Risco e Solidariedade

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RISCO E SOLIDARIEDADE


RISCO E SOLIDARIEDADE Professor Jean Bartoli Gostaria de começar esta reflexão dizendo que, mais do que alinhavar idéias, prefiro trazer práticas que nos ajudem a redescobrir que a solidariedade é um risco que não podemos evitar e que nos enobrece. No existencialismo contemporâneo, o risco é considerado inerente às escolhas e às decisões existenciais. A pretensão implícita na tomada de decisão é de que as coisas se passem de maneira diferente daquilo que eu decido e que eu assuma este risco. Ao mesmo tempo, a noção de risco permite pensar a unidade social não como fruto de uma identidade compartilhada, mas como conseqüência de diferenças assumidas e superadas a partir da prática da solidariedade. Vejamos alguns exemplos.

Grécia e Atenas foram impelidas pelo desejo de entender o ser humano e comunicar esta compr eensão, instaurando a civilização do Logos, indo ao encontro da curiosidade de todos os homens. Os gregos construíram uma história que foi a expressão da altíssima vontade com que talharam o próprio destino. Em contraste com a exaltação oriental dos homens-deuses acima de toda a medida natural, solitários, o início da história grega surge como princípio de uma nova valorização do Homem, forma viva que se desenvolve no solo de um povo e, portanto, vinculado aos seus semelhantes na cidade. Os que foram reverenciados como os grandes homens da Grécia consideraram-se sempre a serviço da comunidade, não como profetas de Deus mas como mestres independentes do povo e formadores dos seus ideais. A trindade grega do poeta, do homem de Estado e do sábio encarna a mais alta direção da nação.

Muitos de nós visitaram amigos ou familiares doentes em hospitais que receberam o nome deste anônimo tão conhecido: o Samaritano! Jesus escolhe um ser humano social e religiosamente marginalizado para servir de par adigma de perfeição porque esse homem age movido pela misericórdia. O ser humano realiza sua vocação na medida em que a percepção do sofrimento alheio se converte em princípio interno de sua ação.

O homem moderno apresenta-se como um ser plenamente autônomo, para quem a consciência pessoal e racional foi o princípio elementar e essencial de 1


identidade. Seu destino feliz parecia assegurado como resultado do uso da própria racionalidade e de suas realizações concretas. A adequada educação da mente humana num ambiente bem planejado produziria indivíduos racionais, capazes de entender o mundo e a si mesmos.

PERSPECTIVAS E DIMENSÕES ATUAIS DO EXERCÍCIO DA SOLIDARIEDADE A palavra "solidariedade" desperta em muitos o desejo de contribuir ao acolhimento e à promoção do próximo que precisa de ajuda. Lembra também a coerência que existe entre dividir a situação dos outros, sentir-se responsável pelo que acontece de penoso aos outros e empenhar-se em prestar um socorro eficaz. Para poder ser desenvolvida, a solidariedade implica o reconhecimento da existência de um paradoxo fundamental no relacionamento entre os seres humanos: uma igualdade na condição humana vivida na diversidade e na alteridade que desafiam cada ser humano a expor-se ao risco do encontro e do serviço. Refletindo sobre os acontecimentos atuais, é necessário perceber os limites e os fracassos da fé na espontânea redistribuição de riquezas, na existência de recursos econômicos infinitos e na convicção de que a atividade econômica não teria impacto ambiental negativo. A solidariedade deve resgatar seu significado de critério-guia das decisões econômicas.

A plena atuação da solidariedade social está ligada à atenção à pessoa e a sua absoluta dignidade. A solidariedade assume aí a conotação de partilha, de serviço, de acolhimento incondicional do outro, de doação e, portanto, de gratuidade. Para resgatar o sentido do risco e da solidariedade, precisamos voltar a ter a humildade de reconhecer nossos limites. Que essa reflexão compartilhada possa motivar uma volta para o nosso coração onde possamos encontrar a vontade e a energia necessárias para recomeçar a peregrinação em direção ao outro!

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