Segregação Socioespacial e a Consolidação da Periferia Leste Paulistana by Janis_Oliveira

JANIS PONTES DE OLIVEIRA

SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E A CONSOLIDAÇÃO DA PERIFERIA LESTE PAULISTANA

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Professora Doutora Paula Raquel da Rocha Jorge São Paulo 2016

JANIS PONTES DE OLIVEIRA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E A CONSOLIDAÇÃO DA PERIFERIA LESTE PAULISTANA Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em Banca examinadora _____________________________________________________________________ Professora Doutora Paula Raquel da Rocha Jorge (Orientadora) Universidade Presbiteriana Mackenzie _____________________________________________________________________ Professor Mestre Paulo Olivato Universidade Presbiteriana Mackenzie _____________________________________________________________________ Professora Mestra Wendie Aparecida Piccinini Requena Universidade de Guarulhos

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais Fátima e Orlando por todo apoio dado nos últimos anos, pelos conselhos e pela paciência, sempre me motivando a seguir em frente não importando as adversidades. Ao meu namorado Igor por ter sido compreensivo e por tanto ter me ajudado durante as fases de concepção e elaboração de todos os meus trabalhos. Aos meus amigos, em especial Jéssica e Camila, por sempre estarem ao meu lado me dando suporte e tornando a trajetória até aqui muito mais divertida. A minha orientadora Paula pelo carinho e dedicação no decorrer do ano, avaliando, corrigindo e sempre me guiando pelo melhor caminho durante todo o processo. A todos os meus mestres por terem compartilhado conhecimento e experiências, o que levarei de ensinamento para toda a vida. E ao governo federal pela concessão de uma bolsa de estudos integral pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni), o que possibilitou a realização deste sonho.

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de explicar como a segregação socioespacial teve influência na consolidação da periferia leste de São Paulo, propondo um equipamento público que minimize os impactos desse processo e confira qualidade ao espaço urbano. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica associada à visitas técnicas com vivência na área e observações tomadas durante o desenvolvimento. Conclui-se que ao conceber o projeto de um equipamento a partir das necessidades de uma área no intuito de qualificar o solo urbano, pode-se garantir melhoria na vida da população que habita ao seu redor, incentivando o convívio e dotando o espaço de usos que farão parte da vida de todos. Palavras-chave: Segregação socioespacial, São Paulo, Zona leste paulistana, Itaquera, Centro Comunitário.

A obscena desigualdade que existe na sociedade brasileira se manifesta na enorme segregação que se observa em nossas cidades. Essa segregação cria um ônus excepcional para os mais pobres e uma excepcional vantagem para os mais ricos. Villaça, 2012.

SUMÁRIO LISTA DE IMAGENS 1. INTRODUÇÃO �� 24 2. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E SUA RELAÇÃO COM A PERIFERIA LESTE DA CIDADE DE SÃO PAULO �� 30 2.1 Segregação em São Paulo �� 30 2.2 O Quadrante Sudoeste �� 32 2.3 A zona leste paulistana �� 43 3. ITAQUERA E IMEDIAÇÕES �� 54 3.1 A formação de Itaquera �� 54 3.2 Aspectos contemporâneos �� 59 3.3 A Operação Urbana Rio Verde-Jacu �� 68 3.4 O Polo Institucional de Itaquera �� 72

4. ESTRATÉGIAS PROJETUAIS �� 86 4.1 Cidade sustentável, cidade compacta �� 86 4.2 Novas centralidades e a dimensão humana �� 91 5. PROJETOS DE REFERÊNCIA �� 100 5.1 Centro Comunitário La Queue du Lézard �� 100 5.2 España Library �� 106 5.3 Fábrica de Cultura: Grotão �� 111 6. O PROJETO �� 122 6.1 A área de intervenção �� 122 6.2 Centro Comunitário Boa Esperança, Vila Boa Esperança e Praça Francisco Daniel Lopes �� 127 6.3 Processo projetual �� 130 7. CONCLUSÃO �� 170 REFERÊNCIAS �� 172

LISTA DE IMAGENS Imagem 1: Menor vulnerabilidade social �� 33 Imagem 2: Distritos com, no máximo, 10% de negros (Censo 2000) �� 34 Imagem 3: Os melhores locais para jovens �� 35 Imagem 4: Clima e temperaturas mais amenas no município �� 36 Imagem 5: Melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) �� 37 Imagem 6: Renda domiciliar média (acima de R$ 3000,00 em 1997) �� 38 Imagem 7: Zoneamento de 1972. Zonas Exclusivamente Residenciais Unifamiliares (Z-1) �� 39 Imagem 8: Menor número de óbitos por homicídio, por 100.000 habitantes �� 40 Imagem 9: COHAB Itaquera I e os projetos do terminal do Metrô e do estádio do Corinthians (1979) �� 49 Imagem 10: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 1930 �� 56 Imagem 11: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 1958 �� 57 Imagem 12: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 2015 �� 58 Imagem 13: Mapa de localização dos distritos de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder �� 60 Imagem 14: Mapa de uso e ocupação do solo urbano nas regiões de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder �� 61 Imagem 15: Mapa demonstrando a relação entre oportunidades de emprego e a vulnerabilidade urbana, predominantes nas áreas mais periféricas da cidade �� 62 Imagem 16: Centros culturais, casas de cultura, espaços culturais, galerias de arte e museus, 2013 �� 64

Imagem 17: Distribuição de domicílios segundo faixa de renda �� 65 Imagem 18: Zoneamento proposto para a região de Itaquera em 2016 �� 66 Imagem 19: Macroáreas �� 67 Imagem 20: Mapa das operações urbanas em São Paulo �� 70 Imagem 21: Setores da Operação Urbana Rio Verde-Jacu �� 71 Imagem 22: Plano proposto para o Polo Institucional de Itaquera �� 73 Imagem 23: Raio de influência do Polo Institucional de Itaquera �� 74 Imagem 24: Limites e obstáculos que dificultam o acesso ao Polo Institucional de Itaquera �� 76 Imagem 25: Vista número 1 �� 77 Imagem 26: Vista número 2 �� 77 Imagem 27: Vista número 3 �� 78 Imagem 28: Vista número 4 �� 78 Imagem 29: Vista número 5 �� 79 Imagem 30: Vista número 6 �� 79 Imagem 31: O desnível presente no Polo Institucional de Itaquera �� 80 Imagem 31: O desnível presente no Polo Institucional de Itaquera �� 81 Imagem 32: O modelo de cidade compacta �� 89 Imagem 33: Centralidades polares e lineares na Região Leste Paulistana existentes e propostas �� 93 Imagem 34: Eixos de transformação da estruturação urbana �� 95 Imagem 35: Térreo do Brascan Century Plaza �� 97 Imagem 36: Fachada do edifício �� 101 Imagem 37: Corte perspectivado mostrando os brises na fachada sul, a estrutura central de concreto e a estrutura secundária de madeira laminada �� 103

Imagem 38: Planta do centro comunitário �� 105 Imagem 39: Vista noturna do projeto �� 107 Imagem 40: A inserção do projeto na paisagem �� 108 Imagem 41: Implantação do projeto �� 109 Imagem 42: Organização espacial e estrutural do projeto �� 110 Imagem 43: Inserção do projeto no terreno �� 112 Imagem 44: Perspectiva em 3D do projeto inserido na comunidade de Paraisópolis �� 113 Imagem 45: Esquemas projetuais �� 115 Imagem 46: Esquema de plantio da vegetação �� 116 Imagem 47: Localização da área de intervenção e seu entorno imediato �� 123 Imagem 48: A área de intervenção contígua à área da Operação urbana Rio Verde-Jacu �� 124 Imagem 49: A apropriação por parte dos pedestres no local escolhido para intervenção 1 �� 126 Imagem 50: A apropriação por parte dos pedestres no local escolhido para intervenção 2 �� 126 Imagem 51: Localização da Diretoria Regional de Ensino e Educação (DRE) �� 129 Imagem 52: O gabarito do entorno �� 131 Imagem 53: O desnível presente na área �� 132 Imagem 54: Corte para visualização do relevo da área �� 133 Imagem 55: Atual situação da área de intervenção �� 134 Imagem 56: As primeiras ideias 1 �� 136 Imagem 57: As primeiras ideias 2 �� 136 Imagem 58: As primeiras ideias 3 �� 137 Imagem 59: As primeiras ideias 4 �� 137 Imagem 60: A volumetria final e as primeiras soluções quanto a materialidade �� 138 Imagem 61: O programa do Centro Comunitário Boa Esperança esquematicamente representado �� 140

Imagem 62: O térreo e o primeiro pavimento do Centro Comunitário Boa Esperança �� 141 Imagem 63: O segundo e terceiro pavimento do Centro Comunitário Boa Esperança �� 141 Imagem 64: Centro Comunitário Boa Esperança: Implantação �� 145 Imagem 65: C. C. Boa Esperença: Térreo �� 146 Imagem 66: C. C. Boa Esperença: Primeiro pavimento �� 147 Imagem 67: C. C. Boa Esperença: Segundo pavimento �� 148 Imagem 68: C. C. Boa Esperença: Terceiro pavimento �� 149 Imagem 69: C. C. Boa Esperença: Cobertura �� 150 Imagem 70: C. C. Boa Esperença: Subsolo �� 151 Imagem 71: C. C. Boa Esperença: Corte AA �� 152 Imagem 72: C. C. Boa Esperença: Corte BB �� 153 Imagem 73: C. C. Boa Esperença: Elevação 01 �� 154 Imagem 74: C. C. Boa Esperença: Elevação 02 �� 155 Imagem 75: C. C. Boa Esperença: Elevação 03 �� 156 Imagem 76: C. C. Boa Esperença: Elevação 04 �� 157 Imagem 77: C. C. Boa Esperança: Planta ampliada do segundo pavimento �� 158 Imagem 78: C. C. Boa Esperança: Corte longitudinal ampliado �� 159 Imagem 79: C. C. Boa Esperença: Corte transversal ampliado �� 160 Imagem 80: C. C. Boa Esperença: Detalhe construtivo da fachada da biblioteca �� 161 Imagem 81: C. C. Boa Esperança: Elevação 03 ampliada �� 162

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1. I N T R O D U Ç Ã O Segregação é uma palavra que remete diretamente à desigualdade. Especificamente em São Paulo, este termo está intrínseco ao processo de expansão em direção à periferia leste da cidade. A segregação foi intencional e não somente está atrelada à carência de empregos, como também à moradias de qualidade, infraestrutura e serviços. O espaço urbano não foi planejado devidamente e é reflexo direto de uma ocupação desenfreada por aqueles que não tinham condições de habitarem o centro e que foram indiretamente expulsos para uma área sem lei (de uso do solo) onde podiam se apropriar de terras sem grandes complicações (CALDEIRA, 2000). A necessidade pela construção de novas moradias e o descaso do poder público que perdurou durante anos tornaram a zona leste o caos urbano que é nitidamente visto em noticiários. A tardia intervenção do Estado na regularização e criação de políticas de moradia – como a COHAB – provocou um aumento no adensamento populacional, o que dificultou ainda mais a vida daqueles que habitam nessa parte da cidade. Devido aos problemas encontrados nessa área, que se intensificam cada vez mais com o decorrer dos anos, o poder público decidiu agir de modo a alterar o quadro da zona leste, buscando alternativas que pudessem transformar o solo urbano, garantindo empregos, infraestrutura e melhor qualidade de vida para seus residentes.

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Dentre as opções encontradas pelo governo, podem ser citadas a Operação Urbana Rio Verde-Jacu e o Polo Institucional de Itaquera, boas iniciativas, mas que não atingiram o território positivamente. As particularidades de toda região leste paulistana e as singularidades de apropriação da específica área escolhida para intervenção justificam a implantação do projeto desenvolvido, principalmente por se tratar de um espaço fora dos limites da operação urbana, onde esse tipo de intervenção é estimulada. O objetivo geral é propor um equipamento público (centro comunitário) que tenha o potencial de qualificar o precário espaço urbano da periferia de São Paulo e que possa tornar-se um modelo a ser estimulado em distintos pontos da zona leste reduzindo o caráter relativo à segregação socioespacial que decorre de sua formação e consolidação. Para tal, é necessário atender aos objetivos específicos: • compreender o processo de segregação socioespacial para a periferia leste do município de São Paulo; • compreender e os fatores que geram essa segregação socioespacial; • conhecer estratégias projetuais que auxiliem na mudança desse quadro tão característico.

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O trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica em livros, dissertações e teses, artigos científicos e mapas sobre os temas segregação socioespacial e desigualdade em São Paulo, formação e consolidação do distrito de Itaquera e estratégias projetuais para a cidade contemporânea, segundo os autores Amália Inês Lemos & Maria Cecília França (1999), Carlos Leite (2012), Flávio Villaça (2012), Jan Gehl (2015), Maria Elizabet Paez Rodriguez (2013), Richard Rogers (2012) e Teresa Pires do Rio Caldeira (2000). Foram realizadas também visitas técnicas à área de intervenção, assim como ao Polo Institucional de Itaquera e à diversos trecho da Operação Urbana Rio Verde-Jacu.

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2. S E G R E G A Ç Ã O S O C I O E S P A C I A L E S U A RELAÇÃO COM A PERIFERIA LESTE DA CIDADE DE SÃO PAULO O verbete segregação é frequentemente utilizado para definir distintos meios de exclusão. Seja para referir-se a questões raciais ou até mesmo para demarcar a situação de bairros afastados como os da periferia leste da cidade de São Paulo. Este capítulo tem como intuito questionar se segregação se relaciona, de fato, com essa específica localidade e se esse processo a tornou através dos tempos no que é conhecida atualmente.

2.1 S e g r e g a ç ã o e m S ã o P a u l o Segregação: 2. SOCIOL. Forma de dissociação que se realiza quando unidades similares, obedecendo ao mesmo impulso, se concentram, distanciando-se, ao mesmo tempo, de outras unidades consideradas diferentes ou divergentes, em virtude de certos fatores biológicos e sociais, como raça, riqueza, educação, religião, profissão, nacionalidade etc. (MICHAELIS, 2015).

Flávio Villaça (2012) apresenta um estudo da segregação em São Paulo enfatizando a ocupação das classes dominantes, o que contrasta diretamente com outros autores que optam por evidenciar o mesmo processo pelo ponto de vista das classes excluídas. Ele conceitua a palavra segregação quase da mesma forma que o dicionário, tratando-a

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como “[...] processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole” (VILLAÇA, 2012, p. 43). Segundo ambas as definições, pode-se admitir que este é um termo que se refere a ocupação e concentração de diferentes grupos em determinadas áreas da cidade. Inicialmente, vale frisar que Villaça cita a importância de se analisar como a segregação acontece em locais específicos, entendendo seus aspectos econômicos, políticos e ideológicos de modo a explicar o afastamento ou exclusão de determinados grupos, saindo então do caráter mais descritivo no qual a segregação é entendida como a ocupação central versus a ocupação periférica. Por vezes, a abordagem acerca da ocupação centro-periferia limita-se a fazer uma denúncia à injustiça, ou desigualdade que ali existe, mas sem explicar o processo ou articulá-lo ao restante da estrutura urbana. Por exemplo, de modo geral acredita-se que a segregação urbana é dada por uma organização concêntrica na qual ricos habitam o centro e os pobres as periferias. No entanto, o que se vê nitidamente em metrópoles como São Paulo é o aumento significativo de localidades como Alphaville, Granja Viana e Aldeia da Serra, todos estas de alta renda e enclausurados numa região igualmente periférica (VILLAÇA, 2012). Periferia seria, portanto, um termo que remete ao local onde se encontram aglomeradas as classes mais baixas, o que não necessariamente significa que estas se encontram nos limites do município.

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2.2 O Q u a d r a n t e S u d o e s t e Como dito anteriormente, é de suma importância examinar diferentes aspectos para se entender como funciona o processo de segregação, e tão importante quanto isso é analisar além do âmbito residencial, verificando também a existência da segregação de empregos, comércio, serviços e lazer. Ao estudar como a segregação se articula com a dominação social – que gera desigualdade – na cidade de São Paulo, Villaça divide a população em dois grupos que julga suficiente para efetuar sua análise: As camadas de alta renda e as camadas de baixa renda (VILLAÇA, 2012). Villaça constata em sua pesquisa que existe um local em São Paulo onde ocorre uma grande concentração de camadas de alta renda, e embora as camadas de baixa renda também marquem presença, os ricos são claramente a maioria. Essa área foi chamada por ele de Quadrante Sudoeste, pois está localizada precisamente neste trecho do município (VILLAÇA, 2012). A seguinte sequência de imagens mostra como as camadas de alta renda ocupam o Quadrante Sudoeste de acordo com uma grande variedade de indicadores:

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Imagem 1: Menor vulnerabilidade social

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 2: Distritos com, no máximo, 10% de negros (Censo 2000)

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 3: Os melhores locais para jovens

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 4: Clima e temperaturas mais amenas no município

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 5: Melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 6: Renda domiciliar média (acima de R$ 3000,00 em 1997)

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 7: Zoneamento de 1972. Zonas Exclusivamente Residenciais Unifamiliares (Z-1)

Fonte: Villaça, 2012.

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Imagem 8: Menor número de óbitos por homicídio, por 100.000 habitantes

Fonte: Villaça, 2012.

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Todas as metrópoles desenvolvem sua área de concentração de população de alta renda. Em São Paulo estão concentradas nos bairros: Higienópolis, Pacaembu, Consolação, Avenida Paulista, Vila Mariana, Aclimação, Ipiranga, Sumaré, Perdizes, Vila Pompeia, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros, Jardins, Butantã, Morumbi e as adjacentes Moema, Brooklin, Alto da Boa Vista, Granja Julieta, etc. É neste recorte da cidade que estão situados predominantemente os empregos do terceiro setor (local de emprego da população rica), mais precisamente os escritórios e sedes de corporações multinacionais, bancos, financeiras e até mesmo o comércio varejista. Estão também localizados aí o comércio, escolas de ensino fundamental e médio, escolas de judô ou natação, salões de beleza, áreas de lazer, parques, universidades, clínicas, hospitais, igrejas e até mesmo os cemitérios que atendem a essa população (VILLAÇA, 2012). Muitos ricos trabalham no setor terciário, mas isto não é diferente para o restante da população. A elite produziu uma única área de concentração para seus empregos enquanto que para os demais a realidade é completamente oposta. O local de trabalho da população de baixa renda pode estar em diferentes pontos da cidade, tanto no setor terciário – localizado principalmente no Quadrante Sudoeste – quanto no secundário – situado, por exemplo, na região sudeste nos municípios vizinhos do ABCD. Isto, por sua vez, faz com que a maioria das pessoas se desloque muito pelo espaço urbano, não somente para trabalho, como também para estudo e lazer. Os mais pobres também possuem outras áreas de concentração de empregos e serviços características na cidade como os “decadentes” centros principais da metrópole

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paulistana (Sé e imediações) e ainda as áreas de convergência representadas pelos subcentros de comércio e serviços localizados na Lapa, Pinheiros, Santo Amaro, Penha, etc. (VILLAÇA, 2012). A porcentagem de população de baixa renda atuante no setor secundário é certamente maior que a de alta renda. Numa indústria de médio ou grande porte há relativamente poucos cargos ocupados pelos mais ricos, portanto, uma zona industrial acaba por concentrar muito mais empregos de pobres. A proximidade ao emprego industrial é algo não disputado pelos ricos, e por conta disto, os mais pobres o fazem. Assim sendo, sempre que possível, os trabalhadores dessa área procuram se localizar próximos às zonas industriais, especialmente o ABCD, Guarulhos e Osasco. Vale destacar que a classe dominante ainda manipula a produção do espaço urbano em São Paulo, otimizando sempre o seu tempo de deslocamento com uma localização favorável, enquanto que a classe mais baixa é obrigada a perder mais tempo para chegar ao seu longínquo destino (VILLAÇA, 2012). Os mais ricos dispõem também de um grande serviço de transporte público, mas geralmente preferem se movimentar pela cidade com veículos particulares ao invés de utilizarem o sistema de ônibus e trens metropolitanos. A rede de transporte coletivo é mais desenvolvida na região onde as classes altas residem, quando na verdade quem mais usufrui deste serviço é a outra parte da população, que acaba dependendo de uma rede de ônibus e transporte ferroviário que não recebe investimentos significativos.

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O interesse é claramente maior em oferecer infraestrutura à classe mais abastada enquanto que os demais se veem obrigados a viver com o pouco que lhes é disposto (VILLAÇA, 2012). Em resumo, no intitulado Quadrante Sudoeste da cidade de São Paulo ocorre o que Flávio Villaça chama de tripla segregação dos mais ricos: das suas residências, de seus empregos (no setor terciário) e de seu comércio e serviços. Segregação aqui, portanto, pode ser comparado à uma faca de dois gumes, pois por um lado tem-se a classe dominante que opta por se enclausurar em determinada área, enquanto que também quer afastar as classes mais baixas e indesejadas daquele que julga ser seu próprio território.

2.3 A z o n a l e s t e p a u l i s t a n a O capítulo anterior teve como foco expor a segregação socioespacial – pois, este termo está diretamente relacionado a manipulação do solo urbano pelas camadas de alta renda (NEGRI, 2008) – por parte das classes dominantes, localizadas no já conhecido Quadrante Sudoeste de São Paulo, como demonstra Flávio Villaça (2012). O que será exposto agora é como o deslocamento do centro de negócios de São Paulo pelo Quadrante Sudoeste prejudicou a população de baixa renda, quais outros fatores contribuíram para a migração ao extremo leste e como esta localidade se transformou na periferia conhecida atualmente.

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Teresa Pires do Rio Caldeira (2000) afirma que a cidade de São Paulo passou por pelo menos três formas diferentes de segregação expressas no espaço urbano. A primeira, composta por grupos que se comprimiam numa pequena área urbana segregados por tipos de moradia, se iniciou no fim do século XIX e se estendeu até os anos 1940, quando começou a segunda forma de segregação intitulada centroperiferia que perdurou até 1980. Nessa última, os diferentes grupos sociais estão separados por grandes distâncias onde as classes média e alta ocupam os bairros mais centrais (Quadrante Sudoeste, por exemplo) servidos de boa infraestrutura, enquanto que as classes mais baixas habitam as precárias e distantes periferias, como já citado anteriormente. A terceira forma vem se configurando desde 1980 e está gerando espaços onde distintos grupos sociais ocupam praticamente a mesma área, porém separados por muros e tecnologias de segurança, quase sempre tendendo a não circulação ou interação em áreas comuns. Para esta pesquisa, será considerado o estudo do segundo padrão de segregação socioespacial, pois já está consolidado e auxiliará na compreensão da consolidação da zona leste do município. Desde a primeira forma de segregação era notória a tendência dos mais ricos se separarem da população mais pobre. Ao associar as classes mais baixas à doenças e epidemias, os membros da elite paulistana começaram a se mudar e povoar a cidade em regiões mais altas e um pouco afastadas do antigo centro com seus grandes e exclusivos empreendimentos imobiliários – um dos bairros formados nesse período é conhecido, não por acaso, pelo nome de Higienópolis. Esse primeiro

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padrão de segregação perdeu força no início do século XX com a criação do mais famoso empreendimento urbanístico da época, que representava uma mudança na concepção da intervenção do Estado no planejamento urbano (CALDEIRA, 2000). O Plano de Avenidas elaborado por Francisco Prestes Maia: [...] propunha mudar o sistema de circulação da cidade abrindo uma série de avenidas partindo do centro até os subúrbios. Ele [o plano] exigiu uma considerável demolição e remodelação da região central, cuja zona comercial foi reformada e aumentada, estimulando a especulação imobiliária. Consequentemente, os trabalhadores que não podiam pagar os elevados aluguéis acabaram expulsos do centro. [...] Uma das principais causas da concentração da cidade era que o transporte coletivo baseava-se no sistema de bondes, que requeria instalações caras e, portanto, expandiase lentamente. Porque esse sistema cobria apenas uma pequena área da cidade, era difícil desalojar os moradores pobres do centro da cidade, onde trabalhavam. O lançamento de um sistema de ônibus, associado à progressiva abertura de novas avenidas, possibilitou a expansão da cidade em direção à periferia (CALDEIRA, 2003, p. 216-217).

O Plano de Avenidas somado a instauração da Lei do Inquilinato – que diminuiu o mercado de alugueis e acabou por incentivar a população de baixa renda a buscar locais para construção de suas próprias moradias – provocaram as migrações internas a partir dos anos 30, levando ao já mencionado segundo padrão de segregação da cidade: o centro-periferia (CALDEIRA, 2000). Anterior a esse processo migratório, vale ressaltar que a zona leste de São Paulo não exerceu um papel relevante na economia do município, embora houvesse uma

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grande quantidade de fazendas por todo seu perímetro. O sistema de transporte era dependente da tropa de burros, cavalos e carros de boi até o momento em que houve a implantação da ferrovia Central do Brasil, inaugurada em 1860 para ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Tanto os municípios vizinhos da zona leste como Poá, Suzano e Ferraz de Vasconcelos quanto os distritos de Itaim Paulista, Lajeado, Guaianases e Cidade Tiradentes já apresentavam focos urbanizados consideráveis em 1875, pois se desenvolveram a partir das paradas da referida estrada de ferro (RODRIGUEZ, 2013). A abertura de novas avenidas, então, tornou possível o uso do ônibus no final da década de 1930. Os primeiros veículos começaram a rodar em 1924 e pouco tempo depois já desafiavam o monopólio dos bondes. Essa iniciativa tornaria possível comprar terrenos mais afastados do centro, pois a locomoção até os serviços e empregos estaria garantida. Entretanto, no extremo leste, até 1965 não se tinha uma conexão bem estruturada com a área central da cidade e a população ficava a mercê das vias coletoras que funcionavam como estruturais para o trânsito de carros na ausência de transporte público que pudesse atender a demanda (CALDEIRA, 2000; RODRIGUEZ, 2013). Ainda assim, os lotes mais afastados nos limites do município eram mais acessíveis aos trabalhadores tanto em função de sua ilegalidade quanto por estarem localizados no meio do nada. Acessíveis no preço, mas desprovidos de infraestruturas tais como eletricidade, água, esgoto, telefone, escolas ou hospitais, estando assim,

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dependentes do centro por um sistema deficiente de ônibus no qual a população gastava muitas horas por dia (CALDEIRA, 2000). Essa ocupação, segundo Maria Elizabet Paez Rodriguez (2013), é um dos principais fatores que contribuíram para os atuais grandes deslocamentos entre locais de trabalho, serviços e moradia – assunto bastante abordado pelo Estado hoje em dia, mas que ainda carece de soluções que realmente sanem os problemas encontrados. Outro fato que alavancou a busca por territórios habitáveis na região periférica leste da cidade foi a expansão das indústrias após a década de 1950 nos espaços que antes eram dedicados à agricultura, pois atraiam a população de baixa renda que estava disposta a vender sua força de trabalho e se instalar em locais próximos ao emprego (LEMOS & FRANÇA, 1999 apud OLIVEIRA, 2015). Habitar as periferias pela proximidade dos empregos no segundo setor não foi suficiente para a população de baixa renda. O número de empregos oferecidos era insuficiente para a quantidade de pessoas que ali viviam, aumentando ainda mais a dependência do centro urbano e a necessidade de serviços básicos (OLIVEIRA, 2015). A ocupação irregular já caracterizava a periferia leste, pois não havia uma política pública de produção ou subsídio a moradia até a década de 1970. Os loteamentos irregulares e clandestinos foram a solução encontrada pela população, que fazia suas casas como podia a partir do princípio da autoconstrução conforme fossem chegando novos moradores. Somente em meados de 1970 os movimentos sociais emergiram

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pela periferia leste de São Paulo e as pessoas começaram, então, a reivindicar os seus direitos que até aquele momento eram negados pelos governantes. Intervenções no território começaram a ser rapidamente planejadas e talvez a mais emblemática delas tenha sido a construção da COHAB (1979-1980) (CALDEIRA, 2000; OLIVEIRA, 2015; RODRIGUEZ, 2013). A COHAB desencadeou inicialmente uma rápida ocupação no distrito de Itaquera (uma das localidades mais conhecidas da zona leste do município), favorecendo sua ocupação e deixando grandes lacunas urbanísticas para a região. Dentre tantos problemas que ficaram em evidência a partir da construção dos conjuntos habitacionais podem ser destacados o esfacelamento das áreas verdes, a falta de saneamento básico (para aqueles que não moravam nos prédios), infraestrutura e serviços básicos tais como comércio e transportes que atendessem a todos. Porém desta vez, com o consequente e brusco aumento da população nessa parte da cidade, o poder público pretendia levar investimentos para a zona leste a partir dos anos 80, algo que fosse além dos limites da chamada Zona Leste 1 (Tatuapé e proximidades, com o solo já valorizado na época) e que chegasse à Zona Leste 2 (a partir do bairro Patriarca). As propostas públicas desse período compreendiam levar a linha vermelha do Metrô e a extensão da Radial Leste até Itaquera, além da construção do estádio do Corinthians já idealizado em 1979 (imagem 9), porém, o que se viu foi um grande investimento no setor sudoeste (Quadrante Sudoeste para Villaça) fazendo com que a chegada do metrô viesse anos mais tarde em 1989 (OLIVEIRA, 2015) – isso sem mencionar a inauguração do estádio do Corinthians 35 anos depois do planejado, em 2014.

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Imagem 9: COHAB Itaquera I e os projetos do terminal do Metrô e do estádio do Corinthians (1979)

Fonte: Modificado a partir de Oliveira, 2015.

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A periferia leste de São Paulo é um ambiente precariamente urbanizado a partir da extrema necessidade de seus residentes, ainda hoje excluído do restante da cidade no que diz respeito a oportunidades de emprego e quantidade e qualidade dos equipamentos. Sua população é, em grande parte, dependente do Quadrante Sudoeste, local mais desenvolvido a partir da vontade do Estado e da minoria de alta renda que se apoderou daquele que julga ser o melhor território de São Paulo. A segregação socioespacial que se tem exposta neste capítulo não só parte daqueles que optaram por se fechar para o restante da população, como também parte do poder público, com seus planos para o município que contribuíram para a ocupação periférica desordenada através dos anos sem se importar com a qualidade de vida da maioria de seus residentes que são os reais responsáveis pelo funcionamento da metrópole.

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3. I T A Q U E R A E I M E D I A Ç Õ E S Para este trabalho ser efetivamente realizado, foi necessário definir um recorte espacial para estudo e intervenção que trouxesse benefícios para a área. No caso, optou-se por Itaquera junto a seus distritos mais próximos (Artur Alvim e Cidade Líder), localidades importantes, pois fazem parte do território que sofreu com o processo de segregação socioespacial abordado anteriormente, e por ser alvo dos atuais planos e operações urbanas destinados à melhoria da vida da população residente quantitativamente expressiva nesta região.

3.1 A f o r m a ç ã o d e I t a q u e r a Itaquera é conhecida por sua predominante ocupação residencial, algo característico desde o início de seu desenvolvimento até os dias atuais. Entretanto, durante o século XIX, todo território era marcado pela presença grandes áreas verdes – ou fazendas – com produção agrícola voltada para subsistência, o que mudou após o advento da estrada de ferro (ver também capítulo 2.3) em direção ao Rio de Janeiro (consequência do surto do café), tirando Itaquera de sua posição isolada que perdurou ao longo dos os séculos XVIII e XIX (LEMOS & FRANÇA, 1999).

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Até as primeiras décadas do século XX (imagem 10), ainda era possível caracterizar Itaquera e bairros do entorno como os grandes campos de cultivo citados anteriormente com ocupação pouco densa e quase sempre ligada diretamente à ferrovia. Alguns destes núcleos de ocupação viriam a se industrializar enquanto outros serviriam de residência a operários que trabalhavam no centro da cidade (LEMOS & FRANÇA, 1999). Com o passar dos anos, Itaquera foi tornando-se cada vez mais densa (imagem 11). Sua população passou de 7.892 habitantes em 1934 para 25.000 em 1958, período no qual também houve a implementação da rede elétrica que alavancou ainda mais o desenvolvimento local (LEMOS & FRANÇA, 1999).

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 10: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 1930

Fonte: Modificado a partir de Sara Brasil, 1930.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 11: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 1958

Fonte: Modificado a partir de Geoportal, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 12: Mapa de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder, 2015

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2015.

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3.2 A s p e c t o s c o n t e m p o r â n e o s Atualmente, Itaquera está bem mais populosa (imagem 12). O número de habitantes já passa dos 435.000 (2010) (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016) se somadas às populações dos distritos adjacentes de Artur Alvim e Cidade Líder (imagem 13). Seu território predominantemente residencial é consequentemente carente de empregos (imagens 14 e 15), gerando uma grande dependência do centro urbano e também do Quadrante Sudoeste. Sua população, portanto, se vê obrigada a fazer grandes deslocamentos diários até o local de trabalho.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 13: Mapa de localização dos distritos de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder

Fonte: Modificado a partir de Mapa Digital da Cidade, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 14: Mapa de uso e ocupação do solo urbano nas regiões de Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder

Fonte:Modificado a partir de Infocidade, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 15: Mapa demonstrando a relação entre oportunidades de emprego e a vulnerabilidade urbana, predominantes nas áreas mais periféricas da cidade

Fonte: SMDU, 2014.

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Além da falta de emprego, toda região é também marcada pela pequena oferta de serviços, equipamentos e infraestrutura, como pode ser visto, por exemplo, no mapa a seguir (imagem 16) que demonstra o quão farta é a distribuição de equipamentos de cunho cultural na região central e no Quadrante Sudoeste, os mais desenvolvidos da cidade em oposição à região da proposta. Tanto Itaquera quanto Artur Alvim e Cidade Líder, não somente são distritos fortemente marcados pelo seu uso, como também por acomodar boa parte da população de baixa renda de toda a cidade (imagem 17). Essas pessoas, de um modo geral, passaram a ocupar a área periférica leste da cidade por conta do processo de segregação socioespacial provocado pelas camadas de alta renda, como explicado nos capítulos anteriores. Com base nestes fatos, há alguns anos a prefeitura de São Paulo vem tentando propor medidas que alterem o atual quadro da região. A fim de diminuir os deslocamentos pelo município e também garantir melhorias na mobilidade urbana, está sendo sugerido um novo zoneamento (imagem 18) que dá prioridade ao uso misto nos eixos denominados estruturadores.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 16: Centros culturais, casas de cultura, espaços culturais, galerias de arte e museus, 2013

Fonte: Modificado a partir de Infocidade, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 17: Distribuição de domicílios segundo faixa de renda

Fonte: Modificado a partir de Infocidade, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 18: Zoneamento proposto para a região de Itaquera em 2016

Fonte: Modificado a partir de Gestão Urbana, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 19: Macroáreas

Fonte: Modificado a partir de Gestão Urbana, 2013.

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Por Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder estarem em uma área considerada vulnerável (fazem parte da Macroárea de Redução da Vulnerabilidade Urbana), a ideia central é garantir que os novos planos propostos possam assegurar melhorias, tais como aumento da oferta de empregos, serviços, infraestrutura e lazer (imagem 19). Para tal, além do novo Plano Diretor e Zoneamento, vale destacar que foi prevista pela prefeitura do município de São Paulo em 2011 uma nova centralidade intitulada “Polo Institucional de Itaquera” – parte da Operação Urbana Rio Verde-Jacu, que beneficia uma área de aproximadamente 10 mil hectares incluindo a gleba onde está implantado o estádio (PORTAL 2014, 2011) – que ocuparia todo território adjacente à Arena Corinthians, dispondo de equipamentos tais como: centros educacionais, rodoviária, centro de convenções, parque tecnológico, entre outros.

3.3 A O p e r a ç ã o U r b a n a R i o V e r d e - J a c u

No ano de 2004, quando Marta Suplicy ainda conduzia a prefeitura de São Paulo, foi aprovada a Operação Urbana Rio Verde-Jacu, cujo objetivo era (e ainda é) executar um conjunto de intervenções coordenadas pela prefeitura do município com proprietários, moradores, usuários e investidores, visando promover transformações urbanísticas, sociais e ambientais (JUSBRASIL, 2005).

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Com uma área de aproximadamente 11.000 hectares, a Operação Urbana Rio Verde-Jacu é a que apresenta maiores desafios dentre as demais intervenções do gênero propostas para a cidade de São Paulo (RODRIGUEZ, 2013) e pretende, não só incentivar a revitalização das regiões subutilizadas da zona leste do município, como também desenvolvê-la economicamente nos arredores da avenida Jacu-Pêssego a fim de estimular o uso do seu entorno, priorizando ocupações não residenciais de forma a melhorar a vida da população residente (em sua maioria de baixa renda) predominante no local (imagem 20) (ROCHA, 2010). Segundo o mapa exibido na imagem 21, dentre as diretrizes traçadas para o plano é possível destacar a criação de áreas específicas para comércio, serviços e indústria (laranja e roxo) nas quadras mais próximas à avenida Jacu-Pêssego – pois, a avenida é o elo entre duas importantes rodovias de acesso: Ayrton Senna e Rodoanel Mário Covas –, áreas de urbanização controlada – onde ainda hoje se encontra uma menor ocupação por conta da presença de áreas de preservação, como o Parque do Carmo –, área de transformação induzida e áreas mistas no restante do território. Mesmo se tratando de uma ideia que objetiva melhorias para a vida dos habitantes da periferia leste paulistana, vale ressaltar que há certos pontos que merecem ser questionados. Um exemplo disso, segundo Rodriguez (2013), diz respeito aos limites territoriais da Operação Urbana Rio Verde-Jacu que acabam privando bairros como Jardim Helena, Itaim Paulista, Vila Curuçá, Lajeado, Guaianases e Cidade Tiradentes

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dos possíveis benefícios do plano, sendo que nessa localidade (extremo leste) a população é igualmente, ou ainda mais pobre que nas demais áreas, devendo também ser favorecida com essa intervenção.

Imagem 20: Mapa das operações urbanas em São Paulo

Fonte: Modificado a partir de Fioravanti, 2016.

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Imagem 21: Setores da Operação Urbana Rio Verde-Jacu

Fonte: Modificado a partir de Bucalem, 2011.

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3.4 O P o l o I n s t i t u c i o n a l d e I t a q u e r a O principal projeto para o desenvolvimento da área da Operação Urbana Rio Verde-Jacu é conhecido como Polo Institucional de Itaquera (imagem 22). Foi anunciado em 2011 pelo governo municipal e descrito como uma nova centralidade cuja premissa é a de criar “equipamentos públicos, por meio de parcerias com instituições públicas e privadas, para atendimento direto às demandas da região, aproximando no tempo e no espaço os moradores das suas atividades cotidianas” (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2012, p.22). Segundo a prefeitura do município, este projeto teria um grande raio de influência por estar localizado geograficamente no centro da zona leste da cidade (imagem 23), causando um impacto positivo nas proximidades ao garantir infraestrutura, empregos e lazer à população (LEITE, 2015). Mesmo tendo bons ideais, ao analisar aspectos gerais do referido empreendimento, constata-se que esse não é um bom exemplo de intervenção, embora ainda não tenha sido finalizado por completo. O Polo Institucional de Itaquera conta apenas com a Arena Corinthians, Fatec e Parque Linear Rio Verde entregues (LEITE, 2015) e a instalação destes três equipamentos (segundo os próprios moradores da região) já ocasionou uma grande valorização da área, tornando aluguéis de salas comerciais próximas ao polo mais caros e incentivando comerciantes de pequenos estabelecimentos a fecharem as

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portas ou passarem o ponto a terceiros por não possuírem dinheiro o suficiente para arcar com as despesas. Esse processo é conhecido como gentrificação, termo criado em Londres na década de 1960 para nomear o enobrecimento e valorização de uma área que pode ocasionar a expulsão de seus primeiros ocupantes (COSTA, 2016). Imagem 22: Plano proposto para o Polo Institucional de Itaquera

Fonte: Leite, 2015.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 23: Raio de influência do Polo Institucional de Itaquera

Fonte: Modificado a partir de Prefeitura do Município de São Paulo, 2012.

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O complexo em si (segundo o que se sabe acerca do projeto e observando o local da implantação) não constitui uma proposta para todas as problemáticas e habitantes da área – um claro exemplo disto seria o fato de não haver um projeto destinado aos residentes da favela próxima ao parque Linear Rio Verde, transformando seu perímetro em uma grande área verde sem propósito aparente. Também vale a pena ser citado que o Polo Institucional de Itaquera não é satisfatoriamente acessível aos pedestres, visto que está localizado entre o pátio de manutenção e manobras do metrô, Radial Leste e viadutos (imagem 24 e fotos tiradas no local) – isto sem levar em conta que o espaço é uma sucessão de platôs localizados numa área que possui desníveis consideráveis (imagem 31). Mesmo que o acesso ao polo seja facilitado por transporte coletivo, algo tão grande e ao mesmo tempo tão isolado para pedestres e ciclistas, sem dispor de um trajeto agradável que encaminhe as pessoas até ele (imagem 24 e fotos tiradas no local), acaba por afastar os residentes que ao invés de transitarem e consolidarem a existência do projeto, fazem com que este seja um grande elefante branco na cidade, onde muito foi investido, mas pouco aproveitado.

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Imagem 24: Limites e obstáculos que dificultam o acesso ao Polo Institucional de Itaquera

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Imagem 25: Vista número 1 Fonte: Autoria própria, 2016.

Imagem 26: Vista número 2 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 27: Vista número 3 Fonte: Autoria própria, 2016.

Imagem 28: Vista número 4 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 29: Vista número 5 Fonte: Autoria própria, 2016.

Imagem 30: Vista número 6 Fonte: Autoria própria, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 31: O desnível presente no Polo Institucional de Itaquera

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Imagem 31: O desnível presente no Polo Institucional de Itaquera

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Pouco se sabe quanto ao porquê do Polo Institucional de Itaquera ou da operação urbana em si ainda não terem sido concluídos em 2016 e, embora o trecho de ampliação da avenida Jacu-Pêssego até o Rodoanel e alguns equipamentos do polo já estarem à disposição da população, resta muito a ser feito. Ao pesquisar as possíveis causas, um dos pontos que poderia explicar o atraso nos projetos e obras seria o fato de haver uma alteração no Plano Diretor Estratégico de 2004 para o de 2014 na qual é revogada a lei nº 13.872, de 12 de julho de 2004 – que corresponde à Operação Urbana Rio VerdeJacu (SÃO PAULO, Município). Segundo o novo PDE, tal anulação seria feita somente até que houvesse a revisão da lei de Uso e Ocupação do Solo, contudo, mesmo tendo este artigo vetado, possivelmente estabeleceu-se um grande impasse e mais nada teria sido feito desde então. Ainda que se tenha impressões negativas acerca do Polo Institucional de Itaquera e da operação urbana em si, e levando em conta o atraso em sua execução, deve-se reconhecer que, ambas são ideias ambiciosas que poderiam sim garantir notoriedade e mudança à uma área que anos antes não era reconhecida como algo além de grandes bairros dormitório sem potencial. Porém, isto só seria satisfatoriamente possível se seu projeto e traçado fossem mais inclusivos, acrescentando áreas igualmente importantes que foram deixadas de fora dos limites da operação urbana e qualificando mais o projeto do Polo Institucional, integrando-o ao seu entorno de modo a atrair constantemente a população residente para percorrer e usufruir das atividades que irá dispor. Por ora, é importante aguardar para ver o que, de fato, acontecerá, visto que ainda é difícil concluir o impacto total que essa intervenção pode exercer na periferia leste da cidade de São Paulo.

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4. E S T R A T É G I A S P R O J E T U A I S Não é novidade que São Paulo é uma cidade com muitas deficiências. A segregação socioespacial atrelada à carência de empregos, infraestrutura e lazer, aliada à dependência do centro da cidade, o trânsito quase constante, a consequente poluição, a alta taxa de criminalidade e o transporte público insuficiente são apenas alguns dos pontos que podem ser listados. O processo de formação do município acabou por contribuir com o surgimento destes problemas tão característicos. Mas, qual seria o melhor modo de revertê-los? Existe uma maneira de intervir no solo urbano a fim de minimizar ou sanar definitivamente todas essas complicações?

4.1 C i d a d e s u s t e n t á v e l , c i d a d e c o m p a c t a Uma cidade sustentável é muito mais do que um desejável conjunto de construções sustentáveis. Ela deve incorporar parâmetros de sustentabilidade no desenvolvimento urbano público e privado (LEITE, 2012, p. 132).

É fato que com o passar dos anos muitas cidades estão se tornando cada vez maiores e mais densas e é preciso elaborar modelos de sustentabilidade urbana capazes de alinhar o desenvolvimento dos espaços aos princípios da sustentabilidade (LEITE, 2012).

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Richard Rogers (2012) defende que para se planejar uma cidade sustentável é exigida uma grande compreensão das relações entre os cidadãos que a habitam, dos serviços e das políticas de transporte e geração de energia, bem como o seu impacto total no meio ambiente local. Para se criar efetivamente a noção de desenvolvimento sustentável, todos estes fatores devem estar ligados. Carlos Leite (2012) baseia-se nas ideias de Rogers e cita que as cidades sustentáveis conciliam bem a questão da mobilidade com o espaço urbano, proporcionando meios de locomoção agradáveis para a população. Para tal, podem ser projetadas desde ciclovias até ruas mistas onde o pedestre seja considerado protagonista. Resumidamente, cidades sustentáveis possuem um sistema de mobilidade inteligente com os seguintes parâmetros: •

Desestímulo ao uso do automóvel (atual);

•

Melhoria no sistema de transporte coletivo integrado;

•

Integração do uso do solo e do sistema de transportes;

•

Estímulo ao transporte não motorizado;

•

Estímulo por soluções inovadoras de transporte individual (futuro);

•

Mobilidade urbana inteligente (inovação, gestão e monitoramento).

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No que se refere à integração do uso do solo e do sistema de transportes, deve-se buscar: •

Planejamento integrado do território;

•

Gestão inteligente do território;

• Cidade como sistema de núcleos compactos e interligados de forma eficiente; • Densidade qualificada como parâmetros de desenho urbano (LEITE, 2012, p.145-146). As cidades densas, através de um planejamento integrado, podem ser pensadas tendo em vista um aumento de sua eficiência energética, menor consumo de recursos, menor nível de poluição e, além disso, evitando a sua expansão sobre a área rural. [...] devemos investir na ideia de ‘cidade compacta’ – uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades econômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concentradas em torno das unidades de vizinhança (ROGERS, 2012, p.33).

Para o emprego da estratégia de cidade compacta, seria necessária a rejeição do modelo de desenvolvimento monofuncional e a predominância do automóvel – já que a ascensão do carro como objeto de desejo da população fez com que o uso exacerbado do mesmo deteriorasse a coesa estrutura social da cidade prejudicando a qualidade dos espaços públicos e estimulando também a expansão urbana para bairros distantes. Em linhas gerais, o uso do automóvel viabilizou a compartimentação das atividades cotidianas e acabou por segregar escritórios, comércios e moradias (ROGERS, 2012).

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Rogers, propôs então, um modelo de ocupação ou uma estratégia projetual, para a cidade contemporânea que viria a combater o modo como os grandes centros urbanos vinham se formando. A cidade compacta, portanto, promove densidade qualificada com uso do solo misto e multicentralidade ligadas por uma eficiente rede de mobilidade (transporte público, ciclovias e áreas adequadas ao pedestre), todos ingredientes básicos para a chamada cidade sustentável (LEITE, 2012). Segundo Leite, a densidade qualificada referida anteriormente é planejada urbanisticamente para cada contexto territorial estando de acordo com os usos adequados para cada região. Não podem ser, portanto, conflitantes com as necessidades dos usuários e devem considerar o uso misto na escala intraurbana, aproximando as pessoas de suas necessidades básicas (imagem 32). Imagem 32: O modelo de cidade compacta

Fonte: Rogers, 2012.

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As necessidades básicas podem ser entendidas como tudo aquilo que o morador de determinada região necessita no seu dia-a-dia. São os equipamentos urbanos básicos e de serviços, as áreas verdes (importante ponto, pois a vegetação auxilia na diminuição da temperatura urbana e na umidificação do ar), o comércio local e o acesso ao transporte coletivo. Este modelo de cidade oferece um número suficiente de moradias e locais de trabalho a uma razoável distância das estações e garantem também outras tantas vantagens ambientais, como por exemplo, linhas de abastecimento mais curtas (GEHL, 2015; LEITE, 2012; ROGERS, 2012). “Priorizar o pedestre e as bicicletas modificaria o perfil do setor de transportes e seria um item expressivo nas políticas sustentáveis em geral” (GEHL, 2015, p. 105). Para Jan Gehl, além da questão da necessidade do transporte coletivo acessível a curtas distâncias, o percurso entre o domicílio e o destino final precisa ser visto em sua totalidade. Todos os trajetos devem ser bem planejados de modo que garantam serviços nas estações de transporte coletivo, conforto e sensação de segurança. A criação de ruas exclusivas para pedestres, ciclovias e espaços pensados para uso compartilhado devidamente munidos com equipamentos urbanos são medidas quase obrigatórias se o intuito é criar uma cidade tida como compacta e sustentável (GEHL, 2015). Assim sendo, a questão central que envolve o conceito de cidade compacta é como se deve projetar o ambiente urbano permitindo que as comunidades prosperem

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e a mobilidade do cidadão aumente, não admitindo que o automóvel destrua a vida comunitária, como tem sido feito desde o seu surgimento, intensificando o uso de sistemas eficientes de transporte e reequilibrando o uso das ruas em benefício do pedestre e da comunidade (ROGERS, 2012).

4.2 N o v a s c e n t r a l i d a d e s e a d i m e n s ã o h u m a n a As cidades compactas, abordadas no capítulo anterior, podem ser vistas como um sistema de núcleos interligados, os quais também podem ser referidos como centralidades. Para Rodriguez (2013), existem dois tipos de centralidade: as lineares, vias estruturais ou coletoras que possuem uma série de estabelecimentos de serviços e comércio em sua extensão e as polares, que agrupam um conjunto de estabelecimentos nos arredores das estações de transbordo de sistemas de transporte coletivo de qualquer modal, como o Metrô, CPTM, terminais de ônibus ou cruzamento de vias. As centralidades são elementos fundamentais para a instauração do modelo de cidade compacta de Rogers, devendo estas estarem sempre interligadas linearmente para fazer com que, de fato, se consiga um resultado satisfatório na aproximação dos moradores de suas atividades cotidianas. A zona leste paulistana já dispunha de algumas centralidades conhecidas, sendo que a maioria, segundo o PDE 2002/2012

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(imagem 33), ainda precisava ser readequada para atrair outros estabelecimentos de serviços e comércio diversificados e especializados (RODRIGUEZ, 2013). Embora na referida época já houvesse um número considerável de centralidades polares e lineares na zona leste de São Paulo, é possível ver que existiam vazios em alguns distritos que, de modo geral, aumentavam sua dependência em relação às demais áreas da cidade. Cidade Líder e Itaquera, por exemplo, eram distritos que quase não possuíam centralidades, pois estas se limitavam somente às estações de metrô e algumas poucas avenidas, como é o caso da Jacu Pêssego. Atualmente, algumas áreas estão ganhando maior notoriedade nesse sentido, é o caso do Polo Institucional de Itaquera e das avenidas Itaquera e Líder (marcadas pela autora em tracejado rosa e pontos verdes na imagem 33). O Polo Institucional de Itaquera, como visto nos capítulos anteriores (capítulo 3.3), é um projeto que surgiu a partir da proposta da Operação Urbana Rio Verde-Jacu e, segundo conceituado por Rodriguez, seria uma nova centralidade polar que visa promover usos que aproximem os moradores de suas atividades cotidianas. Por outro lado, as avenidas Itaquera e Líder podem também ser consideradas novas centralidades, porém neste caso, lineares. Embora ainda não possuam grande relevância para a cidade como tantas outras vias em São Paulo, estão localizadas entre as avenidas João XXIII e Jacu Pêssego, formando uma conexão estratégica entre distritos, que por sua vez, impulsionou o projeto do corredor de ônibus Leste-Itaquera que futuramente levará os passageiros do distrito de Itaquera até o terminal de ônibus da Vila Carrão, cujas muitas linhas levam diretamente ao centro da cidade.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 33: Centralidades polares e lineares na Região Leste Paulistana existentes e propostas

Fonte: Modificado a partir de Rodriguez, 2013.

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Graças ao PDE 2014 e à Operação Urbana Rio Verde-Jacu, a zona leste paulistana está passando por um grande processo de renovação. A ênfase existente no plano diretor incentivando o uso misto, o adensamento habitacional e a fachada ativa nas proximidades dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana (como é o caso do corredor de ônibus Leste-Itaquera, apresentado na Imagem 34) contribuem para este fato, propondo melhorias no espaço urbano e possibilitando que novas centralidades sejam, pouco a pouco, criadas. Muito ainda precisa ser analisado neste quesito, mas é possível perceber que haverá uma grande mudança no térreo urbano da zona leste nos próximos anos. Como dito em capítulos anteriores (capítulo 3.3), ainda não se pode ter plena certeza do impacto e efetividade das medidas propostas, mas é importante salientar que as intervenções previstas são um grande passo para a transformação da área, algo que precisava ser feito. Ainda assim, a qualidade dos planos e projetos é fator determinante para o sucesso dos mesmos, e devem ser pensados para conferir melhorias na vida dos habitantes da região, caracteristicamente inclusivos e integrados entre si para que haja certeza de sua consolidação e participação na vida de todos.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 34: Eixos de transformação da estruturação urbana

Fonte: Modificado a partir de Gestão Urbana, 2016.

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Novas centralidades precisam estar integradas entre si, mas mais que isso, essas conexões precisam de qualidade. A qualidade destes espaços deve favorecer a presença humana e a presença humana só existirá se o espaço for pensado para isso. Cidades como São Paulo, majoritariamente transitadas por veículos utilitários, não incentivam o caminhar e a permanência do pedestre, carecendo de equipamentos urbanos desde os mais básicos que assegurem o necessário para a interação humana com o meio no qual está inserida. Ao se projetar ambientes destinados aos pedestres, deve-se trabalhar, obviamente, com sua própria escala, criando espaços que levem em consideração as possibilidades e limitações do corpo humano. Utilizar a escala humana como condicionante quando se for planejar intervenções no meio urbano é um verdadeiro desafio e esse aspecto deve ser inserido quase que naturalmente na cidade, de modo a convidar as pessoas a percorrer o espaço a pé ou de bicicleta. Utilizar o corpo humano, os seus sentidos e mobilidade no projeto, é essencial para que seja feito um bom planejamento (GEHL, 2015). Deve-se conciliar a existência de um percurso lento e favorável ao pedestre à locais de permanência, como praças ou térreos públicos de edifícios com fachada ativa, como acontece no complexo Brascan Century Plaza (imagem 35) localizado no Quadrante Sudoeste da cidade de São Paulo. Esses ambientes, mais que espaços dotados de caminhos e vegetação, devem também possuir mobiliário urbano (iluminação, bancos, bebedouros, etc.) que garanta a permanência durante qualquer período do dia possibilitando a vivência humana constante.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 35: Térreo do Brascan Century Plaza

Fonte: Guerra e Silva, 2011.

Em suma, as estratégias projetuais citadas aqui, quando aplicadas, devem estar obrigatoriamente conectadas entre si. A instauração do modelo de cidade sustentável/compacta junto com a criação de novas centralidades com qualidade urbana baseada na escala do pedestre, alterarão o modo como a cidade vem se consolidando, transformando o espaço urbano, invertendo os valores e estabelecendo as pessoas como verdadeiras protagonistas do espaço. Na zona leste paulistana, esse tipo de intervenção não somente teria o propósito de reduzir a dependência do centro e, consequentemente, reduzir a segregação socioespacial que faz parte do seu processo de formação e consolidação, como investigar intervenções que se contrapõem ao modelo de projeto inadequadamente proposto para o Polo Institucional de Itaquera, tornando toda a área um ambiente mais agradável, justo e acessível para seus moradores que, assim como o restante da cidade, merecem um lugar mais humano para habitar.

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5. P R O J E T O S D E R E F E R Ê N C I A Com base na pesquisa e após a decisão do recorte espacial para intervenção (Itaquera, Artur Alvim e Cidade Líder), foi necessária a seleção de um conjunto de projetos de referência para a concepção da proposta, no caso, edifícios que se aproximassem da necessidade local no que diz respeito ao uso. Dentre tantas possibilidades, foram escolhidos projetos de cunho social, com programas que garantem suporte à população no que se refere a serviços, empregos, educação e lazer.

5.1 C e n t r o C o m u n i t á r i o L a Q u e u e d u L é z a r d

Ficha Técnica Autor: Rue Royale Architectes Localização: La Rochelle, França Materialidade: Madeira e concreto Ano do projeto: 2014

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Imagem 36: Fachada do edifício

Fonte: Archdaily, 2014.

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O Centro Comunitário “La Queue du Lézard” (imagem 36) está localizado num bairro residencial cujo desenvolvimento urbano baseia-se nos princípios de planejamento de 1960. O local onde está inserido permitiu que fosse possível reorganizar os espaços públicos para acomodar novos edifícios e para que também fosse possível abrir o velho bairro Chateaux d’Eau em Mireuil. Seu programa inclui espaços para práticas esportivas, biblioteca de jogos e salas para conferências e workshops, agrupados numa faixa de 200m de comprimento marcada pela presença de cheios e vazios (ARCHDAILY, 2014). O complexo foi projetado seguindo o princípio da arquitetura genérica, sendo construído em torno de uma espinha dorsal de concreto onde foram locadas as áreas técnicas bem como as de serviços. Um portal feito de madeira laminada colada numa grade regular de 2,70m apoia-se na estrutura principal, formando dois espaçosos ambientes um em cada lado da espinha dorsal (imagem 37). Este método de construção é referido pelos autores como “rabo de lagarto” que deu nome ao projeto (ARCHDAILY, 2014).

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 37: Corte perspectivado mostrando os brises na fachada sul, a estrutura central de concreto e a estrutura secundária de madeira laminada

Fonte: Archdaily, 2014.

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A horizontalidade marcante do edifício conferiu coerência e legitimidade para o programa nela inserido não confrontando diretamente com o gabarito do entorno. O projeto faz uso da topografia para se organizar em mezaninos. A estrutura central de concreto acomoda as circulações verticais, instalações sanitárias e toda parte de serviços (ARCHDAILY, 2014). Houve também o cuidado de trabalhar a estrutura de concreto para garantir ao edifício a inércia térmica necessária para o conforto. Brises foram trabalhados na fachada sul para que garantissem a entrada de sol no inverno e barragem total no verão. O isolamento térmico é também ponto importante a ser citado, pois foi trabalhado a fim de limitar as necessidades de aquecimento (ARCHDAILY, 2014). É interessante ver como o edifício está inserido no terreno (imagem 38) e a sua relação entre os cheios e os vazios que o compõem. Aparentemente, isto cria um vínculo entre os usuários que habitam o entorno e que fazem uso do equipamento. As árvores ainda pequenas conferirão uma sutileza ainda maior para a edificação no futuro tornando-se ainda mais discreta em sua paisagem.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 38: Planta do centro comunitário

Fonte: Archdaily, 2014.

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5.2 E s p a ñ a L i b r a r y Ficha Técnica Autor: Giancarlo Mazzanti Localização: Medellin, Colômbia Materialidade: Madeira e concreto Ano do projeto: 2005 O projeto da biblioteca (imagem 39) está localizado num bairro conhecido pelo tráfico de drogas na cidade de Medellin, o qual foi alvo de um plano do governo, que tinha o desejo de garantir igualdade econômica e oportunidades sociais para a população. Seu programa, semelhante ao que será adotado nesta proposta, inclui uma biblioteca, salas de aula, auditório e administração (ARCHDAILY, 2008). O arquiteto decidiu fragmentar o projeto em três grandes blocos que se assemelham muito a três grandes rochas inseridas na paisagem. Foram articulados por intermédio de uma plataforma que permite flexibilidade e autonomia dos três edifícios, além de também garantir a interação entre os usuários (ARCHDAILY, 2008). A geografia é marcante na cidade de Medellin. O terreno acidentado do entorno define a identidade e a imagem da cidade. Esta imagem é precisamente o que o projeto visa enfatizar: Integrar a paisagem ao projeto e o projeto se inserir da melhor forma na mesma (imagem 40) (ARCHDAILY, 2008).

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Imagem 39: Vista noturna do projeto

Fonte: Archdaily, 2008.

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Como dito anteriormente, a edificação está organizada em dois elementos principais: O edifíciopaisagem (como o próprio arquiteto se refere aos blocos semelhantes a rochas) e a plataforma que os integra e transforma a cobertura em uma praça que parece estar dentro do vale; deste modo, a biblioteca passou a ser reconhecida como ponto de encontro na cidade, multiplicando as conexões e desenvolvendo-as como ponto de referência (ARCHDAILY, 2008).

Imagem 40: A inserção do projeto na paisagem

Considerando seu programa diversificado e como o projeto foi concebido e executado (imagens 41 e 42), é fácil entender o porquê de ele ser tão visitado e já fazer parte da identidade local. Seu interior é atrativo não somente pelas atividades oferecidas, mas também por proporcionar a etapa do encontro de seus usuários num ambiente aconchegante onde podem usufruir das mais diferentes formas. Tal projeto contribuiu para o desenvolvimento do bairro onde está inserido transformando a realidade local e garantindo urbanidade ao ambiente. (ARCHDAILY, 2008) Fonte: Archdaily, 2008.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 41: Implantação do projeto

Fonte: Archdaily, 2008.

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Imagem 42: Organização espacial e estrutural do projeto

Fonte: Archdaily, 2008.

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5.3 F á b r i c a d e C u l t u r a : G r o t ã o Ficha Técnica Autor: Urban ThinkTank Localização: Paraisópolis, São Paulo, Brasil Materialidade: Concreto e vidro Ano do projeto: 2009 O complexo projetado pelo escritório Urban ThinkTank (imagem 43) possui potencial para não somente trazer serviços e oportunidades para esta área carente como também agir como catalisador para o futuro desenvolvimento urbano de todo território (URBAN THINKTANK, 2016). Ao investigar a área onde seria inserido o projeto (imagem 44), o grupo de arquitetos entrevistava os moradores da região para reconhecer suas singularidades. Descobriram na vocação musical da população uma possibilidade de construir um novo centro educacional e de apresentações (URBAN THINKTANK, 2016). Inspirando-se na história de seus moradores, o escritório desenvolveu uma proposta com potencial para transformar o vazio inacessível dentro da favela (o qual surgiu após um deslizamento de terra) num dinâmico e produtivo centro comunitário destinado aos mais de 80.000 habitantes da comunidade (URBAN THINKTANK, 2016).

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Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 43: Inserção do projeto no terreno

Fonte: Urban ThinkTank, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 44: Perspectiva em 3D do projeto inserido na comunidade de Paraisópolis

Fonte: Urban ThinkTank, 2016.

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O projeto coloca a escola de música em primeiro plano, mas abriga também diversos outros usos no intuito de maximizar o potencial do terreno, dentre os quais se destacam um teatro a céu aberto, um salão para apresentações, espaço para ensaios, estúdios, salas de aula e uma quadra poliesportiva (URBAN THINKTANK, 2016). É notória a preocupação dos autores do projeto em tornar o edifício bastante acessível para a população por intermédio de muitas rampas (imagem 45). Reconhece-se também o cuidado de trabalhar a questão da erosão do solo bastante frequente na área, criando ambientes gramados (possivelmente também utilizadas como arquibancadas) para contenção do morro, hortas que serão mantidas pelos habitantes e terão seus vegetais e hortaliças consumidos pelos mesmos e wetlands para armazenamento e tratamento das águas pluviais que serão reutilizadas nas hortas (imagem 46).

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Imagem 45: Esquemas projetuais

Fonte: Urban ThinkTank, 2016.

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Imagem 46: Esquema de plantio da vegetação

Fonte: Urban ThinkTank, 2016.

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6. O P R O J E T O As referências apresentadas no capítulo anterior foram escolhidas com o intuito de nortear a decisão de programa e concepção do projeto arquitetônico. Dentre as opções selecionadas (e tantas outras pesquisadas), a que mais pareceu pertinente em relação a área foi um centro comunitário. Um edifício com programa diversificado que servisse toda a população residente no entorno da melhor maneira possível, incentivando a interação entre as pessoas e oferecendo equipamentos de serviços, educação e lazer incomuns na região.

6.1 A á r e a d e i n t e r v e n ç ã o

O terreno escolhido para intervenção está localizado adjacente à praça Francisco Daniel Lopes (imagem 47) no limite entre os distritos de Cidade Líder e Artur Alvim (correspondente ao traçado das avenidas Itaquera e Líder representadas em verde na imagem 47) que, por sua vez, também são bastante próximos ao distrito de Itaquera e, consequentemente, aos limites da Operação Urbana Rio Verde-Jacu (imagem 48).

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 47: Localização da área de intervenção e seu entorno imediato

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Imagem 48: A área de intervenção contígua à área da Operação urbana Rio Verde-Jacu

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Esta área, diferentemente do que foi observado no polo institucional, possui uma característica apropriação da população durante boa parte do dia e da semana, por conta do fácil acesso para quem reside nas proximidades (Ocupação Boa Esperança, COHABs Padre José de Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega e demais habitantes da região mais ao sul do mapa em tipologias residenciais unifamiliares de até 2 pavimentos). Isso acontece por ser este um dos poucos locais na região onde é possível crianças e adultos conviverem e praticarem atividades recreativas, como caminhar, jogar futebol (na quadra precariamente instalada no terreno ao lado da praça) e andar de bicicleta (imagens 49 e 50). Além da constante presença dos moradores, a área escolhida para intervenção também está próxima a um Eixo de Estruturação da Transformação Urbana localizado precisamente nas avenidas Itaquera e Líder, onde passará o corredor de ônibus Leste-Itaquera (imagem 34), que ligará o distrito de mesmo nome ao terminal de ônibus da Vila Carrão. As particularidades de apropriação desta localidade somadas ao acesso facilitado, tanto para a população residente quanto para aqueles que utilizarão o corredor de ônibus, e a carência de equipamentos de cunho social e de lazer na região justificam a implantação de um projeto deste tipo no território escolhido – mesmo este estando fora da delimitação da Operação Urbana Rio Verde-Jacu, que é o local onde intervenções deste tipo são incentivadas. Projetos com o alcance que este próprio almeja podem ser considerados indutores de novas centralidades, iniciativas que devem ser repetidas em outras regiões da zona leste do município de modo a qualificar o espaço urbano, mitigar a dependência das demais áreas da cidade e, por consequência, a segregação socioespacial tão notável nesta região.

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Imagem 49: A apropriação por parte dos pedestres no local escolhido para intervenção 1 Fonte: Autoria própria, 2016.

Imagem 50: A apropriação por parte dos pedestres no local escolhido para intervenção 2 Fonte: Autoria própria, 2016.

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6.2 C e n t r o C o m u n i t á r i o B o a E s p e r a n ç a , Vila Boa Esperança e Praça Francisco Daniel Lopes A partir da escolha do local para inserção do objeto arquitetônico começou-se, então, a investigar o que precisamente poderia ser o projeto e que programa teria. Um centro comunitário, como visto nos projetos de referência, tem potencial para a transformação de uma área e, mais ainda, de garantir melhorias na vida da população que habita ao seu redor. Esse fator foi decisivo na escolha do que seria feito, restando então, a decisão do programa. O entorno imediato não possui edificações destinadas a usos além de habitação, comércio (no caso das avenidas Líder e Itaquera) e escolas (no território da COHAB), então, seria interessante propor um programa educacional complementar somado a continuidade comercial característica das avenidas principais que ainda traria oportunidades de emprego num ambiente onde este uso ainda é escasso. Considerando a vocação da área para o lazer por conta da praça existente, propunha-se incluir um uso esportivo ao projeto junto à possiblidade de caminhar e permanecer em ambientes agradáveis. A presença de pessoas de todas as faixas etárias, característica já observada neste local, também impulsionou a escolha de um edifício que fosse totalmente inclusivo.

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Conforme o programa do centro comunitário estava sendo decidido, outras questões surgiram, como por exemplo, o que seria feito com a Ocupação Boa Esperança (comunidade em situação irregular) e a praça Francisco Daniel Lopes (que até o momento estava abrigando o canteiro de obras destinado a construção do corredor de ônibus Leste-Itaquera). Não havia dúvida que ambos trechos mereciam um projeto tanto quanto o terreno destinado ao centro comunitário. Foi proposta, portanto, uma nova implantação que integrasse a área do novo edifício com a praça, imaginando uma intervenção completa que qualificasse a Ocupação Boa Esperança com novos edifícios habitacionais e fachada ativa – seguindo o proposto pelo novo Plano Diretor de 2014. Estes edifícios seriam construídos em fases, de modo a não prejudicar a população que atualmente vive na comunidade. Para tal, seria primeiramente desapropriada a parcela do terreno que hoje abriga a Diretoria Regional de Ensino e Educação (DRE) (imagem 51) para a construção do primeiro edifício habitacional, onde parte da população viveria. E a partir do esvaziamento do local onde essa mesma população vive, seria colocado o segundo edifício e assim por diante. Ao término da execução do conjunto habitacional, seria então implantada a nova sede da Diretoria Regional de Ensino e Educação na parte norte do terreno.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 51: Localização da Diretoria Regional de Ensino e Educação (DRE)

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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O centro comunitário – agora intitulado Boa Esperança – tem o propósito de ser mais que um equipamento para acomodar usos adicionais à região, tornandose uma referência, um local de convergência onde todos os residentes da nova Vila Boa Esperança e demais habitantes poderiam se encontrar e desfrutar de um espaço modelo para tantas outras intervenções possíveis na zona leste paulistana.

6.3 P r o c e s s o p r o j e t u a l

A partir da escolha da área, era necessário o prévio estudo de seu entorno para que, então, fosse possível fazer os primeiros esboços do projeto. Analisou-se desde o gabarito das edificações vizinhas (imagem 52) até a topografia do terreno e entorno imediato (imagem 53 e 54), pois tais fatores orientariam na tomada de decisões que definem o partido arquitetônico. O entorno é razoavelmente baixo, não passando de 5 pavimentos se considerada uma média geral. Quanto ao relevo, pode-se dizer que há um desnível suave em todo o terreno onde será colocado o projeto, entretanto, um declive acentuado pode ser visto entre a área de intervenção e a COHAB (corte BB da imagem 54).

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 52: O gabarito do entorno

Fonte: Modificado a partir de Google Earth, 2016.

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Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 53: O desnível presente na área

Fonte: Modificado a partir de Mapa Digital da Cidade, 2016.

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Imagem 54: Corte para visualização do relevo da área

Fonte: Autoria própria, 2016.

Nas visitas ao terreno, feitas durante o processo projetual, constatou-se que os edifícios vizinhos localizados na avenida Líder e Itaquera abrigam comércio, enquanto que no restante da área a ocupação é predominante residencial. Todo o perímetro do espaço escolhido parecia abandonado até a última visitação – o que contrasta diretamente com a presença quase constante dos residentes do entorno. Um local com ausência de mobiliário urbano e nas condições apresentadas (imagem 55), sem vias transitáveis destinadas ao pedestre e descaso de algumas pessoas que estacionam veículos na praça, não deveria atrair ninguém, mas, a presença humana é nitidamente vista.

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Imagem 55: Atual situação da área de intervenção

Fonte: Autoria própria, 2016.

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Considerando todas essas questões (relevo, gabarito, usos do entorno e estado de conservação do terreno somado à presença da população já característica no local) começou-se, então, os primeiros esboços do que poderia ser o centro comunitário. No intuito de atrair o público, a primeira decisão tomada foi a de criar um ambiente que favorecesse esse objetivo. A primeira volumetria do projeto (à esquerda na imagem 56) era constituída de lâminas independentes para cada uso, algo que permitiria a passagem dos ventos e garantiria a iluminação natural das unidades. Entretanto, essa solução não agradou, já que precisaria de um elemento de ligação, sem mencionar a criação de espaços residuais. A partir da segunda volumetria desenhada (à direita na imagem 56), tal como foi feito nas demais propostas intermediárias (imagens 57, 58 e 59), houve a preocupação de unir as lâminas em uma única composição, dispondo os usos em pontos estratégicos. Outra questão foi a criação de grandes áreas comuns que atraíssem as pessoas, o que passou a ser uma um dos pontos mais importantes do projeto. A partir dos últimos desenhos, tem-se a presença de um vazio central que não era uma simples área desprovida de uso, mas parte integrante do centro comunitário que seria o elemento de ligação entre a Praça Francisco Daniel Lopes e a Vila Boa Esperança.

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Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 56: As primeiras ideias 1

Fonte: Autoria própria, 2016. Imagem 57: As primeiras ideias 2

Fonte: Autoria própria, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 58: As primeiras ideias 3

Fonte: Autoria própria, 2016. Imagem 59: As primeiras ideias 4

Fonte: Autoria própria, 2016.

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A volumetria do edifício foi evoluindo até assumir uma forma “U” (imagem 60). Essa implantação com o vazio central possui aberturas em vários pontos do térreo de modo a permitir a permeabilidade pelo projeto, seja para fruição ou permanência, desde crianças até os idosos.

Imagem 60: A volumetria final e as primeiras soluções quanto a materialidade

Fonte: Autoria própria, 2016.

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Propôs-se um novo desenho para Praça Francisco Daniel Lopes que se integra com o vazio central do centro comunitário. Os caminhos foram traçados a partir de eixos paralelos às ruas e seguindo rotas definidas pelos pedestres (o que foi observado nas visitas ao local). Todo o percurso é valorizado pela presença de mobiliário urbano (como bancos, lixeiras e bebedouros) e árvores, cujo intuito é amenizar a temperatura ambiente e também conferir um caminho sombreado em boa parte do percurso adotado. Somente no meio da praça há uma espécie de clareia propositalmente desenhada de modo que permita a contemplação do projeto do centro comunitário e a inserção de uma fonte seca na qual as pessoas podem interagir livremente quando estiver ligada. Quanto à Vila Boa Esperança, foram propostos edifícios habitacionais de, no máximo, 8 pavimentos destinados aos moradores da atual Ocupação (ou favela) Boa Esperança, devidamente espaçados entre si e com fachada ativa no térreo para estimular a presença humana durante todo o dia. Um grande corredor divide as tipologias habitacionais e faz parte do atual traçado presente na área. A decisão de manter esse eixo reforça a ideia de que os moradores dessa localidade frequentarão o centro comunitário, pois além deste caminho, há também uma abertura no térreo do novo edifício que leva diretamente ao seu vazio central. O Centro Comunitário Boa Esperança é o objeto da proposta que mais foi detalhado neste processo. A sequência de imagens 61, 62 e 63 apresenta a distribuição do programa pelos pavimentos e reforça também as ideias representadas para a Praça Francisco Daniel Lopes e Vila Boa Esperança:

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Imagem 61: O programa do Centro Comunitário Boa Esperança esquematicamente representado

Fonte: Autoria própria, 2016.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 62: O térreo e o primeiro pavimento do Centro Comunitário Boa Esperança

Fonte: Autoria própria, 2016. Imagem 63: O segundo e terceiro pavimento do Centro Comunitário Boa Esperança

Fonte: Autoria própria, 2016.

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O térreo do edifício (imagem 65) é ocupado por salas comerciais voltadas para a avenida Líder e para o interior da quadra, junto com um restaurante popular localizado na ponta da lâmina inferior que tem como intuito estimular o uso desta área durante todo o dia. Na lâmina localizada nos fundos do terreno foram locadas salas de múltiplo uso voltadas para serviços, como assistência jurídica, assistência social, rápidas campanhas de vacinação e, possivelmente, bazares. Nesta parte encontra-se também uma praça coberta pela projeção do pavimento superior do prédio que leva aos andares seguintes do centro comunitário e o hall de acesso à área esportiva. Aqui também podem ser vistas as fissuras que conferem permeabilidade ao vazio central do edifício, referido a partir de agora como praça interna. Na praça interna, há um acesso ao subsolo do edifício (imagem 70) onde encontrase um auditório para 400 pessoas (destinado à exibição de filmes, saraus e pequenas apresentações teatrais) e seu foyer, café, bilheteria e toda a área técnica do conjunto (como sala do gerador, centro de medição, casa de máquinas, ar-condicionado e os reservatórios inferiores, pois, os superiores que servem todo o complexo são torres locadas na Vila Boa Esperança bem próximas ao centro comunitário). O referido acesso ao subsolo é uma escada que também pode funcionar como arquibancada para pequenas apresentações ou simplesmente para descanso, tornando-se, então, uma das tantas permanências que o projeto dispõe.

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No primeiro pavimento (imagem 66) podem ser vistas mais algumas salas comerciais e o segundo piso do restaurante na parte do edifício mais próxima à avenida. Já na lâmina posterior, por conta da menor propagação de ruídos, foi colocada a biblioteca do complexo e, separado pelo hall de acesso que leva à área esportiva, está localizado o salão de jogos, que permite observar o pavimento de lojas através de uma pele de vidro também utilizada no restante do projeto. A biblioteca possui um controle de acesso no core de circulação vertical, que também é repetido no andar seguinte, onde estão localizadas as salas destinadas a cursos (costura, pintura, desenho e possivelmente escotismo). Ambos os andares possuem proteção na fachada oeste, pois a ação do sol sobre os livros pode danificá-los, além do desconforto de se ler sob o calor acumulado da tarde. Brises móveis foram projetados de modo que pudessem mudar de posição caso houvesse alteração no layout dos ambientes, o objetivo neste caso é permitir que haja flexibilidade de uso enquanto que também dinamiza a fachada que dá vista à COHAB. O segundo pavimento (imagem 67) abriga, além das salas de cursos, a primeira quadra poliesportiva do conjunto, que é separada por uma praça elevada exclusiva aos alunos que estudarão nas salas. O core de circulação vertical que leva à quadra dá acesso ao vestiário feminino e, localizado no meio nível acima (5m acima), está o vestiário masculino. Ambos vestiários são exclusivos aos usuários da primeira quadra, pois, para aqueles que utilizarão a segunda quadra no terceiro pavimento do centro comunitário (imagem 68), haverá mais um conjunto de vestiários feminino e masculino

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dispostos da mesma forma. Diferente do proposto para a maioria das fachadas do centro comunitário, para as quadras foram adotados brises fixos para que o sol não atrapalhasse o desempenho dos jogos durante os períodos críticos do dia. Essa solução também foi estendida aos vestiários, já que auxiliaria na privacidade desta parte do edifício. Todas as decisões tomadas, como o acesso ao centro comunitário pelas fissuras em seu térreo e os usos pensados para o dia a dia da população residente do entorno somados ao fácil acesso por meio das avenidas e futuro corredor de ônibus são fatores que auxiliarão na consolidação do Centro Comunitário Boa Esperança, bem como as demais propostas para a vila e Praça Francisco Daniel Lopes. Este projeto não foi elaborado com o intuito de ser um mero acessório para a área, mas sim parte integrante na vida das pessoas.

Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 64: Centro Comunitário Boa Esperança: Implantação

Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 65: C. C. Boa Esperença: Térreo Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 66: C. C. Boa Esperença: Primeiro pavimento Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 67: C. C. Boa Esperença: Segundo pavimento Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 68: C. C. Boa Esperença: Terceiro pavimento Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 69: C. C. Boa Esperença: Cobertura Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 70: C. C. Boa Esperença: Subsolo Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 71: C. C. Boa Esperença: Corte AA Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 72: C. C. Boa Esperença: Corte BB Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 73: C. C. Boa Esperença: Elevação 01 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 74: C. C. Boa Esperença: Elevação 02 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 75: C. C. Boa Esperença: Elevação 03 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 76: C. C. Boa Esperença: Elevação 04 Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 77: C. C. Boa Esperança: Planta ampliada do segundo pavimento

Fonte: Autoria própria, 2016.

Imagem 78: C. C. Boa Esperança: Corte longitudinal ampliado

Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 79: C. C. Boa Esperença: Corte transversal ampliado Fonte: Autoria própria, 2016.

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Imagem 80: C. C. Boa Esperença: Detalhe construtivo da fachada da biblioteca Fonte: Autoria própria, 2016.

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Segregação socioespacial e a consolidação da periferia leste paulistana Imagem 81: C. C. Boa Esperança: Elevação 03 ampliada

Fonte: Autoria própria, 2016.

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7. C O N C L U S Ã O A zona periférica leste da cidade de São Paulo se consolidou a partir de um processo de segregação socioespacial. Atualmente, a área é ainda carente de empregos, infraestrutura e equipamentos de qualidade, o que acaba provocando constantes deslocamentos da população até o centro urbano, sendo o Quadrante Sudoeste um dos principais pontos de convergência dessa massa. Intervir nesta região com a criação de um equipamento que atinja efetivamente essas pessoas foi a premissa deste trabalho. O Centro Comunitário Boa Esperança oferece suporte aos residentes dos distritos de Itaquera, Cidade Líder e Artur Alvim e dota o seu entorno da qualidade urbana vista na maioria das vezes em regiões centrais. A criação de áreas comuns com espaço construído de qualidade estimula ainda mais a convivência já caraterística na área de intervenção e a interação entre as pessoas, valoriza o território e cria um contraste entre esta e a solução adotada para o Polo Institucional de Itaquera, com grandes vazios e pouco desenho de espaço público.

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Deste modo, o trabalho atingiu seu objetivo de propor um equipamento público (centro comunitário) que tem o potencial de qualificar o precário espaço urbano da periferia de São Paulo e que pode tornar-se um modelo a ser estimulado em distintos pontos da zona leste reduzindo o caráter de segregação socioespacial que decorre de sua formação e consolidação. Isso foi alcançado a partir da compreensão desses processos de segregação e dos fatores que geram essa segregação, assim como do conhecimento de possíveis estratégias projetuais.

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