Facilitacao grafica em projetos editoriais izabel meo 2014

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Facilitação Gráfica no Brasil e seu Uso em Projetos Gráficos Editoriais


SENAC Izabel Marques Meo

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais

São Paulo 2014


Izabel Marques Meo

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Senac – Unidade Lapa Scipião, como exigência parcial para obtenção do grau de Pós Graduação em Design Editorial Orientador Profº Henrique Nardi

São Paulo 2014


(ficha catalogrรกfica)


Às minhas avós e aos meus avôs


Izabel Marques Meo A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Senac – Unidade Lapa Scipião, como exigência parcial para obtenção do grau de Pós Graduação em Design Editorial Orientador Profº Henrique Nardi A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão pública realizada em__/__ /____ , considerou o(a) candidato(a): 1) Examinador(a) 2) Examinador(a)


AGRADECIMENTOS Agradeço minha mãe, Célia Regina Marques da Silva Meo, que acreditou em mais essa loucura.

Carolina Ramalhete, Donatella Pastorino, Fernanda de Paula, Mila Motomura e Wânia Borges.

Agradeço minha irmã, Bianca Marques Meo, meu pai Elias Meo e meu noivo, Rafael Lopes de Matos, que compreenderam minha ausência e sempre me estimularam.

Ao coletivo da Escola de Ativismo, do qual faço parte e onde tive o primeiro contato com facilitação gráfica. Obrigada equipe por também entender minhas ausências.

Meu orientador, Henrique Nardi, por ter embarcado nessa comigo e ter descoberto afinal, o que é facilitação gráfica.

Ao meu professor e amigo, Marcio Freitas, pelos e-mails de madrugada com ideias para este trabalho, ainda na fase de projeto, e pelos e-mails de madrugada para conversar e distrair um pouco.

A Vitor Massao, meu amigo inspirador que me ajudou a entrar nesse mundo. À Arlete Rodrigues, Guilherme Aleixo, Lidiane Suman, Bruna Okamura, Mônica Ramos, Luive Osiano, Márcio Bonfá, Felipe Villela, Beatriz Filgueiras, João Paulo Amaral, Izabela Machado, Martina Horvath e Arnaldo Batista, membros da equipe do Idec que me inspiram também. Agradeço pela feliz companhia que me fazem todos os dias, por compreenderem meus atrasos nos últimos meses e minhas experimentações de facilitação gráfica em nossas reuniões. A todas as fantásticas mulheres facilitadoras gráficas que me deram entrevistas para esta monografia, além do Vitor Massao. Fiquei apaixonada por todas vocês: Camila Rigo, Carla Hirata,

A Regiane Santana, Daiane Ramos, Patrícia Ishihara, Geraldo Teixeira Junior, Andrea Bruno, Felipe Santiago, Madalena Mader, Adriano Kitani, Samira Souza e todos os demais alunos e alunas da turma de 2012-2014 do curso de pós Graduação em Design Editorial do Senac que, desde o primeiro dia de aula, foram amigos e amigas fiéis e que me ensinaram muito em dois anos. E sempre a Deus, meu guia, que colocou tantas pessoas maravilhosas no meu caminho. Obrigada!


“Break your rules when you mean it” Brandy Agerbeck


resumo

abstract

O presente trabalho tem o objetivo de explicar e mostrar o que é facilitação gráfica, quem faz facilitação gráfica no Brasil e como seus elementos podem ser aplicados em projetos editoriais. Foram usados para a pesquisa livros sobre o assunto, sites, blogs e fóruns de profissionais, brasileiros e estrangeiros. Também foram realizadas entrevistas com oito profissionais brasileiros em atividade. A Facilitação gráfica chegou ao Brasil há dez anos, mas nos Estados Unidos existe há trinta anos. A atividade consiste em registrar ao vivo, geralmente em grandes paineis de papel colados na parede, com cores, desenhos e metáforas visuais o que um grupo ou plenária está discutindo ou produzindo.

This paper has the objective to explain and show what is graphic facilitation, who does graphic facilitation in Brazil and how its elements can be explained in editorial projects. It was used for research: books, websites, blogs, professional’s forums, from Brazilian) and foreign sources. Interviews were made with eight professionals active in Brazil. Graphic facilitation is an activity that arrived in Brazil arround 2003, but it started in USA in 1970. Graphic Facilitation consists on making a live record usually in big scale, in big pieces of paper on the wall, with colorful drawings and visual metaphors about what a group or plenary are discussing ou producing at the meeting.

PALAVRAS CHAVE: 1. facilitação gráfica. 2. design editorial. 3. design thinking. 4. mapa de ideias. 5. colheita. 6. registro gráfico.

KEYWORDS: 1. graphic facilitation. 2. editorial design. 3. design thinking. 4. ideas map. 5. harvest. 6. graphic recorder


lista de figuras Figura 1 - Facilitação Gráfica do discurso de Barack Obama.............18 Figura 2 - Processo de trabalho de um facilitador gráfico...................19 Figura 3 - Facilitador, ora telescópio, ora ser um microscópio............19 Figura 4 - Esquema “cume da montanha”............................................22 Figura 5 - Capa do livro Reuniões Visuais...........................................22 Figura 6 - Constelação de princípios e habilidades para facilitadores gráficos..................................................................................27 Figura 7 - Planejamento Fundo Brasil de Direitos Humanos.............28 Figura 8 - O que é Design Thinking......................................................32 Figura 9 - Sinergia de trabalho entre os facilitadores.........................35 Figura 11 - Montagem com Fernanda de Paula trabalhando..............36 Figura 12 - Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore..........................37 Figura 13 - Facilitação gráfica como base no conteúdo de uma publicação de 18 páginas....................................................37 Figura 14 - Modelo de canvas em português.......................................40 Figura 15 - Cópia de duas páginas do livro Business Model Generation...45 Figura 16 - Abertura de capítulo do livro Business Model Generation..46 Figura 17 - The Essential 8...................................................................47 Figura 18 - Entomofobia........................................................................49 Figura 19 - Capa do Livro “Cadernos de Exercícios para Aumentar a Autoestima”........................................................................50 Figura 20 - Página dupla “Cadernos de Exercícios para Aumentar a Autoestima”.......................................................................51 Figura 21 - Atividade “pintar um arbusto”...........................................51 Figura 22 - Capa do livro “Cadernos de Rabiscos para Adultos Entediados no Trabalho”....................................................52 Figura 23 - Atividade “pingos nos ‘is’ e engolir sapos”.........................52 Figura 23 - Capa de “Destrua este diário”...........................................53 Figuras 24a24b - Detalhe de uma das instruções para a destruição....54 Figura 25 - Relação entre designers, tecnologia e usuários.................55

Figura 26a e 26b - As condicionantes do designer digital....................55 Figura 27 - Capa de DT para Educadores.............................................56 Figura 28 - Fluxo do processo de design thinking................................56 Figura 29 - Capa do Livro Reuniões Visuais........................................57 Figura 30/31 - Tipos de facilitação gráfica............................................58 Figura 32 - Capa do Livro BMG............................................................59 Figura 35 - Modelo canvas completo e simples.....................................60 Figura 33 e 34 - Explicação gráfica do modelo canvas........................60 Figura 36 - Capa do PDF BrandyFesto................................................61 Figura 37 - Interior da publicação BrandyFesto..................................61 Figura 38 - Capa publicação sobre a PNRS.......................................62 Figura 39 - Interior da publicação sobre a PNRS................................63 Figura 40 - Capa do Relatório do 1º Encontro CRAS..........................64 Figura 41 - Interior do relatório 1º Encontro CRAS.............................64 Figura 42 - Interior do livro com ilustrações de Rohde........................65 Figura 43 - Sketchnote feita por Eva Lotta..........................................65 Figuras 44, 45 e 46 - imagens do vídeo The Story of Stuff..................66 Figuras 47- Vídeo “Mudando os paradigmas da educação”................67 Figuras 48- Final vídeo “Mudando os paradigmas da educação”.......67 Figuras 49 e 50 - Projeto Passe Livre..................................................68 Figuras 51/52 - Dois momentos do vídeo para Nextel.........................69 Figuras 53 - Final do vídeo da Atrium Consultoria............................70 Figura 54 - Painel Empreendedorismo............................................... 76 Figura 55 - Painel e colheita de Planejamento Estratégico................ 77 Figura 56 - Carla Hirata trabalhando.................................................78 Figura 57 - Facilitação Gráfica do Coletivo Entrelinhas.....................81 Figura 58 - Linha do Tempo da SOFTEX.............................................82 Figura 59 - Página dupla do documento Multi&Stakeholder..............83 Figura 60 - Carolina Ramalhete..........................................................84 Figura 61 - Painel de comemoração do dia da mulher.........................85


Figura 63 - Água....................................................................................85 Figura 62 - Painel sobre Escolas Sustentáveis.....................................86 Figura 64 - Donatella Pastorino............................................................87 Figura 65 - Registro da palestra do Flavio Maneira............................93 Figura 66 - Painel para a Febraban......................................................94 Figura 67 - Painel sobre engajamento...................................................95 Figura 68 - Fernanda Costa...................................................................96 Figura 69 - Facilitação Gráfica em aula da agência C.O.R................101 Figura 70 - Construção de Equipe e Planejamento Estratégico na SEE..102 Figura 71 - Vitor Massao.....................................................................103 Figura 72 - Anotação em caderno - EU MAIOR.................................108 Figura 73 - Encontro de Sustentabilidade do Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco.......................................................109 Figura 74 - Mila Motomura..................................................................110 Figura 75 - Fluxogramas para publicação..........................................112 Figura 76 e 77 - Frames do vídeo produzido para a Coral Tintas.....112 Figura 78 - TedEX Amazônia...............................................................113 Figura 79 - Wania Borges....................................................................114 Figura 80 - Registro Visual do Evento 4° Geração de Empreendedores...116 Figura 81 - Registro Visual do Evento Ideias Inovadoras.................117 Figura 82 - Registro Visual do Evento da UFMS e FGV..................118


lista de tabelas Tabela 1 – Comparação entre os processos de trabalho de Brandy Agerbeck e David Sibbet............................................................24


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................14 CAPÍTULO 1 - O que é Facilitação Gráfica...............................16 Definição.............................................................................17 A colheita na facilitação gráfica........................................20 David Sibbet, o ‘pai’ da facilitação gráfica........................21 Princípios da Facilitação Gráfica......................................23 Como se forma um facilitador ou facilitadora gráfico?......................................................24 CAPÍTULO 2 - A importância da linguagem visual.................29 Design Thinking.................................................................31 Design de Informações.......................................................33 CAPÍTULO 3- Os gráficos na facilitação gráfica.......................34 Para elaborar panéis em larga escala e ao vivo...............38 Canvas: facilitação gráfica em função da construção de um modelo de negócios.........................38

CAPÍTULO 4 - Projeto Editorial ...............................................41 Imagens, ilustrações e diagramas....................................44 Diagramas - A estrutura da facilitação gráfica................47 Facilitação Gráfica em projetos editoriais........................50 Vídeos em Facilitação Gráfica...........................................66 CAPÍTULO 5 - Entrevistas com facilitadores/as gráficos........71 Camila Rigo.......................................................................72 Carla Hirata......................................................................78 Carolina Ramalhete..........................................................84 Donatella Pastorino...........................................................87 Fernanda Costa de Paula..................................................96 Vitor Massao....................................................................103 Mila Motomura................................................................110 Wânia Borges...................................................................114 CONCLUSÃO............................................................................119 BIBLIOGRAFIA.......................................................................121 ANEXOS.....................................................................................125


introdução Esta monografia pretende explicar o que é e onde pode ser aplicada a Facilitação Gráfica. Uma atividade relativamente nova no Brasil, 10 anos, que tem conquistado empresas e organizações sem fins lucrativos inovadoras. Em busca de uma forma nova e eficiente de registrar ideias e tornar processos participativos mais criativos, designers, administradores, psicólogos, artistas, publicitários e até professores tem aprendido, e praticado muito, as técnicas e teorias da facilitação gráfica.

Desde a catequese até palestras motivacionais para equipes de vendas, os “facilitadores” (nesse caso não necessariamente gráficos) sempre usam exemplos simples e rotineiros para chegar a uma coisa maior, uma diretriz ou meta. Sempre que estamos conversando e alguém nos conta que fez algo errado ou algo não deu certo numa combinação pensamos, e muitas vezes falamos também: “puxa, ele pisou na bola”. Uma clara referência ao futebol, mesmo que a conversa seja sobre o mercado de ações ou o planejamento da festa de 15 anos de alguma garota.

Trata-se de uma prestação de serviço, ou atribuição de alguém específico em uma empresa. Um facilitador gráfico é um elemento silencioso em reuniões, debates, palestras e apresentações. Ele, ou ela, registra com frases pontuais e desenhos, geralmente metáforas visuais, usando muita cor, síntese e organização, tudo que vem sendo discutido, demandado, sugerido, aprovado e definido.

A monografia teve duas publicações como principais referências: um livro exclusivamente sobre facilitação gráfica de Brandy Agerbeck, profissional dos Estados Unidos, e outro sobre como a linguagem visual pode deixar as reuniões muito mais dinâmicas e produtivas, de David Sibbet, facilitador gráfico norte americano. Também utilizei livros de design que pudessem ajudar a fazer a ligação de Facilitação Gráfica com a produção editorial.

Fazemos associações visuais o tempo todo. Quando alguém nos explica algo só um pouco mais complicado logo solta a famosa frase “quer que eu desenhe?”. Quando explicamos algum caminho, frequentemente desenhamos um mapa, ou quando queremos buscar a relação entre as pessoas, produzimos um pequena árvore genealógica ou organograma da empresa. Além da linguagem visual facilitar processos “naturalmente”, nós pensamos muito por meio de metáforas e parábolas.

Além disso, foram feitas oito entrevistas com profissionais brasileiros e uma grande pesquisa na internet, meio pelo qual grande parte deles divulga seu trabalho e troca experiências. Em uma avaliação rápida destas entrevistas, podemos perceber que é um mercado dominado por mulheres. Das oitos entrevistas, somente uma foi respondida por um homem. Porém, foram mapeados 16 profissionais em atividade no Brasil, sendo somente quatro homens.

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As pesquisas na internet ajudaram a encontrar os profissionais e principalmente buscar a ligação entre eles, esta ligação está graficamente facilitada na abertura do capítulo cinco. Apesar de querer buscar ao máximo o que é e como se faz facilitação gráfica no Brasil, esta monografia focou em projetos editoriais que fossem baseados, ou tivessem elementos da facilitação gráfica, ou seja, projetos que tem mais tempo de produção, avaliação, revisão, etc com elementos de uma atividade desenvolvida ao vivo e “a mão”. Essa relação pode ser compreendida no capítulo quatro. Para chegar nisso e provar que elementos como flechas, caixas, sinais, tipografia manuscrita, cores, linhas, formas e “pessoas -palito”, fazem sim diferença na comunicação, uma vez que 70% do cérebro humano está focado em elementos visuais, os capítulos três e dois explicam respectivamente a estrutura e tipos de painéis de facilitação gráfica e a importância da linguagem visual para a comunicação. Boa leitura!

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CAPÍTULO 1 O que é facilitação gráfica


Definição A definição de “facilitação” segundo o dicionário Aulete é (fa.ci.li. ta.ção) sf. 1. Ação ou resultado de facilitar, de remover dificuldades, embaraços ou impedimentos. 2. Desatenção, descuido. 3. Fisl. Processo através do qual são criadas condições para que um ato fisiológico ocorra de forma mais ágil.4. Jur. Ajuda dada por alguém que facilita a prática ou execução de um ato. 5. Med. Fenômeno bioelétrico que torna mais eficaz a transmissão das mensagens nervosas. A definição de “gráfica” segundo o mesmo dicionário é (grá.fi.ca) sf. 1. Arte de grafar as palavras. 2. Forma de grafar as letras. 3. Oficina onde são impressos jornais, livros, revistas etc.; TIPOGRAFIA. Quando juntas estas duas palavras definem uma atividade nova no Brasil, mas que começou no anos 70 nos Estados Unidos. Primeiro em reuniões de equipes de negócios, depois em treinamento de lideranças em empresas inovadoras, depois para setores estratégicos, organizações não governamentais, grupos de discussão e até convite para festas. De acordo com as entrevistas feitas para este trabalho, devido a pouca bibliografia em português sobre o assunto, a facilitação gráfica consiste em participar como ouvinte em um grupo que esteja construindo ou debatendo algo ( reunião, debate, encontro, treinamento, palestra), registrar ao vivo o que o grupo produz de conteúdo, ou a que conclusões chegam, sempre focando no essencial do que foi dito, de modo a, no fim do dia, se ter um resumo do que foi falado e as deliberações registradas em palavras, frases, expressões e, sempre que possível, desenhos, ilustrações e metáforas visuais. A facilitadora gráfica em atividade no Brasil há quatro anos, Camila Rigo, diz que uma forma melhor de explicar o que é facili-

tação gráfica é mostrando. Por exemplo, o discurso inaugural do presidente Barack Obama, em 20 de janeiro do 2009. Longo para assistir, frio para ler. Existe uma forma de apresentá-lo que seja mais atrativa: os tópicos e pontos altos da fala do Presidente escritos junto a ilustrações e muitas cores. (Figura 1) A facilitadora norte-americana Brandy Agerbeck, que em 2012 escreveu um livro sobre como fazer facilitação gráfica e ser um facilitador gráfico e mantêm um site (http://www.loosetooth.com/) com muito conteúdo sobre o assunto, resolveu o problema da complexidade e tamanho do discurso: “Facilitação gráfica é servir a um grupo, escrevendo e desenhando sua conversa ao vivo e de forma grande para ajudá- los com seu trabalho. É uma poderosa ferramenta para ajudar as pessoas a se sentirem fortes, para desenvolver um conhecimento compartilhado enquanto grupo e disponíveis para sentir e tocar de uma forma que não poderiam antes” (AGERBECK, Brandy em The Graphic Facilitator’s Guide - 2012 - 4ª capa)

Brandy define este profissional como alguém que é um facilitador, pois torna as coisas mais simples, utiliza gráficos, realiza seu trabalho ao vivo e em grandes paineis de papel, e ajuda um grupo a criar significado para o trabalho realizado. Em seu livro, a autora também explica que facilitação gráfica é um processo composto por partes iguais de ouvir, pensar e desenhar. O ouvir é o input, o pensar é o processo e o desenhar é o output. As três qualidades andam juntas e de forma igual. (Figura 2) Brandy compara o trabalho de um facilitador gráfico com microscópio porque ele assiste\ajuda na concentração de um grupo internamente e relata detalhes, nuances e coisas não observadas antes. Também pode ser um telescópio, por que foca num meA Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 17


Figura 1 - Facilitação Gráfica de Brandy Agerbeck para o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama. Imagem disponível em http://www.loosetooth.com/Viscom/gf/obama. htm. Acesso em 3 de dezembro de 2013

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Figura 2 - Esquema feito por Brandy de como se dá o processo de trabalho de um facilitador gráfico. Imagem retirada do livro “The Graphic Facilitators Guide”, de Brandy Agerbeck, página 11

Figura 3 - Facilitação gráfica feita por Brandy para demonstrar um dos princípios do trabalho de um facilitador, ora ser um telescópio, ora ser um microscópio. Imagem disponível no site da profissional http:\\loosetooth.com. Acesso em 3 de dezembro de 2013.

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lhor entendimento de uma grande figura e um grande contexto da conversação. Confira, na figura 3, esse último parágrafo em forma de facilitação, disponível no site da autora. A Facilitação Gráfica chegou ao Brasil no fim dos anos 90. Atualmente existem diversas consultorias que prestam esse serviço para empresas, escolas, ongs e etc no Brasil. Uma delas, a Design de Conversas explica o que é Facilitação Gráfica em seu site para os futuros clientes dessa forma: É a sistematização criativa da inteligência coletiva gerada em palestras, processos participativos em grupo, workshops ou onde houverem diálogos significativos. (diponível em http://designdeconversas.com.br/ - acesso em 23 de fevereiro de 2014.

Para os facilitadores, desenhar conversas significa também: escutar, passar por um processo de aprendizagem e inovação, utilizar metáforas em imagem, organização em design e a captação e síntese de informações. Dessa forma, desenhar informações exige simplicidade e sofisticação, captação e síntese de informações e também novos caminhos de compreensão. Nas entrevistas que realizei os facilitadores definiam a facilitação gráfica como: • Um processo para ajudar as pessoas no desenvolvimento de uma ideia que aconteceu no grupo. (Vitor Massao) • Uma ferramenta da aprendizagem. (Donatella Pastorino) • Facilitação Gráfica é a arte de usar o design de informações em grandes telas/projeções para ajudar grupos a tornar seus

processos mais visíveis, claros e memoráveis. (Mila Motomura) • Um tipo específico de Colheita, que é um registro visível aos participantes de uma conversa os “frutos” produzidos, em tempo real. (Camila Rigo) • É um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzidos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lúdicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos. (Carla Hirata) • Uma maneira inovadora de ilustrar conteúdos e conceitos. O intuito é comunicar uma ideia ou transmitir uma mensagem por meio de imagens e apelos visuais. (Wania Borges) • É uma metodologia de facilitação de grupos que usa recursos de comunicação e arte de forma sinérgica. (Carolina Ramalhete) Nas falas dos profissionais percebemos a facilitação gráfica como um suporte a algo maior: o aprendizado ou desenvolvimento do grupo. Esse apoio é paupável, ao ser visto nos murais desenhados e também imaterial, na conclusão sobre o tema debatido que o grupo conquista ao contar com o registro da facilitação.

A colheita na facilitação gráfica Camila Rigo, facilitadora de processos e também facilitadora gráfica, criou um site [http://www.facilitacaograficacolheita.com.br/] para reunir tudo que vinha aprendendo e descobrindo sobre metodologias de facilitação e colheita. Para Camila, colheita é um termo que veio da tradução de harvest, “colher”, usado em comunidades internacionais de anfitriões de conversas signicativas, ou seja, facilitadores de grupos para reuniões A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 20


mais produtivas. A ‘colheita’ seria o registro, por escrito ou ilustrado, do que de mais significativo o grupo discutiu naquele encontro. Ela pode ser feita independente da facilitação gráfica, que geralmente contêm desenhos, a colheita pode ser feita somente com palavras e frases essenciais. “A clareza sobre os objetivos de uma conversa ou reflexão é muito importante para uma boa colheita. É imprescindível que o profissional da Colheita esteja em plena conexão com o propósito da conversa, que tenha a percepção aguçada para promover a seleção e captação dos elementos que realmente importam, para estabelecer relações e sínteses – e finalmente realizar o registro (que poderá ser um registro escrito, um registro visual ou assumir formas ainda mais criativas como poemas, canções, etc).” (RIGO, Camila. Em http://www.facilitacaograficacolheita.com.br/ colheita/ - acesso em 27 de fevereiro de 2014)

David Sibbet, o ‘pai’ da facilitação gráfica David Sibbet é um líder mundial em facilitação gráfica e pensamento visual para grupos. É fundador e presidente da The Grove Consultants International, uma empresa cujas ferramentas e serviços para visualização panorâmica, facilitação gráfica, liderança de equipes e transformações organizacionais, são usadas por consultores e organizações em todo o mundo. Apesar de trabalhar com facilitação gráfica desde os anos 1970, Sibbet escreveu o guia “Visual Meetings” em 2010 que três anos depois ganhou uma versão em português, “Reuniões Visuais”. Em seu currículo, Sibbet carrega a responsabilidade de ter participado da criação da Apple University, nos anos 1980, trabalhou no Groupware Users Projetc com o Institute for the Future no

final dos anos 1980 e 1990; liderou um time de consultores internos na National Semiconductor em 1990, ensinou na Mars Associates ao redor do mundo a facilitação de forma gráfica. Sibbet também trabalhou com a Hewlett Packard nos anos 90. Sempre facilitando processos, ou planejando processos de aprendizagem, o autor construiu “Reuniões Visuais” como um testemunho a evolução das ferramentas de produção gráfica. Seu livro é o maior exemplo de como a facilitação gráfica pode ser utilizada em projetos editoriais. Sibbet confessa que, desde que adquiriu seu Mac SE pretendia fazer um trabalho de autoria que combinasse com total fluidez, texto e gráfico. Escrevi o Reuniões Visuais com o meu MacBook Pro conectado a um tablet Wacon Cintiq, de forma que pude tanto desenhar quanto escrever à vontade, integrando texto e imagens. Depois enviei estes arquivos para meu novo iMac, com o Adobe InDesign instalado, e, diagramei as páginas para ver como elas ficariam. Pude então voltar e reescrever, redesenhar e mudar o conteúdo de acordo com minha vontade - tudo em tempo real. (...) Os desenhos, em sua maioria, são meus. O restante foi incluído com permissão. (SIBBET, David. Reuniões Visuais. 2013, página XXVI da intodução)

Quando fez parte da equipe da Apple, Sibbet desejava trabalhar interativamente com comunicação visual, inspirado na maneira como os arquitetos e designers trabalhavam, mas aplicada a reuniões comuns. Em 1972, o autor aprofundou-se nas técnicas que mostravam o poder da visualização para transformar o pensamento e os processos de um grupo. Em sua experiência na Apple, David pode criar um workshop de interface gráfica do usuário, algo que fizesse tanto sentido no A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 21


mundo real quanto o que a empresa vinha fazendo com computadores. Para o evento foram planejadas molduras, mas a imagem central não era preenchida. Ao longo do evento os participantes fariam isso. Em alguns casos, como o da abertura que era o caminho até o cume de uma montanha representando a jornada, esses quadros eram metáforas, em outros, modelos reais de gráficos e estruturas. Já neste exemplo vemos a ligação com a produção editorial, os gráficos de programação gigante (que ficavam nas paredes) eram os mesmos dos folhetos que entregaram aos participantes. (SIBBET, 2013) A teoria de Sibbet é de que se os grupos conseguem ver padrões diferentes em seus pensamentos, eles ficam mais inteligentes. Essa é a importância da linguagem e do pensamento visual para a facilitação gráfica. A capa do livro “Reuniões Visuais” ilustra o processo pelo qual os grupos deixam de imaginar possibilidades, e partem para a ação. Trata-se também de um processo de aprendizagem, onde cada etapa envolve uma visualização, veja:

Figura 4 - Demonstração do “cume da montanha” criado por Sibbet para o evento da Apple. Imagem disponível no livro “Reuniões Visuais”, página 5

As quatro etapas deste desenvolvimento são: • Imaginar: o que imaginamos ser as nossas tarefas, vão moldar as nossas percepções • Engajar: a participação e o engajamento dispararam assim que se permite que as pessoas falem e se expressem, e demonstre que elas são ouvidas. Uma forma é escrever e desenhar o que elas falam. • Pensar: pensar é um processo de busca de conexões que expliquem as coisas, resolução de problemas, revelação de um plano, ou de estabelecimento de critérios para a tomada de decisões.

Figura 5 - Capa do livro Reuniões Visuais, de David Sibbet.

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• Atuar: agir por meio da visualização é estimular a força da simulação. Como se pode imaginar a visualização torna-se importante nesse momento como um guia para ver como as ações funcionarão ao longo do tempo. Mapas de roteiro, planos, painéis, mapas de progressos e pastas. Estes são exemplos de visualização que refletem ações ao longo do tempo, e nos ajudam a pensar sobre a implementação.

Princípios da Facilitação Gráfica Sibbet acredita que as ferramentas e exercícios que ensina no “Reuniões Visuais”, muitas das quais abordadas no seu primeiro livro “Graphic Facilitation: Transformirng Group Process with the Power of Visual Listening”, são potencialmente melhor aproveitadas em situações como: • • • •

Brainstorms Planejamento de programação Reflexões sobre o aprendizado Necessidades dos consumidores e clientes

Brandy Agerbeck, em seu manual, explica que desde o mais básico texto escrito dentro de um flipchart, até o mural mais elaborado, existem três poderes presentes o tempo todo nos mapas de facilitação gráfica de encontros/reuniões. • “O poder de ser ouvido (The Power Of Being Listened To): o facilitador gráfico é um ouvinte público, um recurso humano dedicado a coletar todas as vozes, inserções e ideias e gravá-las. Seja nosso trabalho interno ou externo ao grupo, nós devemos ouvir com ouvidos forasteiros. O facilitador gráfico deve ouvir a conversa livre de políticas e responsabilidades. Geralmente, nossa falta de conhecimento específico ou conhecimento industrial permite a nós mais facilidade para ver padrões na conversação\fala e destilar as ideias com menos jargões da fala industrial.

• O poder de compartilhar conhecimento (The Power Of Shared Understanding): O pequeno trabalho é feito isoladamente. E o trabalho individual é frequentemente compartilhado mais tarde. Todos nós queremos que nosso trabalho seja importante. Para ser entendido, para ser valorizado pelos outros. Um facilitador gráfico auxilia no entendimento por meio de suas habilidades para organizar a informação a ser compartilhada e sintetizá-la em um conjunto claro. • O Poder de Ver e Tocar seu Trabalho (The Power of Seeing e Touching your work): O trabalho precisa ser visível e tangível. Em uma reunião todos assistem a conversação tomando forma. Todos podem ver o trabalho de forma tangível no mapa. Todos podem encontrar clareza na complexidade por meio de um desenho bem organizado. O processo do grupo é registrado nos mapas. O grupo pode acompanhar o progresso durante a reunião\encontro e refletir nele depois.” (AGERBECK, 2012 - páginas 35 a 43) Como um resumo de tudo que um facilitador precisa ser e fazer, e muito relacionada com as regras e orientações de David, Brandy criou um mapa estrelar de princípios para navegação do futuro facilitador gráfico. (figura 6) A orientação da autora é focar em um princípio, considerando uma constelação ou observar todo o céu. Estes princípios são divididos em cinco áreas: Panorama; Ouvindo; Praticando; Desenhando e “Em Uma Sala”. Apesar de apresentações e nomes diferentes, Agerbeck e Sibbet seguem a mesma linha de raciocínio. Veja na tabela abaixo a comparação entre as ‘etapas’ de cada processo, só que Brady resume em seis etapas e Sibbet em quatro, mas três delas se dividem em três ou quatro subetapas:

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BRADY (1)

SIBBET (2)

PANORAMA (overview)

ENGAJAR: escute-visualize-veja-fale

OUVINDO (listening) PENSANDO (thinking)

PENSAR: contexto-ação-visão

DESENHANDO (drawing) PRATICANDO (practicing)

IMAGINAR: visão- valores- resultados- ações

EM UMA SALA (in the room) ATUAR Tabela 1 – Comparação entre os processos de trabalho de Brandy Agerbeck e David Sibbet, conceitos retirados dos livros The Graphic Facilitator’s Guide (1) e Reuniões Visuais (2)

Em abril de 2013 os sócios e facilitadores gráficos Vitor Massao e Carla Hirata, do Coletivo Entrelinhas, realizaram a facilitação gráfica de um encontro de projeto do Fundo Brasil de Direitos Humanos. A experiência foi tão rica que destacaram a participação da dupla em uma notícia no site da organização. O tema do encontro era “Comunicação e direitos humanos - Articulação e ativismo na Era da Informaçao”, e reuniu em São Paulo representantes de projetos selecionados por meio de um edital, para receber verba do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Além de sistematizar o conteúdo de cada um dos momentos da transformação em paineis ilustrativos, o Coletivo Entrelinhas ofereceu uma oficina sobre esta forma de organização de conteúdo aos participantes, pois para os facilitadores o registro visual permite que as informações sejam processadas de maneira não linear e podem ajudar na assimilação e fixação do que foi discutido. Palavras, conceito e ideias formam um panorama do que foi abordado. Veja o resultado na figura 7.

“É indispensável estar atento a tudo que está sendo discutido para extrair a essência das falas e, dessa forma identificar as palavras chave que vão compor com as ilustrações o painel final. Também é importante tentar trazer o sentimento do grupo participante, a reação de quem assiste o que está sendo abordado por um palestrante.” (retirado da notícia sobre o evento facilitado, disponível no site do Fundo Brasil de Direitos Humanos, http://bit.ly/1kUDapT, acesso em 16\03\2014)

Como se forma um facilitador ou facilitadora gráfico? No Brasil, há cerca de 10 anos não se falava em facilitação gráfica, ou registro gráfico. Donatella Pastorino, facilitadora gráfica entrevistada para esta monografia, descobriu a facilitação gráfica por meio de sua irmã, que estava em um evento em Nova Iorque e viu um profissional fazendo o registro gráfico do conteúdo. Isso lhe chamou a atenção e ela foi conhecer essa pessoa e voltou para o Brasil convencendo a então consultora em tecnologia da informação a apostar nessa novidade. Donatella fez sua formação nos Estados Unidos com David Sibbet, da The Grove. Assim como ela, outros brasileiros buscaram aprender mais sobre o poder do pensamento visual. A The Grove oferece três tipos de cursos para quem quer aprender facilitação gráfica: 1. Principles of Graphic Facilitation: básico para quem quer entrar no mundo da facilitação gráfica. Dura três dias misturando teoria e prática.

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2. Virtual Graphic Facilitation: todos os aprendizados do curso básico, agora aplicados para reuniões onde nem todos os participantes estão no mesmo lugar. 3. Visual Leaders – Increase Your Organization’s Visual IQ: curso de um dia, dado pelo próprio Sibbet, onde ele apresenta um panorama global do que tem sido a facilitação gráfica nas últimas décadas e o que é hoje em dia. Nesse dia ele explica o que tem funcionado e o que não. As metodologias, modelos, processos, dinâmicas, etc. que a The Grove tem descoberto e/ ou criado ao longo dos anos e o que ele recomenda. (ALFONSO, disponível em http://bit.ly/1leROIw, acesso em 23 de março de 2014). Donatella conta, na entrevista, que quando trouxe os aprendizados dos EUA para o Brasil não foi muito bem recebida. A principal diferença foi na objetividade do idioma. Em inglês as pessoas são muito mais diretas do que em línguas latinas. Consequentemente o facilitador gráfico registra menos ainda, pois foca na essência do que foi dito. Além disso, os norte-americanos usam um painel para um dia todo de reuniões e não usam muitas cores, duas ou três além do preto para escrever. Donatella contornou as diferenças adaptando seus aprendizados com a expectativa dos clientes latinos e criou sua metodologia de trabalho. Mila Motomura é a responsável por um dos cursos de facilitação gráfica no Brasil. Sua empresa, a Moombr, além de fazer facilitação gráfica de eventos, oferece cursos para compartilhar com diversos públicos a ferramenta de colheita e facilitação gráfica. Englobando tanto técnicas simples de desenho quanto organização e sistematização de ideias e informações, é aberto a públicos distintos, a partir dos 12 anos de idade; e também workshops com parceiros para que alunos de diferentes áreas possam experimentar a facilitação gráfica. Outra alternativa são os cursos sob demanda, direcionados à organizações interessadas em treinar suas equipes de trabalho com a ferramenta, como em empresas, agências de publicidade e escolas, por exemplo.

Cinco dos oito facilitadores gráficos entrevistados fizeram o curso de facilitação gráfica de Motomura: Vitor Massao, formado em design gráfico; Wania Borges, artista visual; Carla Hirata, artista plástica e facilitadora de grupos; Carolina Ramalhete, jornalista e Fernanda Paula, pedagoga. Para Carolina, boa parte do aprendizado acontece com a prática, empenho pessoal e com a inspiração de quem já está no caminho há mais tempo. Carla aposta que depois de fazer o curso, o profissional precisa se esforçar para adquirir experiência fazendo. Para Wania, o que falta na formação nacional de facilitadores gráficos no Brasi são mais materiais para estudo e aprofundamento da metodologia escritos e traduzidos em português, e também materiais disponíveis no mercado nacional e regional, que seja de fácil acesso e com custos menores. Fernanda, da Regência Consultoria, acredita que a formação do facilitador gráfico ainda é uma incógnita, porque a área também não é definida ainda como profissão, mas está se consolidando. Também não existe um marco em torno do que é uma formação adequada. Uma ideia é promover uma discussão entre os próprios facilitadores que estão no mercado hoje. Uma particularidade que as entrevistas mostraram, foi a importância do “conhecimento prévio” de cada profissional antes de se tornar facilitador. A profissão anterior ajudou a direcionar o talento e desenvolver habilidades necessárias para ser um facilitador gráfico. Na Colômbia uma facilitadora gráfica que estudou comunicação e educação em Londres e facilitação criativa, consultoria em aprendizagem organizacional na escola dinamarquesa Kaospilot, montou curso online de facilitação gráfica. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 25


“A Kaospilot é uma escola internacional de empreendedorismo, criatividade e inovação social localizada na cidade de Aarhus, no interior da Dinamarca. Fundada em 1991, propõe uma formação de 3 anos onde os “alunos profissionais” são protagonistas do seu próprio aprendizado, e onde estudos de caso são completamente substituídos por projetos reais com clientes de verdade. A formação, não reconhecida formalmente pelo Governo Dinamarquês, tem três ênfases: desenho e gestão de projetos criativos; desenho e liderança de processos criativos; desenho e criação de novos negócios. A cada ano, formam-se 35 novos ‘pilotos do caos’. Em 2009, formou-se o primeiro brasileiro.” (VEDANA, disponível em http://bit. ly/1jsS8PF acesso em23 de março de 2014)

Zulma Sofía Patarroyo é fundadora da Pataleta, uma empresa de facilitação gráfica que, após anos em atividade na Europa, oferece serviços em inglês e espanhol para vários tipos de eventos. (PATARROYO, disponível em http://facilitaciongrafica.com/#section2, acesso em 23 de março de 2014)

Para Zulma, não importa a área de estudo ou trabalho, todos podem beneficiar-se de escutar melhor e criar mais clareza, compreensão e entendimento para si próprio. Ter um registro para ser visto depois, ajuda a entender o processo e a conclusão, mas também as emoções geradas durante o período de aprendizagem coletiva. O curso promete ajudar os participantes a vencer seus medos de desenhar, desenhar em público e não captar as mensagens a tempo. Desenvolvido numa plataforma semelhante a uma rede social, os participantes não estarão sozinhos durante o percurso. (PATARROYO, disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=XRO8x3td1RM) De volta ao Brasil, o IED Rio promoveu um workshop de Facilitação Gráfica com Luis Rosenthal, da Ludic Group, em 2009. O workshop, dividido em três partes: introdução-prática- leitura de portfólios, buscava introduzir os conceitos básicos desta técnica e foi planejado para ilustradores interessados em conhecer particularidades desta prática. (IED, disponível em http://bit.ly/1jsVDFW acesso em 23 de março de 2014)

O curso de Zulma é procurado por pessoas como consultores, educadores, profissionais de recursos humanos, ou de departamentos de inovação em organizações. Facilitadores, designers e desenvolvedores. Alguns querem enriquecer suas habilidades pedagógicas ou comunicativas, e outros estão cansados de ficar sentados no computador e querem trabalhar mais com seres humanos. Trata-se de uma introdução para as práticas, princípios e ferramentas da facilitação gráfica. O curso foi planejado para entender porque a facilitação gráfica funciona, e para ajudar os participantes com as habilidades de escuta, concentração e síntese que a profissão requer. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 26


Figura 6 - Constelação de princípios e habilidades para facilitadores gráficos. Este diagrama foi criado por Brandy Agerbeck e está em seu livro “The Graphic Facilitators Guide”, páginas 46 e 47

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Figura 7 - Facilitação gráfica realizada para o Fundo Brasil de Direitos Humanos pelo coletivo Entrelinhas (Vitor Massao e Carla Hirata) em parceria com Mariana Kz.

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CAPÍTULO 2 a importância da linguagem visual


Segundo a publicação “Curso Completo de Design Gráfico”, organizado por Nobu Chinen, da Editora Escala, ilustrações engraçadas e a ausência de limites nas demarcações com inserções de texto na figura, refletem uma atmosfera de descontração e espontaneidade ao tema projetado pelo designer. A linguagem visual é uma forma de comunicação constituída por imagens representadas por símbolos diversos. “É um conjunto de signos e símbolos usados para se comunicar visualmente com harmonia e senso de estética” (HALLAWELL, 2008 in Max Ribeiro, disponível em http://bit.ly/1fBV9cA). A visualização é uma forma poderosa de resolução de problemas entre grupos.

“Muito do nosso entendimento dos sistemas e de como as coisas funcionam em conjunto (...) é representado por imagens, histórias e metáforas animadas por nossa própria experiência. (...) Reuniões visuais são supreendentemente produtivas em relação a isso, tanto por fornecer uma maneira segura de nos tornarmos conscientes de nossas metáforas, como por permitir formas criativas de cocriação de novas metáforas”. (SIBBET, David. Reuniões Visuais - 2013 - página XII da introdução)

Sibbet lista três ferramentas poderosas para reuniões eficazes, a essência da facilitação gráfica: • habilidade natural para se comunicar visualmente • lembretes autoadesivos e outras mídias interativas • mapeamento de ideias Mapeamento de ideias, segundo o autor, seria utilizar metáforas visuais inseridas em modelos gráficos e planilhas de trabalho, de forma que o grupo consiga pensar visualmente. Sibbet lembra

que inventores sempre lidaram com diagramas e desenhos em seus diários, assim como engenheiros e designers trabalham em quadros brancos e mesas de desenho. Esta técnica não precisa ficar restrita a estes profissionais, pois trata-se de uma abordagem flexível que contempla desde quem trabalha em uma folha de papel em branco até gráficos mais elaborados e softwares que auxiliam o grupo a visualizar o que estão pensando e planejando. “Os pesquisadores em aprendizado e inteligência cognitiva sabem agora que os seres humanos processam a informação de formas diferentes e que o pensamento visual é uma parte grande do que fazemos. Parece que nossos cérebros são maciçamente desenvolvidos para processar informação visual, alguns sugerem que até 80% de nossas células estão envolvidas nisso.” (SIBBET, David. Reuniões Visuais - 2013 - página XVI da introdução)

Vitor Massao, facilitador gráfico entrevistado para esta monografia, costuma dizer para seus clientes e amigos, quando explica sua profissão “se o nosso pensamento não é linear por que nossas anotações precisam ser?”. Isso vai na mesma linha do que Sibbet defende em relação à representação de conversas e Brandy quanto ao registro gráfico como forma de facilitação de processos. O benefício do uso da facilitação gráfica é tanto, que Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, conselheiro na área de inovação e professor de sistemas de gerenciamento de informações, respectivamente, incluíram em seu livro “Business Model Generation Inovação em Modelos de Negócios” informações significativas de como o pensamento visual e seu registro podem auxiliar no desenvolvimento de inovadoras ideias para negócios. “O pensamento visual aprimora os questionamentos estratégicos, tornando o abstrato concreA Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 30


to, iluminando as relações entre os elementos e simplificando o que era complexo” (OSTERWALDER, Alexander e Pigneur, Yves. Business Model Generation - 2011 - página 148)

Osterwalder e Yves falam muito em utilizar anotações em lembretes autoadesivos (Post-Its) para otimizar as reuniões de criação e planejamento, mas também defendem que desenhos podem ser ainda mais poderosos que estas anotações, pois as pessoas reagem com mais força às imagens que às palavras. As imagens apresentam suas mensagens instantaneamente. Desenhos simples podem expressar ideias que exigiriam muitas palavras (OSTERWALDER, 2011). Por isso que a facilitadora gráfica Fernanda da Costa, entrevistada para esta monografia, e sua irmã, que a treinou, reúnem exemplos de desenhos e metáforas em pastas, para servirem de exemplo e inspiração para o momento em que elas estão ao vivo registrando uma reunião, ou facilitando o processo de criar um “canvas”, um diagrama específico para planos de negócios. A visualização remete a questões importantes. Entre os benefícios está que em uma reunião, portanto ao vivo, o registro da essência do que é discutido mostra imediatamente que alguém foi ouvido, e como esta pessoa foi ouvida, de uma forma que a comunicação verbal não consegue fazer, uma vez que, a não ser que interrompamos o processo e perguntemos aos participantes “o que foi que você entendeu deste exemplo que eu acabei de dar?”. Trabalhar de forma visual integra. Porque combina a forma visual, lado direito do cérebro, e verbal, lado esquerdo, com a interação e movimento físico. Exposições gráficas podem conter informações contraditórias na mesma folha, atenuando o pensamento do tipo ‘e / ou’ que nossa linguagem falada tende a reforçar. Metáforas gráficas permitem que as pessoas expliquem diretamente como elas estão entendendo as coisas, inclusive, as representações visuais estimulam a imaginação das pessoas, tornando mais aces-

síveis as esperanças e sonhos, intenções e visões. Por fim, a tradução da palavra escrita para a representação visual, força todos a se tornarem conscientes dos padrões de ambas. (SIBBET, 2013) Sibbet resgata uma citação de Bob Horn, do livro Linguagem Visual, que resume bem todas as justificativas apresentadas: “A linguagem visual emerge, como qualquer outra linguagem, através do uso e criação pelas pessoas… está nascendo da necessidade delas, do mundo todo, de lidarem com ideias complexas que são difíceis de expressar somente em texto”. A facilitação gráfica, nesse contexto, sugere que o ato de mapear e diagramar, é, por si só, um tipo de raciocínio, e a qualidade dos recursos visuais nem é tão importante quanto viver o processo de construção. Grupos ficam muito mais dispostos a aceitar e implementar ideias que vem de dentro do grupo, do que aquelas impostas por pessoas de fora - mesmo que sejam por experts. (SIBBET, 2013)

Design Thinking Com o avanço das pesquisas sobre facilitação gráfica, encontrei ligações fortes com o design thinking, área do conhecimento que, segundo o professor Rique Nitzsche em seu livro “Afinal o que é Design Thinking”, se refere ao complexo processo mental que o projeto contemporâneo exige do designer. Rique acredita que o design thinking existe desde que o design começou a ser praticado há muitos milhares de anos (NITZSCHE, 2012). Design thinking vem sendo estudado como um tipo de pensamento que usa o design como ferramenta de trabalho mental de uma forma holística. Os dicionários ingleses oferecem um significado para pensar em algo (thinking of): imaginar, visualizar e até sonhar. Pensar sobre algo, como um problema, (thinking about), parece ser A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 31


Figura 8 - Facilitação gráfica feita pelo coletivo Design de Conversas, disponível em http://designdeconversas.com.br/portfolio/design-thinking/ acesso em 27 de março de 2014

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uma atividade na qual se considera, se reflete, se delibera. Já pensar através de algo (thinking through) é entender, compreender, descobrir. (...) design thinking parece abranger todas essas qualidades imperativas. (em “Afinal o que é Design Thinking”, de NITZSCHE , Rique. 2012, páginas 33 e 34)

O designer Fabio Silveira e a jornalista e especialista em educação digital Priscila Gonsales, desenvolveram um material sobre design thinking para educadores. Este ‘caderno’ explica os fundamentos desta teoria com ferramentas direcionadas para problemas, envolvendo o ambiente escolar. Para estes autores, Design Thinking é um modelo de pensamento, pois significa acreditar que as pessoas podem fazer a diferença, desenvolvendo um processo intencional para chegar em soluções criativas com impacto positivo. O Design Thinking estimula a criatividade com o propósito de transformar desafios em oportunidades. Esta teoria-prática é centrada no ser humano, pois começa com uma profunda empatia e um entendimento das necessidades e motivações das pessoas. Colaborativo, o “pensar design” valoriza que muitas mentes brilhantes são sempre mais fortes que uma só ao resolver um desafio. (GONSALES e SILVEIRA 2014) “Otimista. O Design Thinking é a crença fundamental de que nós todos podemos criar mudanças – não importa quão grande é um problema, quão pouco tempo temos disponível ou quão restrito seja o orçamento. Não importa que restrições existam à sua volta, pensar como designer pode ser um processo divertido. (...) Design Thinking te dá a liberdade de errar e aprender com seus erros porque você tem novas ideias, recebe feedback de outras pessoas, depois repensa suas ideias. Dada a gama de necessidades de seus estudantes, seu trabalho nunca estará terminado ou “resolvido”.

Está sempre em processo”. (SILVEIRA, Fabio e GONZALES, Priscila. Em Design Thinking para Educadores. 2014, página 11)

A abordagem do Design Thinking está relacionada à facilitação gráfica, quando é encarado como na definição de Nitzsche: uma prática de design que conversa intimamente com a prática dos negócios em um processo interativo de troca de conteúdo. Confira na próxima página uma facilitação gráfica para explicar o “design thinking” feita pelos sócios da consultoria Design de Conversas.

Design de Informações Na definição da Sociedade Basileira de Design de Informações, esta abordagem tem o objetivo de equacionar os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos, que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produção e interface gráfica da informação junto ao seu público alvo. Seu princípio básico é o de otimizar o processo de aquisição da informação efetivado nos sistemas de comunicação analógicos e digitais. Portanto, facilitação gráfica, visualização de dados, de apresentações corporativas e design de interação, podem ser consideradas subdivisões do design de informação. Além de facilitadora gráfica, a psicóloga por formação, Mila Motomura descreve-se como designer de informações e descreve seu processo de trabalho assim: compreender o produto, nos eventos ouvir tudo e ler o que o palestrante está apresentando, captar todas as informações racionais, mas também as emotivas, facilitar a compreensão do conteúdo por meio dos desenhos e da parte escrita, construindo grandes quadros\painéis com o essencial que foi discutido (trecho retirado da entrevista com Mila Motomura em 2012, disponível aqui http://bit.ly/1kUGSzQ). A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 33


CAPÍTULO 3 os gráficos na facilitação gráfica


Facilitação gráfica é a arte de usar palavras e imagens para criar um mapa conceitual de uma conversa. Esta é a definição resumida de Brandy Agerbeck. Um facilitador gráfico geralmente é o parceiro silencioso de facilitador de processos tradicional. Ou seja, enquanto um usa técnicas de condução de conversas com foco em tirar o melhor daquele grupo, o outro desenha em larga escala uma imagem do que está acontecendo naquela sala, em tempo real. Facilitação gráfica é ao mesmo tempo produto e processo. Focando no grupo e auxiliando-o a concentrar-se e também capturando e organizando suas ideias. Depois do evento, o mapa se torna um documento, uma prova do progresso da reunião e suas direções. Esse resultado conceitual é engajador e significativo, porque a plateia assistiu sua criação, criando um relacionamento desta experiência. As imagens são emocionais e subjetivas, os participantes podem então interpretar as imagens e se lembrar dos momentos que mais lhe chamaram a atenção. (AGERBECK, 2013) O trabalho de facilitação gráfica pode ser dividido em modelos, e dentro dos modelos os estilos de cada facilitador, e isso depende muito do profissional e do tema tratado. Os modelos são: • Larga escala e ao vivo • Larga escala e não ao vivo • Pequena escala e ao vivo (uma folha de papel ou um bloco de anotações) • Pequena escala e não ao vivo • Cartões, como cartões de visita ou cartões de um jogo de baralho. A facilitação gráfica em larga escala e ao vivo pode ser feita em uma palestra, onde o facilitador gráfico acompanha o que o palestrante diz e as reações do público, e vai registrando em grandes folhas de papel.

Figura 9 - Sinergia de trabalho entre o facilitador de processos e o facilitador gráfico. Facilitação gráfica feita por Brandy Agerbeck, disponivel em seu site http:\\loosetooth.com, acesso em setembro de 2013

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Um exemplo desse trabalho é o desenvolvido pelas irmãs e sócias Fernanda e Flávia de Paula no Fórum de negociação da HSM, empresa especializada em eventos e cursos voltados para gestão e inovação. As facilitadoras acompanharam vários dias do Fórum registrando os ensinamentos e aprendizagens do evento. (figura 11) Brandy considera mais “pessoal” a facilitação gráfica em larga escala, em tempo real, mas sem plateia. Trabalhos como o painel da figura 12, feito enquanto ela assistia ao DVD do documentário de Al Gore “Uma verdade inconveniente”, são um exemplo. Outra modalidade é fazer um trabalho em pequena escala, que não é em tempo real, nem tem plateia, portanto. O exemplo dado por Brandy em seu site é a síntese de uma publicação de 18 páginas sobre inovação. Vejam na figura 13.

Figura 11 - Montagem com Fernanda de Paula trabalhando no painel da palestra de Robert Cialdini no Fórum HSM de 2013, a plateia presente no evento e o resultado final. Disponível em: http://on.fb.me/1lGiGOX. Acesso em 16\03\2014

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Figura 12 - Facilitação gráfica feita por Brandy Agerbeck sobre o documentário Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore. 91,4 cm x 91,4 cm. 100 minutos para ser feito. Disponível aqui http://bit.ly/1cN6OKS Acesso em 16\03\2014

Figura 13 - Facilitação gráfica com base no conteúdo de uma publicação de 18 páginas. Feita por Brandy Agerbeck em 5 horas. Possui aproximadamente 28cm x 12,7cm. Disponível em seu site http://bit.ly/1kyQaif Acesso em 16\03\2014.

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Para elaborar painéis em larga escala e ao vivo

• intuitivo e atraente para o trabalho em equipes diversificadas;

Brandy lista oito elementos essenciais para um facilitador gráfico e que devem estar em seu trabalho. São eles: as letras, as cores, flechas, caixas, símbolos, linhas, pessoas e dimensões. Brandy justifica esta escolha pois, para ela, existem formas de fazer marcações terem conteúdo e significado.

• encoraja a criatividade e incita a ideação, quando se utiliza grandes superfícies; ideação é uma das etapas de criação utilizando a metodologia do Design Thiking

Podemos encontrar padrões no trabalho de cada profissional com base nas entrevistas, como o uso de grandes painéis de papel, que são fixados na parede, ou em algum suporte na vertical. Canetas coloridas, muitas cores, frases precisas, balões remetendo à fala, caricaturas, desenhos infantis, homens-palito, homens-estrela, muitas flechas e direções.

• Breves rascunhos para desenhar, compreender ou explicar modelos de negócios

Os painéis são feitos ao vivo, conforme a reunião ou palestra acontece. Quando o foco é construir um canvas de modelo de negócio, a participação do grupo é ainda mais fundamental para escrever nos post-its as ideias, transformando um diagrama frio e monocromático em uma explosão de cores e ideias escritas pelos participantes. Osterwalder, do livro “Business Model Generation, preparou um resumo mostrando como é utilizar um diagrama em papel: No papel: • quadros utilizando o papel ou posters podem ser facilmente criados e utilizados em qualquer lugar; entre nossos entrevistados temos exemplos de painéis que se tornaram manuais e outros que são a base da identidade visual de toda companhia. • os quadros baseados em papel ou cartazes, impõem poucas barreiras: não é necessário aprender a utilizar um aplicativo específico; o modelo canvas apresentado no livro BMG já possui uma versão em aplicativo disponível para Ipad

As aplicações de painéis em papel

• Sessões colaborativas de brainstorms para desenvolver ideias em modelos • Avaliação colaborativa de modelos

Canvas: facilitação gráfica em função da construção de um modelo de negócios Canvas é uma ferramenta e uma estratégia. É uma ferramenta por ser um diagrama composto por nove espaços onde cada espaço, ou componente como Osterwalder e Yves chamam, define uma área ou questão a ser pensada para começar a escrever um plano de negócios. É também uma estratégia, pois ele pode funcionar online, por meio de um software que facilite esse trabalho com equipes situadas em locais diferentes, ou num grande painel, onde os participantes da reunião podem escrever suas ideias ou crenças para cada um dos componentes em Post-its e assim construírem juntos o plano de negócios. Os componentes de um canvas são: segmentos de clientes, proposta de valor, canal, relacionamento com o cliente, fontes de receita, recursos principais, atividades chave, parcerias principais, estrutura de custo. O livro “Business Model Generation” pretende convencer empreendedores que o pensamento visual os fará chegar mais longe, ter ideias melhores em um tempo menor de discussão. Por isso, A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 38


explica que os desenhos fornecem a quantidade certa de informações para permitir ao observador capturar a ideia, sem detalhes demais para distraí-lo. Usar imagens deixa o modelo de negócio mais tangível. Uma linguagem visual compartilhada, suporta a troca de ideias e aumenta a coesão, inclusive, pessoas de diferentes partes de uma organização podem compreender profundamente partes de um modelo de negócios, mas somente quando especialistas desenham em conjunto, todos os envolvidos passam a entender cada componente individual, e desenvolver uma compreensão compartilhada das relações entre eles.(OSTERWALDER, 2011) A seguir um modelo do canvas em português, com os componentes e as perguntas chave que o grupo deve se fazer para começar a preencher o diagrama com os Post-Its. (Figura 14)

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Figura 14 - Modelo de canvas em português com perguntas que orientam para seu preenchimento. Extraído do site http://viversemchefe.com/ acesso em 1º de março de 2014.

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CAPĂ?TULO 4 projeto editorial


“Um livro é um espelho flexível da mente e do corpo. Seu tamanho e proporções gerais, a cor e a textura do papel, o som que produz quando as páginas são viradas, o cheiro do papel, da cola e da tinta, tudo se mistura ao tamanho e a forma ao posicionamento dos tipos para revelar em pouco do mundo em que foi feito. Se o livro se parecer apenas com uma máquina de papel, produzida conforme a conveniência de outras máquinas, só máquinas vão querer lê-lo”. Estas palavras abrem o capítulo 8, que fala sobre a forma da página de um livro, do livro “Elementos do Estilo Tipográfico”, de Robert Bringhurst. Muitos autores confirmam que o design, ou projeto gráfico, de um livro ou publicação só é percebido quando tem algum problema. Quando algo está fora do lugar, ou deixa de fazer sentido. Quando o texto do autor não cabe naquele projeto, ou quando a leitura fica complicada. É a qualidade da composição que determina a aparência do livro. (TSCHICHOLD, 1975) Richard Hendel escreveu que o trabalho real de um designer de livros não é fazer as coisas parecerem “legais”, diferentes ou bonitas, mas sim descobrir como colocar uma letra ao lado da outra de modo que as palavras do autor pareçam “saltar da página”. O design é colocado a serviço das palavras, serve a este propósito e não a si mesmo. Em seu livro O Design do Livro, Hendel enumera os passos para a criação de um livro. Ao conjunto destes passos, com detalhes e particularidades, damos o nome de projeto gráfico: • • • •

Formato da publicação Margens Tipografia Detalhes como: parágrafos, algarismos, versais e versaletes, travessões, citações, tipo do título, títulos correntes, aqueles que vão em todas as páginas, ou pelo menos uma sim uma não intercalando com o nome do autor ou do capítulo, fólio, folha de ante-rosto e página de rosto, etc.

O limite entre aplicar as regras do design e exagerar num projeto gráfico é muito pequeno, por isso Hendel acredita que o design de livros não é uma arte que possa receber uma criatividade infinita e sem limites. O livro todo conversa com seu conteúdo, não é somente o que o autor escreve que vai definir o assunto da publicação. Isso também é definido por meio da forma física e da escolha tipográfica. Cada escolha feita por um designer causa algum efeito sobre o leitor. (HENDEL, 1999) A tipografia é um item decisivo quando o designer define um projeto gráfico. Diante de tantas mensagens a que somos expostos atualmente, a tipografia precisa chama a atenção para si própria antes de ser lida. Legibilidade, este é um dos princípios da tipografia durável, e o que faz um leitor se manter no livro até o fim. (BRINGHURST, 1992) Robert Bringhurst no manual “Elementos do Estilo Tipográfico”, lista princípios e táticas para uma boa escolha tipográfica: (páginas 23 a 30) • A tipografia existe para honrar seu conteúdo. • As letras têm vida e dignidade próprias • Há um estilo além do estilo - o que significa o estilo literário encaixado com o estilo tipográfico “(...) tem estilo a tipografia que pode andar por terrenos familiares sem cair em lugares-comuns, que responde às novas condições com soluções inovadoras e que não irrita o leitor com sua própria originalidade(...)” • Leia o texto antes de fazer seu projeto visual • Descubra a lógica externa da tipografia na lógica interna do texto • Faça com que a redação visual entre o texto e seus outros elementos (fotografias, legendas, tabelas, diagramas, notas), seja um reflexo de sua real relação. (Aqui vemos a relação com a facilitação gráfica) A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 42


• Escolha uma fonte ou um conjunto de fontes que elucide e honre o caráter do texto. • Dê forma à página e emoldure o bloco de texto, de modo a revelar e honrar cada elemento, cada relação entre os elementos e cada nuance lógica do texto. • Dê total atenção tipográfica, mesmo a detalhes incidentais. Por essa lista vemos a importância da escolha tipográfica em um projeto. O professor André Carvalho, da pós graduação em Design Editorial do Senac, baseado no livro O Design do Livro, resumiu quais as perguntas que os designers precisam fazer sobre o livro, quando se seleciona a tipografia de um livro: • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Qual é o tema do livro? Quem o escreveu? Quando ele foi escrito? Onde ele será composto/impresso? Para quem o livro foi escrito? O livro será publicado em várias línguas? O livro é composto como um texto único ou ele contém diversas vozes? A obra inclui histórias marginais independentes? Como as ilustrações são legendadas? Há uma quantidade significativa de matérias entre aspas? O livro tem referências ou nota de rodapé, de margem ou notas bibliográficas? Qual é a hierarquia dos capítulos, títulos, seções e assim por diante? A obra tem prefácio ou introdução? O material possui anexos muito extensos? Há quantidades significativas de tabelas ou gráficos? O livro tem glossário de termos técnicos? Como ele é indexado? Quais são os valores destinados à produção, papel, impressão e encadernação? Que qualidades tonais a tipografia do livro possui? A tipografia deverá ser reproduzida em que cor? Qual o preço de capa estimado?

Continuando com as instruções de Bringhurst, que muito coincidem com Hendel, o designer precisa tomar atenção na forma da página, esta que é um pedaço de papel, mas também uma proporção visível e tangível, onde está o bloco de texto que precisa dialogar com a página. Os dois juntos, bloco e página, produzem uma geometria polifônica, que por si só é capaz de prender o leitor ao livro, mas também fazê-lo cansar daquele conteúdo, irritá-lo ou fazê-lo desistir da leitura. A página possui proporções e, para Bringhurst, é melhor escolher proporções de páginas favoráveis ao projeto, do que aquelas que seguem alguma requisição de estoque de material ou mesmo formatos arbitrários. O conteúdo deve ser priorizado, bem como o panorama histórico do período quando a publicação foi feita. “Os primeiros escribas egípcios - quando não escreviam na vertical - tendiam a produzir linhas longas e colunas largas. Essa linha egípcia reaparece em outros contextos ao longo dos séculos: nas tabuleiras imperiais romanas, nas escrituras e contratos da Europa medieval e em muitos trabalhos de prosa acadêmica do século 20. De um modo geral, isso é um sinal de que o ato de escrever é mais enfatizado do que o de ler, e de que a escrita é vista mais como um instrumento de poder do que de liberdade. E que a prolixidade, oral ou visual, raramente é uma virtude” (BRINGHURTS, Robert em Elementos do Estilo Tipográfico, 2005)

Uma publicação que tenha foco na leitura da maior parte de pessoas, precisa ser composta em colunas mais altas do que largas, de forma que o bloco de texto se equilibre e contraste com o formato geral da página. Outro elemento aliado à composição, são as margens. O designer precisa incluir margens no projeto, e o projeto nas margens. (BRINGHURST) A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 43


O projeto gráfico de uma publicação define o caminho que o leitor vai fazer, por isso a importância do número de páginas, todos no mesmo lugar e compostos com a mesma tipografia, peso e tamanho. Um exemplo de unidade e diferenciação nesse quesito está no “Reuniões Visuais”, que usa numerais romanos para marcar as páginas da introdução - bem longa - e depois numerais cardinais para o restante do livro. Na introdução, o título do livro vem na frente do número da página, no mesmo tamanho de fonte. No restante do livro são os nomes dos capítulos em questão que acompanham o número da página, recurso interessante para que o leitor saiba onde está. Robert Bringhurst não aconselha “reforçar o óbvio”, ou seja, colocar o título do livro em todas as páginas, ou acompanhando o fólio (número de página) ou no cabeçalho com um tratamento de fonte diferenciado. Mas o autor abre uma exceção a conteúdos que podem ser fotocopiados, para resguardar o autor original. Além da proporção, do tamanho da página, do bloco de texto, margens e número de páginas, outros elementos complementam um projeto gráfico, como: corpo dos títulos, intertítulos, onde é a abertura dos capítulos, onde fica posicionado o fólio, como se apresentam as notas de rodapé, parágrafo com recuo ou sem, com capitular ou sem. Todos estes elementos ficam dentro do grid, literalmente uma grade, linhas invisíveis que os designers traçam para montar o trabalho no papel (ou na tela do computador), seja ele um livro, um cartaz, um folheto, um anúncio, etc. Além de organizar o conteúdo ativo da página (texto e imagens), o grid estrutura os espaços brancos, que deixam de ser meros buracos vazios e passivos e passam a participar do ritmo do conjunto geral. (LUPTON E PHILLIPS)

“Muitos artistas adotaram o grid como uma forma racional e universal, externa ao seu produtor.

Ao mesmo tempo, o grid é culturalmente associado ao urbanismo, à arquitetura e à tecnologia da época moderna. (...) Os grids auxiliam os designers na criação de composições ativas e assimétricas, em vez de estáticas e centradas. Dividindo o espaço em unidades menores, estimulam-nos a deixar algumas áreas abertas, no lugar de preencher a página inteiramente” (LUPTON, Ellen e COLE, Jennifer em Os Novos Fundamentos do Design, 2008 - página 175)

Delimitando um grid, o designer pode construir composições, layouts e padronagens dividindo um espaço em campos e preenchendo-os ou delineando essas células de maneiras diferentes. Os mesmos princípios formais aplicam-se à organização de texto e imagens num projeto de publicação. (LUPTON)

Imagens, ilustrações e diagramas Os livros podem ter ilustrações que se espalham pelo texto, ou imagens que ficam em uma página separada do texto, às vezes até de outro papel. É importante planejar no projeto gráfico, que a imagem e a mancha de texto, nesse caso, tenham o mesmo tamanho. Tradicionalmente as estampas e pinturas no geral são proporcionalmente retangulares e precisam de uma legenda. (TSCHICHOLD) Em “A Forma do Livro”, Jan Tschichold pondera que ao usar ilustrações nos livros, as margens de páginas espelhadas tem que unir página de texto e página de ilustração num todo, pois o efeito de um par de páginas é importante. Para ilustrar um dos exemplos de Tschichold, veja na próxima página duas páginas duplas do livro Business Model Generation onde a margem foi pensada de duas maneiras a favorecer o conteúdo. (figuras 15 e 16) A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 44


Figura 15 - Cópia de duas páginas do livro Business Model Generation, Altabooks

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Figura 16 - Abertura de capítulo do livro Business Model Generation, AltaBooks

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As duas páginas duplas no meio do capítulo, apresentam cada uma, uma grande imagem horizontal que ocupa mais de 50% da área. As margens são espelhadas, sendo que, como o livro é em formato paisagem, o fólio, o nome do capítulo e do sub-capítulo estão fora da margem, na página par do lado esquerdo e na página ímpar estão do lado direito. A margem inferior é menor que a superior, que é menor que a lateral externa. Tschihold defendia que estampas horizontais são incômodas, que no caso de um livro com muitas imagens horizontais a melhor saída seria um projeto no formato paisagem e compor o texto em duas colunas. E foi exatamente isso que foi feito. No exemplo seguinte, podemos ver a abertura de um sub-capítulo. (figura 16)

Diagramas - A estrutura da facilitação gráfica

No exemplo da figura 17, retirado do livro de Lupton, temos um gráfico que utiliza desenhos e cores para estudar o medo do designer de vários insetos. Aqueles que causam mais medo são indicados em preto. Os demais em verde. Próximo aos animais estão informações sobre sua ordem na classificação científica, seu nome e, também, seu nome científico. No centro, há uma cabeça humana, que representa o designer. Uma classificação por círculos define o grau de medo de cada espécie: extremamente ansioso (EA), sobriamente ansioso (SA) e não ansioso (NA). Brandy Agerbeck, em seus treinamentos, faz um mix da teoria do design de diagramas, com os significados que as formas podem assumir. Ela criou os “8 essenciais” elementos gráficos que como o próprio nome diz, são essenciais para este trabalho (figura 17):

Chamamos de diagrama, a representação gráfica de uma estrutura, situação ou processo. Diagramas podem descrever a anatomia de uma criatura, a hierarquia de uma corporação ou o fluxo de ideias (LUPTON). Podemos dizer então, que o resultado do trabalho dos facilitadores gráficos é um diagrama. Ellen Lupton escreve em “Os Novos Fundamentos do Design”, que diagramas nos permitem enxergar relações que não viriam à tona numa lista convencional de números, nem numa descrição verbal. Na facilitação gráfica, o veterano David Sibbet estimula as pessoas a fazerem anotações visuais enquanto outras falam para fixar o conteúdo, e também o uso de imagens fotográficas e ilustrações evocativas como suporte ao diálogo de um grupo. Os “fundamentos do design” listados por Lupton, convergem no design de diagramas. O ponto, a linha, o plano, a escala, cor, a hierarquia, e camadas. Também Sibbet coloca significado nestes elementos para documentar reuniões visualmente: pontos (“olhe aqui”); linhas (conexão ou separação); ângulos (mudança ativa); quadrados e retângulos (organização formal); setas vazadas (organização ativa); espirais (unidades dinâmicas); círculos (unidade).

Figura 17 - The Essential 8, de Brandy Agerbeck, disponível em seu site: http:\\ loosetooth.com, acesso em 12 de março de 2014

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• Lettering - caligrafia, precisa ser legível mesmo quando escrita rápido • Bullets - símbolos, pontos feitos separadamente com cores e formas diferentes, para criar um código visual • Colors - cores, vibrantes e convidativas, são usadas para criar uma organização no conteúdo • Lines - linhas, usadas para delimitar as ideias por meio de linhas finas, grossas, pontilhadas • Arrows - flexas, direcionam a atenção, criam fluidez e movimento • People - pessoas, trazem vida ao trabalho e expressam emoções • Boxes - caixas, chamam a atenção e definem uma das partes do diagrama, agrupam ideias. • Shading - sombreamento, ‘eleva’ itens da página e cria dimensão Isso segue a mesma linha da observação que Lupton faz dos elementos, quando diz que as marcas gráficas e relações visuais adquirem significados específicos, codificados no diagrama para representar aumentos númericos, tamanho relativo, mudança temporal ligações estruturais e outras situações. “Gráficos de informação tem um papel efetivo a desempenhar no campo do design editorial. A linguagem dos diagramas produziu um repertório rico e evocativo dentro do design contemporâneo. Em contextos editoriais, os diagramas servem, com frequência, para iluminar e explicar ideias complexas” (LUPTON, Ellen e COLE, Jennifer em Os Novos Fundamentos do Design - página 199)

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Figura 18 - Entomofobia - Diagrama criado por Jacob Lockard, Design Gráfico Avançado. Jennifer Cole Phillips, docente. Disponível em “Os Novos Fundamentos do Design, páginas 2010 e 211

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Facilitação Gráfica em projetos editoriais É possível identificar o uso de facilitação gráfica em projetos impressos e digitais. Vamos explorar alguns exemplos de publicações que usam esse recurso para facilitar o entendimento do conteúdo, ou só como forma ilustrativa. A profissão é nova no Brasil, então, livros em português com esse recurso também. Mas conseguimos reunir exemplos publicados. “Caderno de exercícios para aumentar a auto estima”. Rosette Poletti e Barbara Dobbs. Ilustrações de Jean Augagneur. Editora Vozes. Coleção praticando o bem-estar. 64 páginas. O livro brochura tem o objetivo de apresentar atividades manuais e de reflexão, para de fato aumentar a auto estima dos leitores. O livro tem 16cm x 21,7cm (fechado), papel offset 75mg aproximadamente, possui duas fontes principais, a primeira para detalhes. As legendas e textos dos testes que o livro propõe, são na fonte que imita a grafia de uma máquina de escrever. A segunda fonte, a mais utilizada, imita uma letra de forma feita manuscrita. Os desenhos foram feitos para complementar cada exemplo ou explicação do texto, seja literalmente ou por meio de metáforas. Além disso, as autoras propõem uma série de atividades para os leitores preencherem os livros, como escrever seus sentimentos em balões, pintar uma mandala, completar um teste. Como disse David Sibbet, a facilitação gráfica possui ferramentas e métodos que promovem a esperança de novas maneiras de encarar níveis cada vez mais altos de dinamismo e de mudança, muitas dessas ferramentas são simples e poderosas, como escrever os sentimentos.

Figura 19 - Capa do Livro “Caderno de Exercícios para Aumentar a Autoestima”

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Figura 21 - Página dupla com uma das atividades que o livro propõe aos leitores, pintar um arbusto. Páginas 22 e 23.

Figura 20 - Página dupla com os desenhos complementando o texto. Páginas 36 e 37 de “Cadernos de Exercícios para Aumentar a Autoestima”


“Caderno de Rabiscos para adultos entediados no trabalho” Claire Fay. Intrínseca. 48 páginas. 2006. O livro tem um formato muito parecido com o “Caderno de Exercícios para Aumentar a Auto-Estima”. 16cm x 22cm. Capa em papel cartão e miolo em offset. Acabamento em lombada canoa com grampo. A cada uma ou duas páginas, a autora propõe uma atividade lúdica ou manual, sempre usando o humor, para de fato entreter pessoas entediadas com o trabalho.

Figura 22 - Capa do livro “Cadernos de Rabiscos para Adultos Entediados no Trabalho”

Usando metáforas do mundo dos profissionais, existe, por exemplo, uma página com 40 xícaras de café desenhadas e uma instrução: “Pausa para o café: colorir as xícaras até que transbordem”. Algumas páginas adiante, Claire sugere que os leitores coloquem os pingos nos ‘ís’, faça uma dobradura com as “notas fiscais” caso a mesa esteja com muito acúmulo de papel. A tipografia da capa é serifada e possui um acabamento para parecer que foi feita com uma caneta. A do miolo é um tipo simples, sem serifa e com o corpo pequeno, somente para servir de instruções, o desenho é o que recebe mais destaque nesse livro, e também no que o leitor vai transformar para se entreter.

Figura 23 - página dupla do mesmo livro, usando metáforas para propor atividades aos leitores. Pingos nos ‘is’ e engolir sapos.

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”Destrua este diário” Keri Smith. Intrínseca. Semelhante ao “Caderno de Rabiscos” na temática, mas bem diferente no formato. Este livro estimula a atividade do journaling com sketchnotes. Ou seja, fazer o registro das atividades em um diário, mas de forma gráfica. O livro de 13,5cm x 20,5 cm, com uma lombada reforçada de quase 2 cm, foi feito em papel polen bold de 90g\m² (miolo) e cartão supremo alta alvura 250g\m² (capa). A fonte, chamada de ‘kerismith’ no colofão, é toda feita a mão pela autora. “Destrua este diário” possui instruções em cada página para que o leitor vá, aos poucos destruindo, ou incrementando a publicação. Depende do humor e da criatividade. Nas primeiras páginas já é passada uma lista com materiais necessários, desde os mais básicos, como cola, canetas e tesoura, até os mais elaborados, como medo, sapatos e fósforo. Uma das tarefas que mais lembra a facilitação gráfica está quase no meio do livro, que não tem números de páginas propositalmente para que o leitor os coloque, e pede para que a página seja rabiscada loucamente com canetas emprestadas, mas deve haver o registro de onde elas vieram. Esse é um estímulo muito grande à explicar graficamente histórias.

Figura 23 - Capa de “Destrua este diário”

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Figura 24a e 24b - Detalhe de uma das instruções para a destruição do Livro “Destrua Este Diário” e sua página completa


“Design Digital” Javier Royo Rosari. 170 páginas O livro é essencialmente teórico. Foi composto na fonte Syntax. Miolo em papel offset e capa em papel cartão com laminação17cm x 24cm. Apesar de ser 85% texto, o livro possui diversas ilustrações simples, que remetem ao universo infantil e tem uma característica cômica. Na página 95 temos um diagrama, que pode ser classificado como facilitação gráfica, pois utiliza desenhos, poucas palavras, flechas, pontos e linhas para gerar um significado, nesse caso o de explicar a relação entre o designer, a tecnologia e o usuário, dentro de um determinado contexto. Mais adiante, na página 104, um gráfico explica o condicionamento do designer digital, relacionando a evolução natural do design com a pressão e a velocidade da sociedade.

Figura 25 - Um dos diagramas utilizados por Royo para explicar a relação entre designers, tecnologia e usuários.

Figura 26a e 26b - Mais um esquema do livro Design Digital sobre as condicionantes do designer digital (página completa acima e o detalhe abaixo)

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“Design Thinking para educadores” Fabio Silveira e Priscila Gonzales. Disponível em http://issuu.com/dtparaeducadores 90 páginas. O livro digital lançado em 2014, utiliza a facilitação gráfica ao organizar o conteúdo das cinco partes que compõem o livro (fora a introdução e o apêndice). Os autores utilizam um símbolo para o abre de cada capítulo (descoberta - bússula; interpretação - lupa; ideação - lâmpada; experimentação - engrenagem; evolução - flechas em formas cíclicas). Além disso, os autores criaram um gráfico que revela o processo do design, onde cada parte é também uma das etapas descritas no livro. A abertura de cada capítulo, cada etapa fica de uma cor diferente no gráfico.

Figura 28 - Fluxo do processo de design thinking, com os ícones de cada etapa. Figura 27 - Capa de DT para Educadores

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“Reuniões Visuais” David Sibbet. Alta Books. 265 páginas. O livro em formato paisagem (24cm x 17cm) foi escrito, ilustrado e projetado por David Sibbet. Ele possui ilustrações, metáforas visuais, fotos de paineis feitos por David, imagens de passo - a passo em todas as páginas. Como a publicação incentiva que as reuniões e projetos de seus leitores sejam mais significativos, ela mesma utiliza muitas técnicas descritas por Sibbet. A capa é colorida e já apresenta uma facilitação que sintetiza seu conteúdo. O interior utiliza duas cores - preto e verde - para destacar desenhos, texto, imagens, e variações nos tons para hierarquizar o conteúdo.

Figura 29 - Capa do Livro Reuniões Visuais

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Figura 30 - Página interna do livro Reuniões Visuais com os tipos de facilitação gráfica que os profissionais podem fazer

Figura 31 - Segunda parte da página anterior de Reuniões Visuais

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“Business Model Generation - Inovação em Modelo de Negócios” Alexander Osterwalder e Yves Pigneur AltaBooks Da mesma editora e no mesmo formato do Reuniões Visuais, BMG foca mais no exercício de criatividade e auto conhecimento, que são requisitos para criação de ideias inovadoras. O conteúdo é dividido em cinco partes mais o resumo e o epílogo. Cada parte possui uma cor, que é mais destacada na diagramação: Quadro - vermelho; Padrões- preto; Design-amarelo; Estratégia-azul; Processo-verde; Resumo e epílogo - cinza. O livro possui três tipos de imagens: ilustrações que humanizam, quadro canvas que serve de gabarito e fotos de grupos utilizando a metodologia para desenvolver ideias. O texto é dividido em duas colunas e vai encaixando nas imagens, que são priorizadas neste projeto.

Figura 32 - Capa do Livro BMG

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Figura 35 - Modelo canvas completo e simples. AC - Atividades-Chave; PP - Parcerias Principais; RP - Recursos Principais; C$ - Estrutura de Custo; RC - Relacionamento com Clientes; SC - Segmentos de Clientes; PV - Proposta de Valor; CN - Canais; R$ Fonte de Receitas

Figura 33 e 34 - Páginas duplas com a explicação gráfica do modelo canvas

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“Brandyfesto - draw practice shape be” Brandy Agerbeck. Loosetooth. 26 páginas (PDF) Criado e disponibilizado gratuitamente pela facilitadora gráfica Brandy Agerbeck, o Brandyfesto (trocadilho com manifesto) tem o objetivo de convencer os leitores que desenhar é uma ferramenta de pensamento, qualquer um pode desenhar e que há um meio de recuperar e redefinir o desenho de forma a usá-lo a favor das pessoas. A diagramação é simples, 26 A4 fechados em pdf, formato paisagem. O projeto gráfico é dividido em duas colunas, onde o texto está sempre na direita, e fotos da Brandy trabalhando, exemplos de facilitações gráficas e desenhos que complementam o conteúdo estão à direita.

Figura 37 - interior da publicação BrandyFesto

Figura 36 - capa do PDF BrandyFesto

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“Guia para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos nos municípios brasileiros de forma efetiva e inclusiva” Programa Cidades Sustentáveis. 57 páginas (PDF) O Programa Cidades Sustentáveis tem como objetivo sensibilizar, mobilizar e fornecer às cidades brasileiras ferramentas que as auxiliem a se desenvolverem de forma econômica, social e ambientalmente sustentável. Defender essa causa e colocá-la em prática representam um grande desafio. A participação de cidadãos, organizações sociais, setores empresariais e governos é condição essencial para que esses objetivos sejam bem sucedidos. (NOSSA SÃO PAULO). A publicação é o resultado de um dia de workshop com pessoas de diversas ONGs, coletivos e grupos que discutem a PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos. 80% do pdf em tamanho A4 paisagem, é texto, dividido em duas colunas, com fotos e box que acompanham a largura das colunas. Algumas páginas são diferentes, elas trazem as facilitações gráficas feitas por Vitor Massao (Coletivo Entrelinhas) no dia do encontro, e que ajudaram o grupo a discutir o conteúdo aprofundado na publicação.

Figura 38 - Capa documento sobre a PNRS

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Figura 39 - Interior da publicação sobre a PNRS

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“+ Telecentros - Educação, Tecnologia e Cultura pela inclusão digital” Centros de Referência em Assistência Social 45 páginas (PDF) O encontro do CRAS (Centros de Referência em Assistência Social) também foi acompanhado pelos facilitadores do Coletivo Entrelinhas. O projeto gráfico da publicação, com o resultado dos debates, além de fotos e gráficos de atendimento dos Centros, combinou com os mapas de ideias produzidos pelo Entrelinhas, que também fez a facilitação do grupo no que diz respeito a organização do evento. O relatório possui 45 páginas, formato A4, texto em preto, detalhes em vermelho, fotos coloridas e os mapas multicoloridos. Cada momento do encontro ganhou um painel para registrá -lo: Apresentação e boas-vindas, Fluxos de comunicação, Mapa de articulações municipais, Troca de experiências, Aquário (técnica de facilitação de processos), Espaço Aberto (idem), Definição dos próximos passos. Os demais momentos, como considerações e avaliações do encontro, ganharam gráficos tradicionais de análise quantitativa e colheitas de análise qualitativa. Para auxiliar na leitura dessa colheita a publicação conta com uma nuvem de termos para ver quais os mais recorrentes.

Figura 40 - Capa do Relatório do 1º Encontro CRAS

Figura 41 - Interior do relatório com o primeiro painel de boas - vindas

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“The Sketchnote Handbook - the illustrated guide to visual note taking” Mike Rohde 52 páginas. (PDF) O livro é um manual que se propõe ensinar a fazer registros significativos de eventos ou situações. Sketchnote significa ‘anotação’, mas de forma diferente, combinando tipografia e desenhos simples para registrar ideias, integrando no cérebro o modo visual e verbal. É uma facilitação gráfica em pequena escala, porque os sketchnotes são feitos em pequenos cadernos, como os do tipo Moleskine. Rohde, o autor, fez o livro em forma de anotações criativas ensinando como se faz. Dividido em sete partes o sketchnote primeiro explica o que são estas anotações diferentes, porque fazer essas anotações, a importância de ouvir, o processo de anotar de forma criativa, os tipos de sketchnotes, modos de fazer pensando na hierarquia e personalização, e por fim as técnicas.

Figura 42 - Interior do livro com ilustrações de Rohde

Rohde destaca como elementos do sketchnot,e os mesmos pontos que Sibbet e Agerbeck já tinham destacado na facilitação gráfica em paineis: títulos, tipografia, diagramas e desenhos, letra manuscrita, linhas divisórias, flechas, símbolos (bullets), ícones, balões de conteúdo e assinatura para finalizar. Rohde incentiva o uso da técnica para eventos e sempre fotografar as anotações quando acabar e compartilhar na rede, assim o conteúdo chega a mais pessoas, difundindo a técnica e o seu executor.

Figura 43 - Sketchnote feita por Eva Lotta para o livro de Rohde sobre seu trabalho de anotações criativas

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Vídeos em Facilitação Gráfica Vídeos não são exatamente conteúdos editoriais. Mas conteúdos editorias podem ser apresentados em vídeos. Por isso listei alguns vídeos sobre temas diversos que usam a facilitação gráfica, animação e metáforas visuais para explicar temas complexos: The Story of Stuff “A História das Coisas” foi escrito por Annie Leonard e Jonah Sachs, dirigido por Louis Fox e produzido pela Free Range Studios. A produção executiva inclui Tides Foundation e Funders Workgroup for Sustainable Production e Consumption. Ele foi feito em dezembro de 2007. Esse vídeo, com mais de 2 milhões de visualizações, combina desenhos simples, animação, encenação e narração para explicar o ciclo de produção, consumo e descarte das “coisas”. Baseado na pesquisa de 10 anos da cientista Annie Leonard, em 20 minutos convence a repensar o sistema linear de extração, produção, distribuição, consumo e descarte num planeta finito. Algo está errado.

Figuras 44, 45 e 46 (sentido horário) - imagens do video The Story of Stuff em andamento

O modelo de “A História das Coisas” deu tão certo que se transformou em um projeto desdobrado em outros vídeos com as mesmas características: A História da Solução, A História da Água Engarrafada, A História dos Cosméticos, A História dos Eletrônicos, A História da Mudança. A seguir imagens do vídeo principal em andamento. (disponível em http://storyofstuff.org/movies/story-of-stuff/, acesso em 21 de março de 2014) A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 66


“Mudando os paradigmas da educação” The RSA A RSA ( Real Sociedade para o encorajamento das Artes, Manufaturas e Comércio, em inglês) é uma organização de esclarecimento, criada para buscar soluções práticas e inovadoras para os desafios sociais de hoje em dia. Por meio de suas ideias, pesquisas e 27 mil seguidores-colaboradores, ela busca compreender e aumentar a capacidade humana para fechar uma lacuna entre a realidade e o que as pessoas imaginam como um mundo melhor. Um modo de ter acesso às pesquisas complexas da The RSA, é por meio de seus vídeos. O mais conhecido é “Mudando os Paradigmas da Educação”, em 11 minutos e 40 segundos na narração e uma mão desenhando ilustram a palestra sobre a pesquisa de Ken Robinson, um renomado especialista em educação. O audio da palestra foi gravado e editado para poder servir de narração ao painel, que não foi feito em tempo real, mas de forma contínua.

Figuras 47- início do vídeo “Mudando os paradigmas da educação”

Cada teoria de Robinson foi sendo desenhada de forma a integrar-se com o todo. No fim do vídeo, podemos ver como ficou o desenho final. Feito em duas cores, preto e laranja, este vídeo é diferente de A História das Coisas por não utilizar os desenhos animados, pelo narrador não aparecer no vídeo, como Leonard aparece, e por mostrar a mão que desenha. A seguir imagens do vídeo no começo e no fim, o painel todo. (Disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=zDZFcDGpL4U, acesso em 22 de março de 2014). Os demais vídeos da The RSA aqui: https://www. youtube.com/user/theRSAorg Figuras 48- final do vídeo com todos os desenhos e textos formando o painel

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Entenda o projeto de lei Tarifa Zero SP Vídeo de 2013, uma produção coletiva de vídeo realizada pelo Projeto Cala-Boca Já Morreu e pelo Coletivo Entrelinhas, como colaboração para a Campanha Tarifa Zero. Diferente do vídeo da The RSA, este conta com uma dupla na narração, dois jovens que se revesam. O texto foi escrito especialmente para o vídeo e os desenhos são metáforas do que está sendo dito, no anterior são ilustrações e até mesmo o texto idêntico ao que é falado. O vídeo do Coletivo Entrelinhas usa ainda colagens de outros elementos já desenhados. Como no The RSA, a mão do facilitador gráfico é vista na filmagem. Este também utiliza menos efeitos de edição, como aceleração de câmera, mais presentes nos dois últimos. Ao lado imagens do vídeo, disponível em https://www.youtube. com/watch?v=GjRU4yMD2Lc, acesso em 22 de março de 2014.

Figuras 49 e 50 - Duas imagens do vídeo com intervenções de colagens.

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Facilitação Gráfica para Nextel O vídeo é na verdade uma palestra animada pela ferramenta Prezi (de apresentações criativas), feita pela consultoria Design de Conversas, de Victor Farah e Amanda Gambale. Trata-se de uma mensagem motivacional, destinada ao público interno da Nextel, ou seja, seus funcionários, sobre liderança, inovação e resultados. Sem narração, as ilustrações e pequenas frases foram organizadas na ferramenta Prezi, de forma a criar uma narrativa. Além de não ter a narração e a mão do desenhisa, a principal diferença é não vermos como os desenhos se conectam quando acaba o vídeo. A seguir, imagens da apresentação que está disponível aqui http://bit.ly/1rcXi7X, acesso em 22 de março de 2014.

Figuras 51 (acima) e 52 (ao lado) - Dois momentos do vídeo para Nextel com facilitação gráfica

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Amostra do trabalho da Atrium Consultoria Em dois minutos e meio as facilitadoras gráficas da Atrium Consultoria, explicam como seu trabalho funciona e que tipo de evento pode se beneficiar dos serviços da empresa. O vídeo foi editado em Quick Time e não possui narração, mas possui a mão da desenhista, textos escritos com a letra manuscrita e outros com letras digitais. Os desenhos prevalecem à quantidade de texto. A “câmera” começa focando no desenho e vai seguindo em plano sequência, sempre para a direita. No fim, o enquadramento abre e percebemos que cada desenho que foi feito fazia parte de um grande painel. Disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=1aW6bQWa2j4, acesso em 22 de março de 2014.

Figuras 53 - Final do vídeo da Atrium Consultoria com o painel completo

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CAPĂ?TULO 5 - entrevistas com facilitadores/as grĂĄficos


CAMILA RIGO Camila Scramim Rigo tem 34 anos e é formada em publicidade, mas migrou para o trabalho com grupos e chegou à facilitação de processos participativos e à facilitação gráfica. Hoje se considera sim uma facilitadora gráfica, por usar o registro gráfico em reuniões significativas, uma denominação do Art of Hosting (AOH ). O AOH é um grupo de pessoas que dominam a arte de anfitriar conversas. Ou seja, apoiar grupos para que reuniões e debates fiquem mais produtivos. Camila é sócia em uma empresa de facilitação de grupos, a Cocriar, mas seus trabalhos como facilitadora gráfica geralmente vem por conta da consultoria Mundo Afora, que montou com seu pai para qualquer atividade que estivesse fazendo. Ela atua como facilitadora gráfica no Brasil inteiro, mas predominantemente nas regiões Sul e Sudeste, há quatro anos. Ela concedeu a entrevista por e-mail no dia 29 de outubro de 2013, e no dia seguinte recebeu a pesquisadora para uma conversa sobre seu site, Art Of Hosting e a diferença entre colheita e facilitação gráfica • O que é facilitação gráfica para você? Para mim é um tipo específico de Colheita, que é um registro visível aos participantes de uma conversa os “frutos” produzidos, em tempo real. Na Facilitação Gráfica a linguagem visual é aliada da linguagem verbal para produzir registro mais interessantes, leves, coloridos, divertidos. • Por que e como você criou seu site… Eu acho que foi mais uma necessidade de eu organizar os meus

aprendizados do que propriamente sentir falta de, é claro que quando você publica um site e não escreve num caderno tem um lado que é motivação de compartilhar o que eu aprendi, mas eu sentia muito essa necessidade de ter um repositório de coisas que eu fui sacando que são legais, bacanas, ou para aplicar em outros contextos ou para perceber olha que interessante perceber como contextos diversos, então acho que teve um momento primeiro de eu organizar os meus aprendizados acho que tem um movimento de falar para o mundo que eu aprendi algumas coisas e que eu fui chamada para aplicar aquelas coisas, então tem um lado divulgação. Tem um lado divulgação, mas eu não via muito sentido em fazer divulgação tradicional de ficar vendendo serviço. Eu achava que os cases mesmo, as experiencias eram mais férteis, até por isso, você vai falar de uma super vantagem mas que não acontece num outro contexto, então é mais legal que esteja conectado com aquele contexto do aprendizado que ele foi produzido. Em termos de motivação foi isso. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Trabalho principalmente no 2o setor (grandes empresas) e, com uma frequência menor, no 3o setor. A atividade econômica varia bastante (tenho clientes nas áreas de saúde, infraestrutura, cosméticos, comércio, industria de base, bancos, educação, papel e celulose, telefonia, automobilística). A metodologia de trabalho não varia, não. É sempre ouvir, sentir qual a essência do conteúdo que precisa ser sintetizado, criar metáforas visuais ou ilustrações que remetam ao conteúdo e mandar bala! • Ao ser convidado para fazer um painel/mapa de ideias, como você se prepara? Converso com o cliente para entender o objetivo e a estrutura do encontro, dou uma olhada no site dele para entender as cores e A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 72


linguagem visual adotada, separo e testo todos os materiais, cuido de estar descansada e totalmente presente no dia do evento. No mais, confio bastante na minha bagagem e intuição. • Como você define o seu estilo de facilitação? Foco no conteúdo, nas relações de significado e na inteligência coletiva. • Você trabalha sozinha ou tem um outro facilitador de grupo junto? Eu nunca faço os dois juntos. A facilitação de processos e a facilitação gráfica. Eu faço ou um ou outro. Eu acho um desafio grande, porque eu entendo que o “drive” de quem está colhendo é diferente do drive de quem está conduzindo processo, especialmente pq eu tenho essa atenção voltada para o conteúdo. Eu acho que já é trabalho suficiente você ouvir todo o conteúdo, tentar extrair a essência, fazer síntese, e expressar isso com uma linguagem visual acompanhando, eu acho que é trabalho já bastante suficiente. Quanto a fazer o registro gráfico sozinha, depende do tamanho do grupo, se é um grupo muito grande e que a gente tem que encontrar formas criativas de fazer o conteúdo ir chegando para a gente. Por exemplo, fazemos subgrupos e as pessoas podem produzir cartoezinhos com sinteses do que elas estão fazendo e a gente precisa coletar tudo aquilo e organizando isso visualmente em tempo real pq isso vai alimentar a próxima fase do processo. Isso é uma coisa difícil de fazer sozinho. • A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Tendo a achar que livros que precisem ter o entendimento facilitado, como é o caso dos livros teóricos / didáticos, poderia ter um benefício direto com a organização visual de idéias. No caso dos livros para fruição, como é o caso da ficção e do romance, eu sinceramente não percebo um benefício tão grande. Mas penso que livros de auto-ajuda seriam grandes candidatos a se beneficiarem da linguagem da Facilitação Gráfica. • Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial? Só conheço livros sobre Facilitação Gráfica que claramente tenham a Facilitação Gráfica como ponto de partida. Creio que aquela coleção “O Livro da Filosofia”, “O Livro da Economia”, “O Livro da Psicologia” acaba tendo alguma relação com essa arte de tentar utilizar ilustrações para facilitar o entendimento ou “colocar luzes” sobre a essência de uma determinada corrente teórica. Não, meu trabalho não migrou ou inspirou um projeto editorial ainda, que eu saiba. • Você acha que existem profissionais suficientes no mercado? Não considero esta uma atividade imprescindível (o mundo consegue sobreviver sem ela), mas tenho sentido um aumento na demanda que pode chegar, sim, ao limite da capacidade dos atuais profissionais em atendê-la. Ainda não está nesse ponto. • O que você acha da capacitação desses profissionais? Os profissionais que conheço são bem preparados. Cada um no seu estilo e no seu foco (alguns com mais foco na linguagem visual - e portanto melhores nisso! - outros com mais foco no conteúdo, como eu). A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 73


• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? Na minha opinião, duas coisas são essenciais: de um lado, desen volver a capacidade de síntese, o relacionamento entre ideias; de outro, desenvolver o traço, a linguagem visual. Talvez não seja a resposta que você esperava, mas penso que um bom ensino fundamental em língua portuguesa, matemática e educação artística já seriam excelentes (e talvez suficientes) pontos de partida. Outros aprimoramentos poderiam ser conseguidos em cursos livres de cartoon e de ilustração voltada para metáfora visuais. • Você poderia explicar melhor o que é colheita por ser do AOH (Art Of Hosting) Antes de ser Facilitadora Gráfica, antes de eu saber que isso existia, quando eu participei de uma imersão do AOH eu vi pela primeira vez esse papel da pessoa que faz registro, qualquer registro visando a todos os participantes de uma conversa e o poder que isso tem, como é diferente de você fazer uma anotação pessoal escondidinha e uma anotação grande visivel para todo mundo. Eu iniciei o trabalho sendo colheitadora, eu entrava numa reunião que queria ser mais produtiva, que queria gerar uma memória de maior qualidade do era gerado, e pegada um flipchart e anotava cada coisa em caneta mesmo, caneta piloto, fui notando e deixado visivel, então fiquei com um flipchart colado atrás do outro com as ideias organizadas daquela reunião. Eu fui percebendo assim, coisas muito interessantes acontecendo: primeira coisa, as pessoas saindo de uma reunião de 2 horas falando assim “gente eu não acredito que produzimos tudo isso em duas horas” e não porque tivesse alguma coisa muito especial nessa reunião, mas em geral porque as reuniões não são, tem esse lado do produtivo, vou falar disso, mas em geral elas não são

acompanhadas e detalhadas o conteúdo para você ter essa visão. Ou “Nossa! Por quantos assuntos passamos aqui, quanta riqueza nas falas até aqui”. As falas ao vento a gente vai perdendo, as mensagens que foram trazidas e tal. Segunda coisa, tornar a reunião mais produtiva porque tem um fenômeno que acontece nas reuniões que é, e é natural assim, sem falar nada de mal de quem faz reuniões, mas assim, quando algo é dito que gera um gancho com alguma história sua, naturalmente você vai para sua história e começa a divagar e não sei o que e num determinado momento você leva um susto e fala “deixa eu voltar para a reunião” e você volta e tem toda aquela fase de voce tentar entender onde eles estão e o que eu perdi… Você vai entrar na reunião mesmo um pouco depois, e pode acontecer de uma pessoa ter um gatilho em um momento que você ainda está se familiarizando com negócio. As coisas estão desconexas poque as pessoas se desconectam e voltam e outra se desconecta e volta… As pessoas não participaram da mesma reunião, quando você tem o registro visível as pessoas tem essa possibilidade de rever o que perderam se distraindo. Terceira coisa: todo mundo que já participou de reunião já sentiu aquela coisa assim “gente essa pessoa ta falando isso de novo” e batendo na mesma tecla, e na mesma tecla. Por quê? Porque muitas vezes a gente não tem certeza que a gente foi ouvido, não temos certeza se as pessoas estavam ouvindo nesse momento, não temos certeza se a gente foi bem compreendido do que a gente disse, então queremos redizer e redizer e redizer, se foi feito um trabalho de colheita daquela reunião, você olhando lá que tá escrito e o que está escrito é o que queria passar, você se tranquiliza, então esse tipo de fala você elimina da reunião, então tem isso de deixa-la mais produtiva e tem o outro lance de você conseguir enxergar essa produção. Isso é colheita pura de reunião. Existem vários formatos de colheita, tem esse que é o bem objetivo é o que eu fazia, é cognitivo A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 74


mesmo, organização de informação relações não sei o que, porque eu tenho um perfil mais estruturante então é assim. Tem outros tipos de colheita, que são muito mais sensíveis, tem colheitas que são músicas, tem colheitas que são poesia. Qualquer outro tipo de expressão, que possa resgatar algum aspecto que seja essencial e importante daquele encontro daquela conversa e que possa ser devolvido para o grupo. Outra característica interessante da Colheita é checar conhecimento. Se de repente aquilo escrito não foi bem o que ela disse, ou queria dizer, então a pessoa fala que o que ela queria trazer realmente e o grupo segue em diante a partir dali. Colheita é uma coisa mais ampla que a Facilitação Gráfica, que no meu modo de ver é um tipo específico de colheita. • E esse termo vem de alguma coisa em inglês, de harvest, ou foi aqui no Brasil que foi criado? Foi no Art Of Hosting que, no internacional, que esse termo foi criado, foi criado como harvesting, mas também tem essa relação de estranhesa que acontece no portugues, acontece no inglês… se você procurar no google harvesting vai ver coisas agrícolas, assim como se você procurar colheita virá coisas agrícolas, então ela é uma linguagem figurada, é uma metáfora. A seguir, exemplos do trabalho da Camila.

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Figura 54 - Painel para o Encontro Sobre Educação e Empreendedorismo da Ernest & Young, de 2013. Arquivo pessoal.

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Figura 55 - NEA (Núcleo de Educação Ambiental - Fibria) – painel e colheita do encontro de Planejamento Estatégico, de 2011. Arquivo pessoal.

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Carla hirata Carla Cristina Hirata Miyasaka tem 26 anos e vive em Brasília. É artista plástica e facilitadora de grupos. Carla se considera uma registradora gráfica, e não facilitadora propriamente dita, Figura 56 - Carla Hirata trabalhando. por avaliar que os paineis que Arquivo pessoal constroi com seu sócio, Vitor Massao, do Coletivo Entrelinhas funcionam mais como registro e para consulta posterior do que facilitação do processo ao vivo do grupo, que seria o objetivo da facilitação gráfica. Ela acredita que sua atuação, enquanto facilitadora de grupos, tenha contribuído muito mais para a formação como facilitadora gráfica do que seu diploma de artista, pois o mais essencial para o facilitador gráfico é a escuta e o poder de síntese, mais do que o desenho. Em crise com os termos, mas disposta a discutir, ela concedeu esta entrevista por e-mail no dia 17 de janeiro de 2014. • O que é facilitação gráfica para você? É um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzidos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lúdicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos.

Então, Facilitação Gráfica para mim é uma forma de mediar um grupo (ou seja, estar a frente de um grupo, auxiliando-o a chegar a um objetivo comum de forma participativa e conversacional) por meio de mapas mentais e registros feitos em tempo real, nos quais os conteúdos das conversas são traduzidos de forma gráfica, objetiva e orgânica, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos. O que eu faço hoje, acredito, é Registro Gráfico, que como disse anteriormente, é um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzidos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lúdicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos. A diferença é que é algo feito meio que dissociado do grupo. O registro é feito num canto da sala enquanto outra pessoa conduz a conversa em outro canto da sala. • Você se considera um facilitador gráfico? Se não o que você é? Estou no meio de uma crise. Eu me considero uma Graphic Recorder [Registradora Gráfica]. Na Conferência que fui em Nova York vi muito clara essa diferença entre Graphic Facilitation e Graphic Recording. Há muito clara a percepção sobre o que é Facilitação Gráfica e sobre o que é Registro Gráfico. O que acredito não ser tão claro aqui no Brasil, por isso digo que sou Facilitadora Gráfica, que é o nome pelo qual esse mercado está sendo reconhecido, mas penso que ainda sou uma Graphic Recorder. Massao, meu sócio, e eu sempre tivemos o desejo de fazer mais do que um registro, mais do que um desenho bonito. Isso é algo que buscamos a cada trabalho, mas não é sempre que conseguimos. Ainda são poucos os clientes que topam sentar conosco para pensarmos juntos a programação e a metodologia do evento, para então pensarmos como a potencialidade de facilitação de conteúdo que a Facilitação Gráfica possui pode ser utilizada. Apesar de tentarmos e acreditarmos que é possível facilitar um grupo com A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 78


Facilitação Gráfica, acredito que ainda fazemos apenas registro gráfico e não facilitação gráfica. Não acredito ainda que o trabalho que fazemos (nós, todos, facilitadores gráficos brasileiros) gera um impacto no sentido de facilitar as conversas no momento do evento. Acredito que o impacto da Facilitação Gráfica hoje nos eventos que trabalhamos se dá após as conversas terem sido feitas. Ela permite uma continuidade dessas conversas, permite que as pessoas percebam coisas que não haviam percebido antes e entendam os conteúdos trazidos de outra forma e perspectiva, o que pode gerar novos insights. Mas a Facilitação Gráfica ainda não facilita uma conversa, nos termos que entendemos de facilitação... • Quando começou a trabalhar nesta área? Comecei a fazer facilitação gráfica em 2010. Sou facilitadora de grupos há 10 anos e sempre que facilitava algum encontro grande, eu acabava desenhando cenas das palestras que não eram facilitadas por mim. Eu fazia uma especie de caricatura de determinadas falas, eram desenhos soltos sem um fio lógico. Quando descobri a facilitação gráfica, em 2009, percebi que eu já fazia muito das coisas da facilitação gráfica, mas que ainda existia um potencial enorme a ser explorado. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Instituições não-governamentais, movimentos sociais, governo. A maioria dos trabalhos está relacionada à politicas públicas, isso ocorre porque tanto eu quanto o Massao atuamos há muitos anos nessa área como ativistas. Sendo assim, nossa rede de contatos é muito forte nesse âmbito.Fizemos poucos trabalhos para a iniciativa privada. Não sei dizer se existe uma diferença na metodologia. O que percebo é que as empresas estão menos abertas a conversar sobre a metodologia conosco e estão mais focadas no

produto da facilitação gráfica e não no processo. • Ao ser convidada para fazer um painel/mapa de ideias, como você se prepara? Primeiro de tudo é garantir o espaço físico adequado para fazermos o painel. Quando possível, visitamos o local do evento para ver se as paredes são lisas, se podemos pregar papel nas paredes, se há espaço suficiente de circulação para gente. Se não, fazemos por telefone com a pessoa responsável pelo espaço ou pelo evento. Caso não haja condições ideais para fazer o trabalho, corremos atrás de uma estrutura mínima. Outra coisa importantíssima é fazer um bom briefing com o cliente. Sobre o que é o evento, qual o objetivo, o que ele espera do nosso trabalho, qual é a programação, qual é a metodologia. Quando possível, pedimos as apresentações de ppt dos palestrantes (não é sempre que conseguimos). Após receber todo esse material, vemos se não tem nada que nos deixa dúvidas, como siglas e termos desconhecido por nós. Ainda que tiremos todas as dúvidas com o cliente, pedimos para que uma pessoa chave (do cliente) fique atenta ao registro para que, caso ela escute algo que é super importante de registrar e que talvez a gente não pegue por desconhecer a dinâmica do grupo, ela nos avise. A partir daí, planejamos a quantidade de painéis baseados na programação e lá na hora, um pouco antes de cada atividade, pensamos a estrutura do painel. • Como você define o seu estilo de facilitação? Percebo que há um equilibrio entre escrita e desenho nos painéis que faço junto com meu sócio Massao. Colocamos bastante conteúdo escrito, mas de forma sintética, e brincamos muito com metáforas visuais que conversam com os conteúdos. No entanto, quando trabalho sozinha há muito mais escrita do que desenho, A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 79


da mesma forma de quando o Massao trabalha sozinho, há muito mais desenho do que escrita.

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

No Brasil não, em Brasília muito menos. É um mercado muito novo no Brasil, as pessoas estão começando a descobrir agora e a demanda aumentou consideravelmente.

Acredito que para livros teóricos e didáticos possa ser uma ferramenta bastante eficaz, uma vez que a organização visual das informações ajudam na assimiliação e na memorização dos conteúdos. Mapas mentais são recursos muito eficientes na hora de estudar alguma coisa.

Em Brasilia, ainda há pouquíssimos profissionais. A demanda têm aumentado e os poucos profissionais que existem precisam se desdobrar para atender tudo, quando é possivel.

Já para livros de ficção, romances e todos esses outros tipos que pedem que sua imaginação se solte e crie um mundo a parte baseado na historia que se está lendo... Não sei explicar muito bem, mas é a mesma sensação que tenho quando vejo um filme baseado num livro antes de lê-lo. Quando vou ler o livro não consigo desassociar o filme da historia.

Ainda é muito fraca e falo por minha própria experiência. São poucos os cursos especificos de Facilitação Gráfica e são introdutorios. Depois de fazer o curso, o lance é se esforçar para adquirir experiencia fazendo. Massao e eu demoramos um tempo até darmos um salto de qualidade e chegarmos onde estamos hoje. Mas isso significou alguns trabalhos que hoje consideramos ruins.

• Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial?

• Você já participou de algum congresso de facilitadores gráficos, o que achou? Sente falta de eventos assim no Brasil?

Recebemos os relatorios de alguns dos eventos que participamos, no quais os clientes usaram as imagens dos painéis: • Multi&Stakeholder Workstudio – ‘’Innovation towards Sustainable Entrepreneurship, Sustainable Consumption and Production on the ICT Sector’’ (2012) Disponível em http://bit. ly/1ikPOt2 acesso em 4 de abril de 2014 • 1º Encontro Regional de CRAS (Centros de Referência em Assistência Social) Disponível em http://bit.ly/1jJ1YPy, acesso em 4 de abril de 2014 • 2º Encontro Regional de CRAS (Centros de Referência em Assistência Social) Disponível em http:// bit.ly/1ikPVFa,acesso em 4 de abril de 2014

• O que você acha da capacitação desses profissionais?

Participei nesse ano do IFVP Big Apple 2013 Conference. Foi a 18a. edição dessa Conferência. Foi uma experiência incrível! O que mais me atraiu foi a oportunidade de ver uma porção de facilitadores gráficos trabalhando ali ao vivo! Ver o processo criativo de cada um foi muito bacana. Essa possibilidade de ver como os outros trabalham amplia sua forma de ver seu proprio processo de criação. Outro aspecto que achei bastante interessante é que além das oficinas e palestras relacionadas à criação e ao campo artistico do nosso trabalho, haviam atividades que focavam na parte business da profissão (como vender nosso trabalho, como estruturar A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 80


nossa empresa etc), o que acho que seria bastante interessante ter em uma formação em Facilitação Gráfica aqui no Brasil. Sinto falta de eventos assim no Brasil no sentido de sentir falta de uma rede mais estruturada entre os profissionais da área. É algo muito recente aqui e devemos nos unir para fazer crescer ainda mais. Um evento como esse faz justamente isso, permite a troca (de experiencias, de contatos, de dicas) entre os facilitadores gráficos e fortaleça a profissão. • O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? Reconhecimento da profissão, rede estruturada dos facilitadores gráficos brasileiros. A seguir, exemplos do trabalho de Carla.

Figura 57 - Montagem no sentido horário: Facilitação Gráfica do Coletivo Entrelinhas, Vitor Massao e Carla Hirata trabalhando. Arquivo pessoal.

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Figura 58 - Linha do Tempo da SOFTEX, feita em 2013 em parceria com Mariana KZ. Arquivo pessoal.

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Figura 59 - Página dupla do documento Multi&Stakeholder Workstudio – Disponível em http://bit.ly/1ikPOt2 acesso em 4 de abril de 2014

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CarOLINA RAMALHETE Carolina Ramalhete Vieira tem 31 anos e nasceu em Mambai, Goiás.

Figura 60 - Carolina Ramalhete. Arquivo pessoal

É bacharel em comunicação social e mestre em desenvolvimento sustentável. Hoje vive em Brasília, DF e além de trabalhar como consultora de comunicação, desde 2012 é facilitadora gráfica também. Carolina concedeu esta entrevista por e-mail em seis de novembro de 2013.

• O que é facilitação gráfica para você? É uma metodologia de facilitação de grupos que usa recursos de comunicação e arte de forma sinérgica. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Como você se prepara quando é convidada para fazer um painel Eu atuo com maior frequência na área sociobiental e social, e quando recebo algum trabalho procuro ler sobre o tema, estudar siglas e fazer um esboço prévio do layout do painel e de ícones dos temas chave, que podem surgir na conversa do grupo focal.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? Trabalho somente com reuniões presenciais. A organização visual da informação facilita a compreensão de qualquer conteúdo, mas isso não é o mesmo que facilitação gráfica. Acho uma excelente ferramenta para estudo e auto organização. • Existem profissionais suficientes no mercado? É uma área nova, ainda há espaço para expansão, mas precisa crescer também a demanda pelo serviço. • O que você acha da capacitação desses profissionais? Acho que para ser facilitador gráfico no Brasil é preciso um misto entre ampliação da oferta de cursos de aprofundamento, autodidadisto e trocas de experiências entre quem já está no campo. Boa parte do aprendizado acontece com a prática, empenho pessoal e com a inspiração de quem já está no caminho há mais tempo. • O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? Bons livros traduzidos para o português, cursos de aprofundamento e uma rede fortalecida de troca de experiências entre quem já está na área. Nas próximas páginas, exemplos do trabalho de Carolina.

• Como você define o seu estilo de facilitação? Valorizo muito a precisão da informação, afinal, sou jornalista. Mas nunca pensei sobre uma marca ou estilo. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 84


Figura 63 - Água, projeto pessoal, disponível em http://on.fb.me/1mjytn3 acesso em 30 de março de 2014 Figura 61 - Painel de comemoração do dia da mulher. Nas raízes, escrevemos com risos e suor nossos valores. “O que é ser mulher? Que belezas reconhecemos em nós?” (com Equipe Escola Millena, Mambai, GO) Disponível em http://on.fb. me/1mCBlOZ acesso em 30 de março de 2014

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Figura 62 - IV CNIJMA – Painel sobre Escolas Sustentáveis, disponível em http://on.fb.me/1pEgyYg acesso em 30 de março de 2014

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donatella pastorino

• O que é facilitação gráfica para você?

Donatella Pastorino é facilitadora gráfica. Mas antes trabalhou como analista de sistemas. Donatella trouxe a facilitação gráfica para o Brasil. Em uma viagem aos Estados Unidos sua irmã, Figura 64 - Donatella. Arquivo pessoal a também facilitadora Renatta Pastorino, esteve em um evento que contava com um facilitador gráfico. Ela foi conversar com ele e pesquisar mais sobre essa atividade. Donatella estava em um momento de transição na carreira, já possuia uma consultoria em TI, a Atrium Consultoria, já tinha estudado administração de empresas e gestão de negócios. Agora investia em uma graduação em Artes Plásticas. Mas foi o treinamento de David Sibbet, em São Francisco (EUA) que deu rumo para a profissão das duas irmãs. A Atrium teve sua razão social alterada e desde 2003 que Donatella registra reuniões, eventos, conversas, treinamentos, cartilhas e manuais para diversas empresas, de diversas áreas, resquícios de seu networking com consultora em TI. Donatella concedeu esta entrevista, onde conta um pouco de sua vida e trabalho, pessoalmente no dia dois de novembro de 2013.

Para mim a facilitação gráfica é uma ferramenta da aprendizagem. Quando a gente está na sala a gente apoia os participantes desse evento, dessa reunião a entender melhor todo o conteúdo que está sendo trabalhado. Ela funciona como um facilitador de aprendizagem. Por que os paineis são grandes, (as pessoas) estão envolvidas por esse trabalho. Dá um sentimento de acolhimento muito grande para quem está na sala ver suas próprias palavras na parede. Então ele está em contato com aquilo o tempo todo. Então, para mim, é uma ferramenta de aprendizagem. • Você se considera uma facilitadora gráfica? Eu sou facilitadora gráfica, se você ver no livro da Brandy Agerbeck, ela diz que tem muita gente que se é facilitador gráfico não está facilitando o grupo, é a pessoa que está só escrevendo. Chamam de scribing, register (registrador). Mas a Brandy fala “Não, eu sou facilitadora, estou facilitando o processo visual”, então eu estou na linha da Brandy. Sou facilitadora gráfica. • Você acha que existem profissionais suficientes no mercado? Eu acho que depende do mercado, o mercado é muito grande. Eu acho que tem espaço para todo mundo e tem vários tipos de facilitação, não tem um só. Por que tem a ver com o estilo da pessoa e com especialização que ela tem. Eu estou especializada em empresas, business, alta liderança. Trabalho com presidentes, diretores, gerentes. Por que foi aonde eu me inseri, me especializei e juntei com meu background. Então eu estou muito mais confortável em atender um presidente de empresa, como eles conversam comigo como estamos conversando aqui [durante a entrevista], do que as vezes ong, ou uma causa. Já trabalhei e trabalho ainda, porém, sou especializada nisso. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 87


Nos EUA eles atendem muitos mercados segmentados, tem gente que só trabalha com farmacêutica, tem gente que só trabalha com ONGs, tem gente que só trabalha com sustentabilidade, área médica, na academia, com professores, mestres. Eles estão separando por temas. Assim, tem muitas possibilidades, o mercado é muito grande tão vasto que tem espaço para todo mundo. São formações diferentes, eu me inseri numa área que para mim era muito mais fácil entrar, eu já vinha dali. Eu já conheço todas as áreas da empresa, estudei bastante isso por que tem a ver com a minha formação. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Eu atuo um todos os setores, na verdade, depois de tantos anos de experiência atendemos qualquer tipo, pode ser uma empresa de serviços, tecnologia, industria, mineradoras, petrolíferas, celulose e papel. Qualquer tipo de negócio ou industria conseguimos atender, até ONGs, organizações diferentes, qualquer tipo de organização. E dentro das organizações a gente atende muitas áreas: RH, comunicação, só liderança. Independente da área somente os líderes reunidos. 90% do nosso trabalho é para alta liderança, então é um público diferente. é um público específico, e as vezes tem 30 países representados naquela reunião, então são culturas diferentes também. Fazemos muitos eventos crosscultural, que é juntar culturas diferentes, por exemplo uma empresa japonesa se junta com uma empresa brasileira. Completamente diferente, então vamos lá e apoiamos o processo de interação cultural.

• Ao ser convidada para fazer um painel, como você se prepara? Hoje, depois de tantos anos, quase não tem preparo. Preciso saber basicamente para onde eu tenho que ir, qual o nome do tema da reunião e vou. Porque a experiência me permite que eu me adapte a qualquer situação. Mas o ideal, que as vezes acontece, as vezes não. Depende do cliente e do tempo de antecipação que a gente sabe do trabalho, às vezes a gente sabe há três meses do trabalho, mas ainda não têm muita informação suficiente porque ele não foi aprovado, a proposta ainda está rolando dentro da empresa, não é simples. A empresa não me diz tudo que vai acontecer, todos que irão falar antes de ver e aprovar a minha proposta. Trabalhar com empresas não é fácil. Hoje o ideal seria receber um briefing do cliente do que vai acontecer nesse evento para saber que caminho tomar. Terá uma análise swot terei que me preparar porque a análise swat é muita conversa, ideias, jogadas. É um “word café” então terão muitas mesas, uma colheita no final, então eu já sei mais ou menos como que é. Mesmo assim, muda tudo, porque os consultores, a gente sempre trabalha com consultores em sala, ou diretamente com a empresa. As vezes o consultor muda tudo! Como eu sou facilitadora também, porque eu tenho várias formações em facilitação de grupo, para mim, grupo é uma massa de pão. Que você vai mexendo e sentindo o que ela precisa, se é água para dar uma amolecida, ou mais farinha para dar uma estruturada. Eu vejo o grupo assim, eu ‘meio’ a sala dessa forma. Então as vezes você está em um evento com tudo desenhado, o facilitador está fazendo isto, o público interno da empresa está e o grupo te leva para outro lugar. E você é obrigada a mudar toda a programação.

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Então mesmo que eu me prepare, mesmo que eu receba toda a agenda do evento pode mudar tudo lá dentro. É fundamental que você tenha um preparo por que depois o que der e vier você está apta a fazer. Por isso a metodologia precisa ser muito forte. Imagina se eu tivesse uma metodologia para cada tipo de trabalho para cada tipo de empresa. Então a fórmula tem que ser a mesma. 70% do nosso trabalho é só o grupo, geralmente a empresa me chama diretamente e eu fico lá registrando. E 30% tem um facilitador envolvido, um consultor, com o grupo • Como você define o seu estilo de facilitação? Meu estilo é com foco na essência e na informação. Meu estilo não valoriza muito o desenho, ele é secundário. O foco é na informação. • Quando entra no desenho, tem alguém que faz a arte final para você, ou geralmente é sozinha. Não, tanto eu quanto minha equipe trabalhamos sozinhas. A gente faz tudo, desenha, pinta, escreve, tira o painel, coloca… Vamos sozinhos para o evento, só vamos em dupla quando é em inglês, ou espanhol, porque é muito cansativo, a gente não aguenta, muito tempo, então vamos revesando. A cada duas ou três horas uma vai para o painel. Ou quando são mais de 500 pessoas em sala vamos em dupla para captar mais. Eu já fiz um word café com 400 pessoas, 40 mesas, em espanhol, sozinha no Paraguai. E dai a colheita no fim. Depende da configuração do evento, tem cafés que eu posso deixar na mesa ferramentas para que os participantes façam a colheita enquanto conversam.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? Sim, funciona pra livros, para material de treinamento para empresas. Fazemos muito material de treinamento com nossa linguagem visual onde tudo é escrito a mão. Não desenhamos no computador, desenhamos a mão e depois digitalizamos este trabalho. O cliente recebe digitalizado e impresso. Então nós já fizemos a ilustração de livros, com desenhos nossos a nossa linguagem, ja complementamos livros com pedaços de painéis nosso e fazemos muito material nosso. Além de vídeos, aquele com a mãozinha desenhando. Mas todo material de treinamento que fazemos é confidencial. Quando escrevemos a mão nosso cérebro se força mais a entender. Você presta mais atenção, por isso que esse trabalho é uma ferramenta de aprendizagem. Porque quando você está lendo uma letra com a tipografia do computador o seu cérebro passa muito rápido por ela. Quando você lê a manuscrita observa que ela é diferente da sua, o ‘e’ por exemplo, é mais fechado, mais aberto, o ‘i’ pode ter pingo ou não. O cérebro se força mais para decifrar. E até um desenho. Você faz um starperson, e por que o starperson não precisa estar perfeito como uma pessoa? Porque o cérebro completa a informação para você! Só com 30% da informação o cérebro completa o resto, você faz uma pessoa palito e ele já entendeu que é uma pessoa. Neurologicamente a gente já tem isso. 70% do nosso cérebro trabalha para a visão, a visão é um filtro tremendo. Você fixa mais. Os paineis dão vontade de ler, porque é uma coisa colorida, bonita, com desenho! Só de escrever colorido já muda tudo. Materiais de treinamento, pedaços de livros com esses esquemas, com

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a nossa linguagem são muito bacanas por causa disso. Eu tenho um livro holandês que tem muitos painéis dentro do livro, eles fazem parte. É um livro sobre tecnologia bancária, da área financeira que está apoiado pelos paineis da reunião.

Da demanda de trabalho que exite, trabalhando sua agenda e de seus colegas você vê que tá faltando gente para fazer isso ou “Nossa não vai dar tempo”, você não tem um parceiro para indicar, por que ele também está cheio de trabalho.

Nossa consultoria faz projetos editoriais, manuais de treinamento, coisas de saúde e segurança fazemos muito! Porque você tem que ver aquelas mensagens, tem que ver o como, o bonequinho lá fazendo a ação que tem que ser feita é muito mais efetivo que uma frase e um texto que ele tem que ler numa Cartilha. Então Cartilha do Trabalhador, Código de Conduta...Isso com apoio visual, com a nossa linguagem é muito mais forte.

Olha acontece em parte para mim, por que somos um equipe de quatro pessoas, sou eu e mais quatro que fazemos esse trabalho. Então como são cinco é muito difícil não ter agenda porque sempre uma ou outra vai ter. E eu não tinha muito acesso a essas outras pessoas que fazem esse trabalho, agora que eu estou começando a conversar com elas, conhecendo mais… Desde Nova York (no congresso IFVP) onde a gente se conheceu.

• Aconteceu com um dos facilitadores gráficos de desenhos do painel que ele fez irem parar no relatório de atividades do cliente. Isso já aconteceu com você? Sim, várias vezes, inclusive os clientes pedem para a gente já fazer desenhos de identidade visual. E a gente explica que não somos uma agência de publicidade, não faz branding. Mas os clientes querem os nossos desenhos, o nosso traço. Então fazemos. Eles querem o nosso traço, que já está difundido na empresa, tem empresas que atendemos a cinco ou seis anos. Posso citar um exemplo, fizemos um trabalho para a DELL agora, fizemos o registro gráfico de dois ou três eventos, e eles iam fazer um livrinho de anotações sobre cloud computing e pediram para fazermos as anotações para ficar nos livrinhos, e fizemos. E eles adoraram. Mas por que? Porque temos a experiência de transformar o texto numa imagem, uma imagem forte que represente aquele texto. De novo, tem a ver com informação, não é o desenho só. Não somos ilustradores, não somos desenhistas, conheço gente no mercado que é desenhista, ilustrador e está migrando para a facilitação gráfica. Mas o nosso foco não é esse, é informaçao.

• O que você acha da capacitação desses profissionais? Aqui no Brasil e sua experiência nos EUA. Aqui no Brasil eu não conheço como é essa capacitação, eu sei que eu tenho muito cuidado com ela, de vez em quando eu dou curso fechado em empresas, porque nós somos humanos e temos tendência a interpretar as coisas. A formação de um profissional demora de seis meses a um ano, no mínimo! Para trabalhar em empresas como eu trabalho. Você tem que ter um conhecimento mínimo prévio do que eles estão falando, você não pode chegar numa reunião que eles estão falando breaktrue, por exemplo, você precisa saber o que é. No exterior é muito diferente a capacitação também, não existem muitas opções para você se capacitar, e as poucas que tem, eu por exemplo me capacitei com o David Sibbet o autor do livro Reuniões Visuais, eu conheço ele pessoalmente, há oito anos já. Um amor de pessoa. Ele fez jornalismo e faz journaling desde sempre, desde adolescente. E ele tem todos os journals guardados, ele tem mais de 500. Ele numera e guarda na sequência. É muito bacana você estar numa reunião, num evento ao lado dele e ele está fazendo o journal, mas o journal dele é um registro gráfico. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 90


Quando eu fui fazer minha capacitação nos EUA eu aprendi uma forma muito objetiva e muito resumida. Os americanos trabalham com um painel só para o dia todo. Tem que caber. Eles pegam a essencia, da essência da essência. Só. Eles não vão colocar lá a abertura, os passos, uma palavra já resumiu 45 minutos de fala. Isso vem da cultura norte americana. Na cultura latina, por que eu sou latina e moro no Brasil, não é assim. Os latinos são prolixos, gostam de falar, sao redundantes, a lingua hispânica, o espanhol, é muito redundante! Você tem que colocar todos os detalhes, mais até que o português. Inglês é lingua objetiva, quando eu fiz minha formação lá fora eu aprendi a cultura americana de fazer. E cheguei aqui para fazer esse trabalho e não foi muito aceito. Eu tive que adaptar a formação que eu tive lá fora para a cultura brasileira latina. Como eu trabalho muito fora do Brasil na América Latina, eu tive que adaptar, colocar mais informação, mais detalhe, mais cor. Os americanos usam duas ou três cores, eles olham o meu trabalho e falam “Uau, como você consegue combinar tantas cores? maravilhoso”. Na América Latina é assim, gostamos de cor, de detalhe, de informação. Eu adaptei e criei uma metodologia minha aí eu criei o meu universo de organizar a informação, de análise de sistemas, e tudo aquilo que eu já trabalhava antes, por isso que eu agreguei. Juntei os dois universos. Porque só a formação lá de fora não foi suficiente para sustentar nesta cultura brasileira nativa. Agreguei outras ferramentas e muito da minha personalidade também para fazer o trabalho que faço hoje de uma forma que as pessoas aceitem, comprem! Sobre a formação tem uma outra coisa bacana sobre a formação. Tem uma entidade chamada Kaos Pilot (pilotos do caos, em português), que fica na Dinamarca. É uma formação com jovens, de no máximo 20 poucos anos de no máximo 10 meses. E você aprende a facilitar grupos, lidar com técnicas de dinâmicas de grupo, inclusive facilitação gráfica.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? Eu acho que mapear o mercado e mapear as áreas onde cada um pode atuar. Eu acho que cada um pode atuar no seu melhor. Imagine se eu fosse uma pessoa só de tecnologia e quero entrar nessa área, poxa, eu posso focar em empresas de tecnologia, assim cada um pode dar o seu melhor e dar o melhor de si, por que, de novo, para mim o mais importante é servir ao grupo. Como que eu posso servir melhor aquele grupo? Tem alguns trabalhos que, se você não tiver segurança é melhor falar não. • Você já participou de algum congresso de facilitadores gráficos, o que achou? Sente falta de eventos assim no Brasil? Eu já participei de sete congressos, desde que eu descobri que isso existe e faço esse trabalho eu participo desses encontros. Tem pessoas do mundo todo, começou com dois ou três países, e eu era a única representante da América Latina, agora temos 15 países representados nesse congresso e apareceram outras pessoas do Brasil, como o Massao, a Flávia… É bem bacana, mas de novo tem que guardar as proporçoes para nossa cultura latina americana. Por exemplo, todo ano eu tenho por hábito fazer um brinde para os clientes. E os americanos acharam super inovador. São técnicas diferentes por que a cultura é diferente, eu preciso que os meus clientes lembrem de mim. Lá (nos EUA) eles já tem esse mercado desenvolvido há 38 anos. David Sibbet foi um dos pioneiros! Ele criou isso praticamente. Sou apaixonada por esse trabalho e no primeiro congresso que eu participei nos EUA eles entrevistaram as pessoas “O que você acha da facilitação gráfica no futuro no mundo?” e eu respondi “Olha, eu acho que facilitação gráfica é uma coisa que no futuro a gente não vai viver sem”. Eu sustento isso, eu acho que é susA Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 91


tentável, é saudável, e que alguém em algum momento nesses encontros seria bacana ter alguém registrando visualmente. Não precisa ser com toda essa pompa, com um papel deste tamanho, pode ser num A4, num flipchart…. é bacana ter esse registro. • Facilitação gráfica no mundo Eu posso falar um pouco dos oito anos que eu conheço facilitação gráfica no mundo no mundo você percebe pessoas de todas as idades fazendo. Então tem pessoas de 60 anos. Trabalhos sem desenhos, com desenhos, sem cor, ou só com uma cor, tipo um relatório mesmo. Em japonês feitos da direita para a esquerda, em kanji. Em duas cores, tipo preto e azul e preto e laranja. Tinha um americano que foi ilustrador por 25 anos e eu perguntei para ele por que só usava duas corespara trabalhar. Ele contou que quando começou não tinha dinheiro para comprar caneta. Então ele só tinha preta e só poderia comprar mais uma cor. Então fez o trabalho tudo em preto com detalhes em azul. e fica lindo. Conheço australianos que fazem, japoneses, argentinos, americanos, colombianos, dinamarqueses. Conheço pessoas do mundo todo! Da Bélgica, da Holanda, Cingapura. E cada um tem seu estio. Tem gente que desenha mais, tem gente que desenha menos, tem gente que desenha menor. Tem de tudo.

Por isso que o cavalete é de pé, mesa não funciona, porque quimicamente você está fazendo outras coisas aqui no cérebro. É quimica do cérebro, você cria melhor, oxigena mais o cérebro. você tem que treinar escrever aqui na horizontal, porque você não tem o apoio que você tem numa mesa O que eu aprendi, o que eu acho que faz a diferença nesses eventos é a informação, é o resgate que você faz dessa info e a retenção maior que você faz quando a gente está ali, e só um desenho não diz isso, se você abrir um painel dois anos depois você tem que ser hábil de lembrar ou ver o que aconteceu ali. com meu painel você ve, mas com um desenho desse você só tem o desenho. Quem não estava no evento não vai nem entender. Meus painéis as vezes o presidente chega só para fazer o encerramento, ai ele vem, lê tudo e diz “ah, na swot vocês colocaram isso, ah vocês acham q é fraqueza, eu achava que era oportunidade…” e já pega o gancho e dá a mensagem que ele quer passar. A seguir, exemplos do trabalho da Donatella.

• Por que o registro de reuniões funciona? Funciona muito porque você vê que a função, por isso meu foco não é desenho, que a função é a informação. Fica mais bonito porque a imagem ancora e fortifica aquele conceito. Tem um estudo da universidade de Stanford, feito ano passado ou anterior, que foi citado no congresso esse ano, que tem um estudo onde viram que se tem facilitador gráfico na sala a audiência, o público, retêm 30% a mais do conteúdo. Isso muda a dinâmica da coisa. E o cérebro funciona melhor se você está assim (olhando para baixo) ou assim (olhando para o horizonte). A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 92


Figura 65 - Registro da palestra do Flavio Maneira, disponível em http://on.fb.me/1hPN6KS

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Figura 66 - Painel para a Febraban, disponível em http://bit.ly/1hpfEOJ acesso em 30 de março de 2014.

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Figura 67 - Painel sobre engajamento com base na palestra de José Carlos Cunha sobre engajamento de pessoas. Disponível em http://on.fb.me/1pECd2F acesso em 30 de março de 2014

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FERNANDA COSTA DE PAULA Fernanda Costa de Paula é pedagoga e estudou design instrucional. Ela e a irmã, Flávia Costa de Paula trabalham juntas desde 2011 com facilitação gráfica. Flávia tinha uma consultoria aberta em empreendedorismo e treinamento e Fernanda outros projetos em pedagogia. As duas irmãs foram saber mais sobre a facilitação gráfica juntas, mas Fernanda paFigura 68 - Fernanda. Arquivo pessoal rou por um tempo por conta da maternidade. Quando voltou, Flávia, que tinha desenvolvido melhor, a levou para eventos como aprendiz e agora elas são sócias na Regência Consultoria. A empresa, criada em 2006, passou por uma reforma na marca e estratégia de negócio devido ao crescimento dos pedidos de facilitação gráfica da dupla. Para Fernanda, o bom de trabalhar em dupla é poder dividir os clientes e absorver mais a demana crescente. Ela concedeu esta entrevista por Skype no dia 28 de outubro de 2013 • O que é facilitação gráfica para você? Eu trabalho muito com a facilitação gráfica dentro do contexto de aprendizagem, já que eu sou pedagoga. Fazer mapa mental, de como você sistematiza as ideias e os fluxos, eu tenho este olhar para facilitação gráfica, o olhar de aprendizagem mesmo, de con-

ceito, conteúdo, e não tanto a parte estética de arte ou de coisa gráfica só. Talvez alguns profissionais tenham mais este enfoque. • Como você define seu estilo de facilitação gráfica? Eu me considero um facilitadora mais conteudísta. Bem focada na mensagem. Sou bem preocupada com a veracidade da mensagem, do que as pessoas estão falando. Assim, tem duas coisas, dois pontos da minha facilitação gráfica que são bem clássicos: 1- Eu me preocupo bem com o que as pessoas estão falando, eu coloco as frases literalmente do que elas estão falando, entre aspas, muito balãozinho, muito da parte humana que está lá. 2 - Eu gosto muito de usar humor, sempre que tem alguma coisa divertida eu vou colocando, principalmente as metáforas. Mesmo numa reunião difícil, numa reunião pesada, em sempre procurei extrair um pouco de humor, colocar alguma coisa engraçada que rolou, eu gosto de representar isso na Facilitação. Sou mais focada na mensagem, eu não sou tão artista. Eu e Flávia seguimos no mesmo estilo. A gente trabalha muito com a questão do suporte. A facilitação gráfica como suporte para a aprendizagem, para grupos, para a questão de sistematizar conhecimento, organizar conhecimento através do fluxo de mapas. Nós temos dois tipos de clientes, tem a facilitação gráfica com foco no conteúdo e aqueles que pedem para você fazer uma coisa visual que tenha impacto, e é quase como se fosse um trabalho de cartoon, ou design. Tem gente que fala em graffiti e quer esse suporte artístico mesmo.

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• Quando você é convidada para esta facilitação, seja numa reunião ou numa palestra, como você se prepara. Primeiro eu faço um briefing bem detalhado com o cliente. Do que ele precisa, qual o objetivo da reunião. No caso da palestra, a gente faz um briefing pequeno, a gente pede para o cliente dizer o que ele vai precisar, se quer uma coisa mais voltada para o visual, ou se quer que a gente colha mais o conteúdo, mas daí a gente faz um briefing menor, porque o foco mesmo é ter o painel mais pela performance do evento. Para um cliente corporativo tradicional, nos preocupamos com o que ele quer de resultado, do que ele vai precisar que a gente foque na reunião. Qual o tipo de abordagem que ele quer que a gente dê para o painel ou painéis, porque geralmente é mais de um. Esta é a etapa 1. A etapa 2 é se preparar fazendo pesquisa de conceitos, entendendo o que é aquela empresa, coisas dele, da área, conceitos chave, a gente faz uma pesquisa grande de desenhos porque isso ajuda muito na hora, como a gente tem que focar muito no conteúdo, desse tipo de reunião, não dá muito tempo de criar a parte de desenho, então, você tem que ir com os desenhos mais ou menos prontos na cabeça. Então, você já vai com um repertório de desenhos que vão casar naquela empresa. Fazemos toda essa preparação de conceitos da empresa e também dos desenhos que vamos usar, preparamos o material, vemos se não está faltando nada. Esse check list é importante, e só. E quando é um facilitador de grupo parceiro que vai trabalhar, as vezes fazemos uma reunião presencial com essa pessoa, porque as vezes temos que alinhar bem alinhado o workshop. Tem facilitador que pede para construirmos juntos esse workshop. Ou seja, o nosso tempo de trabalho não é só lá não. Tem bastante coisa antes.

• Quais os setores que você mais atua? Eu trabalho muito com empresas, fazendo reunião de planejamento estratégico, moderando conversas de grupos, entre áreas, teambuilding de empresas, dentro da facilitação acho que sejam 80% dos trabalhos que a Regência faz, isso eu e a Flávia. E eu tenho um cliente grande na área da educação, que é uma ONG, a Parceiros da Educação, que nos paga para fazer um trabalho mensal na Secretaria de Educação. Eu faço muito pouco oficina, assim, oficina de ong, de instituto, muito pouco, a Regência acabou se especializando no público corporativo, como reuniões de planejamento. Ficou meio que um nicho da empresa. • Existe diferença na metodologia de trabalho, quando você faz para essa ong por exemplo, que é uma ong que lida com governo e quando você faz para empresa? Mais ou menos, tem um cliente que eu acabei não falando que agora que eu me lembrei que a gente faz evento. Evento que é: tem, sei lá, seis palestras, no evento fazemos um painel para cada palestra. Isso é bem diferente. Isso a gente faz no Fórum HSM de Inovação, por exemplo. Eu fiz um congresso de governança corporativa uma vez: todo mundo com microfone, as vezes a palestra é em inglês e a gente faz a colheita, nesses casos é uma coisa rápida e você tem pouca interação com o grupo, tem pouco contato com o público, você está lá trabalhando, colhendo e pronto acabou, é uma coisa mais fria em relação à plateia, embora depois a platéia venha falar com a gente, mas no geral eles veem você trabalhando mas não interferem no papel. Em todos os outros trabalhos que fazemos, mesmo este que faço para a Secretaria, são aqueles que a gente interage direto, a gente faz o painel junto. Então o painel faz parte do processo de desenvolvimento daquela conversa, ou as pessoas em algum moA Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 97


mento vão colar Post It nele, ou fazemos a colheita de um Word Café (outra ferramenta de facilitação de grupos), organizamos as informações e as pessoas vão lá e leem e o facilitador do grupo, por que normalmente a gente trabalha com o facilitador do grupo, o facilitador vai lá, lê, mostra para o pessoal, então rola uma interação muito boa, é muito legal fazer quando é assim. Este facilitador de grupo normalmente é alguém contratado. Às vezes o grupo faz uma reunião com uma conversa só entre eles, sem facilitador, mas na maioria das vezes que eu trabalho é um facilitador também consultor. Por que a gente faz muito trabalho em empresa, e daí com facilitação gráfica e um consultor, para fazer uma intervenção no grupo. Nesse caso a facilitação gráfica faz parte desse processo. Pode ser um treinamento, um team building, debate, qualquer coisa. O nosso trabalho tem sido muito usado nesse contexto. É um terceiro elemento e ele é importante! Para nós é um profissional que trás muito trabalho, trás muita demanda! Quem nos contrata é este facilitador. A gente tem mais 4 ou 5 empresas de consultoria parceiras, que nos chamam quando precisam de um facilitador gráfico para construir o workshop junto. Muitas vezes o painel é uma grande tabela que o pessoal vai completando, às vezes fazemos desenhos, outras coisas para ilustrar, mas tem esse perfil a nossa facilitação gráfica. • A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? Eu acho que é mais design de informação que facilitação gráfica ou colheita gráfica, o design de informação em mapas e infográficos é muito legal. Eu acho que as pessoas aprendem mesmo com eles. Porque tem muita gente que é visual, na forma de aprender, então eu acho que tem sentido.

Agora estou fazendo um trabalho para uma empresa no Rio. Uma empresa de logística de navios, eles trabalham para uma empresa de petróleo, nessas plataformas. Eles precisam que a gente crie manuais todos visuais, porque os funcionários não leem. Eles precisam que seja tudo OPL (One Point Lesson), que funciona assim, faz um mapa e você tem uma frase chamariz que vai ser a frase fundamental para ler, passa uma mensagem direta, fundamental e pontual mesmo. Temos que sintetizar tudo na imagem. Os livros infantis trabalham com a imagem há muitos anos. Eu estudei um pouco a relação da da literatura infantil e da importância que a imagem tem nela. É bem diferente dos livros de adulto. A imagem no livro infantil é fundamental, assim, é parte da história mesmo, e eu acho que a parte educacional editorial para a adultos tende a evoluir, que a imagem não seja mais um acessório, que ela seja a forma de passar a mensagem mesmo e sistematizar a informação. Eu acredito que a gente está migrando para uma sociedade mais visual, e isso vai ser cada vez mais uma necessidade. • Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial? Mapas de cultura. Algumas demandas de empresas são você criar um mapa da cultura organizacional da empresa, mas não aquele negócio de hierarquia, mas que seja com mais informações, elementos, dai aquilo vira um quadro, sabe, para a pessoa colocar numa área comum da empresa, nós temos recebido pedidos dessas coisas também, desse tipo de mapa. Isso deve acontecer com quem trabalha mais com a coisa de ilustração mesmo. Mas tem uma empresa com quem a gente trabalha, do ramo farmacêutico, que eles fazem uns livros com o nosso material. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 98


Normalmente entregamos pro cliente só o painel, físico e digitalizado, e eles pegam o digitalizado e transformam em cadernos internos da empresa. Teve uma outra empresa uma fez, que fizemos um grande painel e eles pediram para a gente desdobrar em pequenos paineis com etapas que era para eles usarem nas plantas da fábrica. Eles não iam usar, mas gostaram do jeito que organizamos a informação e falaram ‘não tem como vocês fazerem os paineizinhos?’ Então virou uma cartilha e usaram nas plantas de fábrica para o pessoal analfabeto tal que não conseguia entender aquela informação complexa e era uma informação complexa… Então viraram uns mapinhas baseados no mapão com o conceito todo e a gente não usou praticamente nada escrito. • Você acha que tem profissionais suficientes no mercado? Não, eu acho que tem muita demanda reprimida. Eu acho que a sociedade, principalmente as empresas que são o meu público principal, elas não sabem que existe Facilitação Gráfica e quando descobrem ficam “uau!!” e tem essa demanda reprimida. Talvez existam profissionais suficientes para quem conhece, mas para este potencial todo de mercado que está se abrindo, eu acho que não. A gente já tem a agenda lotadíssima, isso porque pouca gente sabe o que é, e estamos numa época de recessão, nossos clientes são empresa. Imagina numa época que não seja de recessão, com as empresas sabendo o que é… É uma boa área para você investir. O foco não é tanto a questão da estética, de fazer graffiti, cartoon, é saber organizar a informação, sistematizar conteúdo, ouvir…Ouvir é uma das questões assim da FG, ouvir o que o público está trazendo, e daí você filtra e transforma. • O que você acha da capacitação dos profissionais de FG? Na verdade não existe uma capacitação específica, eu não sei se você perguntou se o tipo de formação que tem no Brasil é bom,

que praticamente não existe, uma das únicas pessoas que dá curso aqui é a Mila Motomura, o curso dela é muito bom, o primeiro curso que eu fiz foi com ela. A formação do facilitador gráfico é uma incógnita, como não é uma área definida ainda, como profissão, está se consolidando, também não existe um marco em torno do que é uma formação adequada. Teria que ser pensado. Discutido entre os próprios facilitadores que estão no mercado hoje… Se você cria um curso só de facilitação gráfica, tipo um técnico ou graduação você mata essa formação básica que é importante, porque, dependendo da formação inicial que a pessoa tem, ela vai ter mais habilidade com um dos skills (habilidades) que a facilitação gráfica pede. A escuta é um dos skills, a capacidade de desenhar e ter uma letra legal, tanto de desenho quanto de letra mesmo, é uma das habilidades, e a capacidade de sistematizar a informação. Eu considero estes três temas fundamentais. Dependendo da sua formação inicial você terá forte uma dessas questões, talvez o psicólogo tenha uma ótima escuta, um designer terá uma letra e um desenho espetacular e um pedagogo sabe muito bem sistematizar informação, ler abstrair, como que insere, o que é hierarquia o que não é, aí eu vou complementar com a minha formação depois em outra coisa. Mas eu tenho uma formação base com base nesses skills… Mas tem coisas que você tem que maturar na vida… Por exemplo, tem reunião pesada que a gente faz facilitação gráfica, as vezes de empresa, reunião pesada com assunto denso, que para você segurar 8 horas trabalhando de pé, não é fácil. Você está lidando com temas complexos, às vezes de grandes embates entre grupos, e você precisa transformar aquilo em uma síntese que gere resultado interessante para o grupo se ver lá. Isso exige uma certa maturidade eu acho, de entender pessoas, até de entender a vida. Eu não sei o quanto uma pessoa muito jovem consegue ser um bom facilitador. Por esse aspecto que eu estou falando de ter um A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 99


entendimento do grupo, entender o que está rolando, em algum embate, uma coisa mais profunda é mais complicado de segurar a onda. • O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? Eu acho que mais integração entre os facilitadores, que já são profissionais, para criar espaço de troca que formem as pessoas no trabalho. Eu acho que a facilitação é um negócio que você se forma na prática, mesmo. Eu tive uma professora legal que foi a Flávia, que começou antes de mim e me levou… Depois eu comecei a fazer meu primeiro cliente sozinha, e daí eu fui indo. Então eu acho que tem essa coisa de talvez ter esse caminho de apadrinhar, não só o curso, criar uma escola de aprendizes na prática… A seguir, trabalhos da Fernanda.

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Figura 69 - Facilitação Gráfica em aula da agência C.O.R sobre inovação. Disponível em http://bit.ly/1f7tmlj acesso em 3 de abril de 2014

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Figura 70 - Construção de Equipe e Planejamento Estratégico na SEE - Projeto realizado em Parceria com Nodal Consultoria, idealizado pela Parceiros da Educação. Realizado na Escola de Formação de Professores da Secretaria de Educação de São Paulo. Disponível em http://bit.ly/1hVEh7s acesso em 3 de abril de 2014

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VITOR MASSAO Vitor Massao é um comunicador. Desda a adolescência ele está militância de movimentos sociais, promovendo mudanças por meio da comunicação e todas as suas possibilidades. Há 2 anos descobriu a facilitação gráfica por meio de Figura 71 - Vitor Massao. Arquivo pessoal sua sócia no Coletivo Entrelinhas, Carla Cristina Hirata. Ambos fizeram o workshop de facilitação gráfica de Mila Motomura, referência no assunto, e começaram a trabalhar prioritariamente com movimentos sociais e políticas públicas. Mesmo trabalhando como consultor em educomunicação e comunicação comunitária, Massao passou a adotar o título de facilitador gráfico para legitimar a profissão. Ele concedeu esta entrevista por skype no dia 5 de dezembro de 2014 • O que é facilitação gráfica para você? Trata-se de uma colheita visual. Acima de tudo é um processo para ajudar as pessoas no desenvolvimento de uma ideia que aconteceu no grupo. Temos que partir muito da ideia de que tem pessoas que são mais visuais, que são mais orais, e como que a gente consegue conectar mais as ideias. Então, é um processo para poder conectar as ideias e facilitar a visualização para todos. A colheita vai muito nesse sentido, de como fazer as pessoas perceberem melhor, terem uma visão sistêmica do que está sendo discutido.

• Então a facilitação a gente também pode chamar de colheita? Tem várias expressões e funções também, tem registro gráfico, tem gente que chama de visual thinking, eu considero a facilitação diferente do registro gráfico; normalmente as pessoas chamam para fazer registro gráfico que é apenas registrar o conteúdo, seja de um palestrante, seja um debate. Eu acho que a facilitação, ela exigi uma interação maior, e tem um propósito que muitas vezes é uma medida de conteúdo, que é se onde se quer chegar com aquele grupo, não em termos de conteúdo, mas em termos de caminho. A facilitação está muito nesse papel de alinhar esse moderador, mediador de conteúdo, para melhor estimular o conteúdo. As vezes, não necessariamente, eu registro o que as pessoas conversam, as vezes eu boto na verdade provocações para aquele grupo, porque tem um objetivo deles chegarem numa discussão x. Isso tem que estar alinhado, por isso acho que é uma facilitação… • Você se apresenta como Facilitador Gráfico? Geralmente é assim, quando perguntam eu explico sabe aquele assim “tá complicado quer que eu desenhe?” eu faço a parte do “quer que eu desenhe”. Eu tenho me apresentado cada vez mais como facilitador gráfico. eu acho que isso é muito legal porque é uma, inclusive é uma ação de legitimar a profissão. É para perceber que profissão não é só o que vem da academia. como a gente começa a legitimar essas profissões, mas isso gera problemas, inclusive financeiros, porque a gente não tem CNPJ, não tem um código do CNPJ de Facilitação Gráfica. Brandy [Agerbeck] fala muito e eu gosto que é isso “facilitação gráfica é 80% processo e 20% produto” quando a gente está falando 80% de processo a gente está falando das pessoas, de quem está lá convivendo naquele espaço, que é o que eu vou investir naquela facilitação. quando a gente está falando em 20% de conteúdo, A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 103


a gente está falando do facilitador gráfico. então é isso assim, ter essa clareza de porque a gente está lá, a gente está lá por conta de um processo, o próprio [Coletivo] Entrelinhas tem uma coisa que a gente não assina os trabalhos, a gente pede que as pessoas, porque tem gente que assina mesmo, deixa o nome e tudo mais. e a gente sempre está numa ideia de que todos os paineis estejam em Creative Commons até por uma ideia de democratização da informação, então acreditamos no Creative Commons como uma ideia de estimular e incentivar mas acima de tudo é perceber que o que a gente está fazendo é uma extensão das pessoas que estão lá, então não é nosso painel, é uma visão nossa, mas não é nosso é daquelas pessoas que estão produzindo no evento, então não assinamos. • Quando foi que você começou a trabalhar com a Facilitação Gráfica. Em 2012 faz dois anos para três anos que eu estou completamente dedicado para isso. Ainda faço consultoria para outros assuntos, mas estou focado nisso. Eu comecei há três ou quatro anos. A Facilitação Gráfica existe há uns seis ou sete, no Brasil, então dentro desta medida estou bem. Eu já atuava com a questão do audiovisual, pensando em educomunicação e comunicação comunitária, então eu sempre atuei com isso e isso me deu muita base, o que muda é meu jeito de mostrar isso, mas isso (a educomunicação) me deu muita base e de certo modo eu atuava de um modo diferente, que eu não considero facilitação gráfica, mas que me preparou para isso. Se analisar nesse contexto, já faz mais de 10 anos. • Quando você faz a facilitação gráfica é sempre com esse mediador presente também para ajudar a conduzir ou é você sozinho? Não. E sempre por uma questão de que o Brasil ainda não ter

percebido os potenciais e é muito novo, não é sempre não. Tem vezes que temos que tomar a frente e tem vezes que é puro registro gráfico mesmo. Isso não é uma regra, pelo contrário, é uma raridade assim. Normalmente não somos chamados para construção metodológica, convidam a gente na última hora e meio que faço a programação. Quando já está tudo definido [no evento] temos que nos adaptar e fazer o melhor trabalho possível. Isso quando não passam tudo em cima da hora, no mesmo dia. Tem um exemplo muito legal foi o “Como vira a sua cidade” da Virada Sustentável. Era uma apresentação de 50 e poucos coletivos de intervenção na cidade de São Paulo, debatendo a questão da relação da cidade, e a sustentabilidade na cidade. Se a gente fosse lá só para fazer o registro a gente ia só aparecer e pegar o que as pessoas estavam falando. Como a gente participou da reunião prévia, chegamos com a construção da metodologia e já levamos um painel semi pronto, de uma cidade cinza já desenhada em linhas e as pessoas chegavam e ja viam aquele painel sem entender muito bem por que, vendo aquela cidade, e aí, conforme os coletivos iam se apresentando a gente ia mudando a cidade na frente das pessoas, a cidade ia ficando colorida. E iamos mostrando as intervenções e você via a mudança na cidade, pela facilitação gráfica.Você gerava essa mudança. e isso só era possível porque a gente viu antes, conversou antes de forma coletiva, não era só o registro. • Você começou a fazer a facilitação gráfica depois que você fez o worshop com a Mila Motomura ou você fazia antes? Eu já tinha feito dois trabalhos antes do curso da Mila, de Facilitação Gráfica mesmo. quem tinha me chamado foi a Carlinha, que já tinha feito o curso e sugeriu fazermos algo diferente.Ela me passou uma base e nós fizemos dois trabalhos se eu não me engano. Um foi para uma questão da Copa do Mundo, abordando essa questão do abuso sexual de crianças e adolescentes durante a Copa e outro foi um evento sobre nutrição. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 104


Depois eu fiz o curso da Mila, que foi super importante, inclusive de entender várias coisas, inclusive de entender minhas próprias anotações no caderno, que de certo modo era uma facilitação gráfica, mas era para mim e a gente tinha que perceber como eu estava fazendo isso para os outros. Isso muda muita coisa para a linguagem, inclusive de percepção para o outro. Eu acho que fazer o curso da Mila para mim, foi legitimar várias coisas, foi me empolgar para várias coisas, foi abrir meu campo de visão. Vamos fazer uma amarração com a teoria que eu já tinha vivido.

paro, vamos ao evento, fazemos o trabalho depois eu digitalizo o material, a gente trata as imagens, inclusive mexe nas cores alguma coisa. Não é readequar conteúdo, mas é meio, deixar mais harmônico. Porque, como a gente faz na hora, algumas coisas não ficam harmônicas na hora, então eu dou aquela arrumada e entrego digital para as pessoas. Eu dou o arquivo e entrego os paineis quando solicitam.

• E você tem uma diferença de metodologia de registro ou preparação quando vai trabalhar com um ou com outro grupo?

Eu sou mais visual, definitivamente. E o legal de trabalhar com a Carlinha é que eu mexo com o conteúdo, mas eu sou mais visual, e a Carlinha mexe com o visual mas é mais conteúdo. O mais interessante de trabalhar em dupla é que a gente balanceia, fica uma coisa mais equilibrada entre conteúdo e visual.

Depende muito de quem chama. Eu sempre tento oferecer ou fazer algo a mais, se vem no sentido de movimentos populares e tal, por exemplo eu faço trabalhos para o Senac, para o Sesc, que ainda está dentro de um mesmo núcleo, ainda dentro de uma ideia de perspectiva da construção dentro da área de educação e do desenvolvimento local e da ideia do diálogo e da participação política, está tudo permeando esse campo.

• Como que você define o seu estilo de facilitação gráfica?

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

• Como que você se prepara para um trabalho, você tem algum procedimento….?

Eu acho que o visual sempre ajuda na real, né… Manual é uma coisa que sempre ajuda, a própria ata super ajuda. Eu acho que de certo modo facilitação gráfica pode se encaixar em qualquer coisa, até em matemática. E eu gosto de falar do Ladislau Dawbor, porque ele é um economista que consegue falar com imagens, que economista consegue falar com imagens? E o Ladislau muda a mente com imagens, é lindo ouvir ele falar de economia, e o fato dele falar com imagens torna a coisa muito mais clara para muitas pessoas, onde economia é uma coisa fechada, sabe, uma coisa difícil de entender, então eu acho que tem essa coisa que é muito bacana, e eu acho que sim, partindo do princípio que tem pessoas que são mais visuais que orais, que lógico, a facilitação gráfica sempre vai ajudar de alguma forma.

Eu normalmente levo o material, quando dá eu vou antes para ver o espaço, na verdade raramente isso é possível… Eu me pre-

O recurso visual sempre vai ajudar de algum modo, eu não saberia dizer em alguma coisa específica, mas a ideia é sempre ajudar

Eu acho que essa questão da metodologia vai muito do espaço que você tem para a metodologia. Então, se você falar para mim o que eu gosto de fazer enquanto metodologia eu gostaria muito de participar desde as construções metodologicas, pensar novas formas, formas de atuar com o grupo, pensar em ambientes também, não é só pensar que o registro ficará na parede, mas como esse ambiente interage com as pessoas, provocam as pessoas, as vezes são só estímulos. Eu gosto de construir junto…

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 105


a passar a informação. Como fazer as pessoas perceberem… O nosso pensamento não é linear, acho que a partir do momento que estamos pegando uma publicação e ela é toda linear, a publicação por si só te força a ter esse pensamento linear, de uma coisa atrás da outra.

Eu sou super a favor do crescimento dos profissionais, acho que tem muito lugar que ainda não tem, tem muito lugar que eu me questiono porque eu estou indo por falta de profissional. Tem muitos estados sem profissional nenhum! E eu acho que tem que começar a investir para crescer isso aí, para disseminar.

Então a facilitação gráfica numa publicação, tem que perceber essas conexões é trabalhar no ritmo que trabalha o cérebro, é gerar essas conexões. Então ela contribui inclusive por essa maneira limitada que a gente tem de escrita.

Acreditamos que a partir do momento que começamos a ter essa visao mais sistêmica, começamos a procurar também novas soluções e isso ajuda no próprio reencantamento do mundo, na nossa missão está a questão da difusão da facilitação gráfica. A gente quer difundir o máximo possível a facilitação gráfica, a gente mesmo, já faz algum tempo, estamos começando a pensar em fazer um curso específico, pensando em movimentos populares, a ideia não é fazer as pessoas virarem facilitadoras gráficas nesse caso, mas ter esse conhecimento pode, de repente, ajudar dentro dos movimentos populares.

• Trabalhos seus já serviram de inspiração para projetos editoriais? Já aconteceu de tudo, já virou catálogo, teve gente que saiu em publicação, saiu em revista da ESPM, já virou até capa, teve uma facilitação gráfica que virou capa do Movimento Nossa São Paulo, teve gente que desmembrou e fez virar ilustrações separadas, teve gente que já mandou fazer um banner e pregar na parede, teve gente que enquadrou. Então ja fizeram de tudo com o resultado desse material. • Você acha que tem profissionais de Facilitação Gráfica suficientes no mercado? Eu acho que eu tenho uma visão diferente das pessoas, eu já disse que conhecimento tem que ser disseminado acima de tudo. Então, é, tem muita gente falando “ah, agora deu um boom a facilitação gráfica” só que eu não acho que ela deu um boom, a minha visão é está tento mais demanda que profissionais. E eu acho que tem que ter mais profissionais qualificados e ao mesmo tempo que está nesse meio, nesse espaço que ainda está sendo definida o que é facilitação gráfica no Brasil. Não só no Brasil como na América Latina.

• O que você acha da capacitação dos profissionais da facilitação gráfica. Bom, você praticamente não tem opção de curso de facilitação gráfica no Brasil, já começa por aí.... A Mila é uma grande referencia, mas eu volto a dizer, eu acho que a facilitação gráfica ainda está se constituindo no Brasil e está se constituindo pelos saberes que tem. agora a gente está começando a formar uma coisa que é a cara da facilitação gráfica no Brasil e que vem desse acúmulo de vários saberes e que de um certo modo é muito legal, que não é aquela coisa engessada que muitas quando eu vejo a facilitação gráfica lá fora dos outros países é uma coisa muito engessada com muitas regras e a gente não, tem uma versatilidade de saberes no sentido positivo, e é muito América Latina isso. E tem muita relação com nossa história de ocupação de muros, né? A América Latina como um todo tem uma forte relação com o visual com as cores, então, eu acho que estamos começando a constituir isso aí..

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• Você já participou de algum congresso de facilitação gráfica? Sente falta de eventos assim no Brasil? Participei em NY, foi demais, legal, porque lá fora existe há mais de 30 anos essa profissão, e de repente, estar conversando com essas pessoas que atuam há mais de 30 anos é bacana. É legal ter outras visões, e ter visões críticas sobre isso. Em alguns lugares é uma coisa mais engessada, e tem a ver com culturas diferentes. Por exemplo, fazer facilitação gráfica para um alemão é uma delícia, porque alemão só fala o necessário. Agora fazer com os brasileiros que querem contar tudo! Só isso gera uma diferença, é legal porque eu acho que trouxe um pouco essas diferenças. O congresso trouxe essa perspectiva de entender melhor nosso trabalho, conversar com outras pessoas. Teve até um movimento do “não se sentir sozinho” eu nunca tinha visto tanto facilitador gráfico junto, isso foi muito legal, e essa troca de ideias, troca de conhecimentos... E outras maneiras, outras maneiras de usar ilustração de atuar com organização de conteúdo, eu acho que foi muito legal. Eu vejo muito necessário (isso) no Brasil, e eu tenho um desejo além, que é um desejo de fazer uma coisa mais latino americana, eu acho que na América Latina surge mais ou menos na mesma época a Facilitação Gráfica. A Argentina surge agora, Colômbia vem na mesma hora, está todo mundo começando agora. A gente já, inclusive, começou a dar formação no Paraguai. E eu acho que tem uma coisa muito rica, eu sou um cara que acredito muito nessa questão da construção da América Latina como um todo. E aproveitar esse movimento que estamos crescendo, estamos começando, para aproveitar pra trocar ideias. Então eu vejo muito necessário conhecer outros profissionais, outras maneiras de atuar, ver o que cada um está fazendo, depende das pessoas. Nas próximas páginas, exemplos do trabalho do Massao. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 107


Figura 72 - [Anotação em caderno] Prosa com os realizadores do documentário EU MAIOR — com Andre Melman. Disponível em: http://on.fb.me/1nx8M2T. Acesso em 2 de abril de 2014

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Figura 73 - Encontro de Sustentabilidade do Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco. (Vitor Massao Guarani Kaiowá e Carla Cristina Hirata Miyasaka). Disponível em: http://on.fb.me/1iznndD

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 109


mila motomura

Figura 74 - Mila Motomura, arquivo pessoal.

Mila Motomura é psicóloga por formação, facilitadora gráfica, designer de informações e também educadora, por ser a primeira profissional no Brasil a desenvolver uma formação em facilitação gráfica. Ela trabalha com design de informações desde 2002. Mila é o elo que liga todos os facilitadores gráficos justamente por ter este curso. Ela concedeu esta entrevista por e-mail no dia 20 de janeiro de 2014.

• O que é facilitação gráfica para você? Facilitação Gráfica, para mim, é um dos ramos do “Design de Informações”. Se considerarmos o Design de Informações todo tipo de trabalho gráfico planejado (que une desenhos e textos) que ajuda o leitor a compreender informações de uma forma mais fluida e intuitiva (infográficos, mapas mentais, mindscappings, charges, etc.) a Facilitação Gráfica é a arte de usar o design de informações em grandes telas/projeções para ajudar grupos a tornar seus processos mais visíveis, claros e memoráveis. • Qual sua formação? Me formei em psicologia na Puc - SP, fiz pós-graduação em análise bioenergética no IABSP (Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo) e em vegetoterapia com Maria de Melo e Gino Ferri. Atendi na clínica psicológica de 2002 a 2012.

• Quando começou a trabalhar nesta área? Trabalhei no Centro de Saúde de Pinheiros (de X a Y) dando oficinas de arte (usava a arte como ferramenta de linguagem com jovens em situação de risco) e foi aí que a linguagem artística como ferramenta de comunicação começou a entrar na minha vida - isso sem contar minha adolescência, onde eu trabalhava meus cadernos graficamente e tinha muitos pedidos de xerox todos os dias. Meu primeiro trabalho como Designer de Informações foi em 2002 no Projeto Jovens da Amana-Key. Depois disso fiquei muito tempo sem fazer nada oficialmente, mas sempre era a “anotadora profissional” por onde eu passava, inclusive nos meus trabalhos seguintes que eu tive. Em 2007 fiz o programa Guerreiros sem Armas do Instituto Elos para jovens empreendedores e trabalhei nessa ONG de 2008 a 2009 desenvolvendo metodologias de jogos sociais. Saindo do Elos comecei oficialmente a trabalhar com facilitação gráfica num evento do Alan Kaplan, no Hub SP. A partir desse evento os convites foram surgindo e até hoje a única propaganda que eu tenho é o boca-a-boca. Em 2010 nasceu a MooM - tecendo o invisível, minha empresa de Design de Informações. Atualmente, além de fazer Facilitação Gráfica, produzimos vídeos, damos cursos, desenvolvemos ferramentas gráficas de trabalho em grupo e temos alguns produtos diferentes de design de informação. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Atuo atualmente mais na área da Educação, Meio Ambiente, Saúde e Social. Meus principais trabalhos foram para a Fundação Telefônica, Instituto Unibanco, Tedx Amazônia, Arapyaú, Secretaria de Assistência Social de Vargem Grande Paulista, de Araçatuba, Instituto Arredondar, Projeto Eu Maior. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 110


Não existe diferença na metodologia, apenas mais paixão quando trabalho esses temas. • Ao ser convidada para fazer um painel/mapa de ideias, como você se prepara? Entro no site do meu contratante, pesquiso sobre ele, estudo o material que o cliente me envia, faço reuniões de planejamento e/ou esclarecimento e no dia faço alianças com colaboradores da própria empresa que possam me assessorar em termos de conteúdo, quando necessário. • Como você define o seu estilo de facilitação? Humor, boas sínteses, bastante conteúdo e alta qualidade gráfica. A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? (teóricos, ficção, romances, didáticos…) • Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial? Sim. Especialmente livros/revistas que trazem conteúdos complexos difíceis de serem visualizados com facilidade. Metodologias complicadas, pesquisas, informativos. Mas qualquer tipo de conteúdo pode ser facilitado por um trabalho gráfico. Eu diria que só não o usaria em livros onde a imaginação é mais importante que a compreensão . Quando o desenho estraga a riqueza do que o leitor pode imaginar? Super interessante, a revista. Tem um trabalho de design de informações incrível e impecável. Meu trabalho já migrou para

publicações da Fundação Telefônica, Instituto Amata, Vale, Prattein. • Você acha que existem profissionais suficientes no mercado? De alguma forma o número de profissionais no mercado vai fazendo com que a demanda aumente - e os clientes enxerguem os benefícios de termos essa ferramenta presente nas organizações e empresas. Estamos criando esse mercado ao mesmo tempo em que novos profissionais vão surgindo. Mas objetivamente minha resposta é não. Não acho que temos profissionais suficientes no mercado. Muitas vezes clientes nos procuram e não podemos atender, indicamos todos os bons profissionais que conhecemos e ainda assim o cliente não consegue ser atendido. • O que você acha da capacitação desses profissionais? A capacitação hoje em dia, aqui no Brasil, é principalmente dada por mim. É básica, suficiente para que a pessoa tenha uma idéia do que é a Facilitação Gráfica e tenha referências para se aperfeiçoar sozinha. Ainda não temos uma formação completa, onde a pessoa entra no curso e sai uma profissional competente. Ela precisa ralar muito sozinha para chegar a um bom nível para entrar no mercado. • O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena? No que depende de mim, falta ter certeza do uma formação plena, construir conjuntamente ceiros algumas linhas guia de boas práticas se profissional, e fôlego para empreender mais

que significa com os parpara a clasesse projeto.

Confira nas próximas práginas o trabalho de Mila. A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 111


Figura 75 - Criação de 10 Fluxogramas para publicação de combate ao Abuso Sexual. Novembro 2011

Figura 76 e 77 - Frames do vídeo produzido para a Coral Tintas, com narração como suporte

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Figura 78 - TedEX Amazônia - Bloco “Estar Melhor”. Fevereiro 2011

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WÂNIA BORGES

Figura 79 - Wania Borges. Arquivo pessoal.

Wânia Moreira Borges tem 27 anos e mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Artista visual, estudou na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e seu trabalho de conclusão de curso foi sobre facilitação gráfica.

Ela atua na área desde 2011 e ainda não tinha participado de nenhum congresso ou evento de facilitadores gráficos no Brasil, ou no exterior. Esta entrevista foi concedida por e-mail no dia 31 de outubro de 2013. • O que é facilitação gráfica para você e como você “aprendeu” a fazer? Facilitação Gráfica ou registro visual é uma maneira inovadora de ilustrar conteúdos e conceitos. O intuito é comunicar uma ideia ou transmitir uma mensagem por meio de imagens e apelos visuais. Fazer facilitação é treino, saber ouvir, pensar, organizar e desenhar, colocar de forma visual e organizada uma informação. Isso exige dedicação e pode ser iniciado de modo informal, numa sala de aula, palestra, qualquer lugar onde você pode pegar informações.

Com o tempo o interesse por referências bibliográficas é natural, mas uma coisa que percebi é que cada um segue o caminho que se sente bem, uns procuram referências voltadas para conteúdos que tem relação com a parte mais artística, outros referências sobre comunicação, enfim, com o tempo você descobrirá qual o melhor caminho a ser seguido. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Realizo registro visual praticando diversas metodologias, tudo ao vivo. Também faço paineis interativos, para facilitar a visualização de conteúdos complexos. O registro visual ao vivo exige planejamento e acesso ao conteudo, já que tudo é realizado ao vivo. Se tenho acesso a todo o material, consigo fazer um trabalho mais organizado. Caso não tenha, o trabalho acontece, mas de acordo com o ritmo e complexidade do assunto. • Ao ser convidada para fazer um painel mapa de ideias, como você se prepara e como você define o seu estilo de facilitação? Primeiro preciso conhecer o conteúdo proposto, depois preciso escolher um esquema mais adequado para unir as ideias e conteúdos. Estou utilizando recursos mais coloridos e que lembrem a infância ou remeta a alegria, fazendo com que as pessoas se identifiquem no painel, gerando descontração e risos por detectarem semelhanças pessoais no trabalho. • A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial? A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 114


tece com a utilização dos ícones gerados durante um evento ou palestra para ilustrar cadernos ou cartilhas. No meu ponto de vista para todos os tipos de livros, mas principalmente para livros didáticos e teóricos. Um bom exemplo disso é o trabalho que foi realizado na base de estudo da UFMS no Pantanal, o Fórum de Inovação da FGV-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo – Fundação Getúlio Vargas), que promoveu o Encontro de Inovação sobre sustentabilidade em 2012, o registro visual que realizei nesses dois dias foi utilizado para ilustrar o Caderno de Inovação volume 3 do evento. Também estou fazendo ilustração para livros. • Você acha que existem profissionais suficientes no mercado? Acredito que é uma nova profissão, que está conquistando o gosto de outros profissionais. E isso se intensifica com a divulgação dos facilitadores gráficos existentes. Acredito tambem que nas regiões de São Paulo e Paraná existam mais profissionais e isso ocorre por serem as pioneiras no país. • O que você acha da capacitação desses profissionais? Por ser uma área nova, ainda existem poucos cursos disponíveis. Todos estão buscando. Precisa-se deslocar para o exterior para se ter um ótimo treinamento. Mas para quem está começando, existem cursos bons, com profissionais brasileiros que estão um bom tempo atuando na área, principalmente em São Paulo, Capital. Todos apresentam um trabalho de qualidade e diferenciado. Exemplos do trabalho de Wânia. Disponíveis em http://bit.ly/1h6Sisy, acesso em 29 de março de 2014) A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais 115


Figura 80 - Registro Visual do Evento 4° Geração de Empreendedores. Registro Visual realizado no Evento 4° Geração de Empreendedores no dia 04-09-2012, no Armazém Cultural pelo SEDESC. O painel atingiu 6 metros de comprimento por 1 metro e meio de largura, registrando o 1°, 2°, 3° e 4° Geração de Empreendedores. O último painel foi representado ao vivo.

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Figura 81 - Registro Visual do Evento Ideias Inovadoras para Líderes Empreendedores - UFMS (Auditório unidade X)

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Figura 82 - Registro Visual do Evento da UFMS e FGV - Fórum de inovação

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CONCLUSÃO

A atividade de facilitação gráfica está no Brasil há cerca de dez anos. Como ela foi chegando pela vivência das pessoas e a inclusão de várias técnicas em algum trabalho que já era desenvolvido antes, muitas coisas não estão padronizadas, como a formação e o preço pelo serviço prestado.

Produto O resultado do trabalho recebe nomes ainda mais variados: colheita, facilitação gráfica, facilitação visual, painel, quadro de negócios, sistematização ilustrativa, ou criativa, mapa conceitual, murais.

Porém, questões mais básicas ainda estão se definindo. Por exemplo o nome que se dá às teorias, aos profissionais e ao produto desenvolvido. Nas leituras em livros, sites, blogs e redes sociais sobre a profissão identifiquei três categorias de termos: as “teorias” usadas para explicar o que é facilitação gráficas; como os profissionais se definem; que nome dão ao resultado de seu trabalho, o “produto”.

Quanto à produção editorial. Alguns livros foram identificados como contendo elementos da facilitação gráfica em seu projeto editorial, mas nenhum (público) ainda é feito completamente com essa técnica, ou seja, vários painéis (em versão reduzida para impressão) explicando o conteúdo.

Teorias As palavras e expressões usadas para definir a facilitação gráfica costumam ser: lúdico, leve, linguagem visual, organização do conteúdo, inteligência coletiva, pensamento visual, não linear, compreensão compartilhada, registro gráfico, cocriação, técnicas visuais (tabelas e gráficos), aprendizagem. Um processo de diálogo, exploração e comunicação que gera compreensão. Profissionais Eles se identificam como facilitadores gráficos, mas também: ilustradores, designers de fluxos de conversação, de informações, de eventos, profissional visual, registrador gráfico, educador.

Os facilitadores entrevistados para esta monografia indicaram alguns trabalhos seus que migraram para projetos editoriais, como relatórios institucionais, relatórios de reuniões, manuais de trabalho e manuais de conduta de empresas, alguns, infelizmente, sigilosos por trazer informações sobre as empresas que contrataram estes profissionais. A comunicação visual é um caminho. A linguagem rápida da internet e avalanche de informações que recebemos todos os dias nos faz priorizar conteúdos. Uma das formas de escolher sobre o que se informar é a forma como o conteúdo é apresentado. Em abril de 2014 o BlueBus, um site referência sobre publicidade e cultura digital, publicou um artigo (pequeno) e um vídeo info-

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gráfico sobre o crescimento de vídeos na internet. O vídeo tem dois minutos e vinte e um segundos e se chama “Mostre-me algo”. Segundo os produtores um e-mail com um vídeo tem 96% mais chance de ser aberto que um com um link de texto. Nas redes sociais as pessoas estão duas vezes mais propensas a clicar em um vídeo do que em um link de texto, além disso, 60% do conteúdo virtual circulando pelo planeta, são vídeos. A teoria é que quando estamos olhando para uma tela não estamos raciocinando muito sobre aquilo que é apresentado, estamos apenas pedindo: mostre-me algo. (disponível aqui http://bit.ly/PQOshH acesso em 9 de abril de 2014) Os painéis de facilitação gráfica, ao contrário, não propõem uma postura passiva de seus expectadores. Enquanto são produzidos, colaboram para a construção do processo onde estão inseridos. Quando são produzidos, para alguma palestra, sem muita interferência da plateia, são um registro lúdico e colorido que ajudará os participantes a sempre lembrarem das partes principais do que foi dito. Se colocadas em livros, as facilitações gráficas colaboram com o texto que as acompanham e fazem as engrenagens do cérebro trabalharem mais e melhor.

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