Livro - Memoriais Psicanálise, 08-07-2021

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Esse livro foi criado e elaborado por estudantes de Psicologia do Centro Universitário Una para a Unidade Curricular de Psicanálise, Teoria e Técnica

Aline Cândida de Matos Barcelos - 32112877 Bruna Caroline dos Santos Pereira - 318114485 Camila Ferreira de Andrade Rezende - 319142384 Christian Rafael Dias do Carmo - 319128886 Clara Silva Corrêa - 318131979 Danielle Conrado da Cruz - 31812931 Gabriel Cunha de Oliveira - 319112190 Guilherme Henrique de Paula Lamarca Toledo - 320119070 Isabella Bárbara Mateus Fernandes - 319138050 Izabela Batista Martins - 318125916 Jennifer Caroline Moreira Xisto - 31912621 Josemar Aciole dos Santos - 321128625 Laura Guimarães Antunes Oliveira - 318118912 Leticia Cândida Pereira - 31627990 Lorrany Kelly Cardoso Mendes - 318126674 Marcela Campos Nicácio Nassif Dagher - 319136997 Maria Eduarda Rodrigues- 319134496 Milena da Silva Moreira - 319110248 Nathália França do Nascimento – 320122932 Nathalia Vidal Silva – 318118008 Pamella Moreira Adriano - 320129121 Raissa Emanueli Pereira Santos - 319128123 Robert Rafael Magela - 319141148 Sâmara Oliveira de Araújo - 319129462 Talita de Almeida Cantão - 31823341 Tandresse Wanderley de Souza - 319226385 Thatielly Bárbara Dias Moreira - 31911176


Orientadoras: Profª Camila Fardin Grasseli e Profª Danielle Starling SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................................1 Memoriais..........................................................................................................................2 Aula 01 - História da Psicanálise...............................................................................................2 Aula 02 – Freud e o inconsciente..............................................................................................4 Aula 03 - Cinco lições de Psicanálise - Teoria do Trauma Psíquico............................................6 Aula 04.....................................................................................................................................8 Aula 05 – 2ª Lição - Teoria do Recalque – Resumo volume II – Estudo sobre Histeria - Caso Elisabeth Von R. (Freud).........................................................................................................10 Aula 06 - Associação Livre......................................................................................................12 Aula 7 - O sentido dos Sintomas: Conferências Introdutórias Vol. XVI....................................14 Aula 8 - (Texto as cinco lições – Terceira lição): Ato falho e sonhos........................................15 Aula 9 - Atos Falhos - Interpretação dos Sonhos - Sonho da Injeção de Irma.........................17 Aula 10...................................................................................................................................19 Aula 11 - Sexualidade Infantil: Caso Hans...............................................................................20 Aula 12 – Caso Hans e Complexo de Édipo.............................................................................21 Aula 13 - IV LIÇÃO...................................................................................................................22 Aula 14 - COMPLEXO DE EDIPO – HANS. – 4 LIÇÃO................................................................24 Aula 15...................................................................................................................................25 Aula 16 - Édipo em Freud e Lacan – os três tempos de édipo................................................26 Aula 17...................................................................................................................................28 Aula 18...................................................................................................................................31 Aula 19 – Ter ou não ter o Falo?.............................................................................................33 Aula 20 - Estruturas clínicas....................................................................................................35 Aula 21 – Estruturas clínicas, neuróticas e histéricas..............................................................36 Aula 22 – Neurose Obsessiva..................................................................................................38 Aula 23 – Causa e objeto de desejo da pessoa histérica.........................................................39 Aula 24– Estrutura Clínica e psicose.......................................................................................40

Conclusão........................................................................................................................41


Introdução O presente trabalho tem por finalidade abordar os assuntos estudados durante a Unidade Curricular de Psicanálise, de modo que fique registrado, podendo ser compartilhadas as teorias lecionadas pelas professoras Camila Grasseli e Dannielle Starling, através dos registros feitos pelos alunos de Psicologia do Centro Universitário UNA - Campus Guajajaras, localizado na região central de Belo Horizonte. Neste livro virtual, está uma breve passagem por teorias importantes que constituem a Psicanálise. Através deste trabalho, poderemos nos debruçar sobre ideias de Sigmund Freud, Jacques Lacan, dentre outros teóricos importantes para a construção da Psicanálise. Nos capítulos do livro, iremos começar apresentando um pouco sobre a história da Psicanálise, como ela surgiu e seus objetivos, traremos também, um pouco sobre a trajetória de Freud e suas motivações para a criação da teoria. Logo após, iremos trazer um pouco sobre o caminho dos teóricos e suas contribuições, até chegarmos ao que chamamos hoje de Psicanálise. Posteriormente, apresentaremos as cinco lições da Psicanálise, que se trata de um resumo da obra de Freud, de 1893 a 1909. Serão apresentados também, registros de casos clínicos dos teóricos, que servirão como ilustração para um melhor entendimento da teoria. Serão abordados também, conceitos psicanalíticos criados pelos teóricos, como associação livre, interpretação dos sonhos, complexo de Édipo, transferência, inconsciente, recalque, resistência, formações de compromisso, neurose, psicose, perversão, entre outros. Em síntese, por meio deste trabalho, discorreremos sobre a construção e aplicação da Psicanálise, compreendidos em aula e objetivamos compartilhar o conteúdo com outros estudantes de Psicologia, para que sirva como um auxílio no aprendizado e na formação de novos profissionais que se interessam pela abordagem psicanalítica.

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Memoriais Aula 01 - História da Psicanálise

Freud era neurologista, depois que ele se formou, em 1985, ganhou uma bolsa de estudos e foi para Paris estudar com Charcot. Charcot estudava o que era um mistério na época, o que os médicos não entendiam, paralisias, espasmos, entre outras questões que não se encontrava uma razão fisiológica. A maioria dos casos era encontrado em mulheres, então os estudiosos começaram a pensar que a questão poderia ter relação com o útero e a partir disso se deu o nome, histeria, que deriva da palavra grega hystéra, que significa útero. (Exemplo Camila: há alguns anos uma criança chegou em seu consultório com a história de que ele mancava de uma das pernas. Antes de chegar até ali já tinha ido ao pediatra, ao ortopedista, ao psiquiatra e por fim, foi encaminhado ao psicólogo, pois sua fisiologia estava preservada. Essa criança morava com seus pais e a avó, até que a avó faleceu, mas a família não conversou sobre isso com a criança, escondeu e não soube explicar sobre a morte. A criança vivia perguntando sobre a avó, mas a família nunca dizia a verdade. A avó da criança mancava de uma perna e foi aí a questão da sua paralisia. A psicoterapia precisou trabalhar com a família a questão de contar para a criança do falecimento da avó e de acompanhar esse luto com o neto). Charcot utilizava o método de hipnose para tentar curar esses sintomas, através de sugestões hipnóticas, por exemplo “ao estalar meus dedos, sua perna voltará a funcionar”. Freud ficava intrigado com essas questões, foi para Paris interessado em estudar o cérebro e voltou de lá com o interesse de entender a mente, o que começou a afastá-lo da neurologia. Na época, os tratamentos comuns a essas condições eram: eletrochoques, caminhadas longas, afastamento da família, asilos, banhos de imersão, entre alguns outros que se correlacionavam. (Indicação de filme: Um Método Perigoso - mostra onde as mulheres ditas histéricas ficavam, onde tinha as caminhadas nos bosques, os tratamentos etc. O filme se dá da parceria do Freud com Breuer, retrata Freud como um jovem médico aspirante à fama e no final, deixa a entender que Jung estava mais certo do que ele, onde Jung passa a trilhar o caminho da Psicologia analítica). Quando Freud voltou para Viena, ele continuou trabalhando com a neurologia, mas também fazia seus estudos em relação à mente, até que os estudos da mente tomaram um grande espaço da sua vida e ele deixou a neurologia. Freud utilizou a hipnose por algum tempo, mas depois a abandonou, pois não conseguia obter o êxito que ele imaginava. O que diferenciava o método de Freud e Breuer em 2


relação ao de Charcot, era que Freud e Breuer queriam saber a história do paciente e do seu sintoma, enquanto Charcot só se preocupava em tirar o sintoma por meio da hipnose. Ao decorrer da sua prática, Freud percebeu que o efeito da hipnose era temporário, outro ponto que o incomodava. Só depois que Freud abandona a hipnose, de fato, é que nasce a Psicanálise, onde Freud usa o método da fala, ele pede que o paciente fale sobre seu sintoma, sua história, suas relações, de forma livre e ouve, com a escuta terapêutica, o que mais tarde foi nomeado de método da Associação Livre. Freud fazia seus atendimentos dentro de sua casa e atendia o mesmo paciente 6 dias da semana. Freud falava que para ele era importante o paciente se deitar no divã, pois era um alívio não ficar frente a frente com o olhar do sujeito nas sessões, pois assim, ele ficava livre para se expressar em relação aos seus pensamentos e devaneios. Mas, posteriormente na história da Psicanálise, Lacan vai dizer da importância do paciente estar deitado não em relação ao terapeuta, mas em relação ao próprio paciente. Segundo ele, quando o paciente busca a procurar saber mais sobre ele mesmo, não sobre o psicanalista, nem sobre mais nada, mas sobre ele mesmo e suas histórias, suas angústias, situações e problemas, ele entra em um certo diálogo consigo mesmo (retificação subjetiva) e a partir disso, é o momento de convidar o paciente a se deitar, pois ele não precisa mais de um interlocutor olhando para ele, o interlocutor do paciente passa a ser o inconsciente e o terapeuta se torna essa voz que não precisa da presença física. (Indicação de livro: Bruce Fink - Fundamentos da Técnica Psicanalítica - Primeiro capítulo: escutando e ouvindo) - Fala sobre como é uma escuta cotidiana e como deveria ser uma escuta psicanalítica. Exemplo: Quando uma pessoa nos conta uma experiência a gente tenta encontrar dentro da nossa realidade alguma experiência parecida para contar também, então o diálogo se torna um amontoado de casos contados. Na terapia isso não pode ser feito, o terapeuta precisa ouvir além do que se ouve no cotidiano das pessoas.

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Aula 02 – Freud e o inconsciente O que possibilitou a emergência da Psicanálise? No Século XVIII, na era moderna, a nova concepção do corpo e um novo saber sobre o homem começa a se constituir. Assim surgem descartes, fala da proposição: Pensar a subjetividade no qual as certezas objetivas haviam sido abaladas (instituições), o homem assim volta à atenção a subjetividade (mas não ao sujeito). Descartes lança o seu olhar a subjetividade com a frase “penso logo existo”, assim inaugura-se o pensamento da racionalidade. A Psicanálise surge como a terceira feriada narcísica do homem. Freuddescobriu, Copernico avisou que a terra não e mais o centro do universo, e Darwin mostrou a teoria da evolução. Momento Histórico: A psicanálise foi transformada numa das mais prestigiosas práticas encontradas pela burguesia para recuperar seus resíduos. No entanto, a psicanálise se apresenta como ruptura com o saber existente. A Maior originalidade de Freud foi propor o inconsciente, lugar de clivagem da subjetividade, que seria a divisão da subjetividade entre uma parte representada e outra representável. A Psicanálise pretende pensar o homem enquanto ser singular antes disso o único lugar onde o discurso era recolhido era no confessionário. A Psicanálise não vai colocar em questão o sujeito da verdade, mas sim a verdade do sujeito. Assim é apontado para o sujeito fendido, aquele que faze uso da palavra “eu penso, eu sou”. No Século XVII, destruídas as garantias externas, resta o eu (Montaigne) o mundo exterior. Descartes põe esta dúvida em ação “exerce-a”, nesse momento realiza-se a partilha entre a razão e a desprezão. Antes do Século XVII não havia o louco como entidade diferenciada, ele era tido como a diferença. A loucura atingia não os pensamentos, mas o homem; e assim se o que distingue o homem do animal é a racionalidade. O louco identifica-se com o animal, daí surge as práticas de dominação da loucura, no qual o louco deveria ser segregado, asilado. No saber psiquiátrico – O Psiquiatra seria daquele que iria salvar a sociedade da ameaça que o louco representava. O Louco não era curado, era domado. A Loucura era doença sem corpo, era literalmente uma doença mental. Na Loucura fabricada – A Psiquiatria ainda buscava encontrar um critério seguro para distinguir a loucura da simulação.

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Surge a experiência de Moreau de Tours com Haxixe, cria-se assim, um espaço comum entre o normal e o patológico Moreau de Tours também observa que este estado de loucura também pode ser percebido nos sonhos. Anton Mesmer cita que todos os seres estavam sujeitos a influências magnéticas. Assim não se faz necessários imãs, basta o contato com a mão que o efeito terapêutico é alcançado. A esse efeito da sugestão que constituiu no princípio da hipnótica empregada por Freud em seu início. Charcot, neurologista e professor de anatomia e patológica da faculdade de Paris, não encontra qualquer material anatômico na histeria, contudo obedeciam às regras precisas. Interessa-se por esse distúrbio, cuja grande questão era definir se se tratava de simulação ou de um sintoma verdadeiro.

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Aula 03 - Cinco lições de Psicanálise - Teoria do Trauma Psíquico Em 1909, Freud é convidado para os Estados Unidos para fazer uma exposição sistemática de sua teoria, uma palestra sobre o que estava escrevendo, e dessa exposição surgiu o texto das “cinco lições” que era um resumo de sua obra, do seu trabalho de 1893 à 1909. Entre 1885 e 1886 Freud estava com Charcot, em Paris, e acompanhou os estudos sobre a histeria e teve suas experiências com a hipnose com base na sugestão. A influência de ambos nas concepções iniciais da teoria psicanalítica poderá ser bem avaliada nas “Cinco Lições”. Essas concepções tiveram sua primeira expressão na nota prévia que Freud publicou em 1893 com Breuer, intitulada “Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos”, a que se seguiu, o livro, também em colaboração, “Estudos Sobre a Histeria”. Freud e Breuer começam a pesquisar juntos em Viena, em 1893, buscando compreender a histeria, que até então, não era entendida, não se sabia dizer como alguém ficava histérico, sendo assim, era vista como “doença da mente” por ter discordância com a razão e avançando em direção ao campo da loucura. O pensamento filosófico da época, 1880, era de que o homem seria um ser totalmente consciente de suas experiências de vida, do que sente e do que pensa por isso a frase, “Penso, logo existo”, e a mente desta pessoa era considerada uma “mente inteira”, ou seja, de alguém com a mente normal. Já uma pessoa com a histeria, teria uma mente dívida entre consciente e inconsciente, pois algum episódio vivenciado provocava esta divisão, então eram consideradas pessoas com a mente doente, ou seja, uma pessoa histérica. A histeria de caracterizava, na época, por aqueles com a mente dividida. Este era o entendimento de Freud e Breuer, que a partir dos casos clínicos como de: Anna O. eles tentam explicar através de uma teoria o porquê desta divisão da mente. Diferente de Charcot, Breuer e Freud acreditavam que conhecer a história da pessoa e do sintoma era muito importante, sendo assim a chave para entender como esse paciente pensava. Os pacientes histéricos passaram por uma experiência que por algum motivo não teve o seu afeto exteriorizado, e assim, essa experiência provocou a divisão da mente. Essa experiência fica guardada numa parte da mente onde o sujeito não tem acesso e assim se deu o nome de inconsciente. As pessoas foram divididas então entre normais que nunca passou por experiências traumáticas e histéricos que viveu uma experiência traumática e não teve o afeto exteriorizado. A teoria do Trauma foi uma tentativa de explicar como que funciona a mente de uma pessoa histérica. A hipnose era utilizada para que a pessoa lembrasse e contasse o trauma para que o afeto fosse liberado e o sintoma desaparecesse. A exteriorização do afeto via hipnose se chama ab-reação e o nome desse método inventado pelo Freud e Breuer se chama método catártico. Freud e Breuer se divergem no momento em que Freud tem a ideia de que as experiências traumáticas elas não são apenas experiências vividas, mas 6


fantasiadas, que teriam um cunho sexual e provocavam os mesmos sintomas. Trabalhando sozinho, Freud publica a “Interpretação dos Sonhos”, que traz outro entendimento da mente que é a teoria do recalque, que é a teoria que temos até hoje.

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Aula 04 A partir da neurologia, as histéricas que era do interesse de Charcot, ele fazia uma listagem de sintomas, que era parte do quadro nosológico para ser considerada uma doença neurológica. Diferentemente da psiquiatria que fazia uma ‘’domesticação’’ da loucura. Diante disso existia um certo conflito entre esses dois campos porque Charcot traz de volta o sujeito a sociedade, porque ele acreditava que a histeria estava ligada a um quadro de um estado hipnótico que surgia a partir de um trauma, que causava uma descompensação do quadro neurológico. A partir disso Freud então, utilizava o método da pressão na testa, que consistia no ato de pressionar a testa e após pressionar o paciente iria se lembra do que havia acontecido, no dia que o sintoma apareceu. Freud acreditava que não existia pensamentos aleatórios, desarticulado, ele sempre vai ter uma linha de raciocínio. O caso tratado por Freud de Elizabeth Von R Freud utilizou do método da pressão na testa, visto que a técnica hipnótica em alguns pacientes não tinha o resultado esperado, comparado com esse método. A sugestão então se mostra como o processo de influenciar as decisões e pensamentos de uma pessoa, de modo que ela apenas aceite, Freud costumava deixar o seu paciente livre durante a terapia. Freud a atendeu por 6x por semana durante alguns meses, mulher de 24 anos dita por Freud como ‘inteligente e mentalmente normal com um ar alegre’ foi encaminhada por um colega que já apresentou um diagnóstico de histeria, mas Freud não acatou esse diagnostico como verdade, investigou para se certificar que não fosse outra coisa. Paciente se queixava de dores na perna, dificuldade para caminhar e cansaço, mas Freud não percebe tanta dificuldade para caminhar e fazer o diagnóstico diferencial ele faz certa discrição como seria um paciente e descreve uma dor orgânica, hipocondríaca ou histérica, o que diferencia para ele essas dores são que quando a dor é orgânica o paciente tem uma clareza para descrever a dor, em contrapartida a dor hipocondríaca o paciente se estende na descrição da dor, como se as palavras não conseguisse descrever tanta dor, Freud não localiza Elisabeth em nenhuma dessas duas dores. Ele a examina e quando tocam nos pontos de dor descritos por ela, ele percebe expressões antes de prazer do que de dor, ele nota um certo gozo, (exemplo: massagem num ponto dolorido) misto de dor e prazer. Freud tenta hipnotizá-la a coloca deitada e pede para ela se lembrar de como aquelas dores tinham começado, a princípio ela já traz algumas coisas, mas em outros momentos não consegue associar nada que possa ter motivado aquela dor. (Onde existe um sintoma existe uma amnesia, ou seja, uma lacuna da memória, existe uma experiencia que foi vivida em uma intensidade que foi traumática para o aparelho psíquico e que conviver com essa experiencia é insuportável para o eu. Então Freud formula por esquecimento o recalque, que seria essa força que expulsa essa ideia do consciente e no seu lugar, deixa o esquecimento diante disso Freud entende que existe essa força que expulsou a ideia, então a mesma volta disfarçada de sintoma.) 8


Dessa forma Freud oferece para ela o tratamento catártico, que seria o reviver da situação que a gente recupera em determinados momentos, e a partir disso teria uma liberação de energia que seria a ab-reação, aquele afeto que tinha ficado reprimido ele volta catarticamente e o afeto também vai ser expresso, para Freud aquilo também resolveria o problema, a medida que você se conectasse com a experiência traumática viveria aquilo, expressaria o afeto e se resolveria. Elisabeth começa a dizer da sua relação com o pai, que esse pai sempre disse que ela era o filho que ele não teve como seu amigo, sempre a colocou num lugar de homem, ela queria estudar, viajar e naquela época mulher não tinha direitos, poderia somente se casar e ter filhos, mas o pai sempre a apoiou, até que o pai morreu, ela nunca se sentiu confortável nesse papel feminino, mas devido a morte de seu pai ela ficou desamparada, na doença dele quem cuidou dele foi ela. Ela relata a Freud um dia que teve uma festa e o pai disse para ela ir encontrar um homem que já tinha sido aprovado por ele, foi uma noite incrível mas quando voltou para casa o pai tinha piorado muito, então ela recalca as lembranças dessa noite tão boa, pois associou a piora do pai a noite, porque ela entendeu que estava pagando por ter saído. Freud localiza no seu relato que neste dia, foi o primeiro dia que ela sentiu a dor na perna, ele percebe que tinha uma perna que doía mais nela que quando se lembrava do pai e do amigo, já a outra perna doía mais quando se lembrava da irmã e do cunhado, ela se lembra que um certo dia ela iria caminhar com os amigos e chamou o cunhado e a irmã, mas a irmã não pôde ir e o cunhado foi, caminharam durante todo o dia e durante a caminhada ela percebeu que gostaria de ser tão feliz tanto quanto a irmã era com o cunhado. Quando a irmã morre, o percurso foi bem cansativo, as pernas estavam cansadas, quando ela encontra a irmã morta inconscientemente ela pensa que o cunhado está pronto para ficar com ela, somente depois disso que toda dor vem à tona. A paciente nunca cansou de repetir que o doloroso da morte havia sido seu sentimento de desamparo, o sentimento que ela não poderia dar um único passo à frente.

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Aula 05 – 2ª Lição - Teoria do Recalque – Resumo volume II – Estudo sobre Histeria Caso Elisabeth Von R. (Freud) Freud e Breuer trabalharam juntos de 1893 a 1900, e publicam o livro “Estudos sobre a Histeria Vol.II”, acreditavam na importância de conhecer a história do paciente, diferentemente de Charcot, que focava somente na cura dos sintomas. Breuer e Freud pesquisavam sobre o funcionamento da mente, através de estudos de casos, os quais detinha um diagnóstico de histeria, porém os dois queriam identificar a causa desta doença e não somente os sintomas gerados por ela. Breuer começou a atender uma paciente a Sra. Ana O. a qual detinha vários sintomas crônicos. Utilizando a hipnose como instrumento, Breuer conseguiu auxiliar a eliminação dos sintomas através do método catártico, o qual é definido como um procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e, então, reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos a eles ligados. A fala é o meio pelo qual estes afetos são eliminados. Freud auxiliou Breuer nesta análise, porém começou a discordar do mesmo em alguns aspectos. Para Freud, a experiência traumática poderia ser também uma experiência imaginada, fantasiada de cunho sexual. Logo após o encerramento do caso da Ana. O., um ano aproximadamente, Freud começou a atender um caso sozinho, para verificar sua teoria. O caso Elisabeth Von R. Neste caso, Freud começa a abandonar a hipnose, pois ele verifica que a maioria das pessoas não são hipnotizáveis. Uma pessoa para ser hipnotizada precisa querer, estar disponível para esse processo. E durante seus atendimentos Freud não conseguia hipnotizar a maioria de seus pacientes, com isso ele começa a achar a hipnose enfadonha, mística e incerta. Passa então a usar o método catártico sem o uso da hipnose, sugestionando os pacientes em seu estado normal a falar tudo que sabiam sobre as cenas vivenciadas. Porém com o abandono da hipnose, surge um novo dilema: Como fazer o paciente falar daquilo que ele mesmo não sabe o que é? Durante sua pesquisa ele verificou que a solução seria insistir com o paciente nas questões que ele demandava. No caso Elisabeth, para que pudesse pesquisar o funcionamento da mente, ele a atendia seis vezes por semana, ou seja, um trabalho intenso. Freud descobre durante sua pesquisa que quando os pacientes relatam expressões como: não sei; não me lembro; acho que não tem mais nada etc. Eles estão bloqueando o acesso a memória. Freud descobre que existe uma força mental que nos impede de lembrarmos aquilo que está dentro de nós que gerou o sofrimento, ele nomeia essa força como “RESISTÊNCIA”. Essa foi a grande descoberta de Freud e até hoje e a base da psicanálise. O objetivo da Psicanálise é vencer essas resistências. Porém neste período, Freud ainda não havia estruturado a Psicanálise, estava nos primeiros passos para sua criação. Para Freud, as mesmas forças que hoje, como resistência, se opõem que o esquecido volte à consciência, deveriam ser as que antes tinham agido expulsando da consciência os acidentes patogênicos correspondentes. A esse processo, ele deu o nome de “RECALQUE”, que é uma força que expulsa do consciente a ideia/pensamento/desejo conflituosos que gerou o trauma, ocasionando o esquecimento. Quando as ideias são incompatíveis com as ações morais do eu, o recalque é acionado e os pensamentos 10


recalcados são enviados para o inconsciente. O inconsciente é pulsável, ficando à espreita para vir ao consciente, aguardando uma brecha para vir à tona, porém a resistência impede esse acesso, ou seja, é uma luta entre o inconsciente e o consciente. O “SINTOMA” é justamente quando o pensamento recalcado volta para o consciente. Podemos então definir o sintoma como a formação de compromisso na medida em que ele é o fragmento do material recalcado, porém vem muito disfarçado, irreconhecível do que foi recalcado. Como o sintoma vem disfarçado ele não aguça a resistência, e desta forma obtém acesso ao consciente. Quando o material recalcado volta a consciência, há três saídas para o sujeito: 1) O sujeito compreende que recalcou sem necessidade e aceita o desejo total ou parcialmente; 2) Sublimação, que é a transformação da energia mental (desejo) em outra coisa sempre ligado à criação. Ex. Artes (Dançar, pintar, esculpir, escrever etc.); 3) Controlar o desejo de forma consciente.

Aula 06 - Associação Livre 11


A Questão que desencadeou a continuidade da aula foi: Como eu não sei o que foi recalcado no inconsciente sendo que foi o meu eu que recalcou a ideia conflituosa. A Resposta para isso se deu na explicação do que é o Pré-Consciente. Segundo a Primeira tópica de Freud, que é um desenho do que seria o aparelho psíquico, a mente é dividida entre Inconsciente e Pré-Consciente-consciente. O Pré-Consciente é a nossa atividade em segundo plano, onde decisões são tomadas e o meu eu consciente não participa. Foi pontuado também, que é possível resgatar memórias que estão no pré-consciente através da Atenção. Chamar a atenção para uma memória específica traz ela do pré para o consciente. Vale lembrar também, que quando surge um pensamento conflituoso, quem o recalca é o pré-consciente, e a resistência também ocorrem lá. A Atenção, porém, não consegue acessar o inconsciente pois existe uma barreira intransponível entre o Inconsciente e o Pré-consciente-consciente. Freud começa a tirar algumas conclusões quando percebe que ao comunicar ao paciente o que estava recalcado, ele criava maior resistência e abandonava o tratamento. Ele percebe que ao fazer uma pergunta ao paciente, ele não respondia essa pergunta, mas contava outras histórias. Porém, essas histórias estavam interligadas, e no fim, ocorre o retorno a queixa inicial. O que também fica evidente com as análises de Freud, é que durantes as seções, os temas escolhidos pelos pacientes estão sob influência da resistência, e é isso que faz com que o paciente embora tenha ido para falar de determinado assunto, fale de outros, até que em algum momento ele faz a ligação entre um assunto com a queixa inicial. A todo esse processo, Freud dá o nome de Associação Livre, que seria a forma como o paciente comunica seus pensamentos durante a análise. Freud vai mostrando que a resistência atua não só na formação de sintomas, mas também durante a seção, a fala do paciente. A Pré-seleção dos assuntos que serão levados a consulta feito pelo paciente já estão influenciados pela resistência. Esse ponto responde a seguinte pergunta: Por que demoramos para chegar até onde realmente queremos na terapia como pacientes? Porque o tempo todo lidamos com conflitos, e tentando fugir deles. O psicanalista mexe com as resistências o tempo todo, porém não as aponta, porque fazendo isso faz com que as resistências aumentem, correndo o risco de fazer o paciente abandonar o tratamento.

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O terapeuta tem uma espécie de “termômetro de resistência”, e vai conduzindo a sessão conforme vê a atuação dela, o terapeuta pode “pressionar” o paciente caso a resistência esteja mais fraca, porém deve ficar mais “neutro” caso perceba a resistência forte. A análise demanda tempo, e esse tempo depende muito do paciente.

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Aula 7 - O sentido dos Sintomas: Conferências Introdutórias Vol. XVI Deu se início a aula retornando a estrutura do aparelho psíquico, onde nossa mente está dividida entre inconsciente, pré-consciente-consciente, sendo o pré-consciente a nossa atividade em segundo plano, onde decisões são tomadas sem a nossa consciência. Já no consciente existe uma capacidade limitante de assuntos e tomadas de decisões, e o inconsciente que possui em sua formação o sintoma, sonho, ato falho, chiste. Foi falado também sobre as conferências introdutórias, no texto complementar. Podemos retirar a ideia de que o sintoma da Neurose obsessiva se relaciona com o capitalismo, no que diz respeito ao adoecimento do sujeito, fato é que, o Capitalismo está relacionado com o surgimento do adoecimento da subjetividade ao passo de que o sujeito vive para materializar seus desejos na forma financeira. Outras formas de manifestações do inconsciente, são também conceitos de Freud sobre o indivíduo e a reação que o inconsciente produz: Chistes: Em uma tradução literal significa piada, entretanto para Freud o sentido é um pouco diferente. O conceito de Chistes perpassa o humor, mas se encontra no que Freud chama de “mecanismos de adaptação” que poderia ser analisado pelo duplo sentido que há em um Chistes como por exemplo: - Você deveria parar de fumar… - Eu sou um especialista nisso! Já fiz isso oito vezes Os chistes dizem muito da relação repressiva que ocorre entre o Ego, Id e o Superego. Pois ocorre aí uma denúncia do conteúdo que se falado de forma integral e sem o disfarce do humor, a sociedade condena tal comentário. Já o ato falho, na aula houve somente uma introdução, entretanto a título de esclarecimento: também ocorre o compromisso entre o sintoma e o conteúdo reprimido, entretanto, ocorre neste caso um equívoco proposital, mas de forma inconsciente, seja na fala, na escrita, na leitura. Na forma expressiva do sujeito. Seria como um “sem querer, querendo” o qual o equívoco produz no sujeito uma certa angústia pelo ocorrido. A diferença entre o Chistes e o ato falho se encontra justamente nesse sentido, enquanto o primeiro produz humor, o segundo produz no sujeito uma angústia que está ligado ao conteúdo recalcado.

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Aula 8 - (Texto as cinco lições – Terceira lição): Ato falho e sonhos

O inconsciente é um conjunto de processos psíquicos que estão fora da percepção consciente, dentro dele encontram-se as ideais conflituosas, os desejos proibidos e impulsos ocultos, que podem produzir sofrimento ao eu, que de alguma forma não consegue abarcar ocasionado angústia. Inicia-se então, um processo que Freud dá o nome de Recalque, produzindo um movimento de expulsão dos pensamentos que trazem uma desordem, e são banidos para fora do consciente. Após a expulsão ocorre a formação de uma barreira para que este conteúdo seja mantido dentro do inconsciente, essa competência é atribuída às forças da resistência, e possuem a função de impedir que o material recalcado saia de dentro dela e volte a trazer dissabor ao eu. O inconsciente por sua vez é pulsátil e procura brechas para se revelar e passar pelas resistências, isso só se torna possível por meio da formação de compromisso entre as instâncias psíquicas, onde o material banido pode se apresentar na consciência de forma distorcida que vem através de sintomas, ato falho e os sonhos, estes foram definidos por Freud como vias de acesso ao inconsciente. Freud descreve o ato falho como equívocos da linguagem, outros o consideram um ato bem-sucedido, já que ele consegue escapar das barreiras da censura. Possuem a mesma constituição dos conteúdos do inconsciente, saem trazendo a ideia conflituosa que causa dor e sofrimento para a consciência, de forma disfarçada por ser na maioria das vezes carregada de humor ou um esquecimento, trazendo o conteúdo reprimido sem entrar em contato direto com o que lhe causa angústia, vem no repente e pode gerar um constrangimento. Os sonhos seguem o mesmo mecanismo supracitado, entretanto apresentam-se através de imagens disfarçadas da ideia conflitante para que elas possam superar as barreiras da resistência. Freud traz a ideia de que os sonhos vêm carregados de conteúdo do inconsciente, e sua análise tem por objetivo revelar o que está por trás deles. A interpretação destes não pode partir de um todo, mas sim de forma fragmentada dando sentido a cada elemento de forma separada. A análise do sonho tem um caráter subjetivo, podendo o mesmo sonho ter significados diferentes para cada pessoa. Freud define o que é apresentado à consciência, por meio de um sonho, como Conteúdo Manifesto, este vem de forma disfarçada. Já o que o indivíduo possui em seu inconsciente e que dá força motriz ao sonho, é denominado como Conteúdo Latente. O papel do psicanalista é transformar o Conteúdo Manifesto em Conteúdo Latente, rompendo com o disfarce. Essa transformação é chamada de Trabalho do Sonho. É importante ressaltar que a interpretação do sonho é realizada pelo próprio paciente, o psicanalista irá conduzi-lo utilizando a técnica da associação livre. Para a psicanálise os 15


sonhos e o ato falho são de extrema importância, uma vez que são vias de conhecimento do inconsciente.

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Aula 9 - Atos Falhos - Interpretação dos Sonhos - Sonho da Injeção de Irma As manifestações do inconsciente na rotina de vida dos seres humanos são notórias e percebidas por todos que se dispõe a se abrir para o determinismo postulado por Freud: “na vida, não há acaso”. Através dos atos falhos, que se manifestam não somente através de lapsos de fala e de escrita, mas, também por meio de ações imprevistas que causam espanto aos que as executaram sem a percepção até mesmo de está-las praticando, temos sinais do que está em movimento em direção à consciência. Estas ações são percebidas como um engano, uma falha, mas sob a ótica do inconsciente, estes lapsos representam uma vitória, o alcance da ruptura da resistência, força sublime que atua constantemente para a manutenção de todos os desejos classificados como indignos recalcados. Esta sinalização para consideração das ações práticas da rotina do sujeito, e não somente para os lapsos da fala e escrita, como atos falhos no contexto da Psicanálise foi à abordagem inicial do encontro de 05/04/21 na Unidade Curricular em pauta, que prosseguiu com exemplificações sobre a teoria da Interpretação dos Sonhos apresentada por Freud em 1900. Com referência a exemplos de sonhos de pacientes narrados pela docente e ao sonho vivido e analisado por Freud conhecido como “Sonho da Injeção de Irma”, foi possível assimilar as premissas teóricas e a técnica da Interpretação dos Sonhos, considerando que os sonhos, assim como os atos falhos, sintomas e os chistes, são manifestações deformadas do conteúdo inconsciente que de forma permanente se impõe sobre o sujeito conforme tese enunciada por Jacques Lacan, se estrutura como uma linguagem. A técnica da associação livre é a ferramenta ideal para que a interpretação do que se diz sobre os sonhos possa ser reconhecido e traduzido para a linguagem da vida psíquica do sujeito em seu estado de vigília, de modo a possibilitar o tratamento dos conflitos oriundos do inconsciente. Identificar os elementos do sonho narrados pelo sujeito com a escuta atenta para a percepção das resistências manifestadas através dos elementos disfarçados é o desafio do analista que, para Freud, simboliza a sua habilidade para prática da Psicanálise. E isto deve ser praticado até que se identifique, sempre por meio da narrativa, o “ponto duro” ou o “umbigo do sonho” que demarca a exaustão, ainda que temporária, dos elementos que compõe a infinita cadeia de significantes que se apresentam em um sonho. O reconhecimento do sonho como manifestação de um desejo é premissa para a sua interpretação, ainda que este desejo seja a necessidade de elaboração de angústias, como os sonhos repetidos narrados por pacientes que vivenciaram situações de guerra e sonhos comuns ao coletivo neste tempo de pandemia. Especificamente no sonho com sua paciente Irma, Freud ilustra a manifestação do seu desejo de se isentar da responsabilidade pela dificuldade de obter bons resultados no tratamento da sua paciente, algo que lhe afeto dada a sua ambição por reconhecimento e afirmação na comunidade médica de então com sua teoria em elaboração.

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Com a consciência sobre o trabalho do sonho de deformação do seu conteúdo através dos artifícios de condensação e deslocamento, a busca constante pela distinção entre o conteúdo manifesto, vinculado aos resíduos das lembranças vividas de forma recente, e o conteúdo latente que é a força motriz para que cria o Sonho. A habilidade de interpretação dos sonhos vividos é uma das possibilidades de atuação psicanalítica que possibilita avanços em um tratamento, com a certeza de que quando a necessidade de expressar algo se impõe ao sujeito, todos os meios possíveis são buscados, inclusive sonhar. Que estejamos atentos aos valiosos recados oriundos da vida onírica!

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Aula 10 O encontro foi referente a Lição 4, tendo como texto base “Os 3 Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”. Com foco no subcapítulo 2º Ensaio, que diz da sexualidade na infância, texto que fez com que Freud fosse excluído da sociedade médica de sua época, levantou-se o diálogo acerca da visão que ainda é lançada sobre tal assunto e como essa permanece praticamente igual nos dias atuais. O objetivo principal da aula foi ampliar o conceito de sexualidade e entendê-lo como expressões de busca por prazer. Expressões essas que podem se dar das formas mais diferenciadas e não necessariamente estão envolvidas com o ato sexual. Foram citados exemplos como o ato de chupar pirulito, mascar chiclete e fumar que são formas de estimulação da boca. Deu-se início a uma introdução sobre as zonas erógenas. Que são partes do corpo humano capazes de proporcionar sensação de prazer através do toque, existem áreas definidas como universais e outras que mudam de acordo com cada indivíduo. Freud descreve a boca como uma das zonas erógenas universais, sendo essa responsável pela manifestação sexual nos recém-nascidos pelo ato de chupar chupeta, dedo ou qualquer outra coisa que encontrar pela frente. Ainda acerca da sexualidade na infância, falou-se sobre a busca por conhecimento do próprio corpo e o corpo dos outros, indo atrás de reconhecer as diferenças entre tais. Freud chama essa investigação de expressão de sexualidade. Também se iniciou a explanação do caso “O Pequeno Hans”. O caso do menino Hans foi acompanhado e descrito pelo próprio pai da criança, que era médico e tinha interesse na Psicanálise. Sua descrição era através de anotações de diálogos que o menino tinha com os pais. É citado, brevemente, o primeiro diálogo anotado, no qual Hans pergunta à mãe se ela tem um “pipi”, o que demonstra seu interesse em conhecer o corpo do outro. Freud se comunicava com o pai de Hans através de cartas e teve apenas um encontro com o garoto, excluindo isso, nunca chegou a atender uma criança. A partir daí, falou-se rapidamente sobre como se dá o atendimento de crianças na psicanálise. Foi explicado que o brincar seria como a associação livre para crianças. A aula foi encerrada com casos de manifestação das fantasias infantis em forma de perguntas que muitas vezes deixam adultos desconcertados. Indicações de textos: O mal-estar da civilização Moral sexual civilizada 19


Aula 11 - Sexualidade Infantil: Caso Hans Começamos a aula falando sobre como a sexualidade infantil é um assunto delicado, e assim, as crianças acabam escutando termos inadequados para a situação, em sua maioria vindas de um adulto como: “seu pipi vai cair”, “isso não é coisa de mocinha”, “menina bonita não coloca a mão aí”... E como essas frases impactam na vivencia da sexualidade, principalmente nas mulheres, essas frases ditas para meninas são ditas em cima de um comportamento a ser seguido. Essas curiosidades em cima da sexualidade fazem com que as crianças tenham interesses em entender não só o próprio corpo como o do outro e estas curiosidades são estendida a cenas cotidianas por exemplo: estar interessado a ver o “pipi” do cavalo. Essas “pesquisas” em cima da sexualidade são chamadas “pesquisas sexuais” por Freud. A partir das curiosidades, surgem conclusões feitas pelas crianças, juntando alguns fatos e um pouco de imaginação, surge as teorias sexuais infantis: - Os bebês nascem da cloaca da mãe; - O coito é um ato agressivo de um em relação ao outro; - Universalização do pênis, todos os seres humanos têm um pênis. Caso Hans: Com cinco anos de idade, Hans desenvolve uma fobia, de que um cavalo vai morde-lo na rua. Na época era algo muito significativo, porque o meio de transporte principal eram os cavalos. Com o aparecimento dessa fobia, o pai acusa a mãe de Hans de ser a responsável pela neurose da criança, um dos motivos que ele considerava eram as excessivas demonstrações de afeto e a frequência e facilidade que a mãe o levava para sua cama. Freud diz que a mãe pode ser acusada como culpada, mas que ela se encontrava em uma posição difícil, pois a mãe tinha um papel dentro da temática do complexo de Édipo. Assim Freud diz para o pai conversar com Hans sobre os meninos serem diferentes das meninas. O pai segue o conselho e conversa com a criança, mas ela não acredita que seja verdade (a universalização do pênis se mante). Com o esclarecimento sobre a diferença sexuais, Hans conclui que as meninas perdem seus “pipis”, já que por volta dos três anos e meio ele havia escutado de sua mãe: “O Dr. A. vai cortar o seu pipi”, isso é chamado de ameaça de castração. Assim Hans fica com o pensamento de que a qualquer momento ele pode perder o seu “pipi”.

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Aula 12 – Caso Hans e Complexo de Édipo Na aula do dia 26 de abril, nós estudamos o caso Hans e complexo de Édipo. Vimos sobre a fobia de Hans com cavalos e também da interpretação da fantasia das duas girafas, nesses dois casos mostra o medo de Hans de perder o contato que ele tinha com a mãe, medo do pai tomar seu lugar de ser o mais amado e ter a atenção só para ele. Hans via o pai como uma pessoa que veio para roubar sua mãe dele e desejava que ele sumisse, “caísse” para ter a mãe só para ele novamente. Falamos também do complexo de Édipo que é quando a criança desenvolve um sentimento libidinoso com relação mãe. Com o tempo a criança percebe a mãe não dar atenção mais só para ela e começa a dar atenção ao pai e tudo passa primeiro por ele. A criança sentirá raiva porque sempre passou anos da vida sob os cuidados da mãe, quando ela é deixada sozinha, para sair com outra pessoa a ela passa a sentir raiva disso. A mãe que só tinha olhos para o filho, passa a ter olhos para outra pessoa, e o filho reproduz fazendo a mesma coisa. O pai que manda e a criança tem raiva disso, pois antes ela que era o centro de tudo, agora tudo o pai que tem que “deixar” tudo o pai que decide. Assim é introduzido uma 3º figura na vida dessa criança, fazendo com que ela sinta raiva pelo mesmo, querendo que ele desapareça.

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Aula 13 - IV LIÇÃO A sexualidade é um dos temas centrais da psicanálise. Para Freud, a sexualidade é sempre infantil e é nela que encontramos a causa dos sintomas patológicos, além disso ela é sempre traumática, para quem quer que seja, logo esse trauma vai voltar como um sintoma. Nesse momento Freud ainda não sabe explicar o porquê da sexualidade estar relacionada aos sintomas patológicos. “Bem sei que não se acredita de boa mente nessa minha afirmação. Mesmo os investigadores que me seguem solícitos os trabalhos psicológicos são inclinados a julgar que eu exagero a participação etiológica do fator sexual, e vem a mim perguntando por que outras excitações não hão de dar também motivos aos fenômenos do recalque e formação de substitutivos. Por ora só lhes posso responder: Não sei. Mas a experiência mostra que elas não têm a mesma importância”. Existem alguns sintomas que inicialmente não estão ligados à sexualidade, mas à medida que adentramos a situação colocada, chegamos à sexualidade. O trabalho das ideias sempre chega a infância e puberdade, sempre se chega aos conflitos com as figuras primordiais (pai-mãe). Mesmo os sintomas que parecem não ter nada com o sexual, no trabalho analítico retrocede a sexualidade. Quando reduzimos a sexualidade somente ao sexo/coito, reduzimos seu potencial e compreensão. Quando questionado sobre a existência da sexualidade infantil, Freud diz “ Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, para deixá-las passar despercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte”. A principal fonte de prazer inicialmente é o próprio corpo = prazer autoerótico, baseado nas zonas erógenas: boca, pele, genitais. É uma forma de prazer sexual mas não é voltado para a reprodução. À medida que a criança cresce, a zona genital assume maior importância e segue em direção a reprodução. As zonas erógenas não são abandonadas totalmente, são zonas que podemos ter algumas resistências, por repressão social e pela educação, mas tem relação muito grande com prazer. ex: beber, fumar, chupar bala. A sexualidade não tem um objeto específico de prazer, não sabemos sobre a sexualidade pois maioria dos homens ocultam informações sobre a vida sexual, sendo assim os objetos podem ser diversos. Pulsões e diversas pulsões da vida psíquica: A pulsão parcial se satisfaz com partes do corpo. Cada pulsão vai tentar se satisfazer independente das demais (oral, anal, genital, fálica)

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As demais caminham em pares: ativa (sadismo) e passiva (masoquismo) A pulsão infantil a princípio é auto erótica e depois é direcionada a um objeto (pai ou mãe). É onde acontece a escolha do sexo oposto para investir seu lado erótico e a pessoa do mesmo sexo para disputar. ex: menina investe no pai e disputa com a mãe. O complexo de édipo é o complexo nuclear da neurose, a partir dele compreendemos as instâncias psíquicas do sujeito. Vídeo do Fabio Belo sobre pulsão e instinto: Instinto foi traduzido do alemão para o inglês, mesmo com a anuência de Freud, este termo não expressava com exatidão o que Freud gostaria. Instinto carrega em seu significado uma força política muito empregada em grupos religiosos e campos moralistas usando o instinto como um suposto regulador natural de como nós devemos nos comportar, por exemplo: maternagem, sobrevivência ou suicídio, uma maior virilidade masculina que determinaria a superioridade dos machos... todos esses carregam consigo fins mais políticos do que algo somente natural. Não tem uma neutralidade como se gostaria. A pulsão, para Freud, é uma força constante cuja fonte é o corpo. O objetivo da pulsão é a satisfação, mas a pulsão não tem um objeto pré determinado para a satisfação, já que esse objeto é contingencial, ele é determinado por nossas histórias singulares libidinais.

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Aula 14 - COMPLEXO DE EDIPO – HANS. – 4 LIÇÃO Quando nasce a irmã Hanna, ele vê a parte genital dela como algo bonito e fofo. Hans tinha uma fobia que só veio a aparecer com 5 anos de cidade, e partir disso que o pai do mesmo procurou o Freud para obter ajuda. Freud teve um insight e acreditou-se que o menino estava com complexo de édipo, pelo fato de Hans gostar da mãe. A ansiedade de Hans (o medo de cavalos) foi eliminada naquele encontro. Na fobia de Hans por cavalo na verdade a ansiedade do mesmo era o medo de cavalos era o medo do pai. A falta produz o desejo, e isso movimenta a vida. Vemos a mãe suprindo a falta e finalmente se completando com a chegada do bebê, até que a criança percebe que além da mãe, há uma figura paterna, o pai, e que não há somente dois, mas três, rompendo a ligação que existe entre mãe e criança. A criança se sente abandonada, traída, sozinha e com raiva. Quando a relação da mãe e criança não é rompida, a criança pode-se se tornar psicótica. A função paterna exerce um corte na relação que a criança e a mãe tinham, exercendo a castração na criança. - TOTEM E TABU: Freud diz que haverá um dia que os filhos irão querer ter acesso as fêmeas, porém, a presença do pai os impede.

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Aula 15 A psicanálise é uma psicologia do desenvolvimento que passou, ela própria, por uma acentuada evolução. Em 1915 houve a acrescentarão a seção sobre o Complexo de Édipo, é um conceito criado pelo psiquiatra austríaco Sigmund Freud. Ele foi embasado na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles. Freud utilizou da literatura grega para explicar o desenvolvimento sexual infantil de uma criança do sexo masculino, que numa determinada fase cria fortes desejos pela mãe. Por outro lado, o menino cria certa rejeição pelo pai, indivíduo com quem divide a atenção materna e, ademais, aquele que dorme com sua mãe. Freud atribuiu essa falta de conhecimento quase universal da atividade sexual infantil ao pudor e ao decoro, mas não só a ele. O período de latência desde os cinco anos até a puberdade, essa fase de desenvolvimento em que as crianças fazem enormes progressos intelectuais e morais, empurra a expressão de suas sensações sexuais para o segundo plano. Esse amor, segundo a teoria psicanalítica, traduz um desejo incestuoso da criança com a mãe, numa fase denominada fálica, ou seja, dos 3 aos 6 anos. Nesse momento, ela começa a descobrir seu corpo, seus órgãos genitais e compreender as diferenças sexuais. Além disso, é nessa fase que ela percebe que não é o centro do mundo, ou seja, que não é mais tão dependente de seus pais. Com isso, segundo Freud, o garoto, nessa fase confusa de construção de libido, cria um desejo pelo sexo oposto, no caso, sua mãe. Nesse sentido, ele começa a ver seu pai como rival, ao mesmo tempo em que pretende obter seu amor e sua atenção. Segundo Freud, esse conflito é o pai quem deve romper, de modo a estabelecer uma identidade masculina e, consequentemente, um equilíbrio no desenvolvimento afetivo-sexual do filho. Assim, a criança continua a se espelhar no pai e, posteriormente, buscará uma mulher semelhante a sua mãe. Note que o conceito “Complexo de Édipo” pode ser utilizado em ambos os sexos. Ou seja, os meninos sentem forte atração pela mãe, enquanto as meninas são atraídas pela figura paterna. Segundo Freud o que todos costumam chamar de “normal” no comportamento sexual é, na realidade, o ponto final de uma longa peregrinação, muitas vezes interrompida, objetivo que muitos seres humanos nunca – e a maioria deles apenas raramente – alcançarão. A pulsão em sua forma madura é uma conquista.

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Aula 16 - Édipo em Freud e Lacan – os três tempos de édipo O que é a castração dentro do complexo de édipo? Na psicanálise temos a castração simbólica (que é o dizer não, cortar uma relação) e a castração imaginária (cortar o pênis e a menina que perdeu o pênis). Podemos falar que castração é a falta simbólica de um objeto imaginário, a Castração mais ampla é chamada de simbólica, que dá um efeito ao sujeito, algo mais do que cortar ou perder o pênis. O complexo de Édipo proposto por Lacan a partir de três tempos, aponta para uma "relação" diferente com o campo do outro e com a castração No primeiro tempo, existe apenas dois personagens, sendo eles a mãe e o bebê. Essa relação mãe-filho é caracterizada onde, o filho é identificado ao falo materno (único objeto que pode satisfazer a mãe), sendo a mãe, para a criança, um Grande Outro. A mãe é para o bebê aquela que sabe tudo sobre ele e também a mãe se sente completa. O bebê é para a mãe aquilo que preenche ela. Portanto ela se sente completa. Quando Lacan diz Grande Outro, ele quer dizer que é um referencial, alguma coisa que dá códigos de conduta, aprende a ética, toda a nossa linguagem (significante que lhe representa), tem a característica de ser algo que vem como uma lei ou inquestionável, por esse motivo é o grande outro. Um conceito Lacaniano para dizer que para cada sujeito terá um grande outro ao qual se refere. Aquilo que preenche a mãe, significa o FALO, o objeto que preenche uma falta, pois o falo não é uma coisa concreta. É um objeto, aquilo que não é o EU, é um objeto que preenche a falta da mãe. A falta, nunca é preenchida, essa falta está intimamente ligada ao desejo, pois falta o que é desejado. A mulher antes de ser mãe era um sujeito de falta, quando aparece o bebê para a mulher é o desejo de ter alguma coisa que lhe faltava, então ela vê como o bebê vai completar aquilo que faltava para ela. O Segundo tempo do Édipo é caracterizada pela existência de um terceiro, o pai, que rompeu a relação mãe-filho, para que a criança enfrente o problema da falta. O pai passou a ocupar uma posição importante (Nome-do-Pai), o que parecia uma metáfora para a ausência da mãe, ocupando assim uma importante posição do desejo materno. O pai já existia, mas não existia dentro do complexo de édipo, não existia na construção subjetiva da criança. A criança vê nesse segundo tempo que a mãe está com a atenção dívida entre a criança e o pai, que a mãe não está a todo tempo com a atenção para a criança, então essa criança se sente largada. A partir daí inicia-se um deslocamento, o filho imaginou que o falo da mãe era o pai não mais ele. Nesse sentido, pai e falo se confundem, pois este é um falo imaginário, em que o pai está marcado como privador.

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Portanto, a característica do segundo tempo de Édipo é que a intervenção desse terceiro introduz a lei da castração na relação mãe-filho, para que a criança se depare com a questão da falta, portanto, podemos dizer que o pai faz essa castração com uma interdição em dizer não, em mostrar que o filho não é o falo da mãe e a mãe também não é o grande outro do bebê. A mãe era antes um sujeito de falta, logo, ela volta a ser um sujeito de falta depois da castração. Se o bebe não é mais o falo da mãe, ele será um ser de falta, assim, poderá constituir em ser um sujeito de desejo. Quando tem a incidência de castração, tem a possibilidade de ser um sujeito de desejo, sendo um sujeito de falta. A castração simbólica fundamental, vai fazer um corte exatamente na identificação que a criança tinha em ser o falo da mãe, ele não será mais o falo da mãe ou objeto de outro.

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Aula 17 Iniciou-se contanto uma história intitulada como: ‘’A PARTE QUE FALTA’’, fazendo uma analogia com o complexo de édipo. Foi ilustrado na história que nós passamos pelo complexo de Édipo, e que o momento em que a mãe encontra uma parte ideal, que é o bebê, ela olha e fala: ‘’é perfeito pra mim.’’ O filho vem e tampa a falta da mãe, uma falta que ela acreditava que faltava, este passa a ser o falo da mãe. Neste momento a mãe pensa estar completa durante a fase de maternidade sendo este um lugar não muito tranquilo, mas um lugar que lhe causa angústia. Esta percebe que não consegue mais aproveitar e viver outros momentos. Deparamos então na reflexão sobre a função do pai, que não se trata de uma pessoa apenas, mas pode ser um lugar, o ser pai é uma função. É o pai que vai fazer essa função de corte, onde a mãe passa a olhar para longe e não encontra mais resposta nessa criança. Voltamos ao caso Hans, em que o pai dele não o protegeu da mãe em nenhum momento, buscando assim uma alternativa que é a fobia. A fobia veio substituir o pai que não era operante. O pai não precisa ser um pai com bibliografia bacana, não precisa ser vivo e nem se quer ser um homem, ele precisa mobilizar o desejo dessa própria mãe, e esta decide abrir mão desta parte. Assim chegamos no campo da neurose. Neste momento acontece então: primeiro o corte da função do pai, a partir disso os 3 momentos do Édipo que se resulta na neurose. Só a partir da vivência desses três tempos vividos e o corte que acontece a neurose, a ausência desse corte se dá a psicose e o corte mal feito a fobia. Se tivermos uma castração afirmada e negada, a gente vai encontrar a perversão. Sendo, portanto, o édipo um conceito importante para nossa próxima caminhada de entendimento das estruturas psíquicas do sujeito. A proposta de LACAN se dará em 3 tempos. Lacan diz sobre como fazer esse corte nessas relações, mas não dá para saber o que mobiliza esse momento e só vamos saber essa posteriori, que é a linguagem. A linguagem é uma estrutura do inconsciente, possuindo suas regras próprias e só entendemos o que alguém fala após concluir a frase. Esse momento de conclusão só sabemos depois que ele passou, não conseguimos intervir ou fazer um corte antes dele acontecer. Foi destacado que o inconsciente é atemporal, não sendo estruturado logicamente. Ao saber sobre o complexo de Édipo, temos a culpabilizar o pai, por fazer esse corte e culpabilizar a mãe pela vida psíquica do sujeito, mas todo esse processo é necessário e inevitável, que acontece de forma inconsciente. No primeiro momento de Lacan, acontece a constituição do sujeito. O sujeito não é o EU, por que o EU é consciente, se dá na consciência. Já o sujeito é aquele que constitui na relação, é um desejo (que é tentar preencher aquilo que falta, inconsciente). Quando falamos do sujeito, estamos falando do sujeito do inconsciente que vai se formar na 28


relação do outro, que é a própria linguagem. O sujeito é este que constitui na relação da linguagem. Lacan buscou e retornou ao Freud, para fazer sua leitura, construindo a partir da Melanie Klein essa precocidade do édipo. Retirando a questão do gênero, de o pai ser homem e mãe mulher. Lacan segue a partir do édipo como estrutura, se baseando na experiência de um psicólogo que estava interessado em como nascia a representação psíquica, como começamos a nos perceber e como as crianças se constituem socialmente. Este psicólogo faz experimentos com crianças e chimpanzés, os coloca na frente do espelho, e o primeiro movimento do bebê e chimpanzé são iguais ao princípio que é: tentando pegar aquela imagem, olhar atrás do espelho, etc. Mas depois o chimpanzé desiste, perdendo o interesse. A criança não, o bebê começa a ter uma experiência de júbilo e alegria, de diversão e prazer com aquela imagem. Vale ressaltar que a pulsão do bebe é buscar se satisfazer no próprio corpo, e por ela ser parcial e acéfala, (sem sentido), a vivência que ela possibilita nesse primeiro momento é uma vivência desintegrada, chamamos de auto erotismo, o prazer no próprio corpo em diferentes partes. Quando alguém diz para criança: ‘’alá você no espelho!’’ e a criança se regozija sente prazer ao descobrir essa relação de imagem do próprio corpo, ele vai criar uma espécie de unidade, que é o próprio EU, aquilo que dizem de mim e não propriamente sobre mim. Essa linguagem, se mostra para o bebê que o corpo é integrado. A partir disso passa a vivenciar o corpo como integrado, nesse momento temos a visão integrada, partindo assim para o narcisismo. O narcisismo significa o investimento libidinal, amoroso no Eu, está nessa constituição do Eu e que se torna um investimento libidinal. Todo investimento amoroso e libidinal vai se chamar na psicanálise de narcisismo, sendo essa uma etapa do desenvolvimento biopsicossocial do sujeito e não algo negativo como diz o senso comum. O eu não constituído pode se dar em autismo ou psicose, e a vivência inicialmente de um corpo fragmentado, sem sentido, deve passar para um corpo unificado, integrado. O bebe vai trazer esse outro, esse ser inconsciente que vai ser dividido no nível imaginário, essa imagem, esse EU ali no espelho. O EU é aquele imaginário consciente, e o sujeito é inconsciente um todo a soma do complexo de édipo e O EU. Nesse momento de constituição do EU, dessa imagem, vai ser um momento que estamos nos separando da mãe e nos vemos em falta. À medida que nos separamos da mãe, vamos constituindo o sujeito do inconsciente. A imagem integrada vai de alguma maneira dar suporte nessa vivência imaginária com a mãe (sou inteiro. O corpo todo despedaçado está junto) até que uma coisa começa a destruir essa imagem de completude, que é a entrada do pai, ( e na mãe acontece que alguma coisa em sua constituição, e que em seguida passa a buscar algo além desse bebê). Lacan chama NOME DO PAI, que é um nome momento, o momento em que a linguagem entra, e é o momento que se coloca o NÃO DESSE PAI. 29


Ao final a Dani apresenta um caso vivenciado no consultório, no qual uma menina ao ficar ressentida com a mãe, pois esta não deu à menina algo que teria ter recebido que é o falo, e na adolescência o édipo vai ser revivido, pois o corpo já está preparado para a sexualidade e pode ser vivido de forma completa. E justamente nesse momento de reviver essas questões edípicas é gerado um incômodo porque essa mãe passa a colocar outra pessoa no lugar (o padrasto) que era o lugar para a filha se corresponder. Por isso a adolescente volta a agressividade para essa mãe.

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Aula 18 A aula realizada no dia 17 de maio teve como foco a temática da Transferência, assunto abordado no texto da 5ª lição de Psicanálise. Ao realizarmos a leitura da 5ª lição, podemos notar a existência de três assuntos discutidos por Freud, dentre eles estão: regressão da libido para a infância, sublimação (temática que Freud trabalha muito pouco) e a transferência. Sabemos que a Transferência é algo importante para a Psicanálise pois tem a ver com o manejo do trabalho, visto que é um tema recorrente na rotina da função. Freud descobriu a existência da Transferência durante o processo psicanalítico e teria chamado esse fenômeno de " ESSA ESTRANHA TRANSFERÊNCIA", pois acontece todas as vezes que tratamos um paciente. Durante suas observações iniciais sobre o fenômeno, Freud notava que os pacientes ficavam muito enamorados pelos médicos. Esses pacientes, por sua vez, demonstravam um grande interesse em realizar coisas que os médicos sugeriram. Na relação paciente e psicanalista existe um outro que está muito interessado. O psicanalista está completamente interessado na vida do paciente, em fazer essa escuta, está interessado no que o paciente pensa e como se comporta. Porém esse interesse do psicanalista não é porque a pessoa é extremamente legal, mas sim porque essa pessoa é nosso paciente. Na terapia nos interessamos na vida do outro pois ali desenvolvemos o nosso trabalho e precisamos saber como o paciente pensa e como se comporta para adquirir material que possa ser empregado na análise. Já o paciente, vai viver esse interesse de uma forma intensa, obtendo a falsa sensação que ele é uma pessoa muito importante para o psicanalista. Esse "sentir-se importante" vai se traduzir em : - vou "trabalhar" bastante e dar ao meu psicanalista o que eu acho que ele quer de mim. Freud chamou essa relação de “troca” de transferência positiva, algo motor. O termo enamorado quer dizer que o paciente não sabe que aquele encontro está com dia e hora marcados, e por este motivo é considerado como um enamoramento artificial, por não se tratar de um amor romântico. Freud escreve um livro onde o mesmo adverte o psicanalista desse amor artificialmente construído pela relação terapêutica, embora esse sentimento do paciente seja real e legítimo (artificialmente despertado). Logo notou se que o termo tem a ver com saber, e por outro lado existe uma admiração pelo saber. A transferência ocorre de forma inconsciente e o processo inverso, que acontece do psicanalista para paciente, denomina-se contratransferência. A transferência é uma questão que parte do sujeito (existe através da presença de pessoas), logo não é produzida pela influência da Psicanálise, ela existe de forma espontânea entre os sujeitos. A psicanálise apenas usa da transferência para o tratamento, e isso é decisivo. Abordamos também a definição de Transferência que seria: uma atualização do inconsciente com a figura do analista, o ponto em que o analista está buscando informações sobre a vida do paciente, em algum momento este paciente irá repetir esses padrões comportamentais, ou seja, jeito como o paciente se comporta no mundo dele, é 31


a forma como ele irá descrever para o analista. Ao agir com interesse no paciente, o psicanalista vai mapeando os comportamentos que vão se repetindo, buscando por padrão de pensamentos que se repetem por meio da associação livre. Essa observação de padrão pode ser vista nas histórias que o paciente conta, e ele faz isso de forma inconsciente. O questionar sobre a forma de agir da pessoa nas situações da vida é que vai fazer com que o sujeito reflita sobre o comportamento inconsciente e essa transferência que é feita. A atitude do psicanalista em se interessar pela história do analisado, produzirá algum sentimento nesse paciente, seja amor; raiva; quer "trabalhar"; etc. Para o analista, a escuta ativa se torna flutuante, onde o Psicanalista busca entender os padrões de comportamento através de assuntos principalmente onde estes se repetem, por este motivo podemos dizer que: A análise irá acontecer por causa da transferência e apesar dela. Ressaltamos também a definição de padrão de comportamento que seria aquilo que se repete, pode ser definido por padrões que mudam de cenário, mas o inconsciente não muda, ele se repete. Ao usar a transferência, o psicanalista precisa receber e estar disponível para usar o padrão de comportamento do paciente e lembrá-lo sobre a maneira de como ele age na vida. Uma metáfora utilizada para entender esse processo terapêutico foi: Observa se o olhar, postura e face do paciente, pois neste momento você o surpreenderá. Sra. como se o paciente trouxesse a linha de costura e a agulha, e o psicanalista costura-se a história Durante o estudo do fenômeno da transferência, Freud percebeu que existe uma transferência positiva (transferência de amor; engendra a Psicanálise). Esse modelo mostra o interesse do paciente em trabalhar na terapia. A caracterização deste modelo é o fato do paciente querer está sempre ali presente. Já a transferência negativa aparece através da resistência. O Psicanalista está bem próximo do núcleo de importância da terapia, mas o paciente traz outras questões com o intuito de desviar a atenção. Tem como característica o perfil de paciente faltoso, relapso, onde este se fecha e enumera várias desculpas para se esquivar do assunto. Logo este impede o trabalho terapêutico. Finalizamos a aula com a indicação de um livro escrito por Freud sobre o assunto: FREUD, A Dinâmica da Transferência.

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Aula 19 – Ter ou não ter o Falo? Iniciou-se o conteúdo relembrando o segundo tempo, ou seja, o que é ter ou não ter o FALO. Vale ressaltar que os tempos não são cronológicos e as figuras não são necessariamente representadas por homem ou mulher, mas são os nomes que damos para aquilo que representam esses papéis. Por exemplo, a função materna pode ser exercida por qualquer sujeito que se encarregue do cuidado. Em continuidade, nessa cena, é introduzido o pai e dá-se então o início à linguagem, ou seja, a necessidade de simbolização. Esse momento apontado por Freud como uma circunstância na qual a criança terá que lidar com a ausência materna. É o que ele chama de separação do real, portanto nunca mais adentrará e não será possível ter acesso ao corpo de antes é no momento desta separação ocorre questionamento da criança devido seu objeto virtual (FALO). O pai passa a ter o FALO que a mãe vai buscar e nesse momento encontra-se a rivalidade porque a criança se dá conta de que ela não é o FALO, ou seja, o centro da atenção da mãe, a criança vai se embaraçando pois a mãe sempre vai até ela mas ela volta. Assim inicia-se o 3º tempo quando a criança percebe que o pai passa a ter algo de interessante, chamando-se de “ter ou não ter o dom''. O pai passa a ter uma insígnia e revela-se de onipotente para ser potente. Nesse momento ocorre o declínio do Édipo, pois a criança percebe que nem o próprio pai tem o FALO, isto faz com que a criança vá em busca do pai castrado, identifica-se com essa castração e criam-se as instâncias, id, ego e superego. O desejo amoroso que a criança sentia pela mãe será recalcado. Esse desejo volta como culpa, uma instância reguladora e moralista, que contribui para que o pai não seja mais considerado como rival. Nessa experiência surgem as Estruturas Clínicas, ou seja, um conjunto de elementos que vão manter certa relação entre si, sendo a posição dos elementos mais importante que o elemento em si. Um exemplo dessa estrutura é a Constituição Edípica. Lacan estabeleceu relação para o Édipo entre o Nome do Pai e o Desejo da Mãe, a relação entre os dois é mais importante que a biografia desse pai ou o desejo da mãe. O Nome do Pai (FALO) entra substituindo o Desejo da Mãe. Todas as estruturas possuem suas regras, seja ela estrutura de linguagem ou estrutura matemática. No encadeamento das explicações acerca das estruturas clínicas foi relembrado a fala de Lacan, na qual o autor afirma que o inconsciente se estrutura como linguagem, ou seja, tem regras gramaticais e sintáticas próprias, e diferente do consciente, as marcas da estrutura inconsciente é aquilo que se diz e aquilo que é entendido. Como exemplo, foi citado o livro “A vida mentirosa dos adultos” de Elena Ferranti que descreve uma cena onde a personagem adolescente chega em casa e os pais estão no quarto conversando, a porta estava entreaberta e ao passar por essa porta ela escuta uma parte da conversa dos pais onde eles diziam “ela é igualzinha à minha irmã”, irmã a qual o pai abominava, os pais conversavam sobre um outro assunto e a adolescente escutou apenas uma parte da conversa e entendeu que a conversa se referia a ela, então deduziu que ela não era querida e desejada, porque ela fazia lembrar dessa tia. E o inconsciente dela fica marcado por essa fala e esse sentimento. Assim, o valor 33


da palavra de uma pessoa depende do lugar que essa pessoa ocupa na estrutura. Essa estrutura externa ao sujeito que o determina é chamado de OUTRO, esse grande OUTRO não é necessariamente uma pessoa, é uma estrutura, que não é perfeita. Estruturalmente ela é falha e essa falha/falta é chamada de CASTRAÇÃO, que não permite que a gente diga tudo ou, que uma pessoa seja completamente dita pela mãe ou pelo pai, permitindo uma reformulação no campo da psicanálise. Esse modo como o sujeito vai lidar com a CASTRAÇÃO do outro e a sua própria castração que vai ser denominado as ESTRUTURAS CLÍNICAS. Sem a CASTRAÇÃO vamos nos deparar com um sujeito psicótico.

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Aula 20 - Estruturas clínicas A psicanalise e a psiquiatria apresentam formas distintas de compreender e diagnosticar o sujeito. Na psiquiatria o diagnóstico é feito por observação dos sintomas e comportamentos apresentados relacionados ao tempo de duração e intensidade que são relatados pelo sujeito ou terceiros ao psiquiatra. Tais sintomas são agrupados em um conjunto que corresponde a um CID descritivo que o nomeia. Este diagnóstico é feito com base em relatos de um recorte do tempo, uma descrição de como o paciente está no agora. Já na psicanalise estes fenômenos e comportamentos são analisados na observação de como o sujeito lida com a falta, tanto sua como do outro, num diagnostico estrutural que revela a sua estrutura clínica. As estruturas clínicas são modos de funcionamento e organização psíquica, formas de se viver, que se apresentam por meio dos pensamentos, ações e comportamentos do sujeito. São definidas na infância, como consequência dos desdobramentos do complexo de édipo, e por este motivo não é possível transitar entre as estruturas clínicas durante a vida ou apresentar simultaneamente mais de uma. Se no complexo de édipo o sujeito for apresentado a castração introduzida pela função nome do pai e a mesma for bem sucedida o sujeito a recalcará desenvolvendo a estrutura neurótica. Caso esse sujeito seja apresentado a castração, mas não a aceita, em estado de negação, se desenvolvera na perversão. Já na psicose o sujeito não é apresentado a castração (foraclusão). Na neurose a castração gera a falta e esta é recalcada e juntamente ao desejo que se torna inerentes ao sujeito, sendo parte da sua constituição. Sendo o sujeito neurótico pode se apresentar como neurótico histérico ou neurótico obsessivo, sendo a segunda estrutura estudada na aula relatada. O histérico aponta repetidamente a falta sentida em si mesmo e no outro. Já o obsessivo tenta insistentemente tamponar, mascarar ou suprir esta falta tanto em si mesmo quanto no outro. Como exemplo temos pais que tentam a todo custo prover tudo que seus filhos desejam ou relacionamentos amorosos em que uma das partes se esforça para providenciar tudo que seu conjugue deseja, seja um objeto, uma viagem, atenção etc, muitas vezes desconsiderando prejuízos financeiros ou pessoais. Esta falta, sendo constitutiva do ser nunca será plenamente satisfeita, podendo se apresentar também como falta de reconhecimento por ter se esforçado para suprir a falta do outro. Esta busca incessante para suprir a falta do outro objetiva ocultar suas próprias faltas, e causa angustia quando percebe que não proveu para o outro tudo que necessitava, sentindo que falhou pois se sente obrigado a isso (por ele mesmo).

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Aula 21 – Estruturas clínicas, neuróticas e histéricas As estruturas clínicas se referem a uma posição do sujeito diante de determinados pontos e precisam manter relação entre os elementos. Elas possuem regras de funcionamento e não é qualquer elemento que pode ser colocado ali. O Outro é determinado como um lugar na estrutura. O primeiro grande Outro em nossas vidas, é nossa mãe. A forma como o sujeito se situa e entende a própria castração e a do grande Outro é o que definirá o que denominamos como estruturas clínicas. São essas estruturas: neurose, perversão e psicose. Tais estruturas não são identificadas pelos sintomas, pelo contrário, quanto mais distantes os sintomas ficam, mais fácil será para identifica-las. A castração divide o sujeito. Dessa forma, uma parte nós sabemos que sabemos (consciente) e a outra não sabemos que sabemos (inconsciente). A pessoa histérica tem dúvidas sobre o que e quem é, por exemplo: “O que é ser uma mulher? Como é? O que nos define?”. Já o neurótico, se questiona sobre a morte. A estrutura é determinada com o tempo através da análise. A medida com que os sintomas se afastam, é possível identificar a estrutura daquele determinado caso. Já o diagnóstico estrutural, não é uma condição para a psicanálise. Isso é, não é importante para o paciente, mas sim para o analista; pois o ajudará a traçar uma direção clínica e de cura. Estrutura Neurótica O recalque é o mecanismo de defesa que define a neurose. Na neurose, trabalhamos com o SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO. O significante, se trata da materialidade, a palavra; já o significado é aquilo que significa. Para Lacan, o significado não é fixo e sim construído. Podemos entender também o significante como algo latente, enquanto o significado como aquilo que é manifesto. Lacan propõe uma mudança: o significante sobre o significado. Por isso, trabalhamos com a associação livre. O inconsciente é a abertura entre significante e significado, diz da diferença entre o que dizemos e o que realmente queremos dizer. O neurótico se angustia diante da castração do grande Outro e tenta fazer com que o mesmo não seja castrado. Ele oferece a própria castração, para que o Outro não seja castrado. Isso define a neurose. Estrutura Histérica O corpo da pessoa histérica é diferente do corpo biológico. Por isso, ela pode vir a sentir dores ou erotizar partes do corpo que não são comuns a isso. A histérica transforma a impossibilidade da completude (que é o Outro não castrado) em impotência (castração do lado do sujeito). 36


A impotência é marcada pela insatisfação, o que traz o desejo, a falta. A maneira em que a histérica coloca a falta em questão, é através da insatisfação (com reclamações, por exemplo). A histérica vai se deparar com a falta o tempo todo. O desejo não tem apenas um objeto fixo, é sempre desejo pela falta. É o desejo como desejo de desejo do grande Outro, sendo que, o desejo do Outro é o falo. A percepção da castração divide o sujeito em: aqueles que tem e aqueles que não tem o pênis. O pênis é o que simboliza o falo. As histéricas procuram respostas, mas não sabem que aquilo que procuram é na verdade um saber e esse saber, provoca angústia. Uma possível resposta é que a mulher é um objeto de desejo para o homem, mas, ao mesmo tempo, ser um objeto para o homem, é angustiante.

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Aula 22 – Neurose Obsessiva Lacan retirou da obra de Ferndinand de Saussure, Curso de Linguística Geral 1996, uma ideia própria de significante e significado. Na sua concepção, o significante e o significado se movimentam, possibilitando maior flexibilidade, na interpretação dos sonhos. Como exemplo: quando se diz laranja, pode se referir a uma cor ou um fruto. Neurose obsessiva – o neurótico obsessivo tenta sempre tamponar a falta em si e no outro. Sente uma angústia diante da falta. Uma falta jamais superada completamente. O N.O. supre no outro o que sobra para ele mesmo. Um desejo que é ouvido ou idealizado pelo N.O. transforma-se numa necessidade. Ele torna-se um escravo do desejo. Ao ouvir um paciente na clínica, o analista deve se perguntar: - O que esse comportamento significa? - Como esse comportamento se relaciona com a falta do paciente? - Qual a relação desse comportamento, com a forma como o sujeito lida com a falta? 1- Na histeria, o sujeito aponta o furo do outro. O outro não dá conta de nada 2- Na N.O. o sujeito aponta que ele o pode mais do que outro. Não podemos fazer um diagnóstico de estrutura clínica somente com o que o paciente diz, e sim, analisando como o comportamento se relaciona com suas próprias falas. Na histeria o sujeito faz muitas perguntas, mas não aceita para si, as respostas recebidas, enquanto que na N.O o sujeito faz poucas perguntas, pois ele tem o suficiente para si e para suprir o outro. O Neurótico obsessivo vive na servidão do outro. No episódio “Nando” da série Sessão de Terapia foi concluído que o personagem Nando é Neurótico Obsessivo clássico. Foi enfatizado a questão dele com a necessidade da mulher. Quando a necessidade dela acabou, ele perdeu o interesse sexual por ela, ou seja, quando ele deixou de suprir a falta dela, ele perdeu seu sentido de provedor e então sua libido diminuiu pela própria esposa.

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Aula 23 – Causa e objeto de desejo da pessoa histérica O modo que a pessoa histérica se põe no mundo para saber sobre o desejo e qual o lugar que ela ocupa na divisão dos sexos surge a partir da pergunta sobre o desejo. Ela vai se perguntar sobre o que desejar, quem desejar, sobre o que um homem deseja em uma mulher e o que uma mulher deseja em um homem, sendo essas as perguntas porque o desejo não tem um objeto específico. O objeto de desejo vai ser estabelecido a partir da pulsão e o ser humano não tem um objeto sexual pulsional que seja fixo na relação humana. A pessoa histérica resolve o impasse sobre o que desejar, agindo na tentativa de despertar o desejo do outro. A atividade preferida do histérico vai ser despertar o desejo e para isso vai fazer um jogo, de modo que desperte um desejo, mas não necessariamente o concretize. A estrutura histérica é uma das mais frequentes na análise porque ela vai em busca do saber (ela quer saber!). Outro fator importante, é que para o histérico, tornar-se desejável é tornar-se fálico. O histérico busca obter seu valor fálico, não para ser objeto, ele quer ser causa. Quando se percebe como objeto de desejo, se sente desvalorizado. Após essa discussão, a professora passou um episódio da série “Sessão de Terapia”, em que é apresentada uma personagem histérica. Após a apresentação do episódio, houve uma discussão com a turma onde ficou evidenciado muito do que foi falado na aula, reforçando que o histérico quer causar o desejo e não ser objeto de desejo. No episódio, a personagem entrou em crise quando o seu companheiro fala que “não sabe o que quer” e então ela percebe não é a causa do desejo do outro. Ela também relata que após discussão com o namorado, sai e se envolve com um cara que conheceu em um bar, ficando evidente o jogo de despertar o desejo do outro. Em todo o atendimento, a paciente deixa transparecer que “está apaixonada” pelo terapeuta, mas o terapeuta não manifesta reconhecer aquela situação, até que por fim ela se declara. O terapeuta se mostra surpreso e a paciente decepcionada, o que exemplifica muito do que foi falado sobre a necessidade da estrutura histérica, ser causa do desejo do outro e como saber disso é importante, sendo que a falta de uma resposta fixa sobre ela ser desejada a deixa transtornada.

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Aula 24– Estrutura Clínica e psicose Ao falarmos de estrutura clínica, é mais importante pensar na função de um elemento e a sua posição do que no elemento em si. Ou seja, no exemplo da mãe e do falo, não necessariamente tem de ser a mãe biológica e a sua criança no papel do falo, e sim alguma pessoa em que esteja em posição e função de realizar o papel materno e que carrega esse falo, seja a criança, trabalho, etc. É importante dizer também que toda estrutura possui as suas regras, tanto a estrutura de linguagem quanto outras, como as estruturas matemáticas. Apesar de ter regras, toda estrutura possui uma falta que chamamos de castração. Para determinarmos uma estrutura, não podemos partir apenas dos sintomas, mas sim situar o sujeito diante da castração do Outro, ou seja, como que ele se posiciona ao perceber que esse lugar que ele é acolhido é falho e como ele se posiciona diante da própria castração, da presença e da ausência do objeto de desejo. De acordo com Lacan: se o sujeito se situa na castração e a recalca, configura-se a neurose; se o sujeito se situa na castração, mas a denega (não aceita), perversão; e se o sujeito não chega a se situar na castração, psicose. A psicose (não em sua totalidade) apresenta traços de atrasos cognitivos que podem dificultar o tratamento do psicótico. No campo da psicose, encontra-se a esquizofrenia, a paranóia e a bipolaridade. Freud inicia o estudo da psicose a partir do caso Schreber, que a partir de seu delírio, ele inova ao considerar este como uma forma de reorganização do aparelho psíquico, no sentido de uma tentativa de cura. A psicose inicia-se quando não há castração entre a criança e a mãe, ou seja, a criança não chega a entrar no complexo de Édipo. A criança não é retirada desse lugar de falta da mãe, mantendo-se como falo. Como consequência, a criança não é inserida nesse mundo simbólico e permanece no imaginário. Esse evento é chamado de foraclusão paterna. Essa foraclusão (não-ocorrência da própria castração), segundo Lacan, é absoluta. No campo da psicose, não há o recalque, apenas a foraclusão, ou seja, não há divisão entre o consciente e o inconsciente. Dentro da psicose, ocorre um fenômeno chamado de alucinação, que é comum no psicótico, mas não está estritamente associado a essa estrutura, podendo ocorrer também na neurose. O que ocorre na psicose em relação a alucinação é que há a quebra entre o simbólico e o real, tornando na maioria das vezes a alucinação real e dogmática. Como conclusão, pode-se concluir que o psicótico é um ser que se considera completo, não-castrado, indubitável. Exemplo: se um psicótico diz que tem insetos subindo pelo seu braço, é impossível de retirar esse evento dele, pois é considerado como real/inquestionável/certeza absoluta. Lacan em seu seminário 3, alega que “se o neurótico habita a linguagem, o psicótico é habitado, possuído por ela”. Ou seja, para o psicótico a linguagem sempre parte de fora, nunca de dentro: “me disseram, me falaram”. Não há uma articulação ou produção de significado em cima disso, o psicótico assimila essa informação externa como verdade.

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Conclusão De forma didática interpretar os pilares e estruturas da psicanálise foram os maiores desafios, para construir conhecimento e conteúdo necessário para um estudante de psicologia. Onde foram desenvolvidos e discutidos os principais métodos e técnicas utilizados através dessa abordagem. A responsabilidade diante um ensinador, para transferir conhecimento por aulas em EAD, foi desenvolvida por duas excelentes professoras, Dannielle Rezende Starling e Camila Fardin Grasseli buscando deixar o conteúdo coerente com a prática e exemplificando com filmes, series e até mesmo teatros. Ressaltando com êxito a interação entre professores e alunos. Através da elaboração dos memoriais descritos pelos alunos foi possível que os mesmos conseguissem adquirir a sincronia entre conhecimento e prática, ressaltando a relevância para psicanalise dentro da psicologia. Um dos pontos chaves do trabalho desenvolvido pela professora Dannielle Starling foi a interpretação feita do livro “A parte que falta”, despertando nos alunos o conceito de édipo. E Camila Grasseli de forma lúdica entrou no contexto do complexo de castração e édipo contextualizando o conceito em psicanalise. Surpreendendo e inovando o método de ensino, desenvolvendo um trabalho muito além do esperado. A psicanalise é um mar de conhecimentos, é uma matéria densa, e interpretar a psicanalise é entender que de forma inconsciente nos falta algo. “ASSO PUDIM, FAÇO O QUIMDIM, Ó BUSCO A PARTE QUE FALTA EM MIM”

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Belo Horizonte, 2021 42


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