Revista Shuffle

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Shuffle

Terry Richardson

Ano 01 - Nº 01 - R$15,00 www.revistashuffle.com.br

Conhecendo um dos fotógrafos mais polêmicos dessa geração

Lookbook.nu

Maya Hayuk

Kinect

A comunidade que está se tornando a nova mania

Entrevista completa com a artista

O sistema da Microsoft que usa o corpo como joystick1 www.revistashuffle.com.br


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Ano 01 - Nยบ 01


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Shuffle Expediente Shuffle # 01 Diretor Geral Jimmy Hieda Diretor Editorial Jimmy Hieda Editor Executivo Jimmy Hieda Editor Jimmy Hieda Jornalista Responsável

Editorial

Jimmy Hieda Projeto Gráfico Jimmy Hieda Diretor de Arte e Criação Jimmy Hieda Diretor Comercial Jimmy Hieda Publicidade (11) 5485-5475 publicidade@shuffle.com.br www.revistashuffle.com.br Serviço ao leitor Números anteriores atendimento@shuffle.com.br (11) 5485-9854

Shuffle traduzido ao pé da letra seria embaralhar ou misturar, função normalmente utilizada em equipamentos de música também conhecido como modo aleatório. É basicamente isso que o conteúdo da revista Shuffle traz, matérias de diversos segmentos, mas claro, com um único intuito, informar principalmente o público jovem sobre o que está acontecendo nas coisas que eles mais gostam, como música, arte, design, cinema, fotografa, tecnologia, moda e assim por diante. Mais precisamente, a Shuffle é uma revista de comportamento e em cada edição um tema é abordado mais aprofundadamente . A escolha do grid com 7 colunas tem por objetivo deixar a peça mais dinâmica, havendo uma ótima adequação das matérias e das imagens. A tipografia também tem o objetivo de tornar a peça mais dinâmica, sendo elas: Museo, para títulos, Arista 2.0 para chamadas, Arista 2.0 Light para subtítulos e olho de texto, e Gill Sans para massa de texto, pois a tipografia dá uma personalidade única à mancha gráfica do projeto, tornando a leiturabilidade mais dinâmica e não havendo problemas com a legibilidade. A Shuffle traz o conteúdo que faltava para as pessoas mais antenadas, que querem estar sempre por dentro de todas as tendências. Boa leitura!

Editora Shuffle Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 - Santo Amaro São Paulo - SP CEP 04696-000 (11) 5485-5684

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Jimmy Hieda Diretor Geral


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Futuro

Reviews

Moda

Entrevista

Capa

Ambiente

Novas

ConteĂşdo

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Novas 01 - Billy Corgan: vocalista do Smashing Pumpkins;

Planeta Terra Festival 2010

02 - Mika: o cantor conhecido pelo seu som pop dançante e alto astral; 03 - Empire of the Sun: os autralianos serão uma das princiapais atrações do Main Stage

Prepara-se mais uma vez! Consolidado como um dos maiores eventos de música do Brasil, o Planeta Terra Festival acontece no dia 20 de novembro no Playcenter, em São Paulo. Assim como foi na edição 2009, o festival contará com dois palcos: o Sonora Main Stage e Gillette Hands Up \o/ Indie Stage. Promovido pelo Terra, Planeta Terra Festival terá no Sonora Main Stage as atrações Smashing Pumpkins, Pavement, Phoenix, Mika, Of Montreal, Novos paulistas e Mombojó. Já no Gillette Hands Up \o/ Indie Stage, quem se responsabiliza pela festa são os nomes Girl Talk 3rd band, Empire of the Sun, Hot Chip, Passion Pit, Yeasayer, Holger, Hurtmold e República. Os ingressos para o festival estão esgotados desde o dia 7 de setembro. Para quem quiser acompanhar os shows, a Terra TV irá transmitir na íntegra todo o evento em três canais simultâneos ao vivo. O Festival Organizado pelo Terra, o evento ocupará os 80 mil m² do famoso parque de diversões da capital paulista e tem previsão de abrigar cerca de 20 mil pessoas em suas 10 horas de música ao vivo. Com a abertura dos portões marcada para as 13h, os fãs dos grupos poderão conferir os dois palcos montados no Playcenter (Main Stage e Indie Stage) e ainda se divertir nos brinquedos abertos ao público.

04 - Of Montreal: a banda americana mostrará toda a sua energia no

Para quem quiser seguir durante a madrugada se divertindo e curtindo as bandas em alto e bom som, Boomerang, Evolution, Auto Pista, Double Shock, Looping Star, Turbodrop e Magic Motion irão funcionar das 14h até 5h. Anos anteriores Reservado na agenda dos fãs de música, o Planeta Terra Festival se consolidou como um dos maiores festivais do Brasil. Em suas edições anteriores, o grupo já trouxe nomes como Lily Allen, Kasabian, The Foals, Jesus and Mary Chain, Kaiser Chiefs, The Breeders, Spoon, The Offspring e Bloc Party.

main stage.

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Só na edição de 2009, o line up do evento teve Iggy and the Stooges, Sonic Youth, Primal Scream, Metronomy, The Ting Tings e outros.

04 Brinquedos Além das 10 horas de música, o Planeta Terra Festival ainda contará com os brinquedos do Playcenter funcionando para todos os fãs. Cataclisma, Wave Swinger, Barco Viking, Swing Dance, Waimea, Sky Coaster, Monga e Windstorm funcionarão entre 13h e 21h.

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Best Coast Nos anos 60, o Beach Boys desenhou o gênero que seria chamado de “rock californiano” com canções como “Surfin’ USA” e “California Girls”. Criaram músicas com melodias redondas, refrães grudentos, que exaltavam o modo de vida ensolarado da Costa Oeste dos EUA. Esse espírito ganha reencarnação no Best Coast, talvez o nome indie mais comentado atualmente em sites, revistas, jornais, blogs.

The Pains of Being Pure at Heart The Pains fo Being Pure at Heart (as dores de ter um coração puro) é um quarteto de Nova York que, como as Vivian Girls, despontou este ano como parte de uma nova geração de noise-pop (ou sob o péssimo rótulo nugazers – novos shoegazers). A inocência e fragilidade de seu nome vêm direto do espírito de inadequação e imaturidade da geração C86. Com sua história começando em 2007, a banda lançou seu primeiro album em 2009, este repleto de guitarras, a estreia homônima recebeu boas críticas quando foi lançado ano passado. Em seguida, o grupo divulgou um EP, Higher Than The Ground.

O que fazem: shoegaze, ponto. Sem tirar nem por ingredientes estranhos à receita testada e aprovada no final dos anos 80, o grupo soma melodias pop, guitarras distorcidas, barulho, vocais menino/menina e letras sobre amores que machucam, medos do início da vida adulta e suicídio. Fechados em um estilo bem definido, eles já podem contar com um público apaixonado e fiel, mas, por outro lado, a falta de ousadia e inovação pode mantê-los restritos ao circuito indie indefinidamente. Eles não vão mover grandes plateias, mas podem animar pistas de dança em pequenos clubes em qualquer lugar do mundo. www.revistashuffle.com.br

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Novas

Para ouvir


Novas

Lomo Gosta de fotografia? Que tal experimentar essas câmeras que têm feito a cabeça de muita gente nos últimos anos? Considerada um modo de vida, a Lomografia e as suas máquinas Lomo com lentes de plástico constituem uma comunidade internacional de seguidores, tendo originado a Sociedade Lomográfica Internacional. A Lomo é uma câmera automática, de alta sensibilidade, capaz de capturar cor e movimento sem necessidade de flash e sem deformação. Em 1991, dois jovens vienenses de férias em Praga, na República Checa, descobrem a máquina Lomo passando as férias a fotografar sem parar ou pensar. Já de regresso ao seu país ficam fascinados com a luz, cor e qualidade das fotografias tiradas com a máquina Lomo. Este fascínio

acabou por se alastrar aos jovens de Viena tornando-se numa moda. Foi em plena Guerra Fria que surgiu a Lomo Kompakt com o objectivo de se tornar num meio para documentar o estilo de vida soviético. Decorria o ano de 1982 e o general Igor Petrowitsch Kornitzky, amante de fotografia e admirador de uma pequena máquina japonesa, a Cosina CX-1, ordenou que a empresa Lomo produzisse em massa máquinas fotográficas pequenas, robustas e fáceis de manipular. Estas seriam comercializadas a baixo custo, podendo ser adquiridas por todas as famílias da ex-URSS que registariam

o seu estilo de vida, tornando-se instrumentos de propaganda. Foi então poduzida a Lomo Kompakt Automat e comercializada tanto na União Soviética, como na Alemanha de Leste, Vietname e Cuba. Existem vários modelos de Lomo, dependendo do efeito que produzem nas fotografias, sendo os mais conhecidos a LC-A, Diane, Holga, Fish-Eye, assim como vários acessórios complementares a cada uma delas. É apenas uma questão de escolher qual a Lomo do dia, sair a disparar e divertir-se com o resultado final.

Dr. Martens Este é um ano importante para a Dr.Martens, a fabricante dos coturnos mais famosos do mundo. O motivo? A marca comemora 50 anos de vida, como ícone de estilo principalmente entre os “rebeldes”. A marca lançou recentemente sua coleção de Outono/Inverno 2010 em comemoração. Reinventando 8

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os antigos modelos para o contemporâneo, podemos ver os calçados em diferentes estilos e cores,as coloridas são super divertidas além do sapato mocassim e o oxford transformando os clássicos em itens de desejo. Vale a pena dar uma procurada nestes calçados icônicos.


Novas

Fotos: Divulgação

Em ‘Kinectmals’, jogador deverá cuidar de tigres

Games Sistema Kinect, que usa corpo como joystick, chega ao Brasil O Kinect é um dos maiores lançamentos da Microsoft em 2010. O acessório que capta os movimentos dos jogadores e os transfere para dentro dos games, sem a necessidade de joystick, conhecido anteriormente por Project Natal, chegorá às lojas do Brasil no dia 18 de novembro. “Acredito que atrairemos novos jogadores que têm aversão ao joystick ou que querem atrair a namorada ao games”, afirma Guilherme Camargo, gerente de marketing para Xbox 360 da Microsoft Brasil. O acessório que funciona em conjunto com o console Xbox 360 foi desenvolvido pelo brasileiro Alex Kipman. Durante a semana de apresentação do Kinect em junho. O aparelho possui um conjunto de câmeras que consegue mapear o jogador e o ambiente em que ele está. Dessa maneira, o sistema consegue identificar onde estão braços, pernas e a cabeça do usuário, transferindo seus movimentos para dentro da tela. Todos os menus do console pode ser acessados com simples gestos e sem pressionar um botão. Ao ligar o aparelho, ele visualiza a sala e o jogador, realizando um pequeno movimento para baixo e para cima. “O menu é interativo e totalmente em português”, conta Camargo “Existe um tutorial do próprio acessório que configura o Kinect automaticamente. Com simples gestos o jogador já pode se divertir com os games”. O jogo “Kinect Adventures” acompanha o acessório. Ele é um conjunto de mingames como “Vazamentos”, que exige tapar buracos com mãos e pés; “Corredeira”, em que os jogadores precisam se inclinar para os lados para

Cena de ‘Corredeira’, modalidade presente no game ‘Kinect Adventures’

descer um rio; “Salão dos Ricochetes”, uma sala em que é necessário usar todo o corpo para rebater bolas; “Cume dos reflexos”, que apresenta um percurso com uma série de obstáculos que o jogador precisa desviar; e “Bolha Espacial”, que exige que o jogador flutue pela sala enquanto estoura bolhas. Em todas estas modalidades, um segundo jogador pode entrar a qualquer momento no meio da partida, basta ficar em frente ao Kinect. O motivo da diferença de quase duas semanas entre o lançamento do Kinect no Brasil em relação aos EUA se dá por conta do trabalho da operação de lançar um acessório no país. “Trabalhamos com uma diferença de dias porque a parte operacional no Brasil não é tão rápida quanto nos Estados Unidos”, afirma Camargo. “Existe a distância para abastecer todas as lojas do país. Podemos fazer um lançamento no mesmo dia que lá fora nas cidades de São Paulo em do Rio de Janeiro. Mas temos que levar em conta que, no dia 18, o Kinect estará em todas

Menus do Xbox 360 podem ser navegados por meio de gestos com o Kinect

as revendas oficiais da Microsoft do Oiapoque ao Chuí”. A Microsoft planeja fazer uma grande ação de marketing em território nacional para divulgar o Kinect. Além de anúncios em revistas especializadas e de um forte trabalho nas lojas, a empresa realizará o “Kinect Tour” que irá passar pelas principais lojas de para demonstrar nos shoppings do Brasil até final do ano. “Daqui até março ou abril, diversas ações em pontos de venda terão interação com o Kinect”, diz o executivo. “É um produto revolucionário, uma marca forte que se agrega à Xbox. Estamos trabalhando muito próximos à third parties [produtoras] como Electronic Arts, Ubisoft e Warner Bros. para que possamos aumentar o nosso catálogo de títulos e, assim, sermos tão competitivos como nos Estados Unidos”. De acordo com uma previsão da Microsoft, a empresa espera vender cerca de 5 milhões de Kinects até o final do ano em todo o mundo.

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Ambiente

Aquecimento AS PREVISÕES AMBIENTAIS NÃO SÃO DAS MELHORES. MAS COMO AINDA NÃO VENDEM TERITÓRIOS NA LUA E VOCÊ TEM QUE FICAR POR AQUI MESMO, SAIBA COMO A COISA VAI ESTAR DAQUI A ALGUNS ANOS

Derretimento das geleiras. Grandes tempestades. Furacões. Enchentes. Queimadas sem controle. Extinçãode milhares de animais. Fim da biodiversidade. Escassez de água. Disseminação de doenças. E calor; muito calor. Não, isso não é mais um roteiro de um filme hollywoodiano do tipo o mundo vai acabar, corram e esperem o galã te salvar. Aqui, no mundo que efeitos especiais não resultam em Oscar, e sim em destruição, não há Tom Cruise, Will Smith ou Spielberg que consiga reverter o caminho em que o mundo anda. Só cerca de seis bilhões de pessoas podem fazer isso (e talvez): os habitantes deste pobre mundo consumido. Não é preciso ser nenhum estudioso para perceber que as coisas estão meio de pernas para o ar. Mudanças climáticas pelo quecimento global, efeito estufa, uso desenfreado da biodiversidade e desperdício de água. Todas essas ações provocarão nos próximos 60 anos, nas melhores estimativas, seríssimos problemas. “Quando a temperatura sobe, eu tenho mudanças climáticas. Se eu mexo com a água, tenho escassez no futuro. Se eu mexo com as florestas, eu acabo com a biodiversidade. São vários corredores e todos indo para um único ponto. O planeta caminha para colapso ambiental”, diz o professor do Departamento de Ciências do Ambiente da PUC, Paulo Roberto Moraes. É. Alguma coisa diferente está acontecendo. E o planeta já está se cansando de nos avisar. No Brasil mesmo, mudanças podem ser vistas. Enchente no Norte e seca no Sul? Desabrigados pelas cheias em Santa Catarina? Furacões no Brasil? Ué, mas Deus não era brasileiro??? Então, o resto do mundo deve estar fudido. Atualmente, uma das melhores representações é a tão falada gripe suína, gripe A, gripe H1N1, enfim. Seja qual for o nome usado, a realidade é que a doença já apresenta 5.265 casos confirmados e 61 mortes, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) do dia 12 de maio. Isso num período de três semanas, desde sua identificação no dia 24 de abril. Agora, você acha que isso é só uma coincidência? Que é normal? Ou seria mais um aviso do nosso planeta? Por um lado, a tecnologia ajuda na pesquisa para cura e identificação rápida do vírus, por outro, a globalização contribui fielmente para a fácil disseminação do influenza. Afinal de contas, qual era a facilidade que se tinha antigamente para se viajar até os EUA ou pro Canadá? Hoje, homens de negócio fazem bate e volta nesses países. Superpopulação, consumo excessivo e até a diminuição de florestas influenciam a expansão de doenças – com no caso dos vírus de florestas. Um dos exemplos mais destrutivos, e sem resposta, é o ebola, epidemia que atinge a África. Aliás, na África, tirando os poucos países turísticos modificados pelos e para os 10

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“Só pra calcular o estrago, por ano, a população chinesa aumenta em cerca de 15 milhões de pessoas. Assim, em alguns anos, a China precisará de 300 milhões de toneladas de grãos por ano para alimentar a população – o que equivale à soma de todas as exportações de grãos do mundo.”


Cabe mais um? O aumento acelerado da população mundial, e consequentemente seu consumo, é o principal responsável pelos desastres que ameaçam a vida na Terra. Efeito estufa, extinção de espécies animais e vegetais, buraco na camada de ozônio e principalmente o esgotamento dos recursos naturais estão na ficha criminal da superpopulação terrestre. “É como preparar um buffet para 100 pessoas e chegar na hora vir 500. Vai faltar estrutura para atender todo mundo”, compara o professor da PUC. O consumo da nossa população assola diversas áreas. Talvez a mais preocupante seja a da alimentação. “Segundo alguns modelos matemáticos, poderemos culminar na diminuição da produção agrícola, com sérios comprometimentos nos estoques de alimento do planeta”, diz Eliana. Só pra calcular o estrago, por ano, a população chinesa aumenta em cerca de 15 milhões de pessoas. Assim, em alguns anos, a China precisará de 300 milhões de toneladas de grãos por ano para alimentar a população – o que equivale à soma de todas as exportações de grãos do mundo. Por mais que robôs, máquinas e modernos fertilizantes aumentem a produtividade de terrenos agrícolas, a extensão destas áreas é inevitável, chegando às florestas, que convertidas em pastos ou plantações, deixarão de exercer o trabalho de equilibrar o clima por meio da oxigenação. O uso de fertilizantes sintéticos também modifica cada vez mais o solo, o que agrava mais um dos nossos futuros problemas: escassez de água potável. Os lençóis freáticos, que poderiam renovar nossa quantidade de água, hoje sofrem com a poluição

Fábricas poluindo o ar, uma cena ainda comum de se ver, infelizmente

Ambiente

gringos, a maioria concentra baixa tecnologia, péssimo saneamento, raros atendimento de saúde e alta população. Modernos fatores propícios para a disseminação de doenças. A AIDS no continente é mais que um bom exemplo disso. Segundo o professor Moraes, esta é justamente uma das piores consequências do tratamento que damos ao planeta. As pandemias. “A água não vai subir da noite pro dia. A gente pode se mudar, por exemplo. Agora, a gente está subestimando o processo da gripe suína. As pandemias se espalham muito rápido e é preciso agir rapidamente. O problema é justamente a escala”.

de fertilizantes, no campo, e com o não abastecimento pelas águas da chuva, na cidade, por conta da impermeabilização causada pelo asfalto. Além disso, a nossa velocidade do consumo é bem maior que o tempo de recuperação dos mananciais. Outra vítima dos seres humanos, mas não menos prejudicada, são os ecossistemas - conjunto de formas de vida que tornam o mundo habitável. Pois é, vimos tantos filmes em que a Terra não é mais habitável que estamos tentando fazer o mesmo. A ação humana isolou os ecossistemas naturais. Cercamos florestas, regiões ribeirinhas, vegetações típicas e biomas. Sem ter para onde ir, essas formas de vida simplesmente deixarão de existir. Calcula-se que a espécie humana se apropria de 50% do potencial da produtividade do conjunto dos ecossistemas. E pesquisas mostram também que a concentração de gás carbônico na atmosfera e o crescimento populacional são diretamente proporcionais. Por nossa culpa, as previsões são inevitáveis, mas justamente por isso caiba a nós um pedido de desculpas que fique mais nas ações do que nas palavras. É lindo e moderno ter “consciência ambiental”, mas isso não basta. A estátua da Liberdade não está segurando fogo para atearmos às florestas e nem o Cristo está de braços abertos dizendo: Venham e fodam tudo! Por isso, comece a fazer alguma coisa ou pelo menos não tenha filhos. Os poupe do mundo que vão encontrar e poupe o mundo de mais um que vai contribuir para a superpopulação.

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Capa

Os cliques polêmicos de Terry Richardson O fotógrafo norte-americano Terry Richardson entrou no mundo da moda para incomodar. Em vez de apostar na técnica, na luz perfeita, no glamour gelado ou na pós-produção perfeita, ele se preocupa apenas em mostrar o que há de mais cru em seus fotografados e no ambiente ao redor. Suas fotos focam o mundano, o desagradável, o deselegante, o suor, a saliva, o pelo, a ruga, a imperfeição, a má conduta. Não raro, seus editoriais incluem modelos horrendos, personalidades anônimas do submundo, sexo explícito e ele mesmo nu.

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"Eu não me sentia bem nu. Tudo isso está nas fotos e todo mundo vê. Não acho o tratamento mais normal do mundo, mas para mim tem funcionado. Tenho me livrado de muita coisa."

ele estava tentando consertar ou até mesmo tentando encarar pela primeira vez, suas relações com as mulheres, com seu corpo. “Eu não me sentia bem nu. Tudo isso está nas fotos e todo mundo vê. Não acho o tratamento mais normal do mundo, mas para mim tem funcionado. Tenho me livrado de muita coisa.” Terry leva suas imagens pornô, sexy e bizarras à Internet. No site O fotógrafo americano Terry Richardson, famoso por suas terryrichardson.com você encontra suas fotos mais recentes, nofotos polêmicas, fiel a seu estilo de vida, ele se revela em tícias sobre livros e exposições e diversas imagens de seu acervo situações explícitas, corajosas, mas sempre bem-humoradas, e ainda pode se candidatar a participar de uma de suas fotos. também conhecido como um dos fotógrafos mais prolíficos O trabalho de Terry é tema entre de diferentes grupos de e convincente de sua geração. Conhecido por sua incrível pessoas é um homem conhecido no mundo inteiro, publicou capacidade de registrar a essência crua através de sua lente, a uma seleção dos livros, começando com Hysteric Glamour visão de Richardson é ao mesmo tempo cómica, trágica, muitas em 1998, e que se estende através de sua carreira, além vezes bela, e sempre provocativa. de uma retrospectiva da editora Taschen, intitulado Surgiu nos anos 90, na esteira da fotografia naturalista da época, em Terryworld 25th Anniversary Edition. Em 2007 lançou 2004 viveu um retorno triunfal e renovou sua estética de moda com o livro “Rio, Cidade Maravilhosa”, as fotos, tiradas a campanha da Miu Miu. por Richardson durante sua passagem pela cidade Nasceu em New York City e cresceu em Hollywood, Terry começou a em abril deste ano, são divididas em três sessões: fotografar na época de colégioe tocava numa banda de punk rock. E ele pessoas comuns, paisagens e celebridades. não parou de fotografar desde então. Terry tem trabalhou em campanhas Entre as “pessoas comuns” estão presidiárias e para clientes como Gucci, Sisley, Miu Miu, Chloe e seu trabalho editorial freqüentadores do Piscinão de Ramos. As paisafoi publicado em revistas como a Vogue francesa, Vogue britânica, i-D, GQ, gens incluem os cartões postais do Rio, como Harper’s Bazaar e Purple. Sua impressionante lista de celebridades inclui Daniel Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Maracanã, Day Lewis, Leonardo DiCaprio, Vincent Gallo, Tom Ford, Jay Z, Kanye West, favela da Rocinha e as praias de Ipanema Johnny Knoxville, Karl Lagerfeld, Pharell Williams e muitos outros. e Copacabana. O sexo, o exibicionismo, tudo isso sempre foi urgente para Terry. Não sabe se é crise de meia-idade, mas Terry sabe que quer fazer muito sexo, quer ficar nu e quer que todo mundo veja. Seu trabalho tem muito da relação com sua mãe, tem um certo caráter psicológico que 14

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Já entre as celebridades fotografadas aparecem Adriane Galisteu, Beth Lago, Camila Pitanga, Cauã Reymond, Dercy Gonçalves, Luiza Brunet e a filha Yasmin. O livro é patrocinado pela Diesel, ocorrendo vendas em edição limitada nas lojas da grife em São Paulo e no Rio de Janeiro. Fora do Brasil, a obra pode ser encontrada em Paris, Milão, Londres, Nova York, Los Angeles e Tóquio. Terry trabalhou com uma variedade de meios além da fatografia: filmou vídeos musicais e comerciais e está atualmente trabalhando em seu primeiro filme. Seja qual for o meio, Terry Richardson continua a provar que ele é um verdadeiro americano original.

01 - Barack Obama (presidente norte

02 - Macaulay Culkin (ator): ex garotinho adorável; 03 - Amy Winehouse (cantora): ... 04 - Mãe de Terry Richardson (mãe): também costuma posar nua para o filho; 05 - Gisele Bündchen (modelo): sem a menor postura e com cigarro na mão.

Imagens cedidas pelo fotógrafo

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americano): sem maquiagem;


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Filha de imigrantes ucranianos, Maya Hayuk cresceu em um subúrbio da cidade de Baltimore, nos Estados Unidos. Ao contrário de outros imigrantes, que fizeram questão de deixar o turbulento passado pós-guerra para trás, a família Hayuk fez questão de preservar suas raízes. “Ucraniano foi sempre a minha primeira língua em casa, e minha avó fez questão de me ensinar todas as tradições da Ucrânia, como técnicas de bordados, Pysanky (pintura em ovos), música e poemas. Eu também freqüentava acampamentos de verão organizados pela comunidade ucraniana, e por isso minha vida americana sempre foi algo secundário, o que sem dúvida teve muito impacto na minha arte.” por Tiago Moraes

O que veio primeiro: a fotografia ou a arte? A arte para mim foi onde tudo começou. Desde muito pequena, eu pintava e desenhava, muito antes da minha mãe comprar para mim a minha primeira câmera quando eu tinha uns 10 anos. Pelos artistas que você costuma fotografar, acredito que você tenha uma mente bem aberta em relação ao seu gosto musical – o que é ótimo, por sinal. Qual foi o seu envolvimento com a música na adolescência e qual o seu envolvimento nos dias de hoje? Eu sempre fui obcecada com música. Eu quero dizer, é difícil para mim pintar ou trabalhar na câmara escura sem ouvir música, entende? Na adolescência, comecei a ir nos shows de punk rock e nos clubes gays, porque eram as únicas alternativas ao status quo. Não existiam expo-

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Entrevista

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A artista Maya Hayuk representando diversas cores e formas

“Minha vida americana sempre foi algo secundário, o que sem dúvida teve muito impacto na minha arte.”

sições de arte como existem agora, com pessoas jovens – tudo girava em torno da música. Durante todos esses anos, tirei toneladas de fotos para revistas, selos, e depois comecei a contribuir com minhas artes e pinturas para capas de disco. Música e política são muito importantes e as artes visuais desempenham um papel importante dentro desses interesses principais. Por que e quando você começou a se interessar por tirar fotos de shows e retratos de bandas? Primeiro eu queria estar envolvida, mas também pensava que era muito importante documentar tudo aquilo, as pessoas sempre reclamavam “como que antigamente tudo era mais legal”. Então eu queria salvar essas memórias. A fotografia sempre me deu uma razão para ir aos shows e assim não precisava me preocupar se meus amigos iam ou não. Naquela época, ter uma câmera na mão significava acesso


Falando de música, o que tem ouvido atualmente? Eu escuto o meu Ipod no shuffle do começo ao fim – 1184 músicas, enquanto trabalho em uma nova série de pinturas. Alguns dos mais ouvidos são: The Ravonettes, The Old Haunts, The Go, Japanther, Akron Family, Destroyer, Roxy Music e Duran Duran. O que te inspira nos dias de hoje? Nossa, tudo me inspira! Deus, o clima político atual, o meu doce e hilariante namorado, meus amigos super talentosos, música… Tudo! Li em uma entrevista recente que você tenta fazer música com suas pinturas. Fale um pouco sobre isso. De certa forma, tento criar partituras musicais de uma forma diferente da tradicional, com linhas e notas. A música se funde com minha arte enquanto eu pinto e talvez algum dia eu encontre músicos dispostos a “tocar” minhas pinturas. Isso seria incrível! Você já tocou em alguma banda? Tive alguns projetos bem divertidos como “The Hellcats from Outerspace”, “Open Arms”, “Summer Camp Number One”, “I Love You” etc. Sempre toquei muito mal, mas me divertia mesmo assim, amava fazer aquilo. Também

Entrevista

tenho gravado minha voz acapella, fazendo covers de músicas do Chigago e do Bob Seger. A forma com que você trabalha em uma nova pintura é mais improvisada ou você pensa muito antes, faz rascunhos etc? É muuuito mais divertido, desafiador e empolgante lidar com o improviso, não saber qual será o resultado final. Muitos desenhos de rascunhos que eu faço, acabam não virando nada porque sinto que eles já estão prontos. É muito mais interessante a surpresa de não saber o que irá acontecer. Qual o seu meio favorito (paredes, telas, filme, etc)? O amor. Ruas ou galerias? Gosto de pintar as paredes, tanto em espaços internos quanto externos. De onde vem todas essas formas geométricas e essa paleta de cores tão intensa? Em relação as formas geométricas, elas vem muito de técnicas de artesanato ucraniano que eu aprendi quando criança, similar às formas de arte da préhistória. Não é fascinante saber que pessoas de todas as partes do mundo estavam fazendo artes tão parecidas, quase idênticas, mesmo não tendo nenhuma forma de comunicação ou interação? Em relação às cores, essa é a forma como eu vejo o mundo! Seu trabalho parece carregar uma mistura de elementos da cultura hippie – se analisarmos cores e temas – mas também com uma atitude totalmente punk. Isso faz algum sentido para você? Totalmente! Sou uma cria dos anos 1970, 80 e 90! O que que você sabe do Brasil e da sua cena de arte local? Muito pouco. Apenas o que ouvi falar de amigos. O Nunca me contou histórias sobre a evolução dos estilos e sobre os graffitis nas ruas. Eu me lembro que quando o Barry McGee visitou o Brasil anos atrás, o quanto isso teve impacto no seu trabalho. Mas, para mim, é um lugar longe que espero muito um dia poder visitar. Últimas palavras para seus fãs no Brasil? Eu amo vocês e quero estar com vocês!

Imagens cedidas pela artista

livre aos melhores lugares, todos te respeitavam. Hoje, com a fotografia digital, ficou bem mais difícil – todo mundo é fotógrafo e eu não tenho mais essa vontade e necessidade de documentar tudo como antes. Eu ainda fotografo muito, mas como tem mais um monte de gente fotografando, fico mais tranqüila.

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Lookbook.nu AP Shuffle

Moda Yuri Lee, criadora do Lookboo.nu

O site LOOKBOOK.nu é uma espécie de blog de moda, no estilo streetwear , Recheado de fotos de looks de todos os cantos do mundo e com um layout simples e que funciona; basicamente é uma comunidade online onde pessoas reais criam seus perfis e postam as fotos de seus visuais em grande estilo e dividam a criatividade de seus looks e tiram inspirações nos estilos originais de pessoas de cada parte do mundo. Estes looks podem ser votados pelos outros membros da comunidade com um Hype. Cada Hype vale um ponto, assim o dono do perfil votado vai acumulando pontos em seus looks. A comunidade tem se tornado a preferida de quem não só adora usar roupas e acessórios diferentes todos os dias, mas também gosta de mostrá-los. O site possui membros nos 5 continentes, em mais de 40 países. Para fazer parte do LOOKBOOK.nu é preciso um convite. Caso não haja o convite, você pode cadastrar-se com seu e-mail e seu blog, para que seja aprovado ou não. O site é voltado para todos os que apreciam moda e está se tornando a nova mania dos fashionistas e formadores de estilo! Pra saber como tudo começou conversamos rapidinho por e-mail com a idealizadora do projeto, a californiana Yuri Lee (foto acima).

Shuffle – Quando e como você pensou: vou fazer este projeto?! Yuri – Eu amo moda e sempre encarei isso como uma forma de arte muito pessoal. Estudei História da Arte no colégio e depois fiz uma faculdade de artes. Foi bem natural! Dá pra perceber pelo site que sou fascinada por quem usa a roupa para se expressar e formar um conceito estético. Depois que descobri sites tipo o The Sartorialist, aprendi que estilo e tendência estão muito mais nas ruas e festas, ao contrário dos que acham ser apenas nas passarelas. Foi aí que também comecei a notar várias pessoas postando fotos delas mesmas e de seus estilos em blogs, fóruns, etc. Então veio a idéia do “O que você está vestindo hoje?”, que acho ser incrível, mas que ninguém havia aproveitado. Foi assim que decidi criar o LOOKBOOK.NU!

po todo por conta do LOOKBOOK.nu e, quando sobra um tempinho, de alguns “freelas”. Shuffle - Moda está sempre ligada à musica. De que tipo de música você gosta? Yuri – Mmm… Eu gosto de tudo que é tipo de música, mas escuto jazz e bossa nova aos montes. Meus favoritos são Jobim e Ella Fitzgerald. Mas no momento amo também a banda canadense Stars, e ainda o pessoal do Black Kids – as músicas são divertidas e coloridas. Tem também o último do Coldplay e a minha música do verão que é American Boy, da Estelle com o Kanye.

Shuffle – Quem faz o LOOKBOOK.nu? Yuri – Apenas eu e mais uma pessoa; o meu namorado. Ele é programador e trabalha com mídias sociais. Nós trabalhamos no site todo e eu mesma acabo fazendo o marketing também. Shuffle – Além do site, você trabalha com outra coisa relacionada à moda? Yuri – Logo depois que me formei eu trabalhava no mercado de varejo, mas agora fico o temAlguns membros do Lookbook.nu

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Shuffle Reviews Reviews

Livros Laranja Mecânica Anthony Burgess

Coisas Frágeis Nail Gaiman

1962 Editora Aleph

2006 Conrad Editora

Um dos filmes de maior sucesso e fama da década de 1970 de Stanley Kubrick foi “A Laranja Mecânica” (‘The Clockwork Orange’). Mas, o que pouca gente sabe é que, na verdade, esse filme fora baseado no livro de mesmo título escrito por Anthony Burgess, britânico, em 1962. Com uma linguagem inicialmente complicada por conta dos neologismos criados pelo autor e designando-os como a gíria dos jovens de um futuro não tão distante (ainda válido para os dias atuais). O protagonista e narrador da história é Alex, um jovem apaixonado pela música clássica (especialmente a de Ludwig van Beethoven) e pela ultraviolência horrorshow. Líder de um grupo de nadsats (adolescentes), ele leva os seus amigos noites afora para tomarem môloco (leite com drogas) e praticarem a “a boa e velha ultraviolência”. Porém, Alex é preso em uma dessas noitadas. Ficando a par de uma nova técnica do Estado de refreação das más atitudes de delinquentes em que ele poderia se ver livre dentro de 15 dias, Alex pede que o coloquem nesse “tratamento”. Chamada de “Método de Ludovico”, Alex era obrigado a tomar doses de injeções diárias e a ver filmes em que mostravam “o bom e velho entra-e-sai-entra-e-sai” (sexo, geralmente obtido através do estupro) e a sua ultraviolência com música clássica de fundo.

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Ano 01 - Nº 01

A Conrad Editora colocou em pré-venda o livro Coisas Frágeis (formato 16 x 23 cm, 200 páginas, R$ 38,00), de Neil Gaiman (Sandman, Lugar Nenhum). Na obra, o leitor encontra contos inéditos do autor. O escritor mostra como funciona seu talento como contador de histórias no reino das narrativas curtas. Ele escreve sobre os mais diversos universos - sejam criados por outros autores (com contos que aludem aos mundos de Sherlock Holmes, Matrix e Nárnia) quanto seus próprios, como em O Monarca do Vale, que tem como protagonista o personagem Shadow, de Deuses Americanos. Os nove contos deste livro trazem Gaiman abordando os mais diversos temas, misturando puberdade, punk rock e ficção científica em Como Conversar com Garotas nas Festas; combinando o Sherlock Holmes de sir Arthur Conan Doyle com o terror de H. P. Lovecraft em Um Estudo em Esmeralda; extrapolando o mundo de Matrix em Golias, inspirado no roteiro original do primeiro filme; ou mesmo presenteando a filha mais velha com um conto fantástico sobre um clube de epicuristas em O Pássaro-do-Sol. A introdução do livro afirma que boas histórias “duram mais que todas as pessoas que as contaram, e algumas duram muito mais que as próprias terras onde elas foram criadas”.


Diretor . Esmir Filho . 2009 Primeiro longa-metragem do diretor paulistano Esmir Filho, diretor do hit online Tapa na Pantera e figura constante em festivais com seus curtas. Acompanhamos, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, o drama de um adolescente (vivido pelo ator local Henrique Larré) que bloga com o nome Mr. Tambourine Man. A fixação por Bob Dylan se estende ao Flickr e aos vídeos que ele segue, postados por uma morena de cabelos finos que assina como Jingle Jangle (outra referência à música de Dylan). No MSN, instigam o garoto a conhecer o mundo. E o jovem Sr. Tamborim não vê mesmo a hora de ir embora. Há um mistério cercando a trama, e ele começa a se revelar quando descobrimos que aquelas pessoas que o Sr. Tamborim vê no YouTube não são estranhas em sua cidade. Ademais, falar de trama é um pouco complicado. O que Esmir Filho nos dá, inspirado no romance de estreia do escritor

Efêmera . Tulipa Ruiz YB Music . Esmir Filho . 2010 Dizer que não gostou do álbum de estreia de Tulipa Ruiz, "Efêmera", é quase uma ofensa ao bom senso. Fluido e absurdamente sedutor, o trabalho é um périplo contemplativo e descompromissado pelo universo feminino da artista, no qual não há tempo para exigências pautadas pelos protocolos cotidianos. Fico tentado a qualificar o trabalho como essencialmente escapista, mas isso parece mais artifício do que proposta. Fatos concretos mesmo são as onze faixas do disco, cujo roteiro açucarado conduz do início ao fim a um dos trabalhos musicais mais bem resolvidos de 2010. Vital como o ar, o disco pode encontrar nessa mesma qualidade uma barreira intransponível: todos precisam de ar, mas quantas vezes reparamos nele, nos damos conta de sua importância fundamental? Tanto descompromisso pode ser confundido com a banalidade pura e simples. Amor inocente, fuga pela imaginação, bucolismo e a própria pureza de seu canto trabalham a favor de um anacrônico desbunde, nos transportando para alguma época anterior à nossa vida-vivida, com “bordados de chita filó” e um garoto que anda descalço e faz da vida o que sonha.Há quem busque familiaridade com o vanguardismo de um

DVD

Ismael Caneppele, Música para Quando as Luzes de Apagam, é um relato sensorial (ou uma viagem de erva, se você preferir), beirando o realismo fantástico, sobre projeções, idealizações e outras ficções que criamos para preencher nossos vazios. Os Famosos e os Duendes da Morte dialoga com a geração que não acredita na Internet como um passatempo, mas como uma opção existencial. Entretanto, parece um filme não-maturado, cujas ideias não ganharam o desenvolvimento necessário para expressarem mais do que vestígios. Talvez o filme fale muito, o suficiente, para a geração retratada na trama, mas certamente se mostra incapaz de ter o mesmo grau de comunicação com os que não se sentem “iniciados”. Isto não tem a ver com idade ou “tribo”, como se disse antes, mas com a fragilidade da sua narrativa.

CD Luiz Chagas, ter tocado com Itamar, acredito eu –, mas a equação aqui é bem mais simples, e pende para um sabor passadista à moda da Gal Costa pósdesbunde e para o bom humor de uma Rita Lee no seu auge de popularidade nos anos 80. Se existe algo de Itamar, é uma escolha equivocada de certos elementos na estética musical, que mais atrapalham do que realçam virtudes.Tulipa é decididamente mais “comunicativa e ensolarada”, para usar dois adjetivos de uma crítica de Pedro Alexandre Sanches, e uma pequena porção de supostos equívocos podem não ser suficientes para minar o promissor trabalho da cantora/compositora que parece brincar de forma consciente com o “efêmero” de se projetar como artista pop. Em sua quase totalidade, Efêmera é um trabalho feminino, contemplativo, desacelerado, descomplicado. Pode até vir a se confirmar como algo passageiro, mas é desde já cativante (e incomum), por agrupar um conjunto de músicas perfeitas para acalmar, tranquilizar, descansar, repousar, pensar e parar de pensar. www.revistashuffle.com.br

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Reviews

Os Famosos e os Duendes da Morte


O caminho das pedras “Desliga esse videogame e vem almoçar! Sai desse jogo, tá um dia lindo lá fora! Não sei como você não cansa!” Se você cresceu jogando videogame, provavelmente já ouviu alguma frase semelhante a essas que acabou de ler. É compreensível que muitos pais se preocupem ao verem seus filhos dedicando tempo à coisas que não são voltadas à escola , por exemplo, mas eles não imaginam que essa dedicação pode ir além do hobby e do lazer. Isso pode ser o começo de uma carreira em um mercado que movimenta quantias milionárias de dinheiro em todo o mundo: a produção de videogames. Se você gosta de imaginar como um jogo pode ser melhorado, criar personagens ou histórias, desenhar monstros ou mesmo imaginar novas táticas de jogo, comece a considerar a hipótese de entrar para os bastidores desse universo do entretenimento digital. Difícil? Provavelmente. Impossível? Nenhum pouco. Conquistar um espaço nesse mercado não é tarefa das mais fáceis, porém o que vemos atualmente é que as portas estão se abrindo cada vez mais. O que há alguns anos era privilégio de poucos, hoje em dia está se tornando um caminho para muitos. Cursos de game designer surgem em várias faculdades. Leis de incentivo aos jogos são aprovadas pelo nosso governo, que por sua vez vê os games como ótimos produtos para exportação. Várias empresas do setor publicitário já oferecem jogos para seus clientes, como um canal para chegar ao público jovem. Web games pipocam pela internet, alguns amadores, outros extremamente profissionais. Isso sem falar nas produtoras nacionais, que crescem em todo o país, mostrando para todo o mundo que aqui no Brasil a gente não é bom só de bola. E como eu faço para virar um “fazedor de jogos”? Essa é a pergunta de um milhão (de vidas), e se você está lendo este texto, está no caminho certo. Claro que a condição mais básica para se trabalhar nessa área é adorar jogos, porém, isso é fácil, e uma grande porcentagem da população já preenche esse requisito. É preciso além do simplesmente jogar. Ler revistas da área e artigos sobre o mercado de jogos, conhecer e jogar vários estilos (e não só os preferidos) são atividades essenciais para um bom desenvolvedor de games. 22

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Ano 01 - Nº 01

“Afinal, um profissional de qualquer área deve ter, além de teoria, a técnica para cumprir seu trabalho” Experimentar os nostálgicos jogos dos anos 80, nos quais a falta de grandes recursos tecnológicos era substituída genialmente por histórias mirabolantes e dinâmicas de jogos sempre originais, testar todos os tipos de jogos, e não somente videogames. Jogos de tabuleiro, card games, jogos estratégicos de miniaturas e RPGs, por exemplo, podem ser uma excelente fonte para pesquisa de regas, lógica e jogabilidade. Além disso, é preciso mudar a maneira de olhar um jogo. Um desenvolvedor deve conseguir analisar um game, saber quais são os pontos fortes e qual é o problema que o torna pior do que ele realmente é. Tentar visualizar toda a produção que existiu por trás de um título, desde a criação de uma história e se seus personagens, passando pelo conceito do jogo e suas inovações de jogabilidade, até os detalhes finais de acabamento visual e trilha sonora. E isso é apenas o começo. Afinal, um profissional de qualquer área deve ter, além de teoria, a

Ilustração ED - Antiga EGM Brasil

Futuro

Jogue para ganhar

técnica para cumprir seu trabalho. História, criação de personagens, cenários, engines, programação, animação, interface, modelagem 3D... a lista é imensa. Olhe nos créditos finais de qualquer jogo e escolha aquilo que gostar mais. Claro que serão necessários uma faculdade relacionada, cursos de especialização e anos de aprimoramento. O caminho é árduo, mas igualmente prazeroso. Cenildon Muradi Jr. é designer de games e um dos integrantes da equipe Start2play, vencedora do Enduro de Games do SESC.


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Ano 01 - Nยบ 01


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