Olhar Urbano

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Belém - Pará

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2013



A Galeria

| Equipe GTB

Atravessando o tempo, medindo suas instâncias, reverberando cada mudança, a cidade expõe as transformações da própria vida humana. Lá, dentro dela, uma célula poderosa emula essas mesmas transformações através das visões artísticas, dos discursos estéticos e da criação em arte – a galeria.

Paredes, redes, naves, galeras ao mar revolto das revoluções, espaços feitos para

o encontro dos olhares com as obras de arte, galerias são mergulhos fundos na história das civilizações, sob a égide de seus objetos simbólicos: pinturas, esculturas, fotografias, instalações, vídeos, desenhos, as muitas grafias possíveis da arte na contemporaneidade, afirmando sua estatura de ravina mítica em meio ao caos. Espaços da (re) descoberta do mundo, infinitamente revisto sob a vertigem dos novos desafios conceituais, as galerias são territórios da constante conquista identitária de um povo através de suas expressões nas linguagens artísticas.

A Galeria Theodoro Braga, através de seus projetos, reafirma sua função de espelho

vivo dessa cidade histórica, permanecendo aberta a suas proposições e maneiras de ver. O Projeto Edital, dentre outros, busca estar atento aos movimentos e novas manifestações da arte paraense, assumindo um protagonismo dentro de uma ação constante de mapeamento e divulgação de boa parte dessa produção, incentivando novos artistas, e abrigando também os nomes consagrados, promovendo um diálogo fecundo entre as diversas gerações, garantindo assim o contínuo movimento de criação e produção em arte no Pará.



Saudade e pessimismo

| Gil Vieira Costa

Cidade é assunto bom para se iniciar um diálogo. Rende assunto porque é complexa, múltipla, inapreensível e, portanto, necessária de apreender. E nós buscamos compreendê-la e traduzi-la, como convém. A cidade não é somente um bom assunto: é o próprio diálogo. Algumas são museus vivos, pulsantes, nos quais os rastros culturais de outras épocas sobrevivem. Transformados. Cabe falar dos anacronismos que toda metrópole comporta. Cabe falar de sujeira, solidão, dinheiro, compaixão. Cabe teatralizar antigos espaços de barbárie, agora espaços de cultura. Cabe sentir uma melancolia Sebastiana.

O pensamento atual, algumas vezes, quer entender a cidade como espaço adequado e

prioritário para as manifestações artísticas, diante de uma leitura crítica do papel fetichista de museus e espaços expositivos. Espaço público. Que é propriedade de apenas alguns, é claro. Algumas manifestações, portanto, invadem essa urbe, intrometendo-se, buzinando, contribuindo para o diálogo com a parcela de dedo-na-cara que lhes cabe. Um exemplo, às vezes, é o grafite. Às vezes não.

Outra corrente contemporânea – da qual as foto.grafias de Jeyson Martins, à primeira

vista, parecem fazer parte – é menos radical e penetra nos espaços que forem possíveis. Arte da dialética entre o lugar do mundo e o não-lugar da galeria (considerando que um e outro, de fato, existam). O mundo externo capturado e moldado de forma que o signo pendurado na parede da galeria sempre aponta para fora. Uma janela.

Mas é preciso apurar o olhar. E as coisas já não serão o que são.

De acordo com a necessidade, uma janela pode muito bem ser uma porta. E, fechada, há

sempre uma brecha para o olhar apurado.

Assim como há brechas nas câmeras-lata-de-spray desenvolvidas pelo artista, para que

a luz da urbe adentre e se fixe na eternidade. A utopia da história. O registro. Ao qual Jeyson Martins nega o caráter documental rígido e concede a benção da ficção assumida, intervindo na


fotografia usando processos análogos ao da intervenção nas ruas. Ambiguidade de operações: cidade experimentada, cidade captada nas fotos, intervenção na cidade, intervenção nas fotos da cidade. O real falseado, posto que a realidade verdadeira jamais existiu.

Estêncil, grafite, fotografia artesanal: três modos de escrita aqui conciliados. A luz

que se grava no papel fotográfico, a tinta que se grava pelo molde, a letra que se grava pela caneta: maneiras do humano contemporâneo se inscrever no corpo de asfalto (mas também de pensamento) da cidade. Olhemos o gesto e sua potência, mas olhemos também as brechas. Admiremos a capacidade de fundir a irreverência do grafite com a solenidade da fotografia, mas estejamos atentos ao subliminar. Observemos o refinamento conceitual, processual e a visualidade das foto.grafias, mas perguntemos: que mais têm elas de importante a nos dizer?

De saída, algo que não passa despercebido: azulejos. Diversas temporalidades postas

à prova. A menção ao azulejo – signo de um passado importante à memória coletiva ou aos meios oficiais – é representativa de uma nostalgia típica. A Belém de outrora que para sempre se tornou inalcançável, mas que incansavelmente tecemos em nossos discursos. Se, por um lado, os padrões de azulejos antigos feitos em estêncil apontam para estas questões, por outro lado, com cartazes, tags e figuras gravadas nas fotografias o artista aproxima universos distintos (da arte contemporânea das galerias e da arte nem sempre acadêmica das ruas).

Aproxima aquilo que muitos querem manter afastado: o paradoxo da grande cidade, dos

aglomerados humanos do terceiro mundo, dos escravos modernos latino-americanos. O azulejo, a cidade, o grafite: fantasmas. Grandeza neoclássica sobrepujada pela pichação de quem não tem outra arma além da afronta subversiva. Escritura amoral das ruas tornada insignificante diante dos palácios de pedra e dos monumentos de ideologia erguidos pelas políticas (nem tão) públicas de cultura na região. E mais: aproxima o saudosismo por um modelo de cidade europeia (caricatura de uma Paris nas américas) ao pessimismo da cidade decadente, desnorteada, desapontada, apaixonada e violenta. Como você.



Rio/Rua | 90x30cm Tinta spray sobre fotografia em papel algod達o


Azulejo cor | 18x18cm - Tríptico Tinta spray sobre papel algodão, máscara stêncil em papel couro

Azulejo Luz | 18x18cm - Tríptico Spray de luz (revelador) sobre papel fotosensível e máscara stêncil


Luz e cor | 24x18cm - Trípitico Spray de luz (revelador) sobre papel fotosensível, máscara stêncil e tinta spray


Constru巽達o | 90x30cm

Morada | 90x30cm

Tinta spray sobre fotografia

Tinta spray sobre fotografia

em papel algod達o

em papel algod達o


Sereias da rua | 90x30cm

Luz | 90x30cm

Tinta spray sobre fotografia

Tinta spray sobre fotografia

em papel algod達o

em papel algod達o


Ser Urbano | 90x30cm

Mundurucus com

Tinta spray sobre fotografia

Tinta spray sobre fotografia

em papel algodão

em papel algodão

Apinagés | 90x30cm


Vizinhança | 60cm

Morador | 90x30cm

Tinta spray sobre fotografia

Tinta spray sobre fotografia

em papel algodão

em papel algodão


Rua | 90x30cm - Série atropelo

Poste | 90x30cm - Série atropelo

Fotografia com múltiplas

Tinta spray sobre fotografia e

exposições e canetão.

colagem de cartazes


Rio | 60 cm - Série atropelo

Fragmento

Tinta spray sobre fotografia

| 90x30cm - Série atropelo

em papel algodão

Sprockets filme 35mm


Registro | 90x30cm

Rua Meu Rio | 90x30cm

Fotografia impressa em papel algod達o

Tinta spray sobre fotografia em papel algod達o


Intervenção urbana realizada em fevereiro de 2013 na Rua dos Tamóios esquina com Tv. Monte Alegre (Belém -PA)


Jeyson Martins O interesse pelo mundo das artes urbanas foi o que estimulou o artista visual Jeyson Martins a iniciar em 2003 a produção de um acervo documental (fotos e vídeos) e teórico sobre o Graffiti/ Pixação em âmbito nacional e regional. Na mesma época, a redação de artigos como “Graffiti e a Indústria Cultural” e “Tatuagens Urbanas” lhe ajudou a conciliar prática e reflexão sobre a estética contemporânea dessas experiências urbanas associadas à arte, publicidade e design.

Em 2011, depois de participar de cursos e outras atividades da Associação Fotoativa, se

aproximou mais da fotografia e começou a desenvolver ações relacionadas à fotografia junto com crianças e jovens de bairros periféricos de Belém, de forma independente ou em parceria com instituições (Circuito das artes/Fundação Tancredo Neves e OCA/cultura periférica).

Pesquisa atualmente novos formatos, buscando conciliar tanto as técnicas artesanais

quanto as mais intensivas em tecnologias digitais na produção artística sobre a cidade e todo o emaranhado de signos e significações nela existentes.

No final de 2012, o reconhecimento à nova proposta de combinar luz e tinta veio com

a seleção no Prêmio Nacional de Inovação e Criatividade - Movimento Hotspot, na categoria Fotografia com a experiência de reutilizar latas de spray como dispositivo fotográfico artesanal.

. daw.jeyson@gmail.com


Exposição Proposição do projeto Jeyson Martins Produção Allan Maués e Rilson Torres Montagem João Paulo do Amaral , Netto Dugon Renato Torres, San Rodrigues e Yasmin Uchôa Projeto gráfico Jeyson Martins Texto de apresentação Gil Costa Assessoria de comunicação Yasmin Uchôa Galeria Theodoro Braga Gerente Eliane Moura Equipe Cacau Novais, João Paulo do Amaral, Liamara Oliveira, Renato Torres, San Rodrigues, Felipe Damasceno




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Galeria Theodoro Braga 07 a 29 de Novembro |2013




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