FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ACESSÍVEIS Módulo 3 - Introdução à Informática Acessível _________________________________________________
Professor- cursista: Izaqueu Araújo Silva Teixeira Formador: Lisete Pôrto Rodrigues Tutores: Larissa Sabbado Flores, Daniela Cristine Jantsch e Juliana Brandão Machado
SOFTWARES ASSISTIVOS: POSSIBILIDADES QUE GERAM AUTONOMIA NA VIDA ACADÊMICA E NA INSERÇÃO AO MERCADO DE RABALHO PARA SUJEITOS COM DEFICIÊNCIA MOTORA OU COM MOBILIDADE REDUZIDA
O presente artigo tem por objetivo relatar uma intervenção por meio de softwares assistivos realizada com um aluno com paralisia cerebral. O sujeito alvo da intervenção será apresentado com o nome fictício de Galvão em homenagem ao mesmo, já que ele sonha em ser narrador e comentarista de futebol. Galvão tem 32 anos e apresenta quadro de sequelas de paralisia cerebral por lesão possivelmente isquêmica de período neonatal e com diagnóstico médico baseado no CID 10 – G 80.0 “Paralisia Cerebral Quadriplégica Espástica”. Caracterizada pelo comprometimento grave dos membros inferiores e superiores (REBEL et al, 2010, p. 345). Atualmente, Galvão frequenta a EJA – Educação de Jovens e Adultos em nível de Ensino Médio e por apresentar movimentos descoordenados dos membros superiores não consegue realizar nenhuma atividade que dependa dos braços e mãos, tendo então apoio de segundo professor e em casa depende dos pais para atividades de vida diária. Vale destacar que o sujeito não apresenta deficiência metal, apenas déficit de aprendizagem acadêmica por ingressar tardiamente nos estudos, apresenta boa comunicação verbal e uma intensa vontade de adquirir autonomia.
Quando Galvão não está na escola, passa a maior parte do tempo em sua casa assistindo jogos de futebol e, como já citado, sonha em ser narrador e comentarista desse esporte. Diante disso e da vontade de ser um sujeito autônomo é que a presente atividade foi planejada. O planejamento da atividade teve seu início na avaliação do aluno, a fim de verificar quais os possíveis softwares assistivos seriam adequados no auxílio do processo ensino e aprendizagem, que possibilitasse ao sujeito maior autonomia e oportunizasse a realização de seu sonho. O resultado da avaliação apontou que os softwares adequados para que Galvão possa ter maior autonomia tanto na vida acadêmica, quanto para colocar em prática o seu sonho de ser comentarista de futebol, por hora, são o Teclado Virtual e HeadMouse, podendo ser agregados outros softwares ao longo do tempo, conforme a evolução do processo de aprendizagem do aluno. A escolha pelo Teclado Virtual do Windows se deu por ser uma aplicativo que já vem instalado por padrão no Sistema Operacional Windows – sistema usado no computador da escola e porque, com ele, os sujeitos com dificuldades motoras podem realizar diversas atividades no computador. A utilização do Teclado Virtual do Windows proporciona ao usuário uma digitação rápida, permitindo assim um melhor desempenho. Isso porque, ao digitar vão sendo apresentadas sugestões de palavras na parte superior do teclado e para minimizar o tempo de digitação é só clicar na palavra sugerida. As opções de utilização do teclado virtual escolhido são as mesmas apresentadas pelo teclado físico. Para complementar a possibilidade de escrita, criada com o Teclado Virtual, foi introduzido o HeadMouse, um software gratuito que substitui o uso do mouse físico em um computador. Através dele, o usuário pode controlar o movimento do cursor usando pequenos movimentos da cabeça. Além disso, o sujeito pode realizar todas as ações que o mouse convencional realiza, como: selecionar, clicar, arrastar dentre outras. Basta que o programa seja configurado escolhendo que essas ações sejam comandadas com o piscar dos olhos ou com o abrir e fechar a boca. O HeadMouse foi desenvolvido pelo Grupo de Robótica da Universidade de Lleida, na Espanha. O software foi projetado para que pessoas com comprometimento motor leve, grave ou com mobilidade reduzida devido a doenças ou acidente possam utilizar o
computador para qualquer fim. Basta que, para isso o computador possua uma webcam instalada. A intervenção foi realizada no Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEDE) da escola, já que o local dispõe de uma cadeira projetada para que o aluno tenha maior comodidade. Durante a realização da atividade percebeu-se que alguns ajustes devem ser feitos na cadeira para que o aluno possa utilizar o computador sem agravantes posturais. Tais ajustes foram identificados e informados à pessoa responsável pelo setor, para que fossem tomadas as providências necessárias, a fim de atender melhor o aluno. Imagem 1 e 2 – Identificação de ajustes a serem feitos na cadeira
Fonte: Fotografias feita por Izaqueu Teixeira
Detalhamento dos ajustes a serem feitos: 1 - Encosto da cadeira deve ser melhor ajustado, tendo alargamento das laterais para minimizar os possíveis movimentos involuntários da cabeça, evitando assim problemas posturais; 2 – É preciso adaptar um velcro que imobilize os braços do aluno, pois os mesmos apresentam movimentos involuntários; 3 – É necessário que a proteção identificada na fotografia tenha o seu tamanho ampliado, a fim de firmar melhor o corpo do aluno que tende a pender para um lado, com isso permitindo uma postura adequada; 4 – Como o aluno possui os músculos das pernas rígidos é preciso que seja providenciado um velcro que prenda as pernas na cadeira; 5 – A estrutura da parte traseira do encosto de cabeça precisa ser ampliada, tanto na parte vertical como na horizontal para que a cabeça melhor se adapte ao encosto. Essa experiência me fez refletir sobre o todo que envolve a prática pedagógica por meio das tecnologias assistivas. Não basta apenas descobrirmos o software ou ferramenta adequada para apoiar o aluno no processo ensino e aprendizagem, é preciso também ter uma visão ampla, observando o ambiente e suas possíveis interferências, que possam prejudicar o desenvolvimento do aluno quanto ao uso do que se propõe. No que compete à primeira experiência do aluno com os softwares apresentados, no primeiro momento foi preciso que eu estivesse fazendo junto
com ele, isso porque, assim como tudo que é novo, é natural o estranhamento e a consequente falta de habilidade, ainda mais no que se refere ao uso do computador. Acredito que qualquer sujeito que tente usar um mouse pela primeira vez não terá controle imediato das suas funções. Com o aluno não foi diferente, só que ao invés de usar as mãos, o desafio dele era usar a cabeça para controlar o cursor e a boca e os olhos para as demais funções. Meu auxílio se limitava a ir explicando cada função dos softwares e, no que se refere ao controle do cursor do mouse através da cabeça, em alguns momentos era necessário que eu pegasse na cabeça dele e mostrasse como ele deveria movê-la e em qual velocidade tais movimentos deveriam ser feitos. Após a mediação sobre o uso do HeadMouse, apresentei ao aluno o Teclado Virtual do Windows, explicando-lhe que com esse software e com o auxílio do HeadMouse ele poderia realizar qualquer atividade através do computador ou notebook, ou seja, desde digitar um texto, a navegar pela Internet. No decorrer da atividade, sempre o incentivei, tomando como aliado àquilo que ele mais almeja que é ser narrador e comentarista de futebol, ou melhor, tornar-se mais autônomo. Quanto ao seu sonho profissional, deixei como dica que ele começasse como blogueiro, criando um espaço virtual em que pudesse comentar as partidas de futebol que acompanha. Outra possibilidade sugerida é que ele se aprimore dominando o uso desses softwares e entre em contato com algum jornal local se oferecendo a escrever sobre esporte. Vale ressaltar que as pessoas com deficiência têm direito ao trabalho amparado em lei, como a Lei nº 8.213/91 que obriga empresas com cem (100) ou mais funcionários a disponibilizar vagas para pessoas com deficiência. Após ambientação e prática inicial, tivemos uma conversa sobre esse momento e essa nova fase que pode se iniciar na vida dele. Discorri que as dificuldades encontradas não deviam ser empecilho para que ele domine o uso desses softwares, ao contrário, que elas sirvam de incentivo para que ele domine essas ferramentas, pois é através disso que ele poderá alcançar os objetivos já citados no texto. Julguei ser necessário esse momento de conversa, pois já vivenciei esse processo de aprendizagem do uso do computador e sei o quão desafiador é aprender algo novo. Muitas vezes achamos que não vamos conseguir, mas
quando nos desafiamos nos surpreendemos com a capacidade de criar e recriar, mesmo diante das limitações. O ser humano em sua essência possui uma incrível capacidade de adaptar-se e readaptar-se ao meio e as diversas situações. Vygotsky (1997), discorre sobre isso usando o termo “potencialidades compensatórias”: A educação de crianças com diferentes deficiências deve basear-se em que, simultaneamente com a deficiência também estão dadas as tendências psicológicas de orientação oposta, estão dadas as potencialidades compensatórias para superar a deficiência e que precisamente são estas as que saem em primeiro plano no desenvolvimento da criança e devem ser incluídas no processo educativo como sua força motriz (VYGOTSKY, 1997, p. 47).
O autor ainda refere-se à capacidade compensatória quando trás contribuições sobre a compensação e supercompensação como processo substitutivo vivenciado por pessoas com deficiência. (BARROCO; COELHO; SIERRA, 2011). Considero que vivenciar essa prática do Curso de Formação Continuada de Professores em Tecnologias da Informação e Comunicação Acessíveis foi de grande valia, e só reafirma as convicções que tenho a respeito das pessoas com deficiências, de que elas só se tornam incapazes quando não lhes são dadas as ferramentas adequadas como suporte para realização das atividades de vida diária, acadêmicas e do trabalho.
Referências Bibliográficas:
BARROCO, S. M.S., COELHO, T. P. C., SIERRA, M. A. X Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional: O conceito de compensação em L.S.Vigotski e suas implicações para Educação de pessoas cegas. Disponível em: <http://abrapee.files.wordpress.com/2012/02/conpe-trabalhos-completosanais_x-conpe-final.pdf>. Acessado em: 10 de agosto de 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acessado em: 10 de agosto de 2014. BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acessado em: 11 de agosto de 2014.
DIGITAR SEM O USO DO TECLADO (Teclado Virtual). Disponível em: <http://windows.microsoft.com/pt-br/windows/type-without-keyboard#typewithout-keyboard=windows-7>. Acessado em: 11 de agosto de 2014. HEADMOUSE 3.0. Grupo de Robotica - Universitat de Lleida. Disponível em: <http://robotica.udl.cat/catedra/headmouse/version30/headmouse3por.htm>. Acessado em: 10 de agosto de 2014. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID-10: Classificação Internacional de Doenças. São Paulo: EDUSP, 2007, 10ª ed. REBEL, MF et al. Prognóstico motor e perspectivas atuais na paralisia cerebral. Rev. Bras. Cresc. e Desenv. Hum. 2010; 20(2): 342-350. Disponível em: <www.litoral.ufpr.br/sites/default/files/RBCDH20(2)%20Ar.%2014.pdf> . Acessado em: 11 de agosto de 2014. VYGOTSKI, L. S. (1997) Obras Escogidas. V – Fundamentos de defectología. Trad. Julio Guillermo Blank. Madrid: Visor.