Reportagem
Ceres
Revista acadêmica experimental produzida pelos alunos de Técnicas de Jornalismo do curso de Comunicação Social da Universidade de Brasília Cobertura sobre a economia, política, cultura e traços da cidade.
Carta do Editor
Chegado o momento de escolher a cidade que serviria como objeto para esta revista, o impasse foi grande. Depois de muita discussão e bate-boca, chegamos à Ceres, que não estava entre as primeiras opções de ninguém e foi escolhida por ser uma das poucas localidades não muito longe de Brasília que ainda não haviam sido tema de reportagem da publicação. Saímos daqui desconfiados, sem muita certeza do que encontraríamos, e fomos surpreendidos: Ceres acabou por ser não só uma cidade muito acolhedora, mas também ótima fonte de assuntos para nossas matérias. Na Revista Reportagem - Ceres, pretendemos mostrar as várias facetas desse local pacato e detentor de um dos maiores Índices de Desenvolvimento Humano do estado de Goiás. Para isso, fizemos textos que expressam os extremos da cidade: desde a alta qualidade e grande número de hospitais e escolas, tanto públicos quanto particulares, a problemas como tráfico de drogas e violência contra a mulher. Passamos também pela história da cidade e tentamos descobrir como alguns dos costumes locais permanecem intactos até os dias de hoje. Pudemos ainda cobrir a Mostra Cultural Bernardo Sayão, que leva o nome do fundador da cidade e foi um dos primeiros eventos executados pela recém-fundada Secretaria de Juventude, Cultura, Esporte e Turismo. Tivemos a sorte de presenciar uma manifestação de jovens locais que reivindicavam mais opções de lazer na cidade. E como não poderia faltar, tratamos de conhecer o Ceres Futebol Clube, time local, que luta para se recuperar de uma difícil situação financeira que paralisou as atividades da equipe. Entre essas e outras matérias, nosso objetivo é trazer um panorama geral de Ceres, seus costumes, habitantes, problemas, sucessos e tudo o que ajudou que a turma de Técnicas de Jornalismo do primeiro semestres de 2013 a ter uma experiência tão enriquecedora. Foram dias de muito trabalho, correria e amizades, que no fim, valeram muito a pena. Esperamos que todo o nosso esforço esteja perceptível na revista e agradecemos ao povo de Ceres, sempre receptivo e solícito. Boa Leitura!
Por Pedro Alves
EXPEDIENTE Editor Chefe
Pedro Alves
Editores
André Santos Gustavo Garcia Isabela Resende Luana Brasil Raila Spindola Tainá Andrade Taise Borges
Editor de fotografia Jéssica Martins
Diretores de Arte
Jéssica Martins Henrique Gláuber Laís Sinício Mariana Pedroza Raquel Franco
Repórteres e Fotógrafos Alanah Freitas André Santos Beatriz Fidelis Breno Damascena Bruna Chaves Bruna Furlani Camila Braga Carina Avila Carolyne Cardoso Fernando H. Jordão Gustavo Garcia Henrique Arcoverde Iago Garcia Isabela Resende Isabella Campedelli Isadora Andrade Janaína Bolonezi Julia Rangel Luana Brasil Luiza Antonelli Mariana Machado Mariana Pedroza Pedro Alves Raila Spindola Rômulo Andrade Tainá Andrade Taise Borges Thomas Gonçalves Victor Pires
Orientador de Reportagens David Renault Orientadora de Fotografia Susana Dobal
Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação Departamento de Jornalismo 1º Semestre de 2013
1. Perfl da cidade .. 5 2. Economia - Produção agrícola .. 7 - Perfil econômico ..12 3. Política - Uma mulher no interior de Goiás .. 15
- Apoio especializado para mulheres .. 17 - Vem pra rua, ceres! ..18 4. CidAde - História de ceres ..19 - Sanemento Básico .. 23 - Segurança pública .. 29 - Saúde .. 33
5. Educação - Educação básica .. 36 - esporte nas escolas 40. - ensino superior.43 6. esporte - Ceres esporte Clube .47 - Capoeira .. 51
7. Cultura - Música .. 53 - Centro cultural .. 56 - Mostra cultural .. 59 - Lazer .. 61 - Religião ..63 8. Making of .. 65
Ceres, município de exemplos no centro do país Apesar de problemas, comuns a toda a cidade, a região atrai anualmente muitos visitantes por ser modelo na prestação de serviços.
Bruna S. Chaves
O
município de Ceres, localizado a 173 km de Goiânia e 238km de Brasília, foi criado em 1953 a partir da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG) com o objetivo de integrar o Centro-Oeste ao restante do País. Nisto serviu por muito tempo como centro de abastecimento de alimentos agrícolas e serviços para as regiões vizinhas. Com o desenvolvimento econômico do meio urbano e a emancipação das regiões rurais adjacentes, Ceres, que hoje possui aproximadamente 213 km², deixou de ser referência no meio agrícola e se destacou na prestação de serviços como educação e saúde, um dos fatores responsáveis por movimentar a economia local e atrair visitantes. O município possui cerca de 22 mil habitantes sendo que, desses, apenas 4,5% vivem em zona rural, sua população flutuante anual gira em torno de 280 mil pessoas. Os moradores, em sua maioREPORTAGEM CERES | 5
ria, vivem do comércio, que é autossuficiente. O poder de consumo da família ceresina é alto, a economia local é dinâmica, o município tem quatro agências bancárias diferentes, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, Bradesco e o Banco Itaú. Quem desejar conhecer o município a pé terá de se preparar para suar bastante, pois encontra-se em região de topografia acidentada e muitas de suas avenidas são inclinadas e largas. Ceres conserva também características de cidade interiorana, as casas têm muros baixos e muitas pessoas não se preocupam em deixar os portões abertos durante a noite. As ruas são tranquilas, o silêncio divide espaço com o som dos pássaros. O barulho, tão comum nas grandes cidades, só começa às 6h da tarde, quando as pessoas estão voltando do trabalho, momento em que as ruas são tomadas por carros e motos, mas não dura muito: às 8h da noite já se pode ouvir o balançar das folhas nas árvores. A maioria dos ceresinos tem pelo menos um carro na garagem - ao todo são
de 17.000 veículos. Em um município onde não há transporte público, quem não possui automóvel faz uso de táxi ou mototáxi. Apesar destas opções de mobilidade, muitos acidentes de trânsito acontecem em Ceres, motivo que levou a população a reivindicar à prefeitura a construção de ciclovias, melhores condições do asfalto, mais iluminação nas ruas e principalmente mais faixas para pedestres. Hoje quem visitar o município notará que as praças precisam ser reformadas, muitas estão abandonadas. Ao olhar para as encostas, na margem do Rio das Almas, nota-se também que há casas com risco de desabamento, situadas em locais sem saneamento básico. O aumento do número de jovens usuários de drogas é outro fator que tem preocupado a população. Só no Conjunto Bernardo Sayão, situado atrás do Cemitério Verdes Vales, existem oito pontos de narcotráfico.
Nas próximas páginas estes e outros temas serão desdobrados em detalhes e o leitor poderá compreender, por exemplo, porque a religião foi e ainda é fator importante na formação histórica de Ceres, sendo hoje boa parte da população composta por católicos e evangélicos. São diversas as denominações religiosas espalhadas pelo município, a exemplo de paróquias, batistas, assembleias, universais e presbiterianas. No município, há também opções de diversão, os bares à noite são bastante movimentados. O Centro Cultural, com amplo auditório, serve como cine-
Julia Rangel
Barulho nas Praças Baralho nas Praças
Economia
NOVOS PIONEIROS DO CENTRO-OESTE
Sessenta anos após a fundação, Ceres luta para resgatar THOMAS GONÇALVES
S
ão 9h da manhã de quinta-feira e a reportagem ruma para a zona rural de Ceres, cidade goiana que fica a 173 km da capital. No carro, além do repórter, estão dois técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o gerente municipal de desenvolvimento rural e seu Lázaro Pimenta, um
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dos muitos produtores rurais do município. Muitos, mas não tantos quanto existiam à época da fundação de Ceres, quando eram contabilizadas 3.543 famílias de lavradores. Chegando ao sítio de Lázaro, logo percebe-se a realidade enfrentada pelos fazendeiros da região. A casa simples, a roça tímida aos fundos e algumas galinhas espalhadas pelo terreno não indicam o tamanho
da propriedade: 50 alqueires, uma das maiores do município. Porém, contando apenas com a ajuda de seu filho e de mais um rapaz, seu Lázaro não consegue converter a quantidade de terras em qualidade de produção. Os técnicos da Emater e o secretário municipal apontam uma série de melhorias a serem feitas. Mas, pela falta de recursos ou receio do fracasso, Lázaro e seu filho resistem a mudanças.
Horta da família Magela: tecnologia e orientações para pequenos produtores rurais.
sua agricultura. Ao longo das últimas seis décadas, muito mudou na cidade. Na mitologia romana, Ceres era a deusa da agricultura. De seu nome, deriva a palavra “cereal”. Não à toa, assim foi batizado um dos primeiros municípios brasileiros originados da reforma agrária. Grande produtora de arroz, feijão, milho e algodão, hoje, contudo, a agricultura de Ceres concentra-se na produção de subsistência, especialmente de hortaliças e
de gado leiteiro. Em meio a desafios, a administração municipal procura manter da Emater enfrentam resistência essas famílias no Técnicos a mudanças de muitos agricultores. campo e iniciar ousados projetos agrícolas. área bem menor, dois alqueiInstituições como a Emater res, a propriedade rende a são importantes para os lavra- olhos vistos. Os Magelas dores ceresinos. Voltando colhem os frutos por aceitada propriedade de Lázaro, a rem a orientação da Emater: reportagem visita outro sítio, recentemente, compraram da família Magela. Com uma nova casa na cidade.
A MARCHA PARA O DESENVOLVIMENTO Elevada a município em 1953, a partir da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang) na fértil Mata de São Patrício, a cidade logo demonstrou vocação agrícola. Estrategicamente no sentido norte de Goiás, a região foi importante para a “Marcha para o Oeste” do Presidente Getúlio Vargas e, depois, para o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, ao ser transferida a capital federal para o Planalto Central do País. Nas comemorações dos
sessenta anos de Ceres, foi exibido no cinema local documentário feito à época de JK sobre Bernardo Sayão, pioneiro da Cang e primeiro prefeito da cidade. Fora do cinema, pouco se vê da antiga glória agrícola. A cidade especializou-se em comércio e serviços, muito graças à população estudantil, atraída pelas instituições de ensino superior, e ao progresso gerado pela BR-153, a chamada Belém-Brasília. Para Divina Lúcia de Resende, analista de desenvolvimento rural da Emater,
uma das causas para a redução da agricultura em Ceres foi a emancipação de três de seus distritos – Rialma, Nova Glória e Ipiranga, que, segundo ela, permaneceram com algumas das melhores terras. Outra explicação foi a valorização de monoculturas, especialmente da cana-de-açúcar. A compra de propriedades rurais e a mecanização estimularam o êxodo para o perímetro urbano. Para muitos, a produção sucroalcooleira transfere poucos benefícios à região, acumulando rendi-
A FEIRA DO PRODUTOR DE CERES AO LONGO DO DIA
Lavradores chegam bem cedo para expor produtos que trouxeram da horta.
mentos nas mãos de grandes usineiros. AÇÕES NO PRESENTE Criada há treze anos, a feira do produtor rural, promovida em galpão coberto próximo à prefeitura, é uma das principais iniciativas voltadas aos lavradores ceresinos. Diferentemente das feiras livres, nesta só podem participar produtores, que devem estar vinculados a uma associação rural, e não podem vender antes das 17h. Perguntamos ao feiran-
te Uálton, enquanto organiza tomates que trouxe da horta, se a feira do produtor é importante para sua renda. “Facilitou muito. Antes, não conseguia ven-der as coisas da roça. Hoje, vendo praticamente tudo. Representa 70% de minha renda.” Lembrando do preço cobrado pelo tomate em Brasília, a reportagem tentou comprar alguns. “Só depois das cinco, antes não pode”.
Ceres são algumas das explicações. Segundo Adaílton Nunes de Andrade, vice-presidente da feira do produtor e presidente da Associação Córrego do Alegrete, a ideia é aprimorar a feira, reformando o espaço e vinculando novas associações. Ao ser questionado sobre a destinação dada ao excedente da feira, Adaílton responde: “dificilmente sobra alguma coisa.”
A feira do produtor não foi exitosa em cidades vizinhas, como Rialma. Falta de organização e a concorrência com
Às cinco da tarde, uma leva de consumidores adentra o galpão e logo comprova as palavras de Adaílton.
Às 17h, consumidores chegam. A feira representa boa parte da renda dos produtores.
Geralmente, não há sobras no fim do dia.
Difícil não ver alguém saindo com sacos plásticos carregados de produtos. Antes que seja tarde, a reportagem vai correndo comprar alguns tomates no balcão de Uálton. PROJETOS FUTUROS A prefeitura volta-se para o futuro de Ceres. “Queremos fortalecer o produtor por meio de tecnologia para que ele não saia do campo”, diz Éder Moisés Leite Santos, gerente de desenvolvimento rural da prefeitura. Empreendedorismo é uma das tradições da cidade. Nos anos 1970, a Emater estimulou o cultivo de bichoda-seda na região. A iniciativa, que contou com parceria da empresa japonesa Shoei, foi um sucesso. A boa ventu-
ra, porém, durou pouco. A concorrência da seda chinesa e as sucessivas crises econômicas dos anos 1980 foram fatais para a sericicultura local. Em inícios de 1990, a Shoei deixou os criadores à própria sorte, sem ter mais
A feira do produtor ainda tem muito o que crescer. – Adaílton Nunes de Andrade Vice-presidente da feira do produtor
a quem vender a produção. Vinte anos depois, pouco resta além de boas lembranças: “Se pudesse, faria tudo de novo.”, diz Edgar de Assis, um dos antigos sericicultores ceresinos. Atualmente, a prefeitura planeja nova empreitada: fruticultura, pelo projeto Vida no Campo. Diferen-
temente da experiência anterior, a ideia é dominar todo o processo: plantio, agregação de valor e comercialização. Já existem fábricas em Jaraguá e São Patrício para receber a produção. Segundo Éder, pretendese cultivar frutas do cerrado, respeitando a flora local. Além disso, há planos para a expansão da piscicultura, aproveitando projeto de hidrelétrica na região, e para a produção de biodiesel. Menor, mais urbanizado e voltado para serviços e comércio, Ceres ainda apresenta vocação agrícola. Em vez de tentar resgatar o passado, o poder público local envida esforços para direcionar os lavradores da região rumo ao futuro. Orientações técnicas, infraestrutura adequada e organização em associações, bem como a diversificação de produção, são fundamentais para manter famílias no campo e reduzir desigualdades sociais.
Éder Moisés Leite Santos, gerente de desenvolvimento rural municipal: ações para manter famílias no campo.
O GRANDE diferencial da PEQUENA cidade Com 22 mil habitantes, Ceres possui invejável qualidade em saúde e educação, principais áreas de sua economia POR ANDRE SANTOS E
MARILIA NESTOR FOTOS: LUIZA ANTONELLI
Marcas do passado
T
endo sua origem na Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), Ceres nasceu em 1940 com o objetivo de integrar o Centro-Oeste ao restante do país, funcionando como centro de abastecimento de alimentos agrícolas e serviços para outras regiões, como por exemplo, base operacional na construção da estrada Belém-Brasília. Sua condição de base operacional resultou na especialização da prestação de certos serviços, hoje, a principal e mais importante atividade econômica da cidade. Na década de 40 do século passado, o que acabou se sobressaindo foi a construção do hospital Pio X, existente até hoje. O mais interessante é perceber que o setor de saúde possibilitou o crescimento da colônia, a ponto de transformá-la numa cidade, e também o crescimento de áreas adjacentes,como Ipiranga e Nova Glória.
A saúde representa não somente a principal área econômica. Representa também o contraste entre o passado e o presente.
Ceres hoje Segundo o boletim do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 60% das despesas pública de Ceres são nas áreas de saúde e educação, índice elevado, considerando outras cidades do país. Em Goianésia, município próximo à cidade com uma população duas vezes e meia maior, por exemplo, essas mesmas despesas totalizam cerca de 40% das totais. Os gastos relacionados à saúde são explicados por uma lógica de mercado semelhante à de Brasília: oferecendo serviços de melhor qualidade, há aumento significativo na demanda, causado por pessoas que, na sua grande maioria, não fazem parte da região. Sua capacidade de atendimento, com 10 hospitais, 15 farmácias, oito clínicas e laboratórios e mais de 70 profissionais médicos, beneficia 27 municípios com população aproximada de 300.000 habitantes. “Shopping Center na área de saúde”. Assim Alexandre Bolças Marques, secretário
de Administração e Modernidade, define a cidade. Ceres atrai farmácias, óticas, estudantes de medicina, pessoas à procura de melhores tratamentos médicos e indústria e serviços relacionados à área de saúde, consequências da força do setor na cidade. A composição do mercado de trabalho ceresino também demonstra isso: juntas, as áreas de comércio e serviços compõem quase 70% do mercado formal. “Falar em Ceres é se lembrar dos hospitais”, continua Alexandre. Além da saúde, outra área de destaque em Ceres é a educação, representando uma parcela substancial da arrecadação do município, que conta com oito faculdades, entre elas uma federal e outra estadual. Caso Ceres dependesse somente de sua própria população, não haveria demanda suficiente para toda a oferta existente. É crucial na cidade a interação e mútua dependência das regiões vizinhas. Alexandre conta que, durante a semana, é possível perceber grande movimento de carros de pessoas de outras cidades atraídas pela oportunidade de bom estudo, serviços de saúde e pelo próprio comércio. Expectativas e metas “Diversificação da produção”, responde Alexandre ao ser questionado sobre as metas para o crescimento da economia ceresina, e não mostra dúvidas: “A partir do momento em que seu mercado é formado basicamente
por um único setor, o que acontece com sua economia caso esse setor quebre?”. Por isso, ele defende que as atividades locais se expandam para outros setores econômicos. A cidade possui potencial em várias áreas que ainda não são devidamente aproveitadas, como na própria educação, no turismo agroecológico e na indústria têxtil. Alexandre conta que a cidade acaba perdendo pessoas capacitadas para outras maiores, como Goiânia, por não haver vagas de atuação em determinadas áreas, o que foi também um dos motivos principais pelos quais a cidade apresentou, na década de 90, êxodo
populacional para maiores centro urbanos. Para que as falhas não mais se repitam, Alexandre reforça a necessidade de implementar políticas empreendedoras e reformar estruturas administrativas e físicas na localidade para facilitar e estimular o surgimento de novos negócios, sem burocracia. Lembra que hoje uma pessoa chega na prefeitura e dá de cara com o setor de cobrança de taxas, quando o ideal é “criar um shopping center para novos empreendedores, onde as pessoas possam facilmente ter informações, entrar na formalidade e obter créditos”, afirma.
política
Uma mulher no interior do Goiás
Eleita em 2012, a prefeita de Ceres, Inês Brito, tem desenvolvido programas para combater a violência contra a mulher e aplica na cidade um novo modelo de gestão
E
m 2013, a região do Vale do São Patrício recebeu, pela primeira vez, o Partido dos Trabalhadores (PT) e uma mulher para gestão de um de seus 22 municípios. Inês Brito (43), atual prefeita de Ceres, tem sua administração marcada pelo Programa de Qualidade de Vida – Amor Exigente (Pqvae), que inclui políticas públicas de defesa e assistência às mulheres vítimas de violência doméstica, além de projetos
Texto por Luana Melody Fotos: Victor Pires
desenvolvidos nas escolas, públicas e particulares, para a prevenção do uso de drogas e do abuso sexual infantil. Com o apoio de uma pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), a prefeitura de Ceres busca trazer para a prática o modelo de gestão integrada, que faz com que todos os setores sejam parceiros no desenvolvimento de ações e projetos como o Pqvae. “Nós determinamos o papel e as parcerias de cada secretaria e conse-
lho; eles são como mini-prefeituras. Porque não adianta dar palestras nas escolas se não há boa iluminação nas praças, se não tem cultura e lazer para os jovens nas periferias. Ou integra isso ou não dá para gerir”, explica a prefeita. Atribui-se a eleição da prefeita Inês Brito em 2012, entre outras coisas, à sua atuação como vice-prefeita na gestão anterior, quando conseguiu mais apoio do governo federal para os projetos
do titular Edmário Barbosa (PSDB). Ademais, Inês Brito acredita que ter trazido o presidente Lula à cidade em 2006 influenciou positivamente sua representação e pode ter contribuído para a eleição. A prefeita conta que
a comunidade de Ceres, por ser mais esclarecida que em outras regiões, em sua opinião, não manifestou, de modo geral, preconceitos ao eleger uma mulher, mas há setores hostis à sua presença. “Na própria equipe existem
alguns preconceitos ainda, brincadeiras, piadinhas, e eu tenho que cortar. Está impregnado na cultura e eu relevo às vezes porque sei que é cultural, é um processo, uma construção”, reconhece a prefeita.
Problemas na infraestrutura da cidade
Na outra margem do Rio das Almas
Com cinco meses de administração, a prefeitura de Ceres trouxe melhorias para alguns setores da cidade, mas ainda há urgência em outros. O estudante Lucas Fernandes (24), um dos organizadores da manifestação do dia 21/06, conta que a prefeitura tem falhado na manutenção de praças e parques, como o Parque Curumim, que está interditado desde o ano passado, e também no cumprimento de promessas de campanha, como a rede Wi Fi gratuita para todos. Já Edvaldo Nepomuceno, jornalista do Jornal Farol 21, acredita que a prefeita Inês Brito herdou muitos problemas da gestão anterior e talvez ainda não tenha tido tempo para mostrar resultados. “Há grande insatisfação por parte da população em geral, muitas críticas à administração dela. Mas, foi uma herança ruim, ela recebeu o município praticamente sucateado”, observa o jornalista.
A administração pública de Rialma está ao encargo do prefeito Janduhy Diniz (PSDB), que tem como principais diretrizes o empreendedorismo e melhorias na indústria agropecuária da cidade. Além de prefeito, Janduhy Diniz é sócio de uma empresa de produtos alimentícios, a Saborelle, e por isso adotou como nome de campanha “Janduhy da Saborelle”. Para o taxista Elder Ferreira (30), foi essa postura empresarial que mais pesou na eleição de 2012, pois na época o índice de desemprego da cidade estava alto. Embora pertençam a partidos rivais no âmbito federal, a prefeitura de Ceres tem relação de parceria em vários projetos com Rialma. No início de junho deste ano, por exemplo, os prefeitos Inês Brito e Janduhy Diniz tornaram-se presidente e vice, respectivamente, de um consórcio com 33 cidades para melhorar o saneamento da região do Vale do São Patrício, por meio de obras de aterro sanitário. Outro importante projeto de parceria entre as duas prefeituras é o “Cidade Digital”, que ainda está tramitando no Congresso Nacional. De acordo com Inês Brito, as parcerias com Janduhy Diniz são importantes para a boa realização de projetos locais. Afinal, “se nós reprimimos aqui, os bandidos podem ir pra lá, ou vice-versa”, esclarece a prefeita.
APOIO ESPECIALIZADO PARA MULHERES Instituição é referência em políticas públicas do Vale do São Patrício Texto: Alannah Tobias Fotos: Carolyne Cardoso
Criado em 2009, o Centro Regional de Referência da Mulher (CRRM) do município de Ceres trabalha na defesa dos direitos do sexo feminino. É um espaço de acolhimento, atenção psicológica e social, orientação e encaminhamento jurídico à quem se encontra em situação de violência física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial. O Centro auxilia a vítima de violência, encaminhada pela delegacia de polícia ou
pelo hospital, prestando, inicialmente, atendimento social e psicológico, em que é traçado um perfil da vítima, apoio e acompanhamento periódico. O passo seguinte é a elaboração de uma medida de proteção pelo departamento jurídico, visando afastar o agressor e garantir a integridade da mulher. Dependendo da gravidade, a vítima é encaminhada ao abrigo localizado em Goiânia, onde vivem outras mulheres na mesma situação, que, mu-
tuamente, são orientadas e acompanhadas em reuniões e palestras para uma futura reinserção no âmbito social, minimizando as sequelas deixadas pelas agressões. Apesar de Ceres ser uma cidade relativamente pequena, em 2012 foram registrados 136 atendimentos. Os dados sobre 2013 não estão disponíveis. O perfil das vítimas abrange, em geral, mulheres com idade entre 25 e 40 anos, donas de casa, casadas, com filhos e com
baixo nível de escolaridade. Grande parte dessas mulheres, mesmo com a medida de proteção, volta a viver com o agressor por medo de futuras retaliações, mas, principalmente, por depender financeiramente dele. Como forma de driblar esse obstáculo, o CRRM tem uma parceria com o Centro Tecnológico da cidade, onde desenvolve uma cooperativa de corte, costura e modelagem, capacitando e inserindo estas vítimas no mercado de trabalho.
Para Josy Nogueira, gerente de políticas públicas para mulheres, o importante é o trabalho no fortalecimento da auto-estima, conquistado durante o tratamento com a psicóloga e nos grupos de apoio. “É preciso empoderar essa mulher que chega aqui fragilizada para que ela não tenha medo de seguir adiante no processo contra o agressor”, afirma Josy. Dentre as atividades desenvolvidas no Centro, destaca-se o grupo de apoio Amor Exigente que
Vem pra rua, Ceres! No dia 21/06, o clima nacional de manifestações levou cerca de 1.000 pessoas para a Praça Álvares de Melo, também conhecida como Praça G3. Entre as principais reivindicações estava: internet Wi Fi gratuita para a cidade, operação tapa -buracos e manutenção, reforma e melhoria do sistema de iluminação dos parques e praças. Além disso, foi um ato de apoio ao movimento nacional “Vem pra Rua” e ocorreu de forma pacífica. Semelhante às manifestações de outros estados, a de Ceres foi organizada pelo Facebook, através da comunidade “Vem pra Rua, Ceres!”. Lucas Fernandes (24), estudante de Direito e um dos organizadores da manifestação, conta que no dia 17 foi marcada a data para a manifestação e em menos de 24h já havia quase mil seguidores. “Inclusive, vieram algumas pessoas de Rubiataba para conversar com a gente e perguntar como se organiza uma manifestação”, destaca Lucas. A Praça G3 foi escolhida para a concentração dos manifestantes porque no passado era o local mais frequentado pela juventude, mas atualmente está em situação de abandono. “Nós, jovens, não temos muito o que fazer na cidade para diversão. O último filme passado no cinema foi em 2007 e destruíram a praça em que nos encontrávamos para conversar”, protestou o estudante de 16 anos que pediu para não ser identificado. Outro organizador do “Vem pra rua, Ceres!”, o estudante Lucas Evangelista (18), informa que um representante da prefeitura tentou pegar o microfone na praça, mas foi impedido pelos manifestantes, porque não era intenção tornar o movimento partidário. Texto: Luana Melody Brasil e Marília Nestor
reúne vítimas e familiares com o intuito de enfrentar o problema da violência doméstica. O Centro hoje possui uma assistente social, uma psicóloga, uma advogada, e, mesmo com o escasso investimento do governo do estado, os atendimentos são mantidos, propagando e fortalecendo a equidade de gênero. “Não queremos ser melhores que os homens, queremos apenas igualdade”, finaliza a gerente.
CIDADE
Ceres De celeiro agrícola à cidade referência em Saúde
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eres teve sua origem na Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), fundada em 19 de fevereiro de 1941. A CANG foi resultado da política de expansão econômica conhecida como “Marcha para o Oeste”, do então Presidente Getúlio Vargas. Com as Colônias, pretendia-se reunir cidadãos aptos à agricultura, criar uma frente de produção que abastecesse a população brasileira e desbravar o território do interior do país. A criação da CANG foi liderada pelo Engenheiro Bernardo Sayão e o local escolhido foi o Vale do São Patrício, à beira do Rio das Almas. Para povoar a CANG, o governo investiu em propagandas por todo o país, nas quais eram enfatizados a fertilidade do solo e o apoio técnico do Governo. A propaganda foi eficiente, atraindo muitos imigrantes. A partir de 1946, chegavam à Colônia, em média, 30 famílias por dia. Em 1953, já residiam na CANG 36.672 pessoas, das quais 33.222
Por Taise Borges Fotos de Isabella Campedelli
viviam na zona rural. Esses imigrantes eram provenientes dos estados de Minas Gerais, São Paulo, do Norte do país, do próprio Estado de Goiás, do Sul do Brasil e de outros países. Para residir na Colônia, era preciso respeitar as leis, a moral e os bons costumes. Ao ceder os lotes, Bernardo Sayão determinou que os moradores não podiam se envolver, por exemplo, com bebida alcoólica e diversões noturnas. As exigências para a fixação na CANG impediram que muitas famílias interessadas adquirissem lotes. Essa população excedente se fixou na margem direita do Rio das Almas, dando origem ao povoado de “Barranca”, hoje, Rialma. Por não contar com normas tão rígidas e possuir ambientes propícios à diversão, a Barranca tornou-se a opção de lazer dos habitantes da própria Colônia. No início da década de 1950, o núcleo urbano da CANG começou a se desenvolver,
obedecendo ao modelo de cidade planejada. O projeto urbanístico previu a construção de ruas largas, uma avenida que delimitava o perímetro urbano (atualmente, a Avenida Bernardo Sayão) e uma praça central conectada aos principais acessos (hoje, a Praça Cívica). O projeto foi consolidado por Bernardo Sayão que, enquanto Administrador da CANG, primou pela organização e modernidade da sede urbana. A emancipação da Colônia ocorreu em 4 de setembro de 1953, data em que, hoje, é comemorado o aniversário da cidade. O nome foi sugerido por Bernardo Sayão: “Ceres” que, na mitologia romana, significa “Deusa da Agricultura”. No período de emancipação, a Colônia contabilizava 36.672 habitantes, dos quais 33.222 viviam na zona rural. A região constituiu importante fronteira agrícola de Goiás, especialmente nas décadas de 1940 e 1950. Produzia-se arroz, milho, feijão, açúcar, algodão, café, cana-de -açúcar, mandioca. A relativa proximidade de mercados consumidores como Anápolis e Goiânia e a abertura de novas estradas, facilitavam o escoamento e incentivavam o cultivo. A elevada produção da Colônia atraiu empresas beneficiadoras de alimento para a região. Nesse mesmo período, o Governo brasileiro adotou a política da Revolução Agrícola, privilegiando a agricultura para exportação. Na década de 1960, muitos colonos deixaram suas terras e migraram para cidades próximas. A pequena propriedade cedeu lugar às grandes fazendas. Nas décadas de 1960 e 1970, todo o estado de Goiás foi palco de uma explosão demográfica e consequente urbanização. Anteriormente conhecida pela produção agrícola, Ceres se estabeleceu como centro regional na área da saúde, do comércio e da
indústria. A especialização em saúde esteve associada à concentração populacional e demanda por serviços da área, ausência de grandes centros urbanos nas proximidades e à construção do Hospital da CANG, que começou a funcionar em 1946. Na década de 1940, a administração do Hospital era responsabilidade do Governo Federal. Com a emancipação da Colônia, ele foi entregue à Igreja Católica e passou a se chamar São Pio X. O Hospital teve papel fundamental para a consolidação do setor de saúde em Ceres, atraindo pacientes e profissionais de muitas regiões do país. Pela dificuldade da população em se deslocar até Anápolis ou Goiânia e diante da alta demanda, novos hospitais foram criados. Criada com a finalidade de ser um seleiro agrícola do país, Ceres cumpriu seu papel até que as dinâmicas territoriais da região trouxessem novas demandas. De fronteira agrícola, a antiga Colônia foi transformada em referência na área médico-hospitalar, tendo na Educação outro setor de destaque nacional.
“
Para residir na Colônia, era preciso respeitar as leis, a moral e os bons costumes. Ao ceder os lotes, Bernardo Sayão determinou que os moradores não podiam se envolver, por exemplo, com bebida alcoólica e diversões noturnas”
Uma cidade que deve sua origem a
Bernardo Sayão
“D Casa onde viveu Bernardo Sayão enquanto administrou a Colônia Agrícola
Ideldites Ribeiro, zelador da histórica casa de Bernardo Sayão
esbravador da Floresta”, “Herói P i o n e i r o”, “Bandeirante do século XX” – esses são três dos títulos atribuídos a Bernardo Sayão, personalidade conhecida nacionalmente pelas contribuições ao desenvolvimento da infraestrutura do país. Tendo sido bem sucedido na implantação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG) e posterior estruturação da cidade de Ceres, Sayão foi convocado a participar de maiores empreitadas, como o início das obras da Capital Federal e a construção da Belém-Brasília, rodovia de 2 mil quilômetros que liga, hoje, o Distrito Federal aos estados de Goiás,
Tocantins, Maranhão e Pará. Bernardo Sayão nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1901. Durante o governo de Getúlio Vargas, ficou responsável por implantar a CANG, pioneira de oito Colônias criadas pelo Governo Federal na década de 1940 e uma das primeiras e bem sucedidas experiências em reforma agrária no país. Bernardo Sayão incentivou a produção agrícola local por meio da doação de lotes de terra aos casais interessados e foi responsável pela infraestrutura do município de Ceres, cidade construída segundo modelo urbanístico planejado. Algumas lembranças do Engenheiro estão preservadas em Ceres. José Ferreira
da Silva, conhecido, na cidade, por Zé Buriti, sabe da importância de se preservar a História. Entre as antigas peças que guarda – ferramentas diversas, utensílios domésticos, objetos pessoais – Zé Buriti preserva uma cama e um armário que pertenceram ao fundador da cidade. “Essas peças contam a história de Ceres. É muito importante tê-las preservadas”, afirma, ao abrir as portas de um dos locais onde abriga as peças históricas. Para preservar com mais segurança e tornar o acervo mais acessível à população ceresina, está planejada a construção de um Museu. O local escolhido é a antiga casa de Bernardo Sayão, no alto de um dos morros que circundam a cidade. Segundo Ideldites Alves Ribeiro, vigia da casa nos finais de semana, a construção está bem cuidada e preserva os traços originais. “A maior parte da casa é original da época em que Bernardo Sayão morou aqui. Cuido para que ela não sofra nenhum dano”, afirmou Ideldites. A localização da casa é visivelmente estratégica e confirma o rigor com que Bernardo Sayão controlava os bons costumes da sociedade ali formada. Da varanda, com vista privilegiada
de toda a região, é possível enxergar a entrada da cidade e o Rio das Almas, que divide Ceres e Rialma. Enquanto Administrador da Colônia, Bernardo Sayão prezou pela disciplina dos moradores, proibindo que se envolvessem, por exemplo, com as diversões noturnas recorrentes em Rialma. O engenheiro morreu em 15 de janeiro de 1959, em Açailândia, no Maranhão. Uma árvore caiu sobre sua barraca durante as obras da Belém/Brasília. Sua morte resultou no único dia em que as obras em Brasília foram interrompidas. O acidente impediu que o engenheiro participasse da inauguração da Capital Federal e da rodovia, cujo término seria anunciado assim que os últimos 50 quilômetros fossem concluídos.
Placa em um dos locais onde Zé Buriti preserva as relíquias da cidade
Estrutura de
saneamento
básico é
a
recente preocupação
de secretarias
Construído a mais de 23 anos, Lixão será desativado e secretários desenvolvem soluções para o assunto. Por: Bruna Furlani e Breno Damascena Fotos: Bruna Chaves
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eres foi uma cidade planejada, a maioria da população tem acesso à rede de esgoto, água tratada e saneamento básico. Mas, algumas regiões sofrem com problemas na infra-estrutura, como esgoto a céu aberto e bueiros entupidos. O relevo acidentado, a ocupação e a invasão de Áreas de Preservação Permanente (APPs) contribuíram para o surgimento dos problemas no local. Políticas públicas são tomadas para superar os obstáculos que, de acordo com Inês Brito, prefeita do município, tem como maior empecilho a falta de consciência ambiental dos moradores.
Lixão O lixo da cidade é depositado em terreno concedido pelo governo. Inaugurado em 1990 possui aproximadamente 35 pessoas trabalhando em situação desumana. O acesso ao local, distante, cerca de cinco quilômetros da cidade, é evitado pela população. Além disso, está localizado a 300 metros de um dos afluentes do Rio das Almas, o Rio Verde. Quando chove, uma parte do lixo escoa e a água é usada para turismo e lazer. Marcos Alves Ribeiro, Secretário de Meio Ambiente e Saneamento, concorda que o lixão é responsabilidade da prefeitura, mas dispõe apenas de três funcionários no local, os outros, segundo ele, trabalham para quem explora o material. “Existe certo poder de quem comercializa o que é reciclável. O responsável por estes trabalhadores é um líder político regional que não assina carteira e expõe as pessoas a esta situação. Não é só em Ceres, em outras cidades ocorre a mesma coisa”, explica ele. Os resíduos de lixo que desembocam no rio representam, segundo Marcos, uma quantidade irrisória se comparada ao volume de água, já que a maior parte é dilúida antes de chegar à população. A Saneamento de Goiás S/A. (Saneago) é
responsável pelo tratamento da água cujo controle é periódico. “Tem contaminação, mas não foge aos padrões estabelecidos pela OMS (Organização Mundial de Saúde)”, afirma o Secretário. O local não tem licença ambiental e Marcos culpa os governos anteriores por assistirem ao problema e apenas “jogarem a poeira para debaixo do tapete”. A primeira medida para sanar a questão já foi tomada: em dois de agosto de 2010 foi assinada a Lei Federal 12.305 que estipula a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O ponto principal deste projeto é o estabelecimento de um prazo para o fechamento de todos os lixões até 2014 e para a construção de aterros sanitários que comportem a capacidade de cada região. Devido à necessidade de implementar tal medida no município, a prefeitura de Ceres decidiu conduzir as discussões para a elaboração do Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos e Águas Pluviais da Região São Patrício (CORSAP – GO). Cidade-sede e, juntamente com Rialma, uma das organizadoras, influenciou a união de 33 municípios. A proposta macrorregional envolve um planejamento integrado em quatro eixos principais: água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem.
Coleta seletiva Além do Consórcio de Resíduos Sólidos outra medida, ainda em fase de planejamento, é a Coleta Seletiva. Pedro Ivo, Coordenador de Meio Ambiente, ressalta que o
apoio dos moradores para a separação do lixo é fundamental. Tal procedimento será reali zado de porta em porta e duas vezes ao dia pela manhã nas residências e pela noite no comércio. A prefeitura também disponibi lizará pontos de entrega voluntária (PEV’s) estruturas metálicas para que a população coloque o material. A prefeitura vai disponibilizar cami nhões de coleta e doar todo o material par as Cooperativas de Catadores de Materiai Recicláveis. O estudo para a criação da ini ciativa foi feito em parceria com a Univer sidade Federal de Goiás (UFG). O projeto vinculado ao Ministério Público, promove rá a troca de conhecimentos entre catadore e universitários pelo período de três anos Além do destino correto dado ao material, atividade visa inclusão social, geração de em prego e renda. “Toda a comercialização do produtos será revertida para a própria coo perativa”, afirma Pedro.
esgoto
De acordo com a prefeitura, mais d 94% da população já tem acesso a rede de es goto, mas apenas 47% fez a ligação. “A estru tura está disponível e o gasto está incluso n conta, mas os próprios moradores não fazem a sua parte, por isso muitos ainda utilizam as fossas ou despejam os resíduos nos rios afirma a prefeita Inês Brito. “Aqui só tem uma rede mestra, mas nunca foi ligada às ca sas”, conta um habitante do bairro Bernardo
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Questionado sobre o esgoto a céu aberto, o Secretário de Meio Ambiente afirmou que é um caso isolado e que isso se deve a uma falha histórica. Nos bairros mais baixos, construídos sob lugares com diversas minas de água não é possível furar fossa séptica, por isso antigas redes de drenagem são utilizadas para a rede de esgoto. O município procura, junto com a SANEAGO, criar uma nova rede e mudar o fluxo para controlar e evitar estes problemas. “Por enquanto são feitos paliativos, mas não dá para ser perfei-
conscientização da população De acordo com o Secretário, o principal problema da cidade é a falta de consciência ambiental da população. Por esta razão várias iniciativas são tomadas nesse sentido. A principal delas é a Semana do Meio Ambiente. O evento ocorre todos os anos em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. Em sua décima edição procurou-se mostrar aos moradores como se tornar mais sustentáveis através de ações que os envolveram. Entre as atividades estavam palestras, oficinas, apresentações e a Descida ao Rio das Almas, onde foi coletada mais de uma tonelada de lixo. O tema deste ano foi Educação Ambiental e Consumo Sustentável e para tornar a campanha mais interativa, contou-se com a participação do grupo Boca de Lixo.
“A estrutura está disponível e o gasto está incluso
na conta, mas os
próprios moradores
não fazem a sua parte, por isso muitos ainda utilizam as
fossas ou despejam os
resíduos nos rios
”
Inês Brito, prefeita de Ceres
Maria das Graças, 63 anos, uma das catadoras mais antigas do local, veio da cidade de Unaí, Minas Gerais. O sustento da casa, em que mora com a mãe, é pago pelos R$300, 00 que recebe.
Região pequena
NÃO pequenos
significa
problemas Apesar do destaque em saúde e educação, a segurança pública ainda não acompanha o crescimento da cidade. Por: Tainá Andrade Foto: Isadora Andrade
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eres possui cerca de 22 mil habitantes morando em seu território. O crescimento acelerado do ensino superior e o destaque na saúde pública contribuíram para o aumento de uma população flutuante, girando em torno de 280 mil pessoas diariamente, das quais quatro mil são jovens, a maioria estudantes que voltam para suas casas no fim do dia. O problema é que essa demanda gera intranquilidade. Transtornos no trânsito e drogas são alguns dos obstáculos mais presentes. “Do ponto de vista de cidade violenta, o trânsito é o maior problema de segurança pública em Ceres e, depois, a droga”, diz Maria Inês, prefeita da cidade. Andar em Ceres não é tão tranquilo quanto pode parecer. A falta de faixas pedestre e de sinalização é evidente, assim como o desrespeito pelas pessoas. O Conselheiro Comunitário de Segurança Tenisson Pereira afirma que a cidade só dispõe de três sinais, além de faixas apenas na frente das escolas. Também não há fiscalização e educação corretas para os motoristas e o governo não está à frente do processo porque a questão só passou a ser preocupação recentemente. A crescente demanda universitária e a falta de transporte público levaram à expansão do mercado automobilístico, ocasionando multiplicação de carros e motos. Hoje em dia, existe uma frota de 18 mil veículos, o que equivale a quase um carro para cada habitante. Além disso, a cidade é conhecida pela grande quantidade de motocicletas em circulação, fato que acarreta em um índice elevado de acidentes envolvendo o veículo de duas rodas. A prefeitura prevê a criação de uma
de uma Secretaria Municipal de Trânsito até o fim do ano. No momento, em parceria com o SAMU e a Secretaria de Saúde, é realizado um projeto de educação no trânsito. “A questão do trânsito é amadora porque ainda depende do Estado, para mudarmos algo temos que esperar funcionários de Goiânia. Isto mudará com a implantação da Secretaria”, explica a prefeita. A demora na aprovação de projetos não afeta apenas o trânsito. O policiamento do município também é prejudicado. A ronda diminuiu com a aposentadoria de alguns
A educação no trânsito é fundamental para diminuir o número de acidentes. A parceria entre a prefeitura de Ceres e o SAMU é fundamental para o sucesso do projeto.
membros e a retirada de grupo, como o Gerenciamento Nacional de Apoio Civil (GENAC), que trabalhava com agentes infiltrados, atrasando operações de combates ao tráfico. A promessa de abrir edital para contratar 1.000 policiais e delegados é antiga e, enquanto não acontece, a cidade se sustenta por meio de policiamento comunitário, atuante próximo ao cidadão, do policiamento militar, que trabalha com a prevenção dos problemas, e da presença, há dois meses, do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), especializado em combate às drogas e que atende todo o estado de Goiás. Mesmo assim, o Major Jeferson, comandante do efetivo policial de Ceres, coopera com cidades vizinhas do Vale do São Patrício e as auxilia, caso haja necessidade, principalmente em questões relacionadas a entorpecentes.
Problema crônico O combate às drogas tornou-se o foco de preocupação das autoridades em Ceres. O conselheiro do município, Tenisson Pereira, atribui o problema ao crescimento de cursos superiores, o que acarretou na vinda de elevado número de jovens para a cidade. A questão expandiu-se rapidamente. O crack e o álcool são as drogas mais comercializadas e o meio rural está entre os locais afetados. Além disso, o uso torna-se cada vez mais precoce, atingindo crianças entre cinco e dez anos. “A gente tem visto e vivido grandes dramas com as mães e usuários”, afirma
Alynne Evangelista, Secretária Executiva de Prevenção e Enfrentamento ao Uso das Drogas e voluntária no grupo Amor Exigente. Devido à necessidade de atendimento da população, demanda descoberta através de levantamento do serviço básico de saúde, foi criada a Secretaria de Enfrentamento ao Uso das Drogas, que une as instituições de combate ao problema em questão. Simultaneamente, existe o trabalho realizado pelo grupo voluntário Amor Exigente, que procura gerar projetos de prevenção desde a infância até a fase adulta, bem como auxiliar as famílias e os próprios dependentes. Esta equipe está capacitando profissionais da educação para por em prática o Programa Qualidade de Vida Amor Exigente (PQV-AE) que será implantado nas escolas de ensino infantil e fundamental da rede municipal. O projeto visa a instruir de forma saudável as crianças a entender e controlar suas emoções, assim como saber o que são as drogas, seus efeitos e consequências para, então, evitar o uso. A prefeitura, por sua vez, iniciou o projeto Mover por Esporte, que tem o objetivo de retirar as crianças e adolescentes, moradoras de bairros pobres, das ruas em horários mais propensos ao contato com as drogas. O local escolhido para a ação é o Conjunto Bernardo Sayão, em razão de ser localidade muito próxima a oito pontos de droga. Segundo Eduardo Oliveira, morador do bairro há 21 anos, a iniciativa é boa, mas está fraca, além de faltarem profissionais. “Na verdade, deveriam incentivar o esporte, mas também a educação integral; construir mais creche, praças e quadras”, diz ele, acrescentando: “já vi muitas famílias prejudicadas por causa das drogas, mas sou otimista”.
Os indicadores de análises feitas pelo Centro de Referência em Assistência Social (CREAS) mostram que há associação entre o consumo de drogas e o aumento da criminalidade. Para conter a situação, o Conselho Comunitário de Segurança investe no policiamento comunitário diuturnamente, com o treinamento de Procedimentos Operacionais Padrão (POP), para uma abordagem sis-
temática, que tem a intenção de evitar o afastamento da polícia e da população. Desse modo, torna-se mais eficaz a tentativa de coibir não só a venda, mas o uso em locais públicos. O aumento de patrulhamentos em locais críticos e a implantação, no segundo semestre de 2013, do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD) são outras tentativas de enfrentamento do problema.
O projeto “Mover por Esporte” tem obtido sucesso no combate à evasão escolar. Além disso, evita que crianças e jovens passem horas em praças da cidaded consumindo drogas.
CIDADE INTERIORANA REFER EM SAÚDE POR MARIANDA PEDROZA FOTOS: PEDRO ALVES
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alvez seja difícil de acreditar, mas Ceres com seus 20 mil habitantes possui um serviço de saúde que foge ao padrão do restante do país. A cidade está localizada no Vale do São Patrício, região que concentra outros vinte e cinco municípios e tem capacidade de atendimento para cerca de 305 mil pessoas. O que mais chama atenção são os números revelados pela Secretaria de Saúde: oito hospitais (públicos e privados), mais de 20 clínicas e laboratórios, 10 leitos particulares de UTI e 174 médicos trabalhando para o sistema público. Os centros ceresinos cobrem todo o Vale do São Patrício, dos Pirineus até demandas emergenciais do norte do país, como do Acre e de Roraima. O Hospital São Pio X foi o primeiro da cidade e sua con-
strução aconteceu em 1940, durante a marcha para o Oeste. Naquela época foi utilizado como base de tratamento específico contra as pestes que assolaram os trabalhadores da BR153, a futura rodovia Belém-Brasília, e hoje é tido como o maior hospital público da região. Em entrevista concedida para nossa equipe, a secretária de Saúde de Ceres, Janaína dos Santos, revelou que boa parte da parceria e para assistência de implementação de projetos, vem do Governo Federal. A verba anual de 1,5 milhão de reais é destinada para o pagamento dos médicos, construção de novas bases assistenciais, manutenção de hospitais e de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). O alto investimento do Ministério da Saúde e o acompanhamento rigoroso feito pela Prefeitura tornaram a cidade um polo de
RêNCIA PARA AS CAPITAIS Ceres despertou o olhar para a medicina no século passado e hoje colhe bons frutos de muito trabalho
referência na ortopedia, traumatologia, parto humanizado e na prática da hemodiálise. Questionada sobre as principais características da medicina praticada em Ceres, Janaína defende a ideia do Governo Federal em manter o Sistema Único de Saúde (SUS) porque “ele tem feito a diferença para milhares de pessoas”. O SUS trouxe para muita gente a possibilidade de ter acesso à saúde, por mais precária que ela seja. “Aqui no nosso município, a eficácia do programa é impressionante e chega perto do que seria o ideal”. Em meio a tantos bons resultados, a secretária destaca que falta um “tratamento mais humanizado. Os médicos passam pela universidade, mas muitas vezes a universidade não passa por eles”. O foco da administração agora é “capacitar os profissionais na parte técnica, mas também na humanização do trabalho e no contato com o paciente”. Motivados por essa busca humanitária na medicina, há dez anos surgiu a oportunidade de parceria
entre a rede de saúde pública da cidade e dos alunos de medicina da UnB. Os alunos do décimo segundo período, último semestre do curso, têm a disciplina obrigatória, medicina social, e são requisitados para passar um mês em Ceres com o objetivo de conhecer e praticar a atenção básica, como é conhecido o tratamento pela equipe do projeto. Antigamente os alunos atendiam no Hospital São Pio X, mas nos últimos quatro anos eles têm ficado especificamente em três Postos de Saúde Familiar, PSF: Vila Nova, Jardim Petrópolis e Santa Isabel. Uma das responsáveis pelo sucesso do projeto e por levar os alunos até o sistema de saúde ceresino é a enfermeira Isabella Nepomuceno. Formada pela Universidade Estadual de Goiás e pós-graduada na Universidade de Brasília, Isabella acredita que o sucesso tem a ver com os estudantes. “Eles chegam aqui muito empolgados e é legal ver que todo mundo quer aprender. Estão acostumados com o atendimento em emergência do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e perdem muito o senso humano nas de-
cisões. Aqui o foco é pensar que eles são médicos, mas, antes de tudo também são humanos”. Outro diferencial da cidade está no comportamento dos seus habitantes. Foi criada uma cultura educacional para a saúde que tem trazido mais agilidade e objetividade nas consultas médicas realizadas. A enfermeira Isabella exemplifica dizendo que “a população sabe exatamente qual tipo de unidade procurar, de acordo com os sintomas que ela tem”. Dá um exemplo: “se um senhor está gripado ele não vai procurar atendimento em um hospital porque no seu consciente ele sabe que para pequenas doenças ou sintomas ele recorrer a um Posto de Saúde Familiar (PSF)”. A agilidade na percepção de sintomas mais graves deve-se muito ao projeto inteligente desenvolvido pela Secretaria de Saúde. Para doenças mais simples ou com sintomas menos preocupantes o ideal é que o atendimento seja feito em um dos PSFs da cidade. Os postos lidam com a medicina familiar, trabalham com a prevenção de doenças e orientação sexual para crianças e adolescentes. Para emergências, as Unidades de Pronto Atendimento estão a serviço da população e das regiões próximas que dependem de Ceres. No caso de doenças mais graves e para tratamentos mais longos as maiores referências são o Hospital São Pio X e o Hospital Ortopédico.
SAMU atende demandas de acidentados nas rodovias.
Educação Boa educação no interior goiano
Índice mostra que a educação básica no município de Ceres tem nota superior à média brasileira P or: Victor Pires
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eres se destaca, em meio à diversidade de municípios de Goiás, pela qualidade do ensino público. A afirmativa se deve ao alto valor obtido pelas escolas ceresinas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), principal medida brasileira para avaliar a qualidade dos ensinos fundamental e médio públicos nas diversas escolas, municípios e regiões do país. Segundo a medida, as escolas de Ceres tiveram rendimento superior ao das médias goiana (com valor de 5,1) e nacional, cuja nota é 4,7. Apesar de alto (5,8), o valor do IDEB dos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas estaduais ficou abaixo do obtido na rede municipal de ensino, cuja nota foi de 6,1, acima da meta estabelecida para 2019. Quando perguntado sobre as condições da educação em Ceres, o estudante universitário Lucas Fernandes foi categórico ao afirmar que as escolas municipais vão bem, enquanto as estaduais nem tanto, ideia comum entre os ceresinos. Em relação aos anos
finais do ensino fundamental e ao ensino médio, não é possível comparar educação municipal e estadual, já que o município só tem ensino até o 5º ano do ensino fundamental. Aliás, um dos planos do Secretário de Educação de Ceres, Alcino César da Cunha, é implementar, a partir de 2014, o 6º ano nas escolas municipais. A idéia é fazer com que o município aumente gradativamente a oferta educacional ao longo dos próximos anos. Atualmente, fazem parte das instituições municipais de ensino quatro Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) e duas escolas, que atendem os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental. A única instituição do município cujos estudantes participam da avaliação do IDEB é a Escola Municipal Pequeno Príncipe, que oferece educação do 2º ao 5º ano. A diretora da Escola Pequeno Príncipe, Nair Tavares da Silva, afirmou que o alto valor do IDEB se deve à dedicação e união do corpo docente da escola. Acredita que “um dos motivos da melhoria é o foco no aluno com
O IDEB foi criado pelo Inep/MEC e busca montar um quadro da educação baseado em dois aspectos: o fluxo (progressão ao longo dos anos) e o desenvolvimento dos alunos (aprendizado). As notas são montadas ao relacionar a reprovação de alunos e o resultado de uma prova de português e matemática aplicada para medir o Índice. O valor do IDEB dos anos iniciais do ensino fundamental da rede pública (estadual e municipal) de Ceres é de 5,9 e o resultado dos anos finais é de 4,9.
dificuldade”. Segundo ela, antes de 2009, o índice de reprovação era muito alto, mas a equipe trabalhou para melhorar a situação, realizando acompanhamento pedagógico individual com os que apresentavam dificuldades. Além disso, são realizados simulados com base na prova aplicada para medir o IDEB. Alcino concorda com a diretora Nair Tavares ao afirmar que um dos pontos mais importantes para a melhoria do IDEB municipal está relacionado aos trabalhos desenvolvidos para diminuir os índices de reprovação dos alunos. Outro fator de peso é a capacitação do corpo do-
cente, por meio de palestras, cursos e programas de formação continuada. De acordo com a professora da Escola Pequeno Príncipe Antonieta Morais, “o trabalho do corpo docente da instituição não é baseado em notas e índices, mas no acompanhamento dos alunos e na qualidade do ensino”. Mesmo assim Nair Tavares vê o IDEB como o retrato do trabalho dos professores, além de um elemento que aumenta a autoestima de todos. Uma das maiores críticas dos professores, como informou Nair, tem a ver com o distanciamento dos políticos em relação aos educadores.
Segundo ela, “os professores querem um Secretário e uma Prefeita que sejam mais companheiros do educador, mais presentes, que entendam o lado do profissional, que deixem o partidarismo de lado e olhem a educação como um todo”. Afirmou que, no governo atual, tem havido melhoras em relação a isso, principalmente se comparado a gestões anteriores. Apesar das boas notas obtidas na avaliação, os estudantes da Escola Pequeno Príncipe não têm na instituição condições estruturais adequadas. Paredes rachadas e cadeiras quebradas são só alguns dos problemas enfrentados diariamente pelos alunos. A escola não conta com prédio próprio, sendo o atual alugado pelo governo municipal. Consciente dessa situação, a Secretaria Municipal de Educação de Ceres
dificuldade”. Segundo ela, antes de 2009, o índice de reprovação era muito alto, mas a equipe trabalhou para melhorar a situação, realizando acompanhamento pedagógico individual com os que apresentavam dificuldades. Além disso, são realizados simulados com base na prova aplicada para medir o IDEB. Alcino concorda com a diretora Nair Tavares ao afirmar que um dos pontos mais importantes para a melhoria do IDEB municipal está relacionado aos trabalhos desenvolvidos para diminuir os índices de reprovação dos alunos. Outro fator de peso é a capacitação do corpo docente, por meio de palestras, cursos e programas de formação continuada. De acordo com a professora da Escola Pequeno Príncipe Antonieta Morais, “o trabalho do corpo docente
da instituição não é baseado em notas e índices, mas no acompanhamento dos alunos e na qualidade do ensino”. Mesmo assim Nair Tavares vê o IDEB como o retrato do trabalho dos professores, além de um elemento que aumenta a autoestima de todos. Uma das maiores críticas dos professores, como in-
Atualmente, o número de instituições voltadas para o ensino básico em Ceres é de 19. Existem cinco escolas estaduais, com aproximadamente 1.870 alunos, e quatro escolas particulares, com cerca de 1.200 estudantes. Também há duas escolas conveniadas, com cerca de 780 alunos, e duas filantrópicas, com aproximadamente 150 matriculados. As duas escolas municipais e quatro CMEIs têm, juntas, cerca de 1.100 estudantes.
Esporte ajuda na formação de cidadãos Apesar da falta de treinamentos profissionais, atividades físicas são muito valorizadas nas escolas de Ceres POR isabella campedelli FOTOS: MARIANA PEDROZA
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as escolas municipais, estaduais e particulares a prática de atividades físicas recebem grande incentivo. Porém, a estrutura das instituições, o nível de qualidade das áreas de lazer infantil e as formas de abordagem ao esporte são diferentes entre as instituições. Para ilustrar este cenário, nossa equipe de reportagem conversou com professores, coordenadores e diretores das escolas. Maria Inês, prefeita de Ceres, acredita no esporte como potencializador de uma vida saudável e beneficiador quando se trata da convivência dos jovens em sociedade. “O esporte na cidade traz qualidade de vida, não é visto como profissão”, diz Inês. Assim, foi criado em seu governo o programa Mover pelo esporte, que consiste na prática desportiva em bairros mais carentes, com a disponibilidade de um educador físico para orientar as crianças e os adolescentes. A rede municipal de escolas na cidade conta com três professores formados em Educação Física. Eles são responsáveis
pela atividade desportiva de 1.200 alunos nas duas instituições, a Pequeno Príncipe e a Dr. Domingos Mendes da Silva, que oferecem turmas até o 5º ano. A escola Pequeno Príncipe, cujo funcionamento ocorre em um prédio temporário enquanto um novo espaço é erguido, dispõe de um grande campo de futebol e uma quadra poli-esportiva coberta, que estão em condições de uso, apesar de apresentarem certo desgaste, como paredes descascadas, gol com trave enferrujada e rede furada. Nesta escola os alunos recebem, uma vez por semana, aulas de educação física tradicional e um horário de atividades recreati-
vas organizado pelo professor de matemática. A instituição conta ainda com o projeto Mais Educação. “A iniciativa é muito boa e acontece no turno contrário ao de estudo das crianças. Eles recebem aulas de letramento, de artes manuais e de esportes”, explica a coordenadora Keila Silva. Dessa forma, os alunos são envolvidos por uma atmosfera saudável e aprendem valores que são transferidos para a vida pessoal. Keila explica também sobre a falta de vagas para atender todos: “o projeto começou no ano passado e já tem muita procura, mas, no momento ainda estamos em fase inicial e só temos 100 vagas disponíveis”. Já a escola estadual João XXIII, com classes até o terceiro ano do ensino médio, possui apenas uma quadra poliesportiva coberta que, apesar das boas condições, está suja Ginásio da Escola Estadual João XXIII
e desorganizada, devido à obra nos arredores do local. Nesta instituição os alunos contam com duas aulas esportivas na semana, uma prática e outra teórica. “Na Educação Física a gente pratica uma modalidade por semestre, agora é a vez do handball”, diz o estudante Lázaro Júnior. Na aula de Prática Esportiva é estudada a história e evolução destes esportes. Oswanir Santana é o professor das matérias obrigatórias e também coordena os times de futsal e vôlei do colégio. Os treinos acontecem no período noturno e são gratuitos para os alunos, porém, caso estejam com notas abaixo da média são suspensas as atividades como forma de incentivo para se dedicarem aos estudos. Segundo o professor Oswanir, “o esporte é necessário nas escolas porque é uma forma de interação. Ele ensina
a conviver coletivamente, pois na vida você precisa do próximo, assim como no jogo você precisa de um passe para marcar o gol”. A escola Imaculada Conceição, que recentemente se tornou particular, também oferece projetos de escolinhas no contraturno dos alunos, além de aulas de Educação Física uma vez por semana. Estudantes do grêmio recebem apoio para organizar os jogos inter-classes, responsáveis por movimentar a instituição em prol do esporte. Os times das escolinhas participam dos Jogos Franciscanos, quando os alunos/atletas viajam para representá-las em um campeonato da rede cuja escola faz parte. “Essas viagens e campeonatos são incentivos para os jovens, é extremamente motivacional e, por isso, o colégio dá to-
tal apoio”, diz a coordenadora Alice Dias. Outro momento de grande importância concedido pela escola são os “recreios dirigidos”, que consiste na distribuição de diversas atividades físicas e recreativas durante o intervalo das aulas, como basquete, ping-pong e algumas brincadeiras. A diretora Elizabeth Fernandes conta que “a prática de atividades deste tipo durante o intervalo é muito boa para evitar acidentes em brincadeiras indevidas”. Com este panorama percebe-se que as práticas desportivas são muito valorizadas e encorajadas pelos educadores infantis, apesar de Ceres não ter um esporte profissional. É reconhecida a importância do envolvimento no meio esportivo como forma de interação, de pensar e agir de forma coletiva e de aprender a vencer e a perder.
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A Educação que faltava é a raz
Além de referência na saúde e na educação básica, Ce
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eres é referência em prestação de serviços dentro da região centro goiana. Na área da educação superior não é diferente, com sete instituições de graduação, pós e técnico, cerca de cinquenta cursos, presenciais e à distância, que crescem diariamente. A expansão universitária é recente, os primeiros cursos surgiram em 2008 devido à demanda de mais habitantes na cidade. Segundo a atual prefeita, Maria Inês do Rosário, a cidade sofreu, nos anos 90, o êxodo rural, que causou a diminuição considerável da população. Uma das razões para a migração dos jovens era a falta de educação superior e foi na busca da resolução do problema que, desde o início dos anos 2000, a oferta de graduação tem aumentado em Ceres.
As faculdades e campus de ensino superior e técnico têm grande importância na região. Em média, 75% dos alunos das faculdades vêm de lugares próximos. Algumas prefeituras de cidades vizinhas disponibilizam, inclusive, um transporte para que os estudantes compareçam às aulas em Ceres e voltem para suas cidades no final da noite. Ana Júlia, aluna de enfermagem da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – campus Ceres, defende a relevância do ensino superior na vida do jovem. Conta que para conseguir frequentar o curso preferido, sua família mudou-se de Aparecida de Goiânia para acompanhá-la. Os cursos são atrativos por dialogarem com as necessidades cotidianas da população local, por exemplo, muitos deles
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zão de expansão universitária
eres tem atraído estudantes de ensino superior e técnico Por Beatriz Fidelis e Raila Spindola
contribuem para aperfeiçoar as atividades agrícolas e comerciais existentes na área e, muitas vezes, já praticadas por vários dos estudantes ou por suas famílias. Cássia, de 19 anos, moradora de Ubiataba, aluna de agronomia no Instituto Federal Goiano (IFGoiano), diz que se não houvesse esta opção de curso em Ceres ela provavelmente escolheria algum outro em sua cidade, o qual não seria de seu interesse, pois não teria condições de ir para a capital estudar. Apesar de próximos dos interesses da população, a maior parte dos cursos superiores e técnicos ainda é pago. De acordo com Marcos Terra, diretor da Faceres, a maior parte dos alunos de sua instituição tem que trabalhar para conseguir pagar os estudos. Por essa razão vários cursos superiores pres-
-enciais são noturnos, uma opção para o aluno assumir outra atividade durante o dia. Com o aumento significativo de pessoas na cidade, surgem alguns problemas: o custo de vida subiu desde o surgimento das instituições de nível superior. O Secretário Municipal de Educação, Alcino César da Cunha, explica que o aluguel de uma casa pode custar mais de 600 reais por ser um bairro próximo às faculdades. A quantidade de carros e principalmente de motos no município cresceu espantosamente e, de certa maneira, associa-se à necessidade dos alunos de locomoção, já que não há transporte público circulando pela região. De acordo com a prefeita Maria Inês, são quase 17 mil veículos em uma cidade com 22 mil habitantes.
Outro problema associado à quantidade de instituições de ensino foi a necessidade de locais direcionados ao lazer do público jovem. Por ser conhecida como uma cidade religiosa, com poucos bares e festas, as opções noturnas continuam escassas e a juventude reivindica por melhorias nesse aspecto. A única boate que há na região, na cidade de Rialma, é na verdade um bar que improvisa seu espaço nas sextas-feiras para parecer com um ambiente dançante.
Faceres
Confira as principais instituições e
Desde 2008, oferece três cursos superiores presenciais: enfermagem, administração e farmácia; pós-graduação em parceria com a UnoPar. Desejam implantar radiologia e odontologia.
UniEvangélica
Desde 2008, um curso superior presencial: direito; presença de projeto para implantar o curso de medicina
Uniderp
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Apesar disto, as expectativas para o futuro são promissoras. Segundo Maria Inês, Ceres tem a intenção de se tornar polo de estudo e preparo profissional para futuras indústrias que porventura se estabeleçam em Rialma. A circulação da mão-de-obra na própria região a tornaria ainda mais independente de Goiânia.
Mariana Machado
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Treino é treino. Jogo? Não tem... Time que chegou a fazer parte da elite do futebol goiano, hoje está reduzido a um projeto de inclusão social para jovens de até 20 anos de idade
O
coração do “professor” Dirceu Lopes ainda bate mais forte quando o ex-jogador profissional de futebol atravessa os portões e entra no Estádio Centro Olímpico de Ceres. Ao caminhar sobre o gramado, no qual defendeu o Ceres Esporte Clube por seis anos, Dirceu carrega consigo dois galões d’água – pois a água da arena foi cortada por falta de pagamentos –, um saco com bolas de futebol e um sonho: voltar a ver o alvinegro ceresino disputar um campeonato. Essa é a cena que se repete três vezes por semana, quando o treinador Dirceu comanda uma atividade com cerca de 40 jovens entre 14 e 20 anos de idade.
Gustavo e Fernando Os treinamentos constituem um projeto social coordenado por Dirceu e mantido pela parceria entre a diretoria do Ceres E.C e o deputado estadual Talles Barreto. Os cartolas ajudam com uma bolsa de R$ 200 para fornecer a alimentação dos atletas. Já o político paga um salário mínimo ao treinador para que ele desenvolva o projeto. O programa tem por objetivo afastar os garotos – em sua maioria vindos de famílias carentes – das drogas e da criminalidade, bem como preparar um time de categorias de base para uma eventual volta do Ceres E.C às disputas de campeonatos juniores. Regresso que pode estar perto de acontecer. Formada em fevereiro deste ano,
a nova diretoria do clube tem como missão resgatar a equipe do longo hiato fora de competições em que ela se encontra. Para se ter uma idéia, desde 2007 – quando chegou à final do campeonato goiano sub-20 – o Ceres E.C não disputa um torneio oficial. Em se tratando de futebol profissional, o tempo de ausência do time em certames chega a duas décadas. O penúltimo lugar no campeonato goiano de 1993 não representou apenas o rebaixamento da equipe para a segunda divisão, mas também a sua paralisação profissional. Atolado em dívidas e sem patrocínios públicos nem privados, o Ceres foi profissionalmente descontinuado naquele ano.
Júnio Rodrigues, é o presidente do Ceres E.C. Expectativa de dias melhores Composta por médicos e empresários da cidade, a atual diretoria do clube está ciente da difícil tarefa que terá de encarar. Além da dívida de R$ 450 mil em tributos e empréstimos, o time sofre com a falta de estrutura. O prédio que funcionava como sede Ceres E.C está sendo ocupado pela prefeitura da cidade. Não há um centro de treinamento para os jogadores e o já citado Es-
-tádio Centro Olímpico – que serve como casa do time – está em estado de abandono. Apesar das dificuldades, o presidente da equipe, Júnio Rodrigues, acredita na retomada das atividades desportivas do clube. Para viabilizá-la, o cartola já tem um planejamento definido. “Primeiro, precisamos quitar a dívida do Ceres a fim de regularizar o seu CNPJ. Por isso, todo mês, juntos, os membros da diretoria retiram, dos próprios bolsos, a quantia de R$ 5 mil para diminuir
diminuir o débito do clube”, contou Rodrigues. “Uma vez regularizado, o Ceres vai poder receber tanto investimentos públicos, quanto privados”, completou. O presidente revelou, ainda, que pretende reaver a sede do clube, junto à prefeitura, e colocá-la à venda. “Trata-se de um prédio em uma área valorizada da cidade. Com o dinheiro da venda, montaremos um centro de treinamento para o time”, garantiu Antes dessas ações, contudo, a diretoria do
Dirceu Lopes, atual técnico e principal motivador da recuperação do Ceres Ceres E.C reconhece a urgência em reinserir o time em competições. Por isso, é dada como quase certa a participação da equipe na próxima edição do campeonato goiano sub-20, neste mês de agosto. “Provavelmente, o Ceres vai disputar esse torneio. A equipe vai ser formada pelos meninos do Dirceu Lopes, nosso treinador das categorias de base”, sinalizou Júnio Rodrigues.
Motivação Ainda que incerta, a frase do presidente do alvinegro ceresino é suficiente para encher de esperança o técnico Dirceu, que aproveita o ensejo para motivar seus comandados. “A maioria dos meus atletas vem de famílias menos favorecidas e vê, no futebol, a chance para melhorar de vida. É importante mantê-los motivados”, explicou o treinador. Mas a falta de competições e investimentos
interrompeu o sonho de muitos aspirantes a jogadores. “Como o futebol do Ceres deixou de existir, muitos meninos ficaram sem perspectiva. Por serem de famílias de baixa renda, esses jovens tiveram que começar a trabalhar, deixando o sonho de lado”, contou Dirceu Lopes. Assim como seus atletas, o técnico se revelou um sonhador. “Meu maior desejo é ver o futebol de Ceres de volta, com a população lotando o Centro Olímpico”, declarou.
“Futebol profissional não é prioridade” Tanto o presidente do Ceres, Júnio, quanto Dirceu sabem da necessidade do apoio da prefeitura da cidade para que a bola volte a rolar no gramado do Centro Olímpico, em competições oficiais. “A gestão da cidade poderia auxiliar em questões de logística, como transporte e acomodação de jogadores, ou ainda na alimentação deles”, sugeriu Júnio Rodrigues. Mas a prefeita de Ceres, Inês Brito (PT), afirma que o esporte profissional não é prioridade na cidade. “Áreas como saúde e educação demandam maiores investimentos. Infelizmente, não só em Ceres, mas no Brasil o esporte está em segundo plano”, ressaltou Inês. Concordando com a prefeita, o assessor de esporte da Secretaria de Juventude, Cultura, Esporte e Turismo, Ozanam Souza, contou que os investimentos em esporte na cidade são feitos de maneira lúdica. “Os investimentos em esporte em Ceres estão voltados para as crianças”, resumiu o assessor. Nossa reportagem, contudo, não encontrou a construção de, por exemplo, quadras poliesportivas para os jovens da cidade. Também não foram verificados projetos esportivos sociais e eficazes mantidos pela prefeitura, somente aqueles que estão a cargo das escolas particulares de Ceres. Para a secretária da pasta, Marjuery Seabra, além do fato de o município ter out-
outras prioridades que prevalecem sobre o esporte, a rivalidade política existente entre PT e PSDB também colabora para a falta de investimentos na equipe de Ceres. Para ilustrar essa proposição Marjuery toma como exemplo a cidade próxima Goianésia, que é governada por um prefeito tucano, o mesmo do governador de Goiás. “Goianésia, que é PSDB, recebeu R$ 240 mil para o time da cidade. Nós pedimos esse recurso também para Ceres, mas ele não veio”, sugeriu a secretária. Prefeita, secretária e assessor estavam com o discurso afiado. Todos reiteraram que e a gestão municipal está disposta a fazer “o que for possível” para contribuir para o Ceres E.C se reerguer. Entretanto, suas falas não apontam como essa ajuda será feita, tampouco, quando o auxílio será prestado. É necessário conferir os próximos lances dessa emocionante partida para saber se haverá jogo para o Ceres, ou se foi tudo um sonho de futebol.
Breno Damascena e Henrique Arcoverde
Capoeira e sonho para todos Iago Garcia
A capoeira sempre possuiu um caráter social, e em Ceres não é diferente. O grupo Centro Oeste Capoeira trabalha arduamente através do esporte com o objetivo de retirar jovens das ruas e ensiná-los valores intrínsecos à capoeira como concentração, disciplina e respeito ao próximo. Respeito que é uma palavra chave: além de jovens, o grupo também possui um projeto de ressocialização e re-inclusão social de ex-presidiários de Ceres e cidades vizinhas. O grupo tenta diminuir o enorme preconceito que existe para com estes cidadãos. Centro Oeste Capoeira chegou a Ceres em 2009 e tem como principal líder na cidade o Mestre Juninho (box na próxima página). O
trabalho de Juninho é exclusivamente voluntário e consiste não só em dar aulas, mas também preparar seus alunos para reinseri-los na sociedade, seja no mercado de trabalho, escolas ou faculdades. Os alunos têm Juninho não apenas como mestre de capoeira, mas como um mestre na vida como um todo. O respeito que há entre eles, é o mesmo que o ex-presidiário João – prefere não revelar seu nome verdadeiro - deseja que todos tenham entre si: “meu sonho era que todos da cidade nos tratassem como o mestre nos trata. E não falo só por mim e pelos ex-detentos, mas também pelas crianças abandonadas e sem lar que o Juninho acolhe nas aulas. Existe um preconceito muito grande com a gente”.
AS FACES DE JUNINHO Anselmo Barros Júnior, o Juninho, é um sonhador. Sonhador e multifacetado. Sua missão não é nada fácil, mas ele não deixa a peteca cair. Motoboy durante o dia, estudante de Direito no período noturno, e cantor de igreja aos finais de semana, Juninho ainda encontra espaço para tentar realizar seu sonho que, como o próprio diz, é ”que nenhuma criança esteja nas ruas fazendo coisas indevidas”. Para concretizá-lo, o professor dá aulas de capoeira segunda, quarta e sexta no Centro Cultural Bernardo Sayão, no centro de Ceres. As aulas são gratuitas e, para participar, basta pedir uma vaga ao sempre solícito professor. Aos sábados, Juninho se dedica às aulas com os ex-presidiários, com os quais possui grandes amizades. “A sociedade é muito preconceituosa. Aqui, como é cidade pequena, todo mundo comenta a vida dos outros. Tratam os ex-presidiários como se fossem animais. Eu adoro dar aula a eles, inclusive sou muito amigo de alguns.” E deste modo Juninho leva sua vida. Ajudando alguém, sem distinção de quem. Porém, como Juninho é o único responsável pelo programa em Ceres, fica sobrecarregado. Em período de provas e/ou fim de semestre, fica impossibilitado de continuar com as aulas e encontros de capoeira. O professor e todos os envolvidos com o projeto clamam por incentivos. “Nós nunca tivemos incentivos. Nem financeiro, nem moral. Desenvolvemos este projeto com o que dá. Não faço questão de remuneração, o que eu queria mesmo era alguém para me ajudar a dar as aulas. Quando eu não posso, meus alunos ficam sem. Fico triste por eles”, relata Juninho. Em 2011, com o antigo prefeito, havia um projeto para apoio à capoeira, incluindo campeonatos, remuneração aos professores, e incentivo profissional aos ex-presidiários. Todavia o tempo passou e nada aconteceu. Em 2013, Inês Brito assumiu o cargo de prefeita da cidade. Juninho diz que já conversou informalmente com ela, que alega falta de tempo, devido ao fato de estar apenas há cinco meses no comando ceresino. Resta esperar se, com o tempo, a capoeira na cidade terá apoio da prefeitura. Assim, mesmo que sem incentivos, Juninho e seus alunos seguem seus sonhos através do esporte. Buscando acima de tudo uma vida saudável e longe da criminalidade. Por meio da arte da capoeira, mais respeito e uma melhor qualidade de vida.
cultura
A diversidade musical no interior goiano
Uma cidade de gostos musicais refinados que se diverte ao som do sertanejo.
POR: Janaina bolonezi
C
om forte influência da música sertaneja, a música clássica também tem seu espaço no município de Ceres e conta com mais adeptos a cada dia. A causa do aumento dessa busca pela música erudita seria o maior incentivo cultural que vem acontecendo na região atualmente. A cidade possui diversas escolas de música e canto, entre elas a Escola de Música Clave de Sol, especializada no estilo clássico, a Escola Art’Livre Formação Musical e o coral da cidade, Coral Ad Gloriam. Flávia Freitas, proprietária da Escola de Música Clave de Sol, conta à reportagem que começou sem muitas pretensões e hoje segue ensinando pessoas de todas as idades. O espaço é modesto, montado no próprio apartamento da professora, porém com grande diversidade de instrumentos musicais e oferece aulas complementares aos alunos por meio de um portal interativo. Flávia, que é pianista há mais de 20 anos, explica que a escola foi criada com base em sua experiên-
FOTOS: ISABELA RESENDE E JESSICA MARTINS cia musical e que não conhecia a existência das faculdades de música na época de sua criação. Atualmente ela cursa Música a distancia pela Universidade de Brasília, no polo de Anápolis. Da Escola de Música Clave de Sol saíram vários talentos da cidade, entre eles se destacam as alunas Marianne Tredicci, 1º lugar em concurso nacional de música realizado em São Paulo no ano de 2002, Mariana Macedo, 1º lugar em concurso realizado em Ituiutaba, Minas Gerais, no ano de 2007 e Verena Trindade, 3º lugar também em Ituiutaba no ano de 2009. Outro grande talento musical da cidade é a filha de Flávia, Iasmin Freitas, de 12 anos, portadora da Síndrome de Stickler, doença genética provocada por uma mutação que ocorre num gene associado à produção do colágeno. Iasmin possuía fenda palatina, 23 graus de miopia em ambos os olhos e baixa audição. Como sempre teve estímulo musical isso ajudou em seu desenvolvimento, a música trouxe grandes melhorias em sua percepção e audição. Iasmin participou de seu primeiro recital no Cen-
As alunas, Ana Clara Rodrigues (7 anos) e as irmãs Julia (6 anos) e Helena Souza (7 anos) da Escola de Música Clave de Sol mostram o resultado das aulas
tro Cultural de Ceres aos dois anos de idade, onde fez uma apresentação de piano e desde então participa de todos os recitais da Escola. Também toca teclado, violino, bateria, flauta e violão. É vencedora de vários concursos e em 2006, fez abertura de um recital de música brasileira em Atlanta, nos Estados Unidos, quando tinha somente 6 anos de idade. O Coral Ad Gloriam, que traz enriquecimento culturalpara a cidade, é regido por Sebastião Rodrigues e foi criado em 1994. influência artística e tinha como objetivo divulgar o canto em coral na região. Contando com mais de 60 vozes, o coral não tem fins lucrativos e todas as atividades dependem de doações e apoio da comunidade.
Em contrapartida aos talentos e escolas de música de qualidade do município, a falta de investimento em educação musical nas escolas de Ceres é um grande problema. Apenas duas particulares oferecem aulas de música na grade curricular, enquanto nas públicas a única educação musical são as fanfarras escolares.
A MÚSICA E A VIDA CULTURAL NA NOITE POR CAMILLA BRAGA A música de Ceres ainda tem reflexos que remetem à origem e a história de sua construção a partir de 1941. As músicas cantadas nas igrejas recém instaladas disseminavam a cultura musical na cidade, para apreciação e a formação de bandas. Além disso, se misturavam os estilos musicais tradicionais do Goiás com os que eram trazidos de outros estados pelos novos habitantes. Durante a noite a cultura de freqüentar bares, restaurantes e festas é bem comum. Para Majuery Seabra de Brito a vida noturna de Ceres está mais concentrada em barzinhos e em festas. A Mostra Agropecuária é uma festa tradicional na cidade realizada anualmente e outro local bastante freqüentado a noite é o Imperial Point, bar que se transforma em boate, localizado em Rialma, cidade ao lado de Ceres. Majuey é secretária municipal de cultura, juventude, esporte e turismo e afirma que em Ceres os estilos musicais mais e tocados na noite são o Sertanejo, MPB, rock e música eletrônica. É comum encontrar nos bares e restaurantes música ao vivo e uma programação musical diversificada. A secretária municipal cita também alguns artistas locais: Lucas Seabra, Banda Tripop, Banda Sancorban, Banda gospel S27 e a dupla sertaneja Cleber e Cauã, que vem se destacando fora do estado de Goiás.
a r u t L U r C e u o q v o Op Inaugurado em 2002, o Centro Cultural de Ceres se renova e oferece atividades regulares para a população. Por Carolyne Cardoso e Luiza Antonelli Fotos: Marilia nestor
E
m uma cidade com poucas opções de lazer, o Centro Cultural se tornou um importante polo de atrações artísticas e de diversão. Mas essa rotina nem sempre foi assim. Por um longo período, a grande estrutura que o Centro oferece foi desperdiçada pela ausência de investimento e as atividades culturais foram deixadas de lado. O local estava sendo utilizado apenas para eventos como
formaturas e congressos. Thiago Belchior de Oliveira, coordenador de Cultura de Ceres, afirma que agora já foram implementados diversos projetos que prometem a manutenção deste espaço. Inaugurado em 2002, o Centro Cultural fica na Praça Cívica, área central da cidade. É um prédio de três andares, construído em um terreno desnivelado e com amplas instalações. Tem um auditório, uma biblioteca pú-
blica, salas para aulas de dança, teatro e lutas, espaço para inclusão digital, com computadores novos, e um salão para exposições. Também são oferecidas aulas de violão, teclado e bateria, em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás (Sectec). De segunda à sexta- feira, a população pode frequentar essas aulas por um preço mensal de 10 reais.
Financiado pelo Instituto Goiano, o coral Ad Gloriam possui um cômodo no prédio, onde são realizados os ensaios. O Centro de Inclusão Gelson Alves de Campos oferece cursos noturnos e gratuitos de informática básica. Para quem está interessado em pesquisar referências bibliográficas de diversas áreas ou apenas estudar em um lugar tranquilo, Biblioteca Municipal Joel da Silva Morais está disponível para todos. O auditório possui capacidade para 333 pessoas e pode ser utilizado para eventos públicos e particulares. Essa rotina de atividades no Centro é nova e tende a se tornar ainda mais forte, devido à recém-criada Secretaria de Juventude, Cultura, Esporte e Turismo. Ceres não tinha uma pasta específica do setor, o que impedia que recebesse auxílio financeiro do Estado para assuntos culturais. Neste ano, a Secretaria foi cadastrada no Conselho Municipal de Cultura e a partir de 2014 terá acesso aos recursos federais e estaduais, recebendo investimentos exclusivos. A criação da nova Secretaria direciona as verbas, que, por enquanto ainda são retiradas de outras áreas, para a produção de eventos e garante ao Centro Cultural de Ceres novas perspectivas
de crescimento. Thiago Belchior explica que essa ajuda tornará possível a realização de mais ações e um maior aproveitamento do local pelo povo ceresino. Os moradores estão animados com a mudança no Centro Cultural e lotam as apresentações. Um jovem casal elogia as recentes programações do local e afirma ser muito importante para todos da cidade: “As atividades de lazer aqui em Ceres são poucas, por isso espero que o Centro continue assim, pois é muito importante trazer cultura e dar oportunidade para a população conhecer”, afirma Luiz Carlos Soares, 19 anos. Biblioteca Pública de Ceres, também localizada no Centro Cultural da cidade.
O auditório do Centro Cultural abriga espetáculos de dança, música, teatro e cinema
José Timóteo de Lima relembra o antigo cinema de Ceres
ERA UMA VEZ UM CINEMA Na década de 1970, o filme Colina do Amor Eterno comovia o país com o drama de um jovem casal apaixonado. A história também sensibilizou José Timotéo de Lima. Aos 74 anos, o senhor de memória impecável conta detalhes do antigo cinema de Ceres, o Vera Cruz, por 20 anos a única opção de lazer dos ceresinos juntamente com a Praça Central. José trabalhou como operador cinematográfico do Cine desde a sua inauguração, em 1962, fazendo com que as películas se tornassem imagem e áudio no telão.
Os filmes vinham de São Paulo e um distribuidor de Goiânia repassava os rolos para as outras cidades. Companhias de cinema como Art films, Universal e Columbia Pictures expuseram seus longas metragens no lendário Vera Cruz, que todos dias exibia quatro sessões. José Timotéo conta que com a chegada do vídeo cassete, a população trocou o cinema pelo aluguel de fitas VHS e, em 1984, por cair no esquecimento dos moradores de Ceres, o velho Vera Cruz teve que fechar as portas. Editado por Isabela Resende
Mostra
CULTURAL
Bernardo Sayão conquista PÚBLICO Rômulo Andrade e Henrique Arcoverde
N
em sempre é preciso contratar artistas de renome nacional para atrair atenção e público para um evento da prefeitura de uma cidade de interior. A Mostra Cultural Bernardo Sayão, que ocorreu na cidade de Ceres entres os dias 14 e 23 de junho, foi um exemplo que conseguiu unir entretenimento e conteúdo cultural para cerca de duzentas e cinquenta pessoas a cada dia. Em sua primeira edição, a Mostra se caracterizou por ter tido diversas formas de expressão cultural, como teatro, dança, exposição, circo, cinema, poesia e música. Segundo Thiago Belchior, coordenador da secretaria de cultura, o objetivo era possibilitar maior acesso a eventos culturais de qualidade, aos quais historicamente a população não tem, e comemorar os 60 anos da cidade
não tem, e comemorar os 60 anos da Durante o período da mostr sas atrações regionais e nacionais pa pelo palco do Centro Cultural de Ce quinta-feira, 20, o grupo Balé Jov sileu França e Convidados realizo petáculo “A dança conduz à vida”, vinte dançarinos empolgaram a com apresentações de balé, jazz e de rua. Diellen Souza, 19 anos, teve presente em todas as noites, a a ideia do evento e elegeu o balé co show preferido. “Estou adorando a e me encantei com a beleza das d nas. Nunca tive a oportunidade de balé e sem dúvida foi o melhor dia a Outro destaque que lotou o Cent tural foi a exibição da peça “Balada palhaço”, do grupo de teatro Arte da PUC de Goiás. Muito premiad petáculo já passou por 18 estados e a segunda vez que esteve em Ceres dade sempre foi muito receptiva po cer ter sede de cultura”, ressaltou
a cidade ra diverassaram eres. Na vem Baou o esem que plateia e dança que esaprovou omo seu a mostra dançariver um até aqui”. tro Cula de um e Fatos, do, o ese esta foi s. “A cior pareu Bruno
que interpreta o palhaço Menelão na trama. Construída a partir de um texto de Plínio Marcos, a peça sofreu algumas mudanças na obra original desde a primeira vez que foi a Ceres anos atrás. Além de promover a cultura e comemorar o aniversário da cidade, outro objetivo da Mostra Bernardo Sayão foi homenagear o pioneiro e fundador da cidade, que deu o nome do evento. Entretanto, ele não foi o único homenageado. Sete mulheres símbolos da história ceresina foram escolhidas e deram nome a cada noite. Entre elas, Nair Leal, escritora e autora do hino de Ceres, Léa Sayão, mulher de Bernardo Sayão, e Dona Marculina, a única homenageada ainda viva. Conhecida por todos da cidade, Dona Marculina chegou ainda jovem à Colônia Agrícola Nacional de Goiás, local onde foi abandonada por sua família. Desde então, vaga pela cidade como sacoleira, onde já sofreu diversos abusos. Hoje em dia, Marculina vive no abrigo de idosos dos Vicentinos, onde recebe toda assistência necessária para dar continuidade aos seus incertos 107 anos de vida. Realizada pela Prefeitura de Ceres em parceria com a Universidade PUCGO, a mostra encerrou-se com a exposição de carros antigos que atraiu cerca de duas mil pessoas, de acordo com os organizadores. Com expectativa de se tornar um evento anual, o sucesso da mostra fica como exemplo para as próximas edições.
Gustavo Garcia, Fernando Henrique e Iago Garcia
Pacata &
conservadora
As limitadas opções de lazer existentes na cidade são reflexo de sua história. Por: Carina Ávila Fotos: Beatriz Fidelis
C
eres, assim como Brasília, foi uma cidade planejada. Sua história se confunde com a de sua cidade vizinha, Rialma. Ambas, que estão às margens do rio das Almas, tiveram origem a partir da criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang), cujo primeiro administrador foi o engenheiro Bernardo Sayão, lembrado até hoje com muito carinho pelos moradores da região.
A forma como ele administrou a cidade por tantos anos repercute até hoje na vida cultural de sua população, principalmente quando se trata das opções de lazer presentes em Ceres. Sayão tinha padrões muito rígidos e, por isso, selecionava rigorosamente as pessoas que poderiam viver no local. Lotes eram doados apenas a pessoas casadas, bebidas alcoólicas não eram permitidas e a tradição religiosa da região era constante-
mente alimentada. As pessoas que não eram aceitas na cidade ficavam do outro lado do rio, onde é hoje Rialma. Dessa forma, desde o início, Ceres se consolidou como uma cidade de cultura mais elitizada e conservadora, sem muitas opções de entretenimento. Até hoje, o principal destino dos jovens ceresinos que procuram diversão é localizado em Rialma: um bar que se transforma em boate toda sexta-feira à noite, o Imperial Point. O Assessor Parlamentar de Ceres, Luiz Cláudio, afirma que a cidade possui muito potencial para aumentar a sua oferta de lazer. Explica que Ceres encontra-se em um período de transição, pois antigamente os estudantes terminavam o segundo grau e saíam da cidade em busca de ensino superior. “Agora, com a presença recente de tantas universidades conceituadas na região, está acontecendo o movimento inverso: estudantes estão vindo de fora para estudar aqui.” Mesmo com uma oferta de lazer precária, o município goiano é conhecido como o pé de coelho, por dar sorte, de muitos artistas sertanejos. Gusttavo Lima, Jorge e Matheus, João Neto e Frederico, são nomes que explodiram nacionalmente após terem se apresentado em Ceres. Já o show do Mr. Catra realizado no município no dia 15 de junho não foi tão bem aceito pela população. A Secretária de Juventude, Cultura, Esporte e Turismo, Majuery Seabra de Brito, conta que houve polêmica: “Os moradores daqui ainda são muito conservadores. A grande maioria é muito religiosa e, por isso, foram feitas muitas reclamações relativas à presença de
Os poucos bares da cidade ficam lotados durante o final de semana e são a única opção de lazer da população em Ceres.
um artista que canta músicas com letras tão pesadas e apelativas”. Algumas das canções, por exemplo, fazem apologia ao adultério e uso de drogas. Os ceresinos, embora vivam em uma cidade pacata, são pessoas muito acolhedoras e que encontram suas próprias formas de diversão, como um churrasco na beira do rio, uma caminhada no Complexo Turístico , um chopp no Dony Choperia & Churrascaria, ou um jantar com música ao vivo no restaurante Paredão. O fato é que Ceres – dona do maior IDH , de acordo com as estatísticas feitas pela Secretaria de Planejamento em 2008 –, mesmo com suas opções limitadas de lazer, oferece qualidade de vida e tranquilidade a seus moradores.
A Cidade dos Religiosos Desde a fundação da cidade a fé tem forte influência na vida dos moradores da região Texto: Isabela Resende
É possível notar a importância da religião para o povo de Ceres devido a quantidade de igrejas e templos espalhados pela cidade. Estima-se que tenha pelo menos uma construção desse tipo em cada bairro. Tal influência teve sua origem no começo do desenvolvimento da região, quando ali chegaram os bandeirantes presbiterianos, missionários batistas, protestantes e católicos que, liderados por Bernardo Sayão, fundaram a Colônia Agrícola de Goiás. Esse fato também colaborou com a formação de uma comunidade religiosa eclética. Com a presença marcante dessas diversas doutrinas, todas regidas pela moral cristã, os comportamentos dos moradores do local fo-
ram moldados desde aquela época, quando nem bebida alcoólica podia entrar nas redondezas. Em 1953, quando a cidade de Ceres foi fundada, vários dos segmentos religiosos ali presentes também fundaram suas igrejas, que persistem até hoje. Como muitos dos governantes seguiram uma linha de pensamento baseado na fé, criou-se uma sociedade pacífica e organizada, sem uma cultura de muitas festas e com uma educação com influência religiosa. Até nos dias de hoje várias escolas da cidade dão aulas de estudo religioso a seus alunos. Os eventos mais comuns são os religiosos, sendo uma comunidade conhecida por abrigar pessoas vindas de todo o estado para encontros
desse tipo, principalmente os espíritas, embora não seja possível determinar uma crença predominante na cidade. A atual prefeita, Maria Inês do Rosário, diz manter seu governo laico e pretende atender aos pedidos dos jovens feitos na manifestação do dia 22 de junho, que reivindicavam mais pontos de lazer, já que a pacificidade de Ceres não lhes oferece muitas formas de entretenimento. Mariana, de 18 anos, reclama que tem apenas dois bares para frequentar com os
amigos, sendo um deles em Rialma (cidade vizinha de Ceres). O Secretário de Educação, Alcino César da Cunha, e outros secretários estão desenvolvendo projetos como a Mostra Cultural Bernardo Sayao, com o intuito de intensificar a diversão dos jovens na cidade e estimular a formação de uma juventude consciente, sólida e sadia, que não encontre distração apenas nos movimentos realizados das igrejas locais, como de costume.
TĂŠcnicas de Jornalismo e Fotojornalismo 1/2013