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Catálogo Seletivo: a memória da escola que forma para o trabalho

1ª Edição • Vitória • 2019 . Copyright © 2019 by Instituto Federal do Espírito Santo Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto nº 1.824, de 20 de dezembro de 1907. O conteúdo dos textos é de inteira responsabilidade dos respectivos autores Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

Catálogo seletivo [recurso eletrônico] : a memória da escola que forma para o trabalho / Janda Tamara de Sousa e Antônio Henrique Pinto. – 1. ed. - Vitória: Instituto Federal do Espírito Santo, 2019. 54 p. : il. ; 21 cm. S725c Sousa, Janda Tamara de. ISBN: 978-85-8263-448-6 (e-book)

APRESENTAÇÃO

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O presente catálogo é um produto educacional da pesquisa de mestrado de Janda Tamara de Sousa* intitulada “A memória da educação profissional e tecnológica: caminhos para acesso e difusão das fontes documentais no campus vitória”. A pesquisa realizada entre 2017 e 2019 integra o mestrado profissional do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT, sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Henrique Pinto.

A construção deste catálogo temático teve como objetivo difundir o acervo da sala de memória da biblioteca do Ifes, no campus Vitória, para os pesquisadores dos campos da história da educação e da história da educação profissional e tecnológica no Espírito Santo.

"(...) os arquivos são um desafio político. Disso decorre o seu poder e a necessidade de conservá-los, como também a sua rejeição, até sua destruição por parte daqueles que não querem que a verdade seja dita" (DELMAS, 2010).

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/turma-da-eaaes-2

1. HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA DO IFES

A centenária Escola Técnica certamente constitui patrimônio da cultura capixaba e de sua educação. As diferentes denominações atribuídas à instituição ao longo dos cem anos de sua existência evidenciam o deslocamento das concepções de educação profissional, de Escola de Aprendizes e Artífices, Liceu Industrial, Escola Técnica Federal, CEFETES (Centro de Educação Federal e Tecnológica) e mais recentemente, Ifes (Instituto Federal de Educação), com várias unidades de ensino localizadas em diversos municípios do Estado do Espírito Santo. Apresenta, assim, um longo percurso temporal marcado pelos avanços técnico-científicos que transformaram as relações sociais, econômicas e culturais da cidade e do estado.

A longa temporalidade institucional traz a perspectiva da existência de uma memória coletiva (HALBWACHS, 2006) cuja densidade pode ser mensurada na materialidade dos objetos como máquinas, equipamentos, aparelhos, mobílias, evidenciando modelos formativos e a tecnologia disponível para o aprendizado dos ofícios. Da mesma maneira, a materialidade dos livros de atas, fotografias e outras fontes dessa natureza evidenciam o arranjo organizacional e suas concepções de educação e de sociedade.

Com efeito, por meio dessas memórias torna-se possível compreender aspectos da cultura escolar na perspectiva de formação de trabalhadores. As paredes, sempre limpas e conservadas, a denunciar a arquitetura de um tempo que já se vai distante; os livros “velhos”, esquecidos nas estantes, a sinalizar que, noutros tempos, havia outros modos e maneiras de ensinar os conteúdos; os equipamentos tecnológicos e didáticos, encostados em salas ou galpões, a denunciar o desmesurado avanço da técnica e da tecnologia que transforma em peça de museu aquilo que há poucos anos se constituía uma novidade. A continuidade ou rupturas das práticas pedagógicas ao longo das décadas instauram saberes escolares que deveriam proporcionar aos alunos a aprendizagem do ofício sintonizado com um modelo de homem e sociedade.

Dessa forma, considerando o contexto das transformações técnico-científicas ocorridas ao longo do século XX, nossa preocupação foi apresentar a transformação nos processos de formação dos trabalhadores artífices e de que modo o ensino dos ofícios foram se apropriando dos elementos da tecnologia e da pedagogia, possibilitando a formação do trabalhador.

Para isso, cotejamos alguns registros de memórias, preservados num período que compreende nove décadas, iniciando desde criação da Escola de Aprendizes e Artífices do Espírito Santo (EAAES), em 1910, até a Escola Técnica Federal do Espírito Santo (ETFES), em 1998. Essas memórias encontram-se registradas em diversos documentos, mas neste catálogo priorizamos as memórias imagéticas.

A memória enquanto construção social reconstitui as memórias coletivas e, assim, permite melhor compreensão da história dos grupos e instituições (HALLBWACHS, 2006). Segundo Ciavatta (2005), trabalhar com documentos escolares oportuniza a reflexão da multiplicidade de aspectos tempos e situações sobre a escola e a compreensão da historicidade dos sujeitos; promove a reconstrução histórica dos acervos e permite a compreensão do mundo do trabalho quando demonstra as diferentes memórias e as diferentes visões do trabalho implantadas e os processos de formação histórico-sociais dos sujeitos.

Compreender sua história, reconstituir e preservar suas memórias, permite reafirmar sua identidade na busca por uma escola de formação integrada³ (CIA- VATTA, 2005). Tornando esta, uma experiência de democracia participativa, ajudando na decisão coletiva de para onde se quer ir.

3 Formação Integrada - como aquela que tem como princípio educativo a superação da dualidade entre cultura geral e cultura técnica, indo ao encontro de uma formação humana como a que se busca abordar a cultura também como forma de garantir uma 2 formação mais completa para a leitura de mundo (CIAVATTA, 2005).

2. A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA INSTITUCIONAL: FONTE PARA O CONHECIMENTO

As ações para a preservação de documentos como fonte para a pesquisa histórica são extremamente relevantes para a manutenção da memória e da identidade institucional. Neste catálogo ressignificamos as formas de acesso, tornando este um instrumento de mediação para a pesquisa nos documentos fonte. Como forma de preservação para o acesso aos documentos presentes na Sala de Memória do Ifes, da Biblioteca Nilo Peçanha no campus Vitória, articulamos as novas sistemáticas de organização da metodologia arquivística, como os processos de descrição documental, e ampliamos as bases para a pesquisa da Memória em Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Espírito Santo.

Segundo o Conselho Nacional de Arquivos, o Conarq, a preservação de documentos arquivísticos tem como objetivo garantir a autenticidade e a integridade da informação, enquanto o acesso depende de os documentos estarem em condições de serem utilizados e compreendidos (CONARQ, 2004).

Retomando a historicidade institucional, tão importante às questões que perpassam o ensino e a formação de trabalhadores, pontuamos essas transformações nas fontes documentais da memória materializada nas imagens fotográficas selecionadas. Isso nos permite rememorar essa instituição de educação centenária, dando suporte às lembranças e a consolidação de identidades dos sujeitos que a constituem.

Sob o entendimento de que acesso à memória está estritamente interligado a arquivos organizados e preservados, transformamos a memória materializada em informação de organização lógica estruturada hierarquicamente e acessível a qualquer tempo por meio da internet. Assim, o Catálogo Seletivo é um instrumento de pesquisa “[...] que toma por unidade documentos previamente selecionados, pertencentes a um ou mais fundos ou arquivos, segundo um critério temático” (Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, 2005, p. 50) e permite ampliar sua difusão, melhorando o acesso para a produção de conhecimento.

A seleção das fotografias foi baseada, primeiramente, na escolha daquelas que nos trazem as imagens das antigas escolas dos fundos fechados* no campus Vitória, do século XX e que constituíram o atual Ifes. São imagens representativas das salas de aula, das oficinas e dos laboratórios, como espaços que constituem o processo de formação dos sujeitos/alunos dessa escola para o mundo do trabalho, associando as práticas educativas ao contexto de ensino e aprendizagem na formação dos trabalhadores durante o século XX.

* Fundo Documental Fechado é o “Fundo que não recebe acréscimos de documentos em função de a entidade produtora não se encontrar mais em atividade” (DBTA, 2005, p. 98).

As descrições foram realizadas conforme disposto na plataforma de acesso do Atom, com o uso da ISAD(G), General International Standard Archival Description ou Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística5. O uso dessa norma correspondente à teoria arquivística, como arcabouço metodológico para a organização e a descrição de documentos arquivísticos, garante descrições consistentes, apropriadas e autoexplicativas para a otimização das informações recuperadas.

O AtoM possui uma gama de recursos técnicos que flexibilizam e facilitam a atividade de descrição arquivística, auxilia na preservação dos documentos originais e na difusão de informações sobre o acervo, ao providenciar o acesso à documentação por meio de representantes digitais, permitindo assim um alcance global através de sua interface multilíngue na internet (HEDLUND; FLORES, 2014, p. 87).

A codificação dos itens documentais assume automaticamente do sistema a estrutura hierárquica da classe a qual ele pertence, começando com o CODEARQ, Cadastro Nacional de Entidades Custodiadoras de Acervos Arquivísticos, que é um código oferecido pelo Arquivo Nacional às instituições detentoras de acervos. Tomando-se uma codificação única para cada item documental, consideramos o código individual no qual o documento foi identificado, exemplo: Código - BR-ES IFES EAAES-FOT-001. Leia-se: BR-ES IFES - instituição brasileira, cadastrada no CODEARQ BR-ES IFES- Brasil; Estado do Espírito Santo; IFES - Instituto Federal do Espírito Santo EAAES - Fundo Fechado da Escola de Aprendizes e Artífices do Espírito Santo FOT- Dossiê fotográfico 001- número do item documental

Assim, os documentos selecionados foram digitalizados, e encontram-se disponíveis na plataforma de acesso digital Atom. O link correspondente a cada imagem dá acesso diretamente à sua matriz representante na plataforma digital. Ali, os documentos tratados expressam, digitalmente, as inter-relações dos conjuntos documentais presentes no acervo. E, o “fundo é o foco central da descrição arquivística e a condição sine qua non da qual todo o trabalho descritivo deve proceder.” (COOK, 2017, p. 12).

5 ISAD(G) General International Standard Archival Description, ou Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística - elaborado pelo Conselho Internacional de Arquivos (CIA).

3. AS OFICINAS, OS LABORATÓRIOS E AS SALAS DE AULA DAS ESCOLAS QUE FORMAM PARA O TRABALHO

Foto 2 - http://atom.ifes.edu.br/index.php/escola-ff

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

3.1 -AS OFICINAS DA EAAES

Em 1909 foram criadas dezoito escolas profissionalizantes do Governo Federal, denominadas de Escolas de Aprendizes e Artífices. Segundo Cunha (2000), a criação dessas instituições de formação para o trabalho de artífices foi “[...] o acontecimento mais marcante do ensino profissional na Primeira República”. O art. 1º, do Decreto 7.763 de 23 de setembro de 1909 regulamentou o funcionamento dessas escolas e expressa os objetivos e o papel dessas instituições naqueles anos de início da República: “[...] formar operários e contra- -mestres, mediante o ensino profissional primário* e gratuito a menores, conforme as condições industriais do Estado em que a escola funcionar”.

Porém, a Escola de Aprendizes e Artífices do Espírito Santo, a EAAES, somente começou a funcionar em 24 de janeiro de 1910. Localizada na Rua Presidente Pedreira, em frente ao antigo Campinho, hoje denominado Parque Moscoso, seu prédio grandioso chamava a atenção pela modernidade arquitetônica e pelo uso de materiais como o ferro e o vidro em sua fachada. As oficinas tinham a aparência de pequenos galpões cujo interior era organizado de modo a facilitar o trabalho coletivo. Funcionava das 9 às 17 horas. Também havia o Curso de Desenho no período noturno, das 17 às 20 horas. Além do aprendizado do ofício, os estudantes recebiam uma escolarização de nível primário. Os ofícios ensinados nessas instituições deveriam atender à demanda por profissionais da região onde a escola se localizava.

Embora não houvesse uma expressiva procura por atividades manufatureiras ou industriais, a EAAES contribuiu para preparar jovens para o trabalho, formando artífices que, nas décadas seguintes, atuariam no trabalho de modernização da cidade.

*7 - até a LDB nº 9394/1996 utilizava-se os termos “ensino profissional “ ou “ensino industrial”.

3.1.1 Oficina de marcenaria, carpintaria e artes em madeira

Foto 3 - http://atom.ifes.edu.br/index.php/turma-da-eaaes-oficina-de-marcenaria

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

O ofício de carpinteiro e marceneiro tinham as mesmas oficinas para o aprendizado do ofício.

Tinha como mestre e professor Juvenal José da Reza, responsável pelo ofício. Iniciava-se o ensino da arte da carpintaria, mostrando o uso das ferramentas e o domínio das unidades de medidas. Em seguida, aprofundava-se nas lições práticas e teóricas sobre os diversos temas relacionados com a madeira, tais como: lições praticas sobre o conhecimento de diversas qualidades de madeiras e sobre a fabricação de móveis; lições práticas sobre os trabalhos de vigamento, assoalho e teto; estudo de máquinas e emprego das madeiras nas construções civis, vigamentos, asnas, portas, janelas, telhados, escadas; resistência das madeiras; desenho de obras e de ferramentas; lições práticas e teóricas sobre o processo de preparar o verniz; empalhamento de cadeiras, sofás e outros móveis; confecção de mobílias; modelação de madeira; explicação de desenho e fabrico de móveis a vista de desenhos; resistência das madeiras.

Foto 4 - Turma da EAAES

Foto 4 - Turma da EAAES - Oficina de Marcenaria http://atom.ifes.edu.br/index.php/turma-da-eaaes

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES EAAES-FOT-002

Título: Turma da EAAES Data(s): 1910 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e Suporte: papel fotográfico. Estado de Conservação: suporte frágil, imagem esmaecida e manchada. Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 22,5 x 17 cm (largura x altura).

Nome do produtor: EAAES - ESCOLA DE APRENDIZES E ARTÍFICES DO ESPÍRITO SANTO (1909 - 1937).

Nome do produtor: José Francisco Monjardim (1870-1944). Entidade Custodiadora: Ifes - campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Turma da EAAES, na Avenida Presidente Pedreira, Parque Moscoso - Centro de Vitória. Oficina de marcenaria, carpintaria e Artes em Madeira. O ofício de carpinteiro e marceneiro tinham as mesmas oficinas para o aprendizado do ofício.

Pontos de acesso local: J.F.M. Nº Reg.002/96 Pasta 1- Envelope 1

Nome do arquivo: J.F.M_P1 E1__REG.002_.tif Tipo de mídia: Imagem Mime-type image/tiff Tamanho do arquivo: 2 MiB

Foto 5 - Turma da Sapataria da EAAES

Foto 5 - Turma da Sapataria - http://atom.ifes.edu.br/index.php/turma-da-sapataria

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES EAAES-FOT-004

Título: Turma da Sapataria Data(s): 1916 (Produção)Nível de descrição: Item

Dimensão e Suporte: papel fotográfico. Estado de Conservação: suporte frágil, imagem esmaecida e manchada.Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 23,5 x 17,5cm(largura x altura).

Nome do produtor: EAAES - ESCOLA DE APRENDIZES E ARTÍFICESDO ESPÍRITO SANTO (1909 - 1937). Nome do produtor: José Francisco Monjardim (1870 -1944)

Entidade custodiadora: Ifes – Campus Vitória

Âmbito conteúdo: A oficina Artes de Couro tinha como responsabilidade o mestre artífice e professor Francisco Daiello. As atividades requeriam um amplo domínio de habilidades manuais, obedecendo uma sequencia de etapas, indo do mais simples ao mais complexo na arte de sapateiro, como exigência de habilidades e técnicas manuais. O ensino iniciava desenvolvendo habilidades no manuseio com as ferramentas.

Pontos de acesso local: J.F.M. Nº Reg.004/96 Pasta1- Envelope2 Nome do arquivo: J.F.M.004P1E2.tif Tipo de mídia: imagem Mime-type image/tiff Tamanho do arquivo: 2 MiB

Foto 7 - Oficina de Eletricidade

Foto 7 - Oficina de Eletricidade http://atom.ifes.edu.br/index.php/escola-de-aprendizes-e-artifices

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES EAAES-FOT-005

Título:Oficina de Eletricidade da EAAES Data(s): 1917 (Produção) Nível de descrição: Item Dimensão e suporte: Papel fotográfico. Estado de conservação: suporte frágil, imagem esmaecida e manchada, dificultando a noção de profundidade do ambiente. Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 25 x 17 cm (largura x altura)

Nome do produtor: EAAES - ESCOLA DE APRENDIZES E ARTÍFICES DO ESPÍRITO SANTO (1909 - 1937). Nome do produtor: José Francisco Monjardim (1870 -1944) Entidade custodiadora: Ifes – Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Interior da oficina de Eletricidade. Turma de alunos do curso de Eletricidade. Alunos com trajes de ternos de adultos, que eram doados pela escola e usados em ocasiões festivas. Na Oficina de Eletricidade o mestre artífice e professor foi Joaquim Fernandes de Andrade Silva.

Pontos de acesso local Nº Reg.005/96 – J.F.M. Pa sta 01 - Envelope 02. Nome do arquivo: J.F.M._REG005_P01E02.tifTipo de mídia: ImagemMime-type: image/tiffTamanho do arquivo: 2.3 MiB

3.2 - AS OFICINAS DA ETV

Foto 8 - A Escola Técnica de Vitória

http://atom.ifes.edu.br/index.php/escola-tecnica-de-vitoria-6

Criada em 1942, no mesmo ano da inauguração do prédio escolar, a Escola Técnica de Vitória se tornaria motivo de orgulho para a comunidade, transformando-se em referência na educação profissional capixaba. A reforma Gustavo Capanema, de 1942, criou a rede de escolas técnicas do governo federal, proporcionando significativas mudanças às escolas profissionais, pois alterou consideravelmente sua estrutura funcional e operacional, deixando de ser um ensino profissional de nível primário para um ensino profissional de nível médio, aspecto que abriu caminho para a busca pela equivalência entre o currículo do ensino profissional e o do ensino regular. Com a criação das Escolas Técnicas, em 1942, a educação profissional começava a ser reconhecida como parte integrante da estrutura da educação brasileira. Ao ser elevada ao nível ginasial, proporcionou uma ampliação do universo formativo pela incorporação da ciência e da arte, aspecto determinante à perspectiva de um trabalhador qualificado para atender ao processo de industrialização e desenvolvimento brasileiro. Na ETV eram ofertados os cursos Básicos Industriais nos ofícios de Artes do Couro, Alfaiataria, Marcenaria, Serralheria, Mecânica de Máquinas, Tipografia e Encadernação. Curiosamente, os cursos técnicos só foram ofertados na década de 1960.

3.2.1 OFICINA DE MARCENARIA

Na oficina de Marcenaria observa-se um aspecto peculiar do ensino profissionalizante: o processo de socialização e dimensão cultural de tempo, instituindo comportamentos repetitivos num contexto do fordismo-taylorismo. Essa robotização dos jovens visava à homogeneização de suas experiências, desenvolvendo a atenção na tarefa, o bom humor, o asseio e outros princípios orientaram o modelo de formação profissional da Escola Técnica de Vitória. A organização do espaço físico denota um ensino baseado na atividade e execução da tarefa, concepção pedagógica que evidencia o fazer da prática como elemento central do ofício manual.

Foto 7 - ALUNOS NA OFICINA

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/alunos-na-oficina

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETV-FOT-149

Título: Alunos na Oficina da ETV Data(s): 1962 - 1964 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Papel fotográfico. Estado de conservação: de conservação: Bom. Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 12 x 17 cm (largura x altura).

Nome do produtor: ESCOLA TÉCNICA DE VITÓRIA (1942-1965) Nome do produtor: Mauro Fontoura Borges (1928-1978) Entidade custodiadora: Ifes – Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Alunos em atividade na Oficina de Artes Industrial

Pontos de acesso local: M. F.B. Nº Reg.149/96 Pasta 2 - Envelope 2 Nome do arquivo: S_M.F.B_149_P2E2.tiff Tipo de mídia: Imagem – Mime-type - image/tiff Tamanho do arquivo: 3 MiB

3.2.2 OFICINAS DE TIPOGRAFIA E ENCADERNAÇÃO

Olhar para as máquinas tipográficas que compunham a oficina de Tipografia da ETV nos remete a lembrança de uma das maiores invenções da humanidade: a máquina de imprensa, feito excepcional de Gutembrg no século XV, que possibilitou o movimento renascentista na Europa. Já neste século XXI, essas máquinas compõem um acervo histórico do desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Na ETV o curso de Tipografia e Encadernação teve um papel fundamental, pois possibilitava não apenas a profissionalização de muitos jovens para o ofício de tipógrafo, mas também viabilizava a produção de material didático-pedagógico e materiais impressos para uso na própria instituição. Nesta oficina foram editados os exemplares do Jornal O ETV, impresso produzido por um grupo de estudantes que, sob a orientação do professor, fazia a divulgação de notícias da instituição tanto internamente quanto externamente.

Foto 8 - Oficina de Tipografia

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/oficina-de-tipografia

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETV-FOT-528

Título: Oficina de Tipografia Data(s): 1959 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Papel fotográfico. Estado de Conservação: Bom; Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 9 x 14 cm (largura x altura). Nome do produtor: ESCOLA TÉCNICA DE VITÓRIA (1942-1965) Nome do produtor: Fernando Alves Duarte (1913- ??) Entidade custodiadora: IFES Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Oficina de Tipografia da ETV. No curso de Tipografia e Encadernação, no primeiro ano eram tratadas com maior intensidade as matérias teóricas (denominadas por disciplinas de tecnologia), juntamente a prática da composição manual por tipos móveis, pois era considerada como básica para o ofício. No segundo ano do curso de Tipografia, com a diminuição da carga teórica, os alunos passavam apenas pelas disciplinas práticas. Assim, seguiam-se as aulas de composição manual e adicionavam-se aulas de composição mecânica em linotipia, impressão e encadernação.

Pontos de acesso de assunto: tipografia; linotipo Pontos de acesso local: Nº Reg.528/97 - F.A.D. Pasta 3 - Envelope 5 Nome do arquivo: 1959_oficina_de_tipografia.tif Tipo de mídia: Imagem; Mime-type: image/tiff Tamanho do arquivo: 1.8 MiB

3.2.3 OFICINAS DE SERRALHERIA

A oficina de Serralharia era um espaço de produção artesanal de peças trabalhadas no ferro e em outros metais, como o alumínio e o bronze. O ensino se caracterizava pelo desenvolvimento de atividades práticas com os estudantes organizados em grupos. Cada grupo era encarregado de construir uma peça, cabendo ao professor supervisionar a execução do trabalho. O domínio da tecnologia do ofício era compartilhado no espaço da oficina, lembrando a forma de organização das antigas comunidades de ofício que espalharam na Europa nos séculos XVIII e XIX

Foto 9 – OFICINA DE SERRALHERIA

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/oficina-de-serralheria-2

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETV-FOT-212 Título: Oficina de Serralheria Data(s): 1949 (Produção) Nível de descrição: Item Dimensão e suporte: Papel fotográfico. Estado de Conservação: Bom; Cromia: Monocromático (P&B). Dimensões: 18 x 23 cm (largura x altura).

Nome do produtor: ESCOLA TÉCNICA DE VITÓRIA (1942-1965) Nome do produtor: Artur Seixas Entidade custodiadora: IFES Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Oficina de serralheria da ETV Sistema de arranjo: Cronológico

Pontos de acesso local: A.S. Nº Reg.212/96 Pasta 2 - Envelope 4

Nome do arquivo: 1949-Oficina_de_serralheria_da_ETV.tif Tipo de mídia: Imagem; Mime-type; image/tiff Tamanho do arquivo:1.4 MiB

3.2.4 OFICINA DE MECÂNICA DE MÁQUINAS

A oficina mais disputada pelos alunos era a de Mecânica de Máquinas, provavelmente pelo maior status do ofício, comparativamente aos demais que se caracterizavam como artesanais. Como o trabalho em mecânica de máquinas requer um domínio técnico-científico mais amplo, isso conferia um ar de modernidade ao ofício. Por isso, depois de aprovado no exame de seleção o aluno percorria todas as oficinas, sendo avaliado criteriosamente pelos professores de cada uma, por meio de um rigoroso processo de observação da capacidade e do desempenho do aluno na execução de atividades relativas àquele ofício. Cada professor preenchia uma ficha onde descrevia sobre o comportamento, a atitude e destreza do aluno nas atividades de sua oficina. O curso de Mecânica de Máquinas deu um impulso ao desenvolvimento do ensino na ETV, pois conferiu um aspecto de modernidade à paisagem da escola, ao mesmo tempo que sinalizava uma transformação tecnológica que já se fazia presente nas indústrias brasileiras na década de 1950.

Foto 10 - OFICINA DE MECÂNICA

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/oficina-de-mecanica-de-maquinas-com-presenca-de-alguns-professores

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETV-FOT-104 Título: OFICINA DE MECÂNICA DE MÁQUINAS Data(s): 1960 - 1965 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Fotografia; Estado de Conservação: Bom; Suporte: Papel; Cromia: monocromático sépia; Dimensões: 10 x 16 cm (largura x altura);

Âmbito e conteúdo: Oficina de Mecânica de Máquinas com a presença dos professores Oswaldo Gomes (1 à esquerda), Antônio Luiz Valiatti (2 no meio), Antônio Schwan Valentim (3 à direita). Sistema de arranjo: Cronológico

Pontos de acesso local: M.F.B Nº Reg. 104 ; Pasta 1 Envelope 4 Nome do arquivo: S_M.F.B_104_P1E4.tiff Tipo de mídia: Imagem; Mime-type; image/tiff Tamanho do arquivo: 5.7 MiB

3.3 – AS SALAS DE AULA, OS LABORATÓRIOS E AS OFICINAS DA ETFES

Foto 11 – A Escola Técnica Federal do Espírito Santo

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/escola-tecnica-federal-do-espirito-santo-2

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

A Escola Técnica Federal do Espírito Santo foi criada em 1965 por meio da Lei n.º 4.759, de 20 de agosto de 1965 – Portaria do MEC n.º 239, de 3 de setembro de 1965. Dando continuidade às transformações da rede federal sua criação evidenciou um novo modelo de educação profissional em substituição ao modelo varguista instituído pela reforma Capanema, em 1942. O contexto social, político e econômico requeria da educação profissional um alinhamento com o projeto desenvolvimentista dos governos militares, pós-golpe de 1964. Os cursos vocacionais denominados de ginásio industrial e os cursos técnicos industriais foram paulatinamente substituindo os cursos básicos industriais e os cursos de aprendizagem, evidenciando a necessidade de um trabalhador com mais qualificação científica e tecnológica

3.3.1 AS SALAS DE AULA

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/sala-de-aula-alunos-de-mecanica

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETFES-FOT-130

Título: Sala de Aula de Mecânica Data(s): 1968 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Fotografia; Suporte: papel lustroso; Cromia: Monocromático(P&B) Dimensões: 18 X 24 cm (largura x altura); Estado de Conservação: Bom. No verso resíduos de colagem com outro tipo de papel de cor verde, possui marca de dobra ao meio e de pequenas dobras nas bordas, pequeno rasgo na parte inferior direita. pequena mancha de resíduo na borda esquerda inferior.

Nome do produtor: ETFES (1965-1998) Nome do produtor: Mauro Fontoura Borges (1928-1978) Entidade custodiadora: IFES Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: Ao final da década de 1960 o crescimento da oferta de matrículas dos cursos técnicos industriais, dos cursos do ginásio industrial e dos cursos de aprendizagem foram a tônica da instituição. Naquele contexto, o ensino profissionalizante industrial era perpassado pela questão de gênero, sendo praticamente um ofício masculino. A organização pedagógica da sala de aula evidencia um ensino tradicional, centrado no professor como transmissor do conhecimento, o que requeria disciplina e atenção dos estudantes.

Pontos de acesso local: M. F.B. Nº Reg.130/96 Pasta 2 - Envelope 1 Nome do arquivo: S_M.F.B_130_P2_E1.tiff Tipo de mídia: Imagem; Mime-type; image/tiff Tamanho do arquivo: 7.4 MiB

3.3.2 OS LABORATÓRIOS

Foto 12 - LABORATÓRIO DE AUTOMAÇÃO

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/laboratorio-de-automacao

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETFES-FOT-355

Título: Laboratório de Automação Data(s): 1987 (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Fotografia; Suporte: Papel; Cromia: Monocromático(P&B) fosca; Dimensões: 9 x 13 cm (largura x altura); Estado de Conservação: Bom

Nome do produtor: Zenaldo Rosa da Silva (1934-) Nome do produtor: ETFES (1965-1998) Entidade custodiadora: IFES Campus Vitória

Âmbito e conteúdo: O Laboratório de Automação do curso de Eletrotécnica retrata um contexto tecnológico que transformou o modo do trabalho nas empresas e indústrias. Os processos de automatização possibilitados pela revolução da microeletrônica ao longo do século XX proporcionou um salto qualitativo no trabalho do técnico, cabendo a tarefa de supervisão dos processos produtivos executados pelas máquinas e controlados por equipamentos de automação. Os equipamentos didaticamente dispostos no espaço físico retratam o modelo de organização pedagógica do ensino-aprendizagem.

Pontos de acesso local: Z.R.S. Nº Reg. 355/96 Pasta 5 - Envelope 2 Nome do arquivo: S_ZRS_355_P5_E2.tiff Tipo de mídia: Imagem; Mime-type; image/tiff Tamanho do arquivo: 3.9 MiB

3.3.3 AS OFICINAS

Foto 13 - OFICINA DE FUNDIÇÃO

Fonte: http://atom.ifes.edu.br/index.php/oficina-de-fundicao

créditos: biblioteca do Ifes campus Vitória

Código de referência: BR ES IFES ETFES-FOT-011

Título: Oficina de Fundição Data(s): 1965 - ? (Produção) Nível de descrição: Item Data(s): 1965 - ? (Produção) Nível de descrição: Item

Dimensão e suporte: Fotografia; Suporte: Papel; Cromia: Preto e branco fosco; Dimensões: 9x12 cm (largura x altura); Estado de Conservação: Bom;

Nome do produtor: ETFES (1965-1998) Nome do produtor: Mauro Fontoura Borges (1928-1978) Entidade custodiadora: IFES Campus Vitória

A oficina de Fundição da década de 1960 apresenta os elementos básicos do processo de fundição – o forno – a esteira – os controles eletromecânicos - evidenciando um contexto ao qual o ofício da fundição não havia se apropriado da tecnologia de automação e controle, tornando o processo de ensino-aprendizagem uma atividade laboral sujeita a riscos. Como atividade de ensino, o ofício da fundição passaria por significativas mudanças na ETFES com a criação do curso de Metalurgia em 1979, curso voltado para atender a implantação da Companhia Siderúrgica de Tubarão

Pontos de acesso local: M.F.B Nº Reg.123/96 - Pasta 2 - Envelope 2 Nome do arquivo: 1965_oficina_fundicao.tif Tipo de mídia: Imagem; Mime-type; image/tiff Tamanho do arquivo: 822.3 KiB

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Ellen Trevizan Rodrigues

27 98849-0207

CDD 21 –373.2467Elaborada por Marcileia Seibert de Barcellos – CRB-6/ES - 656

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