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POR AÍ

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FERNANDO TORQUATTO

FERNANDO TORQUATTO

POR KIKI GARAVAGLIA

PROVENCE... SONHO OU TÉDIO?

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Memórias dos hotéis cheios de história, das paisagens tranquilas e dos passeios de bicicleta no interior da França

Sempre que vou à França tento ir a Saint-Paul-de-Vence pernoitar ou almoçar no La Colombe d’Or. Meu pai adorava e já frequentava o lugar com o meu avô. Essa pousada e restaurante fica no topo de uma colina na Riviera Francesa, pertinho de Nice. Um casal de franceses abriu um pequeno café nos anos 1930, que depois virou um restaurante e, em seguida, finalmente, tornou-se uma famosa pousada. Seus descendentes continuam no comando com o mesmo sucesso.

La Colombe d’Or foi um dos berços do movimento dos artistas modernistas como Picasso, Calder, Chagall, Matisse e outros mais que se hospedavam por lá e que, geralmente, não tinham dinheiro para pagar. Pintavam as paredes ou quadros como forma de pagamento – hoje, é possível dormir em um quarto com cenas de Matisse na parede. Eles iam pra lá por causa da beleza do lugar, do silêncio, da simpatia da família e da qualidade da comida. Usavam o destino para se inspirar e criar suas obras-primas – ou também para fugir da Segunda Guerra Mundial, como James Baldwin e Jacques Prévert.

Hoje em dia, La Colombe está em todas as listas dos melhores restaurantes e pousadas da Europa. Além dos lindos quartos, construíram uma piscina aquecida, e claro, com um maravilhoso e colorido móbile do artista americano Alexander Calder para alegrar. A dez minutos a pé da pousada, tem a Fundação Maeght e uma das maiores coleções do movimento modernista da Europa. Realmente, é um deleite passar uns dias nessa charmosa parte da França.

Por outro lado, lembro de uma amiga, Monique, que sempre dizia que o sonho da vida dela, quando ficasse velha, era alugar uma casa na Provence e ficar andando de bicicleta pelas plantações de lavanda, sentindo aquele perfume no ar. Finalmente chegou o dia em que ela e o marido resolveram alugar uma casa em Saint-Paul-de-Vence por seis meses. Mal chegaram, já compraram duas bicicletas e, no dia seguinte, saíram encantados pelos campos de lavanda para comprar patê e uma baguete. Uma maravilha.

Mas os dias foram passando, todos passeando de bicicleta – a única distração, aliás – e eles começaram a se entediar, a discutir ou brigar para definir aonde iriam. No fim, cada um acabava indo para um lado, com a desculpa de “comprar alguma coisa”. Monique ficou amicíssima do açougueiro, íntima do fruteiro e o papo com o jornaleiro era sempre uma distração. Enfim, não tinha mais nada para fazer! Um tédio. Começaram, então, a ir para Nice para curtir o movimento das pessoas, os risos nas ruas, nos cafés, para ver todos se divertindo, alegres e felizes, nos cinemas, nos bons restaurantes.

Nos dias seguintes, já estavam com ódio das bicicletas, não aguentavam mais ver os campos de lavanda e passar as noites vendo televisão. Resumindo: romperam o contrato após quatro meses de aluguel e voltaram radiantes para a frenética civilização... Às vezes, nossos sonhos não são a realidade. n

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