MIGUEL, ONDE ESTÁS?
AP. MIGUEL ÂNGELO VOLUME 1
Rio de Janeiro, abril de 2002 - 2ª edição
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO F383 Ferreira, Miguel Ângelo da Silva. Miguel onde estás? / Miguel Ângelo da Silva Ferreira. 1.ed. - Rio de Janeiro : M. Â. da Silva Ferreira, 2003 ..92p. : -(Renovando a mente ; v.1) ISBN 85-89085-33-3 1. Biografia. 2. Vida cristã. I. Título. II. Série. (Renovando a mente) CDD 248.4
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DEDICATÓRIA À minha mãe Laura, paradigma de caráter e extraordinárias virtudes, a quem amo de todo o meu coração e ao meu saudoso e querido pai, Amílcar, que tantas lembranças deixou na minha memória, um pai inesquecível. Dedico este livro com muita satisfação e alegria. Com amor e carinho do filho, Apóstolo Miguel Ângelo.
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INTRODUÇÃO
É com a mais profunda alegria que trago a lume minha história, pois reconheço que, em meu arquivo de grandes realizações, estava faltando o presente relato, por mim, há muito considerado séria dívida com o Senhor - desde aquele abençoado dia em que, por primeira vez testemunhei a respeito dos milagres que, misericordiosamente, Deus realizou em minha vida. Eu tinha que obedecer àquele primeiro e forte impulso de não me calar nunca sobre as bênçãos de Deus em minha existência, para que minha alma não se esqueça de “NEM UM SÓ DE SEUS BENEFÍCIOS”, como a si mesmo, se impôs o salmista Davi. E não apenas isto: que os proclamasse - como ele mesmo ordenou-me - aos quatros cantos do mundo, para honra e glória do Seu Nome. Minha oração é que através destas páginas, escritas sob a unção de Deus, tu possas te render - como eu me rendi - ao
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Senhor que é o Caminho, a Verdade e a Vida, Jesus Cristo. As tortuosas sendas por mim traçadas, que culminaram num dramático acidente, são relatadas com total autenticidade. Desejo, também, que as peripécias, altos e baixos de uma vida em completa confusão, e depois regenerada e santificada por Cristo, possam levar-te a conhecer o verdadeiro amor de Deus. O Autor.
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SUMÁRIO CAP. I – BEM LONGE DE DEUS..................9 CAP. II – SENHOR, AGORA EU CREIO EM TI.....................................................................23 CAP. III – NO DIA SEGUINTE, O MILAGRE......................................................45 CAP. IV – UMA FAMÍLIA DE DEUS.........55 CAP. V – VOTOS ERRADOS.......................63 CAP. VI – MEU TESOURO: MEU MINISTÉRIO.................................................73 CAP. VII – LONGE, PERTO OU EM COMUNHÃO COM DEUS..........................77 CAP. VIII – A PROFECIA SE CUMPRE.....81
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS Nasci em pleno esplendor da velha colônia portuguesa, Angola, ao Centro-Sul da África. Filho de um casal de prósperos comerciantes, trago na minha árvore genealógica, poesia, religião, negócios e política. Experimentei, muito cedo, o valor do dinheiro, que me proporcionaria grandes benefícios, entre eles, o viver uma vida fantasiosa e requintada. Criado junto a quatro irmãos, fomos apelidados de “pequenos príncipes”, em vista de nossa vida privilegiada. Pois, esse berço de ouro me serviria de contraste à vida imprevisível que me estava destinada. Ainda bem jovem, senti o desejo de participar do envolvimento político-social e de atuar no campo do ensino. Batalhei, nesse sentido, com todas as armas de que dispunha, vindo a lecionar Matemática, em nível secundário, quando contava apenas dezenove anos, tornando-me, também, líder
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de uma organização de juventude com finalidades político-sociais e para-militares. Essa condição, aliada à excelente situação financeira, conferiu-me um tal “status”, que pude viver uma vida de requintes e fantasias incríveis, estranhas e singulares. Somando a isso, o fato de possuir uma fértil imaginação, vi-me facilmente fadado a viver em atmosfera bem condizente às reviravoltas da vida. E como a vida dá suas voltas! Seguindo alheio e altaneiro o meu próprio caminho, traçava as minhas leis, fazendo o que bem entendia, ignorando para meu infortúnio - que tal qualidade de vida estava, afinal de contas, tornando-me um inútil para mim mesmo. Embora ciente de que o homem colhe o que semeia, assumia o risco de ser livre e solto. Nem queria saber que estava “plantando ventos para colher tempestades”. Meu segredo era não pensar! Lembrando-me daqueles dias, reconheço que vivi muitos instantes bons, de grande integridade e pureza de coração, mas ao lado deles, experimentei momentos
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS
de grande mediocridade e negrume. Entregava-me aos prazeres e às reviravoltas da vida, vivendo como se jamais fosse morrer, lançando-me de maneira impetuosa, aos sonhos, desejos, caprichos e manias, como se não necessitasse de ninguém, como se fosse dono da vida e do universo. Possuía em mim um lado bom, não posso negar. Desde menino sentia algo queimando em meu interior - talvez um forte chamamento para conhecer o mundo invisível de Deus e de Seus mistérios. Posso até dizer que era religioso praticante, mas fazia disso uma fuga, uma capa sob a qual encobria meus erros, defeitos e fraquezas. Não era completamente culpado desse comportamento dúbio, pois jamais alguém me mostrara o Caminho, a Verdade e a Vida. Não conhecia o Jesus das Escrituras, tampouco tivera qualquer contato com a Bíblia Sagrada. Conhecia apenas o Cristo das imagens, pendurado numa cruz, morto. Seu ar de derrota e tristeza compungia-me o espírito, quando, erradamente, prostrava-me diante de sua figura. Pensava que dialogava com Deus, quando falava com a imagem,
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esquecendo que seus lábios não pronunciavam palavras, seus olhos nada viam, suas mãos eram inertes. Ajoelhado perante os ídolos, continuava longe, muito longe de Deus, pois o que tinha diante de mim eram simples estátuas, completamente sem vida. Afastado de Deus, desprotegido, vivia em pecado, tornando-me a cada dia mais escravo da minha inconsciência e desatinos, bem como do mundo e suas artimanhas. Espiritualmente cego, era assaz frágil, não desfrutando do privilégio da proteção divina. Nessas condições, valia-me, de forma habilidosa, de minha máscara, minha “persona”, a máscara do teatro grego sob a qual se escondia o verdadeiro homem. Meu maior desejo era exibir-me como um grande cavalheiro, forte, generoso, religioso, de personalidade marcante alguém apreciado pela sociedade exigente. Ambicionava ser respeitado por minha elevada dignidade – Oh! Vaidade da vida! E na realidade, consegui ser, tornando-me popular e admirado como desejava. Lá no fundo, entretanto, eu bem me conhecia, era
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS
uma outra pessoa, que ninguém conseguia entrever. Convivia com meu personagem verdadeiro num contínuo pôr e tirar a máscara. Afinal de contas, eu era vaidoso, um presunçoso, medroso e hipócrita, metido nas roupas de um autêntico “playboy”, fato deplorável, mas a pura realidade. Dotado de muita capacidade de observação, enxergando e antevendo minúcias capazes de gerar resultados inesperados e extravagantes, minha vida ia se tornando, em face de minha irrequieta busca e insatisfação contínuas, numa grande confusão. Vivia em constante contradição, insatisfeito, vazio e só. Não obstante pertencesse a uma grande família, eu sofria uma terrível solidão - solidão doída, que me oprimia, roubando-me todo sabor e colorido da vida. Sentia-me como náufrago, em meio à escuridão, esgotado e sem esperança de salvação. Entretanto, a escolha daquela vida de duas faces, corroída de angústia e solidão, fora minha, e eu tinha que fatalmente colher os amargos resultados de meu próprio gosto e opções.
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Concomitantemente, contraditórios sentimentos atacavam-me, especialmente um forte complexo de culpa, que provocava em mim uma sensação de vácuo, a ponto de tornar-me inseguro e covarde, quando pressionado por responsabilidades. O resultado é que, como compensação e fuga, entregava-me, ainda mais apaixonadamente, a festas, aventuras, carros, esportes violentos, e a todo e qualquer risco, proeza e programa envolvente que me fossem oferecidos. Nos momentos em que usufruía aquelas extravagantes experiências, um prazer intenso se apoderava de mim. Entretanto, como animal feroz que capta sua presa, logo o grito de vitória caía no silêncio. A inapetência e o desencanto dominavam-me por completo. Nada estranho: tudo era o resultado de uma vida sem Deus. Na escola da vida, aprendia apenas as coisas escuras e más; o lado bonito e saudável estava sendo, para mim, completamente negado. Tão grande foi tornando-se meu distanciamento de Deus, que me tornei alvo de fortes influências
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malignas. Foi assim que um dia, decidi-me por uma “viagem colorida e diferente”. Ao dar o salto para a irrealidade e a alucinação, deslizei rapidamente para o mais fundo abismo: o tóxico, que foi para mim a mais terrível e degradante experiência possível. O atalho pelo qual enveredei, fez descer-me tanto na escalada humana, que cheguei a execrar minha imagem, toda vez que a via refletida no espelho. Como pude ter chegado a tanto? Como pude cair nas palavras enganosas de falsos amigos que me levaram a experimentar o fumo perigoso? Indagavame sem dizer uma só palavra, apenas em pensamentos, olhando-me dentro dos olhos. Fuja, fuja, enquanto é tempo! Sussurrava-me o coração sofrido. Mas há coisas mais fortes do que eu... Respondia cansado. Constantemente, eu me lembrava das palavras de minha mãe: “Prefiro ficar sem um filho a vê-lo drogado!” No entanto, eu era como um inseto perdido na intrincada teia da vida. Forcejava loucamente por libertar-me, mas em vão. Aquele pertinaz
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sentimento de traição aos princípios de meus pais, que sempre me haviam dispensado tanto amor e cuidados, de nada valia. Se por um lado ele me compungia e esmagava, a ponto de fazer-me sentir feio e monstruoso, por outro, nada me satisfazia, e a tentativa de preencher o vazio crescia a cada hora, martirizando-me, enlouquecendo-me. Aliás, como disse certo pensador, “todo ser humano sente um vazio, e esse vazio tem uma forma, a forma de Deus”. Eu ignorava que aquele terrível vazio em minha vida só poderia ser preenchido por Deus. E se a família descobrir? Perguntavame. Que vergonha! Refletia, consciente de que naquele tormento não contaria com a ajuda de ninguém. Tentava recuar, mas as forças escapavam-me a todo o golpe. Como criminoso a fugir da justiça implacável, vivia escondendo-me. Seria o caos se minha mãe soubesse, seu fraco coração não resistiria, se descobrisse! Pensava a cada
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS
instante. Justamente eu, o filho de quem tanto se orgulhava! Dia a dia, perdendo a alegria de viver, o sorriso aberto e feliz desaparecia, pois o tóxico rapidamente destruía a censura interior, invadindo minha vontade, anulando minha capacidade de discernimento e de escolha. Ao invés daquela paz maravilhosa, de sensações fortes e coloridas, o que obtive foi o afastamento das coisas de Deus. Apatia, embrutecimento e escuridão num submundo melancólico, foi tudo quanto consegui, ao término de tantas entregas loucas à vertigem do fumo. “Mas como teve início a viagem?” Muitos me perguntaram. Inacreditável! Mas foram os próprios amigos, os mais experimentados que, sob o pretexto de me verem feliz, conduziram-me a uma roda de fumantes. E foi um grupo de sociedade que me levou ao “batismo”. Tive medo, resisti a princípio, mas acabei embarcando, sem grande luta, em mais uma aventura, entre as muitas que já vivera. Ao aceitar a primeira experiência, pensei comigo, como se
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estivesse justificando-me: Vou como passageiro de primeira viagem até ao primeiro cais. Pobre de mim! Este cais ficava cada vez mais longe. Quantas vezes quis voltar atrás, sem nada conseguir. O remorso, a dor e a vergonha dominavam-me, sem que nada me fosse acrescentado, a não ser uma lição amarga como o absinto. E ao relembrar, hoje, esta corrida para a destruição, penso nos pais que não dialogam com os filhos acerca de seus problemas e conflitos, que não lhes dão amor, muito embora, devo esclarecer, este não tenha sido, absolutamente, o meu caso. Infelizmente, o que lhes oferecem, ao invés de confiança e liberdade, é temor e subterfúgios, com seu distanciamento, apatia e egoísmo, de um lado, ou infantis promessas de castigo, de outro. Não encontrando nos pais o amigo ou amigos - de que tanto necessitam, esses infelizes jovens, facilmente, deixam envolver-se por tentadores convites malignos. Muito jovem, colhi os frutos de uma liberdade ilimitada, que provocou em mim
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS
uma ilusória segurança. Eu me esquecera de que o homem é uma casa com três moradores - o pensamento, o sentimento e a vontade - , e quando entre eles há divisão, a casa se enfraquece, se arruína, e acaba por desmoronar. Foi justamente o que aconteceu comigo: eu desmoronei interiormente. Dei aulas, muitas vezes, sem qualquer moral ou autoridade, pois devendo, na qualidade de professor, ser um educador, que recursos morais possuía para servir de exemplo àqueles jovens que tanto me admiravam, vendo em mim um ideal a ser copiado? Hoje, reconheço que estava apenas contribuindo para o plano diabólico, que visava minha ruína precoce e humilhação. Aliás, esta é a maneira lógica como age o inimigo da criação de Deus: ele tenta matar, roubar e destruir, e para isso, usa com o maior empenho as nossas fraquezas. Havia também em mim um terceiro personagem, um “eu”, que só Deus conhecia - o “eu” escondido, desconhecido até de mim. Pois esse “eu”, a semente que Ele plantara em meu interior, teria que morrer,
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para depois germinar e dar frutos. O Senhor sabia, por Sua Onisciência, que eu era um vaso escolhido para o Seu serviço. O tempo de Deus ainda não havia chegado. Algumas vezes, o vaso rachou, e persistentemente, Ele refez tudo, porque eu sou um predestinado desde antes da fundação do mundo. Momentos de desespero marcaram esse período, mas as provações visavam transformar o “pequeno príncipe” mimado e orgulhoso, num homem pronto a realizar a vontade do Senhor, cumprindo o Seu mandado pregando as boas novas de salvação e reproduzindo-O com dignidade e com amor. Eu era uma pessoa inadequada, rebelde, acostumado a seguir sempre a rota de minhas vontades e caprichos à revelia, tanto dos planos, como dos caminhos de Deus, até que um dia, Ele inclinou meu coração para ouvir Sua mansa voz chamando-me: “Vem a mim, tu que estás sobrecarregado e oprimido, que eu te aliviarei, e encontrarás descanso para tua alma.”
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CAP. I – BEM LONGE DE DEUS
Pois era disto que eu mais necessitava: descanso para minha alma. Eu precisava de alguém que apagasse as chamas do meu inferno, que ardiam incessantemente. Eu carecia de paz, mas para encontrá-la teria que viver a realidade da vida com os pés fincados no chão, desistindo dos castelos sobre a areia, que as ondas invadiam e destruíam num piscar de olhos. Sim, eu precisava urgentemente encontrar uma vida firme e verdadeira. Mas como sair da minha situação de total insegurança e encontrar apoio para uma nova forma de viver? Quem, afinal de contas, estaria disposto a aceitar-me sem restrições, acusações, dedos em riste? Quem, depois de ouvir-me, teria boa vontade e capacidade de perdoar-me, apagando todo o negror do meu passado?
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CAP. II – SENHOR, AGORA EU CREIO EM TI
Ninguém conhece o que lhe está reservado no futuro. Por isso mesmo, deveríamos viver como se cada dia fosse o último de nossas vidas, prontos a dar contas a Deus dos nossos atos. Infelizmente, esquecemos que a existência traz consigo muitas surpresas, e vamos vivendo como se nossa vida terrena fosse eterna. Eu jamais poderia imaginar o que o futuro reservara para mim. Nunca me passara pela mente que os olhos do Senhor estavam postos em mim, e que Ele iria usarme para trabalhar no Seu Reino. No entanto, Ele permitiu que eu vivesse situações incríveis, que mudariam toda a minha vida. Ele me desafiaria a ser uma pessoa totalmente diferente daquela que eu teimava ser. Eu necessitava de uma total transformação, tanto em minha personalidade e caráter, como em meu
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próprio corpo físico, motivo de grande vaidade para mim. Pois seria neste corpo, tratado com todo luxo e requinte, que Deus faria uma restauração total. Havia necessidade de um “basta”, com certa violência até, mas sem que a vida fosse arrancada, sendo pelo contrário, a mim doada e entregue de volta pela misericórdia e graça divinas. Pois essa graça e essa misericórdia vieram disfarçadas, na forma de um terrível desastre. Naquela época, Angola estava em guerra. A sede de matar cegava os homens que, arbitrariamente, incutiam na mente de seus comandados um tremendo espírito de ódio, manifesto em combates, nos quais milhares de brancos e negros eram, violentamente, dizimados. Homens inescrupulosos e desalmados eram dirigidos para matar friamente, causando a desgraça de milhares de famílias. Era em meio a esse clima tenso que cada jovem aguardava a sua hora de ir para o serviço militar. Eu não escapara ao tumulto generalizado, pois, desde criança, habituara-me a ouvir e a falar a respeito de
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CAP. II – SENHOR, AGORA EU CREIO EM TI
mortes, combates, escaramuças, tiros e tiranias. Acreditava mesmo que iria realizarme naquela vida guerreira e, a meu ver, sedutora e aventurosa. Foi, portanto, muito natural que ingressasse na Escola de Aplicação Militar, onde me prepararia para ser mais um a colaborar na carnificina. Orgulhava-me em minha farda, e o brilho constante de minha arma era para mim um símbolo de amor. Oh! Ironia! A vida, entretanto, dá muitas voltas. Uma ocasião, durante uma longa viagem de automóvel, deslocando-me para Luanda, a capital, onde residia, devidamente uniformizado, por volta das três horas da madrugada, aconteceu o imprevisto. Um trágico acidente iria mudar, totalmente, o rumo de minha vida. Recomendações do comandante militar, como de nossas famílias haviam sido feitas, mas inutilmente, diante da forte e irresistível sofreguidão de aventura que fervilhava em nosso espírito. Ninguém soube explicar como aconteceu. Era noite escura como breu. Um grande estrondo, uma colisão, e a repentina e terrificante explosão, até hoje retumbando
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em minha mente. Acordei, acredito que após um breve desmaio, a uma boa distância da viatura, pois fora violentamente cuspido para longe. Aterrorizado, percebi meu corpo totalmente coberto de sangue. Repentinamente, comecei a inchar tanto, que o uniforme se tornou justo e incômodo. Mas o susto maior foi quando tomei consciência de que não sentia as minhas pernas. Devo estar todo rebentado, pensei. Deitado no chão, fui invadido pela certeza e o terror da morte. Não, não é possível! Eu não posso, não quero morrer! Dizia a mim mesmo, na mais profunda agonia. Gritei, então, por socorro, tanto quanto podia, talvez buscando, inconscientemente, que Deus me ouvisse, chegando quase a asfixiar-me, de tanto esforço. E em meio à agonia do desespero e da dor, senti desfilar ante de mim todo o meu turbulento passado. Um misto de remorso, dor, angústia e arrependimento confundiam-me, naqueles momentos em que, alucinado, o filme de minha vida se desenrolava atrás de minha semi-inconsciência. Se morrer, pensava, o
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que vivi já valeu a pena... Mas eu não quero morrer! Dizia para mim mesmo. Afinal de contas, nada fiz de proveitoso... Dentro de mim lutavam meus dois “eus”, numa batalha acirrada. Viaturas começaram a parar, e suas luzes deixavam-me entrever rostos estarrecidos, de quem contempla algo surrealista, sem nada compreender. A perna esquerda tinha várias fraturas expostas, descrevendo curvas, e a direita, fraturada no fêmur, cruzava sobre a esquerda. Também, a bacia estava fraturada, e artérias e tendões tinham sido seccionados. O rosto inchara horrivelmente, ficando desfigurado. Em síntese: o vaso fora todo quebrado, e o Oleiro tinha, agora, em suas mãos, a massa informe para recomeçar a Sua obra. Em meio a um grande burburinho, todos tentavam fazer algo. Alguns instavam para que eu não gritasse tanto; outros, prestimosos e humanos, davam instruções para que eu fosse socorrido. De repente, lembrei-me duma exposição médica sobre fraturas de coluna, feita para os militares, e um frio correu-me pelo resto de vida que
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conseguia ainda detectar em mim. Pensei, apavorado, que poderia estar paraplégico, pois não sentia as pernas. Com todo o cuidado, passei a mão direita ao comprido da coluna, para ver se havia algo errado, mas respirei aliviado, ao constatar que sentia o toque nas costas e que tudo estava em ordem. Passei, então, a tentar acalmar as pessoas. Sabendo que estávamos perto de um quartel militar, solicitei um enfermeiro e maca para ser transportado. Enquanto aguardava a chegada do socorro, não permiti que ninguém me tocasse, a fim de não me criar mais problemas. Finalmente, o enfermeiro chegou, e através da farda injetou-me algo que me deixou praticamente inanimado. Colocando-me sobre a maca, transportaram-me num caminhão de carga até o quartel, e depois para uma ambulância. Minha família fora avisada, pois todos me aguardavam naquela manhã. Desesperados, acorreram rapidamente ao hospital militar. A viagem na ambulância foi massacrante, pois a cada trepidação maior, meu sofrimento aumentava; e como se isso fosse pouco, a certa altura, a gasolina
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acabou, o que gerou um grande atraso no meu atendimento. Seria o caso de pensar em “terrível azar”. Mas não: até esses atrasos e inconvenientes faziam parte do plano de Deus. Naquela ambulância que parecia tramar contra a minha vida, em companhia de um outro militar, senti que meu fim aproximava-se. Um sopro gelado percorriame o corpo. Era a morte implacável, anunciando-me sua presença. Com imensa dificuldade, conseguia respirar. Já não tinha forças para continuar lutando. Sentindo o hálito da morte a cada instante mais real, pensava, em desespero: de que valeu a minha vida? O que adiantou tanto dinheiro e fama? Tudo vai terminar ingloriamente, de modo brutal e absurdo... Desesperançado, ofereci meu relógio suíço ao companheiro, que, aliás, há muito o cobiçava, e balbuciei: Vou morrer... Ouvi sua voz suplicante animando-me: “Não, Miguel, não digas isso! Tu vais agüentar”. Pedindo-lhe que segurasse minha mão, num gesto de quem queria ser reconfortado naquele instante de pavor e
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fraqueza, roguei-lhe que dissesse à minha mãe que eu muito a amava e lhe pedia perdão por não ter sido o filho que ela sempre esperou que eu fosse. Que ninguém sofresse por mim, pois muito já haviam sofrido com a recente morte de meu pai, que tanta falta nos fazia. Depois disso, desmaiei e entrei em agonia, uma vez mais. Oito horas após o acidente, cheguei finalmente ao hospital. Profundamente traumatizado, com inúmeras fraturas, esvaindo-me em sangue, com tremendas escoriações, fui recebido por olhos atônitos, que, calados, perguntavam: “Que vamos fazer com este resto de gente?...” Depois de submetido às primeiras cirurgias por uma equipe médica, fui conduzido a uma unidade de tratamento intensivo. As dores eram terríveis, quando muito tempo depois voltei a reconhecer as pessoas. Foi então que teve início um período longo, triste e doloroso, mas com o final mais imprevisível e feliz de minha vida. “Coitado!” Ouvi muitas vezes dizerem. Na verdade, tudo me era por demais estranho e incompreensível, mas o
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fato é que a máquina estava seriamente defeituosa, necessitando, com urgência, de consertos. Deus iria fazer tudo de novo. Nas horas em que as dores eram lancinantes, eu gritava. Nesses momentos, como que expulsava todas aquelas coisas que guardara em meu interior, e que só haviam causado tristeza e desagrado a Deus: o orgulho, a vaidade, a prepotência, o pecado, a ambição desmedida. E agora, será que o dinheiro - o mágico que praticamente tudo me dera, por um longo tempo - iria entregar-me de volta a saúde? E os amigos da sociedade a que eu pertencia, acaso continuariam meus amigos? Essas e outras perguntas eu me fazia a todo instante e, para minha grande decepção, fui constatando que, à medida que o tempo passava, ia ficando mais só e abandonado. Apenas os parentes mais próximos e, acima de todos, minha mãe, acompanharam-me em minha lenta e difícil agonia. Ao referir-me com tristeza a este aspecto do meu sofrimento, não posso deixar de lembrar-me com imensa ternura
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da minha mãe. Não sei o que teria sido de mim se não tivesse contado com a sua companhia. Sem abandonar-me um instante sequer, sofria tanto, que era como se as dores transferissem-se para o seu próprio corpo. Não sabia mais o que fazer para amenizar meu sofrimento. Protegia-me como a ave protege seus filhotes. Suas mãos meigas e amorosas afagavam-me o rosto com infinita ternura, buscando incutir-me coragem nos momentos dolorosos, enquanto heroicamente ia sufocando as lágrimas amargas, na tentativa de ocultar de mim a dor que lhe machucara o coração, já ferido duramente pela recente viuvez. Com uma coragem santa, ela calava a angústia de nada conseguir fazer pelo filho, a não ser ficar ali, paciente, à espera do milagre. Seu único desejo era permanecer ao meu lado e, até debaixo de tiroteio cerrado, ia ao hospital para levar-me uma comidinha gostosa, além de seu ânimo e carinho. Fazia planos para o futuro próximo, quando desfrutaríamos - segundo ela afirmava, tentando infundir-me confiança - de muitos passeios, conversas e mil coisas, já que
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éramos os últimos solitários que restavam da família, pois os demais estavam casados. Na realidade, não se trata de qualquer emocionalismo ou pieguice, mas de uma legítima e profunda gratidão por alguém que se doou de maneira forte, corajosa e integral a mim, num momento em que muitas mães teriam fraquejado. Três meses de internação, garantiram os médicos. Só que meu estado de saúde complicou-se tanto, que acabei por permanecer no hospital por cerca de dois anos. Cirurgia após cirurgia – dezenove ao todo – foram necessárias para reconstruir o meu corpo desconjuntado. Nas duas pernas, foram implantados hastes metálicas, placas e parafusos, e foram feitos enxertos de pele e recuperação de tendões, além de muitas cirurgias plásticas. Foi realmente uma obra de arte, que aqueles dedicados e competentes médicos realizaram, e eu agradeço por suas mãos, que com Deus colaboraram para que eu retornasse à vida. O problema mais sério ocorreu com a perna esquerda. Por falta de circulação do sangue, os tecidos muito dilacerados
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começaram a decompor-se, a necrosar-se, sendo cortados sem que eu sentisse, pois não tinham vida. Pelo seccionamento da artéria tibial, a circulação tornou-se mínima, disso resultando o iminente perigo de gangrena. Ah! Que dias difíceis aqueles, quando imobilizado, com as pernas pousadas sobre estribos metálicos e tracionadas por cabos com pesos em roldanas, nem sequer ousava sonhar com qualquer coisa na vida. Só mesmo quem passou por uma experiência dessas é que pode compreender e avaliar o grau de sofrimento experimentado. Um dia, ao olhar pela primeira vez, depois do acidente, meu rosto ao espelho, chorei amargamente. Não podia acreditar que aquele rosto inchado e desfigurado, com uma horrível cor cinza, fosse o meu. Confesso que foi cruel demais, para a minha vaidade. Passaria depois, por um processo psicológico, sob a responsabilidade de um dos médicos assistentes, que me prepararia para o choque de me ser amputada a perna esquerda, e posterior uso de uma prótese mecânica. A verdade é que havia até a
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possibilidade de eu não voltar a andar, tendo que me sujeitar a uma cadeira de rodas, em vista das deficiências e deformações que ocorreram em minha perna. É fácil adivinhar a angústia de um jovem que, em plena pujança de sua existência, se vê ameaçado de ter a perna amputada, tendo, talvez, que se locomover em cadeira de rodas pelo resto de seus dias. Eu não podia aceitar essa idéia em hipótese alguma, e devido à tensão provocada por tais pensamentos passei a sofrer uma tremenda insônia, só conseguindo sono e descanso através de morfina e fortes sedativos. Naturalmente, isto resultou numa dependência, voltando eu ao uso de tóxicos e certos produtos, que tomados ou inalados anestesiavam-me. Foi assim que, quase que num piscar de olhos, eu me transformei num “vegetal”. O pior é que me tornei horrivelmente agressivo, perdendo a compostura com a maior facilidade, gritando, agredindo, dizendo palavrões e adotando atitudes esquisitas, que a todos incomodavam. Revoltava-me mais e mais
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por haver nascido, suplicando aos médicos que me levassem a uma sala de cirurgia e me poupassem de continuar vivendo. Acovardava-me, desejando fugir da realidade e acabar com tudo. Morrer, para mim, era a palavra de ordem, o único sonho possível. Entretanto, alguns fatos, que ocorriam ao meu redor, começaram a perturbar-me, a chamar minha atenção. Até ali, eu só prestara atenção às minhas dores e às ameaças que pesavam sobre a minha vida. Subitamente, porém, dei-me conta de que ali, naquele ambiente de sofrimento, havia pessoas em situação pior que a minha. Realmente, havia militares em estado calamitoso. Pude também observar pessoas incríveis, dando lições de dignidade e de vida a nós que sofríamos. Um desses exemplos, eu encontrei num servente que limpava o chão. Ao ver-me em desespero, dava-me água e consolava-me dizendo: “Firme, camarada, tu vais ficar bom!” Suas palavras mansas caíam como bálsamo em meu coração amargurado. Eu, que tantas vezes voltara o rosto aos humildes que
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estendiam a mão à caridade pública, de repente, encontrava-me dependente da compaixão de um simples servente, simples até demais, mas transbordante de amor. Foi dessa maneira, que um sentimento de humildade e de compreensão para com os humildes começou a tomar conta de mim. Deus é maravilhoso! Ele permitiu que eu conhecesse o sofrimento e a dependência de outros para que desse valor aos de condição e classe social inferiores à minha. Aquele bondoso servente foi ótimo professor, deu-me lições extraordinárias, das quais jamais me esquecerei. Enquanto isso, o tempo ia passando, sem que o quadro clínico apresentasse qualquer melhora. Será que Deus está zombando de mim? Está querendo ser sádico comigo? Perguntava-me entre a revolta e o assombro. Mal sabia eu que nada disso era verdade. Deus apenas continuava seu processo de transformação da minha personalidade contumaz e rebelde. Logo, Deus iria provar-me que os impossíveis humanos, para Ele, são perfeitamente possíveis. Contudo, nas minhas horas de
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dor e desânimo, eu continuava a indagar por onde andaria esse Deus que parecia nada querer ter comigo. O peso era amiúde tão intolerável, que eu chegava a pensar: Deus é coisa do passado... A verdade é que eu nunca acreditara verdadeiramente nEle, como também não tivera a mais longínqua experiência com Jesus Cristo. Enquanto isso, rapidamente, a pele e parte dos ossos continuavam necrosando. Um cheiro fétido de carne putrefata provocava-me engulhos, causando vômitos. Sob o gesso e as gases, milhares de germes ocasionavam-me horrível angústia, o que me levava a constatar a urgência e a fatalidade de amputar a perna - aquela perna deformada, arroxeada e macilenta. A decisão tinha que ser tomada o mais cedo possível, pois a tendência da gangrena é evoluir cada vez mais rapidamente, e matar. Faltava um dia, apenas, para que a junta médica expressasse sua decisão final. Foi a essa altura, entretanto, que o grande Deus e Pai revelou-se. E foi no momento oportuno, pois minha condição psicológica era a pior possível. Estava tão prostrado, tão
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deprimido, que já não acreditava em mais nada, nem em ninguém. Sentia-me no final da estrada, sem possibilidade de qualquer destino certo. Sem o saber, corria imenso perigo, pois deixando de crer, de alimentar esperanças, tornava-me prisioneiro de uma situação calamitosa. Eu, realmente, não via diante de mim, nada em que pudesse depositar crença ou fé! A vida, no entanto, continuava a fluir, indiferente às minhas dores e minhas negras elucubrações. Quanto a mim, simplesmente encalhara. Sem o conhecimento de Deus, minha situação era ainda mais difícil e deprimente. No dia anterior à decisão, o ambiente era extremamente tenso. Estava eu, completamente imerso em meus pensamentos lúgubres, quando repentinamente, aproximou-se de mim uma senhora de aspecto pouco comum, com a pele toda escalavrada, de aparência simples, que não obstante trêmula e chorando compulsivamente, já dera volta à enfermaria sem que ninguém lhe prestasse atenção. Parecia aguardar por algo que a atrairia. Ao aproximar-se de onde eu me encontrava,
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isto sucedeu. Imediatamente, ela parou junto à minha cama, olhando-me fixamente. Assustei-me, pois, apesar de sua aparência incomum, tinha um estranho ar angelical. As visitas que apareciam por ali, não podiam demorar mais do que dez minutos; ela, no entanto, permaneceu ao meu lado por quase duas horas. Experimentando uma estranha sensação ao fitá-la, ouvi-a, surpreso, dizer-me: “Venho da parte de Deus. Fui enviada para declarar-te que tu és um vaso escolhido do Senhor, e que serás um grande servo de Deus e pregador do Evangelho”. Não, não acredito! Exclamei. Assustado, pensei que estava sonhando. Como é possível Deus me amar, consentindo em tamanho sofrimento? Se Ele existisse não me deixaria apodrecer em vida. Cheiro mal, sofro dores atrozes, não consigo dormir, e o pior de tudo é que estou fadado a perder uma perna e ficar encostado a uma cadeira de rodas. Como tem coragem de falar de Deus diante de tanta desgraça? Acrescentei irritado. Por favor, arrematei então, vai embora e me deixa em paz, pois não
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acredito em coisa alguma do que me dizes! Durante cerca de duas horas, aquela estranha mulher resistiu à minha aspereza e teimosia, até mesmo às minhas ameaças de atirar-lhe algum objeto caso não se calasse. Eu lutava como Jacó com o anjo do Senhor, tentando derrubá-la com argumentos falsos e irreais. Ela, no entanto, persistiu até ao fim, dizendo-me: “Porque Deus existe é que tu estás aqui. Ele permite todo este sofrimento porque te ama, e deseja que tu O conheças. Sabe que tu estás sendo reconstruído. O que cheira mal não é o teu corpo, mas o teu coração, tua alma, teu modo de ser”. Pareceu-me incrível como que alguém podia falar-me tão diretamente ao coração, de um modo tão objetivo e verdadeiro, trazendo à tona tudo quanto eu era e, no entanto, tentava ignorar. Eu estava precisando ouvir aquelas verdades, pois me encontrava à deriva, longe, muito longe de Deus. Confesso que ao encarar aquela mulher de feições desagradáveis, e ainda por cima inculta, senti-me constrangido. Mas o fato é que era, justamente ela, que me
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alertava a respeito da realidade de minha condição. Em seguida, aquela criatura quase exótica colocou sobre o meu peito um livro de capa preta. E então, pela primeira vez, eu tinha contato com uma Bíblia. Sua leitura, até àquele momento, seria para mim quase que uma subversão. Esclarecendo-me que aquela era a Palavra do Senhor, pediu-me que a abrisse no meio. Segui suas instruções, lendo um Salmo. Em seguida, mandou-me voltar atrás, até o livro de Jó, procurando um número grande, dezenove, e um pequeno, vinte e cinco. Agora leia bem alto, disse-me: Porque eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Eu não sabia nada daquilo, mas ao pronunciar as palavras “o meu Redentor vive”, uma chama acendeu-se em mim. Era como se estivesse fazendo uma confissão: Senhor, agora creio em ti. Agora, tu me tiraste de meu esconderijo, retiraste-me a máscara, despiste-me diante de ti. Sou teu, Senhor! Perdoa a minha loucura.
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Com muita delicadeza aquela senhora colocou, então, suas mãos sobre mim, agora, já rendido à evidência de uma presença sobrenatural junto a mim, pois o Espírito Santo quebrantara-me inteiramente. Ouvi depois, dos lábios da senhora, a mais linda oração que escutaria em minha vida: “Ó Deus, aqui estou cumprindo as tuas ordens. Peço-te que cures o teu servo em seu interior, em sua alma, dando-lhe saúde física e vida. Levanta-o em Teu nome, e para o Teu serviço. Consola-o e conforta-o no nome do Senhor Jesus Cristo. Amém!” Subitamente, uma inacreditável mudança operou-se em mim. O cheiro de podridão desapareceu, os bichinhos sumiram num milagre e uma espécie de anestesia geral me foi aplicada, sentindo-me, por primeira vez, confortável, após longos meses prostrado, na cama, numa posição infernal. O velho homem morrera, e de um momento a outro senti-me leve e livre, como num belo sonho, do qual não desejava nunca mais acordar. Daí em diante, Deus deu-me forças para aceitar tudo - o acidente, as operações, as complicações todas, a cruel fatalidade -
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como algo natural. Era a Lei de Deus sendo gravada no meu coração, na minha consciência, Seu plano estava concretizandose, Sua vontade Soberana estava sendo manifestada. A máquina ia tendo seus eixos ajustados, seus parafusos no lugar, suas partes enferrujadas estavam sendo desemperradas. O Grande Criador celestial reconstruía Seu próprio templo para nele habitar. Certamente, Ele deveria estar feliz, sabendo que a batalha estava ganha, pois o recalcitrante filho a quem tanto amava já estava reconciliado, e um dia haveria de vê-Lo face a face. Sentia-me como criança nos braços do pai, ansiando por um carinho, após a má-criação demonstrada. Posso, hoje, dizer que por primeira vez em minha vida, dormi realmente feliz. Agora, eu tinha a certeza de que estava debaixo do total controle de Deus.
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CAP. III – NO DIA SEGUINTE, O MILAGRE Acordei, no dia seguinte, felicíssimo, apreciando até mesmo aquele pequenino raio de sol que, como intruso, penetrava pela fresta da janela daquele hospital. Reparando nele, eu, que até à véspera estivera insensível a tudo, comecei a louvar baixinho a Deus: Aleluia! Glória a Deus! Tal como me ensinara aquela senhora, como substituto ao baixo calão que, continuamente, usava em desabafo. Saudava, alegremente, o Senhor que, pela fé, já me havia curado. Aquele era o dia esperado para a decisão da junta médica. Ao chegarem, junto com a minha família e alguns amigos, esperavam os médicos encontrar um quadro devastador, com gritos, palavrões, imprecações etc. Qual não foi a surpresa de todos, ao depararem com um rapaz calmo, comportado, de cujos lábios saíam agora palavras de louvor a Deus. Estou curado! Disse orgulhosamente, ao chefe da equipe médica. “Como sabes muito bem , o teu
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caso é gravíssimo”, retorquiu. “Se ao abrirmos o gesso e retirarmos as gases o sangue não fluir, teremos que te levar, imediatamente, à sala de cirurgia.” Eles sabiam que a circulação era quase nula, e, praticamente, não havia como fugir à amputação. Olhando-me com olhos de lástima e compaixão, todos tentaram encorajar-me. “Logo estarás em casa! Vamos preparar-te uma grande festa com todos os teus amigos”, diziam, dissimulando, fracamente, sua própria desesperança e desalento. Não sabiam eles que, agora, dentro de mim, já não ardia aquele fogo de ódio e inconformação, mas uma chama brilhante e linda, de fé total em Deus, pois eu confiara plenamente nas palavras daquela senhora. A surpresa e estupefação foram imensas, ao destaparem os ferimentos onde os ossos estavam expostos. O sangue jorrou vermelho, quente, pois a perna morta tornara a ter vida, e eu podia senti-la. Deus operara o milagre, e de modo tão perfeito como tudo o que Ele faz, que até mesmo os
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vasos colaterais estavam recompostos, chegando a circulação até o dedão do pé. “Não posso acreditar no que vejo!” Exclamou o médico. “A circulação voltou, os tecidos esponjosos readquiriram sua coloração normal, a cor da perna está perfeita, tudo em ordem, necessitando apenas de plástica reconstrutiva”. Todos me olhavam atônitos e incrédulos. “Como pudeste garantir que estavas curado?” Inquiriu o médico. Ontem, expliquei-lhe, uma senhora veio visitar-me. Depois de pedir-me que lesse algo num livro preto que afirmou ser de Deus - fez uma oração e me declarou curado. “Mas ela garantiu mesmo?” Indagou o médico perplexo. Garantiu, sim! Respondi. E disse também que fora Jesus Cristo que a enviara para dizer-me que sou um servo de Deus. Ao dizer isto, todos riram, admirados com minha firmeza em crer naqueles “absurdos”. Percebi que alguém murmurava algo, enquanto um dos presentes apontava o dedo em direção à cabeça, como a acrescentar que eu estava ficando louco.
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Sim, eu realmente estava louco, mas de gratidão e amor a Deus, que começava, agora, a conhecer através de um milagre clinicamente confirmado, já que a recuperação das pernas seria total. A partir dali, comecei a sentir uma imensa gratidão por todos os médicos que foram pacientes comigo, suportando minhas má-criações e asperezas, e fazendo, por mim, tudo quanto lhes era possível. Deus usou cada um deles para completar a Sua obra. Havia, agora, necessidade de cirurgias, só possíveis em Portugal, já que em Angola não existiam recursos. Mas como ir a Portugal, se eu optara pela nacionalidade angolana, e era em Angola que eu desejava viver para sempre? Afinal de contas, os doentes enviados ao continente eram apenas os de nacionalidade portuguesa. Era difícil acreditar, mas, logo agora que Deus estava abençoando-me tanto, as portas pareciam querer fechar-se para mim! Minha família passou a buscar auxílio entre pessoas influentes, mas sempre em vão, chegando ao extremo de planejar um rapto à
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noite, levando-me para a África do Sul onde a cirurgia reconstrutiva estava em fase adiantada. Tudo, porém, tornava-se cada vez mais difícil, pois a guerra fervia, e os países fechavam suas portas a Angola. Deus, contudo, quando começa uma obra, sempre a termina, e com perfeição. Um dia, sem que eu esperasse, novamente apareceu aquela senhora. Ninguém, a não ser eu, tivera contato com ela. Suas afirmações deixaram-me espantado. Admirei sua convicção e ousadia, quando afirmou: “Tu em breve irás para Portugal, pois Deus vai abrir-te as portas”. Uma certa madrugada, ouvi, nitidamente, em meio ao sono: “Miguel, tu vais viajar”. Surpreso e sonolento, respondi: Não é possível! Não estou preparado; não tenho nenhum documento, a não ser a cédula militar... “São ordens, prepara-te. Tu vais viajar agora”. Alegrei-me, pois as barreiras caíam, as portas abriram-se de maneira milagrosa para mim. Transportado de avião para Portugal, logo à chegada, fui recebido por enfermeiros que, com poucas palavras, identificaram-me: “Sabemos que
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você é um crente, nosso irmão na fé”. Não estava muito familiarizado com essas expressões, mas logo me sentiria muito à vontade entre eles, pois seu carinho e interesse em ajudar-me, fizeram com que me sentisse tranqüilo, feliz e seguro na comunhão de verdadeiros cristãos. Esta foi mais uma das inúmeras e maravilhosas provisões divinas. Em Lisboa, logo fui submetido a raspagens ósseas e novas cirurgias, entre as quais aquela dos corajosos - “cross-leg”- ou seja, o cruzamento dos membros inferiores e sua sobreposição, para o transplante de pele e tecidos. Posteriormente, faria outros enxertos e alongamento de tendões. Além disso, mais placas metálicas e parafusos foram colocados, a fim de formar o perfil ósseo. Eu era, afinal de contas, um “robô”, mas com as pernas sãs e salvas. Oh! Milagre! Estava nas mãos de Deus. Já me punha a orar, falando pessoalmente com quem se tornara meu maior amigo - Jesus. Apesar de atravessar momentos difíceis e dolorosos, tudo era diferente, pois reconhecia com a maior convicção que
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Deus estava em mim, querendo para mim o melhor. Além do mais, tornara-me uma importante testemunha de Jesus Cristo dentro do hospital, procurado por muitas pessoas, ávidas de ouvir as boas novas do grande milagre que se operara em minha vida. Dessa maneira, muitos se acercavam de mim para aprenderem a respeito de Jesus Cristo. Mesmo deitado, comecei a ser usado pelo Senhor. Lembro-me, por exemplo, de um militar hospitalizado, casado, pai de uma linda criança. Sempre que o visitavam, seus familiares impressionavam-me muito, pois choravam copiosamente. Aquele pobre homem sofria há três anos no Hospital, com grandes infecções nas pernas, os ossos purgando. Ansiava por voltar à sua vida profissional, mas as expectativas eram realmente negras. Uma noite, deitado numa cama vizinha à minha, sussurrou-me exausto: “Por favor, ajuda-me! Dá-me isto que amas com tanto fervor, dá-me Jesus!” Estendendo minha mão, toquei-lhe a fronte e orei, terminando com estas palavras: Recebe
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Jesus e sê curado no Seu nome maravilhoso, o nome de Jesus! No dia seguinte, durante a revisão médica, um momento de confusão estabeleceu-se, pois nada de anormal foi encontrado onde antes, até a véspera, havia feridas purulentas. “Estás curado, meu rapaz!” Exclamou o médico estupefato. Ele próprio se assustou com a notícia, contando alegremente, incrédulo e aliviado. Três semanas mais tarde, ele abandonava o hospital, andando normalmente, livre das incômodas muletas. Entre abraços e lágrimas emocionadas, declarou-me: “Obrigado, irmão! Só Deus poderá pagar-te o que fizeste por mim!” Sorri contente, e ao acenar-lhe em despedida, pensava comigo: Ele já pagou e em alto preço, pois fez-se homem e morreu em meu lugar na cruz do Calvário. Algum tempo depois, recebia um cartão postal no qual meu amigo informavame que já estava trabalhando como garçom, com sua perna perfeita e forte. Entrementes, Deus continuava tornando efetivos Seus grandes planos naquele hospital, e para isso, usou-me
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muitas vezes, como instrumento da Sua Graça. Uma tarde, deu ali entrada um jovem em estado gravíssimo. Ele tentara o suicídio, ateando fogo em seu colchão e cobertores, na prisão onde cumpria pena. Enfaixado da cabeça aos pés, com queimaduras de terceiro grau, esperava apenas a morte. Pedi que me aproximassem dele. Um líquido viscoso corria por entre as ataduras, como se seu corpo se decompusesse em vida. Tocando nele levemente, supliquei com fervor a Jesus que operasse um milagre. Um mês depois - ninguém teria podido acreditar - ele estava de pé, conversando normalmente, levando apenas as marcas profundas das queimaduras. Algum tempo mais tarde, ele confessava Jesus como seu Salvador. Momentos maravilhosos experimentei naquele hospital, e deles não me esquecerei jamais, esteja onde estiver. Algumas vezes, plantonistas levavam-me até a sala de cirurgia, onde, rodeado de enfermeiros e doentes, eu falava a respeito do amor de Deus para comigo. Antes de retirar-me, fazia fervorosas orações em favor de todos, pelas quais o ânimo de muitos era levantado.
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Entretanto, eu nem andava, nem podia colocar-me de pé. Locomovia-me de um lado a outro numa cadeira de rodas. Um forte impulso para andar, para escapar àqueles muros do hospital, dominava-me freqüentemente, causando-me angústia. Queria libertar-me daquela prisão, moverme livremente, trabalhar, mas as pernas semi-atrofiadas eram um impedimento. A verdade é que a hora seguinte de Deus, ainda não havia chegado.
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CAP. IV – UMA FAMÍLIA DE DEUS Quando cheguei a Portugal, Deus me proporcionou a oportunidade de conhecer pessoas diferentes, entre as quais jamais convivera até então: a família de Deus. Digo diferentes, porque nelas encontrei uma disposição e alegria que nunca antes observara, nos círculos de amigos que freqüentava. Se em meus antigos relacionamentos, a força estava invariavelmente em seus próprios méritos, seu “status” e poder pessoal, nos relacionamentos que eu tinha agora, a razão e inspiração de suas vidas vitoriosas residiam em sua total dependência de Deus. Encontrei, entre essas pessoas, uma amizade sincera e leal, um interesse constante e verdadeiro de uns para com os outros, e uma grande harmonia. Tive a felicidade de ser assistido no hospital por vários desses irmãos, que me proporcionaram um conforto espiritual maravilhoso. Logo, tornei-me tão estimado, que era como se os
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conhecesse há muito tempo. Entre aquelas famílias que Deus colocou em meu caminho, como bons samaritanos, uma principalmente, se destacou. Era uma família na qual uma senhora de pequena estatura, rosto redondo, olhos reluzentes de vivacidade e alegria naturais, chamava a atenção, ao lado de seus nove filhos. Ela e seu marido, um operário muito simples, dedicaram-se inteiramente a mim. Essa senhora, serva abençoada, verdadeiro instrumento de Deus, era a segunda mulher que Deus colocava em meu caminho. Quanto à primeira, acredito que nunca mais a verei novamente, só no céu. A irmã Henriqueta de Oliveira tornou-se para mim uma verdadeira mãe espiritual. Vinha, diariamente, de muito longe, cumprindo segundo afirmava, uma incumbência celestial. Além do suprimento espiritual, trazia consigo do melhor alimento, explicando-me que o Pai celeste a supria de tudo. Exagerando em seus cuidados - segundo minha opinião esforçava-se para que eu conhecesse a Bíblia em um só dia. Seu filhos - uma escadinha -
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oravam junto com a mãe por mim, oferecendo-me, toda a família, além do alimento amoroso e salutar, um ou outro testemunho edificante para o meu espírito, o que muito me confortava. A par disso, os ensinamentos que me chegavam, através de pastores por ela convidados, foram-se tornando como “lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos” - o alimento do céu, o maná de Deus. Através daquela senhora, aprendi muito: a amar, a perdoar, a considerar outros superiores a mim, a respeitar as autoridades ungidas por Deus, bem como a ser fiel e perseverante. Ela foi, na verdade, a mola-mestra nos primeiros passos de minha vida espiritual. Devo minha formação inicial ao aprendizado da Palavra, testemunho e cuidados de uma família constante e firme em seu propósito de servir a Deus e de ajudar-me, a fim de que eu cumprisse o chamado do Senhor. Não obstante tantas bênçãos, continuava em cadeira de rodas, desfrutando por vezes, do sol, com a minha alma à espera que a Obra do Senhor se
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completasse. Ao solicitar o primeiro passeio, a experiência foi incrível e assustadora. Há muitos meses, não assistia ao movimento rotineiro das ruas, nem sentia o ameaçador burburinho do trânsito. Tampouco, recordava os olhares ora diretos, ora de soslaio, de pessoas que me contemplavam cheias de curiosa piedade. Num daqueles loucos passeios, rodeado de confusão, entrando e saindo atrapalhadamente de automóveis com minha cadeira de rodas, fui levado por minha mãe espiritual a um culto de ciganos cristãos. Urgia que eu abandonasse aquela horrível cadeira de rodas, que tantos atropelos e mágoas acarretava-me. Volta e meia chocava-me com alguém ou caía em íngremes ladeiras. Outras vezes, sofria tremendas humilhações, como aquela ocasião em que uma senhora, vendo-me descer as escadas auxiliado pelo enfermeiro, parou-me subitamente, e colocando dinheiro em minha mão, exclamou: “Coitadinho! Pobre rapaz! Compra cigarros para distrairte, pois deves ser infeliz!”
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CAP. IV – UMA FAMÍLIA DE DEUS
Eu jamais apreciara a palavra “Coitado”, por ser, para mim, horrivelmente depreciativa e humilhante. Apesar de minha limitação física, eu transmitia ânimo às pessoas, especialmente àquelas que se encontravam em situação pior que a minha. Era útil, portanto. Por isso, o que mais me impulsionava a querer abandonar aquela cadeira de rodas era o profundo desejo de ter plena liberdade para servir no trabalho de Deus. Ao chegar àquela casa, nos arredores de Lisboa, onde se realizava o culto de ciganos cristãos, estranhei. Não havia a menor semelhança com um templo. O teto fora improvisado com tábuas e pedaços de plástico escuro. Logo no início do culto, colocaram-me próximo ao pastor, que ocupava um púlpito improvisado. Muitas pessoas, sentadas ou em pé, cantavam e batiam palmas com o maior entusiasmo, enquanto o poder de Deus se manifestava com todo o vigor. Após uma curta mensagem, o pastor de origem cigana começou a orar pelos enfermos. Fiquei espantado ao ver tanta
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gente declarando-se curada. Alguns já não sentiam dores, outros, atrofiados, punhamse erectos. Aparelhos de surdez eram entregues, e muitos males milagrosamente sanados. Que maravilha! Pensava eu. Será que posso pedir a Deus que me faça andar? Sentia-me como um cavaleiro, no campo de batalha. Antes de mais nada, tinha que deitar por terra meus inimigos: aquele medo terrificante que meus ossos se quebrassem, e aquela voz malévola sussurrando em meu interior: “Desiste, tu nunca mais vais andar!” Vencendo, corajosamente, esses inimigos ocultos, adiantei-me e pedi ao pastor que orasse por mim. Com um sotaque espanhol, abriu a sua Bíblia e indicou-me um trecho para ler. “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei”, foi o que li. Sim, Deus estava decretando o milagre pelo poder de Sua Palavra! Para mim, era o supremo desafio de toda minha vida. Com voz bem forte, todos começaram a clamar: “Anda, no nome de Jesus!” “Tens que andar, eu te ordeno no nome de Jesus!”, repetia o Pastor. Mas como andar,
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murmurava eu, se convivo há muitos meses com a dura realidade de total incapacidade, e minha estrutura óssea é frágil e deficiente? Entretanto, o povo continuava a exigir: “Anda, no nome de Jesus!” Manifestando uma fé já habituada à evidência do poder de Deus. Meu Senhor, ou eu ando, ou alguém me bate, pensava eu... Nesse instante, senti o olhar pálido e apreensivo daquela senhora, pousado sobre mim. Trêmulo e transpirando muito, devido ao nervosismo da expectativa, comecei a erguer-me da cadeira de rodas, enquanto silenciosamente, instigava-me: Vai! Agora ou nunca! Vai! Não voltes atrás! Colocando o pé direito à frente, pisei forte. Incrível! A perna respondia-me. Coloquei a outra, e novamente a primeira. Estava andando! “Milagre! Milagre!” Gritavam todos. Aquilo era demais para meu fraco entendimento. Sem nada compreender, inebriado, tonto de espanto e júbilo, comecei a louvar o Senhor. Senhor! Dizia eu, tu podes todas as coisas. Agora creio mais do que nunca em ti. Eu te adoro, ó Deus!
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Sentia-me flutuar. Era como se o Senhor me estivesse tomando pela mão, levando-me a caminhar. Eu era como um faminto, tinha fome e sede das coisas de Deus. Queria ser saciado. Deus completara - milagrosa e misericordiosamente - a Sua Obra restauradora no vaso quebrado. Aleluia!! Agora eu era um vaso novíssimo!
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CAP. V – VOTOS ERRADOS Meus parentes e amigos tinham reações diferentes quando me encontravam, após essas ocorrências em minha vida. Se alguns deles, admirados, comentavam positivamente a meu respeito, louvando minha total transformação, outros, pelo contrário, afirmavam céticos que tudo aquilo era fogo de palha, e eu logo voltaria a ser o que sempre fora: um inconseqüente doidivanas. No entanto, Deus ia burilando e consolidando a minha mudança profunda. O “pequeno príncipe” do berço de ouro era, agora, um servo do Senhor, desprovido de recursos financeiros, pois a guerra lhe roubara o sólido patrimônio dos pais, construído no correr de quase meio século. Já não possuía uma bela casa, nem carros ou uma gorda conta bancária. Uma outra riqueza ele possuía agora - Jesus. Nesses dias difíceis, em momento algum o Senhor desamparou-me, fazendo chegar até mim, de alguma maneira, os
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recursos necessários à minha sobrevivência. Lembro-me com emoção, de certos instantes difíceis, quando, sem dinheiro, deixava-me tentar por aqueles maravilhosos “sonhos com creme” que me davam água na boca quando os via nas vitrines das padarias. “Vai um, freguês?" Perguntava pressuroso o balconista, como que a espicaçar-me e zombar de mim. Não tenho dinheiro, se tivesse compraria todos - respondia eu desconsolado. Vivia o drama dos que, depois de tudo possuírem, vêem-se repentinamente privados de satisfazer, até mesmo, os caprichos mais modestos e insignificantes. Confesso que para mim era muito difícil suportar o desconforto e a humilhação que a falta de dinheiro acarretava. Entretanto, não obstante andar agora, a pé e sem vintém, de modo muito estranho, eu me sentia mais feliz do que nos velhos tempos de fartura. Aceitava o fato de que Deus estava reestruturando-me para administrar corretamente o dinheiro. Agradeço a Ele, pois dessa maneira aprendi a viver na
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CAP. V – VOTOS ERRADOS
escassez, eu que já vivera na maior abastança. Minha transformação era visível a todos. Eu pensava, agia e reagia de maneira completamente estranha à de algum tempo atrás, quando toda a minha energia estava voltada para as coisas temporais, e eu me acreditava eterno. Meus valores, de repente, tornaram-se outros. Em todos os sentidos, eu fora transformado. Após o milagre da cura, fiquei sem restrições físicas. Posso andar a pé, dirigir automóvel, praticar esportes e nadar esplendidamente. Aliás, só agora é que me sinto na plenitude da normalidade, pois, tendo abandonado os sonhos falsos, as dolorosas fugas e os devaneios e enganos passionais, encontrei-me comigo mesmo e pude, tranqüilamente, aceitar minhas deficiências, lutando por acentuar os dons e qualidades que Deus me proporcionou. Alcancei, através do duro aprendizado e de muita luta, uma maturidade maior e um equilíbrio e sabedoria, dados pelo Senhor, capazes de tornar-me uma pessoa feliz,
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pronta a testemunhar a respeito da proteção e do amor de Deus em minha vida. Entretanto, eu ainda não sabia que uma última fase na reconstrução estava faltando-me. Logo iria descobrir que com Deus não se brinca, e que tudo o que semearmos haveremos de colher. Eu passara quase dois anos dentro de um hospital, preso como um pássaro na gaiola. Lá fora, o mundo acenava-me, para que eu voltasse a viver, a desfrutar de suas aventuras e sensações. Na realidade, o sacrifício estava sendo longo e pesado demais, e eu ainda amava muito a vida. No entanto, eu fizera promessas e votos a Deus, e lhe afiançara que se conseguisse sair do hospital, iria dedicar minha vida a seu serviço. E assim aconteceu. Apenas no princípio, tenho que confessar. Nos primeiros tempos, a sede de Deus era tanta que eu nunca faltava aos cultos e reuniões. Inicialmente com o auxílio de uma muleta canadense, pois minha estrutura muscular começava a fortalecer-se novamente, subia escadas e percorria grandes distâncias para
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CAP. V – VOTOS ERRADOS
ir à Igreja. Foi nessa ocasião, que meus companheiros de hospital tiveram oportunidade de conhecer Jesus - eu servira de instrumento. Alugava táxis para levar o “pelotão-muleta”, como éramos chamados. De alguma forma, o dinheiro sempre aparecia; era a providência divina atuando em nossas vidas. Enquanto muitos, apesar de todas as facilidades, mantinham-se inertes na Obra do Senhor, eu me aplicava ativamente, tendo me tornado um exemplo. Lá, um dia, entretanto, alguém me deu um carro e dinheiro para gastar. Não obstante, fossem dádivas de um coração generoso, quase me levaram à ruína e à destruição. De um momento a outro, as antigas facilidades pareciam querer envolver-me de novo. Uma sensação forte de emoções e aventura ameaçava tomar conta de mim, invadindo meu novo mundo interior. Passei a percorrer as ruas da cidade em alta velocidade, numa forma de recuperar o tempo perdido. Subitamente, os cultos se tornaram cansativos, sem atração e enfadonhos, e os domingos deixaram de significar para mim, o dia do Senhor. Já
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não me importava tanto a idéia de ser de Jesus. Em resumo: meu testemunho tornavase vacilante, perdera o brilho, corria o risco de apagar-se. O fato é que a brasa estava afastada do braseiro, e rapidamente arrefecia. Ao solicitarem de mim, os companheiros, que os levasse à Igreja, eu, agora, respondia-lhes que fossem sozinhos, pois já lhes indicara o caminho. Eu, infelizmente, não me apercebia de que com Deus só existe sim e sim, a “máquina” não podia mais se estragar e nenhum dente da engrenagem poderia quebrar-se. A entrega total tornava-se cada dia mais urgente. Afinal de contas, que fizera eu de minha conversão? Meus votos e promessas a Deus estavam todos indo à bancarrota, e tornava-se evidente que minha ligação com o Senhor significava uma mera tentativa de negociar com Ele a minha liberdade com saúde. O mundo e seus atrativos faziam-me muita falta. Por não conhecer a Soberania de Deus, eu pensava que Ele poderia esperar por mim. Mas Ele é Soberano e não espera, Ele determina. Foi aí que o inesperado aconteceu! Após uma pequena
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CAP. V – VOTOS ERRADOS
cirurgia para retirada das hastes metálicas dos fêmures, ao virar-me na cama, a perna esquerda voltou a fraturar! Imagine-se meu desespero e incredulidade, vendo tudo voltar à estaca zero, depois da certeza de minha total recuperação.... Meus gritos lancinantes ecoavam pelos corredores, ferindo o coração das pessoas queridas, e das senhoras da Igreja que carinhosamente vieram ver-me. Elas nunca me abandonaram: que criaturas maravilhosas! Como eu ainda não tinha um conhecimento perfeito de quem era realmente Deus, de repente, acreditei que todo aquele sofrimento era o resultado de votos não cumpridos e promessas vãs. Isto me deixou um tremendo sentimento de culpa, pensando estar sendo castigado. Voltei à sala de cirurgia para implantar novas hastes metálicas. Outra vez, o martírio da cama, sem qualquer possibilidade de movimento. Pela graça divina, consegui recuperarme novamente. Entusiasmado, voltei ao convívio dos irmãos. Sentia muitas
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saudades da família de Deus, a quem tanto me afeiçoara. O prazer e entusiasmo iniciais voltaram ao meu coração, e passei a sentir o calor do primeiro amor, como nunca, bem como a presença do Espírito Santo em minha vida, pois já estava selado com Seus dons. Agora, sim, a Obra de Deus se concretizara definitivamente, em meu interior. Eu nascera de novo. Era um novo Miguel. A partir daí, comecei a sentir o chamado para ser Pastor, pregador do Evangelho. Deus iria somar à minha experiência de professor, líder para-militar e empresário, Seu dom Ministerial, para que melhor desempenhasse Seu serviço. Após passar um período num instituto bíblico, o Senhor me enviaria ao Brasil, onde inicialmente serviria como auxiliar de um Pastor evangélico. Como não possuísse qualquer documentação, e a imigração restringira-se demasiadamente, novos problemas surgiram para mim. Deus, por Sua Soberania, encaminhou tudo de maneira que as dificuldades fossem vencidas e os recursos supridos totalmente.
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CAP. V – VOTOS ERRADOS
Transcorridos alguns anos, hoje, dou imensas graças a Deus por me haver conduzido a este país, onde passei a viver em condições de igualdade com o povo brasileiro, além de ser, imensamente, abençoado pelo espírito fraterno e generoso das pessoas que encontrei pelo caminho. Amplas estradas cheias de certezas e promessas se abriram, quando depois de tantos contratempos, peripécias e sofrimentos, Deus inclinou meu coração para atender o chamado Ministerial para o qual Ele me havia, há muito, predestinado, além, muito além daqueles mares azuis a mais não poder, da minha longínqua Angola.
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CAP. VI – MEU TESOURO: MEU MINISTÉRIO
Foi numa cidade do sul do Brasil que tive os primeiros contatos com o Verdadeiro Evangelho. Aos poucos, fui prestando minha cooperação a um valoroso Pastor que incutiu em meu espírito os ideais de evangelização. Tempos depois, vim para o Rio de Janeiro. Nesta cidade maravilhosa, tive várias ocupações, como a de intérprete e recepcionista num Hotel, gerente e diretor de empresa, enquanto a hora da dedicação integral ao Evangelho não chegava. Minha vida mudara totalmente, pois agora, era, em todos os aspectos, dirigida pelo Senhor. Meu antigo desequilíbrio e estado de contínua excitação e insatisfação desapareceram, dando lugar a uma alegria, uma paz e sensatez que eu jamais conhecera antes, o que provocava admiração em todos. Continuava firme no propósito de servir a Deus, e aguardava a Sua indicação para a Igreja à qual eu
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congregaria. Meu desejo era viver num ambiente muito especial, onde o Evangelho fosse pregado de maneira séria, simples e espontânea, sendo, acima de tudo, um firme respaldo para mim, levando-me a crescer cada vez mais. Estava ainda mais convicto de que meu chamado era para pregar o Evangelho. Conscientizava-me também, de que continuaria a ser usado para curar enfermos e libertar oprimidos. Pois, foi nesses dias de muito fervor e confiança íntimos que vim a conhecer a Igreja Pentecostal de Nova Vida, onde encontrei um Evangelho pleno de entusiasmo e de amor, além de imensas realizações de fé, numa dimensão, até ali, não encontrada por mim. Diante de sua forma de governo eclesiástico, tendo à frente Bispos e Pastores, homens íntegros e dinâmicos, dirigidos por Deus, senti-me, verdadeiramente, em família. Minha vocação Ministerial florescia a cada encontro público, quando me era oferecida oportunidade de testemunhar. Em Março de 1979 eu recebia a imposição de mãos do presbitério da Igreja
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CAP. VI – MEU TESOURO: MEU MINISTÉRIO
de Nova Vida. A par disso, recebia também a incumbência de iniciar minha primeira Igreja. Palavras de inspiração profética traçaram, naquela memorável noite, o rumo de minha vida pastoral. Através de um eficiente aprendizado na Igreja que freqüentava, recebera amadurecimento necessário a uma importante obra. A direção de Deus fora clara e precisa através da promessa de um Ministério ilimitado. De fato, assim aconteceu, como continua acontecendo até hoje. Em dois anos e meio, compramos um terreno e construímos uma linda Igreja, com edifício anexo, de três andares, para educação religiosa, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Depois de havermos começado precariamente, nas dependências de uma escola pública - para onde, aliás, dezenas de pessoas eram atraídas aquele local próprio, independente, era um verdadeiro privilégio. Tudo ia de vento em popa, a Igreja crescendo a olhos vistos, sempre lotada de pessoas atraídas pela pregação da Palavra. Depois de tocadas pela Palavra Viva e Redentora do Evangelho, vidas eram ali
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transformadas, curas e libertações efetuadas, numa demonstração viva do poder e do amor de Deus. Muitos eleitos de Deus vinham à Igreja ávidos de uma nova vida e conseqüente transformação em seus destinos. Crescia tanto o trabalho, que logo muitas Igrejas foram fundadas. A obra abençoada criara fortes raízes, desabrochando novos Ministérios. Minha alegria era intensa, ao sentir que muitos depositavam em mim sua confiança, fazendo-me guia espiritual para suas preciosas vidas. Amava mais e mais o trabalho, pois o carinho e estímulo recebidos eram constantes, unânimes e profundos. Via, com muito temor e tremor, que as palavras que ouvira daquela senhora no hospital militar em Angola, estavam se cumprindo da forma como ela havia profetizado. Tornei-me um pregador do Evangelho de Cristo. Contudo não imaginava o que o Senhor havia preparado para a minha vida Ministerial. Muito mais Ele faria.
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CAP. VII – LONGE, PERTO OU EM COMUNHÃO COM DEUS Um dia, Deus perguntou a Adão, quando este se encontrava no Jardim do Éden: “Onde estás?” O livro de Gênesis nos conta que Adão teve consciência de que estava nu, e, por isso, teve medo e se escondeu. Depois de haver usufruído a comunhão íntima com o Criador, Adão, por causa do pecado, viu-se só, longe de Deus e separado de Sua Graça. Esta era a minha situação. Senti vergonha de Deus e de mim, quando descobri minha realidade nua e crua. Sempre usei de recursos que enfeitavam minha vida, mas um dia fui despojado por Deus de todas as falsidades e inutilidades. Deus, como Soberano, coloca o querer e também faz o realizar no coração de quem Ele escolhe. Ao relatar-te, caro leitor, muitos dos percalços e tropeções em minha vida - não todos, evidentemente - minhas
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quedas bruscas, arrancadas espetaculares, deslizes e resvalos por aclives abismais, dou-me conta de quanto tempo precioso foi perdido. O Senhor reúne os mil pedacinhos, lascas e fragmentos de vidas desconjuntadas. Vidas preciosas para Ele. Será que é necessário deixar correr tanto tempo, antes que a Obra se complete? Evidentemente que não. Deus quer ver essas vidas consertadas, plenas e radiantes o mais cedo possível. Basta entregar-se em Suas mãos, Deus faz a Obra completa e, por Sua Graça, nos faz desistir das aventuras do mundo, fugir às reviravoltas de uma existência vazia e rebelde. Tudo começa a ser diferente pela Graça de Deus, como foi para mim. Mas sem aquela luta acirrada de um coração duro e contumaz. Tudo é por Graça e não por obras. Desistir do “mundo do faz de conta” e começar uma vida real, de entrega ao Senhor e comunhão com Ele, também é possível, somente, pela Graça de Deus. O grande problema é que existe uma posição ilusória, e, por isso perigosa, entre o
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CAP. VII – LONGE, PERTO OU EM COMUNHÃO COM DEUS
“longe” e a comunhão com Deus. Criamos um “perto” que nada mais é que um pobre e falso resultado de nossas convicções pessoais ou de doutrinas erradas que alguns têm recebido. Queremos ou imaginamos estar em comunhão com o Senhor sem, no entanto, aceitarmos as responsabilidades do Reino, sem nos negarmos a nós mesmos, fazendo, pelo contrário, nossas próprias vontades – a vontade da carne. Nascemos para a obediência e não para a rebeldia. Deus não aceita, em hipótese alguma, que o eleito tenha uma vida dupla, uma vida de duas faces, a “persona” do teatro grego. Pela revelação da Graça do Senhor, encontrei, finalmente, na Sua Palavra, que contém os Seus mandamentos, o meu prazer e a minha paz. Passei a adorar não mais as coisas mundanas, ilusórias e perigosas, mas, somente a Jesus Cristo, sabendo que por Seu intermédio - Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida - vou ao Pai, pois em Cristo eu sou um com o Ele, não por escolha própria, baseada na emoção, porque, para a salvação, não existe livre arbítrio. Quando Deus chama, o homem tem que atender.
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Não há outra alternativa. Ele é Soberano, chama quando quer, como quer e a quem quer. O Espírito Santo nos convence dos nossos erros e fraquezas e habita em nosso interior, fortalecendo-nos. Sou propriedade exclusiva de Deus, e tenho acesso direto, por Cristo, ao trono da Graça. Sou menina dos Seus olhos. Sou sacerdote real, sou carta escrita pelo Deus vivente. Não há nada melhor para mim do que viver em comunhão íntima com Deus. Através dessa comunhão, sou abençoado como esposo, pai, Pastor, Evangelista, Apóstolo e Profeta. É por todas as infinitas misericórdias do Senhor, manifestadas abundantemente sobre mim e a minha família, que digo alegremente como o salmista: Bendizei, ó minha alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu Santo Nome. Salmo 103:1-2 “Bendizei ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças de nenhum só de seus benefícios ”
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CAP. VIII – A PROFECIA SE CUMPRE Depois de quase três anos servindo na Ilha do Governador, um dia, ao entrar no meu gabinete e ver toda a Igreja concluída, pensei comigo mesmo: Agora, poderei finalmente descansar; voltarei a estudar e nunca mais sairei daqui, (eu ainda não conhecia a profundidade da Soberania de Deus, como diz Jeremias: “Não cabe ao homem dirigir o seu caminho, nem ao que caminha dirigir os seus passos”). Após alguns instantes contemplativos, ouvi uma voz que me disse: “Miguel, teu tempo aqui acabou, tu irás para outro lugar que eu te mostrarei!” No início, rechacei esta voz, pois foram tantas lutas e desafios para construir a Igreja, que agora não queria deixá-la. Mas era Deus quem me falava, e logo me rendi à Sua vontade. Fiquei na expectativa, aguardando que Deus me levasse para um lugar ainda melhor, pois a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável.
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Alguns dias se passaram e, num encontro com o amado e saudoso Bispo Roberto M’Calister, da Igreja Nova Vida, fui chamado para começar um novo trabalho no bairro de Piedade, zona norte do Rio de Janeiro. Parti pela fé, tal qual Abraão... sem saber para onde ia. Ao chegar ao lugar onde seria a Igreja, deparei-me com algo que me desafiou a fé; era um velho cinema totalmente depredado, muito sujo e, além disso, tinha uma péssima reputação, pois ali eram exibidos filmes de nível muito baixo. Mas o caminho de Deus é perfeito; reformamos o lugar e abrimos a Igreja. Iniciamos o trabalho com apenas seis membros. No entanto, eu tinha a forte convicção de que o Senhor Jesus Cristo começara uma grande Obra, e que Ele mesmo haveria de completá-la. Por uma inspiração de Deus, apesar dos poucos lugares ocupados, eu sempre dizia nos cultos: Eu vejo esta Igreja lotada. Muitos me chamavam de louco. Uma pessoa me disse: “Pastor, vai embora, outros pregadores já tentaram antes, e não conseguiram nada aqui, este lugar é quente,
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CAP. VIII – A PROFECIA SE CUMPRE
não há segurança, não desperdice sua vida”. Apesar de todos os contras, oito meses depois, para o espanto de muitos, a Igreja estava completamente lotada, o número de membros já ultrapassava mil e quinhentas pessoas. Tivemos que comprar mais cadeiras, pois o antigo cinema era, agora, um lugar de cura, paz e vitória, e a Palavra e a glória do Senhor se manifestavam ali poderosamente. Deus faz impossíveis se tornarem possíveis em horas impossíveis. Quando da minha ordenação ao Ministério Pastoral, o Senhor revelou que a denominação que eu pertencia não estava preparada para absorver o chamado que Ele tinha para a minha vida e que havia uma página em branco que Ele mesmo escreveria. Disse ainda, que eu seria usado além das fronteiras do Brasil e que homem algum poderia impedir que isto se cumprisse. Tenho esta palavra profética gravada até hoje, em fita cassete, que é mais uma prova de que desde antes da fundação do Mundo, fui chamado para ser um Apóstolo e Profeta às nações.
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Sempre servi a Deus com integridade, inteireza de coração e sempre fui fiel à minha antiga denominação. Mas em determinado momento da minha vida, o Senhor Jesus começou a inquietar o meu coração a respeito do meu chamado profético. Contudo, não sabia qual a hora exata de iniciá-lo, nem que posição tomar. Então, Deus começou a dar-me palavras como a de Isaías 52:12 “Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo; porque o Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda.” Comecei a orar e fui ao encontro de meu amado amigo, pastor e conselheiro Wim Van Dijk. Ao chegar em sua casa, antes mesmo de tocar no assunto que me levara até ali, ele fitou-me os olhos de forma carinhosa e disse: “Meu filho, meu amado filho Miguel, eu sei que tu vieste aqui porque tens que tomar uma importante decisão Ministerial, Deus já aprovou o desejo do teu coração”. Oramos, pedindo a Deus que confirmasse na Bíblia Sagrada, a palavra que acabáramos de ouvir. Temi e tremi ao abrirmos a Bíblia, pois o Senhor
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CAP. VIII – A PROFECIA SE CUMPRE
mostrou-nos o versículo que respaldava minha decisão: Isaías 52:12. Depois de tantas confirmações proféticas, entendi que Deus me chamava para um novo trabalho, um novo desafio, um novo Ministério, uma nova Igreja. Nascia assim, não pela vontade da carne ou do homem, mas por uma inspiração divina e profética, a Cruzada Evangelística Miguel Ângelo que, mais tarde, devido à dimensão mundial que tomou o Ministério, passou-se a chamar Missão Apostólica da Graça de Deus Igreja Evangélica Cristo Vive. No início, foram muitas as dificuldades, mas sempre tive a certeza de estar no centro da vontade de Deus, e Ele mesmo foi abrindo todas as portas, e manifestando Sua glória em cada culto, em cada reunião, em cada trabalho. Começamos a fazer programações de rádio e televisão, e, pela prosperidade da Palavra, o Senhor foi atraindo mais e mais eleitos para o Seu aprisco, através da nossa Igreja. Fui honrado com vários títulos do governo e da sociedade civil, pelo trabalho prestado à esta nação. Nosso Ministério tornava-se cada dia
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mais conhecido. Apesar de tantos sinais e milagres e a certeza da aprovação de Deus, ainda estávamos no antigo cinema, sem conforto, sem estacionamento, e, além de tudo, era um lugar que não manifestava a dignidade e a beleza do nosso Deus. Era chegada a hora de procurar outro lugar e erguer um templo que mostrasse ao mundo a glória do Senhor entre nós. Mas onde e como? Mais uma vez, em minha vida, deparava-me com algo que parecia impossível. Mas os impossíveis para os homens são possíveis para Deus. Como pregador do Evangelho, tenho sido levado por Deus a conhecer várias partes do mundo em minhas viagens, e, nelas, comecei a contemplar grandes Igrejas, templos maravilhosos, verdadeiros monumentos de beleza e formosura. O Espírito de Deus começou a desafiar-me a construir no Rio de Janeiro, apesar das dificuldades inerentes a uma nação em desenvolvimento, uma linda Catedral que refletisse a grandeza e a majestade do nosso Senhor Jesus Cristo. Por uma inspiração de Deus, encontramos um terreno que ficava na
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CAP. VIII – A PROFECIA SE CUMPRE
Zona Oeste da cidade; fizemos uma grande campanha na Igreja. Alguns irmãos amados, a quem eu muito agradeço, hipotecaram as suas casas como garantia do pagamento do terreno. Sei que Deus lhes retribuirá este ato de amor para com a Sua Obra. Quitamos as prestações, contratamos funcionários e começamos a construção. Em determinado dia, quando começamos as escavações, descobrimos que havia uma gigantesca rocha que, escondida sob o terreno, impedia a construção imediata da Igreja, a não ser que nos dispuséssemos a explodi-la. Muitas pessoas vieram e me disseram: “Pastor, vamos desistir, é impossível destruir esta rocha, nunca conseguiremos, é melhor nos conformarmos e ficarmos no antigo cinema.” Surgiram dúvidas e questionamentos à minha volta, depois de tanto sonhar e até já contemplar, com os olhos da fé, nossa Igreja construída, eu não poderia desistir. Apesar de todas as vozes contrárias e de minha própria carne temer, Deus me inspirou e disse: “Miguel, não temas nem te espantes, não te assombres, porque eu sou o teu Deus, eu te
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fortaleço, e te ajudo e te sustento com a minha destra fiel. Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela mão direita e te digo: Não temas que eu te ajudo.” (Isaías 41:1013). Assim, dentro do meu coração, mais uma vez, Deus confirmava Sua fidelidade para com os Seus filhos. Durante meses a fio, explodimos a rocha, retiramos cerca de novecentos caminhões de pedras, e só após este período, começamos a construção deste, que é hoje um dos maiores templos evangélicos da América Latina. Depois de tanto esperar pelo início da obra, engendramos esforços e trabalhamos arduamente. Culto após culto, todos nós sonhávamos juntos com aquela que seria a nossa casa, havia o envolvimento de toda a Igreja para que pudéssemos nos mudar definitivamente. Até que em 1990, foi eleito para a Presidência da República um homem que tomou, através de um decreto, todos os recursos financeiros que nós tínhamos guardados. Foi um impacto muito grande para todo o nosso Ministério e também para
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milhares de brasileiros que, de repente, viram-se, de uma hora para outra, impedidos de administrarem seu próprio dinheiro. Eu estava em uma viagem evangelística, quando recebi a notícia de que a Igreja não tinha mais como prosseguir a obra, pois não podíamos mais pagar aos funcionários. Foi mais um momento de luta, mas, em todas estas coisas, fomos e somos “mais que vencedores.” Voltei ao Brasil e disse: vamos continuar a obra, porque tenho a certeza de que Deus não nos desamparará. O Senhor inspirou-me em Hebreus 11:34 “... extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.” Sim, Deus levantava entre nós, aqueles que seriam também, heróis da fé, tal qual fizera no passado. Em 1993, depois de tantos desafios e batalhas vencidas, terminamos nossa construção e mudamos para a Igreja nova. Hoje, para a glória de Deus, temos um templo com ar-condicionado central, que comporta cerca de cinco mil pessoas
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sentadas, temos também um prédio de quatro andares para administração e educação religiosa, um estacionamento que comporta cerca de setecentos carros. Acabamos de adquirir dois novos terrenos para a construção do nosso Centro Cristão de Vitórias e outras obras assistenciais. Graças a Deus, que em todas as coisas sempre nos conduz em triunfo! No ano de 1996, fui reconhecido como Apóstolo e Profeta pela maior convenção de Apóstolos e Profetas do mundo, dando assim, mais um passo dentro do plano predestinado de Deus para minha vida. Nossa Missão Apostólica da Graça de Deus tem mais de quarenta e cinco mil membros, pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo, que encontraram em nossa mensagem profética os pastos verdejantes do Senhor. Nossa programação de televisão alcança todo o Brasil e também os países integrantes do Mercosul, além de termos programas de rádio para dezoito estados da federação. Na noite que sofri aquele acidente, que no primeiro momento parecia uma
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desgraça irreversível, eu não podia imaginar que no meio de tanta dor e sofrimento, Deus estava manifestando Sua Soberania sobre a minha vida, mostrando que nenhum dos Seus planos pode ser frustrado. Hoje, paro e contemplo a bondade dAquele que me amou antes da fundação do mundo, e me separou para ser um pregador do Evangelho das insondáveis riquezas de Cristo. Tenho o prazer de ver manifestando-se em toda a minha família, os dons Ministeriais de Deus. Minha filha, Ana Caroline, hoje casada com o abençoado Sérgio Costa, juntos, são pastores e estão totalmente envolvidos com a Obra do Senhor. Minha segunda filha Cristiane dedica-se à música. Meu filho, Miguel Ângelo Júnior, com 18 anos, foi ordenado ao Ministério Pastoral de maneira profética e já participa de seminários e congressos de liderança evangélica, cuida das programações de rádio e TV e lidera a juventude da Igreja, cumprindo assim, desde o seu nascimento, o grande testemunho de vitória e livramento do Senhor, narrado no meu livro: Nada me Separa do Amor de Deus.
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Depois de tantos desafios e tantas vitórias que Deus manifestou na minha vida, glorifico o Senhor Jesus Cristo por ter me separado para que eu seja, hoje, um Apóstolo e Profeta, com um chamado santo testemunhar o Evangelho da genuína Graça de Deus. Por tudo que vivi e contemplei na vida, posso dizer: Eu sei em quem tenho crido e posso todas as coisas naquEle que me fortalece: Jesus Cristo, o Único e Soberano Deus. Sei que fui chamado para realizar uma grande obra no Reino de Deus. O Soberano Senhor Jesus faz além do que pedimos ou pensamos. Ele fará por ti algo tão maravilhoso que tu dirás: “Ele é o Todopoderoso”. Crê nisto!
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Caro leitor, Tenho a certeza de que a leitura deste livro provocou em teu ser o reconhecimento de que Jesus Cristo é o teu Senhor e Salvador, portanto, levanta-te e confessa a Verdade semeada no teu coração. Tua vida se transformará, qual terra seca que, ao receber a chuva, se torna terra fecunda e próspera. Amém. Escreve-me e relata o teu testemunho. Estarei orando por ti. Caixa Postal 55.021 - Cep 22741 – 970 ou para: Missão Apostólica da Graça de Deus Igreja Evangélica Cristo Vive Rua Maricá, 320 - Campinho Rio de Janeiro - Brasil Cep 21320-070 ou Telefax: (0XX21)3017-9090 ou e-mail: apmiguel@elnet.com.br Internet: www.igrejacristovive.com.br
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MIGUEL, ONDE ESTÁS? – AP. MIGUEL ÂNGELO
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