Qubic Box

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QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano Nº01 Abr / Out 2014 // 18,00€

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Jessica Costa Qubic Box - Acções Efémeras no Espaço Urbano Proposta 6 - UC Projecto II - Maio 2013

Design Gráfico Jessica Costa Proposta Editorial Margarida Azevedo Direcção de Arte Jessica Costa Tipografia Akzidenz-Grotesk, Günter Gerhard Lange Sabon LT Std, Jan Tschichold Fotografia Espaço Urbano Jessica Costa, Ana Lopes, Benjamim Ribeiro, Inês Dias Fotografia da Revista Vice e Jornal Pedal Teresa Marinho

Produção Jessica Costa, Curso Comunicação 3º ano ESAD, Matosinhos, Portugal Impressão Colorshow Tiragem 1000 exemplares Distribuição qubicbox@gmail.com Preço Portugal 18,00€ - Europa 20,00€ Periocidade Semestral Depósito Legal 234768/12 ISSN 2382-2098

Qubic Box - Rua Joaquim Pinto, 88 4460-338 Senhora da Hora, Matosinhos, Portugal

www.qubicbox.com qubicbox@gmail.com


QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano

Qubic Box é uma publicação com uma abordagem alternativa, interventiva e difusora da cultura urbana. Privilegia a criação contemporânea em todas as suas formas: design, artes plásticas, artes do espectáculo (performance, teatro, arte circense, ou outras) e celebra em todas as suas vertentes a cor, o movimento, a tipografia, a ilustração... Qubic Box reflecte, sobre tudo, desde o zero. Decidimos voltar ao elementar, e assim dar mais realce ao branco e preto.Uma paleta de cores pode expressar tantas coisas, e onde é fácil esquecer o poder dos pólos opostos. Para uma parte da população, tudo se resume a branco e preto. O efeito singular que tem a imagem monocromática. O branco e o preto é sagrado no mundo do desenhador — o preto é quase todo o guarda roupa, e o branco é visto como parte integrante da composição do desenho. Assim contribuiremos para tornar mais clara a origem de ambos. Tanto como ausência de luz, como com abundância de tinta, o preto tem uma força supreendente e única, sobre a impressão em papel. Mas se se aplicar 18 vezes, mostra as verdadeiras cores da reprodução com um efeito espectacular. Deste modo, o projecto “Qubic box, acções efémeras no espaço urbano” deve ser entendido como uma forma de inserir no contexto urbano uma provocação cultural aberta e gratuita. O branco e preto: o tudo e o nada, o princípio e o fim.

Nº01 2014 // www.qubicbox.com


Índice 3

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Editorial

O Branco e o Preto. A chave de tudo coincide em “Ao tirar uma capa da realidade - a cor - podemos concentrarnos com mais claridade noutros elementos mais subtis como a luz, a textura e a composição.”

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26 33

O Poder Criativo do Negro.


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34 41

A claridade, a eficรกcia, a economia e a continuidade

42 49

Menos letras e mais espaรงo branco

50 57

A individualidade da imagem impressa

58 65

Imprimir cinzentos neutros


o BRAN-

CO e o PRETO


Ben Moore, Fotografia

7


Nostalgia, integridade e simplicidade


9

Apesar da evolução da reprodução da cor, o branco e o preto vão sendo a opção generalizada entre fotógrafos e cineastas. Segundo Peter Hall, é algo que vai para além de uma mera estética: é também uma questão de nostalgia, integridade e simplicidade. É Primavera em Manhattan e tudo é branco e preto. O filme monocromático dos irmãos Coen, “El hombre que nunca estuvo”, os quadros a branco e preto de Gerhard Richter que nos mostra a sua muralha branca, e Britney Spears a protagonista de um anúncio em branco e preto da “Pepsi” onde uma camareira vai bailando ao ritmo de uma melodia velha numa cafeteria dos anos 50. Na MV Photo Labs, especialistas em branco e preto, foi registado um aumento da procura da revelação a preto e branco. “No cabe duda de que a hora mismo va en aumentar”, disse Jim Megargee, co-fundador da MV. Ele defende que os acontecimentos do 11 de Setembro, e a guerra que lhe sucedeu, estão a reviver o gosto pelas imagens que são baseadas na “realidade” segundo a tradição do jornalismo fotográfico, para além de um anseio geral pela inocência do velho mundo a branco e preto. “As pessoas procuram mais a crueldade e a nostalgia”, disse Me 1 em fotos gargee.Trata-se de um fenómeno estranho. A Kodak começou a produzir em série as películas a cores em 1935, e Dorothy saiu a voar do Kansas a preto e branco até chegar ao mundo da Tecnicolor do “Feiticeiro de Oz” em 1939.



Village of the Damned 1960, realizado por Wolf Rilla

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A Polaroid conseguiu em 1963 a máquina instantânea a cores, que tem vindo a ser absorvida pela máquina digital, que produz, de uma forma natural, estupendas fotografias a cores. Sem qualquer tipo de embargo, a imagem a preto e branco, que sem dúvida deveria ter desaparecido com a máquina de escrever, vê-se por todo o lado. O mais importante, é que, fotógrafos e artistas, desenhadores e directores preferem-na em relação à a cores, desde a publicidade “Guinness”, às capas das revistas “Men’s Health” ou aos cães robot (AIBO de Sony) e o melodramático anúncio dos anos 50 da Pepsi, é a nostalgia. A cultura americana tende a depender de mitos de uma inocência perdida: Pearl Harbor, a morte de Kennedy, o Watergate, Vietnam, a explosão do Challenger, o 11 de Setembro... Todos marcaram de diversas formas o momento em que a nação perdeu a fé na sua própria invulnerabilidade. O velho mundo anterior à queda quando as coisas sempre eram melhores, veem normalmente representadas a branco e preto. E ás vezes como uma comédia televisíva. Isto é muito visível no filme de 1998 Pleasantville, dirigido por Gary Ross. É ele, e da mesma forma no Feiticeiro de Oz, um irmão e uma irmã que riem e são transportados magicamente para o maravilhoso mundo do branco e preto de uma comédia televisiva onde adquirem atributos que as suas vidas não têm no mundo a cores: falam da concentração (e potencial académico) e do valor (como o do leão Zéke).


Circus Clown c. 1930s

A chave de tudo coincide em “Ao tirar uma capa da realidade - a cor - podemos concentrarnos com mais claridade noutros elementos mais subtis como a luz, a textura e a composição.”


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No caminho, vão revelando sem querer fechar a

anos torna-se-lhe dificil encontrar obras a cores

cidade televisiva num sistema de valores feudais (o

de um bom fotógrafo. Inferno, o jornalista fotógrafo

de Willem Reich?). Segundo cada residente, bran-

Jmes Nachtwey, é um livro de fotografias tiradas em

co e preto de Pleasantville liberta desejos sexuais,

países afectados pela guerra e pela fome, como o

amor, energia criativa e ira, quando passa à cor.

Ruanda, Somália e Chechenia, e aparece a bran-

Mas, o branco e preto vai mais além da mera nos-

co e preto na sua totalidade. A revista de notícias

talgia. Em fotografia a sua posição continua desta-

“Times”, com o seu apetite pela cor, não aceita

cada como o “verdadeiro” meio para o jornalismo

fotos a branco e preto.

fotográfico, dos documentos e da arte.

Quando editaram “o ano 2001 em fotos”, seis das

O semiótico francês Roland Barthes declara no seu

42 imagens não eram a cores. Este jogo de refe-

livro A Camara Clara que a côr não o entusiasma,

rências aproxima-se novamente ao maneirismo

mencionando assim o Daguerreótipo de 1843 que

quando os directores começam a salpicar a peli-

havia sido colorido posteriormente. “Sinto sempre

cula com fragmentos de cor, quando tudo o res-

que a cor é uma capa aplicada mais tarde à vera-

to é monocromático. Em Rumble Fish (1983) de

cidade original da fotografia a preto e branco. Para

Francis Ford Coppola, o branco e o negro foram

mim a cor é um artifício, uma maquilhagem (como

utilizados como uma linguagem de gueto, da crua

aquelas que são utilizadas para pintar cadáveres)”.

realidade, e para realçar o daltonismo do Chico

Quimicamente falando, a afirmação de Barthes

da motocicleta, um dos protagonistas. A cor que

não tem fundamento. Ambos os tipos de fotografia

passa fugazmente pela tela em forma de dois pés,

são feitos com emolsão fotossensível. A diferen-

no aquário de uma loja de animais, representa o

ça é que o branco e preto utilizam uma camada,

inconformismo de Chico da motocicleta e de Rusty

enquanto a cor usa três, cada uma sensível a uma

James, seu irmão menor.

das três cores primárias.

Na Lista de Schindler (1993) de Steven Spiel-

Desde a invensão da Kodachrome, a fotografia a

berg, as sequências de cor são caracterizadas

cores converteu-se, como o branco e preto, em

de um branco e um negro épicos que faz referên-

evidência física de luz reflectida. Ou como Barthes

cias implícitas a sequências históricas, a fotos de

afirma: “a emanação literal do referante”.

guetos judeus e campos de concentração na Ale-

A ideia persiste, sem qualquer constrangimento,

manha Nazi. O único momento que se vislumbra

de que o branco e preto tem mais veracidade e

cor durante o filme é um casaco vermelho de uma

autenticidade. Segundo Megargee, quem trabalha

menina judía, que numa primeira instância quando

com fotografia como Annie Leibovitz, Steven Klein,

esta escapa de uma busca nazi, e mais tarde numa

Antonin Kratochvil e Mark Seliger, quase há dez

carruagem cheia de cadáveres em Krakow.


O abrigo serve para remover a consciência da personagem central, Oskar Schindler, que se transforma de um espectador em tempos de guerra a um protector arruinado dos judeus. A explicação final da perpectuação atractiva do branco e do negro é simples. Para os designers, o branco e o negro tem um papel importante no processo do desenvolvimento. Os designers estão preparados para para desenvolver composições, letras e logos em branco e negro antes da utilização da cor. “A cor distraí”, afirma Jeanne Verdoux, designer e educadora em Brooklyn, “e uma grande parte do design gráfico trata de reduzir os elementos ao mínimo”. A chave de tudo coincide em “Ao tirar uma capa da realidade - a cor - podemos concentrarnos com mais claridade noutros elementos mais subtís como a luz, a textura e a composição.” Sem qualquer constrangimento, não é difícil passar de uma defesa da utilidade do branco e do negro a uma asseveração da sua superioridade. Depois de tudo, acabamos de sair de um século construido sobre uma dita premissa. Hoje, caminhando pela Quinta Avenida acima em Manhattan vemos até que ponto o sonho modernista se concebeu em branco e negro. O aço, o cristal, e o cimento do vocabulário arquitectónico de uma cidade não é um vocabulário pós-modernista em tons pastel e luzes de neón, como em Las Vegas.


O Escritor Holandes Wouter Vanstiphout resumiu na sua interpretação do grande edifício branco neopor Richard Meier: ”O Branco,” escreve Vanstiphout, “começou a significar algo que os outros arquitectos não tinham:uma especie de (lacrimosa) integridade, (aborrecida) seriedade, (puritana) limpeza, ou por outras palavras, uma arquitectura superior a todas as outras.” O design gráfico, tal como a arquitectura modernista, começa com a criação de formas artificiais em máquinas, que instintivamente se interrelacionam com a claridade da composição e a forma. A prática do design está tão enraizada na matriz teriam sido as coisas, na ausência desta. As formas monocromáticas começaram-se a impor com as primeiras pinturas rupestres. É pouco provavél que a influencia de televisões, impressoras e monitores a cor elimine a ingenuidade da lingua artificial do branco e do negro.

É o redactor e colaborador da revista Metropolis.

monocromática, o que é difícil imaginar como Texto de Peter Hall, escritor e crítico de design em Nova York.

Lista de Schindler, 1993, de Steven Spielberg

modernista do ajuntamento de La Haya, construído

Ensina Teoria do Design no Yale School of Art, é investigador membro do Design Institute da Universidadede Minesota.

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Os Opostos


Absolutos

O MUNDO CARECE DE COR.


As coisas não são o que aparentam. O conceito de branco e negro modificou radicalmente, sem prejuizos, considere o monocromatismo. Para um reduzido número de pessoas, o mundo carece de cor, como Graham Vickers descobre, este não é sempre um impedimento. Ao imprimir a mais simples das fotos, o processo elegido pode modificar de uma forma drástica o efeito da imagem, segundo Kristoffer Albrecht. E Nem sequer o negro é simplesmente tinta negra. Cada método de impressão distinto revela uma explosão de cor na obra do inovador artista Adam Lowe. Por detrás de todas as suas numerosas conotações radicais da realidade física do branco e do negro:o puro branco, definindo como uma luz completamente reflectida, e o puro negro: que é a absorção de luz quase total ou mesmo total. Concluindo, estes opostos absolutos não são tão claros como poderia pensar-se, e dependem enormemente da percepção do observador e do seu contexto. Um quadrado cinzento pode parecer quase branco quando este aparece rodeado de tons escuros - ou negro pálido quando colocado num fundo branco. Do mesmo modo, o negro puro isolado pode ser interpretado como tal se a sua superfície for lisa e brilhante, pois um acabado mate introduz pequenas irregularidades na superficie que reflecte luz por si propria e cria a sensação de uma impressão de uma penugem branca. Entretanto, os objectos “brancos” podem adquirir numerosas colorações e


a seguir aparentarem brancos aceitáveis, basta que se comparem com outro “branco “ com caracteristicas diferentes. Os objectos “brancos” podem adquirir numerosas colorações e fazer parecer brancos aceitáveis basta que se compare com outro “branco” de outro carácter. E ainda, um branco azulado pode parecer muito “mais branco” que um branco neutro. O facto de o azul evocar frescura e se o critério pessoal do observador for um branco puro deve dar uma sensação de frescura, poderia então explicar o fenómeno.

19



21

estes opostos absolutos n達o s達o t達o claros como poderia pensar-se (...)


Através da pureza do “negro” e do “branco” poderia definir-se meramente pela sua longitude de onda, e a subjectividade da visão humana cria um obstáculo crónico à compreensão plena da realidade psicológica do negro e do branco - especialmente relacioná-lo com os mundos dos daltônicos parciais ou totais. Alguém que perde a percepção da cor num acidente insólito pode ficar tão traumatizado que será incapaz de oferecer uma evolução objectiva e útil do seu novo estado acromático. A natureza drástica de uma incapacidade repentina enfatiza mais a impressão da mudança que as suas características resultantes. No ensaio, The Island of the Colour-Blind, o médico Oliver Sacks menciona a história de um artista, Jonathan I, que teve um acidente de cavalo, perdendo a capacidade de ver as cores, de imaginá-las ou recordá-las. Em comparação, alguém nascido com acromatopsia (daltonismo congénito total) só conhece a sua realidade, e apesar de sofrer uma clara desvantagem na sociedade contemporânea que utiliza informação codificada em cores de um modo tão voluptuoso, não tem ideia de que é a cor, e portanto não estranha. Também são subjectivas - se bem mais fáceis de avaliar objectivamente - as numerosas variantes de daltonismo que existem entre a visão da cor normal e a acromatopsia. Pelo menos as provas convencionais do daltonismo podem identificar as cores que se confundem por outras. Aliás, oferecem uma pista sobre porque é que às vezes se utilizava pessoas daltônicas para descobrir camuflagens durante a II Guerra Mundial: sem cores para distraí-los, eram melhores que as pessoas com visão normal na altura de descobrir as mudanças de superfÌcie e textura. Dentro de um mundo de cores normais (segundo a nossa percepção - diferentes animais têm distintas sensibilidades da cor), esta natureza de tons que distrai poderia ser mais poderosa do que pensamos. Quando Peter Bogdanovich entrevistou Orsan Welles sobre a sua carreira, destacou a interpretação que Welles Hizo de Harry Lime no filme The Third Man em 1949 como a sua interpretação mais memorável. Welles respondeu que foi fácil fazer uma interpretação memorável “porque o filme era a preto e branco.” Bogadanovich, confundido pela lógica da conclusão, perguntou o que queria dizer com isso. “Cite uma grande representação da cor!” foi a desafiante resposta de Welles. Bogadnovich viu-se forçado a admitir um ponto de verdade na afirmação. “De facto, não me consigo lembrar de uma grande interpretação da cor” concluiu. E a que se deve? Talvez se deva a que o preto e branco reduz tudo, incluindo o rosto humano, a informação estritamente mais essencial. Não nos distraímos com o azul de uns olhos...


Llyn Foulkes, Washingtonland, 2006

Orson Welles, The Third Man, 1949

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Uma das razões pelo que tem sido difícil de avaliar coerentemente como poderia ver o mundo acromático é inerente à natureza da mesma condição. Em primeiro lugar, o número de afectados não é muito grande - talvez um por cada 40 000 indivíduos no mundo. Em segundo lugar, a doença está normalmente acompanhada pela hipersensibilidade da luz e deficiente visão aguda geral. Assim, no passado diagnosticou-se erradamente os acromatopos, deixando-os fazer frente a uma incapacidade que tem evitado que desenvolvam plenamente o seu potencial... ou em alguns casos que adquiriram uma educação básica. Não nos basta que um dos elos superou os consideráveis obstáculos da sua condição para converter-se numa distinção fisiológica e psicofísica na universidade de Oslo, que a experiência pessoal e a erudição convergem para dar ao mundo - e a outros afectados - novas percepções. A descrição de Knut Nordby da sua infância, como afectado de acromatopsia total revela como a sua percepção monocromática do mundo, menos a importância que outras dificuldades mais drásticas da visão. Quando tinha oito meses, seus pais notaram o aparecimento de sintomas estranhos. “Os meus olhos começaram a tremer e a girar de lado para lado...” explica Nordby. “Estou constantemente a fechar parcialmente os olhos, ou a semicerrar e evitar a luz brilhante, algo que não havia tido antes.” Os médicos diziam aos seus pais que o seu filho era totalmente daltônico e que a sua visão era tão má que nunca poderia ler nem escrever. Durante o seu problema de infância, foi partidário de jogar em sotãos e estábulos ou ao ar livre da noite. Quando organizava blocos de cores, agrupava os vermelhos e os negros num grupo, e os verdes e os azuis noutro; os amarelos e os brancos também os separava. Mudando a fonte de luz modificava, por vezes, a sua capacidade para distinguir entre cores que nunca poderia ver. Um sistema escolar que ensinava a diferença entre vogais e consoantes colorindo letras de demonstração entre o vermelho e o preto que não faziam sentido para Nordby, que as via todas como um preto só... até que um dia de outono excepcionalmente cinzento se acenderam as luzes da sala. “Com espanto vi que de repente, havia letras que eram de um cinzento escuro, enquanto outras eram apenas pretas”, observa. Isto ensinou-me que as cores podem ter um aspecto diferente segundo diferentes fontes de luz, e que a mesma cor pode coincidir com diferentes tons de cinzento em diferentes tipos de iluminação. Desde então utilizei este fenómeno de diferenciação espectral para me ajudar a separar cores por diferentes tons de cinzento por baixo de várias fontes de luz.


Já em adulto e como investigador de problemas da visão, Oliver Sacks pediu-lhe que fosse com ele numa vigem de investigação informal ao Pingelap, o atol do Pacífico, onde existe uma proporção anormalmente alta de daltónicos. Iludido com ideias extravagantes sobre a existência de uma microsociedade na qual reinava uma visão monocromática do mundo, Sacks partiu com Nordby e outro amigo académico, apenas para descobrir que os efeitos incapacitantes da hipersensibilidade à luz pareciam ser o aspecto mais destacado dos males daqueles ilheus. Repartindo óculos e lupas, o trio académico encontrou pouco mais que confirmações esporádicas da experiência de Nordby e das técnicas que utilizava para compensar a sua exclusão do mundo da cor. Quando as crianças daltónicas de Pingelap mostraram um inesperado conhecimento do protocolo de cores no vestuário - por exemplo, que cores se conjugam com outras - Nordby supôs que faziam o que ele fazia quando em criança o ridicularizavam pela sua deficiencia. “Como pura medida de defesa, memorizava a cor das minhas coisas... e finalmente aprendi algumas regras para o uso correcto das cores” recorda. Hoje em dia Nordby, com uns fortes óculos de sol, uma lupa portátil e os seus olhos adaptados à escuridão, sabe que o seu mundo em branco e preto não supõe uma deficiência. “A cor é algo com que deves criar-te.”, conclui Nordby. “Incorporar as cores numa fase posterior da vida seria desastroso - muita informação que quem sabe não pudesse digerir. Ou seria decepcionante. Não o que esperava Quem sabe?

Texto de Graham Vickers, escritor residente em Londres especializado em design comercial e meios digitais.

Knut Nordby

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Adam West as batman, 1960’s


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O PODER CRIATIVO DO

É um cliché criativo, não encontrarás muita cor no guarda roupa de um desenhador ou de um escritor. O que é que isto revela de ti e da tua relação com a roupa? Colin Mcowell indaga o porquê de o negro ser sempre um novo negro.


A moda do negro tem história e filosofias próprias,

principal cor da morte — o maior

tem o seu próprio vocabulário. A sua semântica

dos poderes impostos à huma-

provoca muitos dos nossos medos psicológicos

nidade — no Ocidente, tanto no

mais profundos, que iludimos convertendo-o em

luto do camponês mediterrâneo

desejos. Mais que nenhuma outra cor, o negro é

como na rica viúva do capitão ou

literalmente a cor dos nossos pensamentos mais

do rei. sem dúvida o negro tem

obscuros e determina as nossas atitudes em rela-

outros aspectos. Como seria de esperar da cor do poder, também

ção ao poder e as suas consequências.

representa glamour e sofisticação. A armadura do príncipe negro

O negro está associado primordialmente com o

assombrava de medo as almas dos seus inimigos, mas também era

poder, e por este se tem regido sistematicamente

irresistível com as mulheres. A sexualidade do negro converte-a na

para impôr autoridade através da indumentária. O

cor preferida dos homens e das mulheres modernas que confiam ple-

dignatário eclesiástico, o juiz, o industrial endinhei-

namente no seu poder sobre o sexo oposto. A sexualidade do negro

rado do século XIX... Todos eles utilizaram o negro

apareceu em Paris nos anos 20 quando a artista Josephine Baker

para proclamar a sua autoridade e transmitir dig-

coberta ´somente com uma tira de plumas, se converteu no símbolo

nidade à sua profissão. O negro converteu-se na

de uma nova liberdade sexual.


Audrey Hepburn on the set of Sabrina, photographed by Mark Shaw, 1953

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“Animated Evenings!”, Vogue US, March 1984 Photographer : Steven Meisel Model : Lara Young

The Original Pussycat Dolls, 1920’s

“Chic List”, Vogue UK, October 1987 Photographer : Patrick Demarchelier Model : Laetitia Firmin Didot


Modelo e Estilista: Keila Diaz Fotografia: Maya Fiala Grau.

Lisa Fonssagrives Fotografia: Irving Penn, 1950

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vou-o ao símbolo, por excelência, da mulher sofisticada, em total controlo da sua vida. Na mesma época, outras conotações mais obscuras do negro, começaram a adquirir a sua forma moderna. A sua associação com a violência e a morte remonta à Idade Média, quando o juíz colocava o barrete negro para pronunciar a sentença de morte. As tropas nazis, com os seus casacos e botas negras de pele tiveram exactamente o, mesmo efeito ao desfilar pela Europa antes da Segunda Guerra Mundial. O negro está também associado à alienação. O negro tem sido a cor da alta-costura durante quase vinte anos, desde a introduçao dos criadores japoneses, em Paris, em 1981. Desde então o negro

Vestido Preto, década de 20, criado por Coco Chanel

A Chanel adoptou o minúsculo vestido preto e ele-

tem permanecido brilhantemente no auge. Quando um desenhador japonês afirmou “ Trabalho somente com dezoito tons de negro.”, fez-nos pensar na subtileza da cor e na sua força esotérica. A razão da contínua popularidade do negro devese ao facto de dar conteúdo à moda moderna, já que permite que o criador se abstraia da cor nos seus desenhos e pense esculturalmente numa linguagem de linhas puras. A moda tem avançado com mais velocidade e diversidade nos últimos vinte anos do que nos oitenta anteriores. Isto deve-se ao facto do negro nos ter tornado mais sofisticados e subtis na nossa maneira de vestir. O negro é poliglota e fala vários idiomas. As suas subtis mensagens podem ser interpretados em níveis diversificados. Inquieta como nenhuma outra cor o faz, e tem demonstrado uma maior profundidade e matizes contemporâneas, que nunca antes se tinha visto na história. Simboliza as respostas intelectuais e emocionais mais viscerais da humanidade e complexidades da vida. Por isso, é a cor mais desconcertante e excitante que todos poderemos vestir. Texto de Colin McDowell, um dos comentadores de moda mais prestigiados do mundo. Autor de dezasseis livros, incluindo o directório de moda do século XX, é redactor sénior de moda na secção de estilo de The Sunday Times. Actualmente é presidente de The Costume Society of Great Britain. Colin é catedrático convidado do Lodon Institue , que inclui o London College of Fashion e o Central Saint Martins School of Arts.


Gabrielle Chanel

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Logテウtipo

IDENTIDADE GRテ:ICA


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Qubic Box é uma publicação com uma abordagem alternativa, interventiva e difusora. Pensando no carácter singular do projecto, desenvolveu-se uma identidade que reforçasse o aspecto dinâmico e versátil desta publicação. “Uma paleta de cores pode expressar tantas coisas, e onde é fácil esquecer o poder dos pólos opostos. Para uma parte da população, tudo se resume a branco e preto.” A partir deste mote, criou-se um logótipo em que houvesse o máximo de contraste, introduzindo uma paleta de cores, de forma a destacar e não de esquecer o poder do preto e do branco. É um logótipo dinâmico que se adapta aos diferentes suportes, jogando com as dimensões dos elementos, criando uma ideia de profundidade.


Grelha e Mancha Grรกfica


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Formato 280mm x 200mm 57

Margens top // bottom // inside - 20mm outside - 15mm Colunas 7 Numeração de Página Mancha de Texto

Gutter 4mm

Baseline 14pt


TIPOGRAFIAS

A escolha das tipografias foi pensada de maneira a obter um grande contraste entre elas, tal como tema que este projceto nos promete, com os contrastes absolutos obtidos do branco e do preto. Optou-se por uma tipografia sem serifa usando a sua vers찾o normal e a sua vers찾o condensada, a Akzidenz-Grotesk, permitindo uma maior elasticidade e uma maior din창mica na revista, indo ao encontro da sua identidade. A Sabon foi escolhida por ser elegante e criar pontualmente uns pormenores subtis.


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Akzidenz-Grotesk BQ Designer H Berthold, Original foundry: H. Berthold AG

Akzidenz-Grotesk BQ Condensed Designer H Berthold, Original foundry: H. Berthold AG

Sabon LT Std Designer Jan Tschichold


Escalas e HIERARQUIAS


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Akzidenz-Grotesk BQ Condensed, 27

Regular, 85pt Akzidenz-Grotesk BQ Condensed, Bold-Italic, 8,5pt

O PODER CRIATIVO DO

Akzidenz-Grotesk BQ Condensed, Bold-Italic, 200pt

É um cliché criativo, não encontrarás muita cor no guarda roupa de um desenhador ou de um escritor. O que é que isto revela de ti e da tua relação com a roupa? Colin Mcowell indaga o porquê de o negro ser sempre um novo negro.

Sabon LT Std, Italic, 19pt


Akzidenz-Grotesk BQ Condensed, Bold-Italic, 8,5pt

Uma das razões pelo que tem sido difícil de avaliar coerentemente como poderia ver o mundo acromático é inerente à natureza da mesma condição. Em primeiro lugar, o número de afectados não

Akzidenz-Grotesk BQ,

é muito grande - talvez um por cada 40 000 indivíduos no mundo.

Regular, 9pt

Em segundo lugar, a doença está normalmente acompanhada pela hipersensibilidade da luz e deficiente visão aguda geral. Assim, no passado diagnosticou-se erradamente os acromatopos, deixando-os fazer frente a uma incapacidade que tem evitado que desenvolvam plenamente o seu potencial... ou em alguns casos que adquiriram uma educação básica. Não nos basta que um dos elos superou os consideráveis obstáculos da sua condição para converter-se numa distinção fisiológica e psicofísica na universidade de Oslo, que a experiência pessoal e a erudição convergem para dar ao mundo - e a outros afectados - novas percepções. A descrição de Knut Nordby da sua infância, como afectado de acromatopsia total revela como a sua percepção monocromática do mundo, menos a importância que outras dificuldades mais drásticas da visão. Quando tinha oito meses, seus pais notaram o aparecimento de sintomas estranhos. “Os meus olhos começaram a tremer e a girar de lado para lado...” explica Nordby. “Estou constantemente a fechar parcialmente os olhos, ou a semicerrar e evitar a luz brilhante, algo que não havia tido antes.” Os médicos diziam aos seus pais que o seu filho era totalmente daltônico e que a sua visão era tão má que nunca poderia ler nem escrever. Durante o seu problema de infância, foi partidário de jogar em sotãos e estábulos ou ao ar livre da noite. Quando organizava blocos de cores, agrupava os vermelhos e os negros num grupo, e os verdes e os azuis noutro; os amarelos e os brancos também os separava. Mudando a fonte de luz modificava, por vezes, a sua capacidade para distinguir entre cores que nunca poderia ver. Um sistema escolar que ensinava a diferença entre vogais e consoantes colorindo letras de demonstração entre o vermelho e o preto que não faziam sentido para Nordby, que as via todas como um preto só... até que um dia de outono excepcionalmente cinzento se acenderam as luzes da sala. “Com espanto vi que de repente, havia letras que eram de um cinzento escuro, enquanto outras eram apenas pretas”, observa. Isto ensinou-me que as cores podem ter um aspecto diferente segundo diferentes fontes de luz, e que a mesma cor pode coincidir com diferentes tons de cinzento em diferentes tipos de iluminação. Desde então utilizei este fenómeno de diferenciação espectral para me ajudar a separar cores por diferentes tons de cinzento por baixo de várias fontes de luz.

Sabon LT Std, Italic, 8,5pt


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Já em adulto e como investigador de problemas da visão, Oliver Sacks pediu-lhe que fosse com ele numa vigem de investigação informal ao Pingelap, o atol do Pacífico, onde existe uma proporção anormalmente alta de daltónicos. Iludido com ideias extravagantes sobre a existência de uma microsociedade na qual reinava uma visão monocromática do mundo, Sacks partiu com Nordby e outro amigo académico, apenas para descobrir que os efeitos incapacitantes da hipersensibilidade à luz pareciam ser o aspecto mais destacado dos males daqueles ilheus. Repartindo óculos e lupas, o trio académico encontrou pouco mais que confirmações esporádicas da experiência de Nordby e das técnicas que utilizava para compensar a sua exclusão do mundo da cor. Quando as crianças daltónicas de Pingelap mostraram um inesperado conhecimento do protocolo de cores no vestuário - por exemplo, que cores se conjugam com outras - Nordby supôs que faziam o que ele fazia quando em criança o ridicularizavam pela sua deficiencia. “Como pura medida de defesa, memorizava a cor das minhas coisas... e finalmente aprendi algumas regras para o uso correcto das cores” recorda. Hoje em dia Nordby, com uns fortes óculos de sol, uma lupa portátil e os seus olhos adaptados à escuridão, sabe que o seu mundo em branco e preto não supõe uma deficiência. “A cor é algo com que deves criar-te.”, conclui Nordby. “Incorporar as cores numa fase posterior da vida seria desastroso - muita informação que quem sabe não pudesse digerir. Ou seria decepcionante. Não o que esperava Quem sabe?

Texto de Graham Vickers, escritor residente em Londres especializado em design comercial e meios digitais.

Knut Nordby

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CAPAS

As capas foram desenhadas pensando nas características identitárias de Qubic Box, tendo o logótipo uma presença muito forte e dinâmica. Em cada capa surge também em destaque três artigos que se referem aos contidos no miolo, realçando um dos artigos qe será o de maior relevância de cada número. A sua lombada foi trabalhada tendo em conta informações chave, como o número, o ano, e o site, mas não esquecendo a presença do logótipo. Os códigos de Barras e QR abraçam a revista desde a capa à contracapa, encontrando uma mancha de cor, sendo esta escolhida em relação à cor adoptada para cada número.


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QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano Nº01 Abr / Out 2014 // 18,00€ Nº01 2014 // www.qubicbox.com

Capa nº1(com pormenor da lombada)

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QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano Nº01 Abr / Out 2014 // 18,00€

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QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano Nº01 Abr / Out 2014 // 18,00€ Nº01 2014 // www.qubicbox.com

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Capa nº1

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QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano Nº02 Abr / Out 2014 // 18,00€ Nº02 2014 // www.qubicbox.com

Opostos Abso Menos letras

lutos.

e mais espaço branco ade da imagem impressa

Fotografia: Ben Moore

Capa nº2

A individualid

QUBICBOX acções efémeras no espaço urbano

Lisa Fonssagrives Fotografia: Irving Penn, 1950

Nº03 2015 // www.qubicbox.com

Capa nº3

Nº03 Abr / Out 2014 // 18,00€

O Poder Criat

ivo do Negro

A claridade, a

Imprimir cinz entos neutros eficácia, a econ omia e a cont inuidade


Colecção de Lanternas Qubic Box, Peça exclusiva de Merchandising incluída no kit da publicação, Revista + Lanterna

Merchandising


T-Shirt Qubic Box

Colecção de Pins Qubic Box

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Outdoor Promocional Qubic Box, Edificio EDP no Porto


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PROMOÇÃO DO

Evento

O projecto “Qubic box, acções efémeras no espaço urbano” deve ser entendido como uma forma de inserir no contexto urbano uma provocação cultural aberta e gratuita. Desta forma, promove-se o evento tentando inquietar as pessoas para esta publicação.


Teaser Qubic Box, Estação Casa da Música no Porto

Cartaz Promocional Qubic Box, no Metro do Porto

Mupi Promocional Qubic Box, no Porto

Na Rua


Teaser Qubic Box, Rotunda da Boavista no Porto

Mupis Promocionais Qubic Box, Av. de Franรงa no Porto

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AnĂşncio Revista Vice

Na Imprensa


Anúncio Jornal Pedal nº03

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Banner Promocional, site “Design You Trust�

Wallpaper

Na Web e em Suportes Digitais


Página Web, Artigos Qubic Box

Página Web, Home Page Qubic Box, hover sobre secção dos Artigos

Página Web www.qubicbox.com, Home Page Qubic Box

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EXTERIOR DA CASA DA MÚSICA



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