TFG REDE DE ESCOLAS

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REDE DE ESCOLAS P R O P O S T A PA R A U M A C I D A D E E D U C A D O R A



t ra b a l h o de co n c l u s 達 o a l u n a i z a b e l b a r b o n i ro s a o r i e nt a do r s i l vi o o ks ma n c u r s o de a rq u i te t u ra e u r b a n i s mo e s co l a da c i da de | 2 0 1 2



"Comecemos pelas escolas, se alguma coisa deve ser feita para 'reformar' os homens, a primeira coisa Ê 'formå-los'.� Lina Bo Bardi



agradeรงo e dedico este trabalho a todos que acreditaram no meu percurso sem questionar o lugar de chegada .



SUMÁRIO APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO A PRIMEIRA INFÂNCIA O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE ARQUITETURA E PEDAGOGIA AS ESCOLAS DEMOCRÁTICAS CIDADES EDUCADORAS REDE DE ESCOLAS EMEF DESEMBARGADOR AMORIM LIMA CONCEITOS DE “REDE” ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA EDUCAÇÃO A ESCOLHA DA ÁREA ANÁLISE DA ÁREA A REDE LEITURAS FOTOS ANÁLISE DOS NÓS BIBLIOGRAFIA

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A P R E S E N TA Ç Ã O Esta pesquisa partiu da vontade de questionar os espaços vividos na infância, e a influência da arquitetura no desenvolvimento do ser humano. Pretende discutir, como os espaços vividos desde a primeira infância influenciam na pessoa que nos tornamos, e nas experiências que levamos para a vida. Como poderíamos projetar lugares que contribuíssem para esse desenvolvimento de maneira positiva? Como propor espaços que influenciariam o desenvolvimento – intelectual, motor e social - do ser humano com qualidade, elevando a capacidade da criança e do jovem de maior interação e compreensão do mundo que vivemos? A pesquisa trata, então, de lidar com a influência da arquitetura e da cidade no desenvolvimento intelectual das crianças e jovens. Sendo assim, qual espaço comunitário, que passamos a maior parte de nossas vidas, e está diretamente ligado ao desenvolvimento intelectual?

A Escola.

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INTRODUÇÃO Sendo a Escola um espaço fundamental para nosso desenvolvimento - como ser humano e como sociedade - decidi questionar sua relação com a cidade: uma proposta da expansão da escola para a cidade. Expansão da sua importancia no desenvolvimento de seus habitantes e expansão física/urbana no sentido de reurbanizar bairros a partir dos equipamentos educacionais. Parto do princípio que a cidade deve ser um espaço tão educador quanto às escolas. A rede proposta neste trabalho, de escolas públicas, contempla uma nova divisão administrativa dentro das Diretorias de Ensino de São Paulo e uma proposta urbana de requalificação das instituições esducacionais envolvidas e do bairro. A proposta se implanta no bairro do Butantã - São Paulo, associando quatro escolas públicas e quatro espaços públicos existentes. Assim como, novos equipamentos foram propostos a partir da necessidade da expansão do programa escolar, levando-os para fora dos limites físicos das escolas. Têm o papel de suprir a precariedade dos equipamentos existentes - como o centro esportivo, quadras poliesportivas, centro de tecnologia e bibliotecas - e de propor novos programas. - como o ateliê-escola, centro de tecnologia e novos desenhos para o espaço público. O foco nos espaços públicos acarreta em mudanças do sistema viário do entorno, na melhoria nas condições das calçadas, e a inserção de novos equipamentos urbanos (“folies”)1 A rede se dá em diversas camadas de intervenções, intersecções e associações, e assim se completa, promovendo seu funcionamento de fato. Se aplica em todas as escalas que a criança, o educador, o morador e o visitante, podem encontrar.

1 Ver “Análise dos Nós” página 40.

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A

PRIMEIRA

INFÂNCIA

Os primeiros anos de nossas vidas são os principais momentos de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal. Neste momento a arquitetura pode desempenhar um papel de extrema importância, pois poucos anos são tão importantes como os primeiros anos de uma criança, e também poucas influências são tão decisivas como os espaços onde crescemos. E dentre os espaços que crescemos uma das arquiteturas que tem extrema importância em nosso desenvolvimento são os edifícios escolares, lugares onde nos fazemos indivíduos autônomos e seres sociais, modelados por um entorno construído que nos ensina em silêncio. Todas as utopias pedagógicas tem gestado sua própria arquitetura escolar pelo mundo, e desde educadores revolucionários modernos, à devoção contemporânea pelo hiper-estímulo tecnológico e a hiper-proteção física, cada sociedade tem sonhado com suas construções escolares. Porém, hoje não sabemos bem se nossas escolas devem propor espaços amáveis e infantilizados ou espaços rigorosos, informais. O que se sabe é que uma boa escola que associa tanto seu trabalho pedagógico quanto seus espaços construídos, reforçam a autoestima e o interesse do aluno, tanto quanto, uma escola ruim, gera ressentimento, desafeto, desinteresse e violência1. Sendo a instituição escolar o lugar que passamos a maior parte de nossas vidas, e é neste ambiente onde as primeiras relações sociais e intelectuais começam a ser desenvolvidas mais intensamente, procuro, assim, questionar os espaços educacionais e suas relações com o entorno.

1 texto retirado e reescrito da revista Arquitectura Viva, número 126 - Primera Infancia.

imagens e desenho: Corona School | arquiteto Richard Neutra | ano construção 1935 | Los Angeles, Estados

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O PA P E L D A E D U C A Ç Ã O N A S O C I E D A D E Este trabalho visa tanto o estudo dos espaços educacionais, quanto entende a importância da inserção deles na sociedade, como agente de educação. “Sabe-se que a educação é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento de uma nação. Um país que visa à prosperidade deve conscientizar-se que somente através do uso efetivo do conhecimento é que se conquistará ascensão social e a obtenção da qualificação de vida das pessoas. Ensinar não é somente transferir informações, mas despertar no aluno a possibilidade de produção e construção do próprio conhecimento. É a partir do conhecimento que podemos propor modificações que propiciem o desenvolvimento do fazer, da significação e da expressão. Isso significa que a aprendizagem significativa é aquela que é capaz de atribuir sentidos, significados e interpretações e, sobretudo, provocar transformações no comportamento, na postura e na individualidade de cada pessoa”1 Dessa maneira a arquitetura, quando associada a diversos fatores, como a pedagogia, tem um papel fundamental na concepção de espaços educativos, sendo ela capaz de propiciar “silenciosamente” atributos de ordem pedagógicas, psicológicas e sociais, que levamos pela vida toda. Mas qual a realidade hoje da escola na sociedade brasileira? Qual seu significado, principalmente, em grandes centros urbanos como São Paulo? A sociedade como um todo se identifica com a Escola Pública e a educação de maneira geral? O olhar para a educação brasileira e a concepção de novas escolas vem crescendo nos últimos anos, mas ainda não supre a carência existente, tanto do número de edifícios necessários, quanto do ponto de vista pedagógica, e adaptação às diversas realidades brasileiras. Além de tudo, a marginalização da educação pública é refletida na área pedagógica e na estrutura física desses espaços educacionais. A degradação dos edifícios escolares é preocupante, reflete, também, a falta de vinculo dos alunos com a instituição educacional.2

1 Texto retirado da internet http://nextbit.com.br/o-empreendedorismo-pode-ser-desenvolvido útimo acesso 10/10/2012 2 Ler: GUIMARÃES, Áurea Maria. Vigilância, punição e depedração escolar – 3º ed. rev. Atual. – Campinas, SP: Papir us, 2003.

As relações da escola com a sociedade também são raras, fazendo com que os pais e a comunidade não participem tanto quanto deveriam das escolhas perante a educação das crianças e das atividades escolares. Assim como a relação em sala de aula - de aluno versus professor - é tensa, e vem fazendo com que cresça cada vez mais o desinteresse de ambas as partes. ”A escola não pode mais sozinha dar conta da educação de crianças e jovens, ela deve e pode contar com toda uma rede de ação articulada da qual participam todos os setores da sociedade, desde os vizinhos da escola até o governo federal. Diante disso a educação ganha um sentido multissensorial”3. A escola necessita se conectar com a cidade ao seu redor, e conectar-se também com outros tantos equipamentos de cultura, educação e esporte, inserindo-se, principalmente, dentro de uma Cidade Educadora4 Trabalhar o sistema escolar como uma rede de ações, propicia territorialmente a expansão da escola, ampliando seus limites físicos e pedagógicos. Entender que equipamentos de cultura e esporte são peças fundamentais na formação integral de um aluno é extremamente necessário para a reorganização da abrangência escolar. A cidade tem importância fundamental para a educação dos jovens e se conseguirmos unir esses elementos dentro de uma rede de ações, teremos resultados mais rápidos, mais interessantes e principalmente mais abrangentes nos termos de educação. Este processo é importante para o desenvolvimento das atividades escolares e pode trazer uma enorme contribuição para a cidade. E aqui a arquitetura não trabalha tanto como um fim, mas como um meio para consolidar uma rede e equipamentos capazes de abrigar as novas funções que lhe exigem.

3 GOULART, Beatriz. Territórios educativos para a educação integral: a reinvenção pedagógica dos espaços da escola e da cidade - agosto 2010 4 Ler “Cidades Educadoras”, página 16

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A R QU I T E T U R A E P E DA G O G I A A partir do questionamento da relação de arquitetura e ensino, fica claro que o espaço também é ditado pela pedagogia utilizada, são ferramentas que, dentro do contexto escolar/ educacional, não agem separadamente. Sendo assim, conseguimos relacionar que o tipo de pedagogia utilizada apoia o tipo de arquitetura dada, e vice-versa. Devido a essa relação intrínseca entre arquitetura e pedagogia, a análise e o questionamento das pedagogias utilizadas em instituições educacionais fez grande parte do desenvolvimento desta pesquisa. Aqui foi escolhido trabalhar com a filosofia de Escolas Democráticas - ou Pedagogia Libertária - essa escolha foi feita, pois, pedagogicamente essas instituições mostraram resultados educacionais, de socialização dos alunos, de interesse desses alunos com a instituição, que se mostraram mais rápidos, mais efetivos e menos agressivos em relação a uma pedagogia tradicional. Apoiam-se no benefício do aluno em si, buscando seu melhor desenvolvimento intelectual e social, tanto individual como em grupo, respeitando as dificuldades de aprendizado e de interesse. Não aplicam o dispositivo disciplinar como processo de socialização e aprendizado da criança,, fator que os diferencia drasticamente da pedagogia tradicional. Sendo assim, tanto a arquitetura que se deseja propor quanto à filosofia pedagógica escolhida tem o foco no melhor desenvolvimento possível dessas crianças. Entende-se nesse trabalho que tanto a pedagogia de escolas democráticas quanto a pedagogia tradicional, ambas visam à educação e desenvolvimento de seus alunos. Mas conclui-se aqui que a pedagogia de escolas democráticas lida de uma forma melhor com a individualidade de aprendizado da criança, e sua proposta de educação tem obtido resultados melhores do aprendizado e do interesse do aluno pela instituição, em relação às escolas tradicionais. Assim como se relacionam de maneira melhor, mais aberta com a cidade, e entendem a necessidade dessa abertura.

“o ambiente forma-nos mais que mil enciclopédias” | Richard Neutra

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AS ESCOLAS DEMOCRÁTICAS Dos diversos países que se encontram essas escolas, atualmente o movimento em torno do qual elas se articulam é chamado de Escolas Democráticas. Apesar de nem todas as escolas democráticas participarem do movimento internacional ou se reconhecem dessa forma, existem duas características que é comum a todas: a primeira é a gestão participativa, com processos decisórios que incluem estudantes, educadores e funcionários, e a segunda é a organização pedagógica como centro de estudos, em que os estudantes definem suas trajetórias de aprendizagem, sem currículos compulsórios. Entende-se nesta pedagogia que a sociedade que vivemos só será possível se seus membros forem pessoas de iniciativa, responsáveis, críticas e principalmente autônomas. O discurso das escolas democráticas volta-se justamente para este tipo de formação. Desta forma, passou-se a enfatizar também a participação dos estudantes na elaboração das decisões sobre a vida em comunidade e o respeito que eles têm que observar em relação a estas regras, para que adquiram o sentido de responsabilidade. Não se trata, portanto, de simplesmente inverter os polos da educação tradicional e passar a permitir tudo o que até então foi proibido ou suprimir a ação de todos os agentes responsáveis por aquela educação. Trata-se bem mais de formular outra proposta de educação para formar cidadãos aptos para viver e promover o regime democrático.1

1 SINGER, Helena. República de Crianças: sobre experiências escolares de resistência/ Helena Singer. – ed. rev. Atual e ampl. – Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010. – (coleção Educação e Psicologia em Debate)

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C I DA D E S E D U C A D O R A S O conceito de cidades educadoras foi desenvolvido nos anos 1990, no I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, celebrado em Barcelona, na Espanha. A principal conclusão foi da importância de trabalhar em conjunto projetos e atividades para melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. Projetos esses que visam múltiplos espaços para fornecer formação integral à população. A ideia de cidade educadora comporta um conceito de cidade que da unidade ao sistema humano, social e cultural em que os homens vivem e interagem. Serve de paradigma para ajuizar a capacidade ou potência educativa da cidade, através da educação formal, informal e não formal. Entende-se que a escola sozinha não tem condições de transmitir todos os conhecimentos e informações do mundo contemporâneo aos seus alunos. Mas não se trata de decretar o fim da escola, ou de diminuir sua importância, mas de pensar que existem outros espaços que também podem ser educativos. A partir disso, as cidades buscam uma articulação entre os diversos espaços de aprendizagem, na tentativa de oferecer uma formação integral nestes espaços educacionais. Por isso, o conceito de cidade educadora é uma nova dimensão complementar e, ate certo ponto, alternativa ao carácter formalizado centralista e frequentemente pouco flexível dos sistemas educativos.

imagem: A rua Lições de arquitetura, Herman Hertzberger

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REDE DE ESCOLAS O questionamento desta pesquisa foi além da relação entre espaço e ensino, entendendo que o problema da educação brasileira vai além da sala de aula. A inserção da escola na cidade, e sua relação com a própria cidade, nos mostra que a escola sempre foi um programa isolado dentro da cidade. E adotando essa nova postura pedagógica - das Escolas Democráticas - a questão de sua relação com a cidade, se amplia. Precisamos entender a cidade como princípio tão educativo quanto o edifício escolar. É necessário, então, romper as barreiras entre escola e cidade, redefinindo os conceitos dos limites físicos de onde termina a escola, e onde começa a cidade, tendo ambos como espaços educativos. Propondo então, a expansão da escola na cidade, alimentando sua integração com a sociedade e ação comunitária, por meio da associação entre escolas, espaços públicos e novos equipamentos propostos. “ Para fazer escolas e cidades de outro jeitos é preciso pensa-las e olhá-las de outro jeito. O que os estudantes aprendem na cidade, a escola desconsidera e desqualifica. Essa é a essência do potencial pedagógico dos lugares, do qual nos falou Paulo Freire. É a partir dela que devemos entender a arquitetura como forma silenciosa de ensino. (...) Nas grandes cidades brasileiras a escola restava como ultima e única alternativa para que as crianças pudessem ter uma experiência de espaço público. Então é necessário articular espaços escolares e não escolares, não para suprir carências e sim para estabelecer parcerias que potencializem a relação com a comunidade” 1.

P O S S I B I L I TA N D O A R E D E _ Mas para que essa rede aconteça é necessário que a cidade possibilite essa conexão. A cidade recebe os programas, mas fornece toda infraestrutura necessária para que essa relação em rede aconteça de fato. Para seu funcionamento como uma trama de ações é necessário ter uma cidade capaz de proporcionar tanto um desenho urbano que possibilite que os equipamentos e espaços públicos trabalhem em um sistema único, quanto para receber e conduzir de maneira segura e clara as crianças, jovens, e a comunidade, que utilizam dessa rede. Propor a conexão da rede é garantir a flexibilidade, o uso, a segurança e a vida que os equipamentos precisam. Desenhar a cidade é garantir que tanto as escolas como os equipamentos, e principalmente a vida urbana, coexistam. A cidade também educa, a rede conecta.

1 GOULART, Beatriz. Territórios educativos para a educação integral: a reinvenção pedagógica dos espaços da escola e da cidade - agosto 2010

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EMEF DESEMBARGADOR AMORIM LIMA A EMEF Desembargador Amorim Lima, localizada no bairro do Butantã, funcionou desde 1968 nesse endereço como uma escola tradicional. A escola possuía um alto índice de evasão escolar e repetência, assim como a falta constante dos membros do corpo docente. A comunidade percebeu que uma reforma no ensino poderia colaborar em reverter à situação e atrair o interesse dos alunos. Com a chegada da diretora Ana Elisa Siqueira, deu-se início a uma série de encontros e discussões entre pais, professores e alunos, que resultaram numa mudança estrutural na escola, iniciada em 2004, instalou-se uma proposta pedagógica inspirada no modelo da Escola da Ponte, em Portugal – O Fazer a Ponte.

Outra grande parte dos alunos é residente de conjuntos habitacionais e favelas próximas, vindos de famílias com pouco ou nenhum histórico escolar. Essa diversidade colabora com uma experiência educacional rica e muito pouco observada em São Paulo, que só tem a acrescentar na formação dos alunos e faz essa escola ainda mais única1.

[Escola da Ponte é uma instituição pública de ensino, localizada em Vila das Aves, no Distrito do Porto, em Portugal. A instituição surgiu na década de 1970, do desejo de se fazer uma escola que respeitasse as diferenças individuais dos alunos. A Ponte não segue um sistema baseado em seriação ou ciclos e seus professores não são responsáveis por uma disciplina ou por uma turma específicas. As crianças e os adolescentes que lá estudam - muitos deles violentos, transferidos de outras instituições - definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de pesquisa, tanto em grupo como individuais)] As paredes entre as salas de aula foram derrubadas, formando grandes pavilhões onde as crianças hoje estudam em grupos. As grades dos jardins foram retiradas, ampliando-se o espaço onde as crianças poderiam acessar. Apesar de a escola ainda contar com divisão dos alunos por séries, os pavilhões podem abrigar crianças de anos diferentes e permitem que trabalhem umas com as outras. E o desempenho escolar das crianças cresceu, assim como o interesse dos alunos, pais e professores pela própria escola. A escola localiza-se na no bairro do Butantã, em São Paulo. A região conta uma altíssima heterogeneidade de moradores. A comunidade participou ativamente da transformação da escola e se mostrou muito aberta a esse projeto. Além disso, as famílias ainda utilizam amplamente o espaço escolar aos finais de semana para o lazer. Os estudantes da escola vêm das mais diversas famílias e classes sociais, em parte, devido a essa comunidade local tão heterogênea, outro motivo é que seu ensino chama a atenção de pais com alto grau de escolaridade, o que dificilmente ocorre em outras escolas públicas em São Paulo. A maioria desses pais são professores da USP e moradores da região.

fotos tiradas em visita à escola | julho de 2012

1 Parte do texto foi retirado do TFG/FAUUSP -Fazer a Ponte - projeto de uma escola, Luiza Orsini. Novembro 2011

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CONCEITOS DE “REDE”

é uma rede que se deseja para a proposta

Analisando o conceito de rede, poderíamos dizer que uma rede é uma estrutura composta por pessoas/ organizações/ instituições, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características fundamentais na definição das redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes e a habilidade de se fazer e desfazer rapidamente. E a rede é composta por nós, sendo que esses podem conter diversas informações atribuídas ao seu tipo. E cada nó pode conter informações diversas uns dos outros, o que não significa que essas relações devam desiguais. Pois para se caratcterizar como rede, as ligações/ conexões/ trocas devem ser homogêneas.

os programas da rede não se sobrepõem, pois existem um em função do outro

um nó depende do outro para que as trocas de informações ocorram

exemplificando

independente do tipo do nó ou do tipo de troca que esses nós fazem, as conexões da rede devem ter o mesmo peso.

X

SISTEMA

REDE

possui as possui todas as trocas/ ligações/ conexões trocas/ ligações/ conexões desiguais, assim como a homogêneas, assim como as força dos nós força dos nós

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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO e CULTURA (MEC) O Ministério da Educação foi criado em 1930. Com o nome de Ministério da Educação e Saúde Pública, a instituição desenvolvia atividades pertinentes a vários ministérios como saúde, esporte, educação e meio ambiente. Até 1953, foi Ministério da Educação e Saúde. Com a autonomia dada à área da saúde surge o Ministério da Educação e Cultura, com a sigla MEC. O sistema educacional brasileiro até 1960 era centralizado e o modelo era seguido por todos os estados e municípios. Com a aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1961, os órgãos estaduais e municipais ganharam mais autonomia, diminuindo a centralização do MEC. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo possui a maior rede de ensino do Brasil, com 5,3 mil escolas, 230 mil professores, 59 mil servidores e mais de quatro milhões de alunos. Até 2011, a SEE esteve organizada em sete órgãos centrais e dois órgãos vinculados. DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO É o órgão que faz a ponte entre as escolas e as determinações da Secretaria Estadual de Educação. As Diretorias Regionais (antigamente chamadas de Delegacias de Ensino): -coordenam e supervisionam as atividades realizadas nas escolas estaduais; -supervisionam, prestam assistência e fiscalizam as condições de funcionamento das escolas municipais e particulares (de ensino infantil ao médio, inclusive ensino supletivo); -asseguram que os serviços de assistência ao aluno estão funcionando; -tratam de assuntos relacionados aos professores (habilitação, transferencia, etc.)

MEC SECRETARIA DA EDUCAÇÃO D.R.E REDE DE ESCOLAS ESCOLAS

FUNCIONA ENTÃO, COMO UMA NOVA CAMADA NA ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO. A REDE ATUA COMO UM SETOR ADMINISTRATIVO E TAMBÉM COMO UM PLANO URBANO DE REQUALIFICAÇÃO DAS ESCOLAS E DO BAIRRO

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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA EDUCAÇÃO DIRETORIAS REGIONAIS DE ENSINO DE SÃO PAULO

existem 13 diretorias regionais de ensino em são paulo butantã | campo limpo | capela do socorro | freguesia do ó guaianases | ipiranga | itaquera | jaçanã | penha | pirituba sto amaro | são mateus | são miguel paulista

DRE BUTANTÃ

1 DIRETORIA 42677 ALUNOS 132 ESCOLAS

1 DIRETORIA 19 REDES 42677 ALUNOS 132 ESCOLAS

fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br

SENDO ASSIM, DENTRO DO BUTANTA HAVERIA UMA ESTIMATIVA DE 19 REDES DE ESCOLAS. E NESTE TRABALHO FOI PROPOSTO TRABALHAR UMA DELAS.

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A E S C O L H A DA Á R E A

butantã - são paulo, brasil

A EMEF Desembargador Amorim Lima foi escolhida como ponto de partida da constituição de uma Rede de Escolas, devido à sua proposta pedagógica, baseada em uma Educação Democrática, que já teve início e se mostrou uma ação com importantes resultados. Em um bairro marcado por uma população heterogênea, com grande parte dos moradores sendo de alta renda, o bairro do Butantã também conta com um alto número de habitações irregulares e favelas, assim como diversos conjuntos habitacionais antigos. Também tem grande impacto na região a presença da Cidade Universitária, que atrai uma população jovem para o bairro, além de professores e funcionários. A importância da reavaliação da pedagogia de ensino tradicional é fundamental para a reconstituição da escola pública hoje, na cidade de São Paulo. E estando a Amorim dentro de uma rede, conectada e conectando-se à outras escolas e equipamentos, espera-se assim a transmissão de sua estrutura pedagógica nas outras escolas presentes na rede, dando como exemplo o alto índice de aprendizagem de seus alunos e a grande participação dos pais e da comunidade na educação dos jovens e crianças.

mapa 01

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ANÁLISE DA ÁREA -O Butantã é um distrito localizado na zona oeste do município de São Paulo, com 12,5 km², delimitado a leste pela margem do rio Pinheiros. -Tem o perfil predominantemente residencial -A maiorias dos corredores comerciais se encontram nas grandes avenidas do bairro. -O Butantã é ainda atravessado pelos quilômetros iniciais da rodovia Raposo Tavares. -Destaca-se também no distrito a Cidade Universitária, sede da Universidade de São Paulo, e, vinculado à universidade, o Instituto Butantã. -No censo de 2000, apresentava uma população de 52.649 habitantes. -O distrito possui uma Operação Urbana - Vila Sonia. -Alto numero de escolas no bairro, sendo a maioria escolas publicas. -Grande o numero de áreas verdes no bairro, sendo algumas dessas áreas parques de grande porte, como o Parque Previdência que possui uma área de 91.500m².

mapa 02

analise do bairro

Foi usado como critério para a escolha das escolas a fazerem parte da rede: -Primeiramente a questão da mobilidade da rede, que deve ser feita a pé pelas crianças das escolas, considerando um tempo máximo de 20 min caminhando ou uma distancia de 1,5 km. -As avenidas Corifeu Marques de Azevedo e a Rod. Raposo Tavares foram tratadas como vias delimitadoras para o traçado da rede, devido ao grande porte, ao trafego intenso de veículos e a dificuldade de transposição. -A associação física direta de escolas com espaços verdes.

criterio para escolhas da rede

mapa 03

equipamentos educacionais

principais avenidas do bairro

escolas do bairro

áreas verdes

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A REDE

escolas

+

espaços

p ú blicos

Assim, a partir das análises e leituras do bairro, e dos critérios usados para eleger uma rede, mostrados nos mapas 02 e 03, obteve-se a escolha das seguintes escolas e espaços públicos, destacados no mapa abaixo.

mapa 04

escolas do bairro

áreas verdes

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A REDE

escolas

+

espaços

p ú blicos

+

equipamentos

E a partir dessas escolas e espaços públicos, foram elegidos terrenos para serem inseridos os equipamentos novos. Equipamentos esses que proporcionan tanto a expansão desejável de programas para fora da escola, como funcionam atuando na recuperação dos espaços públicos, assim reurbanizando e reestruturando o bairro a partir deles.

mapa 05

escolas do bairro

áreas verdes

equipamentos propostos

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LEITURAS

mapa 06

mapeamento e analise quantificativa dos possíveis compartilhamento entre escolas da rede

indicaç õ es

|

quantificaç õ es

|

qualificaç õ es

mapa 07

mapeamento e analise qualificativa das áreas verdes e espaços públicos

mapa 08

mapeamento e indicação dos novos equipamentos da rede

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LEITURAS

intersecç õ es

No mapa abaixo foi feito uma análise das intersecções dos raios de influencias das escolas, dos espaços públicos e dos equipamentos da rede.

mapa 09

para as escolas foi adotado um raio estimado de 300m; para os espaços verdes foi adotado um raio estimado de 600m; para os equipamentos novos foi adotado um raioi estimado de 500m

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LEITURAS

lançamentos

dos

nós

A partir do mapa de intersecções (mapa 09) foi feito o lançamento do desenho dos “nós” da rede e suas possíveis conexões, que aparecem sob a área total dos raios de influências.

mapa 10

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LEITURAS

mapa 11

leitura da área de influência direta das escolas no bairro

áreas

de

influ ê ncia

dos

equipamentos

mapa 12

leitura da área de influência direta dos espaços públicos no bairro

mapa 13

leitura da área de influência direta dos equipamentos no bairro

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O S E S PA Ç O S P Ú B L I C O S

praça elis regina

centro esportivo do butantã

praça antônio manoel do espirito

praça joão batista tramontano

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AS ESCOLAS

emef desembargador amorim lima

emei emir macedo nogueira

ee keizo ishihara

emef jĂşlio mesquita

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ANÁLISE DOS NÓS Tendo definido o traçado da rede (suas escolas, seus espaços público e equipamentos) a análise dos seus “nós” aparece como uma aproximação do desenho e das relações urbanas que se deseja. Lançando tanto intenções de projeto para os equipamentos (como o gabarito, o térreo, as relações com as escolas e com os espaços públicos), como intenções de desenho urbano (como o desenho das calçadas, lombofaixas e equipamentos urbanos dos espaços públicos).

obs: as intenções de desenhos urbanos propostas a seguir servem para todos os “nós” , podendo estar somente representados em pontos específicos da proposta.

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NÓ 01 ATELIÊ - ESCOLA 400 ALUNOS

PÇA ELIS REGINA corte longitudinal

LOMBOFAIXA AV CORIFEU MARQUES DE AZEVEDO

“folies” - ponto de onibus propostas de mobiliários urbanos, associados aos espacos públicos da rede, fazendo a função de marcadores visuais. CALÇADAS com largura mínima de 2,70m, arborizadas, pavimentação igual para vias e calçadas (bloquetes)

croqui

LOMBOFAIXA esquinas e faixas de pedestres se igualam com a cota da calçada escolas

equipamentos propostos

EMEF DESEMBARGADOR AMORIM LIMA 607 ALUNOS

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Nร 02 centro esportivo do butanta

ee keizo ishiraha

CENTRO ESPORTIV O DO BUTANTA

4000 PESSOAS/MES

EE KEIZO ISHIRAHA 700 ALUNOS

retirada da cerca

ampliacao e recuperacao das calcadas reforcar a iluminacao em toda a rede

croqui

AV BENJAMIN MANSUR

escolas

equipamentos propostos

desenho-tipo para as calรงadas (imagem retirada do plano da operaรงao urbana da vila sonia-butanta)

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NÓ 03

EMEI EMIR MACEDO DE NOGUEIRA 240 ALUNOS ENTRADA GABARITO TÉRREO +2

PRAÇA DA BIBLIOTECA INFANTIL

folies - banco propostas de mobiliários urbanos, associados aos espacos públicos da rede, fazendo a função de marcadores visuais.

PÇA ELIS REGINA

BIBLIOTECA INFANTIL

croqui

4m escolas

8m equipamentos propostos

25m

8m

4m

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NÓ 04 GABARITO TÉRREO + 4

BICICLETÁRIO

PRAÇA DA BIBLIOTECA

ENTRADA PELA COTA SUPERIOR DA PRAÇA

ENTRADA CAFÉ+LIVRARIA TÉRREO COMÉRCIO

ABERTURA DO PALCO PARA A PRAÇA

AUDITÓRIO

400 PESSOAS

PÇA JOÃO BATISTA TRAMONTANO

ROD. RAPOSO TAVARES

BIBLIOTECA CENTRAL PÇA ANTÔNIO MANUEL DO ESPIRITO folies - banco propostas de mobiliários urbanos, associados aos espacos públicos da rede, fazendo a função de marcadores visuais.

croqui

EMEF JÚLIO MESQUITA 1007 ALUNOS escolas

equipamentos propostos

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BIBLIOGRAFIA P ALLASMAA, Juhani. Os Olhos da pele: a arquitetura e os sentidos / Juhani Pallasmaa; tradução técnica: Alexandre Salavaterra.

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S達o Paulo, dezembro de 2012 Trabalho de Conclus達o | Arquitetura e Urbanismo | AEAUSP-Escola da Cidade Aluna Izabel Barboni Rosa | Orientador Arq. Silvio Oksman

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