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REAL OU IMAGINÁRIO?
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_Real_ou_Imaginรกrio?_
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REAL IMAGIN
_Real_ou_Imaginรกrio?_
L OU Nร RIO?
[Reconheces que todo o entendimento do real é influenciado pelo imaginário e vice-versa?]
_Notre_Musique_
Vivemos rodeados de quantidades extremamente agressivas de informação e não nos apercebemos de que algumas mensagens não nos chegam de forma objectiva, o que faz com que tomemos como certo e real algumas coisas que não o são na sua totalidade. O sistema de ensino em que nos inserimos, desde muito cedo, suprime as capacidades para uma melhor utilização e um entendimento da nossa imaginação em função de mais e melhor eficiência. Criamos então o hábito de não reparar no processo de influência e manipulação da nossa imaginação na descodificação de uma mensagem. O significado de uma imagem sofre alterações, com alguma facilidade, através de uma legenda que não venha de acordo com a nossa primeira impressão, dependendo do que a rodeia e do ambiente onde esta inserida, influenciada pela imagem que vimos ante- riormente ou pela que nos é mostrada a seguir;
No excerto do filme Notre Musique, em que Godard ministra uma aula sobre cinema, são nos transmitidas e exemplificadas técnicas de manipulação do real e do imaginário. É referido, em particular, o campo/contracampo que é a principal ferramenta do cinema clássiconarrativo, visto que introduz continuidade visual a imagens completamente descontínuas. Trata-se duma montagem invisível ou duma sequência calculada de imagens, a qual naturaliza, aos olhos do espectador, a ilusão de que, por exemplo, os personagens ocupam o mesmo espaço cénico quando, na realidade, se encontram separados, tudo isto de maneira a utilizar a nossa imaginação como construtora de uma realidade falsa. Queremos que, com este projecto, o espectador note a coexistência de realidades incertas, e que use essa realização na sua rotina
EDITORIAL
_Real_ou_Imaginário?_
manipulada pelas nossas experiências e memórias passadas.
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“
Segundo vocês, onde terá sido tirada esta fotografia? — Estalinegrado. Rússia — Varsóvia. Polónia Beirute. — Sarajevo, Hiroshima. Não, em Richmond, Virgínia, em 1865. Na guerra civil americana, Norte contra Sul.
_Notre_Musique_
—
Ela foi uma pequena camponesa do 2º Império que afirmou ter visto a Virgem. Perguntavam-lhe como era ela e Bernadette respondeu “Não sei descrevê-la.” E a Madre Superiora e o Bispo mostraram-lhe gravuras dos grandes quadros religiosos, a Virgem de Rafael, de Murilo... E a cada vez dizia a Bernadette, “Não, não é Ela.” Até que lhe mostram a Virgem de Cambrai, um ícone. E Bernadette cai de joelhos. “É Ela, Monsenhor.” É sem movimento, sem profundidade, sem artifício... O sagrado.
—
Sim, a imagem é a felicidade, mas junto a ela mora o vácuo. E todo o poder da imagem só se exprime através dele.
Dizem que nosso idioma divide arbitrariamente os objectos da realidade. E dizem-no como se a culpa fosse nossa. Se calhar estudaram a “Fedra” de Racine, em francês? “Irás saber o meu crime e a sorte que me aguarda, mas não será por isso que não morrerei, e mais culpada.”
—
Tentar ver qualquer coisa, tentar imaginar qualquer coisa. No primeiro caso dirão, “Olha para ali.” E no segundo, “Fecha os olhos.”
—
Campo e contra-campo são essenciais à linguagem do cinema. Mas olhem com atenção estas duas fotografias do filme de Hawks... Verão que é a mesma, repetida. E isso por o realizador ser incapaz de ver a diferença entre a mulher e o homem. O pior é quando se trata de duas coisas parecidas. Por exemplo, duas fotografias de actualidades representando um mesmo momento na História.
—
Nota-se então que, na verdade,
Por exemplo, em 1948, os israelitas caminhavam sobre a água para chegar à Terra Prometida; os palestinianos caminhavam na água para se afogarem. Campo e contra-campo. Campo e contra-campo... O povo judeu torna-se matéria de ficção, o povo palestiniano, de documentário.
—
Dizem que os factos falam por si próprios e Heinsenberg dizia, “Infelizmente não por muito tempo.” Isso já em 1936. Porque já então o campo do texto tapara o campo da visão.
—
Em 1938 Heinsenberg e Borg passeiam-se num campo
—
Responde o físico dinamarquês, “Pois não, mas se o chamar o castelo do Hamlet ele torna-se extraordinário.” Elninor o real; Hamlet o imaginário. Campo e contra-campo. Imaginário, certeza; Real, incerteza. O princípio do cinema, ir ao encontro da luz e dirigi-la para a nossa noite. A nossa música. _
— —
M. Godard, acha que as novas pequenas câmaras digitais poderão salvar o cinema?
“
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—
da Dinamarca, falando de física. Diante do castelo de Elsinor, diz o sábio alemão “Este castelo não tem nada de especial!”
“NOTRE MUSIQUE”, DE JEAN-LUC GODARD
a verdade tem dois rostos. E se querem a minha opinião isso é por aqueles que são donos dos livros não passarem de contabilistas. Aliás, Balzac nos seus romances falou das inscrições no grande livro de contas. As Tábuas da Lei, as Sagradas Escrituras, o povo do Livro.
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CERTEZA ENSINO IMAGEM MANIPULAÇÃO REALIDADE
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INCERTEZA ERRO LEGENDA INFLUÊNCIA IMAGINAÇÃO
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2~ TOMMY 1977 & 2010 BUENOS AIRES
1~ MARITA Y COTY 1977 & 2010 BS AIRES
IRINA WERNING
DOCUMENTÁRIO
FICÇÃO
2
1
FICÇÃO
DOCUMENTÁRIO
“Existe uma relação ambígua da fotografia entendida como documento e entendida como representação, pois dentro de uma imagem existem realidades e ficções que permitema manipulação como suporte para a expressão artística. Nessas fotografias são exaltados diversos processos cognitivos que possuem elementos identitários, memoriais e imaginativos onde a percepção não termina somente na observação das fotografias, mas sim na relação entre elas, na relação delas com as outras imagens e como as representações simbólicas atuam em diferentes contextos espaciais e temporais.” Anna Carvalho
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A representação de uma realidade passada numa ficção que utiliza o seu estado presente.
DOCUMENTÁRIO
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Acções semelhantes que se distinguem pelos factos. “Enquanto a realidade se esvai a cada segundo sendo substituida por outra realidade, o imaginário permanece e se imortaliza. A fantasia, o imaginário, faz das nossas necessidades emocionais a sua morada e não uma hospedeira de curta permanência, como acontece com os factos, com a realidade mutante.” Marco Gavazza
FICÇÃO
2
1
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2~ LA TOMATINA, ESPANHA
FICÇÃO
1~ A RAPARIGA DE VESTIDO VERMELHO
DOCUMENTÁRIO
CERTEZA
“The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012,
INCERTEZA
2~ EFEITO KULESHOV, ALFRED HITCHCOCK
“E, assim, às vezes encontramo-nos numa encruzilhada, num lugar de incerteza, diante de percepções nascidas de elementos falsos, mal-entendidos, preconceitos ou desunião — percepções que não nos servem.”
1~ EFEITO KULESHOV, LEV KULESHOV
1 _Notre_Musique_
Todo o nosso entendimento é mutante.
2
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INCERTEZA
CERTEZA
_Notre_Musique_
2~ SIETE PUNTO UNO – LOS GATOS, CALIFÓRNIA/EUA
1~ TAYLOR HALL, CHICO STATE UNIVERSITY – CHICO, CALIFÓRNIA/EUA
CERTEZA
INCERTEZA 1
As coisas não valem senão na interpretação delas. Uns, pois, criam coisas para que os outros, transmudando-as em significação, as tornem vidas. Narrar é criar, pois viver é apenas ser vivido.” Fernando Pessoa
_Real_ou_Imaginário?_
“A experiência direta é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação. Os homens de ação são os escravos dos homens de entendimento.
INCERTEZA
2
CERTEZA
1
MANIPULAÇÃO
_Notre_Musique_
Nada se cria, tudo se copia. “A mesma imagem pode ter um número infinito de origens no mundo real. Quando se trata de percepção — ver, sentir — não há tal coisa como a objetividade.” “The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda Enayati
INFLUÊNCIA
2 _Real_ou_Imaginário?_
INFLUÊNCIA
2~ “SIERRA, LE SOLEIL DE MIDI”, ARCOROC
1~ NATUREZA MORTA COM COPOS, CLAESZ (1596/1661)
MANIPULAÇÃO
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1
3 ~ GERARD DAVID (1523)
2~ CIMABUE (C.1240-1302)
1~ PIERRO DELLA FRANCESCA (1420-1492)
MANIPULAÇÃO
INFLUÊNCIA 2
“The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda
_Real_ou_Imaginário?_
“O cérebro não evoluiu para ver o mundo como ele realmente é - não conseguimos”, diz Lotto. “Nós não podemos deixar de ver as coisas de acordo com a história — a nossa própria história e a dos nossos antepassados — porque são definidos pela ecologia. Não pela nossa biologia, e não pelo nosso DNA, mas pelo nosso histórico de interações.”
INFLUÊNCIA
3
MANIPULAÇÃO
IMAGEM
“A sociedade “entra na nossa mente” e permanece. Esta influência social profunda, conhecida como “habitus”, é adquirida através de atividades e experiências da nossa vida cotidiana, e é muitas vezes tida como certa. (...) Muitas vezes confiamos inconscientemente neste “habitus” para o contexto de algo e este serve-nos bem. Até ao momento em que não.” “The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda Enayati
LEGENDA
2
1 _Notre_Musique_
Transformação de contexto.
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LEGENDA
3~ “THE MUSICAL”, BANSKY
2~ “THE MUSICAL”, BANSKY
1~ “THE MUSICAL”, BANSKY
IMAGEM
IMAGEM
LEGENDA
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1
John Berger (1972), Modos de ver “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. Imaginação envolve o mundo.” Albert Einstein
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1~ A ONDA DE KATSUSHIKA HOKUSAI
“O significado de uma imagem varia consoante o que se vê imediatamente ao lado ou imediatamente a seguir.”
2~ POSTER PUBLICITÁRIO, DEPTH CHARGE
2
LEGENDA
IMAGEM
ERRO
ENSINO
1, 2, 3, 4~ “THE POWER OF PERCEPTIONS: IMAGINING THE REALITY YOU WANT”, BEAU LOTTO
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2
1
ENSINO
“A educação deve ter como objectivo a criação de novas percepções, diz Lotto. Tradicionalmente a educação tem-se focado na eficiência — quer saber o que acontece no final. Existe uma resposta certa. Mas as pessoas precisam de aprender a mover-se entre o “porquê” e o “como”.”
3
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“The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda Enayati
4
3
ERRO
ERRO
ENSINO
2~ MISS BOYER’S KINDERGARTEN CLASS, 1917
1~ PUPILS WITH COUNTINGFRAMES IN CLASSROOM,1930
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2
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ENSINO
ERRO
“Se não estás preparado para estar errado, nunca vais encontrar uma ideia original.” Ken Robinson
1
IMAGINAÇÃO
REALIDADE
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2
“The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda Enayati
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A percepção começa quando o cérebro humano recebe os dados dos cinco sentidos do corpo. A mente, então, processa e atribui significado à informação sensorial. (...)”
3
“A ideia de tornar-se consciente da subjetividade das nossas percepções é abstrata — a matéria da filosofia e da ficção científica. Mas as percepções humanas, e as suas ramificações, são reais e, potencialmente, alteram o modo de ver a vida (...)
1, 2, 3~ TWO WOMEN (2005), RON MUECK
Ilude-nos os sentidos.
REALIDADE
IMAGINAÇÃO
1, 2, 3, 4 ~ OSKAR & GASPAR, VIDEO MAPPING, CENTRO CULTURAL DE BELEM, LISBOA
Ao fazê-lo, o cérebro redefine continuamente a normalidade. Sendo moldado, literalmente, como uma consequência do processo de tentativa e erro. (...) A informação sensorial pode significar qualquer coisa, Lotto observa. É o que fazemos com essa informação que importa. (...)” “The power of perceptions: imagining the reality you want”, CNN, 14 de Abril de 2012, Amanda Enayati
REALIDADE
1
IMAGINAÇÃO
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“Os seres humanos evoluíram para dar sentido às coisas. Cada vez que um estímulo chega até nós, o nosso cérebro faz a sua eficiente função : ele responde baseando-se em experiências passadas.
3
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REALIDADE
4
2
IMAGINAÇÃO
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CERTEZA ENSINO IMAGEM MANIPULAÇÃO REALIDADE
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INCERTEZA ERRO LEGENDA INFLUÊNCIA IMAGINAÇÃO
REAL OU IMAGINÁRIO? Esta publicação é resultado da oficina “Ficha de Leitura”, desenvolvida no âmbito da disciplina de Design de Comunicação IV, durante o 1º semestre, no ano lectivo 2013/2014, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa - 20 de Janeiro de 2014
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— DOCENTES Sofia Gonçalves e Sónia Rafael
— DESIGN/EDIÇÃO André Mata; Ivo Fernandes; Joana Monteiro
— REVISÃO Ivo Fernandes
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TIPOGRAFIA Futura Minon Pro
— IMPRESSÃO
— Nº EXEMPLARES 3
— VARIANTE DIGITAL Disponivel em: tumblr- http://real-ou-imaginario.tumblr.com facebook - https://www.facebook.com/real.ou.imaginario
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Arco Íris lda.
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ACESSO DIRECTO AO FACEBOOK
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NOTRE MUSIQUE
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