8 poetas blogueiros hoje

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8 poetas-blogueiros hoje foi produzido durante a pesquisa A (À) margem da edição: a poesia, dos mimeógrafos aos blogs, realizada pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG, no período de 2012 a 2014, por alunos e professores do curso de Bacharelado em Letras-Tecnologias da Edição, Departamento de Linguagem e Tecnologia.

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Coordenação editorial: Prof. Andrea Soares Santos Consultoria editorial: Prof. Pablo Guimarães Organização: Izabel Maria Fonseca Vieira Sá Revisão: Prof. Andrea Soares Santos e Izabel Maria Fonseca Vieira Sá Capa e diagramação: Ana Sofia Alencar Castro

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Agradecimentos Agradecemos aos poetas-blogueiros, por participarem até o final da nossa pesquisa, e ao prof. Pablo Guimarães, por sua consultoria ao projeto editorial.


SUMÁRIO

Introdução 09

Fernanda Bião

Construções da Alma 15

Taynara Irias

A incoerência da alma 27

Vitor Hugo Morales

Poesia, filosofia, pouca e pequena 43

Matheus Alexandre O eu escrito 61

P. C. Ventura

Poesias para beber 73

Guilherme Fernandes O globo …ocular 87

Luiz Carlos Vieira

Às arvores do caminho 101

Sabine Ribeiro Uma biografia 113



Introdução Entre os 26 poetas hoje, antologizados por Heloísa Buarque de Holanda, na década de 70 do século passado, e esses nossos 8 poetasblogueiros hoje, há um lapso temporal profundamente marcado pelo advento das novas tecnologias de informação e comunicação. E, dentre outros objetivos, era justamente o impacto dessas tecnologias no fazer poético e nos modos de fazer circular a produção daí decorrente que pretendíamos investigar ao propor, em 2012, o projeto de pesquisa “A (À) margem da edição: a poesia, dos mimeógrafos aos blogs”, pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG. É, pois, no mínimo curioso que o resultado desse esforço investigativo se nos apresente na forma do bom e velho livro impresso, com a antologia de agora mimetizando, ainda que guardadas as proporções, aquela anterior, de 1975. Para entender isso é necessário reconstituir, ainda que de modo breve, o percurso percorrido até aqui. Realizada no período de 2012 a 2014, esta pesquisa pretendeu contrastar as atitudes, nos âmbito da criação e da edição, dos chamados poetas marginais da década de 70 e de autores que contemporaneamente veiculam suas produções por meio de blogs. Numa manobra algo espelhada na da própria Heloísa Buarque de Hollanda que, no prefácio de 26 poetas hoje, afirma ter escolhido para compor a sua antologia “os trabalhos que estavam mais ao alcance de seu conhecimento”, optamos por tomar como objeto de análise um corpus de blogs de poesias produzidos por membros da comunidade do CEFET-MG. Divulgamos nossos propósitos, convocamos alunos, professores e servidores cefetianos e eis que nos vimos, numa ponta, diante desses oito poetas-blogueiros e, noutra, diante de autores que, conforme nos ensina Glauco Mattoso em O que é poesia marginal (1981), queriam divulgar o seu trabalho em uma época em que o mercado editorial era fechado para novas concepções. Mas a questão, em essência, permanece a mesma. Entre suporse autor e ser consagrado autor – ou autor consagrado (o que dá na mesma) –, o passo é passar ao livro. Mas não nos referimos apenas ao “fazer o livro”. Esse não é problema. As tecnologias do nosso “hoje” facilitam a publicação e a circulação de um modo |9|


que certamente empolgaria os poetas da geração-mimeógrafo. Por isso, podemos apresentar aqui a vocês, leitores, nosso 8 poetas-blogueiros hoje, seja em formato e-pub ou impresso, visualizável ou palpável. A questão é, então, como se passa à história. Os poetas da geração mimeógrafo lograram a notoriedade que hoje lhe atribuímos porque foram antologizados por ninguém menos que Heloisa Buarque de Hollanda, inseridos por ela na linha valorativa de nossa história literária, publicados por editora reconhecida, consagrados pela crítica, e, hoje, frequentam (pelo menos no caso de alguns) catálogos de grandes editoras comerciais. Os oito poetas que aqui apresentamos, têm, ao contrário, diante de si uma longa estrada, que poderá ser ou não percorrida. Realmente há, entre os “à margem da edição” dos anos 70 e esses nossos cefetianos blogueiros do século XXI, muitas diferenças. De contexto, de propósitos, de concepções de poesia, de visão de mundo, de temáticas, de habilidade de manejo linguístico, etc. É o que o conhecimento prévio do leitor sobre a geração-mimeógrafo, em confronto com critérios de escolha dos poemas aqui reunidos, sobre os quais falaremos a seguir, os próprios poemas e as entrevistas com os autores certamente apontarão. Acreditamos, porém, que o primeiro passo foi/ é, para todos os poetas, sempre o mesmo: escrever, considerar o que se escreve como sendo poesia e desejar ser lido. É em celebração a essa atitude, à coragem desse primeiro passo, que fizemos este livro. A escolha dos poemas Justificar a seleção de textos para uma antologia literária nunca é fácil. Em uma escolha como essa, definir critérios torna-se uma tarefa melindrosa, uma vez que estão latentes questões como o que pode ser considerado uma boa literatura, seja quando se consideram valores pessoais, mercadológicos ou aqueles ditados pelos padrões estéticos da crítica especializada acadêmica. Apesar de o nosso corpus de autores não ser grande, apenas 8 poetas1, deparamo-nos com uma quantidade enorme de poemas, na casa de centenas. Como o nosso objetivo na 1 Recebemos um total de 18 inscrições, porém apenas 8 blogueiros formalizaram o compromisso de participar de todas as etapas da pesquisa. | 10 |


pesquisa nunca contemplou um julgamento de valor estético, não poderíamos utilizar como critérios os padrões acadêmicos. É claro que, na nossa escolha, ficam implicadas as nossas formações como profissional da Linguagem e estudante de Letras. Um gosto, queira ou não, já conformado ou influenciado pelos valores estéticos do cânone literário. No momento de escolher os poemas, decidimos que o objetivo principal seria apresentar ao leitor as variedades que essa poesia feita nos blogs poderia apresentar, deixando, assim, o julgamento estético para a recepção. Escolhemos poemas com diversas formas e temas. Em alguns, há maior trabalho com a linguagem, em outros, maior preocupação com a expressão. Entretanto, o leitor poderá verificar que há muitas semelhanças entre as produções. Enquanto realizávamos a pesquisa, ao longo da análise dos blogs, notamos, por exemplo, que há a predominância da primeira pessoa nos poemas; há também boa quantidade de temas relacionados a questões existenciais, nas quais “o tempo” ganha destaque. Essa perplexidade diante da realidade poderia ser explicada pelo fato de a maioria dos poetas-blogueiros serem muito jovens, mas nos textos dos autores mais maduros, os questionamentos existenciais também aparecem. Como mencionado, durante a pesquisa, realizamos um questionário com os poetas-blogueiros, que também serviu de base para a escolha dos poemas. Quando perguntados sobre o que consideravam o que era poesia, a maior parte dos poetas manifestou uma visão de poesia próxima à concepção de poesia dos autores do Romantismo , ou seja, de uma poesia, primeiramente, como forma de expressão. Notamos que nos casos em que esse aspecto era mais valorizado, os poemas correspondiam a essa visão. Já nos poemas dos autores que salientaram os aspectos linguísticos da construção poética, podemos notar maior trabalho com a linguagem. Como dissemos, não há julgamento de valor estético aqui. Não pretendemos dizer que uma obra seja melhor do que a outra, mas que se direcionam a propósitos diferentes, e na escolha dos poemas de cada poetablogueiro, tentamos selecionar aqueles que, ao nosso olhar, correspondem melhor à concepção de poesia do próprio autor. Além da escolha dos poemas, outra decisão, inicialmente, tornou-se um desafio: o projeto gráfico da edição. Como a | 11 |


proposta inicial da pesquisa era produzir uma antologia digital, preocupava-nos optar por um suporte que justificasse a “retirada” dos textos de seu suporte original, oferecendo recursos iguais ou superiores aos dos blogs. Por isso mesmo, a pura e simples transposição para um e-pub sempre nos pareceu insuficiente, já que o blog, além de se configurar como suporte para os textos, é também uma ferramenta de distribuição. Entretanto, qualquer outro formato digital, requereria profissionais da área de programação, o que não poderíamos custear. Sendo portanto, o e-pub a nossa única opção viável, decidimos, juntamente com ele, fazer uma versão impressa; porém surgiu outro obstáculo: os custos com uma impressão que contivesse imagens. Se, por um lado, a versão digital nos permitiria explorar recursos gráficos, a versão impressa nos solicitava contenção. A solução para o nosso dilema nos foi apresentada pelos próprios resultados da pesquisa. Incialmente, como hipótese, esperávamos encontrar uma produção poética intimamente relacionada com os recursos multissemióticos que as plataformas dos blogs oferecem. Entretanto, percebemos que os recursos de imagens, sons e vídeos foram pouco utilizados pelos poetasblogueiros cefetianos. No caso desses escritores, a partir da análise dos poemas, dos próprios blogs e das entrevistas, ficou claro que o foco da criação é na palavra escrita. E, por essa razão, priorizamos o texto verbal e excluímos de alguns poemas as eventuais imagens a eles relacionadas. Percebemos que elas são, na maioria quase absoluta dos casos, ilustrativas e não fazem parte do processo de criação poética, como até esperávamos encontrar no início da pesquisa. E o mais importante: que o valor dado ao livro impresso, pelos poetas-blogueiros, como forma de divulgação de suas obras, era superior ao valor dado ao blog. Assim, o livro impresso tornou-se o nosso produto principal, e o digital, um meio alternativo. Ao refletirmos sobre a valorização do livro impresso, vale ressaltar a perspectiva dos autores quanto à função dos blogs. Além da divulgação, muitos o consideram uma ferramenta de armazenamento. Dessa maneira, temos recuperado o sentido original de diário dos blogs em sua associação à visão de poesia como forma de expressão. É perceptível em alguns dos blogs a mistura entre o eu real dos ‘blogueiros’ e o eu ficcional dos | 12 |


poemas. Retirados de seu suporte original, o que fica é o eu poético e a construção de uma autoria, legitimada por um objeto que se mostrou imperativo para essa construção: o livro. Percebemos, dessa maneira, que o objeto livro, feito de papel e publicado por uma editora, ainda é o caminho principal para uma legitimação de autoria, ao menos no imaginário dos nossos poetas-blogueiros. Cabe neste momento, lembrar do que dissemos no início desse texto: que os poetas dos mimeógrafos, ao serem publicados em uma antologia (26 poetas hoje) organizada por uma pesquisadora de renome, Heloísa Buarque de Holanda, deixaram de ser poetas marginais para entrar no rol de poetas legitimados por uma crítica. Assim como os poetas da geração mimeógrafo possuíam o seu público leitor, os poetas blogueiros, hoje, também são lidos. Dado o alcance da internet, talvez sejam até mais lidos do que outrora o foram os poetas marginais. Entretanto, não é somente a presença de um público leitor que legitima a autoria de uma poeta, mas também a crítica. No sentido apresentado pelo filósofo André Lefevere, em Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária, são as reescrituras que fazem com que um autor seja reconhecido como tal e que o fazem permanecer no cânone literário. Entre as reescrituras, Lefevere inclui, além dos textos críticos, a edição e a antologização. Assim, não é de se admirar o superior valor que nossos poetas-blogueiros dão ao livro físico. Por fim, devemos destacar que não podemos fazer grandes generalizações. O nosso corpus é limitado, e há uma inumerável quantidade de blogs de poesia na rede; mas acreditamos ter demonstrado que a transição do suporte livro para os meios tecnológicos não seja algo tão simples e óbvio como muitos eufóricos acreditam. A respeito dessas e de outras questões, o trabalho desenvolvido durante a pesquisa gerou conclusões cuja extensão desse texto não nos permite expor. Gostaríamos, acima de tudo, que o leitor desfrutasse da leitura dos poemas, seja por meio do livro impresso, do livro digital ou recorrendo às publicações no seu suporte original. Andrea Soares Santos (orientadora) Izabel Maria Fonseca Vieira Sá (bolsista) | 13 |



Fernanda Bião

Construções da Alma Endereço eletrônico: http://construcoesdaalma.wordpress.com

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Silêncio Quando o silêncio se faz cá fora Cá dentro, o barulho é ensurdecedor Clama um coração aflito Em busca de um pouco de alegria Um pouco da energia de gente Que aquece sem acender A chama existente Do amor, quem sabe? Da companhia, talvez? E a esperança, possível? Um dia de cada vez…

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É tempo de renovação! Florzinha pequenina nasce na janela. Rasteira parece uma menininha. Aponta cores cheia de sutilezas. Na verdade, a sua cor é mistério. Ontem pequena semente Sonha em ser gente grande Como seriam suas pétalas, suas folhas Mistério! Até chegar o grande dia! Coberta pelo sol da manhã Perdia delicadamente o orvalho da noite. Eis que bela preciosa, Estende seus bracinhos aos céus E com um espreguiçar lindo diz: Bom dia vida! Poema dedicado a Jair Prosdocimi Quites. Presença paterna em dias iluminados e opacos.

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Educar Educar Verbo transcendente Ação de mudança Caminho da esperança Educar Palavra pequenina Força poderosa Que faz crescer e sonhar Educar Caminho sem volta Ouvir e falar Pleno caminhar Educar Ninho de possibilidades Esteira para a igualdade No alfabeto ou na arte Educar Menino e menina Dever e lazer Basta compreender Ei, você! Permita sentir a mudança Aguce bem seus sentidos E deixe a mágica acontecer.

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Ousadia Luto pela liberdade do cárcere da existência A gaiola dos costumes me algema E minhas asas já nasceram cortadas. Fujo da mentira de mim mesma Das ilusões que escarnecem das ideias Das palavras bonitas e trameiras E do medo que me afasta da coragem. Procuro a luz da consciência Nesse palco sem cor, sem brilho Onde seus expectadores Só veem movimentos repetitivos e mortos. Clamo o sol do esclarecimento Para que eu veja direito O que está escondido atrás da cortina da vida. Mistério? Pra quê? Preciso é compreender Para saber me mover.

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O tempo O tempo se abre Chovem anos Chovem caminhos Chovem possibilidades O tempo passou Com ele, a saudade A dor que machuca A lĂĄgrima pulsante O tempo ĂŠ alegria De noite, de dia Em cima Embaixo Passeia com a vida Estadia certeira HistĂłria vivida E, quem sabe, contada

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Alma solitária Ando só Somente eu O vento bate em minha face Sinto o calor do meu corpo. Reflexões assomam à minha mente Movimentam emoções Lágrimas que teimam em cair Seguro-as dentro de mim. Procuram-se explicações Para falas não ditas Os conflitos mal resolvidos Sinalizam a necessidade De ouvir a própria verdade Que dói e acalenta Transfigura a face da mentira. E cria Para além Uma nova vida.

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Promessas Promessas são lampejos de desejos Vontades que se aproximam do concreto Nem sempre verdades Promessas são rios em busca da correnteza Sol com preguiça Céu nublado Promessas são esperanças De um coração que clama o afeto Nem sempre correspondido Às vezes, entendido como o sim é o não. Um lapso de loucura visceral Corre pelas veias, algo animal. Promessas, prometido, lugar igual. A luz que treme Em meio à escuridão

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E este corpo que fala? Passos lentos ou acelerados, coração que bate no compasso, obedecendo à cantiga da vida andante. Experiências que circulam pelas veias como sangue. Olhos [vivos e cintilantes. Boca que se aperta ao degustar os sabores. Os ventos trazem os odores para dentro das narinas, que se conectam com uma memória de cores e lembranças. Circuitos abertos e fechados, luzes e escuridão fazem parte da iluminação cerebral. Uma boca – várias funções – delícias a serem vividas. Respiro – vai e volta – troca – dou de mim e levo de muitos. Mãos que acariciam – toque sagrado – trabalho. Pés a caminho. Sempre! Quais? Nunca acabado. Semblante que revela sentimentos. Medo do medo. Alegria [em ser alegre. Raiva da estagnação. Corpos são tantos! Entretanto, todos carregam joias a serem desvendadas – a Alma!

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Ter a oportunidade de reunir meus textos poéticos e disponibilizalos virtualmente. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Pelo fácil acesso a informações que o blog proporciona. Acredito que o meio virtual é acessível a mais pessoas. Conheço o site: http://www.recantodasletras.com.br/ e a Editora Literacidade (http://literacidade.com.br/) em que meus poemas já foram publicados em antologias. 3. O que é poesia para você? É uma expressão da alma. Uma maneira do ser estabelecer um diálogo entre a sua existência e o mundo. Expressando seus sentimentos, suas angústias, sua visão do óbvio. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Fernando Caio de Abreu e autores não tão conhecidos. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Leio e às vezes utilizo a ferramenta de comentários. 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Não só outros poetas, mas a filosofia existencial influencia e muito. Bem, gosto muito de Fernando Pessoa e Clarice Lispector.

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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Almejo! Gostaria de organizar um livro com os meus poemas e imagens de algum(a) fotógrafo(a). Acredito que a reunião de texto com imagens causam um impacto maior nas pessoas. Procuro, por meio das minhas palavras, chegar ao coração das pessoas. Escrevo por inspiração, por angústia, pela expressão do meu silêncio. Assim como sou tocada pelas palavras de outros autores (eles e elas conseguem descrever o que sinto e não consigo expressar), também acredito que meus textos possam ter esse objetivo.

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Taynara Irias

A incoerência da alma Endereço eletrônico: http://incoerenteequivoco.blogspot.com.br

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Entre os tics e tacs Passam as ruas, os carros, os homens... Passam correndo, quentes, enormes! Sangram os pĂŠs, as mĂŁos, o peito... VĂŞm o sol, a chuva, a lua. Nas pupilas dilatadas, cidade escura... sono... apaga os sonhos. Um punhado de estrelas para mais tarde mas as janelas continuam fechadas. Escorrem os pensamentos... Dentro das paredes: tic-tac, tic-tac, tic-tac, Tic Tac, tic tac, tic tacs, Afinal, sĂŁo apenas duas calorias.

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Posição Pronomial Tantos meus poucos nós me prendem na possessão do que não sou eu.

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Planta É tanto projeto que introjeto em mim a ideia de seguir sempre o mesmo trajeto, fazer os laços se encontrarem no mesmo ponto e não amolecer o olhar, desfocar as lentes já cansadas de enxergar sem sentir. São tantos planos que já nem posso ver o tijolo que obstruiu a ponte que me atravessa. São muitas hipóteses duramente construídas somente para esfriar as chances de novos ANDARes... É tanto projeto que começo a me projetar em sonhos, ilusões e caminhos que não cabem no meu papel.

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O jogo do social insociável Vai! Que é a bola da vez! Falar para não escutar, já pensar em como não fazer e justificar, inventar não ir além do espaço que marcaram. Espera a sorte na quadra, quina... A ficha cai. Arrumem outra nova ou peguem de volta! Entrem também! Pingue-pongue social, aqui o jogo não para.

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Passageiro Observo as gotas se chocarem contra o vidro embaçado e elas nunca me atingem. As luzes escorrem do outro lado da janela... tudo que vejo é o contraste da noite nos faróis e postes. Pneus soam sobre o asfalto molhado e em um deslize meus pés se lançam sobre as poças, brincam [no chão, como em um tempo em que eu não tropeçava para entrar na [dança. Mas o semáforo finge o verde e a carcaça de metal range com [os freios. Chove forte em mim e estou fechado num bloco retangular, Cinza e Quente. Não há equilíbrio. Trancado em um corpo estranho, em movimento constante. Tudo é só de passagem. Já muito distante, penso no trajeto que fiz... quanta gente embarcou, em quantos buracos caí. Passageiro da minha vida e ela não passa por aqui. TROCADOR, em que ponto eu desci? Acho que esqueci de mim.

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Beijos e Cadeados No encontro dos olhares a visão se anulava. Em que se acredita sem sentir? Era cegueira e também fome de beijos e cadeados... À beira do caos, correram – dois lados. Traçaram paralelos... Condenados à linha tênue entre aperto e espaço, eternizaram o encontro em uma estátua. – Elevaram ao centro. Estático, o sentimento entrou em coma.

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Das revisþes interiores Coloquei todas as peças no tabuleiro, eu contra mim no Xadrez. Eu era tantas que nem sabia. Pensei em fugir, mas por todos os lados me conheciam! O Xeque veio a cavalo. Entre celas e estrada, quem quer que eu Mate?

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A bordadeira Espera pelos filhos sentada na encosta. Hoje eles vêm – pensa e lança os olhos distantes. As mãos varridas pelo tempo tecem pequenas esperanças que ela estende no varal. Semeia poesia pelo vento... Essa é sua forma de sorrir. Pela estrada íngreme, ninguém vem, faz frio... – Pudera! Com esse tempo aqui! É área de risco. Entrou e se cobriu com as flores que fez brotar no vazio em um chorar das nuvens a casa se desfez. Recebeu outra visita.

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Emersão O corpo dela é praia frente ao oceano imerso em seus olhos profundos. Ele, marinheiro de primeira viagem mergulha como criança sem salva-vidas. E a taquicardia que não volta, desde o dia em que ela levou todo o seu peito em uma de suas ondas. Longe dela o mundo é só aquário. Ele fica ali, com os olhos frente ao vidro observando, distante, o que dele se foi e vai...tudo o que teve agora é só paisagem.

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Fogo de palha Eu, jardim cheio inverno e seu corpo frio, jogado pelos butecos. Café com blues, seus olhos dizendo blue, blue, blue. Ensaio penetrar e me desconcerto. Já em alto-mar você esquenta meu inverno. A superfície finge ao interno: Fogo e palha, minha cama e o suor de nossa única noite... Na chama de nossos corpos o amor de inverno se queimou.

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Leis da natureza O vento agora sopra suave sobre a serra mas o coração dele segue soprando a chama. Início de noite... frio penetrando a pele, cinzas de cigarro espalhadas pelo piso e o violão gemendo baixinho nas mãos do poeta... As folhas de outono à fogueira encantam... O que seu peito Chama não vai se apagar. A(r)mou mais fundo até a estação passar, outra vez.

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Lamentos e além Quando a alma grita no papel, não há barulho. Há um silêncio inquietador rompendo os laços invisíveis, como algo que corrói até que se perca o controle. E se a carne sangra é porque o coração já amaciou demais e agora endurece, transpondo o que resta por dentro. O olhar perscruta e escurece. Sorrisos vazios, paixões exaltadas, o dar de mãos congeladas... Pingue-pongue. Quem quer jogar é só entrar na roda. Benditos sejam os jogadores! Não existem perdas ou ganhos. É que o lugar é confortável. Água e açúcar e muita tinta cinza. Preciso das cores de volta em minha íris. Lavar o corpo e a alma, expor ao sol, deixar queimar até esquecer do frio de ontem. As curvas são o sentido incoerente da alma. A resposta. Como o pássaro que quebra as asas e se lembra que sabe andar, aprende a ter mais impulso vai voar mais alto. Alcançou o infinito quem já colocou demais os pés sobre o chão e os olhos além. | 40 |


Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Tenho duas principais motivações (difícil definir uma). A primeira é a vontade de despertar nas pessoas um olhar diferente sobre as coisas mais comuns, aquilo que passa despercebido na rotina dos dias. Ainda que eu não produza nada muito novo, tudo o que cada um escreve passa por um filtro diferente, então já é uma forma singular de mostrar/sentir o mundo. E a minha outra motivação para produzir um blog é porque publicar, de certa forma, estimula uma produção mais constante, além de ser um excelente meio para “arquivar” os textos. Mesmo que eu não esteja publicando constantemente, a opção “rascunho” sempre é utilizada e os textos ficam lá, salvos, apenas esperando um ajuste, uma reescrita ou só a coragem de clicar em “publicar”. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Eu escolhi o blog porque é um meio mais interativo, excelente para se começar a publicar, pois as pessoas podem comentar, criticar, elogiar e responder. Além disso, não tem nenhum custo financeiro. Conheço outros meios de publicação independente, como os fanzines. 3. O que é poesia para você? É matéria de vida, a corda bamba que me permite caminhar entre os extremos e até mesmo cair. A poesia é a minha maneira de entender ou desentender as coisas, de inquietar a alma ou aquietar o espírito. É uma forma sem fôrma para se expressar. É uma maneira fotográfica, dançante e musicada até mesmo para dizer o que incomoda. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Sim, leio livros de poesia sempre. Tenho vários espalhados pela casa e sempre levo um na bolsa, assim eu vou lendo aos poucos. Não gosto de ler livros de poesia como se fossem romances. | 41 |


Acho que cada poesia conta alguma coisa, por isso preciso de um tempo a mais para cada uma e distanciamento entre elas, senão eu misturo os versos de uma na outra e faço o livro inteiro virar um poema (o que não deixa de ser poético! rs). 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Leio muitos blogs de poesia, porque é uma ótima forma de encontrar bons poetas vivos e desconhecidos, principalmente os mais jovens. Tenho o costume de utilizar a ferramenta de comentário quando gosto do poema, acho que o escritor precisa saber disso, perceber minha visão sobre o que ele escreveu. Acho os comentários extremamente importantes para incentivar o escritor. Quando não gosto dos poemas e não tenho nada de construtivo para falar eu não comento nada, às vezes só não me agrada, o que não significa que seja ruim. 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Com certeza a leitura de outros poetas me influencia. Acredito que a produção artística venha da “traição da memória”, como Mário de Andrade definiu. Sendo assim, acho que minha poesia é uma mistura de influências, tendo um pouco da sutileza da Adélia Prado, da simplicidade bela da Líria Porto, da desconstrução do magnífico de Manoel de Barros, da subjetividade da Cecília Meireles, da força poética do Drummond, do tom realista de Ferreira Gullar e de mais uma lista imensa de grande parte dos poetas que já li. 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Sim, tenho o desejo de publicar um livro de poesias. Acho que o livro compõe o texto, completa e propicia um olhar interessante e diferenciado da produção literária, porque é um recorte da obra, precisa-se escolher quais poemas vão ou não para o livro, às vezes “eles conversam” e propiciam leituras diferentes daquelas feitas em outros meios. Livros de poesia são muito interessantes. | 42 |


Vitor Hugo Morales

Poesia, filosofia, pouca e pequena Endere莽o eletr么nico: http://poesiapequena.blogspot.com.br

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Sentir-se mal por dizer a verdade Maltratar o coração só pra ver se ainda bate Mentir por julgar necessidade E se vingar por pura maldade. Eis a consequência: a realidade.

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Tic tac. Toca o tempo, corre sedento No ponteiro do relógio. Corre sozinho quem antes Corria junto. Hoje se cala quem falava De palavra em palavra Pra falar ao relento Da teoria do fim do mundo. Antes não se reclamava Da dor e da agonia Se de amor era ou de folia Só se cantava e escrevia. Meu bem, me falam tanto De tecnologia e evolução Dizem que o meu tempo O tempo já levou. Que hoje correm novos pensamentos E uma nova revolução industrial. Mas eu ainda não entendo Os mesmos são os sentimentos E ninguém ainda os decifrou. E nem sabem mais como transformar Um triste fim em alegre canção. Embriagam-se tão menos quanto No meu tempo eram sãos. E dizem que o vento Sopra diferente do meu tempo Com menos conversa e poesia E mais poluição. Mais sintetismo, sem os sentidos. E menos coração.

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A passeio É só mais um passo, Uma parte da vida inteira. Aprendi a pôr ponto final No lugar de vírgula. Aprendi a deitar E só levantar à tarde. Também a mentir A deixar de lado O que você quer que deixe de existir. Afinal, se no seu mundo eu não preciso ver tudo No meu você só anda a passeio.

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Pequena poesia Minha Pequena... Peque na poesia, Porque na poesia Pecado nรฃo hรก de se pagar.

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Tu vieste como um vento, Ficaste como um furac達o, E foste como uma brisa.

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DĂŞ-me os motivos certos e um ponto de apoio e moverei o mundo.

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Loucura desse mundo Não confio em ninguém, pois não há prova do contrário. Existe um gosto pela imoralidade e vulgaridade, que não há mais [amor em forma de poesia. Puro e livre. Só a putaria de uma sociedade corrompida por valores invertidos. Não existem mais pessoas que amam o romantismo. Essas foram corrompidas pela podridão de outras. O perdão se cansa. E acabamos virando homens vorazes em uma selva onde ser o melhor [é ser o pior. Tenta-se amar uma, duas, infinitas vezes. Mas diante desse avanço tecnológico do século 21, esqueceram-se [de escrever. Esqueceram-se da embriaguez e da sinceridade. Daí não existe mais amor. O sexo era proibido, coibido . Hoje é obrigatório e ai de quem não faz...

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Consciências livres São consciências sujas.

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Folha em branco Quando nascemos, somos como uma longa folha em branco. Essa folha é o tempo. À medida que vamos andando sobre ela vamos deixando marcas, amassos, rasgos e rabiscos. É por isso que sempre vamos envelhecendo. Pois mesmo que pudéssemos fazer o caminho contrário Preferiríamos a folha em branco em frente a ser escrita Do que andar sobre os rasgos e rabiscos do passado.

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Corda bamba Sou inconst但ncia Tal qual verso, prosa Uma hora sou sol, Outra, voz sem nota. Sou do rock, sou do samba Outra do choro, do bolero Finjo um tango, eu n達o nego Desafino, erro o pranto Mas no meu canto eu sossego. Na melodia da viola, do viol達o Que desse samba, nessa corda bamba Ainda encontro algum perd達o

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Samba de varanda Nesse passo, Desce que eu passo. Ouvir seu choro manso Na varanda, no violão. Daí me perco no descanso Que descaso Eu faço poesia e não oração. Passe Que eu abro a porta Vai em frente, vem embora. Só não troque, não me tranque Não fico fora! Na sacada, na solidez. No coração. Minha viola, na virada do sol Da varanda ele também vai Manso, de volta, sem perdão.

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Péssima memória Tudo que eu queria era ter uma péssima memória. Assim as decepções nunca me marcariam. Viveria todo dia conhecendo novas pessoas e me iludindo com [as suas grandezas.

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Tal como piano. Sou como um piano. Solitário, imóvel e fechado. Revestido com uma madeira sólida e robusta. Mas por dentro uma construção tão delicada De cordas entrelaçadas, Que numa leve encostada Soam notas de alegria ou de tristeza profunda.

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Entrevista com o autor 1 . Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Ter um lugar para guardar poesias e filosofias que tenho em certas épocas da minha vida. Também um meio de publicação e compartilhamento. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Blogs são fáceis de criar e manter sem custo, com potencial de atingir um público grande. Conheço alguns professores que já publicaram livros de poesias, porém não sei detalhes. 3. O que é poesia para você? Uma forma de protestar, criticar, evoluir o pensamento. Vejo a poesia como uma fuga para certos sentimentos e opiniões de forma mais livre. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Sim, porém poucos. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Leio alguns poucos de amigos e geralmente comento diretamente com o autor(a). 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Sim. Poetas e filósofos, como Machado de Assis, Nietzsche, Edgar Allan Poe, León Tolstói, Augusto dos Anjos e Álvarez de Azevedo, influenciam e influenciaram muito minhas ideias.

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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Sim e muito. Muitos amigos e leitores dizem que escrevo bem, e vejo a publicação como uma forma de renda extra. Além de que sinto falta de livros mais curtos, com poesias curtas e simples como leitura de cabeceira. Vejo a poesia e filosofia pequena – tal como é o nome do meu blog – como uma forma de popularizar também o hábito da leitura de poesias. Muitas vezes a falta de paciência ou de tempo é um empecilho para iniciar o gosto pela poesia. A poesia curta e simples.

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Matheus Alexandre

O eu escrito

Endere莽o eletr么nico: http://oeuescrito.tumblr.com

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Quem dera eu fosse artista, poder transformar palavras em poesia, cores em rostos, corpos e paisagens. Transformar paisagem em fotografia, rocha em escultura, sons em música. Quem dera eu fosse artista, e seria iluminado, e iluminaria todos ao redor, despertando sorrisos e lágrimas, abraços e beijos, encantando casais e amigos, pais e filhos, médicos e motoristas, crianças e adultos. Quem dera eu fosse artista, e o que sinto e o que vejo, o que sonho e o que conquisto, amores e desamores, tristezas e alegrias, todo o meu mundo se tornaria um livro daqueles de poesia, tudo eu transformaria em poesia. Quem dera eu fosse artista e a arte enfim faria parte de mim.

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E no momento em que você disse que algumas coisas são perfeitas, eu percebi que você falava de nós.

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E tem sim aqueles dias em que ao invés de encontrarmos Luz no fim do Túnel, encontramos mais Túneis.

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Descobrir que vocês são sim diferentes e que talvez o “x” da questão não esteja em serem iguais e sim em compartilharem entre si um mesmo sentimento: Amor; e uma mesma virtude: respeito.

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Quando saí na rua, alguns pedaços de céu quase me acertaram… E era quase inútil desviar. É que de repente o mundo inteiro resolveu desabar.

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Tava meio sem vento, então girei a vela e mudei a direção… Mas aí fica aquele medo de ter feito a coisa errada, sabe? Bem, no momento isso era o certo para mim, talvez não para os outros ao meu redor, mas para mim sim. Temos que confiar no nosso instinto, ele nos trouxe até aqui… uma vez ou outra pode parecer loucura largar tudo e mudar totalmente o rumo, mas isso pode significar evitar um naufrágio em alto-mar. No momento? Reagrupando, juntando forças, aprimorando, adquirindo conhecimentos, porque quando for pra valer, estarei pronto.

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Não me interessam os corpos. Corpos são todos iguais, carne, pele e osso, e desfalecem com o tempo, enrugamse e, quando o tempo é tal que não podem mais suportar, morrem. Almas, cada qual com sua individualidade, são alegres, inteligentes, umas jovens, outras maduras, trazem experiências e conhecimentos, almas identificam-se, almas são eternas. Quando corpos se encontram, trombam-se, encaixam-se e partem… Almas unem-se, completam-se, e suas uniões são perenes.

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Pode ter durado uma fração do tempo: micro, nano, pico segundos, mas se é eterno, marca na mente por mega, giga, tera-décadas.

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? A grande ideia do blog é que os textos têm a capacidade de tocar o nosso íntimo e assim promover mudanças. Chamo esse fato de um encontro com o nosso verdadeiro “Eu” e daí o nome do Blog: “O Eu Escrito”. Minha ideia portanto era promover mais desses encontros, tocar mais pessoas com textos que eu escrevo ou que leio e me inspiram. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? O Blog é um meio rápido, gratuito e de grande acessibilidade. Não conheço outro meio que una os três quesitos citados. 3. O que é poesia para você? Diferente do significado literal dessa forma de escrever, com todas as rimas e regras fonéticas e etc, para mim, poesia são textos dotados de algum tipo de sentimento. Um grande desabafo em que o autor conta aos leitores dores e alegrias que ele tenha, ou que ele simplesmente identificou em alguma parte do mundo externo, que é constituído por pessoas com quem ele conviva, ou por tendências mundiais. Dessa forma, a Poesia busca despertar as pessoas para pontos de vistas para os quais elas ainda não tenham se atentado; ou, uma forma de confortar através das palavras dando ânimo e força. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Não possuo o hábito de ler livros de poesias. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Sim. quando disponível, utilizo a ferramenta de comentários como forma de fornecer um “feedback” ao autor do que foi lido. | 71 |


6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Com toda certeza meu modo de escrever é influenciado pelo que leio. Minhas principais influências estão em Clarice Lispector e Marla de Queiroz, a primeira pelo modo feroz de dizer ao mundo seu modo de ser, escancarado e sem medo de mostrar até seus piores fantasmas; mas também por ser uma escrita que transmite toda a coragem e força pra enfrentar o mundo e a forma como ela a enxerga. No segundo caso, uma poesia serena, dotada de um tom de esperança que busca inspirar as pessoas a buscar seus sonhos mesmo contra todas as adversidades... ou em outros textos a magia e a serenidade de um Amor tranquilo, ensinando que o Amor pode ser Perene sem ter que durar a eternidade; Ser Perene é em estado transitório para o Amor e para qualquer coisa. 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Sim, sem dúvida essa é minha maior expectativa em relação aos meus textos. Transformar minha Poesia em algo palpável, ao alcance das mãos. Trazer cor e vida aos textos nas páginas de um livro. O motivo, não sei bem ao certo. Talvez porque esse seja um modo de eternizar um trabalho, do qual julgo ter sido merecedor.

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P. C. Ventura

Poesias para beber Endere莽o eletr么nico: http://urbano-lumiere.blogspot.com.br

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Papos psicóticos Conversa em sala de espera de consultório psiquiátrico: – que transtorno você tem? – transtorno bipolar, e você? – Ah, eu tenho síndrome de Aspergen. Aquele ali tem deficit de atenção. Aquele outro é maluco mesmo. Esse aqui o tico e o teco não se entendem. O de camisa amarela surtou e ficou pinel de todo. Santa Loucura! Protegei a diversidade neurológica!

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Curta 197 Em companhia de morcegos inquietações ecoam paroxítonas. Trago a poetisa para a minha cama, o primeiro orgasmo se aproxima tão logo ela verseja a terceira rima. Quando a musa longe mensageia a nota breve de meus olhos serenamente ondula e serpenteia.

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Curta 195 Como não querer aquela mulher que costura a rede de meus pensamentos em trama fina e linha forte? Como não armazenar aquele sorriso que acende minha alma escancarada em chamas inquietas e solfejadas? Levo meus pensamentos indiscretos para a cama: Ella é um ponto geográfico no mapa de meus destinos.

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Objetos 50 Objetos para pesquisa em tecnologias emocionais: espectrômetros para medir a massa dos sonhos; microscópios que visualizem pensamentos profundos; geradores para um choque de realidade no quotidiano; geoprocessadores para direcionamento de pessoas à procura de um norte objetivo na vida.

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Curta 220 Dou-te como presente um pensamento simples: o tempo não existe. Apenas seus silêncios genéricos e um pequeno ruído da areia descendo a ampulheta ou do pingar das clepsidras.

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A iara e o caboclo Olhos fascinados Pela sereia saindo das águas. Iara morena em banho de cachoeira Límpidas águas calcárias Límpidos olhares amendoados Como castanhas andaluzas. Cabelos em anéis opaciados Pela etérea fumaça de uma fogueira. Chocalho nas mãos Entoando cantos aos seres da floresta. Duendes? Deuses? Ânimas? Espíritos das matas? Sacis? Vozes de animais Corais onomatopeicos Cães, micos-estrela, gralhas, Formigas, cigarras, cupins. Barulho de rio Meu coração que palpita Cometa, estrela cadente Estrela fixa ou errante Planetas, meteoros e meteoritos. Fascínio pela Iara morena Nas águas calcárias E nas pedras ensolaradas Acompanhando o curso do rio. Iara morena jogou feitiço E caboclo mergulha direto No profundo escuro do rio.

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Diapositivos O beija-flor azul bebe a gota de chuva do arco-Ă­ris. A manhĂŁ clareia, um cavalo branco sobre a grama molhada. Beija-flor azul, manhĂŁ, cavalo branco, gota de chuva, arco-Ă­ris. Imagens de um despertar? Fotografias abandonadas sobre a mesa antes de dormir. Fotogramas, diapositivos superpostos em minha mente dispersiva.

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Notas de leitura em revista de bordo 17 1. Eta Marieta! Regularidade, tempestade! Quem tem Marieta não precisa de Catherine Deneuve! 2. N’Ella tudo é bom, mas atenção: precisa ser um bom degustador, senão não funciona. N’Ella tudo é possível, desde delicadezas ambrosianas até temperos fortes. Esteja preparado para as novidades! 3. Negras, vermelhas ou louras fortes. Boa pedida para o inverno. Ou seja, cerveja! 4. Os tabus da África são os fantasmas brancos assombrando nas plantações das planícies. Os tabus não são materiais, são espirituais. 5. As imagens de um não fotógrafo em exposição no Rio de Janeiro refletem a importância da fotografia como linguagem e arte mais que produção e profissão. Veja Laguirre. 6. O mestre das Curvas se aventurou também nas Ciências. As Curvas das Ciências mostram brinquedos gigantes para explicar noções de engenharia e matemática. Que pena que as escolas (e muitos pedagogos) atrapalham a continuidade da busca de conhecimento pelas crianças. 7. Condição e vontade nem sempre andam juntos. Quando se cruzam nos caminhos boas transformações podem ocorrer. 8. Simplicidade e versatilidade: este é um ideal de terceiraidade (da minha pelo menos). Sou idoso criminoso (bebo uma dose e dirijo a mais de 60 km/h, limites dos radares urbanos) e busco absorver as duas características com afinco. 9. Com boina preta vou a Palmas. Às Palmas. Lugares onde o sol provoca traumatismo craniano e derrete o botox dos cérebros de algumas pessoas, onde a mandioca (ou aipim, se preferirem) é a mais saborosa do Brasil. Ah, e tem a tapioca | 82 |


com rúcula e carne de sol da barraca da Léa. “É caro mas é muito bom”. Eta Marieta. Se apareceres lá, te baterei palmas até dar calos nas mãos. E protejam o Jalapão. 10. Escambo o escambau. troca justa. Mas não troco por nada no mundo meu disco de vinil dos Tincoãs. Quem tem um disco de vinil dos Tincoãs? Nunca conheci quem tivesse um. Faz-me sentir uma pessoa rara. 11. Tempestade tropical dá prêmios a quem sabe se equilibrar. Surfar é melhor que navegar. 12. A moda está na moda, de novo. A mesma que veste desnuda para exibir a ausência do traje. Está na moda a roupa invisível do rei.

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? A motivação principal é correr o risco de ser lido. E o blog é também um espaço de armazenamento interessante dos trabalhos. Ele fica acessível ao autor também, podendo ser retrabalhado a qualquer momento. Faço uma cópia dele, claro, mas é um espaço de armazenamento e de leitura. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Eu nunca achei que minhas poesias fossem boas. Tinha um certo receio de apresentá-las e elas não serem aceitas. O blog me permite experimentar como autor e ter um certo retorno dos leitores. De tempos para cá eu as publico esporadicamente no Facebook©. O retorno de leitores é muito pequeno. O blog tem uma média de umas 30 visitações por dia, mas essa medida não é confiável. Quando jovem fazíamos muitas publicações avulsas mimeografadas e distribuíamos entre amigos. O blog é uma mídia fácil, aberta, gratuita. 3. O que é poesia para você? Pergunta muito difícil. Tão difícil quanto à poesia. A poesia tem de ser uma síntese de temas e narrativas que permite diversas leituras e interpretações. Ela deve ser apropriada pelo leitor através de uma identificação quase imediata. Ela deve incentivar uma releitura diferente tempos depois. Ela deve ser degustada aos poucos e não deglutida às pressas. Ela precisa contar muitas histórias ao mesmo tempo em pouco espaço. Ela precisa encantar. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Muitos. Sou um leitor voraz de poesia.

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5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Sim, e se gosto, faço comentários. 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? A leitura em geral influencia minha poesia. Os autores que mais influenciam minha poesia não são necessariamente poetas. São Guimarães Rosa, José Saramago, José Maria Rilke, Bob Dylan, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, e cronistas de vários matizes. Minha poesia é meio crônica, na verdade. Eu escrevo muito sobre as vivências cotidianas. 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Sim, penso em publicar no próximo ano. Preparo uma coletânea. Gostaria de deixar livros de poesia como legado.

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Guilherme Fernandes

O globo …ocular Endereço eletrônico: http://ogloboocular.blogspot.com.br



No meio de um oceano branco, lรก se encontrava aquele grande continente cor da infinitude do universo. Lรก estava meu mundo... sua alma escondida atrรกs daqueles globos oculares.

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Litterae Lunarum I Do alto ela enxerga Tudo o que se esconde E na sombra quem peca É a imagem de um homem Ilumina, luz de diamante Não julga, só sabe (E a sensação agonizante) Virtude só existe guardada Numa foto de estante O olhar retribuído Viu-se condenado Sente-se despido Pela culpa do pecado Fogo, foge e queima Um passo e se descuida E ali ele jaz morto Veneno, resto de cicuta

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Litterae Lunarum II Quando quebra o céu A luz da lua, E a sombra É medo e assombra, Não há anjos lá nas nuvens Só há sonhos na penumbra. E a quem revira e espera A lua nega o dia E reflete o céu na terra, Uma eterna noite vazia! Abre o sol a porta E revolta aquela cena, A lua nasce morta E finalmente morre plena!

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Recólica Neste mundo, a lógica se torna Figuras de linguagem, E o dicionário que transborda Nos transtorna e nos transforma Em espelho e miragem. O silêncio toma a forma De sábia ironia, E se hoje eu digo algo Já não importa o que dizia. Poescuro argumento imaginagético, A eloquência que se manifesta Em linguagem vazia. Por isso o que escrevo Não é retórica ou poética, É apenas poe(re)sia!

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Vazio I A desalmada poesia Só corpo Só copo Sem água Sem conteúdo Olho... Olho... Só vejo nada nada nada Me afogo E fico igual a ela Vazio, Morto, Poesia sem conteúdo É paladar sem gosto II Ex-tética Pura, Transparente Tanto que não se vê Tétano Pa-tética III ...

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IV Vazia... Engana os olhos Não toca a alma Nem mesmo a que Não h(á-lma)

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A lápide Minha lápide escrita a lápis Numa língua morta Uma mosca torta A sobrevoa Minha voz já não mais soa E eu já nada sou Já não sonho com meu sono O vento como sopro É como o tempo Louco como veneno O que sobra é acúmulo IN TVMVLO SVMVS E eu já nada sou Apesar de tudo Um pouco Muito Minto Pois apesar de morto Sinto E isso é a vida: O limbo!

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A caverna A raiva de uma fera que chora; Ouço graves gritos numa gruta, A besta perdida de voz bruta Estava escondida até agora Acostumada a viver na cá-verna, nunca viu a luz do dia. Preto e cinza, ódio, cor amár-ela não era cega e nem via A besta era o homem jogado, Preso na caverna de Platão. Preferia conviver com ratos A se libertar daquela prisão!

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Formas Já não há mais O que ser que-brado A esperança foi cruelmente Assassinada Ela foi a última a morrer Antes dela a apatia E antes da apatia Todas as outras sensações O que restou então? Apenas sombras Sem formas Sem fome Vagando até o fim Fim de quê? Fim de quem? Se não há mais forma, Qual a forma da não-forma? Vestida em um uniforme Disforme O que ela nos informa? Se não há mais forma De que forma o poema acaba? Talvez como sombra amorfa De um monte de palavras

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Fic- (sou) -ção Um projeto de autoria Sou minha própria ficção Quem mente? Minha mente? Sou-me feito Feito produto, Multiplicado sensorial... Sou o resultado Do meu circuito elétrico, Sou produto (divisão?) Entre o homem e o animal? Mas chega de neurose, Sou ficção, sou inventado, E nessa neural psicose Sou um texto conformado

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Ser ou não sou? Ser não sou de Pedra Pessoa boa ou máquina Sujo, (pecado inicial), lavo a minha mácula O poeta, criador, Um pouco sem saber In consciência fala Sobre o que não consegue Ver Criatura inocente É jogada no papel Poesia ser-humano Não existe (no) além do véu. Escrito, um roteiro Que acha que sabe que age Inconsequente em Máquina-ação Já a minha mácula-são as manchas da caneta (Na branca folha de papel) Escritas à mão (Não é? Não é não!)

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Ter a oportunidade de divulgar meus textos e poemas em um espaço amplo, que possa ser acessado por muita gente. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? É a melhor oportunidade que tenho para divulgar meus poemas, já que publicar um livro é muito difícil. Não conheço outro meio de produção independente. 3. O que é poesia para você? Poesia é uma maneira de expressão através da arte, que permite brincar com a linguagem em seu nível máximo de criatividade. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Sim. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Sim. Não utilizo a ferramenta de comentários. 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Um pouco, influencia, principalmente, na inspiração dos temas, mas nem tanto no estilo. Os autores são, principalmente, Carlos Drummond de Andrade e poetas independentes que jogam com a linguagem. 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Sim, seria a realização de um sonho. | 100 |


Luiz Carlos Vieira

Às arvores do caminho Endereço eletrônico: http://www.ideiasesurtos.blogspot.com.br

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Folha Seca Caía leve ao baile do vento Seca e áspera como a pele de uma velha Amarelo e marrom que se abraçam e se colorem E com o mesmo pesar se posta à porta da minha casa E boia na poça feita por mim Que sentado na soleira não sentia, mas vinha O olhar fixo na última de centenas Calafrios me subiam e aclaravam As nuvens pesadas vinham em manada E o vento cortante trazendo-a até minha frente Que um dia invejou a árvore verde Que hoje vê sua última folha morta

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Um Mergulhador Mergulhado em minha própria mente Me vejo afundando, afundando Me vejo descendo Me vejo me afogando Começo a sentir o peso de toda essa água acima de mim Começo a perder meu ar e a me movimentar de acordo com [o movimento da água Começo a perceber que tentar nadar é inútil Já que há muita pressão e escuridão ao meu redor e acima [de mim Afogando em meus próprios pensamentos Começo a pensar na falta que muitos sentimentos me fazem [agora Na falta que muitas pessoas me fazem agora No mundo do qual eu havia despencado para estar no fundo [deste mar negro Ainda afundando em meus pensamentos gelados Não sinto mais calor, não sinto mais meu corpo Não tenho mais fôlego Não tenho mais vontade Quando tudo começa a se tornar um borrão Quando minha visão começa a falhar Quando sinto que ao fundo cheguei Eis que vejo um mergulhador vindo sobre mim.

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Por Um Fim Abri as janelas e vi a planície Vi aquele azul diferente Deixei aquele vento carregado de novos perfumes entrar Eu respirei Expirei o que tinha preso no pulmão Abri aquela porta pesada Empurrei-a com firmeza Pus meus pés pra fora Da janela via-se um dia lindo Já lá fora, tudo era cinza Estava muitos graus abaixo de zero E eu não tinha agasalho A neve estava muitos centímetros mais espessa E meus sapatos se atolavam Fui assim mesmo Disseram-me: “não vá!” Em todos os idiomas imagináveis Mas teimei Foi um passo largo E não chorei E eu me atrevi a correr E eu me atrevi a gritar Sozinho, na neve, tentei me encontrar Soquei os muros Chutei as pedras Eu sangrei Me quebrei Enfim, chorei E já cego A casa voltei

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Na Tal Segunda-Feira A Tiso Como macio sinto o toque Aquele que me dá o enfoque Em apenas uma parte da história Tudo pode esperar Porque mais perto da glória Não há como chegar A alegria que seu cheiro me traz É a mesma que ao meu tédio desfaz E que ao sorriso que ali demonstra Ilumina a quadra, o bairro, a nação Soa-me como um mantra Do qual só me interessa a fração Que de mente ainda não entendo E do que não entendo, tenho medo Mas com medo, abraço-me ao apego E me deito em cama de sossego Para me despertar em outro dia, depois das dez e meia.

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Do Aviso Chega de mansinho Com todo o seu peso Sorriso tímido e traseiro gelado Senta-se em cima do que fomentava Recém tirado do forno Daquilo que estava dentro de mim Enrolado em um fio fino de consciência Ensopado em um lago de devaneios. Chega devagar e mansa Com passos felpudos e sorrateiros Sorri-te um sorriso sedutor Seduz-te a mergulhar em um mar glacial Escuro e misterioso Seduz-te ao fundo Daquela água pesada. Que o pôr do sol é um conforto Pode ser Uma aparente felicidade em revê-lo Que se vai para trás daquele horizonte Lá longe Trazendo uma erma sensação Parasita da beleza que se foi Fixadora da tristeza que chegou. Ela sempre se deita às seis da manhã Depois de negociar com o sol A hora de voltar Sob um manto de estrelas Sob a luz de uma lua Que te convida a pensar. Será possível se libertar Sozinho, algum dia Ou alguém virá me salvar Destrancando esses cadeados | 107 |


Ainda haverá interesse Depois de passar por meu aviso “Ainda estou de luto”.

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Poças - de - Pular Quando era criança Brincava de pular em poças d’água deixadas ali pela chuva E sorria despreocupado E pulava, e sorria, pulando De poça em poça, até crescer Por anos esqueci como era bom Brincar nas poças - de - pular E agora que a vida me abraça Que a fantasia é desmascarada Que a realidade dança nua perante meus olhos Tudo o que quero são minhas poças - de - pular Quero me sujar Quero meu desleixo Quero me desfazer da imagem Não me importar com o que vão pensar E me jogar nas poças - de - pular Me encharcar, me sujar, me sujar, me molhar Dançar e rir despreocupado E que todos olhem Para contente eu ficar Com as minhas poças - de - pular

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Fora d’água (Em vão) Fora d’água Me debato Sufoco Luto Nasci aqui Fora d’água Fracassei Lutei Esperei Vieram me pescar Asfixiei Lutei Me contorci Respirei Em vão Lutarei Em vão...

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Porque queria me expressar de alguma maneira, apesar de me sentir sempre tímido quando alguém lia. No início, nem o divulgava. Mas alguns professores o encontraram na internet, divulgaram por mim, elogiaram e me motivaram. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Escolhi o blog porque tinha preguiça de manuscrever os poemas. Hoje algumas pessoas usam o Tumblr© e até mesmo o próprio Facebook© pra suas produções. 3. O que é poesia para você? Poesia é a melhor maneira de gritar seus pensamentos, tristezas, preocupações... 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Não. Prefiro ler crônicas. Enxergo todas as músicas como poesia, entretanto. Escuto Laura Marling, Ewert and The Two Dragons, Elis Regina, Manu Chao... entre outros. Esses me inspiram muito. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Sim, leio. Principalmente dos meus melhores amigos. Não uso a ferramenta comentários. Costumo comentar pessoalmente ou pelo Facebook© . 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Não costumo ler livros de poesia. Mas romances, crônicas, artigos, aulas e música me inspiram bastante. Gosto de ler Khaled Hosseini. | 111 |


7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Não sei. Não acho que meus poemas sejam bons o suficiente para interessarem alguma editora, haha.

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Sabine Ribeiro

Uma biografia

Endere莽o eletr么nico: http://www.umabiografia.blogspot.com.br

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Não quero ter o mesmo fim dos românticos que me precederam, que ao contrário do que contam, não foi de tuberculose que morreram e sim de desespero. Conto as crises de loucura que me assolam e, a cada número, morro um pouco. Sou posto em choro ainda que rouco. Não sou um poeta do meu tempo. Meus medos não são meus contemporâneos. Anseio pelo futuro, mas não me esqueço dos alicerces, muitas vezes vermelhos, dessa nação que diz caminhar pra frente.

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Por tempos tive algo pelo que escrever, um motivo nĂŁo dos melhores. E numa tarde quente, ele se foi, deixando um buraco de dar inveja a qualquer um. Um buraco fĂĄcil de ser preenchido. Fiz o melhor para mim, preenchi-o com uma folha em branco.

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Auto exorcismo: Ato de escolher atos, hábitos ou palavras que lhe façam esquecer algo, alguém ou algum momento.

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Aos Livres e Inspirados. E amanhã é segunda, meu povo, e a labuta começa de novo, e a saúde se acaba um po’co, e o tempo se esvai num côco. E o velho caminhante, e o novo errante, caminham e erram nos chãos em chamas, com os pés em lamas, carregando flâmulas. De um lugar em que donzelas, tão singelas, têm segredos delas, e seus caprichos. Deitam com homens nobres, que cheiram a vinho e podes, mas preferem os bichos.

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Olho para os olhares que me olham. E o que eles olham? Serรก que eu sei? Serรก o mesmo que eu olho? E o que eu olho?

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Agosto, desgosto, tem gosto de encosto.

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Amarrarei todos os males do mundo embaixo da minha [cama antes de levantar. Serei juiz, bandido e vítima de um mesmo crime. Serei Napoleão, Picasso e Madonna. Serei Al Capone, Elvis e os Beatles. Serei Cleópatra e Ramsés. Dormirei ao lado de reis e rainhas. Serei um deus com cabeça de elefante e corpo de gente. Terei como amigos uma lebre e um chapeleiro louco. Um coelho com pressa e um gato sorridente serão meus [companheiros. Serei o dono da verdade e o maior mentiroso que já existiu. Serei tudo isso e mais um pouco, e ainda assim serei eu.

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Eu vou me inspirando em loucos, em pessoas que morreram aos poucos. Vou beijando amantes toscos e sorrindo pra velhos rostos. No entanto, me entrego aos trancos e abraço os barrancos. Amacio os bancos e mexo os flancos. Eu vou me inspirando em loucos, em pessoas que morreram aos poucos. (Algumas) Vítimas do vício de pensar, (outras) da insanidade de escrever e (outras até) da arte do não saber. Vivo na ânsia de que isso não me alcance Escrevo, penso e não sei. Mas morrer de loucura... Que valha a pena.

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E o vidro com a fita vermelha preserva o que chamávamos [de amor. Em leves tons de cereja e licor, em formato arredondado, agora com um odor mais amargo, como algo passado que deveria ter sido melhor preservado, usado e abusado, mas fora descartado. Não! O que estou a dizer?! Que algo tão bem guardado, em [vidro enfeitado, fora ali descartado?! De modo algum! Aquele bombom tão bem enrolado fora [guardado para ser preservado. Antes de doce cereja escorria o licor, agora és dono do odor de algo não mais chamado amor, mas que é mais bem tratado.

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O que você acha de viver? Cumpra com suas tarefas. Não desobedeça as regras. Sorria para as câmeras. Feche a cara para os políticos. Coma arroz e coma feijão, proteínas e macarrão. Feche as portas, tranque as janelas. Sente-se e assista à televisão. Coma comida congelada, afinal, ninguém tem mais tempo pra cozinhar. Abrace seus filhos, deixe-os usar a internet, enquanto vê a novela. Bom dia, boa tarde e boa noite, rapazes, marido... Durmam cedo, acordem cedo, tomem banho na hora certa e escovem seus dentes 5 vezes [ao dia. Agora repita tudo durante sua vida inteira.

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E que loucura é essa que vocês dizem que move tudo?

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Entrevista com o autor 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Exercitar minha criatividade em diferentes modos de expor minhas emoções. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece algum outro meio de produção independente? Praticidade, principalmente, e a possibilidade de alcançar pessoas de todo o mundo, e receber críticas e comentários quase que instantâneos. 3. O que é poesia para você? Poesia pra mim pode ser uma expressão de emoções sem o menor intuito estético, pode ser uma composição de palavras com o intuito só de ser belo. Poesia pra mim é a exposição do belo. 4. Você lê livros de poesia de outros autores? Não frequentemente. 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a ferramenta de comentários? Sim. Sim. 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim, quais seriam esses autores? Sim. Autores independentes como eu, a maioria de blogs também. 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê? Nunca pensei nisso, mas acredito que sim. Pra talvez alcançar um público maior, difundir o meu estilo e influenciar futuros poetas, quem sabe. | 126 |


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