Em 2020, devido à crise sanitária causada pelo novo coronavírus, a OÁ Galeria propôs a seis artistas do Espírito Santo – André Arçari, Bruno Zorzal, Fredone Fone, Juliana Pessoa, Luciano Feijão e Rick Rodrigues – a realização de um projeto de acompanhamento crítico, por meio de videoconferências. Essa experiência fez nascer no grupo o desejo de uma ação conjunta, que desse mais concretude às discussões e às propostas debatidas. Nesse sentido, os seis artistas formaram o coletivo Projeto 8, cuja primeira ação é a RESIDÊNCIA 8, para a qual foram convidados os curadores Ananda Carvalho e Marcelo Campos e foi realizada na OÁ Galeria, no bairro Consolação, em Vitória.
A cada semana, um artista ocupou a galeria, a fim de desenvolver a sua proposta de trabalho. No total, foram seis semanas de residência. Às terças, eram realizadas videoconferências com os curadores, Ananda e Marcelo, com o objetivo de acompanhar e discutir a produção realizada. Às quintas, ocorriam lives, no Canal Residência 8, no YouTube, abertas ao público em geral, que contavam com a presença de um convidado especial e dos curadores, nas quais cada artista apresentava seu trabalho e respondia às perguntas e provocações dos participantes. Buscando ampliar ainda mais o alcance, as lives foram transformadas em podcasts, que podem ser acessados no Canal Residência 8 do Spotify. Além disso, toda a trajetória das residências pode ser visualizada na página Residência 8, no Instagram. Ao final da experiência, os artistas ainda realizaram uma exposição coletiva de seus processos de trabalho, na OÁ Galeria, que, devido à pandemia, não foi aberta ao público, mas transformada em um vídeo hospedado em nosso Canal do YouTube.
Todas essas iniciativas da Residência 8 visam aproximar as pessoas do processo de criação dos artistas, seus percursos e procedimentos, reflexões e questionamentos, mostrando aquilo que, via de regra, fica oculto nas exposições. Afinal, de acordo com a curadora Ananda Carvalho: “a partir da escuta e do diálogo com as proposições dos artistas enquanto elas são materializadas em obras, pode-se estabelecer novas camadas de ativações e provocar relações com o contexto atual da arte”; e da própria vida. O coletivo Projeto 8 agradece o apoio, via Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, da Secretaria Especial de Cultura e do Ministério do Turismo. Nosso muito obrigado também ao apoio da OÁ Galeria, bem como aos parceiros que contribuíram para a realização desse projeto: o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros, o grupo Processos de Criação em Curadoria, ambos da Universidade Federal do Espírito Santo, o Laboratório de Educação Museal, a Associação de Moradores do Bairro Consolação/Gurigica. RESIDÊNCIA 8
DA POTÊNCIA DOS ENCONTROS Por ANANDA CARVALHO 1
O encontro do público com obras de arte, se dá, na maior parte das vezes, em contextos expositivos, momento em que as obras já estão finalizadas. Mas como se dão os seus processos de criação? Pensar e dialogar em conjunto sobre os diversos elementos que compõem esses processos são os objetivos desta residência. No isolamento que nos atravessa desde o início da pandemia, 6 artistas e 2 curadores se encontram virtualmente. Semanalmente, cada artista ocupou e trabalhou no espaço da Galeria OÁ no Bairro Consolação (Vitória-ES), além dos encontros on-line com o grupo e lives abertas ao público. Nessas trocas, contextos e conversas distintas se entrelaçam. Esta publicação procura registrar tudo isso. Para introduzir a Residência 8, a seguir, procuro ressaltar alguns procedimentos que se destacam no trabalho artístico de André Arçari, Bruno Zorzal, Fredone Fone, Juliana Pessoa, Luciano Feijão e Rick Rodrigues.
ANDRÉ ARÇARI explora regimes de visibilidade entre as mais diversas mídias. Muitas vezes são índices de alguma imagem que você já viu no cinema, na televisão, na internet, ou em uma enciclopédia… Propõe-se aqui tomar por bases conceituais as ideias elaboradas por Giorgio Agamben no texto “O que é um dispositivo?”2. O autor afirma que “um dispositivo pode ser qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes”. Por essa leitura, podemos refletir sobre três temáticas conceituais recorrentes na produção do artista. O primeiro viés consiste na produção e metalinguagem das imagens como escrevemos no início deste parágrafo. Em uma segunda perspectiva, emergem discussões sobre o dispositivo institucional do campo da cultura, ou seja, questionamentos às forças de poder que constituem o sistema da arte. E, por fim, reflexões acerca das forças micro e macro políticas que atravessam as nossas subjetividades no labor cotidiano. Você já parou para pensar como as forças de poder reverberam nas imagens que circulam na sua vida diária? BRUNO ZORZAL trabalha com fotografias que não produziu, ou seja, suas ações dependem da existência de outras imagens. Mas o que seria realizar uma imagem? E uma imagem de imagem? Aqui não se tratam de fotografias isoladas mas de composições em movimento. Coleções que ganham forma, muitas vezes, por meio do acaso. Ao agrupar e reagrupar, o artista enfatiza pluralidades de leituras, narrativas e histórias possíveis. Parece uma tentativa de desconstrução dos discursos objetivos que por muito reinaram na fotografia, mas também das questões culturais e políticas que convergem em cada
cena registrada. A partir da apropriação, do que foi encontrado e do que poderia ser dito, cada observador pode elaborar ou inventar outra narrativa ou outra história. Se vivemos em um país em que o “memoricídio”3, como afirma Rosângela Rennó, é um elemento estrutural da cultura e somos atravessados pela tendência ao apagamento histórico, como elaborar outras documentações e dar voz a mais falas para registrar histórias de vida e/ou social? E você, quais histórias conta sobre as imagens que te rodeiam? FREDONE FONE trabalha pela perspectiva da sua vivência na construção civil: a partir de pinturas de casas dá a ver ideias que ganham materialidade em espaços públicos, mas também em trabalhos como fotografias, vídeos, colagens, intervenções e outras linguagens. Ao mesmo tempo que reflete sobre a autoconstrução, discute sobre a luta das pessoas que constroem casas, mas estão o tempo todo lutando para ter um lugar para morar. Entre usar tinta e outros materiais de construção, Fredone questiona sobre “a lei da sobrevivência e tentativa de existência. Como não ser outro trabalhador escravizado?” O artista afirma que “foi conhecido fazendo pintura, mas sem pintar casas. Foi conhecido construindo coisas, mas sem construir casas”. Em seus exercícios de olhar a cidade, o artista procura elaborar outras casas possíveis, outros futuros possíveis, que de alguma forma possam discutir sobre os muros (aqui numa leitura ampliada e metafórica que emerge a partir das desigualdades sociais, culturais e econômicas que estruturalmente constituem a sociedade brasileira). Fredone, que iniciou sua trajetória no skate, que, na sequência o apresentou ao hip hop, por meio de uma reflexão sobre procedimentos recorrentes da pixação, indaga “como se encaixar no meio de tanta coisa e ainda ser visto?”.
JULIANA PESSOA desenha registros do ordinário e de seus personagens. Seu olhar procura aglutinar estudos filosóficos e sociológicos com uma pesquisa que é construída na vivência cotidiana. Os procedimentos de criação de Juliana englobam “gestos de desaparecimento” (de acordo com Marcelo Campos em um dos encontros da residência), gestos evidenciados por meio de suas ações de fazer e refazer sucessivamente. A artista desenvolve diversos desenhos no mesmo papel (ou outras superfícies), enfatizando o processo, o apagamento e o inacabado. São passagens de tempo. Continuidades em que as formas do desenho irão somar-se ao repertório da vivência e subjetividade de cada pessoa que olhar para estas imagens. Nesses jogos visuais, estão sertanejas e sertanejos, orixás, frequentadores dos terreiros, mas também muitas outras pessoas, recordações de afetos (como afirma a artista) que você ou eu adicionaremos outras identificações. Nessa perspectiva, podemos afirmar que tanto para Juliana como para Bruno Zorzal, interessa imagens impermanentes. Por esse viés, quais narrativas ou não-narrativas você pode elaborar afetivamente sobre as pessoas com quem convive? LUCIANO FEIJÃO por meio dos seus desenhos nos ensina uma importante lição: a Antianatomia. Propõe o olhar mais agudo para os corpos negros que constituem a população brasileira. A Antianatomia propõe desconstruir e combater as leis cientificistas de branqueamento que são apresentadas como documentos de validação científica, nos livros de história e nas políticas sociais pós abolição. Ao dar a ver questões étnico-raciais, o artista propõe torções (verbo que também é título da exposição que realizou no Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” - MUCANE, em 2016). Provoca-nos a alterar e destruir a orientação, o
sentido e o significado de práticas racistas que estruturalmente nos constituem. Grita por mudanças urgentes. E, nos últimos anos, Feijão assume o seu campo de atuação para realizar os desenhos militantes desse posicionamento político. Por meio da ideia de fenda, o artista questiona “como a gente quebra: 1) a rigidez da forma, 2) a presença do corpo branco enquanto norma, e 3) a objetificação da povo negro”? RICK RODRIGUES trabalha nas tessituras dos objetos, do desenho e da instalação. Seus procedimentos se concentram no bordado nos mais variados formatos e superfícies. Seus trabalhos podem emergir em tecidos e papéis, mas também através do espaço. O artista que nasceu e vive na cidade João Neiva (interior do Espírito Santo) reflete, de alguma forma, sobre cartografias e geografias do habitar. Entre lá e aqui, perceber a tridimensionalidade é uma questão importante para Rick. Seu trabalho considera a vivência entre paisagens, arquiteturas e outros elementos domésticos. Aproveita-se também do poder das palavras, dando a ver frases poéticas e políticas. São delicados alinhavos de textos e imagens. Ou, ainda, coleções de miniaturas e outros objetos que estabelecem conexões em espaços instalativos. Em tempos de isolamento social, seu trabalho torna-se ainda mais potente. Afinal, como reinventar o olhar para o que está na sua casa ou no seu cotidiano? Os seis artistas, de alguma forma, elaboram sobre aquilo que, materialmente ou metaforicamente, demanda ser dito, provocado, ativado. Desconstruções, apropriações, composições e reinvenções são procedimentos recorrentes. Em seus trabalhos, André Arçari, Bruno Zorzal, Fredone Fone, Juliana Pessoa, Luciano Feijão e Rick Rodrigues buscam
refletir e dar a ver questões insistentes do contemporâneo. Durante o período deste projeto, fortaleceu-se a experimentação. De certa forma, foi um alento em tempos de isolamento, pandemia, crise econômica e política. Esta publicação conta um pouco sobre estas investigações... registra-se os processos de criação. Ou, ainda, procura dar a ver aquilo que só pode emergir da potência dos encontros.
ANANDA CARVALHO Curadora
1 Ananda Carvalho é professora adjunta no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e curadora. Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com apoio de Bolsa CNPq. Sua área de pesquisa concentra-se na arte contemporânea com ênfase em curadoria e processos de criação de exposições. Desde 2009, escreve e pesquisa sobre arte contemporânea e realiza curadorias contempladas em editais, em instituições (como SESC, Paço das Artes, Funarte, entre outras), galerias comerciais e em espaços independentes. Atualmente, também coordena a Plataforma de Curadoria (que engloba projetos de extensão e pesquisa realizados na UFES) e a Galeria de Arte e Pesquisa (GAP-UFES). Site: www.plataformadecuradoria.com 2
AGAMBEN, Giorgio. O que um dispositivo?. In:______. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.
3 A ideia de “memoricído” foi apresentada na live Ideias - Memórias, cicatrizes e fraturas, promovida pelo Sesc SP em 07/07/2020 e disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=qrdmdgnrD0w>.
ANDRÉ ARÇARI Graduado em Artes Visuais (2014) pela UFES, mestre em Artes (2018) pela mesma instituição, e, atualmente, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - Escola de Belas Artes / UFRJ (2020-). Atua nos grupos de pesquisa Derivagens (EBA/UFRJ) e Laboratório de Pesquisa em Teorias da Arte e Processos em Artes (LabArtes-UFES). Artista multimídia, pesquisador, teórico e crítico independente, desenvolve trabalhos no campo prático que auferem um tensionamento entre imagens estáticas e em movimento, em um curto-circuito entre fotografias digitais e analógicas como em vídeos autorais ou concebidos por reprocessamentos de imagens das mais diversas fontes, por meio das noções de quase-cinema e cinema expandido, inquirindo, assim, o espaço e o tempo como elementos basilares em sua produção.
BRUNO ZORZAL Artista e pesquisador independente, Zorzal é doutor em Estética e Filosofia das Artes Plásticas e Fotografia pela Universidade Paris 8, na França. É membro da Cooperativa de Pesquisa RETiiNA.International. International, de Paris, e artista-pesquisador associado ao Laboratório Arts des images & art contemporain (Labo AIAC), da Universidade Paris 8, na França. Para formalizar seus projetos, Zorzal se vale muito do formato exposição, dentre as quais se destacam Impermanência, na Casa Porto das Artes Plásticas, em Vitória/ES, em 2021; Tríade: Plano, Linha, Imagem, no Museu Vale, em Vila Velha/ES, e X Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, no Museu do Estado do Pará (Mep), em Belém/PA, ambas de 2019; Brésil trois points, no Bateau-Lavoir, em Paris, na França, em 2018; participou das residências Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu/ ES, Transitorialidade, no Museu de Arte do Espírito Santo, em Vitória/ES, e do Frantumazione, na Associação Fûrclap, em Udine, na Itália.
FREDONE FONE A arte de Fredone vem da sua vivência no trabalho. Ele aprendeu a pintar ajudando o pai, construindo e reformando casas, por mais de dez anos. Em meados dos anos 1990, através do skate, do graffiti e do hip-hop descobriu novos modos de usar a cidade. Recentemente, recebeu o prêmio Pollock-Krasner Foundation Grant, New York, USA, 2020/2021. Participou das residências artísticas Espírito Mundo Residences, Bélgica (2020); Também recebeu os prêmios Doggueto - Personalidade Hip-Hop - Vitória/ES, Brasil (2019). Artist’s Menu, Sérvia (2019); Participou das exposições Tríade (trio) - Museu Vale, ES, Brasil (2019).
JULIANA PESSOA Possui graduação em Artes e mestrado em Filosofia (UFES). Desde 2009, desenvolve uma pesquisa na área do desenho, tendo participado de várias exposições coletivas e individuais, dentre elas: recordações de criança, na Galeria Homero Massena; oba: entre deuses e homens, no Museu Capixaba do Negro (MUCANE); - Nonada, na Galeria de Arte da Universidade Federal Fluminense (UFF); 20/20, no Museu Vale; e no 26º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande (menção honrosa). Em 2019, a OÁ Galeria a convidou para uma residência artística em seu espaço e foi selecionada pelo Programa Rumos do Itaú Cultural, para outra residência na cidade de Canudos/BA. Em 2020, participou, junto com outros artistas, de um ciclo de acompanhamento crítico promovido pela OÁ. Em 2021, em conjunto com esses mesmos parceiros, integrou o projeto Residência 8, com apoio da Lei Aldir Blanc, da Secult-ES e da OÁ Galeria; bem como foi convidada, pelo Museu Vale, para o Projeto Perfil Jovens Artistas Capixabas.
LUCIANO FEIJÃO Mestre em Artes (Universidade Federal do Espírito Santo,2014) e graduado em Artes Plásticas (Universidade Federal do Espírito Santo, 2004), seu trabalho é constituído por desenho, colagem e instalação. Sua poética/ pesquisa reflete sobre as questões étnico-raciais e formas de resistência, com ênfase no corpo negro antianatômico enquanto campo de forças e estratégia de luta antirracista, contrária à hegemonia branca. Realizou as exposições individuais Torções (Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pas” – Mucane, Vitória, 2016), Amas – Fisionomias e Desmembramentos (Galeria Homero Massena, Vitória, 2018) e Coletividade Negra (Museu Vale, exposição virtual, 2020). Entre as suas participações em exposições coletivas destacam-se 20/20 (Museu Vale, Vitória, 2019), Antianatomia Tropical, mostra/diálogo produzida com a artista Rosana Paulino (OÁ Galeria, Vitória, 2018) e 2ª Mostra Bienal CAIXA de Novos Artistas (Caixa Cultural, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Brasília, Salvador e Curitiba, 2017/2018). Participou da Residência 8 (OÁ Galeria, Vitória, 2021). Suas obras estão presentes em acervos e coleções como no Museu Capixaba do Negro – Mucane e Galeria Homero Massena.
RICK RODRIGUES Artista multidisciplinar nascido em João Neiva (ES), onde vive e trabalha, é graduado em Artes Plásticas e Mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Dentre seus últimos trabalhos, destacamos as exposições “Transbordar: Transgressões do bordado na arte” (Sesc Pinheiros, São Paulo/SP, 2020); “VIX Estórias Capixabas” (Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo, Vitória/ES, 2020),“Tratado geral das grandezas do ínfimo” (Galeria de Arte Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2019). Entre as residências artísticas, temos Programa “Territórios” (2019), do Sesc Teresópolis/RJ. Teve séries de desenhos e bordados premiadas no Salão Nacional de Artes Sobre Papel (2020) – São Paulo/SP; e, localmente, seus projetos foram premiados pela Secult/ES nos anos: 2012, 2015, 2016, 2018 e 2019. Tem obras em acervos institucionais, como GAEU – Galeria de Arte Espaço Universitário e Galeria Homero Massena (Vitória/ES), Memorial Fundação Cristiano Varella (Muriaé/MG),Galeria de Arte Ibeu (Rio de Janeiro/RJ),Casa do Olhar Luiz Sacilotto (Santo André/SP), Museu da Diversidade Sexual (São Paulo/SP) e em coleções particulares nacionais e internacionais.
POSFÁCIO Por MARCELO CAMPOS1
O projeto Residência 8 apresentou uma ampla possibilidade de criação de redes de contato entre artistas e curadores. Com um grupo já orientado e conduzido por Ananda Carvalho, a relação estabelecida de discussão se deu em torno de encontros restritos, em que conhecíamos a produção de cada artista, logo seguidos por falas públicas nas plataformas digitais, incluindo a interação com o público. Assim, foi estabelecida uma conexão que nos fazia participantes no acompanhamento da produção de novos trabalhos e, ao mesmo tempo, nos colocava em leituras que acabavam por tramar diálogos entre os artistas do projeto. Pude perceber potências variadas na relação entre criação artística e posicionamento político e sociocultural. A produção apresentada por cada participante tanto se relacionava com elementos já elaborados na trajetória dos mesmos, quanto ganhava novas e outras referências sob o impacto das regras de isolamento necessárias na pandemia do Coronavírus.
Inevitável pensar em atravessamentos que traziam diálogos entre os trabalhos. Em Bruno Zorzal e André Arçari, a relação com imagens de segunda geração, observando mundos anônimos, lembranças, iconicidades suspensas em histórias interrompidas. Nos trabalhos de Luciano Feijão e Juliana Pessoa, a presença do corpo e do retrato em tensionamento interseccional, no qual gênero e etnicidade ativam espectros invisíveis, deixando o corpo menos como presença, ativando sentidos outros, espirituais. Nas obras de Rick Rodrigues e Fredone Fone, o mundo ganha a dualidade entre as esferas públicas e privadas. Em momentos distintos, esses artistas observam o cotidiano da casa e da rua agenciado por culturas materiais. Objetos de sentido íntimo e materiais da construção civil parecem advir de um relato, um diário de observações subjetivadas. Mesmo guardando particularidades, os artistas do Projeto Residência 8 negociam a exteriorização de produções que desafiam a temporalidade dos dias, o passar das horas, mas que, em outro sentido, se fazem enquanto experiências materiais em um mundo há muito mediado pela rarefeita virtualidade. MARCELO CAMPOS Curador
1 Marcelo Campos é professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), professor efetivo do Programa de Pós Graduação em Artes/UERJ e do Programa de Pós-graduação em História da Arte/PPGHA/UERJ. Sua área de pesquisa concentra-se na arte contemporânea com ênfase em curadoria, antropologia da arte e afrobrasilidade. Já realizou curadorias em várias instituições, tais como SESC, Casa França Brasil, Fundação Iberê Camargo, dentre outras. Atualmente é também curador chefe do Museu de Arte do Rio.
LEGENDAS DAS OBRAS FREDONE FONE ANDRÉ ARÇARI Sem título. Série Residência 8, 2021. Fotografia digital. 6000×4000 pixels. BRUNO ZORZAL Sem título #1 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 90×90 cm. Sem título #2 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 36×21 cm. Sem título #3 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 10×28 cm. Sem título (série Rasgos). Fotografia digital. 15×15 cm. Sem título #4 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 80×140 cm. Sem título #5 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 60×70 cm. Sem título #3 (série Rasgos). Fotos encontradas montadas em conjunto. 10×28 cm.
Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. Sem título, Série Visão central-periférica 2021. Fotografia digital. 3456 ×3456 pixels. A argila queimada veio comigo, 2021. Texto digital. 2501 ×2501 pixels. Mudar o ângulo, 2021. Texto digital. 2501 ×2501 pixels.
JULIANA PESSOA Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão e giz sobre cerâmica. 22×33 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, gesso em pó, prego e giz sobre tijolo. 22×33×6 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, gesso em pó, prego e giz sobre tijolo. 22×22×6 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, gesso em pó e giz sobre pedra São Tomé. 22×22 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, massa corrida e giz sobre tijolo. 11×22×6 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, massa corrida e giz sobre tijolo. 27,5×30 cm Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, massa corrida e giz sobre tijolo. 20×19,6 cm
Sem título. Série “caliça”, 2021. Lápis dermatográfico, pó xadrez, carvão, gesso em pó sobre placa de massa corrida e tela de arame. 20×19,6 cm LUCIANO FEIJÃO Antianatomia, 2021. Papel, colagem, lápis, fotografia digital. 2480×3508 pixels. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 21×29,7 cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 12×10cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 21×29,7 cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 21×29,7 cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 29,7×21 cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 29,7×21 cm. Antianatomia, 2021. Colagem sobre papel Canson 200g/m2 29,7×21 cm.
LUCIANO FEIJÃO (continuação) Antianatomia, 2021. Giz pastel oleoso e colagem sobre papel Filtro 360g/m2 42×59,4 cm.
Desaguar, 2021. Bordado sobre tecido voil e pedras de rio recolhidas em João Neiva/ES. 100×100×100 cm.
RICK RODRIGUES
Desaguar, 2021. Bordado sobre tecido voil e pedras de rio recolhidas em João Neiva/ES. 100×100×100 cm.
Processo I, 2021. Mesa de trabalho durante a residência. Dimensões variadas.
O que há de mim[você] em você[mim], 2021. Díptico. Bordado sobre lenços de algodão. 39×39 cm.
Processo II, 2021. Caderno de projetos e mesa de trabalho durante a residência. Dimensões variadas. Processo III, 2021. Mesa de trabalho durante a residência. 30×35×25 cm Meu rio aqui dentro, 2021. Bordado sobre tecido de algodão, fio encerado e pedra de rio recolhida em João Neiva/ES. 8×5×2 cm
FICHA TÉCNICA
Produção Executiva Residência 8, por Juliana Pessoa
Artistas / Idealizadores
Sem título, 2021. Bordado sobre lenço de algodão e galho de árvores. 29×29×5 cm
André Arçari
Fluxo, 2021. Bordado sobre linho. 27,5×27,5 cm.
Juliana Pessoa
Bruno Zorzal Fredone Fone
Luciano Feijão Rick Rodrigues
Curadores
Revisão
Ananda Carvalho
Elaine Cristina
Marcelo Campos Vídeo da exposição e Galeria
Obra videográfica de André Arçari
OÁ Galeria
https://linktr.ee/residencia8
Produtora Lívia Egger
Fotografias André Arçari, p. 20 a 33 Bruno Zorzal, p. 38 a 53 Fernando Pessoa, p. 76 a 91 Fredone Fone, p. 58 a 69 Julio Luis Paulo, p. 114 a 131 Luciano Feijão, p. 96 a 109
Edição, conteúdo & estratégia digital 1440, por Cassius Gonçalves
Design gráfico Jargo, por Jarbas Gomes
PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
Secretaria da Cultura