Técnicas de Construção Tradicional de Alvenaria de Pedra

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Ficha Técnica Texto Vera Cibele Neves Marques ISECMAR - Universidade Técnica do Atlântico decivil - Universidade de Aveiro

Colaboradores Ana Luísa Lomelino Velosa decivil - Universidade de Aveiro Maria Clara de Carvalho Pimenta do Vale F. Arq. da Universidade do Porto João do Monte Gomes Duarte ISECMAR - Universidade Técnica do Atlântico Alírio Martiniano Sequeira ISECMAR - Universidade Técnica do Atlântico

Fotografia Abel Rodrigues Monteiro ISECMAR - Universidade Técnica do Atlântico

Design Gráfico e Ilustração Oficina de Utopias

ISBN [Suporte Eletrónico] 978-989-54799-0-0 [Suporte Impresso] 978-989-54799-1-7

Depósito Legal 020/2020

Tiragem 75 exemplares

Gabinete do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia

Este manual foi elaborado no âmbito do Projeto de Investigação “Preservação do Património Tradicional construído de Cabo Verde – Técnicas de Construção Tradicional de Alvenaria de Pedra”, financiado pelo GESCT – Gabinete do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia do Ministério da Educação de Cabo Verde (Edital n.º 01/2018-2019).



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↑ Ruínas de Parede em alvenaria de pedra com terra, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

O Património tradicional construído de Cabo Verde, que inclui as habitações, os socalcos, as infraestruturas para irrigação e a rede viária tradicional - caminhos vicinais, que possuem alvenarias em pedra natural, com juntas secas ou preenchidas com terra e/ou argamassa de cal (materiais locais), é um tipo particular de construção que constitui um elemento identificador da cultura, do ambiente e da história do país.

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É por isso um testemunho do modo natural e tradicional como as populações desenvolveram e produziram as suas próprias habitações, resultando de um processo continuo de adaptação aos condicionalismos económicos, sociais e ambientais, utilizando os recursos locais. Os sistemas de construção tradicional de alvenaria de pedra, assim como os ofícios e as técnicas associadas à sua construção e manutenção, são fundamentais como expressão dessa identidade cultural e essenciais para a reabilitação das construções tradicionais. Atualmente, devido à homogeneização cultural e arquitetónica, e à globalização socio-económica mundial, a que Cabo Verde não é alheio, as técnicas de construção tradicionais têm vindo a cair em desuso, e as construções tradicionais encontram-se ameaçadas correndo risco de desaparecer.


↑ Pedreira em Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

O Projeto de Investigação “Preservação do Património Tradicional construído de Cabo Verde – Técnicas de Construção Tradicional de Alvenaria de Pedra” visa contribuir para a preservação do património tradicional construído e para o desenvolvimento local, através do estudo técnico-científico das técnicas de construção tradicionais de alvenaria de pedra, das construções tradicionais existentes no Parque Natural da Cova, Paul e Ribeira da Torre e no Município de Porto Novo na ilha de Santo Antão, na localidade do Morro, na ilha do Maio, na Cidade Velha na ilha de Santiago e no Parque Natural do Fogo – Chã das Caldeiras na ilha do Fogo.

Assim, este manual visa garantir a transmissão de forma clara e simples, das técnicas artesanais de execução de alvenaria de pedra e dos processos para obtenção dos materiais locais (pedra, terra e/ou argamassa de cal). Estas técnicas poderão ser aplicadas nos trabalhos de manutenção/ reabilitação das construções tradicionais existentes ou em novas construções, onde a sua aplicação poderá proporcionar boas condições de conforto no interior das habitações e ao mesmo tempo contribuir para a manutenção e reforço da identidade cultural do arquipélago.

↑ Extração Rocha Basáltica, Pedreira em Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

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↑ Habitações tradicionais, Rua de Banana, Cidade Velha, ilha de Santiago.

São consideradas tradicionais as alvenarias existentes nos seguintes tipos de construções:

habitações tradicionais – de um só piso, constituídas por um ou dois compartimentos, com planta circular ou retangular, com alvenarias à base de pedra com 40 a 50 cm de espessura;

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↑ Habitações tradicionais, vale do Paul, ilha de Santo Antão.

↑ Funco, Chã das Caldeiras, ilha do Fogo.

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socalcos - construídos ao longo de encostas, em pedra basáltica que têm como função proteger o solo da erosão da água, possibilitando a agricultura de sequeiro, com cerca de 60cm de espessura; ↑ Socalcos, Chã das Caldeiras, ilha do Fogo.

↑ Socalcos, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

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↑ Caminhos Vicinais, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

rede viária tradicional – caminhos vicinais - com muros e calçada em pedra basáltica com 50 a 60 cm de espessura;

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infraestruturas de irrigação - depósitos e levadas utilizadas na agricultura, em pedra basáltica; Vale do Paul, ilha de Santo Antão. →

↓ Aquedutos em alvenaria de pedra, vale do Paul, ilha de Santo Antão.

Estas alvenarias caracterizam-se pela utilização dos materiais locais disponíveis: pedra natural, terra e argamassa de cal (mistura de cal, areia e água).

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M


Pedra ↑ Pedra de Arenito, ilha do Maio.

As pedras são extraídas em pedreiras, normalmente localizadas nas proximidades da construção. Antigamente eram transportadas para a obra em padiolas por mulheres e homens ou com recurso a animais. Essas pedras podem ser aparelhadas ou não aparelhadas. Quando as pedras são utilizadas diretamente na construção de alvenarias ou apenas são aparadas algumas saliências das mesmas, com recurso a maços de ferro, são consideradas não aparelhadas.

Enquanto que quando as pedras são preparadas, com vista a obterem uma forma relativamente regular, permitindo que estas se ajustem bem umas às outras, são consideradas aparelhadas. As pedras a serem utilizadas nas alvenarias de pedra devem ser compactas e estarem isentas de terra e/ou outras impurezas. Nas ilhas de Santo Antão, Santiago e Fogo a pedra mais utilizada em alvenarias é a pedra basáltica cinzenta, já na ilha do Maio é utilizada pedra de arenito, predominante na ilha.

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Pedreira de pedra de arenito ativa, ilha do Maio.

↓ Equipamentos utilizados na extração de pedra de Arenito, ilha do Maio.

↑ Pedreira e Equipamentos utilizados na extração de pedra basáltica, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

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Terra

A terra, de cor vermelha, é recolhida nas proximidades das construções tradicionais. Antigamente era transportada para o local de construção em cestos por homens e mulheres ou com recurso a animais. Para ser aplicada, na execução de alvenarias, é apenas necessário retirar os agregados grossos (pedras).

↑ Terra vermelha, Cidade Velha, ilha de Santiago.

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Cal A cal viva é constituída por óxido de cálcio e pode conter óxido de magnésio. Quando é apagada transforma-se em cal hidratada e pode conter hidróxidos de cálcio e/ou magnésio. Distinguem-se dois tipos de cal: a cal aérea, que ganha presa (processo pelo qual a mistura de cal com a água formando uma pasta, adquire ligação, consistência e endurece devido às transformações físico-químicas entre a água e a cal) ao ar, e a cal hidráulica que ganha presa dentro e fora de água. A cal hidráulica contém, portanto, outros produtos químicos que permitem a sua reação com a água.

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A cal aérea era produzida nas várias ilhas do arquipélago, sendo obtida a partir da calcinação a 800 /1000°C, de rochas calcárias. A produção e utilização da cal aérea criam um ciclo fechado, chamado ciclo da cal, em que a produção de hidróxido de carbono é nula, sendo, portanto, um material muito sustentável. Nas alvenarias das construções tradicionais a cal aérea encontra-se como ligante nas argamassas de assentamento, e de revestimento (reboco) e como acabamento em pintura (caiação).


Produção de Cal na ilha de Santo Antão Na ilha de Santo Antão encontram-se ruínas de 2 fornos de Cal artesanais, um em Ponta do Sol, concelho de Ribeira Grande e outro em “Forcal” Curralinho, Tarrafal de Monte Trigo concelho de Porto Novo.

↓ Forno de Cal, Ponta do Sol, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

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A A

A

A

↑ Pormenor Forno de Cal, Ponta do sol, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão. Desenhos técnicos Forno de Cal, Ponta do Sol.

A

A

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A

Estes fornos, de laboração intermitente, possuem alvenarias de pedra basáltica com terra e argamassa de cal. Possuíam 2 aberturas uma no topo e outra lateral, junto à base.

Desenhos técnicos Forno de Cal, “Forcal”.

↓ Forno de Cal, “Forcal” Curralinho, Tarrafal de Monte Trigo, Porto Novo, ilha de Santo Antão.

João Cortez

João Cortez

A

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A produção de cal na ilha de Santo Antão possui as seguintes fases:

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Extraem-se as pedras calcárias dos jazidos calcários;

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Partem-se as pedras, com martelos, até se obterem fragmentos, com dimensões que permitam a sua introdução no forno;

Coloca-se a lenha (paus e galhos de vegetação local) por ordem crescente de tamanho, ficando os elementos mais pequenos na parte inferior;

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Por cima da lenha coloca-se cinza de carvão vegetal;

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Através da abertura superior do forno introduz-se, uma camada de pedras calcárias e por cima desta uma camada de cinza e repete-se o processo até encher o forno;

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Ateia-se fogo no fundo do forno;

Espera-se a calcinação das pedras de calcário, o que pode demorar cerca de dois dias até o fogo atingir o topo do forno;

Deixa-se arrefecer o forno e retiram-se as pedras de cal, (também designadas por cal viva);

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Colocam-se as pedras de cal ao ar livre e misturam-se com água; Da reação da cal viva com a água resulta a cal hidratada, também designada por cal extinta ou cal apagada. Esta cal extinta ou apagada é a cal aérea.


↑ Interior de forno de Cal, Ponta do Sol, Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

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Produção de Cal na ilha do Maio Na ilha do Maio os “fornos” são de laboração única, pois eram construídos com a própria pedra calcária que era calcinada para produzir cal, assim após a calcinação do calcário o forno desaparece. Estes fornos são construídos perto de jazidos de calcários e junto ao forno existe sempre um poço de onde se retira a água utilizada na produção da cal.

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↑ Poço nas imediações dos vestígios de fornos de laboração única, ilha do Maio.

↓ Vestígios de pedra queimada em forno de laboração única, ilha do Maio.


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Extraem-se as pedras calcárias dos jazidos calcários;

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Num terreno próximo, com as pedras calcárias constrói-se o forno, de planta circular, com cerca de 1,5m de diâmetro. Executa-se com estas pedras uma alvenaria de pedra seca com cerca de 50cm de espessura, deixando-se na parte inferior da alvenaria uma abertura com 50cm de altura e 50cm de largura. Quando a alvenaria atinge cerca de 1,2m de altura vai-se fechando a alvenaria formando 1 cone;

Forno de laboração única, ilha do Maio. →

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Com terra e pedras cobre-se o “forno”;

Pela abertura inferior introduz-se a lenha (paus e galhos de “moraça”) e ateia-se fogo. Alimenta-se com lenha o fogo até que o cone de pedra calcária colapse (normalmente demora cerca de 24horas);

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Deixa-se arrefecer durante 3 dias; Retiram-se as pedras de cal (cal viva);

Misturam-se as pedras de cal com água e obtém-se a cal extinta ou cal apagada que é a cal aérea.

Oficina de Utopias

A produção de cal nesta ilha tem as seguintes etapas:

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Areia

As areias utilizadas para produção de argamassas podem ser naturais, obtidas nos leitos e desembocaduras das ribeiras, ou artificiais, obtidas pelo desmonte mecânico de rochas e britadas. As areias utilizadas na produção de argamassas, devem ser constituídas por grãos de várias dimensões, mas sem demasiados grãos muito finos ou muito grossos, de modo a obter-se melhor facilidade em trabalhar a argamassa.

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↑ Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

É desaconselhada a utilização de areias da praia devido á sua grande concentração de sais que contribuem para a degradação das argamassas e das alvenarias, bem como por razões ambientais.


A água a utilizar na construção deve ser potável com teor de sais praticamente nulo. Assim, deve evitar-se o uso de água do mar, pois esta possui um teor em sais muito elevado.

pixabay

Água

↑ Água potável.

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Equipamentos Os equipamentos necessários na execução de alvenarias de pedra tradicionais são: . Martelo . Marreta . Enxada . Talhadeira . Carrinho de Mão . Nível . Fio-de-prumo . Colher de Pedreiro . Corda de fibra Vegetal (Corda de Coco ou Corda de Carrapato) . Fita Métrica

↑ Talhadeira.

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↑ Marreta (1Kg).

↑ Pá.

↑ Fita métrica.


↑ Prumo artesanal.

↑ Prumo.

↑ Corda de fibra vegetal.

↑ Martelo e Enxada.

↑ Marreta (1Kg).

↑ Carrinho de mão.

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M


Alvenaria de Pedra Seca As alvenarias de pedra seca (ou alvenarias de junta seca) são constituídas apenas por pedras, sobrepostas e justapostas, imobilizadas entre si, devido ao peso das pedras e ao encaixe entre estas. ↓ Muro de Pedra Seca não aparelhada, Paul,

↑ Alvenaria de Pedra Seca não aparelhada em

ilha de Santo Antão.

socalcos, Chã das Caldeiras, ilha do Fogo.

.

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↑ Muro em alvenaria de pedra seca não aparelhada, ilha do Maio.

↓ Alvenaria de pedra seca aparelhada, Paúl, ilha de Santo Antão.

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Processo de Execução de Alvenaria de Pedra Seca

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Escavação de valas para execução das fundações (Abertura de caboucos). A escavação é feita até à profundidade em que se encontra terreno fixe (terreno firme/compacto/maciço). Para as construções tradicionais de pequeno porte normalmente a profundidade variava entre 0,50m e 1m. A largura dos caboucos depende da largura da fundação, e deve permitir trabalhar no seu interior. Após a escavação é regularizado e nivelado o fundo dos caboucos;

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Nos caboucos executam-se as fundações em alvenaria de pedra seca que normalmente são cerca de 20cm mais largas que as paredes (10cm para cada lado).

↑ Pormenor da fundação de pedra.

Na execução das fundações em alvenaria de pedra deve ter-se os mesmos cuidados que nas alvenarias de pedra seca (descrito a seguir) no entanto poderão ser utilizadas pedras menos trabalhadas (sem aparar saliências);

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A cerca de 20 a 40cm de profundidade, inicia-se a alvenaria (parede). Colocam-se as mestras

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(pedras de dimensão maior) nos vértices das paredes e amarra-se uma corda de fibra vegetal (corda de coco) a estas pedras por forma a determinar a espessura e o alinhamento interior e exterior das paredes;

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Marcam-se os vãos das portas;

Assentam-se várias camadas de pedras. Para a construção de cada camada repete-se o procedimento de colocação das mestras e da corda. As camadas de pedras (fiadas de pedras) são compostas por pedras mais ou menos com a mesma altura colocadas lado a lado, de forma a garantir a horizontalidade da camada. Caso as pedras não tenham a mesma altura poderão sobrepor-se pedras de forma a garantir a relativa horizontalidade da camada.

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As pedras são assentes pela face mais regular e de maior dimensão garantindo-se que ficam estáveis apenas com o seu próprio peso. Os espaços vazios, devido à irregularidade das pedras, devem ser preenchidos com “rotches” ou “laska” (pedras de menor dimensão). Conforme se executam as camadas de pedra deve verificar-se a verticalidade da parede, com fio de prumo, Deve-se garantir, transversalmente e longitudinalmente, que as juntas verticais, entre as pedras, ficam desalinhadas com as da camada inferior “apoio meia-meia” para travamento da alvenaria;

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Com a parede a atingir cerca de um metro marcam-se os vãos das janelas;

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Adicionam-se camadas até atingir a altura desejada.


Execução de Alvenaria de Pedra Seca Chã das Caldeiras - ilha do Fogo C. Verificação da verticalidade da parede.

A. Determinação do alinhamento das faces

D. Execução de camada de pedra.

e espessura da parede.

B. Colocação das pedras.

E. Camada de Pedra concluída.

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Lintéis Os lintéis das portas e janelas podem ser barrotes de madeira ou pedras grandes, com comprimento superior à largura da janela ou porta, apoiando na parede cerca de 10 a 20cm de cada lado.

↓ Lintel de Porta em pedra, Ribeira Grande, ilha Santo Antão.

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No concelho de Porto Novo encontram-se lintéis em pedra basáltica vermelha, constituídos por três pedras, duas inferiores e uma superior. As pedras inferiores assentam na parede cerca de 40 a 50 centímetros, e a pedra superior assenta nos inferiores cerca de 15 centímetros.


↑ Pormenor de apoio do lintel em pedra,

Lintel de porta em madeira, Porto Novo, ilha Santo Antão. →

Ângelo Lopes

Ribeira Grande, ilha de Santo Antão.

↓ Lintéis de porta e janela com 3 pedras de basalto vermelho, Porto Novo, ilha de Santo Antão.

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Cunhais Nos cunhais utilizam-se pedras grandes mais trabalhadas, que são assentes utilizando “apoio meia-meia “para amarração das pedras. Nos cunhais as pedras eram designadas de cunhal e contra cunhal (knhal e contraknhal).

Cunhal em alvenaria de pedra seca aparelhada, Paul, ilha de Santo Antão. →

Cunhal (Knhal)

Contra cunhal (contraKnhal)

Esquema de identificação dos cunhais e contra cunhais.

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Sendo o cunhal e o contra cunhal amarrado pelo cunhal da camada superior. Assim, as juntas verticais de uma camada não podem ter continuidade na camada superior tanto longitudinalmente como transversalmente.


↑ Cunhal, alvenaria de pedra com terra, Porto Novo, ilha de Santo Antão.

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Alvenaria de Pedra com Terra As alvenarias de pedra com terra, como o nome indica são constituídas por pedra e terra misturada com água.

A terra, nestas alvenarias, tem como função preencher os espaços vazios, entre as pedras, e melhorar as condições de assentamento.

↓ Alvenaria de Pedra com Terra, ilha do Maio.

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↑ Alvenaria de Pedra Basáltica com terra, Porto Novo, ilha de Santo Antão.

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Processo de Execução de Alvenaria de Pedra com Terra O Processo de execução de alvenaria de pedra com terra é semelhante ao de execução de alvenaria de pedra seca. Nas alvenarias de pedra com terra, após a execução da fundação alvenaria de pedra seca, prepara-se a terra para aplicação. Num amassadouro coloca-se a terra formando um cone com uma cratera no meio. Adiciona-se água na cratera e amassa-se até obter a consistência desejada.

Tal como na execução das alvenarias de pedra seca, as paredes são formadas por camadas. Assim, para a execução de cada camada de pedra colocam-se as pedras mestras e a corda de fibra vegetal de forma a obter o alinhamento e a espessura da parede. Humedecessem-se as pedras da fundação ou da camada inferior, coloca-se a terra amassada, e assentam-se as pedras. No assentamento deve-se garantir, transversalmente e longitudinalmente o “apoio meia-meia” para amarração das pedras. Os espaços vazios, devido à irregularidade das pedras, devem ser preenchidos com “rotches” ou “laska” (pedras de menor dimensão) e terra.

Terra vermelha, ilha do Maio.

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Preparação da terra

A. Retirada dos agregados

B. Adição de água.

grossos e matéria orgânica.

C. Mistura da terra com água.

Execução de Alvenaria de Pedra com Terra - ilha do Maio

A. Humedecimento das pedras.

C. Aplicação das pedras.

B. Aplicação da terra.

D. Preenchimento de espaços com “laskas”.

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Alvenaria de Pedra com Argamassa de Cal As alvenarias de pedra com argamassa de cal são constituídas por pedra e argamassa de cal. A argamassa de cal utilizada para assentamento das pedras, proporciona a ligação química entre estas.

Em alguns cassos a argamassa de cal era utilizada no assentamento das pedras apenas junto as faces das alvenarias, e os espaços vazios existentes no interior da alvenaria eram preenchidos com terra vermelha.

↓ Alvenaria de Pedra com argamassa de Cal, Cidade Velha, ilha de Santiago.

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Processo de execução de Alvenaria de Pedra com argamassa de Cal Os passos a seguir para a execução de alvenaria de pedra com argamassa de cal são idênticos aos utilizados na execução de alvenarias de pedra seca. ↑ Alvenaria de Pedra com argamassa de Cal

↓ Muro e de alvenaria de pedra com

e Terra, Forno de Cal, Ponta do Sol, Ribeira

argamassa de cal, Cidade Velha, ilha de

Grande, ilha de Santo Antão.

Santiago.

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Nas alvenarias de pedra com argamassa de cal, após a execução da fundação em alvenaria de pedra seca, prepara-se a argamassa de cal. A argamassa de cal é constituída por cal, areia e água, sendo a proporção, em volume, mais utilizada na argamassa de assentamento 2:3, ou seja 2 volumes de cal para 3 volumes de areia. Antigamente para a medição da quantidade dos materiais eram utilizados cestos de fibras vegetais (normalmente folhas de coco).

1

Num amassadouro misturam-se a cal com a areia e forma-se um monte com uma cratera no meio.

2

Adiciona-se água na cratera e mistura-se até se obter uma pasta homogénea e com a consistência desejada.

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A alvenaria de pedra com argamassa de cal é constituída por camadas (fiadas) de pedra assentes em argamassa de cal. No topo da fundação, determina-se o alinhamento e a espessura da primeira camada com a colocação das pedras mestras e amarrando nestas a corda de fibra vegetal, este procedimento repete-se para a execução de cada camada. Humedecem-se as pedras superiores da fundação ou da camada inferior, coloca-se a argamassa de cal e assentam-se as pedras. garantindo transversalmente e longitudinalmente o “apoio meia-meia” para amarração das pedras. Tendo em conta as irregularidades das pedras, os espaços vazios, devem ser preenchidos com “rotches” ou “laska” (pedras de menor dimensão) e argamassa de cal.


Execução de Alvenaria de Pedra com Argamassa de Cal Cidade Velha - ilha de Santiago

C. Alinhamento da Camada (pedras mestras com corda de fibra vegetal.

A. Argamassa de Cal Preparada.

D. Verificação da verticalidade da parede com prumo.

B. Aplicação da argamassa.

E. Aplicação das pedras.

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↑ Alvenaria de Pedra (arenito) aparelhada com terra, localidade do Morro, ilha do Maio.

As construções tradicionais existentes no arquipélago constituem repositórios das técnicas de construção tradicionais. No entanto muitas delas apresentam atualmente modificações relativamente ao caracter inicial, resultando de intervenções de manutenção e/ ou reabilitação utilizando materiais e técnicas modernas, que descaracterizam essas construções, diminuem as condições de conforto no caso das habitações e muitas vezes aceleram o processo de degradação, por falta

de compatibilidade com os materiais originais. Em trabalhos de manutenção e reabilitação de edifícios é fundamental garantir a compatibilidade química e física entre os materiais e as técnicas de construção utilizados, nos elementos construtivos a conservar e os usados em intervenções de manutenção e/ou reabilitação. Assim, é recomendável a utilização dos materiais locais e das técnicas de construção artesanais em intervenções

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de manutenção e reabilitação de alvenarias de pedra tradicionais.

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Agradecemos a todas as pessoas que tornaram possível este Manual e em particular a:

→ Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santo Antão, Presidente Orlando Delgado e Engenheiro Aires Santos;

Eng. Ivanisio Fernandes, Diretor do Gabinete Técnico Arq. Danielson Freire e encarregado Elísio Osvaldo Santos;

→ Pedreiros Pedro Dos Santos Rocha, António Pascoal Rocha e Carlindo Dias de Ribeira Grande de Santo Antão;

→ Artesão Orlando do Paul;

→ Sr. Cândido Delgado (Nhô Conde) de Ponta de Sol, Ribeira Grande de Santo Antão; → Câmara Municipal do Paul, Presidente António Aleixo, Vereador Técnico

→ Câmara Municipal do Porto Novo, Presidente Aníbal Fonseca, Vereador Válter Silva, e Arq. Adérito Évora; → João Cortez da Cidade do Porto Novo; → Câmara Municipal do Maio, Presidente Miguel Silva Rosa e Eng. Adilson Semedo;

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→ Construtores Luís Tavares, Miguel, João e José e artesão, João Pedro Soares de Carvalho da ilha do Maio; → Artesãos produtores de cal Carlos Andrade, Profilo Santos Neves e Oliveira Santos Neves da ilha do Maio; → Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, Presidente Manuel de Pina, Arquiteto Misael Benrós e ao Sr. Francisco Lopes; → Construtores Nicolau Xavier, António e Rui da Cidade Velha, Ribeira Grande de Santiago;

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↑ Alvenaria de Pedra (arenito) aparelhada com terra, localidade do Morro, ilha do Maio.

→ Artesãos Emílio Évora, José Fortes, José Delgado, Evandro Rodriguês da Cidade Velha, Ribeira Grande de Santiago; → Câmara Municipal de Santa Catarina do Fogo, Presidente Alberto Nunes, Vereadora Adileuza Montrond; → Construtores/Artesãos Eurico Danilo Montrond, Fernando Rodrigues, Armando, Isac e Paulo Andrade de Chã das Caldeiras, ilha do Fogo.


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↑ Alvenaria de Pedra Seca, Chã das Caldei-

MARQUES, V., Vale, C., & VELO-

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tream/10773/9421/1/Dissertação.

ua.pt/crepat/page/22602

pdf

MARQUES,

54

V.,

&

VELOSA,


arte, design e arquitectura

oficinadeutopias@gmail.com


Gabinete de Ensino Superior, CiĂŞncia e Tecnologia


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