importância da fantasia no desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.
ROSEMBERG, Fúlvia. Literatura Infantil e Ideologia. São Paulo: Global, 1989
SARAIVA, J. A (org). Literatura e alfabetização: do plano do choro ao plano da ação. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.