CONTOS DE RUNETERRA Rafael Paes
VOL.1 Recife, Pernambuco, Brasil. 2019
Copyright © 2019 por Rafael Paes
Diagramação Capa Revisão P789
Ithallo Cavalcanti Ithallo Cavalcanti Ithallo Cavalcanti
Rafael Paes Contos de Runeterra / Rafael Paes. 1.ed -- Recife, PE Esta obra é uma produção independente. Copyright [2019] por Rafael Paes Todos os direitos desta edição reservado ao autor da obra e devidamente cedido à Ithallo Cavalcanti. 1. Contos de League of Legends - Brasil 2. Literatura Mundial 3. Fantasia
Índice para catálago sistemático: 1.Contos de League of Legends CDD 868.54 2. Literatua Mundial CDD 852.28 3. Fantasia CDD 609.43
''UM DOIS TRÊS QUATRO..."
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“Um, dois, três, quatro...”
N
um vilarejo em Bandópolis, algum tempo atrás, numa manhã clara e abençoada, nascia um yordle, com pelo castanho, olhos pequenos e determinados, pronto para a vida mais do que todos os seus conterrâneos. Seu nascimento havia sido muito esperado por toda sua família, e, assim que olharam aquela bolinha de pelo, decidiram que seu nome seria Teemo, e que fariam dele o yordle mais feliz de Bandópolis. Com o carinho e os cuidados de sua família, Teemo teve uma infância tranquila, crescemdo depressa, aprendendo e se desenvolvendo com uma velocidade notável, e, durante todo esse tempo, sendo amado, bem educado e instruído, crescendo com princípios, sabendo diferir o certo do errado, e sempre prezando pela justiça e pela segurança dos seus companheiros yordles. “Nunca subestime o poder do Código dos Escoteiros...” Pouco mais que uma criança, inspirado pelos outros Yordles, e sempre disposto a fazer mais por Bandópolis, o jovem Teemo se inscreveu num dos grupos de Escoteiros e Rastreadores, e pouco a pouco foi sendo treinado e notado pelos melhores líderes dos Escoteiros, ali, ele encontrou o seu lugar, evoluindo na hierarquia dos grupos mais rápido do que qualquer outro yordle jamais havia subido. Havia mais de um grupo de Escoteiros em Bandópolis, mas todos eles tinham os mesmos princípios, e tinham como principais tarefas o rastreamento de possíveis ameaças, e o auxílio da comunidade yordle num geral, encontrando cidadãos perdidos nas florestas, interceptando pequenos delitos e cuidando da preservação natural da fauna e flora de Bandópolis. No Código dos Escoteiros, que Teemo seguiu minusciosamente desde que começou a integrar o primeiro grupo dos escoteiros, estão itens como: - Defender os mais fracos; - Zelar pela justiça e pela amizade; - Ir até onde for preciso pelo bem de Bandópolis; - Ser sempre fiel ao código dos escoteiros. Esses e outros itens caíram como uma luva na personalidade altruísta e brávia do jovem yordle, que realizava todas as suas tarefas com agilidade e eficiência fora do comum, provando seu valor e seu comprometimento com os escoteiros. Cada dia mais, yordles superiores observavam seus feitos, e, naturalmente, demorou pouco tempo para que Teemo se tornasse líder de sua 8
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equipe, e poucos anos para que fosse integrante vital no grupo dos Escoteiros da Matriarca, uma das mais distintas classes de escoteiros de Bandópolis, lá Teemo viveu aventuras que tornaram ele um batedor, rastreador e atirador melhor do que quase todos em Bandópolis, até se tornar uma das das autoridades máximas no grupo e, pouco a pouco, construir um nome respeitado e até mesmo temido a cada missão para onde ia, sempre voltando mais rápido e mais forte do que antes. “Rapidamente!” Todos falam sobre a eficiência de Teemo no campo de batalha, mas falam principalmente sobre o estranho hábito de ir sozinho e sempre concluir em tempo recorde as missões designadas para ele, um dos motivos que geraram a fama de ‘lenda’ entre os yordles. Porém, há também algo de obscuro na fama de Teemo, os poucos sobreviventes ao combate contra ele, e os poucos que presenciam suas missões, contam sobre algo estranho nos olhos do yordle, como se a sua personalidade bondosa e altruísta mudasse completamente, dando espaço apenas ao agente especial yordle, implacável e impiedoso, que devasta o campo de batalha sem qualquer remorso, conclui a missão, e volta à Bandópolis livre de culpa e ansioso para a próxima aventura. “...” Poucos yordles, e quase nenhum humano ou inumano sabe o verdadeiro motivo dos hábitos solitários e da fama como assassino impiedoso, os que sabem, contam vagamente a seguinte história: Algum tempo atrás, o jovem Teemo, após ser nomeado líder dos Escoteiros da Matriarca, recebeu uma missão muito especial, numa floresta muito distante de casa. Tudo que recebeu da missão era de que havia um elemento novo, uma substância raríssima, que não poderia cair em mãos erradas, e que estava matando toda a fauna da perigosa selva de Kumungu. Algo em Teemo sabia que essa missão seria diferente das outras, algo dizia que essa seria mais perigosa, mas ele não poderia recuar, estava no código dos escoteiros, ir onde fosse preciso... Decidido, o jovem yordle se preparou de todas as formas que poderia, sempre pensando na segurança da sua equipe e na sua própria, ele procurou por Heimerdinger e até mesmo por Ziggs, os mais brilhantes cientistas da tecmaturgia de Bandópolis, buscando aprimorar os equipamentos habituais dos escoteiros com as avançadas técnicas tecmatúrgicas. Heimerdinger, em sua genialidade, atualizou seus trajes, inbuindo suas armaduras com a tecmaturgia mais avançada que conseguiu elaborar, protegendo não só Contos de Runeterra - Rafael Paes
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dos perigos da maioria das substâncias tóxicas conhecidas, mas também de possíveis ameaças da selvagem fauna local. Ziggs, com muito estardalhaço, fez grandiosos aprimoramentos nas armas dos yordles escoteiros, além de criar uma zarabatana totalmente nova, com tecmaturgia concentrada e um poder de fogo assombroso, tornando o esquadrão de Teemo um dos mais poderosos em armamento de Bandópolis, competindo em poder de fogo até com os famosos ‘fuzinúsculos’ de Tristana. Antes que o líder dos Escoteiros se despedisse, Ziggs também o entregou um outro artefato, algo que, nas palavras dele, deveria ser usado sempre que quisesse curtir uma paisagem insanamente destruída, relutante, o yordle aceitou o artefato, guardando nos armamentos como último recurso. Ainda preocupado com a missão, e, sabendo da dificuldade, ele reuniu em seu pequeno esquadrão apenas os melhores entre os Escoteiros da Matriarca, a maioria deles sendo seus colegas mais próximos, nessa época, Teemo ainda não tinha o hábito de sair sozinho em missões, por isso, decidiu que, ali, se formaria o Esquadrão da Vanguarda, que saiu em missão com aplausos e festas de toda Bandópolis, partindo numa das mais perigosas missões de reconhecimento e coleta que se ouviria falar em Bandópolis por um longo período. Já em Kumungu, depois de um rápido trajeto com seus colegas escoteiros, coisas estranhas começaram a acontecer. Pouco a pouco, os yordles começaram a ver vultos vagando pela selva, em meio a uma névoa de cor púrpura, seus equipamentos ainda estavam completamente selados, e ainda estavam se movendo furtivamente de modo a não serem vistos. O radar de Teemo marcava uma fonte, um ponto onde a névoa tóxica atingia maior densidade naquela selva inóspita, mas, com algum tempo de caminhada, ele mesmo já se perguntava se deveria voltar, ele mesmo já sentia algo diferente na sua consciência, naquele momento, Teemo pressentia... Mas ele não voltou, tudo que ele conseguia pensar era em ir onde fosse preciso, pelo bem de Bandópolis. “Cada cogumelo...” Era quase fim de tarde, quando finalmente o Esquadrão da Vanguarda chegou nas proximidades de uma clareira morta, de aspecto devastado. Tudo naquele lugar parecia ter morrido, as plantas, os animais, até mesmo o ar parecia fúnebre. Esqueletos e restos mortais dos mais variados podiam ser vistos por toda parte, e uma coisa em particular tornava toda aquela paisagem mais estranha do que já era, os fungos. Eram pequenos fungos de cor púrpura que pulsavam 10
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como se estivessem conscientes, liberando pequenos esporos a cada pulsação, que flutuavam e depois tornavam a se juntar ao fungo, como um animal respirando. - Vanguarda, em posição! - disse Teemo, sabendo que a curiosidade dos yordles muitas vezes era maior que o seu bom senso. Era tarde, naquele momento, ocorreu o evento mais doentio da história dos yordles até então. Quando aqueles membros do grupo tocaram em um dos cogumelos, foi sentida uma pulsação violenta e toda a névoa venenosa e sombria se reuniu num gigantesco cogumelo negro e púrpura, que aspirou todos aqueles esporos. Durou cerca de cinco segundos, mas o tempo é relativo para todos que estavam naquele lugar, naquele momento, poderiam ser minutos, horas, ou o tempo necessário pra se passar uma vida inteira diante dos olhos. De repente, o cogumelo expirou, numa violenta lufada de ar tóxico, enquanto isso, todos os outros pequenos fungos, que pareciam conectados ao maior, fizeram o mesmo, com tanta violência que se tornaram pequenas bombas, explodindo e disparando ar tóxico e líquidos corrosivos em tudo o que tocavam, e o caos começou. Os três primeiros yordles tiveram suas armaduras e peles completamente liquefeitas pelo ácido líquido derramado diretamente neles, eles sentiram a maior dor que um yordle poderia imaginar, e Teemo viu três dos seus melhores amigos destruídos, cegos pela dor, correndo sem rumo e emitindo sons que perturbaria até o yordle mais perverso. Outros cinco yordles tiveram suas armaduras rompidas, e, ao aspirar a fumaça tóxica dos esporos, enlouqueceram, retiraram as armaduras e entraram num frenesi doentio, soltando risadas, choros em soluços, mordendo uns aos outros, e a si mesmos, copulando com os companheiros mortos e brincando com suas vísceras, até finalmente morrerem intoxicados. Teemo estava completamente paralizado, seja pela fumaça entrando em sua armadura rompida, seja pelo estado de choque em que se encontrava vendo tudo que estava acontecendo, quando por fim, os últimos amigos de Teemo, que derramavam lágrimas aos montes ao ver toda a cena, olharam para o líder do Esquadrão da Vanguarda, fizeram um último gesto de continência ao líder, olharam nos olhos dele, e retiraram as máscaras de proteção, não suportando ver o que tinham visto e aceitando a mesma morte que seus companheiros tiveram e repetindo o show de horrores em maior escala.
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“Uma vítima...” Teemo estava ali, sentado, com uma dor mais profunda do que qualquer alma suportaria, nunca saberia calcular quanto tempo durou aquele massacre, só sabia que não havia mais motivos pra viver, ele havia falhado, o pesar corrompia o seu coração brávio e bondoso. Os escoteiros haviam seguido Teemo naquela missão, porque ele pediu pessoalmente a eles, aos seus amigos, e ele não pôde fazer nada, enquanto o veneno penetrava nas veias dele, ele sentia dor, uma dor brutal que destruía cada parte do seu corpo, ele sentou... E esperou... “Deeh, deh, deh deh deeh...” Nas profundezas da floresta de Kumungu um silêncio fúnebre pairava, nada naquela selva vivia, porém, um ruído leve ecoava pela selva, rangindo e crepitando cada vez mais rápido e brutal, na clareira onde uma tragédia aconteceu para um grupo de Yordles. Estava lá, de pé, um ser humanoide, maior do que qualquer um de sua espécie, de focinho longo e dentes imensamente protuberantes saindo pra fora de sua pequena boca. O crepitar vinha desses dentes, que destruíam com ferocidade uma carcaça morta que, para o ser, era motivo de enorme prazer, ele comia com volúpia aquele pequeno crâneo, após sua bizarra refeição o ser foi embora, meio corcunda, se esgueirando pelos locais mais escuros, aspirando o chão com vontade em busca de algo... - Mas pera aí... - a voz fina, curiosa e esganiçada saiu lentamente. Ele ouviu algo naquele ambiente que não estava morto ainda, pelo contrário, algo que estava muito vivo... Humm, comida! Como uma sombra o rato gigante simplesmente desapareceu na escuridão, e numa velocidade assombrosa ele entrou numa pequena gruta de onde vinha o único vestígio de ser vivo em toda aquela extensa floresta, enquanto seus dentes ainda crepitavam com pedaços de pequenos crânios ele parou um segundo de mastigar, e presenciou uma cena capaz de trazer compaixão até a um ser tão asqueroso. Ali, estava Teemo, o último integrante, e capitão, do Esquadrão da Vanguarda, ele estava deitado no chão, dois cadáveres Yordle estavam ao seu lado, pelo vestígio de carne e sangue, o pequeno havia arrastado seus aliados até aquela gruta, com um fio de esperança que não durou muito tempo. Seu corpo não parecia tão ferido, além de algumas escoriações leves, 12
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e bastante carne decomposta por cima dele, ele parecia bem, a única coisa que protegia sua pele era a fina camada de pelos claros em alguns lugares e ruivo em outros. Para aquela ratasana gigante, era estranho ver alguém que estivesse numa floresta como aquela e ainda estivesse vivo, achou curioso, e ainda tinha algo mais, os olhos dele, tinha algo estranho na forma fixa e bizarra que ele encarava aquele predador desde que ele entrou na gruta. Teemo tinha olhos fixos, e uma espuma estranha e púrpura saindo de sua boca, mas ele não parecia incomodado com ela, só continuou olhando... O rato parou um minuto para observar, mas pouco tempo depois decidiu... - Comida é comida... Quanto o predador pensou em acabar com o sofrimento do Yordle e realizar um banquete ali mesmo, o olhar de Teemo mudou, o perigo no ar se tornou tão palpável quanto gelo verdadeiro para ele. O rato deu um passo, e subitamente ele não enxergou mais nada, sentiu uma resina quente e corrosiva em seus olhos, o cheiro era igual ao de toda aquela selva, só que mais forte, impregnou o nariz e os olhos do roedor, ali, da forma mais bizarra possível, se formaria um laço de amizade que duraria por bastante tempo. Ainda cego, o rato parou, totalmente desprovido de sentidos, de forma calma e já acostumado com substâncias perigosas, sentou, e ouviu que o Yordle sussurrava palavras de forma lenta e em ruídos quase indestinguíveis: - Vá embora, criatura, se não quiser perder muito mais que a visão... O Yordle sabia que o rato escutaria, e ainda estava com os mesmos olhos aterradores fixos na criatura, enquanto o roedor tentava se lembrar de onde havia vindo aquela seiva pegajosa, forçou sua memória e lembrou da cena antes de decidir se esbaldar na carne daquele pequeno Yordle, observou tudo, e reparou que não tinha dado muita atenção às mãos dele, o rato era muito experiente em lidar com todo tipo de pessoa o querendo morto, mas, naquele momento, ele se descuidou, e só depois percebeu que as mãos do Yordle estavam sangrando, corroídas com a mesma seiva púrpura e pegajosa que agora está no seu rosto... - Quanto tempo isso dura? - perguntou o rato gigante, polidamente. - Quem sabe? Talvez para sempre... - respondeu num sussurro o Yordle. - Vai me matar? - perguntou o roedor. - Não, já matei o bastante por hoje... - o pesar na voz de Teemo crescia. - A propósito, meu nome é Twitch. - ... Teemo...
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“Vou reportar primeiro!” Um dia se passou com Twitch e Teemo naquela gruta, conversando poucas palavras, o rato gigante falou sobre sua história difícil e brutal nos esgotos de Noxus, o pequeno Yordle, sofrendo efeitos colaterais fortíssimos dos venenos de Kumungu, contou, com certa frieza, como era a vida em Bandópolis, e o motivo de terem adentrado aquela floresta. Twitch sentiu que não valeria a pena comentar sobre os corpos dos aliados de Teemo que ele havia, por ventura, encontrado na clareira e devorado de forma impiedosa. O capitão do Esquadrão da Vanguarda estava completamente diferente do que sempre foi, seus olhos estavam vazios, a gosma púrpura que saía da sua boca parou de escorrer, e pouco a pouco ele parecia se sentir mais recuperado de tudo que ocorreu, de alguma forma, a biologia daquele pequeno Yordle, aliada à sua força de vontade insuperável, fez o corpo do escoteiro se adaptar perfeitamente a todas aquelas substâncias tóxicas, Teemo não era mais o mesmo, não só seu corpo... Sua mente havia mudado, e, de alguma forma, o antigo e bondoso Teemo lutava internamente com pensamentos que surgiam e infectavam a sua mente da mesma forma que aquelas substâncias infectavam pouco a pouco o seu corpo, até que em certo momento, enquanto seu companheiro de caverna dormia, o yordle começou a fazer conjecturas consigo mesmo. - Heimerdinger estava errado, a armadura não nos protejeu... Mas como ele poderia saber? Ninguém sabe... Ninguém sabe... - Eles não sabiam, eu não sabia, não tinha como saber, e não fomos nós, a Vanguarda estava em posição! - Não fomos nós... Algo na mente de Teemo o levou de volta até todo aquele show de horrores em que ele presenciou no momento em que aquele imenso fungo exalou seus esporos tóxicos, e percebeu a luz, um breve e incrivelmente veloz rastro de luz que havia passado por aquela cena, e havia deixado a copa das árvores cintilantes, enquanto deixava parte daquele brilho cair no pelo do yordle, que observava a cena paralizado. - Não, não fomos nós, o brilho, foi aquilo, a Vanguarda estava pronta... - Do que está falando? - Twitch se ajeitava ainda encostado em uma das paredes da caverna. - De nada... Preciso voltar à Bandópolis, preciso reportar tudo o que aconteceu com a Vanguarda, e fazer meu relatório. - E eu? 14
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- Você só precisa dos seus ouvidos para sair dessa selva, mas preciso pedir um favor... Preciso que nunca mais volte à Kumungu, e que não compartilhe com outras pessoas o que você viu e sentiu aqui. - A voz do yordle parecia ter ganhado a força que nunca tivera. - Compartilhar? O que é isso? - O rato gigante sorriu, enquanto se ajeitava para começar sua jornada. - Ótimo, você pode me seguir até fora dessa floresta, e depois disso, está por sua conta. - Está bem... Hora de ir... - Mais uma risada, e rapidamente Teemo estava fora da caverna, e Twitch estava em seu rastro. “Bons soldados morrem... Eu escolhi viver!” A viagem não demorou muito, rapidamente o líder dos Escoteiros da Matriarca e o seu novo amigo, se é que poderia ser chamado assim, saíram da selva de Kumungu, e, depois de algum tempo caminhando juntos, nem Teemo, nem Twitch saberiam dizer ao certo quanto se separaram. Não houveram despedidas, e também não houve uma amizade real. Twitch já estava bem melhor da seiva que havia grudado em seus olhos e em seu nariz, enquanto Teemo havia guardado parte da substância tóxica à qual havia sido exposto em um recipiente, perto do dispositivo que Ziggs havia guardado para ele. Antes de sair da selva, Teemo percebe que os vultos que ele e o Esquadrão da Vanguarda observaram na selva eram mais do que apenas alucinações. Com fome, ainda fraco, mas incrivelmente consciente do ambiente ao seu redor, Teemo percebeu um segundo antes de pisar em uma armadilha, e pressentiu o perigo que estava por vir. Como se ele jamais houvesse feito nada além disso na vida, em um salto o yordle fugiu das garras de um Kiilash, um habitante da selva de Kumungu, uma espécie de humanoide felino incrivelmente grande e feroz, e com um reflexo inconsciente, a zarabatana equipada com o melhor da tecmaturgia estava em mãos, e rapidamente Teemo disparou um dos dardos que haviam sido preparados com toxinas paralizantes, mas, para sua surpresa, o dardo não paralizou a fera que buscava pela carne e sangue do jovem Yordle, mas a substância misteriosa que passou a conter naturalmente na saliva se espalhou como uma nuvem de esporos no pelo e no rosto da fera, privando a criatura de praticamente todos os sentidos. A criatura, agora cega, meio surda, e sem olfato, correu desesperada pela selva, buscando abrigo, mesmo sem entender o que estava acontecendo, mas quando bateu em um tronco largo Contos de Runeterra - Rafael Paes
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de árvore, e caiu no chão, já era tarde. Teemo apareceu, subitamente, bem ao lado da fera, como se já estivesse ali todo o tempo, e já soubesse onde seu inimigo iria terminar. Ali, o escoteiro percebeu que vencer não era o bastante, ele precisaria garantir que aquela criatura não pudesse machucar nenhum yordle que atravessasse aquela selva novamente, e em um movimento rápido, e frio, muito frio, Teemo regulou o dispositivo que Ziggs havia entregue, e imbuído com a mesma substância tóxica encontrada em sua zarabatana, prendeu o dispositivo na enorme barriga do seu predador, que agora era sua presa. E saiu. Alguns minutos de caminhada depois, e uma nuvem de esporos púrpura surge ao céu, e, nesse momento, uma sensação estranha, de êxtase surgiu no coração de Teemo, antes puro e essencialmente bom, mas, agora, profanado com algo a mais, um estranho e sórdido prazer em concluir a missão. “Um escoteiro está sempre alerta!” Já em Bandópolis, os outros yordles que receberam Teemo dizem que ele não parecia ele mesmo ao chegar, o que mudou completamente após uma boa noite de sono em Bandópolis. Ele recebeu todo o atendimento dos curandeiros que poderia precisar, embora seu pequeno corpo estivésse estranhamente saudável, até melhor do que a maioria dos yordles comuns, e, depois da grande noite de sono, o líder dos Escoteiros da Matriarca foi recebido oficialmente com honras, como o último sobrevivente do Esquadrão da Vanguarda, e, em seu relatório, ele reportou tudo o que havia ocorrido em Kumungu com a estranha sensação de ter visto os acontecimentos de longe, como se ele apenas observasse enquanto tudo acontecia desde que aquele grande fungo liberou aquela toxina, até o momento em que acordou, já em Bandópolis. Alguns dias depois, depois da cerimônia onde ele foi nomeado como autoridade máxima entre os escoteiros, e como um dos maiores heróis em Bandópolis, o pequeno yordle ainda foi visto visitando o laboratório de Heimerdinger, em Piltover, para a análise e desenvolvimento de tecmaturgia através da substância encontrada em Kumungu, e também tratou de visitar Ziggs, para pedir ajuda com um projeto particular, do qual ele nunca falou em público. Algum tempo se passou, e tanto Twitch, quanto Teemo terminaram não esquecendo aquele dia na caverna, e, a partir desse dia, todas as missões para as quais Teemo foi designado foram realizadas apenas por ele, e ele nunca mais montou uma equipe, embora candidatos não faltassem entre os escotei16
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ros mais dedicados de Bandópolis. Ainda algum tempo após o incidente em Kumungu, os yordles mais próximos de Teemo dizem que é um milagre que ele não tenha morrido, e que ele tenha voltado a ser o mesmo yordle feliz, bondoso, e totalmente dedicado ao Código dos Escoteiros. Mas em sua base de operações, onde Teemo passa a maior parte do tempo, avaliando missões e cuidando da segurança de Bandópolis e dos yordles, ainda pode ser visto uma caixa com tecmaturgia avançada, vinda diretamente de Piltover, além de equipamentos e estranhos artefatos, todos selados com uma inscrição: Projeto Omega.
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''antes das chamas..."
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“Cinzas, cinzas, todas elas caem...”
O
s gigantescos muros de Noxus estavam quase fora de vista, quando Gregori, e Amoline chegaram até uma pequena clareira, onde encontraram uma pequena casa de madeira, de onde a guerra já havia levado todos os habitantes, quer tenha sido pelo número de mortes expressivo do último confronto entre o império noxiano e a resistência de Ionia, quer tenha sido pelo medo das próximas guerras, que levavam os plebeus de Noxus cada vez mais para longe da grande nação. Nada disso importava. Desde que os primeiros sinais da gestação de Amoline chegaram, Gregori se preparava para encerrar todas as suas atividades e conexões com a alta sociedade de Noxus, e decidia que, pacificamente, de modo que não fosse mais procurado, iria embora da capital, para, enfim, formar uma família. O lugar era pequeno, e precisava de muito trabalho para parecer um lar, mas trabalho nunca foi um problema para Gregori e Amoline, e, rapidamente, enquanto consumiam as últimas provisões que haviam preparado para a viagem, terminaram por tornar aquele lugar um lar. A habilidade de Gregori com marcenaria e outras técnicas de construção e projetos de delimitação de terras foi de grande uso para o casal, enquanto Amoline, uma bruxa razoavelmente poderosa, que dispunha de uma forte conexão com a natureza, encontrou e fez crescer ervas, frutos, e realizou outros sortilégios para que os locais de caça fossem sempre abundantes, garantindo uma vida tranquila, mas razoavelmente confortável. Também versado em magia, Gregori, a fim de evitar que Amoline se esforçasse demais enquanto sua barriga se tornava maior a cada mês, ficou responsável por erigir as barreiras mágicas que seriam necessárias para evitar monstros, da noite, e os monstros da cidade, os quais ambos compreendiam como muito mais perigosos. Era simples, bonito, aconchegante... Era um lar. Amoline e Gregori viveram meses felizes, muito felizes, e por algumas semanas até sentiram falta do ar pesado, e do barulho de lâminas sendo afiadas na parte onde moravam da grande cidade, mas logo esses ruídos eram apenas memórias distantes, abafados pelos pássaros, e pelo barulho do lago que corria rapidamente em frente à casa na clareira. Era um lugar feliz, e a gestação de Amoline estava evoluindo muito depressa, até mais do que eles esperavam. Tudo já estava pronto, o quarto do bebê que chegaria estava completamente decorado com os mais variados brinquedos feitos com madeira, lã, e outros materiais encontrados na natureza, eventualmente Gregori ainda saía em seu Contos de Runeterra - Rafael Paes
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manto cinzento para cuidar de assuntos ainda não resolvidos em Noxus, e também negociar mantimentos mais refinados, que eram necessários para abastecer a dispensa poucas vezes a cada mês. No fim da gestação, Amoline se tornou um pouco mais quieta, sempre bastante cansada, e tudo indicava que as últimas semanas de gestação seriam as mais difíceis, com os incômodos comuns em gestantes drenando grande parte da alegria da bruxa, que nem mesmo sentia vontade de entoar sortilégios para que as ervas crescessem. “A gente já chegou?” Era inverno, um inverno incrivelmente frio onde as criaturas de caça estavam aparecendo com cada vez menos frequência, e as ervas e arbustos de frutas já não eram mais que galhos secos cobertos de neve. Com as constantes nevascas que surgiam duas ou três vezes por semana, ir até a grande cidade era um risco que Gregori não poderia mais correr, especialmente com o estado de saúde de Amoline, que se tornava mais frágil a cada semana, a cada dia. Algum tempo atrás, quando a casa na clareira era apenas um local abandonado, e o casal estava desbravando as terras que iam além dos Montes Ferrifarpos, ouviram os contos dos aldeões sobre os grandes ursos sombrios, criaturas imensas, ferozes, que protegiam aquelas terras, e que sumiram há muito tempo atrás, se tornando parte das histórias contadas pelos moradores, que, volta e meia, tornavam a enxergar vultos e ouvir ruídos estranhos vindos das partes mais fechadas da floresta. Amoline adquiriu um grande fascínio por essas criaturas, que, de acordo com ela, eram apenas espíritos guardiões que, por conta da ignorância dos habitantes sobre esse tipo de criatura mágica, eram mal compreendidos, e, consequentemente, temidos, sempre deixando claro, quando o assunto era mencionado, que ela se sentia muito mais segura perto dos espíritos guardiões do que na cidade, entre os noxianos, que apunhalariam nas costas seus melhores amigos se isso fosse lhes conceder um pouco de prata, ou um título melhor entre os nobres. No fim da gestação, Amoline passava longos momentos sentada em frente à lareira que Gregori havia construído às pressas para sobreviverem ao severo inverno que estava por vir e a única coisa que restava fazer, com o pouco de energia que tinha, era exercer a velha técnica que Amoline aprendeu ainda criança, com a mãe, de confeccionar animais de pelúcia. Gregori, a pedido de sua esposa, rapidamente reuniu alguns materiais pela casa que fossem ideais para que ela pudesse se entreter um pouco, e talvez até retomar o ânimo que 20
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ela sempre teve, esquecendo as dores e os pesos da gestação, e rapidamente Amoline começou a trabalhar, e também se sentir melhor enquanto confeccionava um presente para o bebê que ainda nem havia chegado. A pequena casa resistiu muito bem, o frio e a neve castigavam a paisagem no lado de fora, mas, por dentro, a casa estava quente, confortável, e tanto Gregori, quanto Amoline haviam reunido provisões mais do que suficientes para resistir ao longo inverno. A habilidade de ambos em magia também ajudou a manter o fogo acesso sem precisar reunir tanta lenha, e a manter a comida preservada sem precisar de tanto sal, como os outros habitantes daquela região precisariam. - Meu bem, você pode me trazer aquele seu manto cinza? - Amoline balançava em sua cadeira enquanto se aquecia em frente à lareira. - Claro! Mas espera... Você vai usar o manto para costurar!? - Gregori se sobressaltou, era um manto bastante valioso. - Não, não, seu bobo, só preciso de um botão, e estará pronto. - Nesse caso, aqui está. Mas por favor só um botão! - disse Gregori preocupado - Quando eu for novamente até Noxus comprarei mais material, não imaginei que gostavas tanto de costurar, se soubesse teria conseguido um estoque de materiais antes do inverno. - Apenas mais um botão... - Amoline comentou distraída, enquanto já costurava o botão recém removido na pelúcia. Gregori estava pondo a mesa do jantar, quando ouviu um grito que congelou seu coração por alguns instantes, mas depois inflamou a cabana inteira. Amoline gritava dizendo que era a hora, e que a criança iria nascer, e tudo já estava pronto, mas ao mesmo tempo cada preparativo não era o bastante para todas as sensações que ambos estavam sentindo naquele momento. Amoline escorregou da cadeira ao piso da cabana, em frente à lareira, e empurrou a cadeira para longe, derrubando ela, e a pequena pelúcia que ela havia acabado de terminar. Rapidamente Gregori trouxe um recipiente de barro com água e um pouco de neve para gelar a água, e também as toalhas de lã que haviam preparado para quando chegasse a hora. Amoline estava se esforçando para reunir as últimas forças que restavam nela para respirar, e para empurrar o bebê, que parecia querer nascer mais do que tudo no mundo, tudo aconteceu muito rápido, mas para Amoline, Gregori, e o bebê, pareceu ter passado uma eternidade em poucos minutos. Amoline era uma mulher forte, ela sabia que Contos de Runeterra - Rafael Paes
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precisaria fazer o que fosse, e resistiu à dor mais do que qualquer outra pessoa poderia, seu corpo ardia em uma febre inacreditável, e Gregori não sabia mais como ajudar, apenas trocava as toalhas molhadas e segurava a mão de Amoline, lembrando o quanto ela era forte, e o quanto ele a amava, e tudo aconteceu, como se tudo estivesse pronto para acontecer, a febre de Amoline cedeu, e aquela pequena pessoa, a preciosidade de Gregori e Amoline, estava ali, nos braços do pai, enquanto a mãe respirava aliviada, ao lado da pequena pelúcia, um pequeno urso, que protegeria aquela criança de todo o medo, assim como os ursos sombrios protegiam aquela selva de quem tentasse profanar seu território. - Meu amor, é a nossa pequena, uma pequena menina, ela é tão pequena... Gregori disse, e não conseguia conter as lágrimas. - A nossa pequena Annie... Meu bem... - Amoline falou em um último esforço, exalando um longo suspiro, e sorrindo, antes de adormecer, exausta. - A nossa pequena Annie. - Gregori repetiu, enquanto usava um outro recipiente de barro cheio de água, dessa vez morna, para banhar sua filha pela primeira vez. “Qual o seu animal preferido? É um urso?” Tudo correu bem, algumas horas de descanso depois, Amoline acordou, e Gregori estava à sua espera, segurando a filha bem perto aos longos cabelos escuros da mãe. A primeira visão que Amoline teve quando acordou foi a de sua filha, olhando para ela com seus grandes olhos castanhos, com a pele clara como a da mãe, e os cabelos ruivos, exatamente como os do pai, aquele era o pequeno milagre que eles fizeram juntos, e, a partir daquele momento, nada mais importava na vida de Amoline, e ela sabia que Gregori tinha exatamente a mesma sensação. Foi como se no momento em que Annie veio ao mundo, algo completamente novo tivesse despertado no coração dos dois, e ali, eles perceberam que realmente eram pais, que estava acontecendo, e que fariam o possível para que sua filha pudesse ser tão feliz quanto fosse possível. Como se uma magia antiga estivesse pairando pela casa, Amoline se recuperou em pouquíssimos dias e o inverno, que já havia se tornado muito mais ameno, finalmente terminou, e deu lugar a uma linda manhã de primavera, e rapidamente as coisas voltaram aos eixos na pequena cabana. Amoline e Gregori decidiram revezar entre quem olharia a pequena Annie, enquanto ela brincava no seu berço com o seu novo mascote, o urso de pelúcia ao 22
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qual Amoline deu o nome de Tibers, e quem cuidaria dos afazeres diários, na pequena horta, que estava cada vez maior, e nos reparos da pequena cabana, além do preparo da comida, que Amoline sempre insistia para que Gregori cuidasse, sempre muito ávida por experimentar os pratos exóticos que ele fazia com os ingredientes mais incomuns. O plano de revezar deu errado da melhor maneira possível, nenhum dos dois conseguia ficar muito tempo sem aninhar a pequena Annie em seus braços, e também sempre preferiam fazer tudo juntos, e até construíram um berço externo para quando fossem cuidar da horta, e Annie adorava passar cada minuto do dia brincando com seu Tibers, e olhando enquanto seus pais cuidavam dos afazeres, e foram plenamente felizes durante todos os meses que se passaram, cada dia inventando novas brincadeiras para entreter Annie, que era uma plateia bastante exigente. “Você não pode vir para o chá do Tibers.” As primeiras memórias de Annie se formaram em um dia de verão chuvoso, em que ela estava abraçada com o seu Tibers, no colo de sua mãe, Amoline, balançando na velha cadeira enquanto olhavam para a lareira, que havia sido acesa para espantar o frio que estava fazendo naquela noite chuvosa. As chamas crepitavam, e sua mãe entoava uma canção que Annie não conseguia entender, mas que fez a pequena se sentir tão protegida, e ao mesmo tempo tão aquecida ali no colo de sua mãe. Os cabelos longos de Amoline caiam pelos ombros e faziam um pouco de cócegas no rosto de Annie, que nem se importava, abraçava o Tibers mais forte, e dava pequenas risadinhas de vez enquanto, enquanto Amoline acariciava gentilmente seus cabelos ruivos. Annie olhou para o lado, e viu que seu pai estava cochilando em uma outra cadeira, enquanto ouvia Amoline cantar, e, naquele momento, Annie sentiu todo o amor que poderia sentir, como uma fagulha dentro de si mesma, que percorria seu corpo, e terminava na ponta dos seus dedos. Essa felicidade plena de Annie a preencheu de tal forma, que seu corpo não era capaz de suportar o calor que ela sentia, e, alguns meses após as primeiras palavras de Annie, que já havia aprendido a pedir pelo seu Tibers, e também aprendido o nome do pai e da mãe, em um dia de verão, um verão tão severo quanto aquele inverno em que Annie nascera, Gregori estava junto com ela, para uma soneca da tarde, e, durante o anoitecer, quando Amoline entrou na cabana, sentiu um ar quente saindo da casa, e abriu as janelas, para que pudesse circular um pouco de ar fresco, mas, quando ela foi até o quarto, Contos de Runeterra - Rafael Paes
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despertar Gregori e Annie, ela percebeu que ambos não acordavam, e ardiam em febre. Amoline usou o pouco de magia elemental que conhecia para resfriar a água de um recipiente que ficava próximo à cozinha, e levou esse recipiente com muito esforço até o quarto, junto com algumas toalhas. Rapidamente ela umedeceu as toalhas com a água fria, tentando diminuir a temperatura de Gregori, e também de Annie, mas ambos pareciam cada vez mais e mais quentes, e Amoline sabia que não resistiriam, especialmente sua filha, que já estava tão quente que Amoline já não resistia ao toque quando tentava abraçar a pequena. Naquele momento, sem saber o que fazer, Amoline apenas cantou uma última vez o canto que sua mãe havia ensinado, deu um beijo na testa de sua filha Annie, e também um beijo na testa do seu Tibers, e pôs ela no berço, para descansar. Depois disso, Amoline ainda foi até Gregori, na cama, e beijou seus lábios carinhosamente, enquanto cobria o homem, que tremia de frio. Foram as últimas coisas que Amoline fez antes de sair da cabana, e ela sabia que não poderia voltar. Próximo da pequena cabana, na floresta, Amoline entoou um antigo ritual que havia aprendido com os aldeões locais, e em um misto de desespero e pesar, ela convocou os ursos sombrios, eternos guardiões daquele lugar, para um acordo. Ela conhecia criaturas protetoras, e sabia que, muitas vezes tudo que precisavam era de companhia, de alguém para canalizar seus poderes, e quanto mais forte a fonte de magia fosse melhor. Amoline não era uma das maiores bruxas em Noxus, como seu maior desafeto, LeBlanc, era. Porém, ela tinha poder o bastante, e fez uma troca. Em troca de dar tudo que ela tinha, e tudo o que ela era, para os ursos sombrios, e proteger aquelas florestas para sempre, um deles protegeria a sua pequena Annie, e a livraria das garras da morte por essa vez. O ritual foi feito, e após Amoline desaparecer na floresta, para sempre, subitamente um vento forte varreu os arredores da casa na clareira, e entrou em cada canto da casa, encontrando Annie, e o seu Tibers no berço, à beira de um colapso pela alta temperatura. Ali, o vento soprou, e o corpo de Annie esfriou, não o bastante para que ela sentisse frio, mas o bastante para que a febre passasse, e ela pudesse dormir bem, ouvindo sua mãe cantar uma última vez.
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"GuardiĂŁs estelares..." GuardiĂŁs Estelares (foto)
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“A Estrela Roxa, Hanna”
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pessoa em quem ele mais confia é em seu melhor amigo, Akinori o qual é seu braço direito. Atualmente Eduard está cursando o 2º; ano do Ensino Médio possuindo 17 anos, seus amigos e companheiros de equipe o amam, mas uma grande parte da grande escola de Valoran o odeia. Sua estrela começou a brilhar em seu momento de dificuldade, Eduard voltava da escola quando um bando de ridículos da faculdade vieram o assaltar, com um grito de fúria uma luz pairou sobre Eduard, onde sua roupa mudou: Seu cabelo preto criou uma faixa roxa (De fato, maravilhosa) Que começava de sua orelha esquerda e ia até o começo direito de sua testa, seu uniforme mudou para uma roupa branca com detalhes roxos e uma estrela surgiu na região de seu pescoço. Ele possui um familiar chamado Yaki, um coelho com a pelagem branca e roxa na região de sua cara onde seus olhos brilham em tom roxo. Yaki ama ficar preso no antebraço de Eduard, Yaki, de fato um pouco estressado mas um verdadeiro amorzinho com Yuki, o familiar de Akinori. Eduard controla a pura magia, extraindo toda sua força da luz das estrelas mas por alguma razão sua força parece ser em tons escuros. “A Estrela Verde” A estrela de Akinori começou a brilhar em um momento de pura vergonha de Akinori, provavelmente essa é a causa de sua timidez extrema. Akinori apresentava um trabalho de artes ao pátio da escola que por pura lógica estava lotado, e na hora de fazer a parte de seu movimento, Akinori teve uma queda onde todos começaram a vaiá-lo e a rir de sua cara e até mesmo Lucas, um membro de seu grupo atualmente. Akinori depois de se sentir extremamente humilhado e ridicularizado começou a correr em direção a área mais isolada da escola onde costumava ir observar as estrelas e seu amado Ezreal a distância. Ao chegar ao topo do local, uma luz Banhou Akinori onde sua roupa transformou se em um colete de mangas curtas (regata) e uma camiseta de manga comprida surgiu por baixo de seu colete, uma bermuda que ia mais ou menos até a altura do joelho e uma meia que ia até sua canela com um tênis branco e azul claro bem de pouquinho, seu cabelo ficou loiro claro e seus olhos verdes. O Familiar de Akinori é Yuki, uma tartaruguinha que fica preso em seu cabelo na maior parte do tempo, Yuki e Yaki tem um relacionamento I-N-C-R-Í-V-E-L. O Principal poder de Akinori são os seus dons curativos que são emanados por um livro.
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“A Estrela Vermelha, Hanna” A Estrela de Hanna começou a brilhar em um dos piores momentos de sua vida, com o desaparecimento de uma luz em seu interior ao perder seu irmão que era extremamente parecido com Shiron, e ainda por cima o melhor amigo de Shiron. Sua roupa tornou-se em um smoking branco e vermelho, com sua estrela na região de seu ombro esquerdo, seu cabelo se tornou em um rabo de cavalo lindo em tom ruivo. Ela entrou em uma profunda depressão e um grande medo de ser abandonada por tudo e todos. Mas com seus amigos esse trauma é superado de pouco em pouco. “A Estrela azul, Shiron” Bem, Shiron tem em sua personalidade traços como, a Impaciência, o rancor e o humor. Depois que seu melhor amigo Yusha morreu, o irmão de Hanna, Shiron se tornou uma pessoa fechada e no geral com uma ‘’máscara’’ perante a sociedade, apenas se abre para sua melhor amiga que se tornou Hanna, já que ambos sofreram pela mesma perda. Seu brilho foi no momento da perda de seu melhor amigo. Assim que Shiron soube da perda, entrou em uma profunda tristeza e sofreu durante meses de forma calada, até que em um dia uma luz o banhou o transformando em um Guardião da Luz Estelar, seu uniforme é baseado em um cabelo divido em 2 cores, o Azul Claro e Escuro, com uma máscara branca com um rosto que está constantemente sorrindo e com uma roupa de forma elegante e com um modelo vitoriano em tons Azul e Branco. Seu familiar é Capy, uma carpa adorável que ama brincar com Aysha e ficam horas e horas em frente ao lago da cidade brincando. Sua arma é uma foice capaz de trazer a tristeza a todos que toca os enfraquecendo e o deixando vulnerável. Ao contrário de Hanna, Shiron parece nunca conseguir superar a perda de Yusha. Ele está cursando atualmente o primeiro ano e parece não ter muita afinidade com o capitão da equipe. “A Estrela Rosa, Lucas” Lucas, um garoto do 2º ano do ensino médio que tem sua personalidade focada em ser Impulsivo, persistente a ponto de ser insuportável e também é uma pessoa gentil com quem conhece. Ele tem um grande atrito com o membro do grupo, Akinori devido ao fato de ter o ridicularizado no momento de sua queda no trabalho de artes. Ele porta a estrela de seu falecido antecessor, Yusha. Sua estrela brilhou em um momento extremamente banal, ele estava em uma Contos de Runeterra - Rafael Paes
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fila para comprar seu novo Smartphone quando viu que alguém passou em sua frente, seu cabelo cresceu até a altura da cintura em um tom branco, ele ganhou ombreiras em tom rosa choque e uma calça branca com detalhes em estrelas rosas. Sua estrela fica localizada em seu umbigo, que fica destacado no meio de sua roupa. Seu familiar é a ‘’adorável’’ Nijhi, uma serpente rosa com uma estrela na parte superior de sua cabeça. O principal poder de Lucas é mexer com o psicológico de seus inimigos, podendo fazer com que eles revivam o pior momento de sua vida ou coisas do tipo. ‘’- Meu deus, isso tá tão ruim que até mesmo meus olhos sangram’’ “A Chegada de um fim” Eduard estava em uma aula de química com sua professora mais odiada, Mr Ostrich (sim, avestruz) e pensando longe, devido ao fato de sua matéria favorita ser história, tudo em que ele pensava era se o fatídico evento que ocorreu a 4 anos atrás poderia vir a ocorrer novamente. Lucas que percebeu o comportamento de Eduard disse Lucas : Hey, o que foi? Está pensando no Yusha de novo? Eduard : Não, nada, não foi nada. Lucas: Eu te conheço, ele ja se foi, e nós conseguimos impedir a chegada dela em Valoran, não se preocupa, com o nosso poder angelical investido em nós pela primeira estrela, se ela voltar acabaremos com ela de novo! Eduard : Você sabe que não acabamos com ela Lucas, você sabe que ela vai voltar.- Disse Eduard, voltando a ficar cabisbaixo Enquanto isso na sala de aula do Primeiro ano, Hanna , Shiron e Akinori estavam focados em passar na prova de Biologia e de fato, preocupados com o ocorrido a 4 anos atrás, o estilhaçamento da estrela de Yusha. Assim que a prova acabou e o sinal do recreio soou, todos foram para o pátio onde se reuniram na mesa central, ao lado da mesa de Ahri, que não parava de olhar para Hanna e Hanna também não parava de olhar para ela. Shiron: Hanna? Alo? Akinori: Caralho menina, para de focar nela Hanna: Ai gente, para de ser insuportável. Somos só amigas Eduard: AMIGAS NÉ? AMIGAS. - Eduard Gritou em meio o refeitório Lucas : Eu? Passar vergonha com vocês? Eu to é fora, tchau Lucas levantou-se e foi para a quadra, logo Eduard, Shiron, Hanna e Akinori levantaram e foram sentar junto perto de Lucas que ao contrário da sala de aula, agora estava com um aspecto triste e preocupado. 28
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Akinori: Ei, Lucas, eu sei que você está preocupado com ela, eu sei que todos sentimos que ela ainda vai retornar, mas com nossa Amizade venceremos ela. Hanna: Sim, se conseguirmos acabar com ela, Valoran finalmente ficará livre e será uma nova era das estrelas. Lucas: É, vocês tem razão, vou fica de fato tranquilo a respeito de tudo isso. Assim que soou o sinal do recreio, todos voltaram para suas respectivas salas, onde voltaram com sua fatídica rotina de estudos. Quando de repente, o céu se escureceu, o sol ficou escuro e parecia que estava durante uma noite densa as 15:00 horas. Lucas, Eduard, Shiron, Akinori e Hanna logo correram para os corredores pois sabiam o que estava acontecendo ali. Ambos transformaramse em suas respectivas formas estelares, e aumentaram seu poder para a forma do poder Angelical. Ao chegar fora da escola, logo viram a emissária do caos, a emissária do ódio: Zoe, que estava acompanhada de seu familiar, Ran. Com um sorriso sádico no rosto logo disse : Zoe: Olha só, o segundo grupo reunido de outros dois, seria esse o melhor dia da minha vida? Acabar com 3 grupos de babacas estelares de uma vez só? Todos Reunidos: Você não triunfará aqui Zoe, não de novo. Nós somos os enviados da primeira Estrela, iremos acabar com sua matança de uma vez por todas! Zoe: Pois tentem, eu desafio Eduard. -fez um movimento rápido tirando uma esfera negra de seu braço e assim que arremessou, de dentro dela saiu Yaki focado em acabar com Ran. Akinori arrumou o cabelo invocando Yuki para acabar com Ran assim como Yaki. Hanna fez o mesmo invocando Ashya de seu ombro e já ficando pronta para o combate. Shiron e Lucas invocaram Capy e Nijhi assim como seus companheiros e logo gritaram: Todos Reunidos: FAMILIARES! ACABE COM O RAN, NÓS CUIDAMOS DELA! Então todos começaram com seus ataques mais fortes em Zoe, Hanna atirou sua flecha de luz perfurante, o qual atingiu o braço de Zoe, Shiron fez um rápido corte com sua foice, Lucas disparou ondas psicológicas contra Zoe e Eduard fez um orbe da pura magia angelical com suas asas arremessando tudo em Zoe. Então logo disseram: Todos Reunidos : Foi isso? Ela acabou? Assim que a fumaça se dissipou Zoe não estava mais lá, e em um simples e rápido ataque incapacitou Eduard, Hanna, Shiron e Lucas. Akinori que conseguiu sair vivo graças a seu escudo logo usou sua habilidade principal e mais forte, onde ela é uma faca de dois gumes: Ou ele revive e restaura a energia vital de todos ao seu redor, ou ele estilhaça todos ao seu redor inclusive a si mesmo. Então ele começou a canalizar sua Habilidade quando começou a escutar Ahri e sua equipe Contos de Runeterra - Rafael Paes
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Ahri e sua equipe: Será que ele consegue? Acho difícil, estamos todos arruinados. Akinori não conseguia parar de pensar que iria fracassar e como um ato inesperado, ele conseguiu levantar todos seus colegas caído, todos exceto Eduard. Todos correram para onde o corpo dele tinha sido arremessado e viu que sua estrela tinha perdido toda a luz branca, tornando-se um com a escuridão. Aquilo era uma corrupção, Akinori não conseguindo acreditar começou a chorar em tom desesperado junto de todos os outros amigos, dizendo que ele havia sido o melhor, e o incrível, ele acabou com a Zoe. Mal sabiam ele que Zoe estava atrás deles escutando tudo, então sua voz logo cortou os lamentos. Zoe: HHAAHHAHAHSHAHAHSAH, o meu trabalho aqui foi feito, bom trabalho em acabar com meu clone amados. -Fazendo um coração com as mãos Zoe logo desapareceu. Akinori inconformado com a perda de seu amigo, concentrou toda sua força vital em curar a estrela de seu amigo, mas assim que ele encostou para realizar a cura, seu braço queimou e sua estrela perdeu uma parte de sua luz. Akinori logo recuou com medo e disse: Akinori : G-g-g-ente, o que aconteceu com Yusha, está acontecendo aqui de nov--. Ele começou a chorar desesperadamente enquanto o corpo corrompido de Eduard começava a se levantar de um jeito muito bizarro, suas asas brancas tinham ficado extremamente negras, tudo de branco que existia nele tornou-se preto e roxo, e em seu último momento de consciência de si mesmo, ele disse: Eduard : Eu ju-u-u-ro que farei meu melhor minhas estrelinhas. Com um sorriso Eduard entrou em um portal negro criado por Zoe. Todos Reunidos: E AGORA? O QUE VAMOS FAZER? PERDEMOS O NOSSO LÍDER, PERDEMOS O YUSHA, PERDEMOS NOSSO BRILHO E PERDEMOS TUDO! Akinori: Nós ainda temos uns aos outros, e vamos superar isso. Pelo Eduard, pelo Yusha, Pela luz estelar! “Será mesmo aquela luz?” Desde a batalha contra Zoe, que acabou em um triste final onde poderia ter ocorrido um final feliz. Onde Akinori havia ressuscitado todos seus companheiros mas apenas não conseguindo salvar ele, Eduard. Que acabou em um final trágico, por ser corrompido por Zoe. A mais antiga das guardiãs estelares, que em seu coração e estrela, não possui bondade, por aqueles olhos apenas passa o caos e a destruição das estrelas que a mesma 30
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causou. Todos nós estávamos preocupados e quebrando a cabeça, pensando em jeitos, formas, alguma coisa que pudesse dar alguma pista de onde está Eduard. Tínhamos que salvá-lo, essa era nossa missão..mas não sabíamos como e nem por onde começar. A manhã estava depressiva, o céu estava nublado e no ar pairava uma aura triste, doía o peito..apenas de pensar que não tínhamos nada que pudesse ser feito, neste dia não iria haver aula na escola, então para pensar em um plano. Todos nós nos juntamos no observatório de Valoran. - Tudo bem, todos estão aqui. Certo? - Disse Akinori, ainda meio desanimado pelo ocorrido. - Para falar a verdade, está faltando o Lucas. - Falei com uma voz cansada. - Aquele..? Hah, está todo tempo atrasado. Se acostume. - Disse Shiron, dando até uma risada forçada para tentar quebrar um gelo. Todos nós queríamos evitar tocar no assunto, ficamos nos encarando com orelhas e desvios. Em um silêncio profundo e até mesmo perturbador. A voz de Shiron, quebrou o silêncio. - Argh..! Onde foi que nós erramos? - Disse Shiron, aumentando sua voz e falando de um jeito revoltado. - Nós tínhamos tudo para ganhar! Usamos todas as nossas forças, lutamos todos juntos. Para no final, sermos humilhados e então fingir que nada aconteceu? - Não erramos em nada, Shiron! Todos nós damos nosso melhor, mas apenas não foi o suficiente. -Disse Akinori, tentando acalmar Shiron. - É nesses momentos que Eduard faz tanta falta, eu tenho certeza que ele saberia o que fazer..mas não damos nem o primeiro passo para isso. - Disse meio cabisbaixa. Logo uma voz alta, cortou por inteiro todas aquelas lamentações e culpas. - Pelo amor de Deus gente! Vocês realmente vão ficar se lamentando, dizendo essas coisas. Enquanto poderíamos estar pensando em algo para encontrar Eduard? - Disse Lucas, colocando firmeza em sua voz. - Eduard não iria achar certo, ficarmos resmungando pela sua perda! Eu também estou péssimo e sinceramente, apenas de dizer o nome dele, sinto um grande aperto em meu peito. - O mesmo força sua mão contra seu peito. - Ele está em algum lugar, esperando por todos nós, devemos isso à ele! - Eu...Eu concordo com o Lukas! - Disse Akinori levantando a voz e com um olhar determinado. -Vamos encontrar Eduard, salva-lo e darmos um ponto final em Zoe! Em nome do nosso líder e de provavelmente, outras guardiãs que tiveram esse final trágico. Todos nós estávamos determinados em achar Eduard, passando por horas e horas. Tentando encontrar nem mesmo um pequeno vestígio do mesmo, por Contos de Runeterra - Rafael Paes
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aquele observatório. Depois de horas procurando, encontro um brilho, tão forte e tão rápido igualado à um relâmpago, cortando o planetoide ao meio, em uma força de mil titãs. - Galera..Vocês precisam ver isso. - Falei um pouco em choque e surpresa ao olhar aquela tal luz. Assim que todos olharam para aquele caos espacial, e a cabeça de ambos passarem pelo mesmo pensamento, poderia ser Zoe e Eduard e aquilo era uma esperança que ambos não podiam perder tempo. Todos nós, realizamos nossas transformações, com o brilho de nossas estrelas envolvendo nossos corpos, fazendo com que todos nós sejamos vestidos pelos nossos uniformes estelares, nos encaramos com olhares e uma expressão determinada, e então apontando para os céus. - PELA FORÇA QUE A NÓS FOI CONFIADA PELA PRIMEIRA ESTRELA, PELO FOCO DE TODA ILUMINAÇÃO E PELA FORÇA ESTELAR EM NOSSAS ESTRELAS. NÓS IREMOS SALVÁ-LO, EDUARD!! - Dizendo em uma só voz, todos diziam com a voz que jazia no peito de todos nós. Havíamos apenas dois deveres, salvar nosso líder e derrotar Zoe. “A Ascenção Das Trevas” Não dava para acreditar que poderia ser ele, depois daquele ocorrido no observatório, todos nós fomos em busca daquilo que pensamos que pelo menos, poderia ser Eduard. Ainda nos restava uma esperança e estávamos determinados. Em um salto pura luz, juntos nos jogamos ao espaço e fomos até o local da tal catástrofe estelar. Durante o caminho, discutindo entre si, preocupados e ainda meio inseguros, eles diziam em culpa. - Se nós falharmos de novo...pode ser o nosso fim. - Disse Hanna, que estava insegura e preocupada. - Não importa se falharmos, não podemos deixar Eduard de mão. Vamos fazer por ele! - Disse Lucas, meio sério. - Temos que honrar as guardiãs estelares com nossa vitória. - Olha..eu sinceramente odeio concordar com o Lucas, mas ele tem razão. Temos que recuperar a honra de todos nós. - Disse ShIron. - Eu acredito que nós iremos conseguir.. - Disse baixo, quase para mim mesmo. Fechando minha mão e olhando fixamente para frente, com uma forte determinação em meu olhar. Já estávamos próximos do planetoide onde havia acontecido aquele evento catastrófico. Assim que chegamos lá, Zoe e Eduard, estavam estilhaçando as estrelas de Rakan e Xayah, um por um, Neeko, estava lá, olhando totalmente 32
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em choque e assustada enquanto corria em 4 patas, o mais rápido que conseguia, tentando fugir da realidade e de Zoe. Mas com falha, Zoe abrindo um portal próximo de Neeko, começou a corrompê-la com a sua magia, seu corpo estava começando a ficar roxo com detalhes pretos. Sua estrela estava se apagando, até que.. - Ei! Sua demoníaca estelar! - Disse Lucas de um jeito sério e heróico. - Você não ouse fazer isso novamente! Saia de perto dela! - Lucas apontou para Zoe, fazendo com que sua serpente fosse em direção do mascote de Zoe, que logo o encarou. - Hora..hora, o que temos aqui..os fracassos estelares! HAHA - Zoe flutuava e girava, falando em deboche, para nos provocar. - Parece que vocês querem ser destruídos mais uma vez, não tem problema..EU ADORARIA REPETIR A DOSE! - Ela abriu um sorriso demoníaco. - Não estamos aqui para perder, e sim derrotar você! - Juntos, dissemos em uma só voz. - Guardiões estelares, ataquem! Em um rápido lampejo, Hanna já estava preparada com a sua flecha que logo lançou em direção de Zoe, Shiron logo atrás dela, com sua foice preparada para um ataquele súbito enquanto Lucas se esforçava para deixar Zoe imóvel com a sua magia psíquica. Zoe, muito travessa, já esperava essa atitude dos guardiões e então abriu seu portal e desapareceu, uma risada ecoava pelo local, até que o portal então novamente, mas era atrás de mim, ela estava prestes à me atacar, com puro reflexo eu já estava preparando para desviar, mas logo vejo que Hanna em um movimento rápido, com a sua perna, jogou Zoe para longe a fazendo jogar o ataque em outra direção. - NÃO SE APROXIME DELE! - Disse Hanna que estava um pouco brava, mas bastante protetora. - O-Obrigado, Hanna! - Disse um pouco nervoso e dando um suspiro de alívio. - Foquem nela! No meio de toda essa confusão, uma voz, uma voz familiar passava por cada um de nós, era..Eduard! Olhamos rapidamente para ele, que então nos encarou. - Olha só..minhas queridas estrelas vieram até mim. Vocês são tão ingênuos.. mas nunca pensei que fossem tão burros. - Disse Eduard, com um sorriso. - E-Eduard?! N-Não fale essas coisas! - Meus olhos se encheram de lágrimas, aquilo parecia ser um pesadelo..eu gostaria de acordar. - O que essa..COISA FEZ COM VOCÊ?! Eduard estava totalmente corrompido pela escuridão, ele possuía um olho negro com uma estrela roxa, sua roupa estava completamente com tons escuros, seu braço estava com um pedaço de sua armadura estelar que antes, havia sido destruída no combate. Contos de Runeterra - Rafael Paes
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- Ela apenas..me deu um novo visual, um grande poder.. - Ele ria feito um sádico, eu sentia meu coração apertado..pelo medo e pela tristeza. - E então minhas estrelas, EU FAREI O MESMO COM VOCÊS! Rapidamente se movimentando, e realizando um rápido e poderoso ataque, Eduard lançou todos nós para longe, fazendo até com que Shiron, se machucasse e ficasse incapacitado de se levantar. - E-Eduard..? N-Não..não!! ACORDE!! ESSE NÃO É VOCÊ! - Disse Hanna, meio nervosa e em choque. - Não sou eu..? Você tem certeza?! - Novamente, ele avançou porém dessa vez em direção de Lucas, o jogando para longe violentamente. - Vocês são patéticos, fracos e inúteis!! Como eu pude me juntar à um time podre desses?!! - E-Eu sei o por que você lutou!! - Falei forçando minha voz, para que ele realmente me escutasse, enquanto lágrimas caiam de meu rosto. - Você acreditou em todos nós! Em todo momento, estávamos ao seu lado assim como você esteve do nosso, e seja lá o que Zoe fez com você, nós sabemos que aí dentro, no meio desta escuridão..o nosso amado líder e principalmente nosso querido amado amigo, está nos esperando! - Eu estava falando de um jeito bem sério, como se aquilo fosse a última coisa que eu falaria na vida, com tamanha firmeza e força. - Eduard! Eu conheço você melhor do que qualquer pessoa, E VOCÊ NÃO É ASSIM!! Eduard me encarava em silêncio, ele estava começando a ter um surto de consciência, tendo lembranças de antigos pensamentos e memórias começavam a surgir no meio de sua escuridão, em seus olhos surgiam lágrimas que escorriam sobre seu rosto, mas logo ele engoliu o choro. - Me desculpe..eu nunca pedi ou escolhi fazer isso, mas esse sou eu! - Ele mirou seu orbe de direção com magia negra em direção do planetoide, arremessando todos em direção da terra. ...Tudo estava escuro, mas logo pude sentir minhas pálpebras lentamente se abrindo, minha visão estava embaçada, eu posso ter perdido a consciência depois da colisão..olhando para os lados e não vendo ninguém, com forças que surgiram de minha adrenalina, rapidamente me levanto e corro, mancando e procurando por meus amigos. - H-HANNA?! S-SHIRON??!! L-LUCAS??! OLAAA?! - Comecei a ficar um pouco desesperado, até que ouço a voz de Hanna. - E-Estamos aqui! - Disse Hanna ao lado de Shiron e Lucas. - Nós estamos bem..apenas um pouco machucados mas..acho que isso é o menor dos nossos problemas. - H-Huh? O que você quer dizer com isso - Olhei para ela meio confuso. - Olhe você mesmo. - Ela estava encarando o céu, então engolindo seco, olhei para os céus.
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” A queda” Depois de todos terem redobrados suas consciências, todos estavam desnorteados. Onde nós estamos? O que diabos havia acontecido? E o primeiro de tudo..o que estava acontecendo no céu? - E-Estão todos bem? - Disse Akinori com uma voz de tom de alívio. - Sim, estamos todos bem. Mas essa é a menor de nossas preocupações. Disse Hanna que olhava fixamente para o céu. - Mais que merda é aquilo? - Apontei para o céu de forma estática. Ao olhar para o céu, Akinori avistava Eduard, ele estava de uma forma que jamais foi vista antes..seus olhos estavam negros, uma aura negra envolvia seu corpo e uma expressão em seu rosto deu um sorriso sádico, suas roupas estavam corrompidas pela escuridão, mas nisto..Eduard carregava um orbe de magia escura em nossa direção. - Se eu fosse vocês, desviaria, este orbe odeia guardiães estelares. - Dizia Eduard de uma forma totalmente irônica, com uma risada em sua voz à todas às suas falas. Um disparo rápido e de pura massa, totalmente envolvido pela magia negra, foi arremessado em nossa direção, Lucas usou seus poderes fazendo que com uma ilusão para absorver todo aquele poder, resultando em um enorme impacto se cores escuras, aquilo era assustador e arrepiava qualquer um. A ilusão de Lucas estava na mesma posição que Eduard se encontrava, e repetia tudo que estava sendo dito e feito pelo mesmo. A ilusão estava inteiramente corrompida, com a sua aparência e detalhes igualados à Eduard. Aquelas esferas eram para nós corrompemos! A magia ancestral da arte das guardiãs, está magia havia sido selada à milhares de anos e pensávamos que até então, somente a Primeira Estrela poderia ter acesso à está magia. Eduard estava a rir compulsivamente e então no meio de suas assustadoras risadas. - Vocês são pulgas persistentes..ACEITEM ESTE DESTINO! - Disse ele, nos encarando em um sorriso. Todos nós estávamos sendo segurados por Akinori, que a esse ponto estava com no ápice de sua forma estelar, defendendo cada um de nós dos disparos de Eduard. Hanna estava com o arco pronto e brilhando em uma diversidade de luzes, a mesma preparava o que seria sua mais poderosa habilidade, Os mil disparos da Luz. E enquanto movimentando seu arco para cima, a mesma gritou. - NAS NOITES MAIS SOMBRIAS E FRIAS, AS FLECHAS DA LUZ O PERSEGUIRÁ! - Lançando as flechas que rapidamente se multiplicavam e Contos de Runeterra - Rafael Paes
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voavam todas em direção de Eduard que causou uma explosão. Depois que a fumaça brilhosa havia abaixado, ele estava intacto. Eu não poderia apenas ficar parado e não lutar, então pegando minha arma estelar e carregando a minha mais poderosa habilidade, O corte da imensidão. Que então avançando fortemente em Eduard e fazendo um movimento giratório, com muito sucesso, acertou o braço de Eduard fazendo com que seu braço esquerdo fosse amputado, mas que logo pela escuridão, foi remendado. Estava faltando alguém..Lucas! Onde ele estava após usar sua ilusão? Uma preocupação subiu à cabeça mas logo todos os pensamentos se esvaziaram, vendo que o mesmo surgiu atrás de Eduard que então o prendeu em uma visão antiga de sua vida, onde ele via aqueles momentos calorosos com seus amigos e apesar de tudo, via como ele era quando era puro. Mas aquele efeito não era nada! Eduard estava implacável e em um rápido ataque de resposta, arremessou Lucas para longe junto de Yaki que estava carregando um orbe que logo seria jogado em Lucas, então uma voz interrompeu. - Ei Eduard. Lembre-se que precisamos deles vivos.. - Disse Zoe que suspirou e olhou seriamente para Eduard. - Eu não me importo. - Disse Eduard, friamente para a mesma. - Não se importa?! HAHA! Sabe como quem você está falando?!! - Ela deu uma risada nervosa e ficando com veias em sua testa, pela frustração. - ME OBEDEÇA OU FAREI VOCÊ SOFRER!! Eduard não a respondeu, a ignorando totalmente e olhando para uma direção oposta à Zoe. - Argh! Eu cansei de brincar você..você já não me serve para nada--- Zoe que estava carregando um poder, foi interrompida por um rápido ataque de Eduard que a estilhaçou em questão de segundos e fez com que a mesma deixasse de existir. - Eu nunca fui e nunca serei fantoche de ninguém. - Disse Eduard em um tom frio e sério, que encarava os cacos da estrela de Zoe, que estava pelo chão. Ele quebrou sua estrela?! C-Como?!..essa pergunta se passava na cabeça de todos nós, que olhávamos para Eduard com um aperto no peito..pelo medo e a adrenalina, aquilo não podia ser real..ele havia se recuperado..? Mas se sim, por que sua estrela não estava pura novamente? ” A Ascensão da Luz” Depois do evento chocante que acabará de acontecer, onde Eduard reduziu aquela estrela maligna, em poeiras estelar. Ela havia sido destruída, praticamente morte por ele, o ar de mistério pairava sobre o ar, Eduard havia voltado à consciência?..Minha mente diz que não, mas meu coração gostaria de acreditar que nosso amigo havia voltado para nós. Depois daquele choque 36
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se desfazer, respirando fundo e com firmeza, aumentei minha voz. - E-Eduard..você está aí? - Eu tremia um pouco mas eu colocava ainda sim, firmeza em cada palavra. Não obtive respostas, ele estava em uma meditação, onde não falava, não abria seus olhos e não tinha nenhuma expressão facial, aquilo era assustador. - Já passou a cota de se fingir de louco!! - Disse Lucas meio impaciente. - Está bancando de surdo e mudo agora? - Cala a boca Lucas!! - Falei sussurrando para não provocar mais da paciência de Eduard. - Ele já deve estar irritado, não é ele! Olhe para a estrela dele. Então não arrume idéia! Um silêncio surdo se infiltrou no local, todos nós estávamos calados e imóveis sem nem ao menos mover um músculo sequer, o silêncio era tanto que cada um de nós, ouvíamos a respiração um do outro, ambos estávamos preocupados e com nossas respirações pesando nossos corpos, até que algo quebra o silêncio, uma intensa luz no horizonte, todos nós olhamos para aquelas luzes. - Huh? O que é isso? Me diz que não é algum raio que vai nos dizimar. - Disse Hanna meio preocupada e cobrindo seus olhos com a palma da mão. - Espera, é isso mesmo que eu estou vendo? - Disse Shiron que logo virou o rosto. - Ei coisa feia!! Você precisa de uma mudança no visual, sem ofensas mas sua roupa é muito fora de moda. - Disse Ahri, que estava com as mãos em sua cintura e dando um sorriso confiante, ao lado de toda sua equipe. - Ao menos vista algo decente em sua derrota. - Ei! Tem mais uma luz! - Lucas apontou para o horizonte, que então a luz que se aproximou posou, fazendo uma nuvem de fumaça brilhante, mas que logo quando abaixou, estava Lux ao lado de sua equipe. - Espero não ter chegado tão tarde! - Disse Lux que riu mas logo apontou para Eduard em uma pose. - Prepare-se para ser derrotado! - V-Vocês vieram? - Fiquei com um sorriso esperançoso logo vendo o brilho de todas aquelas estrelas, inclusive de Ezreal. - Não podíamos ficar fora dessa. - Disse Lux, mas que foi cortada pela voz da maníaca de Jinx. - EI! EI! DEPOIS NÓS COMEMORAMOS COM BOLOS E BLA BLA! É HORA DA PORRADA! NYHAAHAH! - Ela apontou seu canhão estelar, Kuro para Eduard. Aquilo parecia cena de filme! Todos os guardiões reunidos, nossas estrelas brilhando na mesma intensidade, todos nós motivados e com um único só dever, nossos poderes fluindo por nossa estrela, todos nós combinamos um Contos de Runeterra - Rafael Paes
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ataque e o utilizamos, abalando as forças de defesa que Eduard possuía, sendo jogado lentamente para trás. - Argh..Não posso nem ao menos ter minutos de paz que as pulgas brilhantes chegam para me atrapalhar, isso me deixa muito..UGH - Em um suspiro pesado, Eduard começou a preparar um ataque que parecia ser fatal, juntando uma energia negra que causava uma ventania forte, ele apenas queria focar em uma equipe..não havia dúvidas. Mas ao lançar, todos nós desviamos, fazendo com que ele errasse toda aquela concentração de magia. Rapidamente, Poppy e Shiron partiram para o ataque, Poppy em sua direita e Shiron em sua esquerda, Poppy fortemente o empurrou contra Shiron, como uma coisa tão pequena e fofa conseguia ter uma força daquelas? Shiron tentou atacar rapidamente Eduard com sua foice, que brilhava igual sua estrela mas Eduard continuava desviando apenas ter se deixado ser empurrado pela pequena yordle. Hanna preparava uma enorme flecha que fazia faíscas brilhantes saírem de seu arco, do canhão Kuro, algumas asas apareciam e um sorriso sádico no rosto da maléfica Jinx, Sarah não ficava para trás e preparando suas pistolas, que então começaram a atirar estrelas rapidamente. - VAMOS FAZER UM SHOW DE ARCO ÍRIS!! - Disse Jinx enquanto ria, quando lançou um grande míssil estelar, onde parecia Shiro e Kuro estarem nele, Hanna atirou ao mesmo tempo, fazendo um grande show de luzes brilhantes. - Ei Ezreal! Vamos lá! - Lux e Ezreal se encararam em um sorriso, que então, o cajado estelar de Lux começou a girar e a brilhar em um tom forte, a manopla de Ezreal também mas que em um grito combinado, um grande raio rosa e uma onda de poder azul, onde Yuuto também havia sido lançado, estavam combinados e então atingindo Eduard que parecia pela primeira vez ter sido machucado. Todos nós sentimos esperança, tínhamos que nos aproveitar daquele momento que ele estava totalmente exposto! - Ei! Estrelinha rosa! - Disse Ahri olhando para Lucas. - Hm? Eu? - Disse Lucas olhando rapidamente para Ahri. - Sim! Você mesmo, que tal nós mexermos com a mente dessa coisinha feia? - Disse Ahri com um sorriso e levantando seu dedo indicador. - Haha! Mexer com a mente é a minha especialidade! - Disse Lucas confiante, ambos se posicionaram e preparando seus melhores encantos, as caudas de Ahri se formaram em um coração e então lançando um encanto em direção de Eduard, que então deu uma entrada para que Lucas mexe-se com o psicológico de Eduard, o mesmo estava com a sua guarda totalmente baixa depois de tantos ataques repentinos que sofreu, ele foi acertado em cheio pelos encantos. 38
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Logo seus olhos rapidamente encheram-se de lágrimas que escorriam em seu rosto, ele estava à se lembrar de seu passado novamente, tantas lembranças haviam sido mexidas por Lucas e com a ajuda de Ahri, Lucas havia o feito se lembrar de semanas atrás ou algo assim, ele havia feito se lembrar de sua maior fraqueza naqueles pensamentos corrompidos de Eduard..Yusha, onde todo pensamento de Eduard havia se tornado em coisas que traziam dúvidas e arrependimentos em sua mente. - P-PAREM COM ISSO!! VOCÊS NÃO VÃO CONSEGUIR!! EU ACABAREI COM TODOS VOCÊS! UM POR UM!! AGORA!!! - Eduard começou a realizar uma habilidade que nunca havia sido vista por ninguém, ele invocou um pequeno orbe que subiu ao céu lentamente, onde começou a se expandir em um buraco negro que logo se tornou imenso. E dentro de lá , começavam a ser arremessados diversos projéteis da mais pura magia negra..Sem nenhum hábito de brilho, luz ou pureza, apenas magia negra. No momento em que atingiria todos os guardiões, um brilho verde, misturado à um brilho roxo, pairava. Janna e Lulu se união para manter todos seguros, junto à uma grande barreira, que minha magia produzia, defendendo todos nós. - Eduard, você não quer fazer isso! - Falei com bastante firmeza, fazendo com que Janna e Lulu parassem suas magias, e deixando apenas meu enorme escudo, protegendo todos nós daquela magia. Uma vez confiante, Continuei firme e levantei mais daquele escudo o mais belo e perfeito já visto até então. Soraka ainda curava aqueles que haviam sido atingidos pela magia, junto à Lulu e Janna. - Você se lembra Eduard, você só não consegue aceitar! Todos nós, inclusive você mesmo sabe que aí dentro ainda à bondade! - Disse, tentando comover o mesmo. - NÃO! NÃO! NÃO TEM NADA NO MUNDO QUE ME FAÇA QUERER SOBREVIVER POR VOCÊS! VOCÊS DEVEM MORRER, VERMES INÚTEIS! - Disse Eduard que suas palavras estavam meio confusas pela sua raiva e choro. - Não se preocupe Eduard! Apesar de tudo, você nunca deixará de ser nosso líder, e você nunca deixará de ser a pessoa em que eu mais confio..a pessoa que sempre me ajudou à superar e me transformar no que sou hoje! Então por favor, se você estiver aí...desista, por mim e por todos nós! - Falei, contendo minhas lágrimas. - Eu apenas queria ser alguém digno! - Ele gritou com toda a força que podia, ecoando pelo local. EU FRACASSEI COM YUSHA. EU FRACASSEI COM VOCÊS. EU Contos de Runeterra - Rafael Paes
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APENAS PUDE SER BOM PARA A CORRUPÇÃO! - Ele colocou as mãos na cabeça. - NÃO ME FAÇA TER UMA CRISE DE CONSCIÊNCIA! O mesmo tirou suas mãos de sua cabeça, e em meio de suas lágrimas, ele preparou um orbe que apenas possuía as pequenas forças que lhe restavam. Suspirei, assim abaixando o escudo e o encarando, fazendo com que todos entrassem em desespero. - MINHA SANTINHA ESTRELA DO CÉU VAMOS TODOS MORRER! Disse Jinx. - N-Não vamos morrer! V-VAMOS?! - Disse Soraka - Eu sou linda demais para morrer!! - Disse Ahri colocando as mãos na cabeça. - EU NEM TIREI MINHA ÚLTIMA SELFIE!! - Você só pode estar zoando né - Disse Hanna olhando para Ahri. - V-Você tem algum plano não é?! - Disse Lux para Akinori. Encarando aquele orbe e minhas lágrimas escorrendo de meus olhos, respirei fundo tentando me conter. - Não somos o seu alvo Eduard! - Falei contendo as lágrimas. - E-Eh?! O que você está falando-- Logo Ahri foi interrompida por um estrondo de explosão, todos olharam e Eduard usou aquele orbe contra sua própria estrela. Fazendo com que sua estrela fosse partida, e com que o mesmo sumisse. Me aproximei em passos lentos daqueles cacos estelares e os peguei, com delicadeza e um sorriso. - Você realmente preferiu se destruir..para não nos machucar..? - Pressionei aqueles cacos contra minha estrela, os fazendo brilhar, os curando. Minhas lágrimas escorriam de meu rosto mas habitava um sorriso naquelas lágrimas, sua estrelas então começava a se reconstruir novamente, uma luz forte estava vindo da estrela a fazendo voar um pouco, que agora estava em um roxo claro e tons de branco, e então uma forma física surgiu. Assim que o brilho formou o corpo de Eduard, ela se desfez. O mesmo estava com suas roupas normais, sem nenhum tipo de corrupção. Senti meu corpo fraco e minha visão escurecendo, então cambaleando e logo caindo inconsciente, antes que caisse, Eduard rapidamente agarrou e abraçou o corpo de Akinori inconsciente, com bastante serenidade e brilho em seus olhos, e então o abraçando. - Haha..você sempre sabe o que fazer não é? - Eduard sorriu e apertou o abraço. - Você é a melhor coisa que foi surgir na minha vida..e na vida de todos em volta de você. Eduard então pegou Akinori no colo, deixando sua cabeça encostada em seu peito. - ISSO FOI ESTELAR! Entendeu? Guardiã estelar? Estelar? - Logo Jinx começou a rir de sua própria piada. - Vamos fingir que não ouvimos isso. - Disse Poppy sempre séria. 40
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Então, Eduard levou Akinori onde o deixou sobre seus cuidados, o mesmo então saiu do quarto e fechou a porta lentamente, e então olhou para sua equipe, que estava o encarnado com lágrimas nos olhos mas que logo avançou, o abraçando em conjunto. Eduard agradecia tudo o que fizeram por ele, e agradecendo por cada momento que ambos tinham juntos, e jurou que enquanto estivesse vivo, faria de tudo por todos. Depois de algumas semanas deve preocupação, Akinori finalmente recobra sua consciência e todos voltando para sua rotina escolar, no qual depois de ele tudo. Ezreal e Akinori começaram a andar juntos.
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" Tudo que brilha..."
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“O Monge cego”
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aízes ancestrais, árvores sinuosas e vinhas recheadas de folhas subindo pelas rochas só obscuresciam o caminho por entre a selva verdejante. Três homens suavam enquanto continuavam seu caminho, movidos por corações cheios de ganância e sonhos de riquezas inimagináveis. Por seis dias a selva os havia desafiado, mas agora o templo despontava da relva. Sua façada era gravada em uma pedra colossal, coberta de flores vermelhas e azuis ao redor de sua base. Um santuário sereno, cheio de alcovas douradas e grinaldas de orquídeas douradas estavam entrelaçadas nas beiradas. “Está vendo, Horta?” disse Wren. “Não te dissemos que o templo era real?” “Desde que os tesouros lá dentro sejam reais”, disse Horta, jogando sua machadinha cega para o lado e sacando uma espada recentemente afiada. “Vocês dois apostaram suas vidas nisso, lembra?” “Não se preocupe, Horta”, disse Merta, com um tossir áspero. “Você poderá comprar seu próprio palácio depois disso”. “É melhor que eu consiga”, disse Horta. “Agora saquem suas espadas. Matem qualquer um que entrar em nosso caminho”. Os três bandidos se aproximaram do templo brandindo as lâminas que brilhavam ao sol poente. Horta viu que suas bordas não eram afiadas e definidas, mas todos os gumes fluíam juntos, em vez de se encontrar nos ângulos. Enquanto eles continuavam lá dentro, passaram entre dois Salgueiros-chicote Ionianos, cujos troncos curvavam-se para formar a entrada, e a casca era tão branca que parecia pintada. “Mas não tem nenhum guarda?”, ele perguntou enquanto caminhava para dentro. A pergunta ficou sem resposta e seus olhos começaram a se ajustar ao fraco brilho sepulcral de uma câmara talhada na pedra. O telhado arqueado foi escavado em relevo, e todas as paredes tinham brilhos vindos de pequenos pedaços de vidro colorido que formavam um mosaico de planícies vívidas, cheias de luz e vida. Mesas de marfim esculpidas com parábolas Shojin ancestrais estavam em pilares de bronze talhado, e ídolos cravejados com pedras preciosas miravam nas alcovas afundadas. Estátuas de deusesguerreiros, cada uma enfeitada com ouro, olhavam para baixo de seus rodapés altos de pórfiro e jade. Horta sorriu. “Peguem. Peguem tudo”. Wren e Merta guardaram suas espadas nas bainhas e abriram suas mochilas. Eles começaram a enchê-las com tudo o que podiam alcançar: estátuas, ídolos Contos de Runeterra - Rafael Paes
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e pedras preciosas, mostrando espanto e felicidade com toda a fortuna em ouro que estava perante eles. Horta circulou pela câmara, já planejando matar os companheiros quando voltassem para a civilização, quando então percebeu que uma das estátuas estava se mexendo. À primeira vista, ele pensou que fosse um ídolo pintado de um monge guerreiro, sentado com as pernas cruzadas e as mãos descansando nos joelhos. Ele estava de costas para Horta, mas agora o homem levantou e se virou no mesmo lugar com a fluidez de uma cobra enrolada. Magro e muito musculoso, ele vestia calças largas e uma bandana vermelha nos olhos. “Não tão vazio, no fim das contas”, disse Horta, flexionando seus dedos no cabo encapado com couro de sua espada. “Ótimo. Eu estava com esperanças de poder cortar alguém”. O monge virou a cabeça para o lado como se estivesse prestando atenção a ruídos que só ele podia ouvir e disse: “Três homens. Um com o pulmão arruinado, outro com o coração fraco que não verá o fim do ano”. O monge cego virou e mirou diretamente em Horta, apesar de haver certeza de que não era possível vê-lo através do tecido grosso que vedava seus olhos. “Você tem um problema de espinha”, ele disse. “Ela dói no inverno e lhe força a poupar seu lado esquerdo”. “O que você é? Algum tipo de Vidente?”, perguntou Horta, lambendo seus lábios nervosamente. O monge ignorou a pergunta e disse, “Sou Lee Sin”. “Era pra isso significar alguma coisa?”, perguntou Horta. “Lhe darei uma única oportunidade de devolver o que vocês pegaram”, disse Lee Sin. “Então vocês abandonarão este lugar e jamais voltarão”. “Você não tem o direito de dar ordens, meu amigo cego”, disse Horta enquanto deixava a ponta da espada arranhar o chão de pedra. “Somos três e você não está nem está armado”. Wren e Merta riram nervosamente, desconfiantes da confiança do monge, mesmo apesar de sua vantagem numérica. Horta gesticulou com sua mão livre e seus dois companheiros moveram-se para flanquear o monge, cada um sacando uma lâmina curvada das bainhas de couro. “Este é um local sagrado” Disse Lee Sin, com um suspiro pesaroso. “Ele não deve ser desecrado”. Horta acenou com a cabeça para os outros. “Acabem com este cego tolo”. Wren deu um passo à frente. Lee Sin se moveu antes que o pé do bandido tocasse o chão. O monge saiu de sua inércia para um borrão de moção num piscar de olhos. Seu braço fez um movimento de chicote e a lateral dura de sua mão bateu contra o pescoço de Wren. Ossos foram estilhaçados e o bandido caiu com a cabeça torcida em um ângulo nada natural. Lee Sin balançou 44
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para o lado quando Merta atacou com sua espada. O golpe foi selvagem e a pancada reversa bateu da cabeça de Lee Sin. O monge caiu, contorcendo-se na queda para dar uma rasteira com as canelas e tirar o apoio das pernas de Merta. O bandido caiu e sua arma foi jogada para longe no chão de tijolos. Lee Sin saltou de pé e o fincou no esterno de Merta. Merta deu um grito estrangulado quando a ponta de suas costelas foram forçadas e penetraram seu fraco coração. Pedras roubadas caíram de sua mochila enquanto seus olhos esbugalhavam em agonia e ele lutava para respirar como um peixe fora d’água. “Você é rápido para um monge”, disse Horta, cortando o ar com sua espada em uma série de manobras ligeiras. “Mas não sou nada ruim com uma espada”. “Você acredita que é rápido?”, perguntou Lee Sin. “Treinado para ser o melhor, então você não vai ter tanta facilidade quanto teve com os outros dois idiotas”, disse Horta, apontando com a cabeça para os dois corpos de seus falecidos companheiros. Lee Sin não respondeu enquanto eles ficaram circulando um ao outro. Horta assistiu o homem cego rastrear todos seus movimentos. Os passos do monge eram fluidos e precisos, e Horta teve a sensação desconfortável de que cada segundo revelava mais de suas habilidades para seu oponente. Ele rugiu e se atirou contra o monge, atacando em uma série de cortes e investidas. Lee Sin desviou para o lado, movendo como uma folha soprada pelo vento enquanto esquivava, refletindo e se distanciando dos ataques desesperados de Horta. Ele manteve sua espada em moção constante, forçando Lee Sin para trás com cada ataque. O monge nem suou. Sua boca impassível, olhos cobertos e desdém casual enfureceram Horta. Ele se concentrou para um ataque final, captando todas partes de treinamento, ira e força que podia. Sua espada cortou o ar ao redor do monge, mas jamais encostou nele. Lee Sin se afastou uma última vez e dobrou os joelhos, fazendo com que seu corpo tensionasse. “Você tem muita velocidade e pouca habilidade” Ele disse com os tendões pulsando sob sua pele, “mas a raiva colore todos seus pensamentos. Ela lhe consumiu e o levou à sua morte”. Horta sentiu o ar da câmara ficar mais quente enquanto fluídos de energia cercaram Lee Sin. Um vórtice flamejante envolveu o monge, fazendo Horta se afastar aterrorizado e derrubando sua espada. Lee Sin estava tremento, como se estivesse lutando para controlar energias mais poderosas do que as que ele podia conter. A câmara reverberou com o som de um vento crescente. Contos de Runeterra - Rafael Paes
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“Por favor”, disse Horta. “Eu devolverei. Devolverei tudo!” Lee Sin saltou, impulsionado pelo tornado violento de energia. Seu pé se chocou contra o peito de Horta, jogando-o para tras. Horta bateu contra a parede e a pedra quebrou com o impacto. Ele caiu flacidamente no chão, com todos os ossos de sua espinha estilhaçados como cerâmica quebrada. “Você teve uma chance de evitar isso, mas não quis aproveitá-la”, disse Lee Sin. “Agora pague o preço”. A visão de horta ficou acizentada enquanto a beirada da morte se aproximou, mas não antes de ver Lee Sin voltar à sua posição sentada. Ele estava de costas para o bandido com a postura relaxada e o vórtice de energias letais começou a se dissipar. Lee Sin baixou a cabeça e voltou a meditar.
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"A tumba do garoto Troll..."
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“Coração é o musculo mais forte”
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m uma pacata casa, localizada ás redondezas de Freiliord, habitava uma singela e pacata gente, gente como nós, sonhadora... — Quer que eu conte uma história para dormir? — Vovó, estou velha demais para isso. — Nunca se é velho demais para ouvir uma boa história. A garota relutantemente sobe na cama e espera, já sabendo que esta é uma batalha perdida. Um vento frio uivava do lado de fora, transformando a neve em tufões gélidos. — Qual história quer ouvir? Que tal uma da Bruxa Gélida? — a avó pergunta. — Não, dela não. — Que tal uma história de Braum? A garota acena que sim com a cabeça e a senhora sorri. — Ah, existem tantas... Qual devo contar? Minha avó costumava me contar da vez que Braum protegeu nosso vilarejo de um grande dragão! Ou então, essa há muito tempo, de quando ele desceu em um rio de lava! Ou... — ela pausa, repousa um dedo sobre os lábios — Já contei como Braum conseguiu seu escudo? A garota balança a cabeça para os lados. O fogo na lareira estala, mantendo o frio do vento do lado de fora. — Bem... Nas montanhas acima de nosso vilarejo vivia um homem chamado Braum. A maior parte do tempo ele ficava em sua fazenda, cuidando das ovelhas e das cabras, mas era o homem mais gentil que alguém poderia conhecer e sempre tinha um sorriso no rosto e uma risada na voz. Mas um dia, algo terrível aconteceu: um jovem garoto troll, com mais ou menos a sua idade, escalava a montanha e encontrou uma gigantesca porta de pedra com um estilhaço de Gelo Verdadeiro no centro. Quando abriu a porta, não conseguia acreditar no que viu. Havia um cofre cheio de ouro, joias - todo tipo de tesouro que você pode imaginar! O que ele não sabia é que o cofre era, na verdade, uma armadilha. A Bruxa Gélida o havia amaldiçoado, e assim que o garoto troll entrou, a porta mágica fechou com um ruído alto - BAM! - e o trancou do lado de dentro! Não importava o que fizesse, ele não conseguia sair. Um pastor que por ali passava ouviu seus gritos. Todo mundo se apressou em ajudar, mas nem mesmo os guerreiros mais fortes conseguiram abrir a porta. Os pais do garoto estavam desesperados; o pranto de sua mãe ecoava pela montanha. Tudo parecia perdido. Foi quando ouviu-se uma risada distante. — Era Braum, não era? — perguntou a garota. — Que menina esperta! Braum ouviu e veio a passos largos descendo a mon48
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tanha. Os aldeões lhe contaram sobre o garoto troll e a maldição. Braum sorriu, balançou a cabeça, virou-se para o cofre e encarou a porta. Ele empurrou, puxou, esmurrou, chutou. Até tirar as dobradiças tentou, mas, a porta nem entortou. — Mas ele é o homem mais forte de todos! — reclamou a menina. — Todos estavam confusos, é verdade. — a avó concordou — Por quatro dias e noites, Braum ficou sentado em um pedregulho, pensando em uma solução. Afinal, era a vida de uma criança que estava em jogo. E então, assim como o sol nascente do quinto dia, seu rosto reluziu de felicidade. ‘’Se eu não posso atravessar a porta’’, ele disse ‘’então terei de atravessar...’’ A garota pensou por um momento. Seus olhos brilham antes que diga: — A montanha! — ‘’... a montanha.’’ Braum foi até o topo e começou a abrir caminho para baixo, esmurrando a rocha, soco após soco. Pedras menores voavam para os lados em seu rastro, até que desapareceu nas profundezas da montanha. Os aldeões seguravam a respiração quando a rocha ao redor da porta desmoronou. Ao que a poeira baixou, viu-se Braum de pé em meio ao tesouro, e o pequeno troll fraco, mas feliz, em seus braços. — Sabia que ele ia conseguir! — Mas antes que pudessem comemorar, tudo começou a chacoalhar e tremer. O túnel que Braum cavou havia enfraquecido a montanha, que começou a desmoronar! Pensando rapidamente, Braum pegou a porta encantada e a segurou em cima de todos, como se fosse um escudo, protegendo-os da queda da montanha. Quando tudo acabou, Braum estava impressionado: não havia sequer um arranhão na porta! Ele então percebeu que ela era muito especial. Deste momento em diante, o escudo mágico está sempre com Braum. A garota está sentada na cama, tentando esconder a empolgação. — Vovó, — ela diz — conta outra história? — Amanhã. — a avó sorri, beija sua testa, apaga a vela com um sopro —Pois você precisa dormir, e há muitas histórias para contar.
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" Adaptação..."
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“Evoluir e adaptar”
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er exilado é como ser apagado da história. Não se trata de ser esquecido. É como se você nunca tivesse existido. Como se nem as batidas do seu coração fossem dignas de reconhecimento. Até mesmo um escravo usa correntes, provando o seu valor. Até mesmo os mortos recebem o luto e as lamentações daqueles que ficam. Já eu, não sou nada para os Kiilash que me trouxeram ao mundo. O nome Rengar não remete mais ao rosto de sua própria espécie, ao filho do chefe Ponjaf. Fui expulso de seus corações tanto quanto de seus lares. Não há como mudar esse infeliz destino. Ou pelo menos foi o que me disseram. Mas o tempo e o sangue podem, sim, mudar essas coisas. Meu coração ainda bate, então fui até eles com troféus recolhidos em minha trajetória de caçador. Sem dizerem uma palavra, me levaram até o meu pai. Ele me convidou para voltar à tribo, onde meu nome seria dito e meu rosto seria lembrado; onde as batidas do meu coração voltariam a ser dignas. Mas, obviamente, isso teria um custo. Devo ir atrás de uma sombra. O fragmento afiado da noite sem lua. A abominação. Se voltasse da selva com a cabeça desse ser, eu deixaria de ser exilado. Misturo-me às árvores, vou me esgueirando. Ouço, cheiro, sinto. Analiso o rastro de milhares de criaturas, das minúsculas às gigantescas. É algo instintivo, mas intensificou-se com os ensinamentos frios do humano que encontrou um exilado e o apresentou ao caminho da caçada. Ainda carrego a faca que ganhei de Markon. Busco pelo mal que aqui habita, indesejado aonde quer que vá. Os troféus pendurados em meu casaco já não me acompanham, pois foram deixados em meu acampamento. Só há a lâmina, uma camada de gordura para alisar meu pelo e a batida lenta e comedida do coração de um caçador no meu peito. Não há mais nada em meio à vida abundante da floresta... até que surge algo. É algo sutil, mas acentuado, que vai tomando lentamente todos os meus sentidos. O desconhecido é tão inebriante que, enquanto analiso a situação, fico paralisado. Tudo parece errado em todos os sentidos. Repulsivo. Um inimigo da vida de formas que nem sou capaz de descrever. Desafia toda e qualquer coisa ao seu redor. A verdadeira caçada começa. Sigo os rastros. Passo ao redor deles, mas sem tocá-los. Prendo-me ao odor daquela criatura maligna, até que o som de carnificina me chama a atenção.
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Algo está morrendo. Logo depois das árvores à minha frente. Não é uma morte tranquila. Um grupo de acuâminas selvagens. Mesmo não estando no topo da cadeia, acuâminas são predadoras poderosas e raramente se tornam a presa. O agressor está desesperadamente faminto ou desconhece a letalidade delas. Deixo escapar um sorriso. No fim das contas, pode ser um desafio. O fedor da criatura é avassalador. Ela se agarra aos tufos de plumagem brilhante e ensanguentada estirados no chão da floresta. Escalo um tronco denso e irregular, usando minhas garras para subir silenciosamente até a copa da árvore. Permaneço agachado em meio às sombras frondosas, degustando a umidade do ar, com os olhos entreabertos e focados na minha presa. A criatura é bem rápida. A arma dela foi polida até que sua ponta ficasse extremamente afiada. Vejo apenas de relance, pois a criatura se movimenta com enorme destreza, concluindo seus abates e se preparando para o banquete. A promessa de troféus não é o que a motiva a caçar. Sinto uma avidez mais intensa nos movimentos dela, algo muito além do ímpeto primitivo de sobreviver. Quando a última acuâmina morre, ela diminui o ritmo. Mas, ainda assim, não fica parada. A criatura salta e desliza pelo chão como fumaça. Agora consigo observá-la melhor. Minha mente fica confusa. A criatura parece um inseto, mas não é. As partes de seu corpo não fazem sentido. Aqueles membros, aquela carne, aquela carapaça e aquelas garras não podem pertencer à mesma criatura, e jamais vi algo como aquele exoesqueleto cintilante, arroxeado e escuro como frutas podres. O ar e a luz se contorcem ao redor dela. Também não querem tocá-la. Isso me traz a compreensão que tanto busco. Aquela coisa também carrega a marca de um exilado. Estou pronto para mandá-la de volta para a imundície de onde veio. Com a faca de Markon em punho, desço dos galhos. Não faço um único ruído ao aterrissar atrás da criatura. Ela nem sequer nota minha aproximação. Sei como me mover sem ser visto e ouvido, até aqueles doces momentos repletos de adrenalina após o golpe final. Eu me tornei um superpredador por adaptação, instinto... e, nesse momento, meu instinto berra que algo não está certo. A hesitação impede que meu sangue se una ao das acuâminas. Mal pude ver a garra que cortava o ar exatamente no espaço que eu deveria estar. A criatura sabia que eu estava ali. Se eu não tivesse parado de repente, seria o meu fim. Estava tudo muito claro. Muito simples. Eu devia ter percebido antes. A promessa de Ponjaf me cegou, minha confiança transformou-se em arrogância, deixando-me vulnerável. 52
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A garganta do monstro emite um som estridente. Suas mandíbulas cobertas de icor. Algo se mexe em suas costas, como se estivesse forçando sua carapaça. Ele sibila, num ruído que não consigo decifrar se é de dor ou prazer, enquanto um par de membros emerge e se desdobra em medonhas asas ensopadas. Ele percebeu a ameaça que represento e se modificou. Não vai aceitar ser minha presa. “Eu dou o bote” Lento demais. O contra-ataque da criatura arranca a faca de Markon da minha mão num segundo. E eu, levado pela tolice e pelo sentimentalismo, deixo que meus olhos acompanhem o movimento por um instante. Meu erro abre caminho para que a criatura ataque. Outra garra afiada surge rapidamente. Sinto uma dor que queima e punge. Ouço um rugido entre minhas orelhas. Caio para trás. Sinto o sangue escorrendo pelo meu rosto. Arrasto-me para ganhar certa distância, numa tentativa de tirar as manchas vermelhas da minha visão. Com o olho direito, vejo tudo embaçado. Com o esquerdo, apenas escuridão. O rugido não cessa. Toco meu rosto lentamente. Percebo o que a fera havia feito. Batendo suas asas com o que restava daquela gosma vil, a criatura levanta voo para pairar sobre mim. Ela exibe suas presas, não sei se em desafio ou gracejo, e mantém meu olho esquerdo preso em uma delas para que eu veja. Lentamente, a criatura relaxa as mandíbulas para que meu globo ocular banhado em sangue solte de sua presa e deslize até sua garganta. "Sinto meu sangue ferver dentro de mim. Cerro os punhos, esfregando-os em meu olho restante." A profanação que aquilo representava. A reviravolta simbólica de quando aquela criatura imunda arrancou de mim o papel de caçador. Já não sinto mais dor. Apenas fúria. Então me arremesso sobre ela. Não preciso de faca. Já nasci com minhas garras e aprendi meu rugido triunfante sozinho. Não serei derrotado. Entramos em conflito. A dança escarlate de violência parece infindável. Nós dois revezamos o papel de predador no combate. A abominação é como uma escuridão fria. Eu sou como o núcleo de um sol vingativo. Nós nos ferimos incessantemente e o resto do mundo já não nos importa mais. Finalmente, quando a noite cai, meu inimigo foge. Ou será essa a minha esperança? Talvez tenha aprendido o bastante comigo e o instinto o levou a coisas mais grandiosas. A exaustão me domina. Eu desabo, coberto de ferimentos ensanguentados e tomado por uma nova sensação terrível de conexão àquele monstro. Contos de Runeterra - Rafael Paes
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Um elo foi criado no momento em que ele comeu da minha carne. Os Kiilash o conhecem como Kha’Zix. Na antiga língua mortal, isso significa “enfrentar a si mesmo”. Uma coisa é certa: ele mudava à medida que lutávamos, evoluindo e dando a volta por cima. Ele ia sempre adiante para alcançar seu limite, enquanto eu só olhava para mim, para o meu passado e para a tribo onde nasci, na tentativa inútil de invocar a fúria do meu exílio. Mas não foi o bastante. Ele se adaptou, agora é a minha vez. Ainda terei o abate que tanto almejo.
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"Besta de Boleham..."
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“O pequeno mestre do mal”
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uvens de tempestade vinham da direção das Montanhas Prateadas, prometendo pirotecnias, mas sem entregar nada. Olhando da torre, a turba que se aproximava lembrava brinquedos bagunçados de criança, cheios de lanças de palito de dentes e pequenas tochas. A figura na frente do grupo era alta, com uma mancha de cabelos grisalhos e uma espada presa ao cinto da sua túnica. Veigar observou o grupo começar a bater nos portões externos, incensado por seus métodos vis, exigindo justiça pelos atos terríveis que ele cometera. Finalmente! Ele correu pelas escadas até chegar à porta interior. Um grande estalido ressoou quando os portões se quebraram e os aldeões tropeçaram para dentro do pátio. A líder desembainhou sua espada e avançou, abrindo caminho entre membros desajeitados, esperando para que o resto do grupo conseguisse se levantar e segurar suas lanças pela ponta certa. Espiando pela fresta na porta, Veigar riu de antecipação. O olhar da mulher voltou-se para cima. Veigar cobriu a boca com uma mão enluvada, mas ele já fora descoberto. Os fazendeiros tropeçaram sobre si mesmos para se esconder por trás das saias de sua líder. Era perfeito. Ele deu um passo para trás e, quase sem conseguir segurar firmemente seu cajado por causa de suas altas gargalhadas, explodiu a porta com uma bola de energia roxa. Ele andou para o topo dos degraus de pedra enquanto a poeira baixava. Ele sabia que sua figura devia ser imponente, com seu chapéu quase cobrindo o umbral da porta, suas botas de ferro levantando faíscas e trovejando a cada passo gigante, sua manopla grande o suficiente para esmagar qualquer tolo que ousasse desafiá-lo. Infelizmente, os aldeões aterrorizados ainda não haviam olhado para cima, e segurar sua pose intimidadora estava começando a parecer forçado demais. Ele soltou a respiração que estava segurando e murchou um pouco. “O vilão!”, gritou a líder, eventualmente, brandindo a espada na direção dele. Na sombra sob seu chapéu, Veigar sorriu. Ele fez sua pose mais intimidadora possível enquanto os aldeões o contemplavam. Então começaram os gritos e choros. E, melhor ainda, alguém mais no fundo até desmaiou. Ele aglomerou sua magia sinistra, formando uma nimbos escura e fazendo com que fagulhas violetas pulassem de pontas de lança e fivelas de cinto. A líder cambaleou para trás quando uma serpentina de cor de meia-noite enrodilhou os aldeões, explodindo para cima na forma de uma jaula de feitiçaria. “Silêncio!”, comandou Veigar. 56
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Ele aproveitou cada passo longo pelas escadas até chegar à turba aprisionada. Em torno deles, paredes de luz violeta zumbiam e se estendiam entre pilares semelhantes a garras, formando algo como um círculo de pedras macabro. Ele parou a quase uma espada de distância da líder, encarando seus prisioneiros através da barreira arcana. “Posso ver o medo nos seus corações!”, ele começou, com um riso zombeteiro e sem humor. “Vocês ousam marchar até aqui para desafiar meu regime do terror? Eu, Veigar, que tenho a magia do universo ao meu controle? Eu, o Grande Mestre do Mal, que derrotou inimigos arcanos sem fim na minha busca por ainda maiores—” “Cê amaldiçoou meus campo com ratos-gafanhotos por duas estação!”, gritou um fazendeiro de aparência particularmente rude, seu rosto vermelho de raiva. Veigar piscou, tentando processar a interrupção. “Amaldiçoei você com o quê…?” “E também deixô Dollee manca uma semana antes da colheita!”, acusou uma lavradora indignada, balançando o dedo na direção do cada vez mais confuso Grande Mestre do Mal. Com isso, o grupo se separou e os aldeões começaram a fazer todas as suas queixas. Veigar só conseguia ouvir pedaços das acusações mais altas, a maioria caracterizada por leite estragado e beterrabas pequenas demais. Enquanto ele se encolhia frente ao ataque verbal, a barreira roxa tremeluziu e se desfez, mas os aldeões nem notaram. Eles andaram para a frente, gritando na sua cara. Ele sentiu o corrimão de pedra das escadas nas suas costas. Ele estava cercado. Ele tentou responder fracamente, sua voz perdendo profundidade a cada palavra. “Mas eu… eu sou…” Eles se amontoaram a sua volta, agora na altura de seus olhos, sem precisar olhar para cima. De repente, uma voz mais velha de comando se elevou por cima da balbúrdia. “Quietos. Todos vocês.” “Mas, Margaux…”, alguém começou, antes do olhar da líder fazer sua objeção murchar. O grupo recuou e Veigar se viu sozinho com ela. Ela parecia ter duas vezes a sua altura neste ponto e irradiava confiança. Ele já a odiava. “Certo, vilão”, ela cuspiu. “Você ouviu nossas acusações. Você alega ser inocente?” Veigar sentiu como se tivessem lhe dado um tapa. Ele estufou o peito, sentindo-se alguns centímetros mais alto. “Inocente? Inocente?!” Ele se virou e começou a subir os degraus, ficando mais alto que a multidão. “Vocês têm a ousadia de trazer suas crendices supersticiosas à minha porta e então me insultar ao perguntar se eu as nego?!” Ele olhou com raiva por cima do ombro para eles. Contos de Runeterra - Rafael Paes
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“Eu nego! Eu nego cada uma delas! Mas não ousem presumir que eu alego inocência. Vocês me acusam de maldades, e eu sou mau! Desde que tomei esta torre arcana de seu proprietário insignificante, eu queimei seus campos! Aterrorizei seus mestres da guerra, derrotando-os tão plenamente que eles juraram nunca voltar!” Ele subiu os dois últimos degraus em um único grande passo. “E comecei minha campanha de terror contra outros feiticeiros nos arredores! Pois ninguém mais poderá obstruir meu caminho rumo ao poder mágico absoluto!” Ao dizer isso, o céu relampejou e raios mágicos voaram das nuvens, explodindo em torno do pátio. Veigar jogou a cabeça para trás e gargalhou, deliciando-se na pura glória do seu próprio mal. Esses mortais insignificantes implorarão por perdão frente à sua terrível magnificência! Quando ele parou para tomar fôlego, os aldeões estavam reunidos, lançando olhares de apreciação na direção dele. Uma mulher dentre eles levantou a cabeça. “Você derrotou Vixis, a Cruel? A Mestre da Guerra?” “Claro que sim! Ela falhou em demonstrar a deferência adequada e eu…” Suas palavras vacilaram quando o grupo voltou aos seus sussurros entusiasmados. Veigar se mexeu, desconfortável, esforçando-se para ouvir o que eles estavam falando. Um por um da turba acenou a cabeça para o outro, virando-se para olhar na direção dele. Eles o encontraram admirando friamente o brilho da sua manopla polida. A líder, Margaux, andou até os pés das escadas, dando uma meia mesura desajeitada, e se dirigiu a ele. “Oh, grande e poderoso… ahm… feiticeiro…?” “Bruxo!”, corrigiu Veigar. “Poderoso bruxo. Nós, os residentes da ridícula e insignificante vila de Boleham, com a qual realmente ninguém se importa—” “Essa é nossa vilinha!”, alguém interrompeu, solicitamente. Margaux suspirou. “Sim, nossa vila. Bom, como pode ver, nós criamos juízo, então imploramos humildemente ao poderoso bruxo, o Grande Vai—” “É Vêi-gár! Veigar!” “Desculpe! Veigar! Imploramos humildemente que você nos poupe e só, hmm, sabe… continue com o que está fazendo.” Veigar estreitou os olhos. “O que quer dizer?” “Bom, você sabe. A gente simplesmente vai para casa e você pode continuar à vontade seu… reino de terror… e tal. Viver e aterrorizar, é o que eu sempre digo.” Isso tinha que ser algum tipo de truque. Ainda assim, ela continuou. “Mas é claro que faremos questão de demonstrar a… deferência apropriada. Amaldiçoaremos seu nome em sua ausência. Espalharemos contos sobre sua fúria cruel. Frenk diz que tem um primo lá em Glorft que ouviu um boato 58
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de um tal outro feiticeiro maligno por aí, se você estiver interessado em… sabe…” “Destruí-lo! E tomar todas suas feitiçarias pavorosas para mim!” Veigar cerrou seu punho na manopla, imaginando o doce triunfo de destruir outro mestre arcano em uma batalha de bruxo. Margaux o observava cuidadosamente. Veigar notou até certa esperança em seu olhar. Finalmente, depois de uma longa pausa, ele rolou os olhos e girou seu cajado. “Seus tolos! Acharam que podiam me enganar? Eu, Veigar, o Mestre do Mal?! Esperado que talvez eu realizasse seu desejo de misericórdia com um fim rápido e indolor?! Bom, sinto informar que suas vidas simplesmente não valem o meu tempo!“ Ele riu, uma risada alta que combinava com sua nova estatura. “Retirem-se da minha frente, aldeões insignificantes! Voltem para Boleham e rezem para que nunca mais eu os considerem dignos da minha atenção!” Os aldeões conseguiram dar algumas mesuras ou se curvar sem vontade antes de voltarem para os portões danificados. Margaux arriscou uma última olhada na direção dele, então se virou para sair. “Espere!”, ele trovejou. A mão dela foi direto para a espada. Com o máximo de indiferença que ele conseguiu juntar, Veigar fez seu caminho para baixo da escada novamente. “Quando você acha que eu posso falar com o primo do Frenk sobre esse tal outro feiticeiro?”
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"Volta ao lar..."
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“O espadachim wuju”
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ma rajada de vento sopra pelas encostas das montanhas, e folhas secas caem de galhos tremulantes. Yi está levitando a poucos centímetros do solo, com os olhos fechados e as mãos dobradas, ouvindo o canto matinal dos passarinhos de Bahrl. A brisa fresca toca seu rosto e acaricia sua sobrancelha. Com um leve suspiro, ele desce até suas botas tocarem o chão. Ele abre os olhos e sorri. É raro ver um céu limpo e amigável. Yi tira a poeira do seu manto, e nota alguns fios de cabelo caídos. A maioria é preta, mas, mas alguns são brancos como uma seda selvagem. Faz quanto tempo? Ele se pergunta. Jogando um saco de sarja por cima do ombro, ele continua sua caminhada, deixando para trás as árvores que antes balançavam cheias de vida, mas agora estavam paradas. Yi olha para o pé da montanha, observando o quanto já caminhou. O terreno lá embaixo é tão macio, frágil; tesouros a serem protegidos. Ele mal pode esperar, e então volta a caminhar. Pelo caminho, lírios murchos, com pétalas corais ficando marrom. “Eu não esperava encontrar ninguém por aqui”, disse uma voz. Ele para, colocando uma mão na espada pendurada em sua cintura. A voz chega mais perto. “Feras idiotas. Elas sempre empacam nessa altura.” Yi vê uma lavradora idosa se aproximando, e solta a espada. Ela usa apenas colete, costurado com vários pedaços de pano. Ele se curva e ela se aproxima. “Poupe seus bons modos para os monges”, diz ela. “Você não parece alguém que vive do cultivo da terra, porque essas lâminas com certeza não são pra cortar mato. O que está fazendo aqui?” “O dia está ótimo para uma caminhada”, responde Yi, fingindo ingenuidade. “Então você veio treinar? Noxus já está voltando?”, pergunta ela com uma risadinha. “Onde o sol se põe uma vez, haverá de se por novamente.” A lavradora faz um som de deboche, reconhecendo o antigo provérbio. Quase todos nas províncias do sul o conhecem. “Bom, me avise quando eles voltarem. Nesse dia, partirei desta ilha. Mas até lá, por que você não faz algo útil com essa sua espada e ajuda uma senhora fraca e indefesa?” Ela acena para Yi acompanhá-la. Ele obedece. Eles param perto de uma área arborizada. Um filhote de cabra chora de dor, com as pernas presas por grossas videiras que se apertam ainda mais quando a criatura tenta se soltar.
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“Aquele ali é Lasa”, explica a lavradora. “Ele é meio burrinho, mas é mais útil pra mim na lida do que preso aqui nesta montanha.” “Você acha que ele foi amaldiçoado?” Pergunta Yi, ajoelhando-se ao lado do animal. Ele passa a palma da mão sobre suas costas macias, sentindo os músculos se contraírem em espasmos. A lavradora cruza os braços. “Bom, alguma coisa não espiritual aconteceu aqui”, responde ela, acenando com a cabeça em direção ao topo da montanha. “E sem sua magia natural, a terra precisa se alimentar, mesmo que para isso tenha que tirar algumas vidas. Na minha opinião, devíamos queimar logo o que está lá em cima.” Yi concentra-se nas videiras. Ele não esperava ver ninguém nesta parte da montanha. “Vou ver o que posso fazer.” Murmura ele, sacando duas lâminas das bainhas de latão de suas botas. Enquanto o aço chega perto das amarras, as videiras parecem se retrair. E tudo fica em câmera lenta. Gotas de suor escorrem pelo rosto de Yi. Ele fecha os olhos. “Emai”, sussura ele, na língua de seus ancestrais. “Justo.” A cabra dá um salto, soltando um grito alegre e agudo. No chão, as videiras cortadas se mexem como pele solta. O animal corre morro abaixo, deleitando-se com sua liberdade enquanto a lavradoura vai atrás dele. Ela o apanha com as duas mãos e o abraça junto ao peito. “Obrigada!”, exclama ela, sem perceber que Yi já seguiu seu caminho. Ela chama por ele. “Ei! Esqueci de perguntar. Para que você está treinando? A guerra já terminou, sabia?” Ele não olha para trás. Não para mim. Uma hora depois, ele chega à barragem. Ele está cercado pelas ruínas de um vilarejo, tomadas pelas mesmas videiras. Aqui é Wuju. Aqui era o seu lar. Yi se dirige para o cemitério, passando por vigas e alvenaria tombadas, restos de casas, escolas, santuários; os escombros se misturam. As ruínas da oficina de seus pais estão em algum lugar nos escombros. Há muito a se lamentar, e não há tempo suficiente. As sepulturas que ele visita estão dispostas em perfeita simetria, com espaço entre os montes para alguém passar. Alguém como Yi. “Wuju honra sua memória.” Ele coloca a mão no punho de todas as espadas que perfuram a terra. Essa é sua homenagem aos guerreiros, professores e alunos. Ele não deixa ninguém de fora. 62
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“Que seu nome seja lembrado.” “Descanse. Encontre paz na terra.” Sua voz começa a demonstrar sinais de cansaço. Quando o céu começa a ganhar um tom alaranjado, restam apenas três túmulos. O mais próximo está marcado por um martelo, com a cabeça enferrujada pelo ar da montanha. Yi tira um pêssego da bolsa, colocando-o ao lado do monte. “Mestre Doran, isso é de Wukong. Ele não pôde vir comigo, mas queria que o senhor recebesse sua fruta favorita. Ele ama o cajado dele, quase tanto quanto ama zombar do capacete que o senhor me deu. Ele segue para os próximos dois montes, ornamentados com bainhas de latão. “Emai, o tempo está brando hoje. Justo… Espero que estejam gostando do calor.” Yi segura suas duas espadas curtas e as coloca nas bainhas que adornam as sepulturas de seus pais. Elas cabem perfeitamente. Ele fica de joelhos e abaixa a cabeça. “Que a sabedoria de vocês continue a me guiar.” Ao levantar-se, ele pega seu capacete na sacola. O sol da tarde atinge suas sete lentes, criando reflexos em vários tons. Segurando o capacete junto ao peito, ele imagina um jardim de lírios que costumava existir aqui. Isso foi antes dos gritos. Antes que ácidos e venenos fizessem a magia da terra se virar contra si mesma. Ele veste o capacete e um caleidoscópio dos arredores preenche sua visão. Com as mãos unidas, ele fecha os olhos e esvazia a mente. Ele não pensa em nada. Absolutamente nada. Seus pés descolam do chão, sem que ele tenha consciência. Ao abrir os olhos, ele vê tudo. Morte e decadência, com pequenos sinais de vida. Ele vê espíritos de outros planos. As videiras os prendem como prendiam a pobre cabra, enfraquecendo suas essências. Ele sabe que qualquer espírito forte o suficiente para se libertar teria abandonado este lugar amaldiçoado. O que ainda resta já foi corrompido... ou será em breve. Lamentos dolorosos e atormentados pairam pelo ar. Yi também já chorou de dor, mas isso foi há muito tempo, quando ele achava que lágrimas podiam trazer os mortos de volta. Ele pisca, e volta ao mundo material. Por um instante, ele finge não carregar o peso do mundo sobre os ombros. Depois, ele pisca de novo. Os espíritos continuam a se lamentar. Yi saca sua lâmina. Ele dispara como uma ventania, varrendo o terreno como uma mudança de estação que só percebemos depois que passa. Num piscar de olhos, ele está Contos de Runeterra - Rafael Paes
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de volta ao ponto inicial, perfeitamente imóvel, com a espada em seu lugar. Uma a uma, as videiras murcham. Algumas caem de telhados desmoronados, outras ressecam onde estão. Ele se senta de pernas cruzadas para contemplar tudo. Agora os espíritos estão cantando, e ele sabe que não há maior sinal de gratidão. Enquanto as videiras se dissolvem, a terra ecoa sua felicidade. Flores de pessegueiro brotam onde a vegetação se manteve resistente. Caules de bambu se endireitam, se alguém tivesse chamado sua atenção. Yi solta um leve sorriso. Ele tira o capacete e enfia a mão na mochila, passando pelos outros itens que trouxe para a viagem. Frutas, nozes… carvão, pedras. Coisas para ele, e para limpar a terra de uma vez por todas. Mas não agora. Não ainda. Ele retira uma caneta fina e um pergaminho amassado. A página está toda marcada. Yi acrescenta alguns riscos. Abaixo há mais palavras. 30 dias entre as desobstruções. Ele sabe que, em breve, precisará realizar o desejo da lavradora -o de atear fogo em seu lar. Mas não agora. Não ainda.
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Tipografias ultilizadas: Times New Roman (corpo do texto) Times New Roman (capitulares) Calisto MT (Título do Livro) Calisto MT ( Nome do autor) Calisto MT (Sinopse) Calisto MT ( Descrição do autor) Papel Offset 75g (Miolo) Papel Couche 120 (Capa e orelhas)
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