Minhocultura e compostagem

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compostagem e

minhocultura

Priscila Carvalho Holanda


©2013 by Fundação Demócrito Rocha

Fundação Demócrito Rocha

Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC

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Holanda, Priscila Carvalho H722c Compostagem e minhocultura. /Priscila Carvalho Holanda. - Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha; Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, 2013. 56 p.: il. color. - (Coleção Formação para o trabalho) Todos os direitos desta edição reservados a:

ISBN 978-85-7529-593-9

1.Compostagem 2. Criação - Minhoca. I. Título. CDU 628.473.3+ 636.99

Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6270 - 3255.6148 Fax: (85) 3255.6271 fundacaodemocritorocha.com.br fundacao@fdr.com.br


Sumário Apresentação......................................... 04

Lição 6

Lição 1

Introdução à minhocultura..................... 30

Fertilidade do solo................................ 05

Lição 7

Lição 2

Características das minhocas.............. 36

O Composto orgânico........................... 10

Lição 8

Lição 3

Instalação do minhocário...................... 41

Fatores que influenciam na compostagem.................................. 13

Lição 9

Lição 4

Manejo do minhocário.......................... 45

Lição 10

Preparo do composto........................... 23

Comercialização dos produtos............. 51

Lição 5

Referências........................................... 56

Principais problemas da compostagem causas e soluções................................ 27


Apresentação N

estes tempos de instabilidades econômica, climática, social e política, cuidar de um pedaço de terra representa um abrigo na tempestade, pois nele pode-se plantar o alimento, ter água limpa e respirar ar puro. Em poucos metros quadrados, começando com um pedacinho de terra qualquer no quintal, num terreno vizinho, num sítio ou uma fazenda, pode-se produzir alimento. Mas, para que a natureza ajude, é preciso compreendê-la, respeitando os seus ciclos vitais e preservando os recursos naturais. Nas últimas décadas, descobriu-se que o uso constante e continuado de adubos químicos está danificando o solo, deixando-o praticamente “morto”, por falta de atividade biológica adequada. Estas práticas estão produzindo culturas cada vez mais sensíveis a doenças e pragas, levando ao uso crescente de pesticidas, ao ponto de por em risco a saúde das pessoas e do meio ambiente. Para combater esta situação, ressurge a agricultura orgânica,

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

produzindo alimentos sem a utilização de agrotóxicos ou adubos químicos e apoiados em práticas conservacionistas. Os produtos orgânicos apresentam melhor sabor, aparência, qualidade e durabilidade, sem quaisquer riscos para a saúde ou para o meio ambiente. Dentre as práticas conservacionistas destacam-se: a compostagem, a minhocultura, a adubação verde, o uso de cobertura morta e de quebra-ventos, o plantio em curva de nível, o plantio diversificado e a utilização de defensivos naturais. Essas técnicas favorecem a recuperação de solos pobres, degradados e cansados e combatem a erosão. O presente manual mostra como a criação de minhocas, com os seus produtos diretos, tais como, húmus, matrizes e ração, vem se firmando como meio seguro de se conservar a natureza e o processo de compostagem também representa um avanço ecológico na agricultura sadia e com condições de produzir bem, a baixo custo e por muito tempo.


Lição 1

Fertilidade do solo

A

fertilidade do solo está diretamente relacionada com a quantidade de matéria orgânica, que é composta por restos de plantas e de animais em estado de decomposição. O solo pode ser considerado um organismo vivo, composto de minerais, água, ar, matéria orgânica e milhões de seres minúsculos, tais como bactérias, fungos formigas, besouros, minhocas, cupins, etc. O cientista japonês Iwao Watanabe, pesquisando um metro quadrado de solo virgem, encontrou 360 espécies com mais de dois centímetros, como minhocas e centopeias; dois milhões de organismos de tamanho médio, como parasitas e insetos; e um bilhão de micro-organismos, como fungos e bactérias, além da vegetação. Tais seres são capazes de realizar químicas admiráveis, desde a captação e a troca de nitrogênio do ar até a mobilização do fósforo e a transformação de moléculas complexas em substâncias mais simples que são liberadas no ambiente, podendo serem reutilizadas por outros seres vivos. A matéria orgânica, decomposta pelos micro-organismos, forma uma espécie de cola que liga as partículas do solo, deixando-o bem estruturado e resistente à erosão. Ao mesmo tempo, forma pequenos canais, os poros, por onde circulam água e ar. A terra com bom teor de matéria orgânica fica como uma esponja, retendo muito mais água e

nutrientes e facilitando a absorção dos mesmos pelas raízes. A degradação do solo, entretanto, está acontecendo de forma acelerada, pela intervenção do homem. Práticas agrícolas insustentáveis, como a monocultura, as queimadas, o excesso de produtos químicos, plantações em encostas, desmatamentos indiscriminados etc., estão aumentando os processos de desertificação em todo o mundo. No Brasil, são perdidos cerca de 600 milhões de toneladas de solos agrícolas todo ano. Não se pode continuar a explorar os recursos naturais de forma tão predatória; é preciso devolver à natureza parte da riqueza que ela oferece, praticando o desenvolvimento de modo a permitir a sustentação da população atual e da futura.

Agricultura Mundial A agricultura mundial devastou os campos e as florestas à procura de solo rico, deixando desertos no seu rastro. Faltou compreender as estratégias que a natureza usa para criar os solos, processo que na realidade, não existe qualquer mistério. O adubo perfeito para o solo está à disposição nas fezes dos animais, nas folhas das árvores, na grama cortada, no capim, nos galhos e troncos, nas cinzas, nas conchas e ossos, nas cascas de verduras e frutos etc... Todo este material constitui a matéria orgânica que serve de alimento para os micro-organismos decompositores que vivificam o solo.

De que consiste a matéria orgânica do solo?

Atualmente, para cada kg de grão produzido no mundo, são perdidos, aproximadamente, dois kg de solo; no Nordeste brasileiro, este valor aumenta para 14 kg.

O que provoca a desertificação do solo?

Corte de árvore

Vivificam: que fecundam ou fertilizam o solo.

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“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” (Lavoisier)

Solo e Clima Alguns solos contêm pouca matéria orgânica. No Nordeste brasileiro, a maioria dos solos tem baixos teores de matéria orgânica, porque as temperaturas mais elevadas aceleram a sua decomposição. Em áreas mais frias, onde a decomposição ocorre mais lentamente, os níveis naturais de matéria orgânica podem ser mais altos, como é o caso das serras e maciços do Nordeste.

Solo com pouca matéria orgânica

Explique a fixação do Nitrogênio.

Húmus ou humo é a matéria orgânica depositada no solo, resultante da decomposição de animais e plantas mortas, ou de seus subprodutos.

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cular (N2), liberando-o, após a sua morte, sob a forma de amônia (NH3), que pode ser utilizada por algumas plantas e, principalmente, pelas leguminosas. As bactérias nitrificantes transformam a amônia em nitratos, que são facilmente assimilados pelas plantas e podem ser transferidos para os animais, através da cadeia alimentar. Entretanto, altas concentrações de nitrato são prejudiciais às plantas. As bactéria do gênero Rhizobium, em estreita associação com plantas leguminosas (soja, feijão, leucena etc.), fabricam compostos nitrogenados nos nódulos localizados em suas raízes. Estes compostos podem ser utilizados, diretamente, por estas plantas ou podem ficar disponíveis no solo, após a decomposição das raízes, sendo reutilizados por outras plantas. Outros elementos essenciais para as plantas também estão contidos na matéria orgânica do solo, pois os resíduos de plantas e de animais contêm quantidades variáveis de elementos minerais, como o fósforo, o magnésio, o cálcio, o enxofre, etc. Na medida em que a matéria orgânica vai-se decompondo, os elementos tornam-se disponíveis para as plantas em crescimento.

Decompositores Fixação do Nitrogênio Apesar da constituição do ar que se respira possuir cerca de 70% de Nitrogênio, os seres vivos não conseguem absorvê-lo nessa forma. A maior parte dos átomos de nitrogênio, componentes fundamentais para a fabricação das proteínas que são importantíssimas na constituição das plantas e dos animais, é introduzida no mundo vivo por meio das bactérias. As bactérias fixadoras de nitrogênio incorporam o nitrogênio mole-

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Graças à ação dos decompositores (bactérias e fungos), cadáveres, fezes, urina, etc, desaparecem rapidamente do ambiente. À medida que se processa a decomposição, diminui a proporção Carbono/ Nitrogênio, uma vez que o carbono está sendo consumido e o nitrogênio sendo conservado. Esta situação persiste até a transformação da matéria orgânica em húmus se aproximar do seu término, ocasião em que as atividades da microflora cessam, gradualmente, devido à falta de car-


bono; a quantidade de micro-organismos decresce, diminui a formação de CO2, o nitrogênio deixa de ser escasso e há prosseguimento da nitrificação. O processo de formação do húmus é chamado humificação e pode ser natural, quando produzido espontâneamente por bactérias e fungos do solo (os organismos decompositores), ou artificial quando o homem induz a produção de húmus, adicionando produtos químicos e água a um solo pouco produtivo. Vários agentes externos como a umidade e a temperatura contribuem para a humificação.

A compostagem é uma forma de “fabricar” húmus para utilizar como composto, ou seja, fertilizante orgânico na agricultura. Na formação do húmus há liberação de diversos nutrientes, mas é de especial consideração a liberação de nitrogênio.

Importância da matéria orgânica As figuras mostram que a presença de minhocas tem grande importância para o processamento da matéria orgânica do solo.

Solubiliza nutrientes nos solos minerais

Apresenta alta capacidade de troca de cátions (CTC)

Melhora a nutrição das plantas em micronutrientes, pela formação de quelatos.

Reduz a toxidez de pesticidas e de outras substâncias.

Libera, lentamente, fósforo, nitrogênio, enxofre e água.

Melhora a estrutura do solo.

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Favorece o controle biológico pela atividade microbiana.

Melhora a capacidade tampão do solo.

Hormônios fitorreguladores exercem efeitos promotores de crescimento.

Aumenta a capacidade de retenção de água (Fonte: MARTINOVSKY, 1996)

Manutenção da matéria orgânica do solo A preservação, ou mesmo o aumento, do teor de matéria orgânica no solo é essencial para a manutenção do processo produtivo da agricultura. É comum, quando as áreas de florestas ou de cerrados são postas sob cultivo inadequado, observar-se, com o passar dos anos, a redução acentuada do teor de matéria orgânica. Com o manejo adequado do solo é possível, não apenas reduzir-se a intensidade desse processo, mas revertê-lo, levando, em alguns anos de cultivo, a um aumento no teor de matéria orgânica.

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A grande diferença entre o adubo químico e o adubo orgânico é que este último contém micro-organismos que estão, constantemente, transformando as condições do solo, favorecendo o desenvolvimento da vida. A preservação da matéria orgânica se faz através da combinação de várias técnicas de manejo, tais como: ■■ Adubação orgânica. ■■ Conservação do solo e da água. ■■ Adubação verde. ■■ Rotação e consorciação de culturas. ■■ Manejo adequado dos restos culturais. ■■ Cultivo mínimo e/ou plantio direto.


Práticas de conservação do solo É de importância fundamental para a conservação do solo, o uso de uma boa prática cultural. A inclinação do terreno é que vai indicar necessidade da realização de curvas de níveis, patamares ou terra-

ços, que irão segurar as águas das chuvas, de irrigação, manter as sementes, os corretivos, a matéria orgânica, adubos minerais no solo, evitando desde modo a erosão. A figura a seguir apresenta algumas práticas conservacionistas utilizadas.

Práticas de Conservação do Solo Declividade

0 a 3%

Práticas Conservacionistas Sugeridas Aração-gradagem sulcamento e plantio, em curvas de nível.

Em terrenos inclinados, a aração é feita em curvas de nível. A terra sempre é virada da parte mais alta para a mais baixa.

3 a 6%

Aração-gradagem sulcamento e plantio, em faixas de retenção conforme o tipo de solo.

6 a 12%

Terraços em nível ou gradiente, conforme tipo do solo.

12 a 18%

Terraços em nível ou gradiente, faixas de retenção para maior proteção ao solo.

acima de 18%

Aconselha-se destinar a área para fins de pastagem, refúgio da fauna e reflorestamento.

Resumo da lição • O solo é um ser vivo que é fertilizado pela constante renovação da matéria orgânica. • A importância dos microorganismos na ação de decompor a matéria orgânica no solo. • A degradação do solo provocada pela ação do homem. • A influência do clima no teor da matéria orgânica depositada no solo. • As bactérias fixadoras incorporam o nitrogênio nos ciclos biológicos através das plantas leguminosas. • Ação dos decompositores na transformação da matéria orgânica em húmus. • Técnicas usadas na conservação do solo.

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Lição 2 O Composto orgânico A compostagem é um processo de biodegração, aeróbico e controlado, para a produção de húmus a partir de resíduos orgânicos.

Porque devemos usar o processo aeróbico na compostagem?

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O

termo matéria orgânica referese ao composto de carbono (plantas e animais) suscetível à degradação. Na biodegradação este processo é realizado com a ajuda de micro-organismos. Quando a degradação acontece na presença do ar é chamada de aeróbica e quando o processo se realiza na ausência do ar, a degradação é denominada anaeróbica. No caso da compostagem, utiliza-se o processo aeróbico por ser bem mais eficiente, além de causar menos impactos e inconvenientes do que o processo anaeróbico. A decomposição da matéria orgânica é mais ou menos rápida, em função das características dos resíduos orgânicos. Assim, os materiais como serragem e palhas secas apresentam maior resistência à degradação do que, por exemplo, os legumes. Os micro-organismos decompositores responsáveis pela compostagem são provenientes do esterco animal, sendo constituídos, principalmente, de minúsculos fungos e bactérias. Quando em condições ótimas de umidade, oxigenação, nutrientes e temperatura multiplicam-se com espantosa velocidade. Os micro-organismos são seres unicelulares, sendo uma forma de vida que não pode ser visualizada sem auxílio de um microscópio. Estes seres diminutos podem ser encontrados no ar, no solo, e, inclusive, no homem.

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Os micro-organismos são fundamentais para a existência da vida tanto a nível orgânico, no interior dos organismos, como a nível ecológico, agindo intensamente no meio ambiente. Por exemplo, as bactérias lactobacilos que produzem a enzima beta galactosidade que facilita a digestão da lactose aumentando a digestibilidade da lactose do leite que ingerimos atuam no interior do organismo. As bactérias do gênero Rhizobium que são fixadoras de nitrogênio quando associadas às plantas da família das leguminosas, como o feijão e a soja, atuam no ambiente. Estas bactérias vivem em simbiose com as leguminosas, formam nódulos nas suas raízes, onde absorvem o nitrogênio do ar e com este sintetizam substâncias nitrogenadas que são utilizadas pela planta hospedeira. Esta também colabora com as bactérias fornecendo açúcares e outros compostos orgânicos a essas bactérias em seus nódulos. Os micro-organismos decompositores da matéria orgânica morta têm fundamental importância na decomposição dos restos orgânicos que sobraram de seres que morreram. Eles fazem também a decomposição das fezes dos animais, enfim, são de suma importância para a produção do húmus que fertiliza o solo.


A massa de micro-organismos vivos e mortos, presente em um composto, pode atingir 25% do seu peso total (Almeida, 1999). O composto orgânico é uma mistura humificada, formada por camadas alternadas de material orgânico de diversas espécies, como folhas, mato capinado, bagaço de cana, palhas de milho, pó de café, casca de banana, frutas, verduras etc e por camadas de esterco fresco, curtido ou líquido de qualquer animal. Chama-se composto porque é formado por uma mistura de materiais que, quanto mais variados melhor é a qualidade do composto.

A utilização do composto orgânico O composto orgânico vem sendo utilizado há milênios por agricultores de todo o mundo, tendo valor reconhecido na melhoria da produtividade dos solos e no aumento da disponibilidade de nutrientes para as plantas. Quando incorporado ao solo, o composto atua nas suas propriedades químicas, físicas e biológicas, trazendo inúmeros benefícios que resultam no aumento da produtividade vegetal. Dentre as principais vantagens no uso do composto orgânico podem-se citar:

■■ Atua

como fonte de macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (manganês, ferro, cloro, cobre, zinco, cobalto, boro e molibdênio). ■■ Corrige o pH, exercendo efeito tampão nos solos ácidos, pois aumenta de 10 até 15 vezes a capacidade de troca catiônica, pela sua elevada área de superfície de contato. ■■ Exerce importante função na sintetização dos nutrientes para formas mais assimiláveis pelas plantas. ■■ Exerce efeito controlador sobre muitas pragas de plantas. ■■ Favorece as condições físicas dos solos, como a aglutinação e a estabilidade dos agregados. ■■ Exerce função protetora e atua como fonte de nutrientes para os micro-organismos do solo. ■■ Aumenta a capacidade de retenção de água e a permeabilidade do solo. ■■ Reduz os efeitos da erosão e das suas consequências. Aumenta a trabalhabilidade do solo, através da descompactação do mesmo. O composto orgânico mineralizase lentamente, liberando, gradativa-

pH: é uma escala de medida que varias de 0,01 a 14 e serve para determinar se uma substância é ácida, básica ou neutra. pH de 0,01 a 6,99 é ácido; 7,00 é neutro; de 7,01 a 14,00 é básico.

Troca catiônica: é o fenômeno de troca de íons no solo em que os cátions retidos no solo podem ser substituídos por outros cátions vitais para o desenvolvimento dos seres vivos. Os principais cátions envolvidos nesta troca são sódio, cálcio e magnésio.

A duração dos efeitos benéficos do composto depende, principalmente, do clima da região. Quanto mais quente for a temperatura, mais rápidas serão a mineralização do composto e a necessidade de reaplicação do mesmo.

Explique o que é pH?

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Qual a função das minhocas na formação do húmus?

Aterro Sanitário

Fonte: Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, p.261

Resumo da lição

Lixo Domiciliar

• Na compostagem a biodegradação é realizada de forma aeróbica pelos micro-organismos. • Na compostagem os compostos orgânicos fornecem os macronutrientes e micronutrientes. • A importância das usinas de compostagem no processamento do lixo domiciliar. • O manejo orgânico do solo e seus efeitos cumulativos.

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mente, os nutrientes para as plantas. Recomenda-se aplicar o composto recém-preparado antes do preparo do solo para o plantio, incorporando-o até a uma camada de 15 cm de profundidade, onde o crescimento radicular é mais intenso. Desta forma, evita-se a perda de nutrientes por erosão e por volatilização aproveitando-se, ao máximo, os benéficos do composto. Outra forma de aplicação do composto, principalmente em pequenas quantidades, é a sua aplicação direta nas covas das culturas perenes ou nos sulcos de plantio. Deve-se adequar a quantidade de composto à área a ser corrigida. Se o agricultor possui baixo potencial de produção e a área a ser corrigida é grande, ele deve corrigir a área aos poucos, pois a aplicação de pequenas quantidades em grandes áreas dilui o efeito do composto, tornando-o ineficiente. De modo geral, quanto mais pobre for o solo, maior deverá ser a dose aplicada de composto. Assim, recomendam-se: ■ Cerca de 10 t/ha para solos “férteis” ou seja, 1 kg/m². ■ No mínimo 30 t/ha para solos pobres e degradados, correspondendo a 3 kg ou mais por metro quadrado.

Cerca de 65% do lixo domiciliar no Brasil é constituído de matéria orgânica. A compostagem desse material, além de eliminar vários problemas sanitários e ambientais relacionados ao lixo, resulta na produção de grandes quantidades de húmus. Atualmente, várias usinas de compostagem estão sendo criadas para o tratamento do lixo urbano, sendo o húmus produzido aplicado em diversas atividades, tais como: Horticultura; Fruticultura; Produção de grãos;

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Parques e jardins; Reflorestamento; Projetos paisagísticos; Horto e produção de mudas; Recuperação de solos degradados; Controle de erosão; Proteção de encostas e taludes; Cobertura de aterros; Campos de futebol etc. Infelizmente, os compostos resultantes das usinas de compostagem de lixo podem estar contaminados por produtos químicos. Apesar das elevadas temperaturas decorrentes do processo matarem todos os micro-organismos patogênicos e a peneiração do composto retirar o que resta de partículas sólidas, tais como vidros e metais, alguns poluentes químicos podem permanecer no húmus produzido. Considerando-se que, hoje, cada pessoa produz 1 kg de lixo por dia e que mais da metade deste lixo é orgânico, as usinas de reciclagem e compostagem de lixo contribuiriam, sobremaneira, para a melhoria da qualidade de vida da população e para a conservação do meio ambiente se fosse incentivada a coletas seletiva de lixo.

Manejo orgânico e efeitos cumulativos O agricultor, quando decide fazer manejo orgânico do solo, no qual a compostagem ocupa papel essencial, deve estar consciente de que os seus efeitos benéficos sobre as propriedades do solo são cumulativos e não imediatos. Deve, pois, esperar respostas crescentes, ao longo do tempo, em função dos cuidados e das atenções dispensadas para o aumento do potencial de produção do solo, levando em consideração os recursos naturais existentes na propriedade. Quase toda a matéria orgânica pode ser decomposta, servindo de adubo orgânico para as plantas ou como alimento para as minhocas, que a transformarão em húmus.


Lição 3

Fatores que influenciam na compostagem

P

ode-se definir a compostagem como a bioestabilização aeróbica de matéria orgânica de origens vegetal e animal, dirigida e controlada, até atingir um índice de pH entre 6,8 e 8,0 e um coeficiente de C/N (carbono/nitrogênio) de 8/1 a 12/1. Para a utilização correta da matéria-prima a ser compostada é importante ter informações a respeito do seu coeficiente de C/N. O coeficiente ideal para uma decomposição rápida e eficiente fica entre 60/1 a 80/1, como média dos componentes a serem estabilizados na compostagem. Alguns materiais, como a casca de arroz, a serragem de madeira ou

a folha da carnaúba, são mais resistentes à compostagem devido ao elevado coeficiente de C/N. O conhecimento da relação carbono/nitrogênio dos materiais a serem utilizados auxilia muito no sucesso da compostagem. De modo geral, os materiais secos, duros e fibrosos levam muito mais tempo para se decomporem do que os materiais verdes e suculentos, como o mato verde, a rama de feijão, os restos de frutas e verduras, etc. Portanto, o segredo da boa compostagem é saber misturar materiais secos com materiais verdes e suculentos.

Por tratar-se de um processo biológico, a compostagem é influenciada por todos os fatores que afetam os micro-organismos destacando-se: umidade, oxigenação, temperatura, concentração de nutrientes, tamanho das partículas e pH.

De que depende o suceso da compostagem?

Monte de compostagem

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Relação Carbono/Nitrogênio de alguns materiais utilizados na compostagem Material Esterco de galinha

10 : 1

Torta de mamona

10 : 1

Folhas de mandioca

12 : 1

Esterco de carneiro

15 : 1

Esterco de gado

18 : 1

Esterco de porco

18 : 1

Folhas da bananeira

19 : 1

Feijão de porco

19 : 1

Feijão guandu

19 : 1

Borra de café

25 : 1

Crotalária juncea

26 : 1

Polpa de sisal

27 : 1

Palhada do feijoeiro

32 : 1

Ramas da mandioca

40 : 1

Bagaço da cana

44 : 1

Cascas do café

53 : 1

Capim santo

62 : 1

Cascas do arroz

63 : 1

Cascas da castanha de caju

74 : 1

Capim mimoso

79 : 1

Palhas de milho

112 : 1

Serragem de madeira

865 : 1

Dependendo do tipo de material utilizado e do tratamento dado ao composto, o material a ser compostado pode estar nas seguintes fases: Composto imaturo: prejudicial às plantas. Composto semicurado: não causa danos às plantas, porém, não apre-

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Relação/ Carbono/ Nitrogênio

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senta as propriedades ideais de um fertilizante orgânico. Composto curado humificado: apresenta propriedades físicas, químicas, bioquímicas e biológicas ideais de um fertilizante orgânico.


Relação C/N nas diferentes fases da decomposição

Formato do composto A compostagem é feita, geralmente, distribuindo-se o material a ser compostado em montes de forma cônica, denominados “pilhas” ou em montes de forma prismática, denominados “leiras”. Como os processos físicos, químicos e biológicos são semelhantes, tanto para a pilha quanto para a leira, utilizar-se-á neste manual, apenas, o termo leira. Quando se faz o processo de compostagem corretamente temos que misturar a matéria orgânica com um aditivo que acelere o processo de decomposição. Esse aditivo pode ser palha de arroz, de trigo, misturado também com terra entre outros. A partir daí são montadas pilhas com esse material com uma determinada altura, largura e comprimento. Deve ser coberto para que atinja a temperatura ideal, e o pH preciso para que ocorra uma fermentação. Durante esse processo em horas determinadas e sincronizadas essas pilhas, que são chamadas de leiras, devem ser reviradas para que o processo atinja todo o material sempre com a mesma tempera-

Leira é quando se faz um monte onde se mistura esterco com palha de arroz, grama, capim cortado, folhas e restos de alimentos. Leiras são esses empilhamentos necessários utilizados no processo de compostagem.

tura, com o mesmo pH; tudo isso para ter uma matéria final com qualidade. Após o processo temos um material composto popularmente chamado de adubo.

Compostagem Orgânico Sólido

Fatores que influenciam na compostagem Umidade Os micro-organismos, como qualquer ser vivo, necessitam de água para viver, sendo o teor de umidade entre 40 e 60% apropriado na compostagem.

Qual a umidade ideal para decomposição aeróbica?

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Anaerobiose é quando o processo de decomposição da matéria orgânica ocorre na ausência de oxigênio.

É importante fazer as leiras embaixo de árvores que promovem sombreamento e protegem o composto do excesso de vento e sol.

Quando a umidade está abaixo de 40%, a atividade microbiana se reduz até à estagnação do processo de decomposição. Por outro lado, umidades acima de 60% fazem com que o excesso de água ocupe os espaços vazios (porosidade) do material, provocando situações de anaerobiose, onde a decomposição, além de ser mais lenta, exala odores desagradáveis, podendo atrair moscas. A umidade ideal para a decomposição aeróbica é de 55%, valor no qual o consumo de oxigênio atinge os 100%. Em termos práticos, é quando, ao pegar o material do composto, sente-se que o mesmo está úmido, sem escorrer água quando comprimido. Consumo de oxigênio Quando a umidade atinge 65-70%, o consumo de oxigênio cai para 25-30% podendo causar anaerobiose ou apodrecimento. Portanto, é melhor manter a umidade menor, porque se a umidade for inferior a 55%, apesar da diminuição do consumo de oxigênio com redução na velocidade de decomposição, não haverá o perigo do apodrecimento; apenas, gastará alguns dias a mais para a maturação.

Percentual do consumo de oxigênio versus percentual de umidade

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Se, após alguns dias da formação do composto, for constatada a presença de bolor branco, significa que a umidade está insuficiente, sendo necessário molhar a leira. Contudo, se aparecerem moscas e mau cheiro, significam que o composto está muito molhado, faltando ar na leira, sendo preciso revirá-la. Portanto, é importante molhar a leira, tanto na montagem quanto durante os reviramentos. Se o tempo estiver muito seco, deve-se molhar a leira, também entre os reviramentos, para manter a umidade. Reposição da umidade No caso da ocorrência de chuvas e ventos fortes, as leiras podem ser protegidas com folhas de bananeira, de coqueiro ou de carnaúba e se o terreno for inclinado, a leira deve ser montada no sentido da inclinação, para evitar represamento de água. Quando a compostagem encontra-se nos estágios finais de decomposição dos resíduos, a sua capacidade de retenção de água é maior, necessitando de mais cuidados pois, nesta fase, é desejável que o composto tenha o mais baixo teor de umidade possível (Peixoto, 1988). Os métodos mais comuns de extrair o excesso de umidade são: efetuar reviramentos intensivos ou, em dias quentes e ensolarados, espalhar o material em terreno sombreado.

Leira protegida por uma árvore


Aeração O suprimento adequado de ar em todas as partes da leira é essencial para o fornecimento de oxigênio aos organismos e a retirada do gás carbônico produzido. A ausência de ar proporciona o desenvolvimento de micro-organismos anaeróbios que realizam a decomposição bem mais lenta. Portanto, deve-se ter cuidado para não encharcar a leira, impedindo a passagem do ar. O tamanho da leira, a natureza do material, o tamanho das partículas, o teor de umidade e o número de reviramentos influenciam, diretamente, na aeração do composto. A leira não deve ser nem pequena nem grande demais, pois, no primeiro caso, há grande perda de umidade e calor e, no segundo, corre-se o risco da compactação. A leira deve ter cerca de 1,50 m de altura x 2,00 m de largura e comprimento variável, conforme a quantidade de material disponível. O tamanho das partículas do material que irá formar a leira deve variar de 1 a 5 cm. Partículas menores prejudicam a aeração, enquanto que os tamanhos maiores diminuem a área de contato dos micro-organismos, prejudicando a retenção de calor e tornando mais lenta a decomposição. A porosidade de aeração ideal fica entre 40 e 60%, sendo a ótima igual a 50%. Para se obter a porosidade ideal, misturam-se materiais com volumes diferentes. Por exemplo: pedaços maiores de resíduos vegetais de baixo coeficiente C/N (pedaços de caule de bananeira, laranjas etc.) com palhas soltas, não compactadas.

pedaços grandes de cana etc., visando assegurar a porosidade de aeração por volta da ideal (50%). Quando o composto destina-se ao alimento de minhocas, convém sacrificar um pouco a porosidade de aeração inicial, não usando pedaços grandes, especialmente os de C/N elevado (talos de capim, cana etc.), os quais deverão ser triturados antecipadamente. Caso isto não seja possível, deve-se procurar homogeneizar bem o composto, utilizando a enxada para diminuir o tamanho das partículas, durante o reviramento da leira. Para favorecer a aeração nas leiras de compostos, pode-se adotar as seguintes medidas: ■ Montar as leiras sobre pedaços de madeiras (troncos, galhos, estrados, bambus etc.). ■ Usar tubos respiratórios, inseridos nas leiras ou canais feitos com bambus que, após serem retirados, deixam orifícios em vários locais da leira. ■ Fazer aeração forçada no interior da leira, utilizando sistemas mais simples de ventilação ou equipamentos especiais, em usinas de compostagem de grande porte. ■ Fazer reviramentos periódicos, pois o reviramento, além de proporcionar arejamento eficiente, homogeneíza o material, permitindo melhor ação dos micro-organismos.

Leira sem passagem de ar

Qual a importância da aeração?

Que medidas favorecem a aeração nas leiras?

Manejo do composto Quando o composto vai ser utilizado diretamente como adubo, empregam-se materiais grosseiros; pedaços grandes de matéria orgânica, inclusive talos grossos de capins;

Formas de reviramento da massa de compostagem

Fundação Demócrito Rocha 17


Termofílica: refere-se a organismos como bactérias que precisam de uma temperatura acima de 45 ºC que é maior que a temperatura ambiente para crescer e viver.

Mesofílica: é quando as bactérias crescem melhor em temperaturas moderada ou seja entre 25 a 45 ºC.

ºC: é o simbolo

de grau Celsius.

Temperatura A temperatura constitui-se em um dos fatores mais indicativos da eficiência do processo de compostagem, sendo especialmente importante monitorar esse fator durante a fase inicial da compostagem. Desde que o ambiente “ecológico” da leira apresente condições satisfatórias de umidade, aeração e nutrientes, a elevação da temperatura pode ser percebida em um período de 12 a 24 horas após a montagem da leira. Isto acontece devido à decomposição da matéria orgânica pelas bactérias aeróbicas, geradoras de calor, que causam o “esquentamento” do composto. O processo de compostagem envolve, necessariamente: ■■ A primeira fase, termofílica, caracteriza-se pela elevação da temperatura e o desprendimento de gases, devendo-se, nesta fase,

exercer o controle da temperatura, para valores na faixa de 45 a 65 ºC. Neste processo são destruídos, pelo calor, todos os organismos patogênicos e as sementes presentes no composto. ■■ A segunda fase, mesofílica, que perdura por 30 a 60 dias, caracteriza-se pela redução da temperatura para valores inferiores a 45 ºC, acontecendo a maturação e a cura do composto. O processo de compostagem envolve necessariamente duas fases distintas, sendo a primeira de degradação ativa e a segunda de maturação ou cura onde ocorre a humificação da matéria orgânica previamente estabilizada na primeira fase. A temperatura do processo deve permanecer menor que 45 ºC. O composto orgânico curado apresenta cheiro de terra e cor marrom.

Cura: que foi exposto ao ar seco ou foi seco ao sol ou pelo calor.

Porque devemos evitar temperaturas acima de 65 ºC no proceso de compostagem?

(Fonte: Pereira Neto, 1996)

Para controlar a temperatura da compostagem deve-se revirar a leira e regá-la, porém, sem encharcar o material.

18

A manutenção de temperaturas termofílicas (45-65 ºC) controladas, na fase de degradação ativa, é um dos requisitos básico da compostagem. Somente por meio deste controle, pode-se conseguir o aumento da eficiência do processo, ou seja,

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

o aumento da velocidade de degradação e a eliminação dos microorganismos patogênicos. Entretanto, as temperaturas acima de 65 ºC devem ser evitadas por causarem a eliminação dos micro-organismos mineralizadores,


responsáveis pela degradação dos resíduos orgânicos. O valor médio ideal da temperatura nos processos de compostagem é de 55 ºC. Para o controle da temperatura, usa-se um termômetro ou, caso não seja possível, coloca-se uma vara de metal (pedaço de vergalhão ou

outro) na pilha, deixando-a, pelo menos, 12 horas. Após este período, retira-se a vara e coloca-se a mão na parte que estava enterrada na pilha; se não aguentar segurar por muito tempo, a temperatura está acima da ideal.

Influência da temperatura na compostagem

Controle da temperatura

Uma pilha com cerca de 1,50 a 1,80 m de altura, 2,00 a 3,00 m de largura e comprimento variável, proporciona condições ideais para o aumento do calor. Leiras muito pequenas não esquentam, porque não conseguem guardar calor e o

aquecimento é uma das fases mais importantes da compostagem. A temperatura atingida pela fermentação sofre influência direta do tamanho das partículas, do teor de umidade, da aeração, do tipo e quantidade de resíduos pre-

Que fatores influênciam a temperatura atingida pela fermentação?

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sentes, da relação C/N, da presença de micro-organismos e da temperatura ambiente.

Concentração de nutrientes A intensidade da atividade microbiológica dos micro-organismos decompositores nos processos de compostagem está estritamente relacionada à diversificação e concentração dos nutrientes. Quanto mais diversificados forem os resíduos orgânicos que compõem a massa da compos-

Tamanho das partículas Qual os dois nutrientes mais importantes para os micro-organismos no processo de compostagem?

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O tamanho médio das partículas de matéria orgânica que compõem a massa de compostagem também exerce grande influência no tempo de compostagem. Antes da montagem da leira, os resíduos devem ser submetidos à uma correção do tamanho das partículas, o que favorece vários outros fatores, tais como: ■ Homogeneização da massa de compostagem. ■ Melhoria da porosidade. ■ Menor compactação. ■ Maior capacidade de aeração.

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

tagem, mais diversificados serão os nutrientes e, consequentemente, a população microbiológica. Esses fatores, portanto, resultarão em maior eficiência do processo. Dentre os nutrientes usados pelos micro-organismos, dois são de extrema importância: o carbono e o nitrogênio, cujas concentrações afetam o desenvolvimento do processo. Por isso, estes dois elementos são considerados fatores limitantes no processo de compostagem.

Na prática, o tamanho das partículas da massa de compostagem deve situar-se entre 1 a 5 cm. Caso não se disponha de um triturador, uma trituração parcial pode ser feita com a enxada, durante os reviramentos.

pH O pH dos resíduos orgânicos no início da compostagem, geralmente, é levemente ácido, ou seja, com valores entre 5 e 6. A produção de ácidos orgânicos, entretanto, pode provocar um rápido decréscimo nesses valores. Em poucos dias, contudo, ocorre a recuperação rápida, atingindo


valor em torno de sete, que permanece até o final do processo. Como a faixa ótima do pH para a maioria dos micro-organismos está entre

6,5 e 8,0, a compostagem, se bem conduzida, não apresenta problemas para o controle de pH.

Qual a função do calcário no controle do pH? Variação do pH na leira durante a compostagem

A capacidade de controlar o pH possibilita a utilização do composto orgânico na correção dos solos ácidos. O pH da leira pode ser um problema, quando se faz a compostagem utilizando somente resíduos que mantenham o pH abaixo de 6,5. Neste caso, há necessidade de se adicionar calcário, de modo a elevar o pH e, assim, promover melhor desenvolvimento dos micro-organismos.

Micro-organismos Dentre as espécies de micro-organismos que participam dos processos de compostagem, destacamse as bactérias, os fungos e os actinomicetos. Deste grupo, prevalecem os micro-organismos aeróbicos, os facultativos, os termófilos e os mesófilos. As bactérias são responsáveis pela quebra inicial da matéria orgânica, o que gera a liberação de calor na compostagem.

Do ataque dos micro-organismos à matéria orgânica resulta a liberação de elementos químicos importantes, como o nitrogênio, o fósforo, o cálcio e o magnésio, os quais deixam a forma imobilizada (grandes cadeias), para passarem à forma de nutrientes minerais (mineralizada), disponíveis às plantas e aos demais micro-organismos. Cuidados no uso de estercos e outros materiais ■■ Os diversos estercos bovino, caprino, suíno, equino, de galinha e de frango são comumente chamados de “adubo”, independentemente do estado biológico, químico, “verde”, “velho”, “quente” ou “frio”. A prática no uso destes materiais não estabilizados pode causar prejuízos sérios no campo e no jardim. 
Outros materiais, tais como “bagana”, palha de carnaúba e casca de arroz são também, erroneamente, chamados de “adubo”. Na

Os actinomicetos são bactérias Gram-positivo que têm organização filamentosa, ocorrem amplamente no solo, onde desempenham relevante papel biológico e degradam substâncias normalmente não decompostas pelas populações de fungos e outras bactérias, como celulose, hemiceluloses, fenóis, quitina, queratina, ligninas e húmus.

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O húmus pode ser definido como o produto mais estável nas transformações das substâncias orgânicas.

verdade, estes materiais apresentam elevadíssimo coeficiente de C/N (800 à 1.000/l), podendo causar carência de nitrogênio para as plantas. ■■O esterco de curral contém sementes de ervas daninhas, fungos, pragas e doenças, que só serão eliminados no percurso de uma boa compostagem, controlada e dirigida. ■■ A eliminação dos organismos patogênicos é função da temperatura e do tempo de exposição. ■■ As altas temperaturas, por curto período ou as baixas temperaturas, por longo período são igualmente eficientes. ■■ As temperaturas entre 55 e 60 ºC, por um ou dois dias, são letais para todos os vírus patogênicos, bactérias, protozoários (inclusive cistos) e ovos de helmintos.

Destruição de patogênicos A destruição dos agentes patogênicos ocorre: ■■ Pela temperatura. ■■ Pelos antibióticos formados na compostagem. ■■ Por serem digeridos pelos microorganismos que decompõem a matéria orgânica. ■■ Pelo revolvimento.

Importância da água A utilização de água não tratada é essencial na compostagem. Ela deve ser natural, sem tratamento, podendo, até certo ponto, ser salobra ou alcalina, sem maiores consequências. Água tratada contém cloro e outros agentes químicos que eliminam todos os micro-organismos, inclusive os que realizam a decomposição da matéria orgânica.

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Conclusão Nenhum material isolado confere características físicas, químicas e biológicas tão equilibradas quanto a matéria orgânica estabilizada, decomposta e humificada, cumprindo, de maneira integral, os seus muitos benefícios às plantas e ao condicionamento dos solos.

Resumo da lição • O material a ser compostado passa pelas seguintes fases: composto imaturo, semicurado, curado humificado • O formato do material na compostagem, pode ser em montes de forma cônica, ou prismática, denominados “leiras”. • Os principais fatores que influenciam a compostagem são: umidade e sua reposição, consumo de oxigênio, aeração, manejo do composto, temperatura, tamanho das partículas, variação do pH e microrgnismos. • A importância dos micro-organismos e do coeficiente de C/N (Carbono/Nitrogênio) na degradação da matéria orgânica.


Lição 4

Preparo do composto

P

rovavelmente, há tantas receitas do modo de preparar o composto quantos são os agricultores que o preparam: cada um tem o seu jeito; mesmo porque, a disponibilidade e a variedade de materiais disponíveis também variam de uma para outra preparação. O princípio é aproveitar todos os restos orgânicos que sobram no sítio, na fazenda ou em casa. Se possível, deve haver equilíbrio entre o uso de esterco animal e o de resíduos orgânicos. Isto garante uma boa relação entre o carbono e o nitrogênio produzidos. É recomendado na preparação da compostagem que 30% do material seja de esterco animal e 70% de resíduos orgânicos. Esterco animal ■■ Esterco de aves de granjas ■■ Cama de frango (exceto casca de arroz) ■■ Esterco bovino ■■ Esterco de cavalo ■■ Esterco de ovinos/caprinos. Resíduos orgânicos ■■ Restos de culturas e jardins ■■ Restos agroindustriais ■■ Lixo orgânico ■■ Resíduos da indústria pesqueira.

Importância dos estercos Os estercos animais são os fornecedores de nitrogênio e de microorganismos que vão decompor os restos vegetais de difícil fermentação espontânea.

Além dos restos vegetais e animais, é bom enriquecer o composto com fósforo e calcário, a fim de melhorar as condições para os micro-organismos atuarem na decomposição da matéria orgânica. Para uma pilha de 2 x 5 m, usase 100 kg de fosfato de rocha e 150 kg de calcário dolomítico. Outros materiais, como cinza, borra de café, tiborna e manipueira, também servem para enriquecer o composto.

Qual o percentual de esterco animal ideal para preparação do composto?

Três pessoas, com prática, fazem uma leira, de dois por cinco metros, em quatro horas.

Manejo manual da leira Para um manejo manual as medidas mais convenientes da pilha são: ■■ Largura: 2 a 3 metros. ■■ Altura: 1,60 a 1,80 metros. ■■ Comprimento: 5 a 10 metros.

Preparando a leira de composto ■■ Para

iniciar a pilha, demarcase, primeiro, as suas medidas de comprimento e altura, utilizando quatro estacas e colocase uma camada com, aproximadamente, 30 a 40 cm de material seco e bastante solto, para estimular aeração. ■■ Em seguida, coloca-se uma camada de esterco (de preferência não curtido) de, aproximadamente, 5 a 10 cm e molha-se tudo por igual (50% de umidade), antes de colocar a camada seguinte. Mas, com cuidado para não encharcar a leira e nem usar água tratada. Querendo, pode-se usar um ciscador para apressar e homogeneizar o umedecimento.

Fundação Demócrito Rocha 23


Após terminar a pilha, cobri-la com folhas secas de bananeiras, coqueiro ou carnaúba, tanto para manter a umidade quanto para proteger das chuvas fortes.

O que é inoculante?

■■ Depois

de molhada a segunda camada, coloca-se a terceira camada de resíduos vegetais, se possível, verde ou úmido, restos de cultura, restos de frutas, lixo orgânico fresco, restos de alimentos que foram industrializados como cascas de banana, capim ou cana verde triturados, caule de bananeira (pedaços de até 15 cm), etc. Essa camada pode variar de 10 a 30 cm e basta uma simples regada para manter a sua umidade. ■■ Novamente cobre-se a matéria orgânica com outros 10 a 15 cm de esterco animal e umedecese, por igual. ■■ Repete-se esta sequência, intercalando resíduos vegetais secos e verdes, até atingir um mínimo de 1,60 m de altura. ■■ Na compostagem deve-se evitar o uso de esterco de curral proveniente de propriedades rurais que utilizem herbicidas nas pastagem.

Ingredientes: ■■ 100 litros de água. ■■ 5 litros de cinza. ■■ 60 litros de esterco fresco. ■■ 5 litros de terra de curral ou urina de animal. Mexe-se a mistura 2 vezes por dia e, após 5 a 7 dias, o inoculante estará pronto para ser acrescentado às camadas do composto.

Como acelerar a decomposição Para acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica na compostagem é necessário revirar o material do composto algumas vezes. Como regra geral, faz-se a primeira revirada após 15 dias; a segunda, com 25 dias; a terceira, com 35; e a quarta, com 45 dias. Retira-se a cobertura de palha e revira-se o composto (observando que a parte de cima deve ir para baixo e a parte de baixo para cima), adicionando-se água para manter a umidade ideal de 50%. Terminada a revirada, recoloca-se a cobertura. A cada revirada, estimula-se a propagação das bactérias e, consequentemente, a elevação da taxa de consumo do carbono, o que causa o aumento da temperatura, sendo que, a cada subsequente revirada, a atividade das bactérias diminui até a estabilização.

Estabilização do composto Organização da Leira

Preparação do composto Pode-se tornar o processo da compostagem mais eficiente preparando-se e utilizando-se um inoculante, que é um meio enriquecido com bactérias, para acrescentar ao esterco. O inoculante pode ser preparado em um tambor ou anel de cimento, da seguinte maneira:

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Quando ocorre a estabilização do composto, nota-se uma substancial queda na temperatura (até quase à temperatura ambiente) e o surgimento de uma coloração escura. Neste momento, o composto está pronto para ser utilizado nas plantas ou como alimento para minhocas, que o transformarão em húmus. ■■ O húmus de minhocas, como adubo orgânico, é tido como até 10 vezes mais eficiente do que qualquer composto.


■■ Deve-se

observar que “molhar” o composto quer dizer umedecer por igual. ■■ O uso de água não tratada é essencial, pois o cloro pode matar os micro-organismos decompositores. ■■ Durante a revirada pode-se observar o aparecimento de “cinzas” que, na verdade, são acúmulos de colônias de bactérias na imensa competição pelo consumo do carbono. ■■ Essas camadas de bactérias, quando muito densas podem significar que a temperatura da pilha ultrapassou a temperatura ideal de 60 º C e será necessário monitorar e corrigir a temperatura com o uso da água, ou reviramento do composto, evitandose a perda de nitrogênio; ■■ Desde a primeira camada, as paredes laterais da pilha devem ser mantidas na posição vertical. Para conseguir isto, batemse as pontas dos dentes do ciscador nas paredes, acertandoas, principalmente, nos quatro cantos da pilha. ■■ Tecnicamente, o composto estará humificado quando a relação C/N for cerca de 10:1; ou seja, depois de permanecer por algum tempo no estádio termófilo e um longo período no estádio mesófilo, apresenta-se com a cor escura, leve, solto, com aparência de borra de café e com o cheiro característico de terra preta. ■■ Outra maneira de confirmar se o composto está pronto é colocando-se nele uma pequena quantidade de minhocas; se após 30 minutos as minhocas não fugirem, significa que o composto está curado.

Minicomposteiras Se a quantidade de matéria orgânica que se dispõe não é suficiente para formar uma leira ou uma pilha de compostagem, não se deve desistir. Utilizam-se os princípios ensinados para fazer uma mini compostagem, dentro de um engradado sem fundo ou mesmo em um canto sombreado do quintal.

Explique como confirmar se o composto está pronto.

Diferentes tipos de composteiras A figura mostra alguns tipos de composteiras mais utilizadas.

Minicomposteiras (Fonte: Peixoto, 1988)

Escolha do local Na escolha do local para fazer o composto deve-se ter em mente alguns itens, quais sejam: ■■ Culturas a serem beneficiadas. ■■ Quantidade e tipo de resíduos orgânicos disponíveis.

Fundação Demócrito Rocha 25


Quais as vantagens de fazer a compostagem junto aos sistemas de criação dos animais?

Geralmente, a primeira ideia que ocorre é a de se fazer a compostagem junto à criação de animais ou ao local onde será aplicado o composto.

Porque é aconselhável fazer as leiras sempre no mesmo local?

Coleção de Água Lagoa

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■■ Quantidade

do composto a ser produzida. ■■ Coleta e armazenamento de resíduos. ■■ Época do ano (seca ou chuvosa). ■■ Transporte dos resíduos e do composto. ■■ Local a ser aplicado. ■■ Disponibilidade de água. ■■ Declividade e drenagem do terreno. Fazer a compostagem junto aos sistemas de criação dos animais semi-confinados ou confinados tem vantagens e desvantagens. As vantagens são as seguintes: ■■ Facilidade de acesso à água. ■■ Redução no transporte do esterco e/ou da cama de animais. ■■ M elhor acompanhamento do processo. ■■ Melhor aproveitamento da mão de obra. As desvantagens mais significativas são: ■■ Maior necessidade de transporte do composto para distribuição no campo. ■■ Aumento da distância para a coleta dos resíduos vegetais (restos de debulha das culturas, roçadas, capinas de cordão vegetal etc.). Note-se que, em ambos os casos, o item transporte está presente. Entretanto, o item de maior importância é a disponibilidade de água, pois, sem ela, nenhum organismo sobrevive e a sua falta, na formação do composto, interrompe todo o processo de decomposição dos resíduos. Portanto, o preparo do composto próximo a qualquer fonte de água (olho d’água, rio, lago, depósito d’água etc.) é mais apropriado. Devemos montar as leiras em locais que possuam as seguintes características:

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■■ Protegidos

contra o vento e a insolação. ■■ Não sujeitos a enxurradas. ■■Com boa drenagem, para não permitirem que a água emposse. ■■Com certa declividade, devendo as leiras serem construídas com o comprimento no sentido da queda do terreno, fazendo-se, também, canaletas em sua volta. ■■As ervas daninhas que estiverem próximas às leiras de compostagem devem ser controladas, pois podem infestar o composto com as suas sementes, principalmente se favorecidas pelos ventos. É aconselhável fazer as leiras sempre no mesmo local, pois o solo abaixo delas terá populações cada vez maiores de micro-organismos, minhocas, pequenos insetos etc., facilitando, portanto, a entrada dos mesmos nas leiras recém-construídas.

Resumo da lição • No preparo do composto devemos usar todos os restos orgânicos existentes no sítio, fazenda ou casa. • Os principais materiais utilizados na fabricação da leira são: esterco animal, resíduos orgânicos e água. • Para acelerar a decomposição da matéria orgânica é necessário revirar o material do composto e sua estabilização ocorre com a queda da temperatura na leira.


Lição 5

Principais problemas da compostagem causas e soluções

S

egundo Pereira Neto (1996), os principais problemas da compostagem e as suas causas e soluções podem ser resumidos nas seguintes tabelas.

Compostagem deriva da palavra composto.

Durante a fase de degradação ativa Problemas

A leira demora mais do que 5 dias para esquentar, ou seja, para atingir temperaturas entre 50 a 65 ºC.

Queda de temperatura da leira após curto período de aquecimento.

Possíveis Causas

Medidas a Serem Tomadas

Material muito seco.

Adicionar água à massa de compostagem e manter a umidade a 55%.

Material com excesso de umidade.

Adicionar à massa de compostagem um composto maturado seco, terra vegetal seca ou material palhoso seco.

Material rico em carbono.

Adicionar material nitrogenado, tais como, grama, lodo de esgoto, esterco de animal, frações orgânicas do lixo urbano, etc.

Material rico em nitrogênio.

Adicionar material carbonáceo, como folhas secas, capim seco e outros (obs.: nunca adicionar serragem).

Material muito compactado

Adicionar material que provoque porosidade na massa de compostagem, tais como, cavaco de madeira, palha de vegetais etc.

Baixa atividade microbiológica

Adicionar à massa de compostagem uma certa quantidade de matéria orgânica de lixo ou de esterco, promovendo mistura criteriosa desses materiais.

Leira preparada sob temperatura excessivamente alta (> 78 ºC).

Revirar a massa de compostagem, corrigir a umidade e modificar a configuração geométrica da leira. Seguir o ciclo correto de reviramento.

Material muito molhado ou muito compactado (sem porosidade). Ciclo de reviramento muito longo, baixo teor de oxigênio na massa de compostagem.

Seguir os procedimentos anteriores.

Seguir o ciclo correto de reviramento. continua

Fundação Demócrito Rocha 27


continuação

Problemas

Possíveis Causas

Medidas a Serem Tomadas

Registro de temperatura excessiva da massa de compostagem.

Material bem balanceado, rico em carbono e facilmente degradável.

Queda gradual de temperatura na fase ativa após 30-60 dias.

Exaustão do carbono disponível, fim do substrato.

Verificar se a umidade, a oxigenação, a porosidade e a configuração geométrica são satisfatórias. Em caso afirmativo, levar a leira para o pátio de maturação.

Tamanhos de partículas muito grandes

Promover a quebra do material durante o reviramento com auxílio de um enxadão amolado. Cobrir a leira com uma camada de 15 cm de composto maturado (50% de umidade). Caso não seja possível, efetuar a prévia trituração do material.

Volatilização da amônia (NH3) devido à alta temperatura (> 65 ºC) e ao pH alcalino (> 7,5)

Revirar a massa de compostagem e modificar a configuração geométrica para obter menores temperaturas.

Anaerobiose devido ao excesso de umidade.

Adicionar composto maturado seco à massa de compostagem e cobrir a leira com uma camada de 15 cm de composto maturado.

Emissão de maus odores da leira de compostagem.

Anaerobiose devido ao longo ciclo de reviramento.

Modificar a configuração geométrica da leira de compostagem, aumentando a área superficial da mesma.

Seguir o ciclo correto de reviramento.

Produção e liberação de chorume da leira de compostagem

Excesso de umidade da massa de compostagem.

Seguir o processo anterior e lavar a área afetada do pátio.

Aumento de umidade das pilhas no período chuvoso

Anaerobiose devido ao excesso de umidade e produção de chorume

Manter as leiras operando com umidade mínima (45%) e cobri-las com composto maturado seco.

Atração de moscas e mosquitos nas pilhas de compostagem Excesso de umidade da massa de compostagem

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Material fresco em putrefação (leira molhada) Anaerobiose da massa de compostagem por excesso de umidade ou por falta de oxigenação

Cobrir a leira com uma camada de 15 cm de composto maturado durante os primeiros 10 dias

Seguir as medidas citadas anteriormente.

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura


Durante a fase de maturação Problemas

A leira registra alta temperatura (50-60 ºC) no pátio de maturação

Emissão de odor, atração de vetores (fatos que jamais deverão ocorrer na fase de maturação) Material continua com alta contagem de patógenos (>10² col/g) ou alta relação C/N (>18 : 1) Geração espontânea de vegetação nas pilhas de maturação

Possiveis causas

Medidas a serem tomadas

Presença de pouca quantidade de material ativo: a leira permanece quente por, apenas, 5 a 8 dias

Deixar a pilha em repouso para que a maturação se processe normalmente e a temperatura caia para a faixa mesofílica (< 45 °C).

Presença de grande quantidade de material ativo: o material não está completamente degradado como deveria

Continuar o processo de compostagem (fase ativa) até que a temperatura permaneça na fase mesofílica.

1ª fase da compostagem malfeita, processo mal operado

Compostar o material com as recomendações sugeridas.

Controle precário na primeira fase do processo

Continuar o processo de degradação caso sejam registrados picos de temperaturas termofílicas.

Temperatura e concentração dos nutrientes inadequadas

Prolongar o período de maturação caso a temperatura esteja na fase mesofílica (< 45 ºC) até que os parâmetros se normalizem: C/N < 15 e patógenos < 10² col/g.

Colonização de sementes por pássaros, vento, etc...

Retirar toda e qualquer vegetação das pilhas.

Colonização emergente do próprio material (controle precário na 2ª fase do processo) Ex: ervas daninhas

Não utilizar o material em atividades agrícolas nobres (hortas, jardins etc.) e retorná-lo, parcialmente, para as leiras novas.

Fonte: Pereira Neto, J.T., 1996.

As tabelas mostrada anteriormente descrevem tudo que é preciso ser feito na compostagem durante a fase de degradação ativa e de maturação, com relação as dificuldades que apresentam, suas causa e medidas necessárias que devem ser adotadas para sanarmos todos os problemas. Um dos problemas mais frequentes na compostagem é o cheiro a ovos podre que ocorre quando a leira está muito úmida. A solução é acrescentar materiais secos como solo, folhas secas ou relva seca. Os fatores que pode deixar o monte de compostagem muito úmida são falta de drenagem, excessiva adição de água ou a falta de circulação de ar. Caso o monte de compostagem comece a atrair animais como ratos,

gatos e cães é porque foram colocados materiais impróprios como carne, peixes, ossos ou molho, que não devem ser adicionados aos monte de compostagem e para evitar moscas adicione uma pequena cobertura de solo ou restos de materiais secos. A compostagem pode ser uma das soluções da humanidade para um dos seus maiores problema que é a excessiva produção de lixo. Ela pode ser usada na reclicagem da fração orgânica do lixo. O processo acelera a decomposição que se dá em melhores condições, ocorrendo a estabilização da matéria orgânica, que na natureza se dá em prazo indeterminado, visto que depende de vários fatores.

Durante a fase de maturação quais os problemas que podem acontecer a leira?

Resumo da lição • Descrição dos problemas que ocorrem na fase de degradação ativa e de maturação da compostagem. • Medidas que devem ser adotadas para resolução dos problemas que ocorrem na fase de degradação ativa e de maturação da compostagem. • Importância do uso da compostagem na reciclagem da fração orgânica do lixo.

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Lição 6

Introdução à minhocultura

A

Banco de Dados O POVO. Alcides Freire, 22.04.1996

Minhoca na terra

minhoca é uma maravilhosa combinação da química com o perfurador: devora folhas secas e outros materiais em decomposição, transformando-os em húmus e perfura o solo em todas as direções, formando firmes galerias, por onde a terra respira e a água da chuva escorre e se deposita, sem causar erosão. Além disso, as minhocas removem as camadas mais profundas do solo para a superfície, reciclando os nutrientes. Os grandes benefícios, proporcionados pelo uso das minhocas e do seu esterco, o húmus, na agricultura, são bem conhecidos desde antes da época dos faraós no antigo Egito. Os egípcios atribuíam poderes divinos aos bilhões de

minhocas encontradas nas terras férteis do Nilo. Eles as protegiam com leis que previam até a pena de morte para quem ousasse contrabandear uma única minhoca. Apesar de o homem conhecer, há tanto tempo, a grande capacidade que as minhocas têm de regenerar e adubar o solo, só recentemente, com a luta pela preservação da natureza, a minhocultura vem sendo valorizada.

Minhocultura Minhocultura é a criação racional de minhocas em cativeiro, sendo feita em canteiros, anéis de cimento, galpões ou, até mesmo, no chão, com o objetivo de produzir matrizes e húmus.

“Talvez não exista qualquer outro animal tão importante na história da vida na Terra quanto as minhocas”. Charles Darwin

Galpão para criação de minhoca

Qual é a importância da minhoca para a agricultura?

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A criação de minhocas com interesses econômicos teve início, nos Estados Unidos, na década de 1940. No Brasil, as primeiras minhocas cultivadas foram as conhecidas como “vermelhas da Califórnia”, trazidas para São Paulo em 1983.

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Para que se compreenda o papel das minhocas, é indispensável entender as circunstâncias que afetam a produtividade do solo: a) O suprimento em umidade. b) A aeração. c) A disponibilidade de nutrientes adequados.


Dentre todos os agentes que contribuem para a aeração e o afofamento do solo, as minhocas são, sem dúvida, os mais eficientes. Os canais construídos por elas possuem um tipo de cola que evita a compactação e a erosão do solo, o que não acontece quando se utilizam os tratores. O solo que foi arado não permanece solto e leve por muito tempo pois, com as primeiras chuvas, a terra volta a unir-se, retornando às condições iniciais. Os principais tipos de solos agricultáveis constituem-se de partículas finas. A menos que sejam modificadas por agentes secundários, estas partículas tendem a se aglomerar, tornando-se impermeáveis, fazendo as águas da chuva escorrerem pela superfície, impedindo-as de se infiltrarem no solo. As plantas cultivadas nos solos em tais condições, ainda que localizados em regiões de precipitações normais, sofrerão todos os efeitos da seca. A absorção da água por solos de textura fina está na dependência da existência de uma rede de canalização diminuta; as minhocas são altamente eficientes na elaboração destes canais subterrâneos.

Absorção de água Independente da textura, no solo sem minhocas a taxa de absorção é de 5 mm por minuto; enquanto no mesmo tipo de solo, trabalhado pelas minhocas durante um mês, essa taxa eleva-se para 22 mm/min. Há íntima associação entre a taxa de infiltração de água e a quantidade de minhocas existente no solo. Segundo Knäpper (1996), o solo funciona como um ser vivo, possuindo metabolismo próprio. Os seres vivos presentes no solo fazem parte dele, havendo modificação e influência mútua; isto é, o solo determina a vida e a vida determina o solo, existindo uma ação cíclica.

As galerias construídas pelos animais, tais como, larvas de insetos, insetos, aranhas, minhocas e outros, são utilizadas para a penetração das raízes, infiltração da água e circulação do ar. Contudo, são as minhocas as mais efetivas melhoristas do solo, pois revolvem as camadas mais profundas do solo, onde a enxada e o arado não conseguem alcançar, sendo, por isso, chamadas de “arados da natureza”.

Textura do solo A textura da terra tem influência sobre a população de minhocas: os solos arenosos contêm menor quantidade de minhocas do que os solos argilosos. Esse fato é vantajoso, pois os solos arenosos, normalmente, têm boa estrutura natural. Já os solos argilosos tendem a se compactar, tornando-se extremamente duros e impossibilitando o desenvolvimento das plantas, requerendo que programas de melhoramento do solo sejam introduzidos. Isso inclui agentes, tais como a minhoca, que ajuda a manter a terra fofa e arejada. Num solo muito compactado a planta não consegue respirar. Consciente de que as minhocas fertilizam o solo, Almeida (1994) refere-se a esses seres como verdadeiras usinas biológicas, pois agregam até 2 bilhões de bactérias a cada grama de húmus produzido. Não existe produto químico ou equipamento capaz de fazer o que as minhocas fazem pela terra; por isso, as pessoas que trabalham com plantas respeitam-nas, pois conhecem a sua importância. A natureza necessita de 2 a 5 anos para formar 1 cm³ de húmus; as minhocas executam a mesma tarefa em, apenas, 2 a 3 dias.

Textura: aspecto microscópico do solo, no qual se inclui a forma dos cristais e o modo como se acham unidos.

Explique a importância das minhocas na absorção de água pelo solo.

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Macronutrientes: são nutrientes necessários em maior volume às plantas e fornecem energia e componentes fundamentais para o seu crescimento e manutenção.

Micronutrientes: são requeridos em pequenas quantidades pelas plantas, mas são também fundamentais para o seu crescimento e manutenção.

Quais são os macronutrientes das plantas?

O húmus de minhoca é 2 vezes mais rico em cálcio; 2,5 vezes mais rico em magnésio; 5 vezes mais rico em nitrogênio; 7 vezes mais rico em fósforo; 11 vezes mais rico em potássio, do que qualquer material que lhe deu origem. Ninguém pode passar toda a vida comendo apenas um tipo de alimento; um pouco de ferro na alimentação humana é sempre necessário, pois, se ele falta, a pessoa fica anêmica; assim como a carência de iodo provoca o bócio e, a de cálcio, resulta no raquitismo. Com as plantas ocorre processo semelhante: se qualquer um dos 6 (seis) macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) ou dos 8 (oito) micronutrientes (manganês, ferro, cloro, cobre, zinco, cobalto, boro e molibdênio) estiver ausente no solo, a safra será pobre.

Observações importantes ■ ■O

A existência de minhocas é uma evidência inequívoca da fertilidade do solo.

desenvolvimento tecnológico trouxe inúmeros benefícios para o homem. Entretanto, no ramo da agricultura, são muitos os malefícios oriundos do mau uso do solo: as máquinas pesadas compactam os solos e o uso desenfreado de produtos químicos destrói os micro-organismos, causando a morte biológica do solo.

Minhocas no solo

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

■■Devido

a esta situação, a busca de métodos alternativos, como a compostagem e a minhocultura na recuperação e na manutenção dos solos agricultáveis, tomou grande impulso nos centros produtores. ■■Por causa do melhor sabor conferido aos produtos fertilizados com húmus de minhoca, atualmente, a maioria dos produtores de vinho na Europa utiliza esse fertilizante nas suas culturas. ■■Na Itália, após muitos anos de uso abusivo de fertilizantes químicos que causaram sérias quedas no mercado do vinho italiano, os vinicultores aderiram à utilização do húmus, existindo, hoje, mais de 150.000 produtores localizados numa área um pouco maior do que a metade do Ceará, que utilizam essa prática. ■■Nos mercados mais ricos e informados do mundo, o segmento que mais vem crescendo é o dos produtos orgânicos, que chegam a valer de 30 a 40% a mais do que os produtos não orgânicos. ■■A adubação orgânica possibilita maior absorção dos nutrientes pelas plantas, imunizando-as de forma natural, o que resulta em maior produtividade e qualidade superior, garantindo retorno mais elevado ao produtor.


O exame das condições da terra é a maneira mais fácil de se saber se o local dispõe ou não de minhocas em quantidade suficiente. Seleciona-se um trecho de terra, com bastante vegetação de cobertura, separa-se um quadrado de solo medindo uns 30 cm de largura por uns 20 cm de profundidade, contando-se as minhocas, tanto as adultas quanto as jovens, contidas nesse espaço ou amostra. Um número igual ou superior a dez exemplares, indica que a população de minhocas é significativamente grande para modificar as propriedades estruturais do solo. Em contrapartida, se a amostra contiver apenas uma ou duas minhocas, isto nada representa em termos de alteração das condições físicas da terra. Todos sabem que as minhocas são ótimos alimentos para peixes, aves e rãs; pois também podem ser um ótimo alimento para o ser humano. Quem se perder na mata e tiver coragem de comer umas cinco minhocas por dia, não morrerá de fome. Para o nosso paladar, comer minhocas é desagradável; contudo, elas são apreciadas pelos povos da África e da Ásia. No Japão, estão pesquisando a produção de “pavet” com carne de minhoca. Na Itália, já se come pizza mista de queijo e carne moída de minhoca “a la Bologna”. Até os astronautas americanos comem ração à base de minhoca quando vão para o espaço. A indústria farmacêutica está pesquisando substâncias que possam ser retiradas das minhocas para a fabricação de remédios, pois, desde a antiguidade, utiliza-se a minhoca como matéria-prima para a fabricação de remédios contra a asma e a bronquite. Rodrigues (1997) relata que, em algumas regiões do Brasil, as pessoas tomam chá de minhoca para

tratar reumatismo e dores musculares. Tem-se conhecimento, também, do uso de uma pasta, fabricada à base de minhocas, para apressar a cicatrização das feridas.

Como identificar se o solo dispõe de minhocas em quantidade suficiente?

Conclusão 1. As minhocas aumentam a produção e a produtividade do solo, além de participarem da conservação do mesmo. 2. A importância da minhoca para o solo reside na sua ação física, no seu efeito químico e na sua ação biológica.

Em um hectare de terra cultivada há, em média, 1,2 milhões de minhocas que produzem de 12 a 100 toneladas de excremento por ano (Almeida, 1994).

Ações das Minhocas no Solo Física

Química

Biológica

• Mistura de horizontes. • Criação de um sistema de drenagem. • Formação de um horizonte orgânico. • Aumento na capacidade de infiltração. • Retenção da água. • Aumento da porosidade. • Aumento da difusão do ar.

• Aumento da concentração de N, Ca, K, P e Mg • Neutralização do pH.

• Indução da atividade biológica. • Aumento da bioprodutividade. • Incremento da fertilidade natural.

O húmus O húmus, produto diferenciado de coloração escura e de fina granulação, é leve, solto, asséptico e com cheiro de terra fresca. As substâncias minerais nele contidas são liberadas, lentamente, fornecendo às plantas fonte constante de alimentação. Dentre as inúmeras propriedades, aumenta a capacidade imunológica da planta, a sua resistência à seca e, ainda, antecipa e prolonga as épocas de florada e de frutificação.

Utilização do húmus O húmus deve ser utilizado, de forma parcelada, no fundo e ao longo dos sulcos de semeadura, para culturas anuais, e ao longo ou ao redor das plantas, em culturas perenes, no plantio ou em cobertura, conforme tabela a seguir.

Ca = Cálcio N = Nitrogênio K = Potássio P = Fósforo Mg = Magnésio

Quais são as ações químicas da minhoca sobre o solo?

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Cultura

No Plantio

Em Cobertura

No Sulco

Citros

300 a 500 g por cova

1 a 1,5 kg por pé, aumentando 30% a cada ano

Fazer sulcos em torno da saia da planta, colocando o húmus misturado com a terra.

Fruteira de clima temperado

400 a 600 g por cova

1 a 2 kg por pé, aumentando 30% a cada ano

Uva

300 a 500 g por cova

1 a 1, 5 kg por pé

Fazer sulcos em torno da saia e misturar com a terra.

Café, chá, cacau

300 a 500 g por cova

1 a 2,5 kg por pé, aumentando 30% todos os anos.

Fazer sulcos em torno da saia e misturar com a terra.

Reflorestamento, pinus eucalipto

200/300 g por cova

500/600 g por pé, aumentando 30% a cada ano.

Hortaliças de folhas, legumes

100 g por cova ou 600 g por m² de canteiro

Cobrir durante todo o cultivo

500 g por cova

Cobrir durante todo o cultivo

300 a 400 g por cova

Cobrir durante todo o cultivo

300 g por cova

Cobrir durante todo o cultivo

Viveiros

600 g por m²

1 a 2,5 kg por pé, aumentando 30% a cada ano.

Abacaxi

400 a 500 g por cova

Cobrir durante todo o cultivo

150 g por vaso

4 vezes ao ano aumentando 30% a cada ano.

200 g por cova ou 500 g por m² de canteiro.

Cobrir durante todo o cultivo

Morangos Milho verde

Abobora, melão, melancia, pepino

Plantas de interior, samambaias, avencas, etc. Roseiras e arbustos floríferos

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200 g/m de sulco

2 vezes durante o cultivo, 200 g/m


Cultura Capineiras e pastagens

No Plantio

Em Cobertura

Durante a preparação do solo, misturar com a terra 500 g/m²

2 aplicações do húmus diluído a 10% por ano

No Sulco

Cana de açúcar

700 a 1.000 kg/ha

400 g/m de sulco

Soja e feijão

500 a 1.000 kg/ha

200 g/m de sulco

Gramados de jardins e campos esportivos

Na preparação, 500 g/ m². Ao semear ou plantar, diluído a 10%

No fim do inverno, descompactar o gramado com ferramenta apropriada, cobrindo, em seguida, com 300 g/m²

Observação: O objetivo desta tabela é economizar o produto, pois o seu uso em excesso não prejudica a planta. (Tabela adaptada de Almeida (1994)

Num clima semiárido, onde a oxidação (queima) da matéria orgânica é intensa, deve-se ter sempre em mente que, se a quantidade e a qualidade da matéria orgânica são importantes, a frequência de aplicação é muito mais. A minhocultura emerge como uma atividade mantenedora da fertilidade do solo, sendo de simples manejo e baixo investimento. Não requer mão de obra especializada e promove renda e salários, além de aproveitar materiais antes considerados marginais, como: restolhos, restos de frutas e todo o material de origem orgânica, disponível na propriedade.

Resumo da lição • Benefícios proporcionados a agricultura pelo uso da minhoca. • Minhocultura é a criação racional de minhocas em cativeiro. • Ação das minhocas na absorção de água pelo solo. • Influência da textura do solo sobre a população de minhocas. • Malefícios causados ao solo pelo uso excessivo de novas tecnologias. • A importância das minhocas na produção de húmus e como utilizá-las na agricultura.

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Lição 7

Características das minhocas

A

minhoca, classificada entre os invertebrados terrestres, possui corpo alongado, cilíndrico, ligeiramente afilado em ambas as extremidades, com simetria bilateral e segmentado, externa e internamente, por anéis.

Não se distingue a cabeça: numa extremidade, encontra-se a boca e, na outra, o ânus. Na minhoca adulta, diferencia-se a extremidade anterior da posterior pelo clitelo, anel mais longo com função reprodutiva, localizado na extremidade anterior.

Corpo da minhoca adulta

Qual a função do clitelo?

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As minhocas, juntamente com as sanguessugas e os poliquetas (minhocas do mar), fazem parte do filo annelida, animais que possuem o corpo dividido em anéis e são, essencialmente, semelhantes. A maioria das minhocas mede alguns centímetros. Contudo, existem algumas que têm menos de 1 mm de comprimento e outras, como as minhocas gigantes, Megascolides australis, que chegam a medir 3,30 m e os minhocuçus (nome indígena da minhoca grande) de Minas Gerais, que medem cerca de 1,20 m de comprimento e 2,5 cm de diâmetro.

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Dentre as mais de 3 mil espécies de minhocas existentes na natureza, poucas são utilizadas para a criação. No Ceará, as espécies mais indicadas para o cultivo, devido às altas taxas de reprodução, alta produtividade e boa adaptação às temperaturas elevadas são: Eisenia foetida, conhecida como “vermelha da Califórnia” e Eudrillus eugeniae, conhecida como “gigante africana”. Visualmente, a única diferença entre as duas é a conformação da parte terminal.


Diferencial da parte terminal entre as espécies foetida e eugeniase

Dentre as principais diferenças entre as duas espécies podem-se citar: Comprimento: a “vermelha da Califórnia” adulta chega 11 a 12 cm e a “gigante africana”, de 17 a 18 cm. Temperatura: a “vermelha” está a pleno metabolismo entre 15 º e 22 ºC, enquanto a “gigante africana” prefere a faixa dos 20 º a 27 ºC.

Órgãos dos sentidos As minhocas não possuem olhos nem ouvidos; no entanto, fogem da luz e do barulho, devido às muitas células sensitivas localizadas na epiderme. Nas escolas e laboratórios, as minhocas são muito utilizadas para estudos de biologia e experimentação. Apesar da aparência simples, a minhoca esconde órgãos e sistemas bastante complexos.

Sistema nervoso O sistema nervoso é composto por um par de gânglios cerebrais superior e frontal, ligado a um cordão nervoso, com pares de nervos laterais em cada segmento do corpo. As células nervosas epiteliais ficam reunidas em grupos, encon-

trando-se, principalmente, nas partes mais expostas, recebendo estímulos do ambiente, tais como: a busca de parceiros para o acasalamento, a detecção dos alimentos e as modificações ambientais.

Respiração As minhocas não possuem pulmões. Sendo sua respiração feita pela epiderme. Elas respiram retirando o oxigênio do ar e do interior do solo através da pele, com o auxílio de uma substância lubrificante. O sangue, que circula nos capilares próximos à cutícula úmida da parede do corpo, recebe o CO2 e libera o O2. Quando a pele da minhoca fica seca, o oxigênio não consegue passar e a minhoca morre asfixiada.

Substância lubrificante: possui propriedades medicinais. Sabese, também, que o seu odor fétido afasta os predadores e que auxilia na locomoção da minhoca e na sua penetração no solo.

Como as minhocas respiram?

Locomoção A epiderme da minhoca é formada por dupla camada muscular, possuindo músculos longitudinais, na parte mais interna, e circulares, na parte mais externa. A contração alternada desses músculos, juntamente com a das cerdas (pelos) presentes nos anéis, são responsáveis pela movimentação das minhocas que podem ir para frente e para trás. ■■O sistema muscular da minhoca lhe confere uma força capaz de deslocar obstáculos 60 vezes superior ao seu próprio peso.

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■ ■A

dupla camada muscular da minhoca é responsável pela grande concentração de proteína presente neste animal (70 a 85%). Para melhor entender a estrutura física da minhoca, deve-se imaginála como dois tubos, um dentro do outro, fechados nas extremidades. A epiderme envolveria o tubo por fora e, internamente, tem-se o aparelho digestivo com outra camada muscular ligando a boca ao ânus. Entre os dois tubos, existe uma cavidade chamada celoma, preen-

chida pelo líquido celomático, no qual estão distribuídos os demais órgãos. Não é fácil tirar uma minhoca do seu túnel; ela se parte, mas não se solta, graças às suas cerdas que se prendem fortemente ao solo. Em cada segmento do seu corpo, exceto no primeiro e no último, há quatro pares de cerdas diminutas que podem se mover, em qualquer direção e estenderem-se ou retraírem-se.

Minhoca em seu túnel

Qual a quantidade de dejeto produzido por uma minhoca?

Hermafroditas: um ser ou animal que possui os órgãos sexuais dos dois sexos, deriva do nome do deus grego Hermafrodito, filho de Hermes e de Afrodite, respectivamente representantes dos gêneros masculino e feminino.

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Digestão O sistema digestivo da minhoca é adaptado para materiais orgânicos em decomposição. Na boca, localiza-se uma pequena tromba, sensível a estímulos. A digestão começa pela secreção salivar, produzida pela faringe. No esôfago, encontram-se as glândulas calcíferas que neutralizam a acidez dos alimentos, produzindo húmus com pH neutro ou ligeiramente alcalino. O papo, funciona como câmara de armazenamento, enquanto o alimento aguarda para ser triturado

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pela moela, com a ajuda dos grãos de areia ali presentes. Na sequência, o intestino que se estende pelos restantes ¾ (três quarto) do corpo da minhoca. A taxa de produção de excrementos depende, em larga escala, do tamanho da minhoca; mas, de maneira geral, as minhocas produzem, diariamente, uma quantidade de dejetos igual ao seu próprio peso.

Reprodução As minhocas possuem os dois sexos; portanto, são hermafroditas. Contudo, necessitam de um parcei-


ro para se fecundar. Por volta dos 90 dias, diferenciam-se os indivíduos sexualmente maduros, por apresentarem, no terço anterior do corpo, um anel mais ou menos saliente, denominado clitelo, com importante função reprodutora. A minhoca possui, na parte ventral anterior do corpo, um par de ovários, dois pares de testículos e dois pares de receptáculos seminais (espermatecas) que servem para armazenar o sêmen, recebido de outra minhoca no acasalamento, para posterior fecundação dos próprios óvulos. Em cada animal, forma-se um par de sulcos seminais que são canais, através dos quais as massas de espermatozóides passam para os receptáculos seminais da outra minhoca. O acasalamento, em geral, é feito à noite, principalmente em dias quentes e úmidos, na superfície ou pouco abaixo dela, por um período aproximado de quatro horas. As minhocas se juntam, ventre a ventre em direções opostas, fixando-se com a ajuda das cerdas e, após o ato sexual, se separam. A fecundação é recíproca e cruzada. Cerca de 48 horas após o acasalamento, o clitelo secreta o casulo que contém alimento e protege os ovos e embriões. O processo se dá da seguinte maneira: através de movimentos corporais, o tubo que vai formar o casulo desliza pelo corpo da minhoca, passa pelos poros da espermateca, onde recebe os espermatozóides, iniciandose a fecundação e sai pela cabeça. Ao sair, o tubo se fecha, transformando-se em casulo que tem a forma de um minúsculo limão. As minhocas reproduzem-se com espantosa facilidade. A Eisenia foetida, “vermelha da Califórnia”, deposita um casulo, a cada 7 a 10 dias, de onde, após 21 dias de incu-

bação, eclodem de 2 a 20 ovos. No caso da Eudrillus Eugeniae, “Gigante Africana”, os ovos fecundados são amadurecidos no corpo da minhoca, sendo liberados, no nascimento, 4 a 20 minhoquinhas com 1mm de comprimento. Estima-se que duas minhocas, ao final de um ano e em condições normais, produzam cerca de 3.000 descendentes. Esse número, contudo, depende de alguns fatores, tais como: espécie, condições de cultivo, estação do ano, temperatura e regime alimentar. As minhocas podem viver até dez anos ou mais e se reproduzem a vida toda.

Sistema circulatório A minhoca possui sistema circulatório fechado, formado por dois vasos longitudinais localizados no dorso e ventralmente, em relação ao intestino, além dos vasos transversais. Alguns desses vasos transversais ganham calibre na região anterior do corpo, formando 10 pequenos corações laterais.

Acasalamento das minhocas Fonte: Rodrigues (1997)

Qual o tempo de acasalamento das minhocas?

Corpo da minhoca - Sistema circulatório (Corte transversal)

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Quantos corações tem a minhoca?

Nefrídeos: órgão encontrado em animais invertebrados, é uma espécie de bomba (rins), que filtram o sangue e as impurezas do líquido celomático, formando a urina, rica em amônia e ureia que contem nitrogênio, que é lançada para fora do corpo pelos poros excretores ventrais, mantendo a estabilidade química do organismo.

Em que tipos de solos as minhocas são abundantes?

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Sistema renal excretor Cada anel do sistema renal excretor da minhoca possui um par de rins rudimentares, os nefrídeos, que filtram o sangue e as impurezas do líquido celomático, formando a urina, rica em ureia e nitrogênio, que é lançada para o exterior, através dos orifícios uriníferos, enriquecendo o solo com estas substâncias.

Regeneração As minhocas podem reconstruir o próprio corpo quando perdem os primeiros anéis ou os últimos. A regeneração será tanto mais rápida quanto menor for o segmento a ser regenerado, principalmente se o corte acontecer a partir do trigésimo anel. As pesquisas realizadas sobre a fantástica capacidade regenerativa do minhocuçu revelam que este anelídeo necessita de, apenas, um a três horas para cicatrizar um corte.

Distribuição geográfica e comportamento As minhocas vivem em quase todas as partes do mundo, inclusive em ilhas vulcânicas e nas regiões subárticas. A grande dispersão das minhocas é atribuída ao costume dos homens de transportarem mudas de plantas de um lugar para outro, contendo minhocas ou casulos. No Brasil, as minhocas nativas mais comuns são: a minhoca brava ou minhoca do brejo, Pheretyma hawayana; a minhoca mansa ou minhoca da noite, Lumbricus terrestris e os minhocuçus, Rhinodrilus alatus e Glossoscolex spp. As minhocas são raras em regiões cujos solos são pobres, ácidos, secos ou arenosos e abundantes em terras frescas, úmidas e ricas em matéria orgânica. As proteínas e os aminoácidos representam, apenas, uma pequena fração da matéria orgânica

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total existente no solo; enquanto, para as minhocas, representam cerca de 72% do seu peso líquido. Obviamente, para a sobrevivência de qualquer população de minhocas, deve existir boa quantidade disponível de nitrogênio a ser ingerido, digerido e sintetizado em proteína. Nas matas, onde ocorre queda de folhas, a população de minhocas depende da quantidade de nitrogênio contida nas folhas. Portanto, sempre que o agricultor incorpora matéria orgânica ao solo, fornece condições de alimentar mais minhocas, elevando a sua população.

Resumo da lição • As características biológicas das minhocas são as seguintes: invertebrados, corpo alongado e cilíndrico, simetria bilateral e segmentado. • As minhocas possuem: sistema nervoso, de respiração, de locomoção, de reprodução, digestório, circulatório e excretor. • As minhocas podem reconstituir o próprio corpo quando perdem os primeiro anéis ou os últimos. • As minhocas tem distribuição geográfica mundial.


Lição 8

Instalação do minhocário

P

ara iniciar a criação de minhoca em cativeiro, quatro fatores básicos devem ser seguidos:

■■Utilizar

instalações adequadas. ■■Começar com boas matrizes. ■■Fornecer alimentação correta. ■■Realizar manejo adequado do criatório. Com relação à escolha das instalações é importante atentar para os seguintes fatores: ■■Objetivo da criação. ■■Espaço disponível. ■■Quantidade a ser produzida. ■■Distância do mercado consumidor. ■■Disponibilidade de matéria-prima (esterco/composto). ■■Disponibilidade de água não tratada. ■■Mão de obra. ■■Investimento financeiro. Após a avaliação inicial, o dimensionamento deverá ser feito em função dos fatores mais limitantes, tais como o espaço disponível, matéria orgânica, capital para investir etc.

em quantidade, as condições de clima são amenas e quer transformar o solo em um imenso minhocário. Nesta técnica, monta-se uma pilha (A) do composto entre as fileiras de uma cultura e, quando o mesmo estiver estabilizado, introduzem-se as minhocas em quantidade suficiente (de um a cinco litros de minhocas/m² de composto) para transformá-lo em húmus em, aproximadamente, 45 dias. Após este período, faz-se uma nova pilha (B) de composto já estabilizado ao lado da primeira, fazendo com que as minhocas migrem de (A) para (B). Transcorridos 45 dias, coloca-se uma nova pilha (C) e, ao final de 135 dias, coletam-se as minhocas em sacos-iscas, para serem comercializadas ou utilizadas em outros locais. Criação em anéis de cimento: nesse tipo de criação, que pode ser de pequeno a médio porte, o piso no fundo do anel deverá ser feito com cimento fraco (poroso), colocandose drenos para evitar o encharcamento, se ocorrerem chuvas.

Qual a finalidade dos drenos na criação de minhocas em anéis de cimento?

Criação em pequena escala A criação de minhocas para consumo próprio é bastante simples e, principalmente econômica, diante dos benefícios que oferece. Contudo, deve-se observar que os cuidados com o minhocário são semelhantes, tanto para o pequeno quanto para o grande produtor. Criação em pilhas: ideal para quem dispõe de matéria orgânica

Criação em anéis de cimento

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A declividade de 2% no piso do canteiro é para facilitar a drenagem.

Outros materiais disponíveis na propriedade, tais como caixas d’água, engradados, caixotes, bacias, cercados de tela, madeira ou bambu e, até mesmo, pneus velhos podem servir para iniciar uma criação artesanal.

Qual a finalidade de ruas entre os canteiros de criação de minhocas?

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Criação em latões: nesta forma de criatório, utilizam-se latões de 200 litros cortados no sentido longitudinal, observando-se as características do local onde será instalado o minhocário. Criação em caixas: esta opção é aconselhável para quem tem pouco espaço ou quer criar minhocas como hobby ou, ainda, para experimentos. As caixas podem ser fabricadas com diferentes materiais, tais como, madeira, plástico, cimento, fibra e amianto. Em caixas de madeira, deve-se evitar as resinosas e protegê-las, internamente, com parafina. As dimensões, que podem variar, devem ter o limite máximo de 1 m x 50 cm x 30 cm e, quando as caixas são dispostas verticalmente, deixa-se espaços medindo 5 cm entre as mesmas, para permitir a aeração. ■■Para escoamento da água faz-se furos na base das caixas ou latões. ■■Antes de colocar o alimento para as minhocas, que deverá preencher 2/3 (dois terços) do espaço disponível, aconselhase forrar o fundo do recipiente com uma camada de capim picado ou com folhas secas, para facilitar a drenagem. ■■Para evitar o ataque de predadores, colocam-se os pés do suporte do criatório dentro de latas contendo óleo queimado.

Criação em escala comercial A criação em escala comercial pode ser feita em duas formas: em canteiros ou em galpões. Criação em canteiros: a maioria dos criatórios comerciais utiliza canteiros de alvenaria, cujas medidas internas são 1,00 m de largura por 30 a 40 cm de altura e comprimento variável. Quando o espaço é pequeno ou por medida de economia,

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pode-se construir os canteiros com paredes geminadas, dois a dois. As paredes também podem ser feitas com outros materiais, desde o simples bambu até tijolos, blocos de cimento e placas de concreto. No piso interno, que pode ser de terra batida ou revestido com cimento, faz-se uma pequena declividade de pelo menos 2% e colocam-se drenos ao longo do comprimento dos canteiros. Alguns criadores utilizam a brita, no fundo do canteiro, para facilitar a drenagam do excesso de água. A fim de evitar as oscilações bruscas de temperatura e de umidade, constrói-se os canteiros em valas escavadas e, para fugir do sol ou da chuva, coloca-se uma cobertura de telha, plástico, lona ou palha. A utilização da cobertura de palha ou de plástico sobre cada canteiro, individualmente, barateia os custos e possibilita a penetração de um pouco de raios solares, tornando o sistema de confinamento mais natural. Se o minhocário estiver localizado em uma área sombreada, a cobertura somente é realmente necessária no período do inverno. Nos criatórios grandes, deve-se deixar espaços entre os canteiros (ruas), com dimensões apropriadas para o tráfego de carrinhos, carroças ou tratores para carga e descarga. Criação em galpões: neste sistema de criação, que é feito em galpões (tipo aviário) com piso cimentado, paredes com 80 cm, tela de aviário e teto, as minhocas ficam em canteiros livres, maximizando a eficiência na oxigenação do plantel, facilitando o manejo, reduzindo a mão de obra e protegendoas dos extremos ambientais como sol e chuva e da maioria dos seus predadores.


Criação de minhocas em galpão

Os galpões podem variar de tamanho, de acordo com as necessidades e o potencial de cada propriedade, podendo ser construídos com material disponível na propriedade, como a carnaúba, por exemplo. ■ Para minimizar a insolação, aconselha-se a construção dos galpões no sentido leste-oeste. ■

Sistema integrado BIONUTRIR Uma das formas de criação de minhocas utilizada pelo Sistema Integrado Bionutrir é a criação em galpões a qual será descrita a seguir (Martinovsky, 1996).

No sistema Bionutrir a alimentação das minhocas é feita em camadas sucessivas que podem alcançar até 1,40 m de altura. A apuração do húmus é por indução migratória, com formação automática dos novos canteiros.

Canteiros do sistema BIONUTRIR Construção do canteiro ■ Para começar um canteiro, coloca-se uma camada do composto de, aproximadamente, 10 cm de altura, com largura e comprimento desejados e deixando-se os espaços livres para o manejo e a migração e, em seguida, colocamse as matrizes (4 a 5 kg por m2). Canteiro para criação em escala comercial

Canteiros do sistema BIONUTRIR

Fundação Demócrito Rocha 43


■■Por

Como identificamos que o canteiro está superpovoado?

exemplo, para um plantel de matrizes suficiente para dois canteiros, coloca-se a camada de 10 cm do composto com 1,5 m de largura x 3 m de comprimento (A + B), deixando-se espaços livres de 1,0 m de cada lado (1 + 2), controlando-se a alimentação até que o plantel passe a consumir os 10 cm por semana. ■■Atingindo este consumo semanal rapidamente, em função do crescimento do plantel, o volume do composto passa a ser consumido em menos tempo, época em que as matrizes são retiradas dos canteiros A e B, iniciando-se a construção dos canteiros C, D e assim por diante, procurandose, sempre, manter o consumo em 10 cm/semana, até a povoação total do galpão ou esgotamento do composto. ■■Encontrado o equilíbrio entre o espaço e a disponibilidade de matéria orgânica, continua-se o sistema de alimentação de 10 cm/semana para controle da população de minhocas. ■■Quando o consumo aumenta, por exemplo, o composto é consumido em três dias num determinado canteiro, é a indicação de que o canteiro está superpovoado (ao dobro). Neste caso, quando não se tem abundância de composto, pode-se retirar o excesso das minhocas e vender, como matrizes ou como ração viva.

Migração induzida Uma semana, aproximadamente, antes de se colher o húmus, deixase de colocar alimento sobre o canteiro, diminuindo, também a sua irrigação, passando-se a colocar o composto, com 10 cm de altura e devidamente úmido, nos espaços livres nos lados dos canteiros.

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Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Dentro de alguns dias, nota-se que grande quantidade de minhocas migrou para as pilhas localizadas nos espaços, isto é, de A + B para 1, 2 e 3, podendo-se transferir os canteiros de húmus para um depósito mais protegido do sol, de vento e da luz do que o galpão viveiro.

Apuração de humus Não existe uma regra rígida ou definida quanto à colheita e apuração do húmus nos canteiros; geralmente, a necessidade ou a conveniência dita a época. Se for mantida a regra de 10 cm semanais, ter-se-ão canteiros com 45 dias e 60 cm de altura, após seis semanas que é o tempo mínimo aconselhado para a colheita, permitindo, pelo menos, dois ciclos reprodutivos. Em geral, para se manter uma reprodução vigorosa, não se deve ultrapassar oito colheitas ao ano por canteiro ou a cada 45 dias.

Resumo da lição • O dimensionamento do minhocário dependem dos fatores que o limitam. • A criação de minhocas pode ser em pequena escala ou em escala comercial. • Descrição das técnicas para construção de canteiros para criação de minhocas. • Povoamento dos canteiros por migração induzida. • Colheita e apuração do húmus.


Lição 9

Manejo do minhocário

A

s minhocas, ativas reprodutoras, possuem potencial de crescimento rápido e sem limites, bastando ter as condições ideais, ou seja, espaço protegido dos predadores e das condições climáticas inadequa-

das, alimento adequado e manejo correto. Por isso, a inspeção diária dos canteiros faz parte da rotina do minhocultor, para prevenir predadores e observar as condições de temperatura, umidade, aeração e drenagem.

Ilustração do canteiro coberto

Certas condições desfavoráveis, tais como: temperaturas elevadas, causando a fermentação do meio de cultura; deficiência de drenagem, provocando o encharcamento; falta de alimentação; superpopulação e, até mesmo, as chuvas e trovoadas, podem acarretar a fuga das minhocas. A instalação de lâmpadas sobre os canteiros, para serem ligadas em noites chuvosas, é uma boa precaução, assim como a fixação de calhas invertidas nas bordas internas dos canteiros, que também dificulta as fugas. Para manter o minhocário de forma a conseguir um melhor rendimento, é importante observar os seguintes aspectos:

■■Preparação

do meio de cultura. ■■Povoamento dos canteiros. ■■Alimentação complementar. ■■Aguação. ■■Predadores. ■■Separação das minhocas do húmus.

O que provoca a fuga das minhocas?

Preparação do meio de cultura O alimento básico da minhoca é a matéria orgânica que é colocada nos canteiros, devendo-se utilizar o esterco curtido ou o composto orgânico estabilizado, misturado com restos de frutas, folhas, capim, palha, bagaço etc, de preferência triturados. O alimento deve conter de 30 a

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Quantos quilos de esterco são necessários para um metro linear de canteiro?

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50% de restos vegetais e de 50 a 70% de esterco do composto. Depois de colocado o substrato de enchimento dos canteiros, molha-se bem e espera-se para ver se não esquenta. A temperatura deve situar-se entre 20 e 25 ºC e pode ser lida com um termômetro comum. Se o substrato estiver esquentando, aguarda-se alguns dias, antes de colocar as minhocas, molhando sempre e revirando o material para finalizar o processo de fermentação. O produtor deve manter um ciclo de preparação do composto e/ou de curtimento do esterco, já que estes substratos são utilizados constantemente para preenchimento dos canteiros ou como alimentação em camada. Cada vez que se separam as minhocas do húmus, há necessidade de se ter um meio de cultura pronto para ser utilizado. As metas de produção devem ser estabelecidas com, pelo menos, seis meses de antecedência, dando especial atenção ao planejamento da aquisição da matéria-prima e ao tempo para transformá-la em alimento para as minhocas. Sendo necessários, em média, 60 dias para produzir o alimento das minhocas e se elas dobram a sua população a cada 35 dias, tem-se que providenciar a matériaprima com cerca de 90 dias de antecedência. Por isso, deve-se elaborar um cronograma que sincronize o preparo do composto e/ ou o curtimento do esterco com as realimentações, pois o material não deve ser estocado, por muito tempo, devido à perda de suas propriedades nutritivas. De modo geral, a estabilização do composto leva cerca de 60 dias, necessitando de 3 a 4 reviradas. Para estabilizar (curtir) o esterco puro, faz-se necessário revirá-lo de 8 a 12 vezes, o que demanda 90 a

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

120 dias, devido à sua baixa porosidade de aeração. Para acelerar o processo de estabilização, o esterco verde deve passar pelo seguinte tratamento: num terreiro ou área cimentada, coloca-se o esterco em camada de, mais ou menos, 30 cm de altura, molha-se bem e revira-se, a cada dois dias, tomando-se o cuidado de recolher o chorume para utilizá-lo na próxima rega. Caso isto não seja possível, é melhor não deixar escorrer chorume, para não haver perda das propriedades nutritivas. Tratado desta forma, em 30 dias o esterco estará no ponto ideal. São necessários cerca de 350 quilos de esterco para cada metro linear de canteiro e a produção de húmus esperada, em cada ciclo de cultivo, é de mais ou menos 150 kg/m² de canteiro com 40 a 50% de umidade.

Povoamento dos canteiros Para iniciantes, recomenda-se um litro de minhocas para cada metro quadrado de canteiro. Posteriormente, quando o criador já estiver produzindo as suas próprias matrizes, pode colocar 5 a 6 litros/m². O povoamento deve ser feito pela manhã, cedo, para que as minhocas se estabeleçam nos canteiros, evitando as fugas noturnas. As matrizes devem ser colocadas livremente na superfície do canteiro, observando-se o comportamento das minhocas, durante uns 30 minutos, para ver se elas se enterram e se permanecem embaixo do substrato. Coloca-se uma cobertura morta sobre o substrato, utilizando capim seco, para proteger as minhocas e manter as condições ideais para o seu desenvolvimento. Para a aquisição das matrizes, avalia-se a idoneidade e a capacidade técnica do fornecedor, a fim de evitar problemas e contratem-


pos na programação de povoamento do canteiro. O centro de Estudos de Anelídeos Terrestre do Departamento de Biologia da UFC aconselha que as matrizes sejam contadas, individualmente, o que possibilita a separação de sanguessugas que possam contaminar a criação Após a aquisição das primeiras matrizes, o ideal é que as próximas sejam cultivadas pelo próprio minhocultor. Para que a população seja mantida sempre vigorosa e renovada, aconselha-se a implantação de “canteiros maternidade” somente para procriação. Na Itália, alguns criadores conseguem produzir, mensalmente, até 4 kg de minhocas por metro quadrado (Teixeira e Martinez, 1992).

Alimentação complementar Quando se necessita manter o canteiro povoado por mais de 45 dias ou quando se cria minhocas para serem utilizadas como isca na pesca ou, ainda, para ração animal, é aconselhável oferecer alimentação complementar. As opções de complemento alimentar para as minhocas podem ser: ■■Frutas, verduras e suas cascas, que são excelentes fontes de vitaminas. Utiliza-se restos vegetais, frutas, raízes e legumes, mesmo quando estão estragados, pois as minhocas alimentam-se da matéria orgânica em decomposição. ■■Semeia-se trigo na faixa central do canteiro e quando as plantas atingem 15 cm de altura, cortam-se e deixa-se a massa vegetal decompondo-se sobre a superfície. ■■Estercos enriquecidos com farinha de sangue, de ossos ou de carne melhoram, substancialmente, o crescimento e a produtividade das minhocas.

■■Adiciona-se

cal ao alimento das minhocas, pois elas precisam de muito cálcio no seu metabolismo. ■■A adição de açúcar favorece as necessidades energéticas das minhocas. ■■ A mistura de diferentes tipos de esterco (boi, carneiro, porco etc) favorece uma dieta mais completa. ■■Deve-se tomar cuidado com o uso de rações e farinhas, devido ao risco de intoxicação. O enriquecimento alimentar das minhocas sugerido pelo Centro de Estudos de Anelídeos Terrestres da UFC é o seguinte: ■■150 g de farinha de carne. ■■150 g de farinha de osso. ■■200 g de farinha de sangue. ■■50 g de açúcar. ■■100 g de cal. Este complemento alimentar deve ser utilizado, mensalmente, em camas de 10 m x 1 m x 30 cm, até terminar o cultivo. O enriquecimento, além de favorecer as minhocas, propicia um húmus bem mais nutritivo para as plantas.

Anelídeos: são animais enterozoários de simetria bilateral do filo Annelida. Possuem corpo segmentado, cada anel ou segmento com um par de nefrídios, tubo digestivo tubular completo com celoma bem diferenciado e sistema vascular fechado.

Como é que faço para comprar as matrizes de minhoca?

Antes do período das chuvas, deve-se checar o sistema de drenagem dos canteiros, para evitar encharcamento.

Aguação Os canteiros devem ser regados, diariamente, pela manhã ou à tardinha. A água utilizada não deve ser tratada, pois o cloro pode causar sérios danos à pele sensível das minhocas. A umidade ideal situa-se entre 40 a 50%. Um teste simples para o controle da umidade consiste em apertar, levemente sem espremer, um punhado do substrato; se aparecerem, apenas, algumas gotas entre os dedos, a umidade está no ponto. Deve-se estar atento, especialmente em áreas urbanas, às campanhas de controle e erradicação de mosquitos causadores de doenças, como a dengue, por exemplo,

Fábio Castelo

Frutas e verduras servem de alimentação complementar para minhocas.

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pois os produtos químicos utilizados contra as larvas do mosquito podem ser letais às minhocas; uma água assim tratada poderá aniquilar o plantel inteiro.

Predadores Explique como é feita a aguação dos canteiros?

Predadores

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Por tratar-se de um animal desprovido de qualquer órgão de defesa ou de ataque, a minhoca está sujeita a uma série de predadores. Basicamente, qualquer animal carnívoro é um predador em potencial, podendo o ataque ser aguçado pelo cheiro da proteína, tão abundante na carne da minhoca. Alguns cuidados, tais como, proteger os canteiros com cobertura morta, cercas ou telas; não deixar animais soltos próximo ao minhocário; e a inspeção preventiva diária contra predadores, podem diminuir bastante o risco de predação. Dentre os inimigos mais comuns das minhocas destacam-se: Formigas: sabe-se que muitas formigas convivem com as minhocas sem lhes causar problemas; entretanto, as formigas carnívoras são os seus piores inimigos, destacando-se aquelas conhecidas como “lava-pés”, que constroem os seus ninhos dentro dos canteiros. Para eliminá-las, pode-se aplicar um repelente natural, como cascas de tangerina, retirando o ninho e expondo-o ao sol. As formigas pretas, que também gostam de morar no minhocário, possuem um grande poder de toxidez e a sua ferroada é muito dolorosa, aconselhando-se, por isso, eliminá-las por cuidadosa catação manual. Quando a infestação é alta, o Centro de Estudos de Anelídeos Terrestres indica a colocação de uma camada de folhas de jornal abertas sobre o canteiro, ateando fogo de modo que o mesmo seja intenso e rápido, para afugentar ou matar as formigas, enquanto as minhocas fogem para o fundo do canteiro.

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Sanguessugas: são de difícil combate por se parecerem bastante com as minhocas. A diferença, apesar de sutil, é na coloração: as sanguessugas são um pouco mais claras. Além disso, quando se estica o corpo da sanguessuga, ele não se parte tão facilmente como o da minhoca. Ao se pegar uma sanguessuga, às vezes ela gruda, devido às ventosas existentes nas extremidades do seu corpo, utilizadas para se fixarem nas minhocas, alimentando-se do seu sangue, matando-as por inanição. As sanguessugas são mais comuns nos solos argilosos e úmidos, devendo-se evitá-las através da utilização de esterco ou composto recém preparado, pois o esterco envelhecido (com mais de 6 meses) pode estar contaminado. Outra providência é isolar o fundo dos canteiros com cimento e, quando se tem que adquirir novas matrizes, certificar-se que não estão contaminadas. Aves: as aves podem causar grandes danos à criação, principalmente as aves ciscadoras, como as galinhas, os sabiás e os bem-te-vis. Inicialmente, as aves não atacam o minhocário; porém, quando o descobrem, é muito difícil contê-las. Para evitá-las, deve-se proteger o minhocário com capim seco, cercas e telas. Sapos e rãs: animais carnívoros, encontram na minhoca excelente fonte de proteína e são predadores vorazes, podendo comer de 30 a 40 minhocas por noite. Gostam de viver em locais úmidos, sendo de difícil visualização, devido ao mimetismo. No caso do aparecimento destes anfíbios, deve-se retirar, temporariamente, a cobertura morta dos canteiros ou qualquer outro material que possa proporcionar condições de moradia. Porcos, cachorros e cassacos: devem ser mantidos distantes pois, numa única investida ao


minhocário, podem causar grande destruição. Ratos e lagartos: o minhocário é um lugar excelente para lagartos e ratos silvestres fazerem os seus ninhos, pois encontram casa e comida no mesmo local. Para evitá-los, não se deve descuidar da inspeção diária.

Separação das minhocas do húmus As principais formas para se retirar as minhocas dos canteiros de produção, são: Separação manual: muito eficiente, é a forma mais trabalhosa e que envolve mais mão de obra, podendo ser feita diretamente nos canteiros ou utilizando-se o sistema de mesa. Para facilitar a colheita, recomenda-se distribuir, sobre os canteiros, alimentos farinhosos, restos de frutas ou mesmo esterco molhado, protegidos com sacos de pano. Depois de dois dias, retira-se a cobertura e recolhem-se as minhocas que se concentram nesta região. Uma pessoa habilidosa recolhe até 5.000 minhocas/hora, ou seja, cerca de quatro quilos. Quando a colheita é realizada no sistema de mesa, o material é colhido do canteiro com a ajuda de um garfo especial que tem pontas arredondadas, para não ferir as minhocas e disposto sobre uma mesa colocada em local bem iluminado. Em seguida, as camadas de húmus vão sendo retiradas com a mão, enquanto as minhocas vão descendo para a parte inferior do material, fugindo da luz e do contato. No final do processo, restará uma massa quase nua de minhocas, pronta para ser embalada ou transportada. Separação com a utilização de luz: coloca-se uma fina camada do meio sobre uma tela, cuja abertura da malha permita a passagem das minhocas, põe-se a peneira sobre

um tambor contendo esterco curtido e deixa-se o conjunto exposto à luz, do sol ou artificial. Separação com a utilização de iscas: utilizando-se iscas, que é simples e não causa traumas nas minhocas, colocam-se os sacos vazados (como os de cebolas), cujas aberturas da malha devem permitir a passagem das minhocas, com esterco curtido sobre o meio de cultura. As iscas promovem a migração das minhocas, fornecendo alimento farto que o meio de cultura não fornece mais. Separação por indução migratória: é utilizada nos sistemas de criação em pilhas, quer seja no campo ou em galpões. Quando o alimento da pilha onde se encontram as minhocas estiver próximo de acabar, constrói-se uma nova pilha ao lado, com alimento fresco, para que as minhocas migrem em busca do alimento. Separação com peneiras: tanto as peneiras comuns quanto as rotativas e as vibratórias são dotadas de pequenas malhas que separam bem as minhocas do húmus; contudo, provocam muitas mortes por ferimentos e stress. A peneira comum ou manual é a menos prejudicial das três. Em geral, é feita com uma tela de arame galvanizado de malha quatro, fixada em uma moldura de madeira. As dimensões ficam a critério do usuário; porém, como a tela vem com 1,80 m de largura, compra-se 1,0 m (1,0 x 1,80) corrido e prega-se a moldura ao redor, com alças de até 40 cm para manejo. Neste processo, a cada coleta de húmus perde-se, praticamente, uma geração de ovos e as minhocas miúdas que passam pela peneira. Durante o processo de colheita das minhocas utilizando peneiras, a taxa de mortandade pode chegar ou ultrapassar a 50%, dependendo do tipo de peneira e

O material que foi separado, contendo minhocas jovens e casulos, deve retornar aos canteiros.

Quais são as formas de retirar as minhocas dos canteiros?

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Peneira manual

Peneira mecanizada

Qual o tipo de separação que provoca muitas mortes por ferimento e stress?

Desidratação: perda ou remoção de água de uma substância ou de uma mistura.

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dos cuidados dos operadores. Com cuidados, esse índice pode ser reduzido a menos de 10%. As peneiras mecanizadas, rotativas ou vibratórias, são empregadas, sobretudo, nas grandes criações, por exigirem menos mão de obra. Neste método, as minhocas estão mais sujeitas a se ferirem, sendo a sua utilização mais recomendada para a produção de húmus e/ou de minhocas destinadas à alimentação imediata de animais (minhocultura consorciada). ■ Para a venda de matrizes ou de iscas para pesca, outros métodos são mais recomendados. ■ Para o uso próprio ou venda para o uso no campo, não será necessário usar a peneira, pois encarece o produto. ■ Se o húmus é destinado ao comércio, em todos os métodos aconselha-se o seu peneiramento final, a fim de melhorar a sua aparência granulométrica. ■ Para peneirar o húmus, a peneira é pendurada no teto, pelos quatro cantos, utilizando-se corda. ■ O teor de umidade deve ser inferior a 50% pois os valores superiores, dificultam ou impedem a passagem do húmus através das malhas da peneira. ■ A suspensão da aguação, o descobrimento e o revolvimento do húmus são medidas que favorecem a desidratação.

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Resumo da lição • No manejo do minhocário é importante uma rotina de inspeção diária. • O alimento básico da minhoca é a matéria orgânica colocadas nos canteiros. • O povoamento dos canteiros deve ser feito pela manhã com matrizes selecionadas. • Na alimentação complementar das minhocas são usadas frutas e verduras. • Os canteiros devem ser aguados diariamente. • Os principais predadores das minhocas são: aves, sapos, porcos, cachorros, ratos e lagartos. • Descrição das principais técnicas de separação das minhocas do húmus.


Lição 10

Comercialização dos produtos

A

minhocultura deve ser explorada, intensivamente, colhendo-se húmus, matrizes, iscas para pesca e ração viva ou industrializada. O campo para a comercialização de húmus e de minhocas é muito amplo, pois são produtos com características únicas, que não encontram substitutos. No entanto, a sua utilização não é conhecida como deveria, sendo um mercado que precisa ser mais bem trabalhado. A alta rotatividade dos canteiros, aproximadamente 45 dias, possibilita ao minhocultor um retorno rápido do capital empregado. Além disto, os baixos investimentos exigidos, aliados à existência de um mercado amplo e diversificado, fornecem excelentes perspectivas econômicas. Contudo, não se deve esperar que a minhocultura seja, de imediato, a única fonte de renda; o ideal é iniciar com uma pequena criação, não abandonando a atividade principal. Portanto, a minhocultura deve ser considerada uma fonte de receitas indireta na propriedade, à medida que seus produtos são utilizados pelo próprio produtor, em outras atividades. Iniciar com uma experiência em pequena escala, mesmo para aqueles que têm interesse na minhocultura comercial, permitirá maior aproximação com a atividade, enquanto são resolvidas as questões mercadológicas que o negócio envolve. Como a atividade é relativamente nova no país, é importante o contato com criadores já estabelecidos, cooperativas e outras entidades interessadas, clientes potenciais etc., não

esquecendo de consultar os resultados das pesquisas, publicados em veículos especializados, que informem sobre o mercado. Mesmo durante a fase de execução do minhocário, o futuro minhocultor não deve descuidar-se das pesquisas de mercado, buscando informações sobre fornecedores de esterco, os preços de mercado, as condições de entrega etc.

Capital: qualquer riqueza capaz de dar renda e que se emprega para obter nova produção.

Comercialização do húmus O húmus de minhoca, devidamente ensacado, pode ser distribuído em: lojas de agricultura e jardinagem, cooperativas, revendedores de mudas, supermercados, postos de gasolina etc. Em maior escala, encontra-se um grande mercado diretamente com os fruticultores, os horticultores e os agricultores em geral, principalmente para o plantio de culturas forrageiras, especialmente o capim.

O preço do húmus varia de R$ 0,40 a R$ 0,70 por kg, dependendo do tipo de embalagem, da quantidade e do local de venda.

Estocagem e embalagem O húmus deve ser estocado a granel, em pilhas com a maior altura possível e, de preferência, colocando “sacos-isca” (composto úmido) ao seu redor, para que os recém-nascidos dos casulos não eclodidos e algumas minhocas que não foram coletadas migrem durante a estocagem. O depósito deve ser um lugar ventilado e escuro, no qual o ressecamento do húmus a granel não ocorra rapidamente. A umidade precisa ser mantida, no mínimo, a 30%, evitando-se a ocorrência de substancial perda de atividade biológica.

Porque a minhocultura favorece o retorno rápido do dinheiro empregado?

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Como deve ser o depósito para estocagem de húmus?

O ideal é que a embalagem do húmus fosse em sacos de cores escuras.

Caso o húmus não seja exposto ao sol ou ressecado, poderá manter sua fertilidade por até um ano.

O preço médio de minhocas adultas varia de R$ 50,00 a R$120,00 por kg.

Dicas de comercialização ■ ■A

comercialização do húmus pode ser feita a granel ou acondicionando-se o produto em sacos plástico, de capacidade variada, pois ainda não existe um padrão definido para embalagens de húmus, sendo os sacos plásticos de 1, 3 e 50 kg os mais populares. ■■Na grande maioria, as embalagens são incolores e transparentes, para adquirir a “confiança” dos clientes. No entanto, o ideal seria que as embalagens fossem de cores escuras, para proteger o húmus da volatilização pela luz, assegurando a sua qualidade por muito mais tempo. ■■Quando o húmus é destinado, diretamente, aos grandes consumidores, o manuseio e a estocagem são facilitados se forem utilizados sacos de ráfia, podendo ser sacos de açúcar e cereais reutilizados. ■■O teor ideal de umidade do produto é de 40%, devendo este ser citado na embalagem, a fim de prevenir sobre as perdas em função do ressecamento. ■■Um metro cúbico de húmus pesa em torno de 700 quilos. Banco de Dados FDR

1 kg de minhocas = 1,5 litros de minhocas 1 kg contém, em média, 1.200 minhocas

Comercialização das minhocas A comercialização das matrizes geralmente é feita pelos próprios criadores, tem por base de venda a unidade litro ou quilo de minhocas. Considerando que o peso médio das minhocas adultas varia de 0,8 a 1,0 grama, em um quilo deve-se ter de 1.000 a 1.250 matrizes. Muitas vezes o uso do litro como medida facilita o acondicionamento do produto, por dispensar a balança. Vendidas por litro ou por quilo, as minhocas podem ser embaladas em caixas de plástico, papelão ou de madeira parafinada por dentro. As caixas deverão ser providas de pequenos orifícios na base e na tampa e preenchidas com esterco curtido e úmido, antes de receberem as minhocas. Este acondicionamento permite que as minhocas sobrevivam por uma semana. Em colônias, basta separar 1 m x 1 m x 30 cm de uma colônia, dividir em quatro partes e acondicionar em sacos de malhas finas, para distâncias pequenas ou em caixas, para distâncias maiores. O preço da colônia irá variar com o número de minhocas existentes.

Iscas para pesca As minhocas também são comercializadas como iscas para pesca, cuja popularidade entre os pescadores é tão grande que levou as minhocas gigantes (minhocuçus) de Minas Gerais a ficarem ameaçadas de extinção em algumas localidades.

Ração viva Como devem ser acondicionada as minhocas para a venda?

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humus

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Outra opção de utilização das minhocas é como ração viva. Graças ao seu alto valor nutritivo-proteico (proteína animal de altíssima taxa de conversão), elas se constituem em excelente fonte de alimento para aves, peixes, rãs e porcos.


Muitos minhocultores que já alcançaram o patamar máximo de produção de húmus, utilizam o excedente mensal do seu plantel para alimentar as criações. A minhoca acelera a engorda das criações e as mantém mais sadias e imunes a doenças.

Observações ■■Nas

criações que têm como objetivo principal a produção de minhocas para o comércio de isca viva ou de ração viva, o canteiro é mantido por mais tempo, cerca de seis meses. Neste caso, é importante o fornecimento de alimentação suplementar. ■■Criadores iniciantes somente produzem, mensalmente, de dois a três quilos de minhocas adultas/m², enquanto os criadores mais experientes alcançam de três a quatro quilos.

Farinha de minhoca A farinha de minhoca é um complemento alimentar de alto poder energético, que contém altos níveis de proteína (até 78%) e concentra quase todos os aminoácidos essenciais. A minhoca mais usada para fazer a farinha é a “Vermelha da Califórnia”, a qual contém ferormônio (hormônio sexual), cuja presença torna a farinha afrodisíaca, estimula o acasalamento e a torna enormemente atrativa para os animais. A farinha de minhoca, produto altamente concentrado e 100% natural, não contém aditivos ou qualquer outro produto sintético, podendo ser utilizada misturada com outras rações na base de 5 a 15%. As dosagens são mínimas, em geral não ultrapassam os 20 gramas diários para obter um excelente resultado. Para produzir 1 kg de farinha, utilizam-se 7 a 8 kg de minhocas vivas.

Para que a farinha seja economicamente viável, é necessário ter uma produção elevada, para amortizar o custo da industrialização. A farinha de minhoca, que acelera o crescimento, desenvolve a musculatura, aumenta o peso, cobre deficiências de proteínas e aminoácidos, aumenta o desempenho sexual, estimula o apetite e torna as rações mais atraentes, é recomendada para: ■■Piscicultura, ranicultura e carcinicultura. ■■Piscicultura ornamental. ■■Avicultura e aves esportivas. ■■Chinchilas e aves ornamentais. ■■Cavalos para corrida, hipismo e tração. ■■Reprodutores bovinos, suínos, ovinos e caprinos. ■■Gado leiteiro. ■■Pet food (cães e gatos).

Aminoácidos: molécula orgânica formada por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio unidos entre si, de maneira característica. Eles se unem através de ligações peptídicas, formando as proteínas. Para que as células possam produzir suas proteínas, elas precisam de aminoácidos.

Polvilho As minhocas desidratadas e trituradas podem ser transformadas em polvilho para consumo humano. O polvilho é branco, parecido com a farinha de trigo, sendo utilizado no “pão enriquecido” e nas “massas enriquecidas” de proteínas, muito populares no mercado norte-americano.

A farinha de minhoca é recomendada para que tipos de animais?

Prestação de serviços Dentre as maneiras de ganhar dinheiro com a minhocultura, coloca-se a prestação de serviços, tais como: consultorias, projetos, assistência técnica, cursos e palestras. A partir do momento que o minhocultor estabelece a sua credibilidade como pioneiro na região, passa a ser alvo de muitos produtores interessados nessa atividade, podendo oferecer, além da venda de matrizes, os serviços técnicos.

Fundação Demócrito Rocha 53


Custos de produção Para se ter ideia da quantidade de húmus produzida na criação de minhocas, tanto em pequena escala quanto em escala comercial,

bem como dos custos para produzir 30 toneladas de húmus e 10 toneladas de composto, são apresentadas as tabelas a seguir:

Criação de Minhocas em Pequena Escala Atividade Data

Totais

Insumos

Produção Húmus (Kg)

Tempo (Dias)

Tipo

Matrizes

Container

Esterco (Kg)

X

Início

1 litro

1

50

X

45

1ª desdobra

X

2

100

18,5

45

2ª desdobra

X

4

200

37,5

45

3ª desdobra

X

8

400

74,0

45

4ª desdobra

X

16

800

148,0

45

5ª desdobra

X

32

1.600

296,0

225

-

1 litro

32

3.100

573,5

(Fonte: Almeida, 1994).

Criação de Minhocas em Escala Comercial 1

Minhocas (Kg) 10

Composto / Mês (Kg) 400

2 3

20 40

800 1.600

0 0

4

80

3.200

0

5 6

160 320

6.400 12.800

0 9.000

7

480

19.000

13.400

8 9

720 1.080

28.000 42.000

20.000 29.000

10

1.620

63.000

44.000

11

2.430

95.000

65.000

12

3.650

140.000

100.000

Mês

(Fonte: Martinovsky, 1996.)

54

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Produção Húmus / Mês (Kg) 0


Custo de Produção de 30 Toneladas de Húmus de Minhoca Discriminação

Unidade

Quantidade

Valor Unitário (R$)

Total (R$)

1. Serviços

573,32

Preparo da composteira

homem/dia

15

8,44

126,00

Virada do material

homem/dia

8

8,44

67,52

Aguação do material

homem/dia

5

8,44

42,20

Peneiramento e ensacamento do húmus

homem/dia

40

8,44

337,60

2. Insumos

692,81

Adubo orgânico

tonelada

13

36,17

470,21

Saco de 50 kg

cento

6

24,17

145,02

Energia

kwh

862

0,09

77,58

Total (1 + 2)

1.266,13

Custo de Produção de 10 Toneladas de Composto Orgânico Discriminação

Unidade

Quantidade

Valor Unitário (R$)

Total (R$)

Coleta de material

homem/dia

4

8,44

33,7 6

Preparo da composteira

homem/dia

3

8,44

25,32

Aguação do material

homem/dia

2

8,44

16,88

Revirada do material

homem/dia

3

8,44

25,32

Esterco bovino

tonelada

2

36,17

72,34

Total 173,62 Os dados contidos nas tabelas são aproximados para demonstrar a dinâmica da produção, variando de acordo com as condições gerais e com a qualidade do alimento. Esperamos que, após a leitura deste manual, você ponha em prática as técnicas conservacionistas onde se destacam a compostagem, a minhocultura, a adubação verde, o uso de cobertura morta, e de quebra-vento, o plantio em curva de nível, o plantio diversificado que favorece a recuperação dos solos e combate a erosão.

Quais são os custos de produção?

Compostagem

Fundação Demócrito Rocha 55


Referências 17. Anais. Fortaleza: 2000. v. 2. p.563. ALMEIDA, P.C.C. Como criar minhocas. Brasília: SEBRAE, 1994. 43p. -FORMA-DE-MINIMIZAR-OS-PROBLEMAS-AMBIENTAIS-CAUSADOS-PELA-SUPERPRODUCAO-DE-LIXO-NOSECULO-XXI/pagina1.html#ixzz1Q6cRwjyV - ACESSO em 23/06/2011 as 10h33min. HANZI, M. Permacultura: o sítio abundante; co-criando com a natureza. Salvador: Alecrim, 1999. 46p. HOPP, H. What every gardner shoud know about earthworns. Vernont. Garden Way, 1978. Nobel, 1985 (Direitos reservados para a língua portuguesa). 64p. http://compostagem_cjb.blogs.sapo.pt/1861.html - ACESSO em 23/06/2011 as 10h45min. http://www.agritempo.gov.br/modules.php?name=Encyclopedia&op=content&tid=50 - ACESSO em 19/06/2011 as 21h34min. http://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/Troca_cati%C3%B4nica - ACESSO em 19/06/2011 as 11h34min. http://www.webartigos.com/articles/20966/1/A-COMPOSTAGEM-COMO KNAPPER, C.F.U. Minhocultura. Goiânia: UCG, 1996. 30p. LOPES, R.O.M.; RAMOS, M.V.; AQUINO, B.F.; ROCHA, I.M.O.; BAIMA, V.; SILVEIRA, J.A.G. Efeito do húmus de minhoca no crescimento de mudas de cajueiro anão precoce. IN: Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal, 8. Anais. Ilhéus: 2001. MARTINOVSKY, E.P.H. Minhocultura e compostagem. Fortaleza: SECITECE, 1996. 101p. PEIXOTO, R.T.G. Compostagem: opção para o manejo orgânico do solo. Londrina: IAPAR, 1988. 48p. PEREIRA NETO, J.T. Manual de compostagem. processo de baixo custo. Belo Horizonte: UNICEF, 1996. 56p. PINHEIRO, C.A.F.; ASSUNÇÃO, J.G.; OLIVEIRA, M.J.S.; GONÇALVES, N.F. Agricultura orgânica. Fortaleza: EMATERCE, 2001. 43p. RAMOS, M.V. et al. Composição centesimal, teor de aminoácidos, ácidos graxos e açúcares da farinha de minhoca (Eudrillus eugeniae). IN: Congresso Brasileiro de Tecnologia de Alimentos, RODRIGUES, R. M. A vida da minhoca. São Paulo: Moderna, 1997. 31p. TEIXEIRA, C.S., MARTINEZ, A.A. Minhoca: o arado da natureza. A Lavoura. Rio de Janeiro: Sociedade Nacional de Agricultura, mai.jun. 1992. p.32-36.

Realização

56

APOIO CULTURAL

Formação para o trabalho compostagem e minhocultura

Apoio


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