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Arquitetura não solicitada em vazios urbanos: Santo Antônio e São José
Juliana Ribeiro Muniz
Recife, abril de 2011.
Arquitetura não solicitada em vazios urbanos: Santo Antônio e São José
Trabalho de Graduação desenvolvido pela aluna Juliana Ribeiro Muniz, como requisito para a integralização dos créditos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco. Trabalho este orientado pelo professor Fernando Diniz.
Recife, abril de 2011.
A Deus, a meus pais e aos meus mestres.
“As ruas principais do bairro de Santo Antônio – as ruas do comercio elegante, das modistas, das perfumarias, das confeitarias, das joalherias, as ruas cívicas[...] são predominantemente européias, porém sem a gravidade masculina das do Recife: com uma graça feminina. Cheiros também femininos.” Já para os lados de São José, o Recife como que se orientalizava; a vida que as ruas refletem é hoje da pequena burguesia, mais sociável que a grande; é a gente que de noite vem conversar, sentada em cadeiras de vime e espreguicadeiras de lona, à calçada, à porte da casa; e ai toma sorvete, come tapioca, os homens de pijama, chinelo sem meia. É o bairro dos pianos fanhosos mas ainda assim tão românticos [...]. É o bairro do comercio mais barato. Das lojas e armarinhos com homens sentimentais.” Gilberto Freire, 1961
Sumário Resumo/Abstract p.3 Introdução p.5 As dimensões do espaço em centros históricos urbanos p.9 O planejamento urbano atual, um breve debate p.11 O Patrimônio Imaterial e sua relação com o ambiente construído p.15 O turismo como instrumento de preservação cultural p.17 O espaço público e sua dimensão cívica p.21 Compreendendo Santo Antônio e São José p.31 Evolução Histórica p.33 Caracterização da área segundo a legislação p.39 Os projetos urbanos recentes e suas articulações p.43 Caçando problemas e potencialidades p.53 Os vazios nos centros urbanos p.70 Dois bairros, um objetivo, muitas potencialidades p.75 Praticando a arquitetura não solicitada p.77 Uma utopia sóbria, a conectividade dos planos p.152 Conclusão p.165 Anexos p.167 Os instrumentos e programas de proteção e gestão do patrimônio p.168 O financiamento da proteção ao patrimônio p.174 Analise dos projetos urbanos recentes p.179 Plantas originais e de levantamento do Edifício Trianon. p.248 Lista de imagens p.255 Referências bibliográficas p.261
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“Eu acho que é importante para os arquitetos dizer e escrever coisas, não somente uns aos outros, mas se levantar criticamente e falar sobre assuntos” Peter Eisenman
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Resumo Este trabalho procura estimular uma reflexão que ajude a criar um diálogo entre aqueles que discutem, aqueles que decidem e aqueles que executam o planejamento das cidades. Mais do que uma simples acumulação de conhecimentos, o seguinte trabalho procura seguir uma linha de pensamento lógico a fim de alcançar soluções reais que incentivem a requalificação dos bairros de Santo Antônio e São José. A figura do arquiteto aqui procura surgir como a de um organizador de situações, e não de alguém que deseja impor seus conceitos. Este trabalho arquiteta quatro propostas de intervenção em vazios urbanos presentes nestes bairros e procura articular as diversas propostas existentes para a área, a fim de aproveitar-se de todo o potencial atrativo que o local possui em seu processo de requalificação. Abstract This paper seeks to stimulate a discussion that helps to create a dialogue between the actors that discuss, decide and those that perform the planning of the cities. More than a mere accumulation of knowledge, the following work tries to follow a logical line of thought to achieve real solutions that encourage the redevelopment of the neighborhoods of Santo Antônio e São José. The figure of the architect in this paper seeks to emerge as an organizer of situations, not as someone who wants to impose concepts. This paper works on four architectural interventions in urban voids present in these neighborhoods and seeks to articulate the other existing proposals for the area in order to take advantage of the attractive potential that the site has to its process of regeneration.
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Introdução Tratar de problemas urbanos requer encarar diversos fatores fora da área de atuação comumente conhecida pelos arquitetos a fim de entender, com mais clareza, a diversidade e complexidade em cada situação encarada no sítio urbano. Primeiramente, devemos compreender o objeto de estudo, identificar que tipo de problema encaramos, e só então poderemos ver que solução deveremos dar-lhe. Enquanto alguns problemas têm uma solução, alguns possuem diversas soluções, alguns não possuem solução, e alguns problemas nem são problemas. O nosso problema é, então, normalmente, dizer que tipo de problema nós temos. Steven Holl O primeiro papel do urbanista é descobrir que tipo de problema encaramos, pois nem todos os problemas podem ser resolvidos da mesma maneira. Jane Jacobs, em seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas, classifica os problemas urbanos na categoria de complexidade organizada, o que significa que, apesar das relações entre os fatores de cada problema urbano parecerem complexas, não há nada irracional ou acidental sobre as suas relações; elas são complementares. A cidade funciona como um organismo. Cada decisão afeta mais que uma parte específica do corpo urbano, as suas relações estão intrinsecamente associadas, ação e reação são forças dificilmente controladas, mas não imprevisíveis. Como outros problemas de complexidades organizadas, os acontecimentos na cidade parecem não seguir uma lógica. Em biologia, os pesquisadores estudam o comportamento de seu organismo, levando em consideração desde o ambiente em que vivem até a sua composição, sem deixar de lado nenhum aspecto que possa influenciá-lo. A cidade não é um laboratório onde se possa controlar as condições ideais de temperatura e pressão, o que faz com que os estudos e pesquisas sejam mais imprecisos do que aqueles da medicina, mas isso não quer dizer que a abordagem ao problema deve
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ser encarada de maneira diferente. É necessário que haja uma profunda exploração dos diversos aspectos que compreendem o ambiente urbano, para identificar o tipo de problema que encaramos em cada situação e, assim, partir para a exploração de alguma resolução. Neste trabalho sobre os Bairros de Santo Antônio e São José, procura-se tratar o tema do Urbanismo e a Conservação e Preservação dos Centros Urbanos, encarando o desenvolvimento local como um dos maiores desafios para o planejamento urbano atual. Dois Bairros, muitas possibilidades. O objetivo do presente trabalho é de encurtar os caminhos que dividem o planejamento urbano atual debatendo assuntos, exemplificando ações a serem seguidas e estruturando um plano integrado, de maneira simples e clara, a fim de que as propostas e sua lógica possam ser compreendidas por uma ampla porção da população. Não tenho a pretensão de fazer tudo, aliás, não conheço ninguém que faça tudo sozinho. Jean Prouvé O “esquartejamento” do planejamento realizado atualmente, acompanhado pela falta de conhecimento e comunicação com os demais responsáveis pelo planejamento e gestão de uma cidade, gera uma incompatibilidade que produz conflitos e transporta os problemas para outros locais da cidade. É fundamental para um bom funcionamento do planejamento urbano a compreensão do processo como um todo e de suas articulações. Há um número grande de projetos institucionais e acadêmicos sendo produzidos para os Bairros de Santo Antônio e São José, nestes últimos anos. Essas propostas apresentam respostas para diversos problemas da região. Mas, ao mesmo tempo, há uma falta de conhecimento dos efeitos destes projetos um em relação aos outros. O método que se pretende adotar neste trabalho segue os caminhos do Planejamento Estratégico. Neste modelo de planejamento, os projetos urbanos nascem e se desenvolvem numa relação aberta, flexível e,
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sobretudo, desprovida de qualquer sentido hierárquico com o plano [...] o projeto abandona a posição passiva diante do plano urbano, podendo até mesmo redirecioná-lo (BRANDÃO). Dá-se ênfase aos projetos urbanos e procura-se uma melhor relação entre eles, envolvendo-os em um plano urbano com a expectativa de que esses projetos pontuais bem articulados gerem resultados urbanos que ultrapassem sua área de implantação. A primeira etapa do trabalho visa a compreender a área de estudo, de modo mais amplo. Consiste em uma análise sobre o urbanismo praticado, atualmente, quanto ao papel do espaço público como garantidor da civilidade de uma sociedade, sobre a relação do espaço material com o patrimônio imaterial da sociedade e sobre o papel do turismo para o desenvolvimento e suas consequências. A segunda etapa do trabalho consiste em apresentar uma breve análise histórica sobre a área de estudo realizada para um melhor entendimento sobre como a forma urbana atual se consolidou e qual a importância real desses Bairros para a cidade do Recife. Nesta etapa, um extenso conjunto de planos propostos para a malha urbana atual encontrada em Santo Antônio e São José (que é apresentado no anexo 3) é analisado, procurando compreender os motivos das escolhas feitas para cada situação. Procura-se, ainda nesta etapa, integrar os planos estudados com novos planejamentos que procurem seguir as teorias aqui defendidas, através de um diagnóstico da área e da identificação dos vazios urbanos e dos espaços subutilizados, procurando explorar as suas potencialidades. Na última etapa do trabalho, o método utilizado é o da arquitetura não solicitada como um ato de produção urbana, procurando a construção de novas situações no centro urbano do Recife. Utiliza-se o Desenho Urbano, uma disciplina híbrida, composta por elementos de base quase-científica somados à dimensão artística de natureza intuitiva (BRANDÃO), como forma de pensar a cidade nas diferentes escalas e relacionar mais diretamente o ambiente construído com o comportamento das pessoas.
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As dimensões do espaço em centros históricos urbanos
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O planejamento urbano atual, um breve debate É necessário que haja uma harmonia de pensamento entre quem executa e quem concebe. Jean Prouvé Em 1930, o urbanista francês Alfred Agache define que o urbanismo deveria ser uma síntese de muitas ciências, uma ciência operacional, que integra as diferentes abordagens sobre a cidade (MOREIRA, 2004). Como coordenadores do planejamento físico, as comissões urbanísticas lhe dão, geralmente, com propostas já idealizadas por outros agentes, sem obter uma participação efetiva no processo que conceberá o futuro das cidades. A arquitetura tem se tornado a consequência lógica de algumas forças e interesses, sem deixar nada estético, crítico ou ético a ser mediado (BOUMAN, tradução da autora). Como toda tarefa de maior complexidade, para que o planejamento possa ser produtivo é preciso uma separação de tarefas. Entretanto, a falta de comunicação e de integração entre os diversos agentes resulta em um conjunto de planos que pode ser incompatível. Como cada área específica defende seus interesses, chega-se à conclusão da melhor resposta para cada problema, a partir de um único ponto de vista, o que dificulta o papel dos responsáveis pela tomada das decisões. Os diversos atores responsáveis pelo desenho da cidade muitas vezes se comportam como se outros envolvidos não existissem, ou como se as conclusões destes não merecessem crédito ou não devessem ser levadas em conta. Esta fragmentação é uma consequência da divisão de interesses dos agentes. Esse processo resulta em um desgaste de energia de todos os comprometidos que poderiam estar agindo de forma mais colaborativa no pensar a cidade. No processo de criação do espaço urbano, as prioridades são normalmente ordenadas da seguinte maneira: primeiramente as linhas gerais, da cidade, depois os edifícios e por último os espaços entre estes (GEHL, 2010, tradução
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da autora). A dimensão humana é esquecida no processo onde a prioridade do planejamento se dá para suas duas maiores escalas. Essa crise de Brasília, como Gehl denomina, é um vício dominante no modo de pensar as cidades. O planejador age como um detetive paranóico que inventa as vítimas, forja a fisionomia do criminoso e evita a cena do crime (KOOLHAAS, 2008). Cada situação deve ser analisada em seu contexto. Não se deve tentar empregar ideias fixas, pois o processo projetual exige uma compreensão do espírito do local, e o plano deve ter em mente todas as escalas ao se delimitar cada linha. É importante se ter em mente que local se quer criar e como os locais podem estimular a vida entre os edifícios. Só então os elementos físicos devem começar a ganhar forma. Ao projetar, precisamos nos preocupar com os sentidos humanos, com as relações de distâncias no espaço, com os detalhes dos objetos e materiais no espaço público, com o conforto ambiental etc. O modo como um espaço é experienciado é mais relevante do que a forma física que este possa assumir. A vida entre os edifícios oferece uma oportunidade de socialização, de troca, de aprendizado. Este espaço deve ser zelado e planejado minuciosamente, para que as atividades humanas sejam realizadas de modo significativas. Outra questão a ser levantada sobre o Planejamento Urbano atual é em relação ao papel dos agentes públicos e dos agentes privados, na construção urbana. O problema talvez encontre-se na falta de balanceamento no poder dos participantes, visto que há uma tendência de aceitação cega às propostas formais dos investidores privados e a ausência da crítica arquitetônica em geral – com a exceção de alguns ainda atuantes – que, quando existem, pouco participam dos debates sobre o futuro de nossas cidades com a implantação de alguns projetos e uma considerável falta de participação para os demais envolvidos nos assuntos de requalificação. Ao invés de arquitetura como um problema social, é uma arquitetura como outro produto qualquer (BOUMAN, tradução da aurora), outro problema de rentabilidade, de economia.
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Para uma melhor compreensão do processo, se faz necessário uma abertura de fóruns de debates para a sociedade interessada. Deve-se acabar com a dicotomia entre os planos públicos um tanto utópicos e os planos privados que priorizam o ganho pessoal, ao invés do interesse da população como um todo. É fato que o poder privado é um importante ator para a construção da cidade e que tudo o que não é atraente para o mercado é reprimido de maneira drástica, ou se deterioriza por falta de uso, ou nunca tem uma chance real de se manifestar (BERMAN, 2007). O objetivo geral para a produção espacial deve se basear em achar modos de atribuir valores aos objetivos que priorizem toda a população, e não somente uma minoria, tornando-os atraentes ao mercado e assim possam ser viabilizados. É fato que o crescimento econômico é, certamente, mais contabilizável do que os custos sociais, estes constituem variáveis de difícil quantificação (WILHEIM,2003), mas nem por isso devem ser deixados de serem levados em consideração. Uma equação onde a melhoria social e o crescimento econômico sejam grandezas diretamente proporcionais é a cena desejável para se planejar a cidade. No atual modelo de planejamento urbano, onde a terceirização dos serviços cresce fortemente, não se deve esquecer que uma boa comunicação é essencial para que o processo corra sem distorções. Quanto mais pessoas no jogo, mais distorcida é a mensagem. A cada novo receptor, a mensagem perde um pouco do seu significado, e as demandas reais nem sempre chegam àqueles responsáveis por elaborar as suas respostas. No caso do Brasil, sem dúvida, tem havido uma melhora nas iniciativas em relação ao planejamento das cidades, um novo foco nas questões urbanas. Porém, não se deve deixar de questionar se essas iniciativas têm sido legitimas, já que sua contrapartida, muitas das vezes, se vê na pressão pela transformação do ambiente construído e de suas características, que lhe afirmam como um bem cultural, resultando em perdas de caráter de muitas paisagens urbanas há tempos consolidadas. Questiona-se se os chamados projetos de reabilitação em curso no Brasil estariam, de fato, reabilitando o
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patrimônio das cidades ou apenas se inserindo na tendência de city marketing (LACERDA, 2007) ou se ambos, o que a cidade tem a ganhar e o que tem a perder com essa tendência? Quais as diretrizes que tem seguido? Considerando o caso da requalificação do Bairro do Recife, vizinho à área de estudo deste trabalho, é patente que ele, ao longo dos últimos anos, sofreu grandes alterações. A estrutura física das construções e do espaço público, juntamente com a imagem atribuída ao bairro, sofreram uma significativa melhoria com a revitalização. O efeito da requalificação do Bairro foi positivo, por ter conseguido recolocá-lo, novamente, em uma posição prestigiosa e de referência, porém ainda não aproveitou todo o potencial que as ações em conjunto poderiam ter alcançado. O planejamento não deve ser somente uma ação localizada no tempo, mas um processo contínuo e sujeito a modificações. Para tanto se faz necessária a participação da população, das instituições de ensino e dos planejadores para uma análise crítica e sugestão de novas diretrizes quanto às intervenções nesta área central e em todo o conjunto urbano da cidade do Recife. A próxima etapa da requalificação dos espaços urbanos da cidade do Recife atenderá, entre outros, os bairros de Santo Antônio e São José. Os planejadores responsáveis parecem possuir uma visão mais geral dos diversos fatores que regem a cidade, abordando o planejamento de forma descentralizada e procurando dar autonomia aos diversos agentes participantes da construção do espaço urbano. Eles parecem adotar uma abordagem coordenadora, que visa a integrar as propostas a um planejamento contínuo que procura atender às demandas de curto, médio e longo prazos, estabelecendo diretrizes a serem seguidas, ao conciliar os diversos interessados no processo (poder público, investidores privados e população). Certamente, caminhamos na direção certa, pois o desafio é que essas políticas tenham maior autonomia em relação às diferentes gestões, a fim de alcançarem continuidade.
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O Patrimônio Imaterial e sua relação com o ambiente construído Hitler escreveu que para destruir um povo, para nele apagar a consciência de si próprio, basta destruir os seus monumentos, o meio físico a partir do qual ele se identifica. Álvaro Siza O Patrimônio Imaterial de uma sociedade são suas políticas, representações e expressões culturais, saberes populares, técnicas e artefatos que representem determinadas comunidades, etc. Este é transmitido ao longo das gerações, sempre recriado, renovado, sem perder seu Espírito do Lugar e sua identidade, é testemunha viva da diversidade cultural de um povo. Os elementos intangíveis não podem ser desassociados do ambiente físico onde esses acontecem. Os elementos físicos e espirituais estão conectados dando sentido ao Genius Loci. Há uma relação entre o material, os estados mentais e as pessoas, que não pode ser quebrada. Existe um laço biunívoco entre a estrutura espacial e a estrutura social ao ponto que, caso se desmanche a estrutura espacial, se desorganiza, no mesmo golpe, os princípios de base do agir do coletivo. (REMY, J.; VOYE, L., 1992). Para se preservar a memória de um povo, devese garantir a conservação do seu patrimônio cultural material, seu ambiente de proliferação. Festas tradicionais, blocos de carnaval, comidas típicas, música, dança, profissões, pessoas peculiares, etc. Nesse Processo [de revitalização], dentro da dimensão imaterial, é importante manter algumas atividades antigas e incorporar os novos atores e usos para que seja dada uma nova dinâmica à área, de modo que as novas atividades produzam uma melhora na qualidade das atividades antigas e que a pátina daquelas antigas possa penetrar nas novas, mantendo continuidade das características e vivência do lugar (ZANCHETI, S. ; SILVA, A., 2008). Deve ser manuseado, cuidadosamente, o processo natural de um povo que deve sempre prezar pela manutenção de determinados valores, para que essa sociedade possa continuar se reconhecendo como tal.
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No Brasil, as diretrizes dos órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio cultural material e imaterial apontam para um estreitamento em suas relações. Foram feitos o mapeamento, identificação e documentação das manifestações culturais brasileiras, de forma que possam garantir as condições socioambientais necessárias, para que essas condições continuem sendo desenvolvidas e transmitidas, melhorando, também, a qualidade de vida dos seus produtores e permitindo a difusão de conhecimentos culturais para os demais grupos sociais. A cidade é o registro da cultura de um povo, registrada na memória através de seu ambiente construído, e encontra-se em constante transformação. Segundo a Declaração de Quebec (2008), os componentes tangíveis e intangíveis do patrimônio são essenciais para a preservação da identidade das comunidades que criaram e transmitem espaços de relevância cultural e histórica. Garantir acesso a esses ambientes e promover uma ação integrada com o macro planejamento urbano é de extrema importância, para que tais valores culturais continuem a ser transmitidos. Perceber e interpretar são uma parte integrante da relação entre o ser e o mundo em que este vive. Um mesmo lugar pode apresentar vários espíritos significados. Sua riqueza se encontra neste aspecto e, assim, pode ser compartilhada pelos mais diversos grupos, se tornando uma testemunha espacial da democracia de um povo. Além do registro do bem imaterial e da conservação de seu ambiente físico, deve-se garantir que os mesmos alcancem o reconhecimento e que se façam acessíveis física e psicologicamente, para toda a população. Como alerta Hertzberger (1996), o espaço público deve se tornar mais uma vez o cenário, com uma melhor organização espacial de todas as atividades para as quais foi usado em tempos imemoriais. É papel dos órgãos culturais desenvolver e colocar em prática métodos de gestão do patrimônio que deem ênfase a ambos os aspectos de sua conformação. É necessária uma integração no plano de preservação para que as características culturais tangíveis e intangíveis possam ser conservadas. Deve-se proteger e
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[1] O Patrimônio Imaterial Cultural Brasileiro, a partir do Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000, foi dividido em quatro categorias: Registro dos Saberes, Registro das Formas de Expressão, Registro das Celebrações e Registro dos Lugares, sendo as duas últimas fortemente relacionadas com os espaços físicos e os bens materiais que o compõem. [2] No Estado de Pernambuco, estão registrados pelo IPHAN como bem imaterial a Feira de Caruaru e o Frevo, encontrando-se em processo de registro o Caboclinho, o Maracatu Nação, o Maracatu Rural e o Cavalo Marinho. Através da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco os bens imateriais tombados são: a Agremiação Carnavalesca Bloco da Saudade (Recife), o Alto do Moura (Caruaru), o Bloco Carnavalesco Galo da Madrugada, o Bolo Souza Leão, a Cachaça, o Carnaval de Olinda, a Cartola (comida), o Conjunto Arquitetônico e Espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém (Brejo da Madre de Deus), a Dança do Brinquedo Popular Ciranda, a Dança do Xaxado, a Festa da Pitomba em Prazeres (Jaboatão dos Guararapes), a Festa do Vaqueiro e Missa do Vaqueiro (Serrita), o Papangus de Bezerros, o São João de Caruaru, o Manguebeat (Recife/Olinda) e o Bolo de Rolo. Encontram-se ainda em processo de analise as Agremiações Carnavalescas das Flores (Recife), o Bloco Carnavalesco A Mulher da Sombrinha (Catende), o Carnaval de Vitória de Santo Antão, a Festa da Batalha do Reduto (Rio Formoso), a Festa das Dálias (Taguatinga do Norte), a Festa das Marocas (Belo Jardim) e o Sítio Histórico do Monte das Tabocas (Vitória de Santo Antão). Um dado peculiar sobre o Estado é seu pioneirismo na instituição do Registro do Patrimônio Vivo, presente na Lei nº 12.196, de 2 de maio de 2002, que tem o papel de reconhecer representantes da cultura popular de Pernambuco, os gratificando com uma pensão vitalícia mensal.
promover o espírito dos lugares, sua essência e não apenas seu aspecto físico e material. As políticas Culturais Brasileiras [1] dos últimos anos têm descoberto a importância da valorização dos bens imateriais e seu reconhecimento como peças fundamentais para a preservação da cultura do país. Apesar do grande avanço no reconhecimento desses bens, se faz necessária uma maior integração das políticas de proteção dos mesmos com os locais onde se encontram inseridos. A importância da preservação dos valores intangíveis da cultura pernambucana tem sido enfatizada, cada vez mais nos últimos anos, visando não somente a conservá-los e valorizá-los mas também divulgá-los e promover o turismo cultural no Estado [2]. Embora um grande progresso tenha sido alcançado, muitos dos locais onde as atividades culturais são realizadas ainda se encontram em condições inadequadas de desenvolvimento, sendo necessário que hajam investimentos infraestruturais e de promoção, para que possam permitir a transmissão do conhecimento cultural para a sociedade de forma mais efetiva, pois não há dimensão imaterial sem o suporte da dimensão material.
O turismo como instrumento para a preservação cultural A compreensão da cultura é fundamental no turismo para possibilitar a compreensão entre o visitante e aquilo que é visitado, para que a cultura possa ser um recurso comercial (sob reserva), que ajuda a mitigar impactos negativos nas culturas anfitriães ou bens visitados. Maria Lúcia Franco Pardi O turismo, pelo seu papel atrativo, deve auxiliar as políticas de promoções culturais que preservem as expressões de um povo e seu patrimônio. A
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meta a ser seguida é a de encarar essa atividade como parceira da preservação, estimulando estudos de impactos socioambientais e a participação de diversos segmentos na elaboração das políticas turísticas. A promoção do turismo deve ser pensada tendo em vista os projetos de preservação cultural dos patrimônios materiais e imateriais de um povo e não apenas como um processo de produtividade econômica de uma sociedade. O turismo cultural precisa incentivar e respeitar a autenticidade dos bens visados, sejam esses materiais ou imateriais, protegendo o patrimônio e promovendo o encontro de diferentes culturas. A educação cultural necessita ser fruto desse encontro e deve-se lutar contra a banalização das experiências turísticas, esse se apresenta como um dos mais eficientes instrumentos para a educação patrimonial (PARDÍ, 2010).
Gráfico representando as opções do cliente atual
Para que a atividade turística se torne indutora do desenvolvimento – econômico e cultural – ela deve nascer de um planejamento e de uma gestão eficaz integrada tanto ao poder público como aos investidores privados. O turismo se encontra entre os cinco principais produtos geradores de dividas em moeda estrangeira para o Brasil. Apesar destas circunstâncias, o turismo no país se ressente de uma carência de infraestrutura de apoio que propicie o seu desenvolvimento com qualidade e sustentabilidade (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010). É de extrema importância para a estruturação e consolidação dos destinos turísticos brasileiros um investimento em infraesturura, tanto dos locais explorados em si como da sua acessibilidade e sua conexão com a cidade. O turismo, além de ser visto como um potenciador econômico, não deve deixar de ter como objetivo fortalecer a identidade de um povo e promover a valorização cultural. Recentemente o poder público tem investido em projetos e políticas de requalificação das áreas centrais como uma estratégia de manutenção de sua identidade física, mas também como forma de participar no mercado turístico internacional, opção adequada aos
Gráfico representando a previsão do cliente futuro
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investimentos privados (LOUREIRO, C. ; AMORIM, L., 2010) que devem ser tomados com cuidado, a fim de que não somente o ambiente físico seja preservado, mas também todas as suas qualidades intangíveis, enfatizandoas com as novas políticas. Os grandes eventos previstos para o país, como a realização da Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas em 2016, contribuirão para a evidência e visibilidade do Brasil no cenário internacional. Com esse cenário em vista, o Ministério do Turismo lançou, em 2004, um Programa de Regionalização do Turismo, que se baseia em uma gestão descentralizada porém estruturada em busca de uma flexibilidade articulada que gere bons resultados. Os objetivos desse programa consistem em procurar contemplar a pluralidade cultural das diferentes regiões do país e fomentar a produção associada ao turismo, visando a potencializar os benefícios para as comunidades de cada região e aumentar o tempo de permanência do turista em seu destino final. Como instrumento desse Plano, foi lançado o PRODETUR (Plano de Desenvolvimento Regional do Turismo), que será discutido mais adiante. A requalificação de espaços urbanos para fins turísticos deve partir da identificação dos ambientes construídos com potenciais de associação a essa atividade e progredir na mobilização de recursos para a sua adequação. Na busca da preservação física de um edifício não se deve tentar implantar uma atividade turística em tal iniciativa para que sua conservação seja alcançada, suas qualidades e potencial devem ser analisados, não se devendo pensar na atividade turística como a única salvadora do patrimônio, mas como um instrumento, entre outros, capaz de fortalecer a preservação da cultura. O Estado de Pernambuco está vivendo um momento diferenciado, com investimentos infraestruturais em ritmo acelerado. Este é o momento estratégico para que as atividades turísticas passem a ser exploradas mais ativamente, ganhando um maior destaque na economia local. O turismo no estado há muito tempo se têm focado nos aspectos naturais da região, o turismo de sol e mar, que pouco transmite sobre a cultura e sobre a história local.
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O Turismo Cultural possui a proposta de vender o patrimônio histórico e cultural, de explorar as potencialidades e promover a valorização da cultura local como uma forma de incentivar a economia da área. Uma vantagem concreta deste tipo de turismo é que ele procura dialogar com os valores da sociedade com suas manifestações culturais, sua tradição e folclore, além de promover a requalificação e conservação espacial das áreas de interesse. O turismo como manobra para a preservação cultural é uma peça-chave para a requalificação de áreas urbanas centrais. Para que a atividade turística obtenha sucesso e seja, de fato, positiva para a área explorada, é necessário um investimento infraestrutural na malha urbana, a promoção da acessibilidade aos locais de visita, restauração do patrimônio histórico, investimento na capacitação de profissionais e a garantia de novos empregos; um trabalho de educação da população e valorização dos espaços e da cultura local pelos cidadãos e visitantes. As medidas adotadas para a implantação do turismo cultural devem tanto beneficiar a economia local quanto funcionar como elemento integrador da sociedade, promovendo e difundindo a identidade da área, tanto para os visitantes como para os que nela vivem. O turismo age de modo feroz no tecido urbano, se este não for planejado conjuntamente com os demais objetivos da cidade. Como fermentador econômico e cultural, seu poder de atração deve ser constantemente monitorado, procurando um crescimento saudável e conjunto, visando a utilizá-lo como um instrumento de requalificação, e não de exploração.
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O espaço público e sua dimensão cívica O espaço público não é o espaço negativo das vivendas e sim o espaço positivo para a cidade [...] um espaço para todo tipo de atos e todas as classes de cidadãos. Albert Garcia Espuche Desde a antiguidade, o espaço público possui três características marcantes: um espaço de encontros, um local de trocas e um ponto de confluência de tráfego. Neste ambiente, as atividades devem ocorrer simultaneamente e em perfeito balanceamento, complementando-se e gerando uma força atrativa diversificada. Palco de sua dimensão sócio-cultural, o espaço público de uma cidade expressa a dinâmica de sua sociedade e deve ter um potencial que agregue as diferentes classes econômicas e grupos sociais. Pode-se estabelecer uma relação recíproca entre o espaço público e as práticas sociais de um povo. O espaço age possibilitando e restringindo a percepção e o comportamento humano, porém, pelas atividades nele exercidas, o mesmo é configurado e se encontra em uma modificação contínua em paralelo com as mudanças de costumes e hábitos de uma sociedade. O espaço público deve, acima de tudo possuir um caráter cívico – parte integrante da identidade urbana – um local acessível onde todos possuam os mesmos direitos e expressem um senso de acolhimento comum a todos, auxiliando a reequilibrar as desigualdades sócio-econômicas e relembrar à sociedade suas origens bem como expressar suas aspirações futuras. O espaço público é, fundamentalmente, um local de comunicação da sociedade, onde os costumes, a expressão coletiva, a imaginação, as festas, a vida, a cultura, as histórias, acontecem. A partir dos anos 1920, as ruas e espaços públicos com alta potencialidade de superposição de atividades passaram a priorizar sua função de mobilidade em detrimento de sua capacidade de sociabilidade. O foco se vira, cegamente, ao automóvel, renegando sua condição de espaço público. O pesado tráfego de carros não coexiste, pacificamente, juntamente com os usos da cidade como mercado e como local de encontro (GEHL, 2003,
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tradução da autora). Para completar o modo de pensar o espaço público como um espaço de trocas, surgem iniciativas privadas que atendem a essa necessidade dos cidadãos, criando um modo de apropriação do espaço refletido no consumo e controlado através de interesses que nem sempre levam em consideração a sociedade como um todo, priorizando certas parcelas em detrimento a outras. Os encontros neste novo modelo de cidade são restringidos, controlados, segregados. Após a crise do petróleo iniciada em 1973, deu-se inicio ao questionamento do automóvel como verdade absoluta a ser priorizada. Estudos e ações passam a ser realizados em diversos locais no mundo, para se resgatar a dimensão social das vias e dos espaços de troca, enfatizando-se, agora, no uso comunitário do espaço, pensando nos meios de transportes coletivos e na restrição dos automóveis, em determinadas áreas, visando a recuperar áreas degradadas e subutilizadas e torná-las, mais uma vez, o foco da vida urbana. A cidade, sendo vista como uma malha integradora de shoppings centers ou um verdadeiro parque temático, acarreta diversas implicações para a cultura e a vida de uma sociedade. É importante garantir que o espaço de convivência pública, mesmo que auxiliado em colaboração com os agentes privados, não perca seu aspecto cívico, sua característica pública maior. É essencial que a igualdade seja exercida e o senso comunitário seja incentivado. Em Copenhagen, na Dinamarca, o processo de retomada da dimensão cívica do espaço público se deu através de uma gradual mudança no modo de circulação das vias públicas das áreas urbanas centrais. Até os anos 1960, as ruas do centro eram predominantemente um local de tráfego prioritário de automóveis, sendo reservadas estreitas calçadas para os pedestres. Em 1962, a decisão de pedestrianizar a rua principal, rua Strøget, levantou um amplo debate na cidade. Os proprietários e usuários temiam que, com a retirada dos automóveis, o comércio na área sofreria grande perda. No entanto, o resultado foi exatamente oposto ao esperado; o número de pessoas e de atividades na área foi aumentado. A partir desta experiência, o
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processo de priorização do pedestre no centro desta cidade foi impulsionado, chegando a taxa de pedestrianização atual do centro histórico a alcançar cerca de 80% de seu território. Numa segunda fase do processo, as praças do centro da cidade passaram por um processo de requalificação, onde o foco se deu nas atividades dos usuários e na sua função de entretenimento da população. Os resultados do processo, como um todo, levantaram a economia e o turismo na área, além de incitar uma série de requalificações em outras áreas da cidade. Estimulou-se ainda a priorização da bicicleta como principal meio de transporte em toda a cidade. Uma nova cultura de cafés nas calçadas foi se desenvolvendo, espontaneamente, fazendo com que as calçadas fossem ocupadas por milhares de pessoas. As decisões sobre políticas de planejamento urbano com o objetivo de criar um espaço público cívico de qualidade, partiu da implantação de projetos pioneiros pontuais. O sucesso comprovado dessas medidas serviu de base para a expansão da requalificação local, a partir dos princípios defendidos teoricamente , fornecendo ao espaço central uma atmosfera convidativa aos usuários e resultando numa considerável melhora da qualidade cívica do espaço nesta cidade. (GEHL, 2003, 2006, 2010) Em Barcelona, na Espanha, a ativa política de planejamento dos espaços públicos, adotada entre os anos de 1981 e 1987, é reflexo do desejo de um planejamento geral para a cidade, com ênfase na recuperação da vida pública e da identidade local, composto pela implantação de diversos projetos em diferentes escalas ao longo do território urbano daquela cidade. A estratégia foi adotar medidas pontuais em diversos territórios da cidade. Um ponto peculiar desse planejamento foi que nenhum projeto ganhou destaque em relação ao plano geral, e uma visão em comum sobre urbanidade passou a ser criada na cidade. Cada projeto era debatido com a população local e havia uma certa independência expressiva procurando fornecer aos diferentes espaços uma identidade local.
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A cidade retomou sua civilidade a partir de seus espaços públicos, as melhorias foram visíveis em toda a cidade, atraindo, rapidamente, investidores privados. A conservação e multiplicação desses planos ganharam um impulso ainda maior com as novas construções para os jogos Olímpicos, que reforçaram os conceitos aplicados, inicialmente, e contribuíram para estabelecer um modelo de cidade economicamente viável e produtiva que não nega seu espaço urbano. Em Melbourne, Austrália, o processo de requalificação urbana teve início em 1993, com uma intensa pesquisa dos problemas urbanos nas áreas centrais. Uma das estratégias foi o aumento do número de pessoas nas áreas centrais, chegando a multiplicar mais de dez vezes a quantidade de unidades habitacionais oferecidas. Outro importante passo para esse ponto foi a inserção de estudantes nessas áreas, a fim de restabelecer a vida na área em todos os horários. Outras ações como a instituição de um “plano verde,” que consistia no plantio de 500 árvores anuais e o estabelecimento de áreas exclusivas de pedestres foram essenciais para garantir a qualidade e o conforto nos espaços públicos centrais. (GEHL, 2003, 2010) Em Estrasburgo, França, uma forte ênfase ao transporte público e ao ciclismo foram as linhas de ações encontradas para auxiliar o processo de requalificação do espaço público e de recuperação da vida urbana. O planejamento partiu basicamente da instalação de linhas de VLT (Veículo Leve sobre Trilho), e da requalificação dos espaços públicos e das fachadas dos edifícios ao longo de sua rota. À medida em que esta nova infraestrutura foi se estabelecendo, o centro da cidade foi se fechando para o tráfego de automóveis. Esta decisão de mobilidade na cidade foi essencial para criar uma nova dinâmica em seu funcionamento. O plano teve um impacto muito positivo no aumento do uso do espaço público pelos habitantes e visitantes da cidade. Em Lyon, na França, o espaço público passou a ganhar ênfase nas políticas urbanas públicas, no final da década de 1980, quando se procurava chegar a soluções para diversos problemas que a cidade enfrentava devido ao grande crescimento do tráfego na sua área central, que resultou na marginalização
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de muitos de seus espaços públicos. Três tipos de planejamento foram simultaneamente aplicados para a recuperação da qualidade dos espaços desta cidade: Um planejamento destinado aos espaços públicos (o “plano verde”), um planejamento voltado para a relação da cidade com suas águas (o “plano azul”) e um plano para a iluminação da cidade, ponto chave para o incentivo da atividade noturna nas áreas centrais. O planejamento instituiu ações como a criação de estacionamentos subterrâneos no centro da cidade e a proibição da circulação de carros nesta área, o que resultou, assim como em Copenhagen, numa revitalização considerável do seu espaço e na vida cívica daquela sociedade. Um ponto essencial do planejamento foi a peculiar proposta de, antes da elaboração de um projeto, um escritor ou poeta ser contratado para escrever sobre o espírito do lugar onde a intervenção seria realizada, para descrever a vida que ali acontecia. Esse processo deu uma melhor base para se intervir, os dados levantados passaram a ir além dos aspectos físicos, introduzindo um novo olhar para o método de análise sensorial de um território. (GEHL, 2003,2010) No porto de Aker Brygge, em Oslo, na Noruega, uma solução simples, em 1998, teve um grande impacto na intensidade do seu uso espacial. Nessa área, bastante privilegiada e já bem utilizada pela população, a introdução de novos bancos, numa quantidade que aumentava em 129% a capacidade de lugares de descanso, repercutiu quase que diretamente, aumentando em 122% o número de pessoas que escolhiam sentar neste local. Uma mudança pontual foi capaz de acrescentar consideravelmente a quantidade de usuários na área. Uma intervenção desta natureza nos mostra que o processo de requalificação espacial pode surgir em diversas escalas sendo, em determinados locais, uma mudança mínima que exige pouco recurso financeiro, a medida que se faz necessária para estimular novos usos ou acrescentar mais público para tal local, incentivando, assim, seu desenvolvimento e dinâmica. Porto de Aker Brygge, em Oslo
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Em Nova York, apesar da ilha de Manhattan já possuir um constante tráfego de pedestres em muitas de suas vias e uma consequente vida e variedade de atividades em seu todo, em 2007, a cidade lançou um programa que pretendia promover espaços de recreação e de lazer para seus cidadãos e visitantes. As ações tomaram forma em diversos locais da cidade, as calçadas de locais como a Broadway foram alargadas, possibilitando a implantação de cafés e restaurantes em seu espaço, vivificando, mais ainda, estes espaços. Praças como a Times Square ganharam novas configurações que forneciam mais opções de espaços de convivência e reordenavam suas situações.
Times Square, Nova York
As mudanças na ilha procuram fornecer espaços e equipamentos apropriados para atividades já consolidadas. Essas intervenções nos mostram o quanto se faz necessário um constante replanejamento da cidade, através de avaliações periódicas das atividades desenvolvidas em cada espaço. As potencialidades de cada local devem ser exploradas, ressaltadas e bem estruturadas, para que o sistema funcione eficientemente. No Rio de Janeiro, o planejamento do “Corredor Cultural” é um bom exemplo de como o debate, como instrumento de confronto e afinidades de interesses, pode ser positivo para a requalificação de uma área urbana. O processo de decisão das políticas a serem adotadas teve participação da Prefeitura da Cidade, dos comerciantes da área e da comunidade que seria afetada com as possíveis ações. O objetivo comum era a necessidade de requalificar a área da cidade em questão, e foi a partir deste ponto que as ações foram sendo colocadas em pauta. Através da redução dos impostos para aqueles imóveis que fossem requalificados e o investimento nos espaços públicos, foi possível garantir uma melhor qualidade espacial para a área e manter o patrimônio imobiliário da área central em atividade. Um ponto importante do plano foi a flexibilização das normas de restauro para atender à vitalidade das edificações. Esta flexibilização foi estratégica para o plano, pois se entendia que fazer as edificações retomarem as suas características iniciais há muito perdidas, implicaria descaracterizar a área
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em suas atividades comerciárias, que não resistiriam à tipologia de porta e janela, necessitando das grandes aberturas no pavimento térreo já consolidadas. Nesta intervenção, vemos a dimensão imaterial do espaço sendo considerada juntamente com sua dimensão material, um grande passo para as intervenções urbanas em áreas centrais. O espaço público possui tantas faces quanto às daqueles que o vivenciam. Está intrinsecamente conectado à sua história, aos seus usuários, à sua memória, à sua vida. A maior função dos espaços públicos é se tornar uma arena que possibilite a estrutura social e os acontecimentos da vida se desenvolverem.
Companahgen
Devido aos fatores previamente citados, como a priorização da função de mobilidade do espaço público, o caráter de necessidade tem sido o definidor de seu usuário. Em áreas urbanas onde o espaço público se restringe aumentando as vias de conexão sem relação com a escala e com as atividades humanas, as únicas pessoas que se encontrarão por ali caminhando são aquelas que não possuem outra alternativa. Apesar da necessidade ainda ser um fator relevante, principalmente em países subdesenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, boa parte das atividades, hoje em dia, possuem um caráter opcional (GEHL, 2003). É uma realidade concreta que muitas das pessoas não mais precisam caminhar, fazer compras, praticar atividades físicas, socializar, etc. No espaço público, há diversos locais privados especializados e bem equipados para cada qual das atividades humanas. A utilização do espaço público deve ser encarada também como uma escolha pessoal. Cabe a este possuir capacidade de atração e espaços significativos para a sociedade, a fim de que sejam bem utilizados por toda a população e se torne, novamente, o palco cívico de uma sociedade. Juntamente com as intervenções e a requalificação do espaço público, toda campanha de conscientização sobre seu papel, sobre as consequências de seu abandono e sobre o potencial que sua utilização pode trazer para a sociedade como um todo, é de fundamental importância.
Companahgen
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Por muitos anos, a escala humana foi o ponto de partida para a produção do espaço urbano, porém, com a introdução do tráfego de automóveis nas cidades, iniciou-se uma mudança de escala no planejamento urbano. Atualmente, se faz necessário que se readaptem os meios de mobilidade urbana às dimensões adequadas à escala humana, para seu movimento. Um balanceamento precisa ser realizado para que o espaço público seja, efetivamente, requalificado.
Verona
Deve-se salientar o importante papel que o sentimento de segurança prega, para a requalificação dos espaços e a garantia de sua utilização. Sentir-se seguro em um espaço é um pré-requisito básico para que seu caráter e atividades opcionais se desenvolvam. Iluminação noturna, sinalização e uma boa ordenação espacial são detalhamentos essenciais para reforçar a confiança de um determinado local, porém é a vigilância social, através do constante uso da área, que garante uma segurança adequada. Como é visto nos exemplos das cidades citadas, o processo de requalificação urbana pode ser encaminhado de diversas maneiras, dependendo do contexto em que está sendo aplicado, dos objetivos prioritários de cada sociedade e dos meios encontrados para alcançá-los. Um ponto comum é a busca do restabelecimento das funções do espaço público como um local de encontro e de trocas, a busca pela civilidade novamente como protagonista nos espaços urbanos e a retomada da vida social nas áreas de intervenção.
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Compreendendo Santo Antônio e São José
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Evolução Histórica
1648
1808
1865
1906
Os Bairros de Santo Antônio e São José se localizam em territórios que sofreram um desenvolvimento lento, no início da história da cidade do Recife. Inicialmente denominada Ilha dos Navios, tornou-se um pouco mais adiante, a Ilha Antônio Vaz, até que, em 1789, formou-se a Freguesia do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio. Anos mais tarde, como consequência de uma expansão territorial pelo sul da ilha, advinda de consecutivos aterros e aumento da população e de estabelecimentos comerciais, em 1844 o território foi desmembrado dando origem ao bairro de São José. A primeira grande construção, localizada na Ilha de Antônio Vaz, foi o Convento Franciscano de Santo Antônio, em torno de 1606, porém pouco da área se desenvolveu, devido à concentração da população portuguesa na cidade de Olinda e o núcleo portuário e comercial estabelecido no atual Bairro do Recife. A partir da ocupação holandesa (1637-1654), sua urbanização foi impulsionada com a expansão das atividades na cidade do Recife, com a criação de fortes e as intervenções urbanas planejadas por Maurício de Nassau. Nesse período, em torno do Convento Franciscano formou-se o Forte Ernesto e deu-se início a uma cidade fortificada de traçado regular; ao norte da Ilha configurou-se a Praça Maurícia e as quadras em seu entorno, com a presença do Palácio de Mauricio de Nassau e seu horto. Ainda durante a presença holandesa, o Forte Federico Henrique – ou Forte das Cinco Pontas como é mais conhecido – é construído e surgem edifícios ao longo das margens do Rio Capibaribe. Em 1648, um sólido núcleo se conforma no entorno da entrada principal da ilha, a Praça da Independência, e ao longo dos anos sucessivos aterros conquistam territórios e auxiliam na expansão urbana da área. Após a retomada da ilha pelos portugueses, a malha urbana então marcada por uma forte ortogonalidade, começa a se acomodar de forma mais livre e orgânica, e uma sucessão de ruas estreitas pontuadas por igrejas se estende
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em direção ao Forte das Cinco Pontas e ao continente e gerando pátios, edificações de destaque em todo o percurso, formando um dos conjuntos barrocos de maior importância no estado. No final do século XIX o tecido urbano dos bairros de Santo Antônio e São José começa a se consolidar na forma atual, sofrendo algumas alterações na sua infraestrutura ao longo dos anos. O gradativo aumento das pontes, conectando os bairros aos demais territórios da cidade, fortalece a urbanização da área, tornando-a um lugar de confluência e estimulando ênfase nas atividades comerciais e de serviço, no território de antigo uso habitacional da época Maurícia. Devido ao seu crescimento, alterações no traçado urbano passam a ser necessárias, para promover uma acessibilidade mais eficiente. O primeiro plano de remodelação dos Bairros de Santo Antônio e São José é realizado por Zeferino Gonçalves Agra em 1918, prevendo adequação ao tráfego existente, através da abertura de algumas vias, e o alargamento de outras, além de alguns redesenhos de quadras que procuravam respeitar o traçado colonial. Esse plano, assim como o Plano de Domingos Ferreira, nove anos mais tarde, não chegou a ser executado; no Plano de Reforma do Bairro de Santo Antônio, Ferreira projetou a abertura de uma larga avenida, conectando a Praça da Independência à Praça Duarte Coelho e iniciando as ideias que resultaram na futura Av. Guararapes. Ele previa, ainda, a implantação de uma ponte ligando a Praça Duarte Coelho à av. Conde da Boa Vista, além de estipular novas áreas de aterro e vias a serem alargadas. Baseado em algumas ideias do Plano de Domingos Ferreira, em 1932, um novo plano foi elaborado por Nestor de Figueiredo, com fortes influências dos planos de Agache, para o Rio, feito 2 anos antes. Também não aprovado na prefeitura, propôs um desenho que enfatizava a Praça da Independência como portão de entrada e centro de distribuição do tráfego da área. Em 1936, Attílio Correa de Lima apresenta um plano apresentando poucas alterações na malha urbana existente, promovendo a separação dos meios de transporte (bondes e automóveis) e a criação de estacionamentos periféricos, como também enfatizando a construção de uma avenida que
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ligaria a praça da Independência à Praça Duarte Coelho e outra que percorreria o território até alcançar uma ponte projetada seguindo o traçado da rua Formosa, onde atualmente se localiza a av. Conde da Boa Vista. Em 1943, João Florence de Ulhôa Cintra, juntamente com a comissão do Plano da Cidade, elabora mais um plano de remodelação urbana para o Recife, tendo como diretrizes, nos bairros de Santo Antônio e São José, a abertura da Avenida Coronel Suassuna – atual Dantas Barreto – e da Rua Nossa Senhora do Carmo, além do aterro na área de confluência entre os Rios Capibaribe e Beberibe de onde surgiam duas pontes procurando articular melhor os bairros à Santo Amaro, ao Bairro do Recife e à Boa Vista. Em 1938, dá-se início à abertura da Av. 10 de Novembro – atual Av Guararapes – e à consequente destruição de locais históricos da cidade, em favor da facilidade de locomoção. A Avenida foi, até hoje, a principal intervenção de reforma do bairro, e com ela surgiu um conjunto único de edifícios de escritórios, cinemas, repartições públicas, bancos, etc., auxilindo na promoção de uma densificação e elitização da área. Seu objetivo consistia, além de melhorar as condições de tráfego na área e a conexão com a cidade, em modernizar o antigo centro e o transformar em uma representação monumental do Estado Novo, em poder na época. A busca por modernidade e a priorização da função de locomoção do espaço público, em detrimento das demais, continuaram a correr pelas veias da cidade, nascendo, em 1973, como fruto de mais um planejamento de requalificação responsável por um rastro sem precedentes de destruição, a Av. Dantas Barreto. Mesmo sendo declarado pelos urbanistas da prefeitura, que a Av. Nossa Senhora do Carmo supria, completamente, a demanda de trânsito que ligava o centro ao sul da cidade, o prefeito Lucena, em mandato na época, deu início às obras, destruindo para sempre em seu caminho, a Igreja de Bom Jesus dos Martírios – uma igreja de pardos e pretos do final do século XVIII a qual conseguiu destombar – e um traçado urbano de importante relevância para a área, além de esvaziar o centro em mais de 200 famílias que foram desapropriadas, reduzindo consideravelmente, seu caráter residencial.
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A partir dessas transformações os dois bairros passaram a se caracterizar, pelas permanentes mudanças em sua estrutura, uma malha urbana com traçado de ruas estreitas e pátios cortada por largas avenidas; um conjunto de edifícios baixos com a forte presença da verticalidade espalhada por todo o seu tecido. A crise da economia da cana de açúcar transformou a cidade em um polo de serviço e comércio, ao invés de um polo industrial e comercial. O centro da cidade, uma vez moradia da classe média recifense, nas décadas de 30 e 40, passou a ser uma área cada vez mais especializada em comércio, serviço e edifícios institucionais. Novas centralidades foram surgindo na malha urbana e, por volta dos anos setenta, galerias comerciais começaram a aparecer em bairros como Boa Viagem, onde anos mais tarde, em 1980, surgiu o centro comercial Shopping Recife, contribuindo para uma aceleração do processo de degradação da área, agora não mais com lojas sofisticadas, e sim com uma clientela de consumidores de baixa renda. Nos anos oitenta, poucas construções ocorreram no Recife Antigo, sendo seu acervo imobiliário desvalorizado e subutilizado, atingindo seu pico de deteriorização entre 1985/1986 (ZANCHETI, 2005) quando foi lançado o Plano de Reabilitação do Bairro do Recife e criado o Escritório Técnico do Bairro do Recife, tendo como área de atuação esta parte mais antiga da cidade. As propostas tenderam a se focar nos bens patrimoniais, nos grandes proprietários de imóveis, nos dirigentes portuários e algumas outras edificações, porém o plano não surtiu tanto efeito, sendo, em 1993, elaborado outro plano de revitalização para a área, priorizando sua dimensão turística e econômica, parâmetro adotado até os dias atuais, no centro da cidade, como instrumento de requalificação urbana. Os bairros de Santo Antônio e São José se caracterizam, atualmente, como uma área de intenso comércio popular não mais em constante decadência e perdendo usuários para as demais centralidades comerciais, mas com uma atividade fortemente consolidada. No entanto ela sofre de uma grave carência infraestrutural e um considerável estado de degradação do seu ambiente urbano.
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Estão presentes na área, um número considerável de edifícios públicos e pátios urbanos; a área possui um forte poder atrativo do ponto de vista paisagístico, cívico, cultural, turístico e econômico a ser explorado. Sendo assim, essa área, se posiciona mais uma vez como o território ideal para requalificação, a fim de se tornar novamente uma ponte para o crescimento da cidade do Recife.
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Caracterização da área segundo a legislação Os bairros de Santo Antônio e São José se encontram em uma área que apresenta uma relativa variedade de normas, sendo suas regras definidas, territorialmente, a partir do seu zoneamento geral apresentado no mapa do Plano Diretor do Recife que vemos ao lado. Para compreender como esta legislação funciona em conjunto, se faz necessária uma abordagem para cada parâmetro específico da área em questão: Uma quantidade relevante da área dos dois bairros, principalmente o de Santo Antônio, está inclusa na Zona Especial de Preservação Histórica (ZEPH). As ZEPHs são formadas por sítios, ruínas, conjuntos ou edifícios isolados de expressão artística, cultural, histórica, arqueológica ou paisagística, considerados representativos da memória arquitetônica, paisagística e urbanística da cidade (PLANO DIRETOR DO RECIFE, Art. 114). A ZEPH 10, que engloba os bairros de Santo Antônio e São José e que abriga o maior número de edificações de valor e de monumentos significativos na cidade, não possui legislação específica, prevista no Plano Diretor da cidade do Recife porém não elaborada. Até que esta legislação seja, de fato, realizada, os atuais planos específicos das ZEPHs continuarão em vigor para a área. Essa ZEPH é dividida em dois setores, um Setor de Proteção Rigorosa (SPR), onde os critérios de intervenção no patrimônio são mais rígidos visando a manutenção das características do local, e um Setor de Proteção Ambiental (SPA) que procura funcionar como um território de transição entre as SPRs e as demais áreas de seu entorno. Nas áreas de ZEPH os códigos de construção volumétrica são os seguintes: [1, 2, 3, 4] Taxa de Solo Natural = 20% Coeficiente de utilização (µ) = 7,00 Afastamento frontal = Nulo Afastamento lateral Edf. ≤ 2 pav. = nulo/1,50m Afastamento lateral Edf. > 2pav. = nulo/3,00m Afastamento de fundos = Afastamento lateral
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Na área de estudo, encontramos em alguns pontos a presença de Zonas Especiais de Diretrizes Específicas (ZEDE) de Centro Principal (CP). O objetivo visado para essas localidades é promover a requalificação ambiental e urbana, a fim de suportar múltiplas atividades, através de ações, segundo o Plano Diretor do Recife, como: melhorar a infraestrutura existente, reorganizar os sistemas de mobilidade urbana, garantir a acessibilidade nos passeios públicos, proteger e conservar o patrimônio histórico cultural e ambiental; reabilitar as áreas e imóveis ociosos e subutilizadas, implantar mecanismos de combate à retenção imobiliária, estimular o uso habitacional e misto, implantar espaços e equipamentos públicos voltados para a saúde, educação, esportes, cultura e lazer; recuperar ou criar mercados públicos e apoiar as pequenas empresas; fomentar atividades econômicas, e incentivar espaços de estacionamentos público e privado para a área. Os parâmetros construtivos das ZEDEs de Centro Principal são os mesmos apresentados para a ZEPH. [1, 2, 3] Boa parte do bairro de São José encontra-se subordinada às normas da Zona de Ambiente Construído (ZAC) Moderada, que visa a criar novos padrões de adensamento buscando um melhor aproveitamento da infraestrutura urbana já existente. Os objetivos voltados para essa ZAC Moderada procuram dinamizar atividades turísticas de lazer, culturais e de comércio e serviço, através de parceria público-privada, com vistas à viabilização de Operações Urbanas Consorciadas. Para a área, pretende-se ainda incentivar a preservação ambiental e a conservação de imóveis e elementos paisagísticos relevantes. Os parâmetros de construção a serem levados em consideração, nesta área, são os seguintes: [5] Taxa de Solo Natural = 25% Coeficiente de utilização (µ) = 3 Afastamento frontal = Af. frontal inicial + (nº de pav. - 4) 0,25 Afastamento lateral = Af. lateral inicial + (nº de pav. - 4) 0,25 Afastamento de fundos = Afastamento lateral Sendo: Afastamento frontal inicial = 5 metros Afastamento lateral inicial = 3 metros
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Os bairros de Santo Antônio e São José se encontram sob a influência das Zonas de Ambiente Natural do Rio Capibaribe (ZAN Capibaribe) e da Orla (ZAN Orla) que consiste em uma determinação de padrões de ocupação compatíveis com a preservação das características naturais e paisagísticas, a fim de garantir a preservação dos ecossistemas existentes (PLANO DIRETOR DO RECIFE, Art.99). As diretrizes de ocupação dessa zona são as de liberar as áreas ocupadas irregularmente, recuperando as áreas degradadas a fim de garantir padrões de ocupação sustentáveis. Visa-se, ainda, a implantação de programas de revitalização dos cursos d´água além da construção de ciclovias que funcionem como elemento integrador de tais áreas. As diretrizes específicas presentes no Plano Diretor do Recife para a ZAN Capibaribe têm em vista manter as tipologias de ocupação com controle de processo de adensamento, onde houver sítios; e implantar parques naturais municipais, recuperar e requalificar praças. Já as diretrizes para a ZAN Orla, também presente na área de estudo, determinam: ordenar as atividades na faixa da praia; promover a valorização entre os patrimônios históricocultural; promover a valorização paisagística e a recuperação ambiental das águas oceânicas e do cordão dos arrecifes; e promover ações de recuperação efetiva da faixa de praia de orla marítima. Os parâmetros a serem adotados nas áreas de ZAN em geral são: Taxa de Solo Natural = 50% Coeficiente de utilização (µ) = 1,5 Afastamento frontal = Af. frontal inicial + (nº de pav. - 4) 0,25 Afastamento lateral = Af. lateral inicial + (nº de Pav. - 4) 0,25 Afastamento de fundos = Afastamento lateral Sendo: Afastamento frontal inicial = 5 metros Afastamento lateral inicial = 3 metros
A área em questão pode se considerar sujeita à influência de outros planos específicos por apresentar portes com potenciais paisagísticos, culturais, econômicos e físico-estruturais.
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[1] As edificações com até 2pav. podem colar em duas das divisas laterais e/ou fundos seguindo as seguintes regras: Quando colar nas duas divisas laterais o afastamento de fundo será de no mínimo 3m; quando colar em uma divisa lateral e na divisa de fundo, a distância para a outra divisa lateral deve ser de no mínimo 1,5m; e a altura total que pode se encontrar nas divisas é de no máximo 7,50m. Quando não colarem nas divisas e apresentarem aberturas, o afastamento mínimo para o limite do terreno deve ser de 1,50m [2] As edificações com mais de dois pavimentos podem colar duas das divisas laterais e/ou fundos nos dois primeiros pavimentos seguindo as regras citadas no item acima; caso não colarem nas divisas, os dois primeiros pavimentos devem manter um afastamento mínimo de 1,50m. [3] As edificações poderão colar os 4 primeiros pavimentos nos limites laterais e frontal, porém devem obedecer um afastamento mínimo de 3m no fundo. [4] Projetos nesta área serão analisados caso a caso a critério do órgão competente com o objetivo de restauração, manutenção e/ou compatibilização com a feição do conjunto do sítio, é permitida a demolição de imóveis cujas características não condizerem com o sítio, sendo o parecer final à critério da CCU [5] Com relação à área de ajardinamento de edifícios destinados à habitação multifamiliar e a edifícios não habitacionais, na ZAC Moderada esta área deve-se estar localizada obrigatoriamente no afastamento frontal e pelo menos 70% de sua superfície deve ser coberta por vegetação; elementos divisórios são admitidos caso não ultrapassem 3m de altura e possuam 70% da sua superfície vazada a fim de assegurar uma maior integração visual entre as vias de circulação e o interior do terreno em questão .
Os Projetos Especiais, como são chamados no Plano Diretor do Recife, têm como objetivo promover a requalificação urbana de diversas áreas da cidade, tais como os bairros de Santo Antônio e São José, o Cais de Santa Rita, o Cais José Estelita, o Cabanga, as áreas de influência das linhas do metrô, etc. Para cada área de interesse, um Plano Específico deve ser elaborado tendo em vista os objetivos gerais dos Projetos Especiais, que são: Promover a dinamização econômica e a inclusão social, reassentar famílias ocupantes das áreas de preservação ambiental e de risco, reabilitar e conservar o patrimônio histórico da cidade, reabilitar e conservar o meio ambiente, priorizar os investimentos em infraestrutura, implantar mecanismos que facilitem a parceria público-privada (PPP) e promover a inclusão sócio-espacial da população local. A legislação do tecido urbano de Santo Antônio e São José se apresenta como uma colcha de retalhos. Esta fragmentação normalista se dá devido à pluralidade espacial dos bairros, sendo o inverso também verdadeiro. Essa variedade de normas resulta de um tecido diversificado e acarreta certa dificuldade para sua compreensão. No jogo imobiliário, o investidor aposta em regras claras; a ZEPH 10, que engloba os dois bairros, como já citado, ainda não possui um planejamento próprio; projetos especiais podem ser estabelecidos e apresentar novos planos específicos para a área; etc. Uma falta de clareza constitui insegurança para investir e projetar na área. Para que a requalificação dos bairros de Santo Antônio e São José venha, de fato, a acontecer através de uma parceria do poder público e com setor privado, a legislação deve se tornar mais clara e de fácil compreensão, não somente para os técnicos, mas também para o público em geral. Com relação à espacialidade prevista para os bairros de Santo Antônio e São José a partir da legislação vigente na área, pode-se afirmar que há uma divisão morfológica entre territórios que, em geral, delimitam o espaço das vias com suas fachadas, onde o solo natural tende a se localizar na parte posterior dos edifícios e territórios que se conformam com um afastamento frontal obrigatório, com uma área verde considerável que prevê uma continuidade visual entre interior e exterior do lote, estendendo sensorialmente as dimensões das vias públicas.
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O jogo de cheios e vazios segue diferentes regras nesses dois territórios, alterna o ritmo urbano nas duas áreas entre as quadras abertas e quadras fechadas, cria diferentes identidades e possibilita diferentes formas de integração do espaço privado ao público.
Os projetos urbanos recentes e suas articulações A complexidade expressa no tecido urbano e a sua compreensão se dá, em parte, devido à fragmentação dos espaços. Necessita-se gerar conexões entre tais espaços a fim de alcançar um melhor de aproveitamento e maior integração funcional da cidade. Deve-se procurar compreender a lógica morfológica da malha urbana e o modo como esta se adapta as necessidades ao longo do tempo. Como uma impressão digital, a estrutura física da cidade nos fornece informações sobre sua identidade, e seu estudo auxilia a compreender as transformações do modo de vida da sociedade. Uma vez compreendidas essas relações, novas intervenções urbanas podem ser concebidas. Assim como no método adotado pelo arquiteto Bernard Tschumi, procurouse neste trabalho identificar os eventos que acontecem na área de estudo e suas diversas camadas buscando identificar os pontos em que estas se cruzam, a fim de aproveitar as colisões de eventos para a implantação de projetos que consigam “amarrar” as ações de planejamento, dando ao Plano uma maior coerência e à área um maior potencial de crescimento. Tschumi, ao explicar o Parc de la Villette (Architecture of Disjunction, 1994), afirma que seu objetivo específico era provar que se era possível construir uma organização arquitetônica complexa sem recorrer a regras tradicionais de composição, hierarquia e ordem. Sua composição em planos, linhas e pontos, e a superposição desses sistemas fazem que seja possível uma separação das diferentes lógicas das atividades e, simultaneamente, uma forte integração espacial entre os diferentes locais.
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Adotando essa estratégia no presente trabalho, procura-se identificar, primeiramente, a multiplicidade de atividades presentes nos bairros de Santo Antônio e São José. Após essa identificação de atividades e eventos existentes e previstos, os pontos nodais dessess bairros poderão ser identificados e uma superposição de sistemas poderá ser mais facilmente planejada. A fim de otimizar esforços, optou-se, nessa fase de análise, perceber as potencialidades e as problemáticas através de pesquisas já realizadas em projetos institucionais e acadêmicos existentes, identificando suas motivações, suas implicações e a demanda que cada um visa a atender, avaliando, principalmente, sua adequação ao local em que se planeja sua implantação. Essa análise auxiliou a obter uma maior familiaridade com a área, evitando cometer erros de julgamento ao abrir o leque de amostras para trabalhos diversos, com interesses próprios, podendo assim enxergar com mais clareza os pontos de vista existentes sem preconceito sobre as suas origens nem apego a autorias, mas mantendo-me próxima da área de estudo, a uma distância inicial segura para evitar precipitação de conclusões. Após uma avaliação individual de cada projeto proposto para a área de estudo, que pode ser encontrada no Anexo 3, (do qual recomenda-se a leitura para melhor compreensão da dinâmica local e das intervenções a serem realizadas), um mapa de sobreposição dos planos foi possibilitando compreender a dinâmica projetada para os bairros, a lógica de funcionamento nas diversas camadas e, assim, identificar nas suas sobreposições quais se mostram de maneira prejudicial para o funcionamento da área e quais possuem um poder multiplicador.
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Planos estudados (ver Anexo 3): Planos institucionais: Complexo Turístico Cultural Recife Olinda; Plano de Reabilitação Integrada da Avenida Guararapes; Edifício JK; Plano de Reabilitação Inegrada da Rua Imperial; Operação Urbana Cais do Porto; Terminal Marítimo do Recife; “Torres Gêmeas”; Cais José Estelita; Plano de Mobilidade para a cidade do Recife; Nosso Centro; Corredor dos Mascates; Reviver Recife Centro; Caminhos do Recife; Anexo para o Mercado São José; Estacionamento Temporário para o forte das Cinco Pontas; Estacionamento para ônibus turístico e requalificação da Praça Frei Caneca; Circuito da Poesia; Nova Rota do Galo da Madrugada. Planos Acadêmicos: Circuito dos Pátios; Percurso Praça da Independência – Pátio do Livramento – Praça Dom Vital; Navegar é Preciso; Trafega Recife; Jardins Suspensos; Uma Proposta Alternativa para o Cais José Estelita; Requalificação da Praça do Sebo; Pier Dezessete; Vagas sem Experiência; Museu da Cultura Pernambucana; Parque Vertical e Escola de Música no Edifício JK; Proposta de intervenção urbano Arquitetônica em Edifício Comercial no Centro do Recife.
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A partir da análise da evolução histórica dos bairros de Santo Antônio e São José, da legislação vigente neste território e, agora, dos diversos projetos propostos para a área, é possível perceber com mais clareza a intensidade dos diversos eventos presentes na área de estudo e a tendência das linhas de planejamento que se têm adotado para ambos os bairros. No mapa ao lado, pode-se observar a abrangência dos planos institucionais existentes, as áreas estudadas por projetos acadêmicos com potencialidades que não foram exploradas pelos planos institucionais, e locais em que, durante a análise de tais projetos, foi identificada uma fraqueza projetual que subestima o potencial atrativo que tais terrenos apresentam – assunto já debatido anteriormente. Essas áreas identificadas serão exploradas através de projetos mais adiante mostrados neste trabalho. Ainda focando no mapa ao lado, uma observação que deve ser feita diz respeito à divisão territorial no planejamento dos bairros, reflexo das políticas adotadas e da legislação vigente na área. No mapa facilmente identifica-se duas áreas distintas que sofrem intervenções de naturezas diferenciadas. A antiga área portuária, localizada na parte sudeste da área de estudo, é foco da ação de grandes planos de renovação urbana que abrangem não só o território público, mas se estendem aos terrenos privados através de projetos de parceria público-privada, com objetivos voltados ao mercado imobiliário, e projetos de moradia social incentivados pelo governo e discutidos, mais profundamente, na análise específica presente no Anexo 3.
Planos institucionais a serem implantadoos Planos acadêmicos (áreas não visadas nos planos institucionais) a serem explorados Planos a serem modificados
No centro histórico e comercial consolidado, localizado na parte nordeste da ilha, os planos focam-se nos espaços públicos e em equipamentos específicos, intervindo no espaço privado somente em alguns pontos como o Pátio de São Pedro que foi transformado, através de uma série de ações, em um pátio com diversos equipamentos culturais incentivados pelo governo e por meio de diretrizes de uso e ocupação do solo e normas referentes à preservação do patrimônio histórico.
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Os trabalhos analisados apresentam-se em diversas escalas, abrangendo o estudo da área desde o masterplan até intervenções arquitetônicas em edifícios específicos. Esta variedade analítica de escalas é de suma importância para o estudo de problemas de complexidade organizada como questões a respeito do planejamento urbano. Escala é, portanto, uma categoria que vai do privado ao público. É o que torna possível a arquitetura para satisfazer as necessidades que surgem na esfera do indivíduo e abordar as necessidades espaciais das massas. Através da manipulação hábil de escala, a arquitetura se põe a serviço de uma sociedade regida pela cultura de massa. Rafael Moneo
Para cada área de estudo definida, certas relações são mais importantes do que outras, e é através da variação de escalas no ato de projetar é que as diversas camadas relacionadas ao espaço urbano são identificadas e podem ser mais bem trabalhadas. Em Architecture of Disjunction, Tschumi apresenta conceitos como as tecnologias da desfamiliarização, o papel do “choque” como uma ferramenta de comunicação, a desestruturação, a superposição, o cruzamento de programas e o evento como um ponto chave (TSCHUMI, Bernard. Six Concepts: Excerpt from Architecture and Disjunction.): CONCEITO I: Tecnologias de estranhamento talvez um de papel era desfamiliarizar. [...] talvez, deve-se tirar proveito de tal desmantelamento, fragmentação celebrar a cultura das diferenças, acelerando e intensificando a perda da segurança, do centro, da história. [...] Os arquitetos devem se entender e tirar proveito do uso dessas novas tecnologias. CONCEITO II: O “choque” metropolitano Aos olhos do público, a arquitetura é sobre o conforto, a cerca de abrigo, sobre tijolos e argamassa. No entanto, para aqueles para quem a arquitetura não é necessariamente sobre o conforto, mas é também sobre o avanço da sociedade e seu desenvolvimento, o dispositivo de choque pode ser uma ferramenta indispensável. [...] o choque vai contra a nostalgia de permanência ou de autoridade, seja na cultura em geral ou de arquitetura em particular. Choque [...] ainda nos resta para comunicarem tempos de informação generalizada. CONCEITO III: desestruturação Desde a Renascença, a teoria da arquitetura tem sempre uma distinção entre estrutura e ornamento, e fixou a hierarquia entre eles. [...] ornamento se destina a ser aditivo, não deve desafiar ou enfraquecer a estrutura. [...] Mas o
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que isso significa hierarquia de hoje, quando muitas vezes a estrutura permanece a mesma - uma redeinfinitamente repetitiva e neutralizado? CONCEITO VI: Sobreposição Arquitetos teórico - como eram chamados – queria enfrentar a oposição binária da arquitetura tradicional: ou seja, forma versus função, ou abstração versus figuração.No entanto, também quis desafiar as hierarquias implícitas escondidos nestas dualidades, tais como, "a forma segue a função", e "ornamento é subserviente a estrutura."[...] Sobreposição tornou-se um dispositivo de chave. Superposição [...],colisão, distorção, fragmentação e assim por diante. CONCEITO V: Cruzamento de programas Arquitetura sempre foi muito mais sobre o evento que acontece em um espaço como sobre o próprio espaço. [...] no mundo de hoje onde as estações ferroviárias tornou museus e igrejas tornam-se discotecas, um ponto está a ser feita: a equivalência completa entre forma e função, a perda de relações tradicionais, as relações canônicas de causa e efeito, como santificadas pelo modernismo. A função não siga forma, a forma não segue a função [...] Se a arquitetura é um conceito e experiência, espaço e uso, a estrutura e a imagem superficial - não hierárquica - em seguida, a arquitetura deve deixar de separar essas categorias e, em vez mesclá-las em combinações sem precedentes de programas e espaços CONCEITO VI: Eventos: The Turning Point A relação de causa e efeito hierárquica entre forma e função é uma das grandes certezas do pensamento arquitetônico [...] A inserção da expressão "evento" e "movimento" foi influenciado pelo discurso situacionista e pelo `68 era. Les évènements, como eram chamados, não foram apenas os "eventos" em ação, mas também no pensamento. [...] O evento é o lugar onde a repensar e reformular os diferentes elementos da arquitetura, muitos dos quais resultaram em ou adicionado ao contemporâneo desigualdades sociais, pode conduzir à sua solução. Por definição, é o lugar da combinação de diferenças. [...]
Analisando através de exploração diversas a
as propostas para os bairros de Santo Antônio e São José, tais conceitos, observa-se que a área é bem propícia para a da tecnologia do estranhamento, por apresentar culturas serem exploradas. Os bairros apresentam, ainda, um tecido
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favorável à utilização do “choque” como ferramenta de comunicação; sua relativa uniformidade construtiva permite que intervenções diferenciadas e inesperadas sejam realizadas e contribuam para o enriquecimento do seu tecido urbano. Em ambos os bairros, algumas das edificações vazias possuem somente seu esqueleto básico preservado, como no caso do edifício citado da praça do sebo. Qual o papel da intervenção nessas situações? As estratégias de Tschumi: superposição, fragmentação, colisão, distorção, são aqui adotadas como ferramentas, visando a uma nova espacialidade que procura desafiar as hierarquias do planejamento consolidado, inflexível. Através do estudo dos diversos projetos, propõe-se uma arquitetura baseada nos eventos que acontecem no espaço, na potencialidade de determinadas localidades para o acontecimento de atividades específicas. Uma busca com o objetivo mais voltado para propiciar um local onde as atividades emergentes possam tomar forma; uma busca por expressão formal que representem certas atividades. É nessa busca que o cruzamento de programas se apresenta como uma hábil jogada no planejamento de certas localidades tendo o evento como um ponto-chave, como local onde as diversas camadas se reúnem, uma organização da complexidade em suas diversas escalas. Portanto, neste trabalho pretende-se projetar um plano urbano baseado em intervenções em diversas escalas, visando a alcançar o potencial máximo que cada local possui e oferecendo à área uma dinâmica que estimule a utilização dos espaços públicos, o turismo local e o desenvolvimento econômico dos bairros. A seguir, encontra-se uma tabela com as ações a serem mantidas nos planos institucionais e acadêmicos e as que devem ser modificadas nos mesmos planos, como fruto da reflexão realizada sobre os projetos apresentados neste trabalho. A extensão de tais ações está presente no mapa da página 46; é a partir destes pré-supostos que se pretende basear os projetos a serem elaborados adiante.
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pg.
183
184
185 185
185
187-189
190 190
191
193-194 195-199
Ações Planejadas Mantidas -Instalação da Agência Estadual de Tecnologia da Informação e do Centro Cultural Banco do Brasil na antiga estação Ferroviária, com teatro, salas de exposição, café e Museu do Trem -Recuperação da Praça Joaquim Nabuco -Revitalização das Rua Nova, Duque de Caxias e Imperatriz -Urbanização das áreas dos Coelhos Coque e área entre a Ponte Velha e a Ponte Joaquim Cardozo -Instalação do Portal do Turismo no Museu da Cidade do Recife (localizado no Forte das Cinco Pontas e a ser restaurado) -Instalação de um píer de contemplação/estação hidroviária -Redefinição do uso do Palácio do Campo das Princesas. -Instalação de um café-museu no entorno do Mercado de São José -Restauração da Basílica da Penha e da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares -Recuperação da Avenida Guararapes juntamente com a Praça da Independência - Estabelecimento de áreas de circulação exclusiva de pedestres -Organização do comércio informal da área -Novas edificações de uso misto, com atividades comerciais em seus pavimentos inferiores e habitacionais nos pavimentos superiores. -Edifício garagem
Ações Planejadas a serem Modificadas
-Implantação de estacionamento no entorno ao Forte das Cinco Pontas a ser repensada
-Definir local do café-museu no entorno do Mercado de São José
-Rever as proposições de um Shopping Popular no Edifício Trianon
- Escola de Ensino Superior, dois restaurantes e atividades comerciais (possivelmente uma loja bancária e uma farmácia escola no térreo) no Edifício JK -Plano de Reabilitação Integrada da Rua Imperial Operação Urbana Cais do Porto com Terminal Marítimo do Recife
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202-203 /232233 206-207
206-207
207
208
214 217
- Estacionamento para ônibus Turístico
222-225 226 227
-Estudar uma solução entre o plano original e “Uma Proposta alternativa para o Cais José Estelita” apresentada.
- Requalificação da Rua Ulhoa Cintra, da Rua Matias de Albuquerque, da Praça do Sebo, da Av. Dantas Barreto, da Rua da Concórdia e da Rua Floriano Peixoto, da Rua Imperial -Implantação da chamada Praça José Enrique Vanderley (Praça da Educação) paralelamente à Av. Dantas Barreto, entre a Rua Ulhoa Cintra e a Rua Siqueira Campos, que atualmente é uma via de circulação com espaço para estacionamento de veículos -Construir o Parque Beira Rio. -Implantação de conjuntos habitacionais como o da Comunidade dos Coelhos, da Comunidade Vila Brasil, da Comunidade João Paulo II e do habitacional da Praça Sérgio Loreto -Corredor dos Mascates -Caminhos do Recife, que consiste na recuperação de passeios, iluminação pública, embutimento de rede elétrica e a garantia da acessibilidade para todos transeuntes. -Anexo para o Mercado São José
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-Cais José Estelita
-Circuito dos Pátios -Percurso Praça da Independência - Pátio do Livramento - Praça Dom Vital -Navegar é Preciso
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-Trafega Recife
234-235 236-237
-Requalificação da Praça do Sebo -Pier Dezessete
-Modificação do plano de requalificação da Praça Frei Caneca -Reelaboração das ações para o Pátio de São José do Ribamar
Caçando problemas e potencialidades Como já debatemos, o planejamento urbano é composto por diversas camadas e é preciso que os diversos fatores de uma área sejam levados em conta, para que se possa planejar com eficiência. Os bairros de Santo Antônio e São José já foram estudados no presente trabalho através da explanação de sua legislação e suas consequências e da análise de diversos planos para o local. Para uma melhor compreensão da área, se faz necessária, ainda, uma observação mais detalhada sobre os aspectos naturais presentes nos dois bairros e sobre a dinâmica deste território. É nesta etapa que o diagnóstico urbano – ferramenta essencial de planejamento - entra em ação. Possuindo uma superfície plana, o território de ambos os bairros praticamente não apresenta alterações altimétricas e se situa no nível do mar. Localizados na antiga Ilha e Antônio Vaz, Santo Antônio e São José são fortemente influenciados pelos limites impostos pela bifurcação do Rio Capibaribe e pela Bacia Portuária. A forte presença d´água contribui para um grande potencial paisagístico, e a imposição de limites visíveis contribui para a estruturação psicológica que ajuda a reforçar a identidade da área. Sua restrição territorial e isolamento físico permitem que as conexões com o restante do tecido urbano da cidade do Recife se tornem estratégicas e funcionem não somente como conectivos de diversas partes da cidade, mas, principalmente, como condutoras do desenvolvimento dos dois bairros. Com a presença de diversas pontes, a ilha funciona como um território de conexão entre a porção norte da cidade, sua porção sul e seu centro histórico tradicional – Bairro do Recife, – e utiliza-se desta posição para fortalecer-se como centro comercial com forte presença de marcos culturais históricos. Assim como os limites naturais dos bairros contribuem para reforçar sua identidade, a força das linhas de conexões presentes em seu território contribui para estabelecer uma hierarquia interna, aspecto importante para sua organização territorial.
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Ponte da Boa Vista
Ponte MaurĂcio de Nassau
Ponte Princesa Isabel
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Ponte 12 de Setembro
Ponte Buarque Macedo
Ponte Duarte Coelho
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Com relação à cobertura vegetal, os bairros de Santo Antônio e São José apresentam uma distribuição rarefeita em boa parte do seu território. As maiores porções de área verde estão localizadas às margens do Rio Capibaribe, ao longo de linhas férreas e em parques e praças públicas. O restante do território, como podemos observar no mapa ao lado, é pontilhado por pequenos territórios verdes ao longo de algumas vias de circulação e de área privadas vegetadas, geralmente em seus pátios internos. Santo Antônio e São José apresentam um tecido urbano edificado extremamente denso, comparado aos demais bairros da cidade. Sua configuração urbana característica é formada por edificações conjugadas que dão forma a grandes blocos delimitados por estreitas vias. Como observado anteriormente (em Evolução Histórica), podemos perceber que a malha urbana dos bairros se caracteriza por uma alternância entre uma ortogonalidade holandesa e uma configuração mais orgânica portuguesa. Este território, densamente ocupado, ganha riqueza em seus vazios públicos – formados pelos pátios das igrejas e pelas praças e jardins – e pela alternância entre estreitas vias e largos corredores de circulação. Um dos grandes problemas das áreas urbanas centrais está na quantidade de espaço dedicado a vias de circulação de veículos e, principalmente, a estacionamento de veículos. De acordo com o Plano de Mobilidade para a Cidade do Recife (apresentado nas páginas 204 e 205), a proposta do governo é de reduzir o número de veículos penetrando a área central, através de corredores de circulação de transporte públicos e a construção de edifícios-garagens em diversos pontos da cidade, sendo dois destes na antiga Ilha de Antônio Vaz (observar figura na página 205). Observando o mapa ao lado, onde os locais atualmente utilizados para o estacionamento de veículos estão demarcados em azul, podemos perceber, com mais clareza, a quantidade de espaços ocupados por veículos nos bairros de Santo Antônio e São José. Através de reportagens como “O
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paraíso dos rotativos”, podemos observar ainda que a quantidade de vagas não atende à demanda local atual e prejudica a dinâmica comercial local: Em determinados horários, a busca por um lugar pode até levar mais tempo do que se gastaria entre estacionar o carro, fazer compras e voltar para o veículo [...] a falta de estacionamento gera lentidão no trânsito do Centro, o que prejudica os lojistas[...](BASTOS; ACCIOLY, 2010) Apesar da forte presença de vagas regulares de “Zona Azul” e de estacionamentos privados em diversos edifícios, a demanda local por vagas de estacionamento é tão grande que muitos veículos estacionam em locais proibidos, prejudicando o fluxo nas vias de circulação e ocupando o solo urbano central de forma descontrolada. Mesmo após intervenções realizadas pelo órgão responsável (CTTU), esse comportamento tende a persistir, como podemos observar nas reportagens dos dias 09 e 14 de outubro de 2010 do Jornal do Comércio ao lado e no comentário a seguir da reportagem “O paraíso dos rotativos”: os motoristas recorrem aos estacionamentos particulares, desde os contruídos em terrenos cercados e regulamentados, até os improvisados que desafiam a lei guardando carros sobre calçadas e outros locais onde é proibido estacionar. [...] (BASTOS; ACCIOLY, 2010) Propostas alternativas podem ser apresentadas, como a presença de diversos edifícios-garagens em locais estratégicos, vistos no projeto do “Circuito dos Pátios” (pgs. 222-225) e no “Estacionamento temporário para o Forte das Cinco Pontas” (pg. 216) – e a circulação por meio de outros meios de transportes como o fluvial, bem como estudado em projetos como “Pier de contemplação / estação hidroviária” (pg. 185), “Projeto Navegar é Preciso” (pg. 227), “Pier Dezessete” (pgs. 236 e 237) , e rotas de monotrilho, “Trafega Recife” (pgs. 228 e 229).
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Outro problema que atinge, fortemente, os bairros de Santo Antônio e São José é a ocupação desenfreada dos espaços públicos por comerciantes ambulantes. Na figura ao lado observamos, em vermelho, as áreas ocupadas por essa atividade. Essa problemática atinge, principalmente, o bairro de Santo Antônio e a porção norte de São José, e está localizada no centro histórico e na área de forte comércio popular. O conflito entre a municipalidade e os vendedores ambulantes também contribui para a deterioração do patrimônio, já que áreas de conservação são utilizadas como elemento de barganha nos acordos de negociações entre a municipalidade e os vendedores. (ZANCHETI, 2005, traduzido pela autora) Procurando solucionar esse problema que há muito tempo persiste na cidade do Recife, diversas ações foram realizadas pela prefeitura, em 2010 e 2011, seguindo o plano “Nosso Centro” (pgs. 206-207), como podemos observar nas reportagens, de 26 de novembro de 2010, 11 de janeiro e 9 de fevereiro de 2011, do Jornal do Comércio aqui destacadas. Essas diversas operações visam a diminuir e organizar o comércio informal na cidade como um todo, principalmente nas áreas centrais onde a situação se apresenta mais grave. Segundo o projeto da Prefeitura, o comércio informal não será banido definitivamente, mas será padronizado através de normas. A quantidade de ambulantes, em determinados locais, será prevista e vendedores possuirão autorização, dependendo do tempo em que ocupam o posto, da situação legal de seus produtos e do fato de não provocarem impacto na limpeza das vias. As áreas de atuação do comércio informal serão delimitadas, a fim de evitar que os vendedores ocupem locais com calçadas estreitas e linhas d´água. Estas ações em andamento planejam solucionar a problemática do comércio informal nas áreas centrais, mas ainda se faz necessária a relocação de muitos dos vendedores para outros espaços, a fim de que as ações realizadas possam de fato se tornarem permanentes.
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A fiação elétrica e telefônica distribuída de modo desordenado e a presença dos postes em vias muito estreitas colaboram com a degradação da imagem das áreas centrais e dificultam a circulação em muitas das calçadas. A poluição visual causada pela presença destes elementos prejudicam a leitura dos edifícios da ZEPH 10. Ações para a realização do embutimento das fiações e ordenação e adequação dos elementos de iluminação pública devem ser realizadas, para que a revitalização do centro histórico seja eficaz. Ações dessa natureza foram implantadas no Pátio de São Pedro (fig. inferior ao lado), fazendo perceber que a qualidade espacial do local, quando comparada às demais áreas do centro histórico, é superior, e que a leitura das edificações e do espaço público é clara. Nesse local, a iluminação pública é realizada através de refletores no topo das edificações, que é ideal para espaços amplos, e através de arandelas nas vias laterais à igreja de São Pedro dos Clérigos. Toda a fiação elétrica foi embutida e, juntamente com ela, foi instalada a infra estrutura de conexão à internet. Soluções da mesma natureza devem ser estudadas e implementadas nas demais áreas centrais. Uma parte dessas ações será realizada com a implementação do projeto “Caminhos do Recife” (pgs. 212 e 213), com conclusão prevista de acordo com a operação “Nosso Centro” (pg.208), para agosto de 2011. O estado de degradação da maior parte dos edifícios é um dos problemas que mais atinge os bairros de Santo Antônio e São José. A respeito desta degradação pode-se, grosseiramente, dividir os edifícios em 3 categorias:
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Edificações que possuem adições descaracterizadoras (como caixas de ar-condicionado e sinalização inadequada), mas que ainda apresentam suas características originais; Edificações que apresentam sua volumetria original, porém possuem aberturas e espaço interno totalmente desconfigurado; Edificações que se apresentam totalmente descaracterizadas e quase nenhum elemento original pode ser identificado.
Para cada categoria de degradação deveria ser estabelecida uma regulamentação a respeito das ações de preservação a serem tomadas. É claro que se deve levar em conta que o processo não é tão simples como soa. Para tal ação, se faz necessário um mapeamento detalhado sobre o estado das edificações, em ambos os bairros, e a elaboração de diretrizes a serem seguidas pelos proprietários. Porém, apesar das dificuldades operacionais, tal decisão precisa ser colocada em prática para que o processo de requalificação da área seja eficientemente consolidado. Todas as edificações localizadas no Sítio de Preservação Histórica da ZEPH 10 estão submetidas às normas do IPHAN, mesmo aquelas que se encontram completamente descaracterizadas cuja reconstrução seria um pastiche arquitetônico em favor de uma unidade urbanística. Em muitos casos, esse processo de “requalificação” é, financeiramente, inviável devido ao seu alto valor operacional, o que resulta num contínuo abandono a tais edificações e colabora com a degradação das áreas centrais. Enquanto isso ocorre na Zona de Proteção, os demais locais de Santo Antônio e São José estão destinados à especulação imobiliária, sem regras de preservação específicas com relação aos padrões urbanísticos e arquitetônicos, mesmo os que se apresentam em bom estado de preservação. Segundo Jane Jacobs (1992), uma das condições para gerar diversidade e vitalidade nos bairros de uma cidade é a presença de edifícios de idades variadas. Essa variação se faz necessária, para que atividades de diferentes cunhos econômicos possam se desenvolver em um mesmo espaço, aumentando a diversidade do público que frequenta o local. Ao fazer essa observação, Jacobs se referia à necessidade de preservação de edifícios antigos em meio às novas edificações que transformam a cidade, constantemente, e se posicionava contra o modelo de renovação que trata o tecido urbano como uniforme, em favor de uma unidade que resultava na padronização dos usuários, na monotonia. Com o mesmo objetivo, a posição de implantar novas edificações em áreas centrais contribuirá para diversificar o público e as atividades exercidas nesses locais.
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Um ponto essencial que deve ser pensado diz respeito ao modo de evitar um processo de aceleração do estado de descaracterização das edificações, a partir do momento em que diferentes normas são aplicadas dependendo da situação física em que os imóveis se encontrem. Isso se dá, pois, com tais normas em vigor, muitos dos proprietários de edificações em estado razoável podem ser tentados a degradá-las, a fim de receberem permissão para construir novas edificações. Para que isto não ocorra necessita-se não somente de uma fiscalização mais rigorosa, mas, principalmente, incentivos financeiros, como a redução de impostos por exemplo, para os proprietários que requalificarem suas edificações, tornando o peso econômico das opções de requalificação mais balanceados. Um problema que contribui, fortemente, para a degradação das edificações dos bairros de Santo Antônio e São José, e que precisa ser destacado, é a reconfiguração espacial de imóveis realizada de modo inadequado, principalmente em edifícios com fins comerciais. A abertura de vãos maiores no nível térreo, necessários ao comércio, já se estabeleceu em muitas edificações e, como a atividade comercial é extremamente importante para a dinâmica da região, essa configuração deve permanecer inalterada em muitos casos, porém se outra ação de degradação espacial solidificada por essa atividade surgir, poderá ser revertida sem que danos concretos sejam causados à economia local: a sinalização indevida e a presença de elementos como caixas de arcondicionado na fachada da edificação. Esse tipo de intervenção pode ser eliminado através da implantação das normas já existentes a respeito de sinalização, como a Lei 17.521/2008, ou Lei da Propaganda, como é popularmente conhecida, que entrou em vigor em 1º de fevereiro de 2009, dando um prazo de 180 dias às empresas, para a adequação às normas, mas continua sendo desrespeitada pela maior parte dos comerciantes da área central. Outro grande problema que afeta os bairros de Santo Antônio e São José é o grande número de imóveis abandonados, ociosos e/ou subutilizados. Este ponto já foi discutido, anteriormente, ao tratar do Plano de Reabilitação
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Integrada da Av. Guararapes (pgs. 187 a 190), do Plano de Reabilitação Integrada da Rua Imperial (pgs. 193 e 194) e da Operação Urbana Cais do Porto (pgs. 195 a 198), que serão estudados profundamente mais adiante, porém, devem ser brevemente salientados pela sua imensa contribuição para a degradação das áreas centrais. Esses imóveis formam “vazios urbanos” em meio ao tecido dos bairros, contribuindo para a rarefação de usuários em seu entorno, considerando que tal território não propicia oportunidade para as atividades serem exercidas. Espaços subutilizados e degradados, que guardam a ambigüidade do significado entre passado e presente ficam à margem desta lógica de fluxos e organização utilitária. Tais espaços ociosos devem ser resgatados e reintegrados à vida urbana, sendo paradoxalmente simulacros ou imagens e geradores de projetos de subjetividade, dotados de contradição e potencialidades do estar urbano. (ABASCAL, 2010)
Os “Espaços Vazios” presentes no tecido urbano de Santo Antônio e São José, ao mesmo tempo em que se apresentam como “razão” para a degradação da área, possuem potencial para se tornar “solução” para tal problema. A questão a ser estudada consiste em ver como se pode explorar o potencial desses espaços menosprezados, considerando que decisões políticas não são o único fator responsável pela requalificação espacial. Deve-se ver também como despertar nas pessoas o interesse de renovar esses espaços e como dar a essas edificações um novo significado e preservar a unidade urbana. Devemos identificar as qualidades espaciais já existentes em suas diversas camadas e avaliar potenciais intrínsecos ao local, ainda não explorados; tirar partido da dinâmica da área e, assim, produzir um artefato em harmonia com seu entorno, que funcione como um catalisador de usuários, aumentando o fluxo e diversidade de pessoas nos bairros de Santo Antônio e São José.
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Estacionamentos irregulares
Comércio ambulante desenfreado
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Fiação desordenada
Edifícios degradados
Sinalização inadequada
Espaços ociosos e/ou subutilizados
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Por possuir uma uniformidade em sua malha urbana, tendo como atividades predominantes o comércio, serviços e atividades institucionais, os bairros de Santo Antônio e São José sofrem, como podemos observar através das fotos ao lado, com o esvaziamento de pessoas fora do horário comercial. Este esvaziamento traz insegurança ao local e estimula ainda mais seu abandono em determinados horários. Deve-se incentivar nesses bairros, atividades complementares às predominantes, implantar usos habitacionais, hoteleiros, bares, restaurantes, etc., elementos que contribuem para reativar a dinâmica local durante todos os dias e horários. Atualmente, a população que mantem um forte vínculo com os bairros de Santo Antônio e São José possui um pequeno poder aquisitivo e é o foco da atividade comercial da área. Esse comércio popular predominante no Centro do Recife se desenvolve a partir de uma especialização das vias em determinadas mercadorias/serviços. Apesar das curtas distâncias facilitarem a circulação de pessoas, esse nível de especialização contribui para a uniformidade dos usuários em determinadas regiões. O consumidor atual do centro da cidade não frequenta o local em busca de entretenimento e lazer; ele frequenta a área a fim de encontrar produtos específicos a preços mais baratos. Esse tipo de relação de consumo propicia pouco apego ao seu ambiente. Para que haja uma preocupação dos usuários com seu entorno, se faz necessário estabelecer uma relação de troca mais balanceada; é preciso que o centro apresente alternativas reais para se tornar um local com consumidores de lazer e entretenimento, não somente de produtos. Os equipamentos turísticos encontrados na antiga ilha de Antônio Vaz se concentram no bairro de Santo Antônio e na porção norte do bairro de São José. Na figura ao lado destacam-se, em laranja, os edifícios religiosos; em verde, praças, pátios e jardins e, em amarelo, os demais edifícios que atraem turistas para a área. Como já tratamos o turismo pode ser utilizado como instrumento para a preservação cultural. Estes equipamentos possuem um poder catalisador e a
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exploração de seu potencial tende a estimular a criação de fluxos de circulação nesta parte da ilha que aumentarão a quantidade de usuários, desenvolvendo ainda mais o comércio e serviço, atividades características da área. Visto que o turismo cultural não compreende, apenas, a exploração dos bens materiais, o patrimônio imaterial presente nesses bairros, que se apresenta através de diversas manifestações e eventos culturais durante todo o ano, possui fundamental importância para garantir a visitação aos bairros citados não somente nos horários tradicionais, como, principalmente, para atrair pessoas a frequentarem a área no horário noturno e em fins-de-semana. Os eventos contribuem para reforçar, positivamente, a imagem daqueles que visitam o local. Os visitantes que percebem a cidade como uma cidade de eventos, também a vee mais atraente por conta da existência desses eventos (RICHARDS; WILSON, 2004). A multiplicidade de eventos encorajam turistas a retornarem à área visitada, incentivando a dinâmica local. Outro ponto-chave para a requalificação dos bairros de Santo Antônio e São José é a identificação, manutenção e renovação do seu espírito. O Genius Loci destes bairros se faz presente através de sua atividade comercial, sua importância cultural, seu grande fluxo de pessoas, seu seu tecido urbano, seus eventos, seus ambulantes, seus percursos, de seus pátios, suas comemorações, etc. É importante que as diversas camadas desse território e seu papel para a dinâmica local sejam levados em conta no momento do planejamento, para que a área não se descaracterize e perca sua riqueza multicultural. Todos esses aspectos positivos e negativos intrínsecos à área de estudo devem ser levados em consideração pelo plano, aumentando, assim, o potencial de sucesso e de aceitação por parte da população, com relação ao processo de requalificação espacial nos bairros de Santo Antônio e São José, a fim de promover a manutenção dos valores consagrados e uma maior atração de usuários diversificados para a área.
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Os vazios nos centros urbanos As pessoas não usam os espaços livres das cidades só porque os planejadores urbanos desejam que assim o façam. Jane Jacobs Após analisar algumas das características dos bairros de Santo Antônio e São José e perceber seus principais problemas e alternativas para solucioná-los, podemos focar num ponto característico da área que, ao mesmo tempo, se apresenta como um forte degradante do local, possui o potencial de requalificar, espacialmente, e contribuir para o fortalecimento de variados fluxos para os bairros: os vazios urbanos. Os vazios presentes na área de estudo podem ser divididos em três categorias: Vazios construídos: são vazios urbanos produzidos pelo abandono de edifícios em meio ao tecido da cidade. Como já foi ressaltado, anteriormente, esses vazios colaboram fortemente para a degradação espacial de seu entorno e contribuem para o desperdício de infra-estrutura urbana. Apesar de apresentarem diversas dificuldades, esses espaços possuem enorme potencial para abrigarem novas atividades necessárias à requalificação da área central. Vazios territoriais: os elementos considerados neste trabalho como vazios territoriais são terrenos vagos, não edificados, ainda encontrados no tecido densamente construído da área central. Esses territórios são extremamente essenciais para a valorização espacial do centro, pois possuem a habilidade de permanecerem em sua configuração original, vazios, mas, agora, destinados a diferentes atividades, instalando, assim, variedade no tecido urbano linear e dando continuidade ao esquema alternado entre ruas estreitas e pátios e praças já estabelecidos em algumas porções de ambos os bairros. Vazios lineares: conformados pelas vias de circulação são vazios conectivos cuja qualidade é essencial para a vitalidade do meio urbano. Esse tipo de
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vazio precisa se apresentar não somente como espaços de circulação, mas também possuir características que atraiam a permanência de pessoas em seu meio, como, por exemplo, vitrines, cafés, bancos, arborização, etc. Esses vazios, nos bairros de Santo Antônio e são José, têm sua potencialidade fortemente afetada pelos limites conformados pelas linhas férreas e muros “cegos” presentes em algumas partes do território analisado. Após uma prévia analise da dinâmica passada e presente, e de um futuro próximo da área, a decisão de iniciar o planejamento urbano de uma área a partir de seus vazios urbanos é tomada visando a eliminar o zoneamento como única alternativa para elaboração de projetos urbanos, e desfazer este limitador espacial que, muitas vezes, tolhe a capacidade de mudanças inerentes aos tecidos urbanos. Como afirma Jorge Wilheim, não é possível nem importante tudo prever (WILHEIM, 2003). O importante é identificar o que gera transformações, quais os movimentos do desenvolvimento urbano de cada localidade e encarar esses fluxos como partido projetual. Deve-se tomar cuidado especial na elaboração de um plano urbano, pois o planejamento pode facilmente ir contra a vitalidade de uma cidade (KOOLHAAS, 2002). Para que isto não ocorra, não somente um estudo da área se faz necessário, como se vê na etapa anterior deste trabalho, mas também a instituição de um plano flexível é essencial. Intervenções pontuais e lineares, geradoras de fluxos, exploram os espaços vazios e suas propriedades inerentes, procurando realizar, a partir destes espaços, um planejamento que seja economicamente viável e propenso ao sucesso da revitalização da área central do Recife. A fim de se permitir uma flexibilidade projetual, é necessário que nem todos os vazios sejam planejados de uma só vez. A proposta desde trabalho consiste em fortalecer as conexões existentes, aproveitar-se do potencial de certas estruturas e mostrar um caminho alternativo de intervenção nesses espaços que busque não somente fortalecer a dinâmica existente, mas também criar novas conexões para a área.
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O espaço cívico deve ser encarado não somente como um local de encontro, mas também como um espaço de inspiração, principalmente quando se mostra na área de patrimônio histórico, como é o caso dos vazios urbanos a serem explorados neste trabalho. Nem tudo deve ser conservado como é, já que é possível, e até necessário, introduzir o novo (LIRA; PONTUAL, 2006, traduzido pela autora). Todas as decisões com relação aos vazios urbanos encontrados na área central dos bairros de Santo Antônio e São José devem contribuir para um melhor aproveitamento do solo urbano dessa área e ter por fim estabelecer um espaço cívico de boa qualidade para a sociedade. Os “espaços livres” presentes na área central serão tratados como espaços que se encontram na transição entre a esfera pública e a privada, procurando estabelecer uma relação harmoniosa entre esses dois universos. As intervenções serão realizadas nos vazios construídos, nos vazios territoriais e nos vazios lineares, escalando sua esfera do privado ao público e conectando estas diferentes esferas através do cuidadoso desenho dos espaços de transição encontrados nessas intervenções. Para um ordenamento mais lógico, os vazios construídos e os vazios territoriais serão tratados, primeiramente, em praticando a arquitetura não solicitada e só assim os vazios lineares conectivos assumirão forma em uma utopia sóbria, a conectividade dos planos. O processo de seleção da área a ser trabalhada leva em conta todos os fatores até agora levantados neste trabalho. Os vazios urbanos a serem escolhidos como locais de intervenção necessitam estar dentro dos bairros de Santo Antônio e São José; necessitam, ainda, se localizarem em pontos não privilegiados pelos planos já existentes, que possuem um bom potencial de requalificação da área central – mapeados em uma síntese de ideias – restando, assim, o território visto na figura inferior ao lado. Levando em conta que, como já foi observado, as atividades turísticas e culturais se concentram na parte norte deste território, e que estas possuem um grande potencial para o estabelecimento de novas conexões e para a requalificação da área, propõe-se que os vazios urbanos a serem
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planejados neste trabalho abranjam essa porção da ilha e que esses proporcionem o fortalecimento da dinâmica local e estabeleçam novas rotas de desenvolvimento para a área. Os locais escolhidos, destacados em vermelho e em verde ao lado, foram os identificados com o maior potencial para o fortalecimento da requalificação dos bairros. Os vazios destacados em vermelho são aqueles identificados após a análise dos planos institucionais e acadêmicos em que seu potencial não foi explorado por completo. Já os destacados em verde são outros quatro territórios que se apresentam propícios para intervenção. As atividades a serem realizadas nesses espaços serão apresentadas a seguir, juntamente com as propostas de intervenção nestes espaços.
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Dois bairros, um objetivo, muitas possibilidades
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Praticando a arquitetura não solicitada Não pergunte o que a arquitetura pode construir para você, mas o que pode fazer por você. Não procure saber onde você pode achar um cliente, se pergunte onde você é necessário. Não cubra a arquitetura, descubra-a. O. Bouman A arquitetura não solicitada não é um estilo, mas sim uma atitude, praticada e defendida desde o Fun Palace de Cedric Price até a pratica atual de profissionais como Bjarke Ingels, Rem Koolhaas, Julien de Smedt, Ole Bouman, MVRDV, e outros. Essa prática arquitetônica apresenta soluções para questões que são muito maiores do que arquitetura e impossíveis de solucionar sem arquitetura (BOUMAN, 2009); ela emerge a partir de uma visão crítica sobre a necessidade espacial de uma sociedade e de uma análise minuciosa do local. Como Bouman afirma, a arquitetura não solicitada trata da capacidade da arquitetura em resolver problemas, não sobre uma forma desejada a ser concretizada. O resultado formal final não é o ponto de discussão – apesar da sua importância não ser menosprezada – mas sim a relevância de tal projeto para a sociedade e para o local onde está inserido. Para a prática da arquitetura não solicitada, é preciso que o arquiteto consiga ler, não o que o cliente pede, mas o que ele deseja, ou necessita; entender que o cliente nem sempre é o que faz a proposta; que financia; e sim a sociedade. É preciso entender que não se deve trabalhar somente onde há um cliente tangível imediato, mas, principalmente, onde projetos precisam ser realizados.
High Square, projeto da PLOT (BIG+JDS)
Essa atitude, ainda vista por muitos profissionais como utópica, vem não somente se tornando uma tendência na prática arquitetônica recente, como contribuindo para o resgate da crítica ao espaço urbano e à produção arquitetônica. O arquiteto sai da posição de passiva e se torna proativo, procurando estabelecer novas regras no jogo da produção espacial.
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Cedric Price e Joan Littlewood elaboraram minuciosamente o conceito do seu Fun Palace como um local de lazer e aprendizado para a classe inglesa operária, muitos dos desenhos já haviam sido realizados e só ai iniciaram uma busca por um local que pudesse abrigar tal edificação. Eles identificaram uma necessidade da sociedade e lutaram pela realização de seu plano e, mesmo que o Fun Palace nunca tenha sido construído de fato, a sua atitude proativa fez da arquitetura não somente um ato projetual, mas uma série de ações políticas e socioeconômicas.
Ao contrário do caminho seguido por Price e Littlewood na concepção do Fun Palace, o presente trabalho procura identificar, inicialmente, locais que possam propiciar a requalificação dos bairros de Santo Antônio e São José, dentre os espaços classificados como vazios urbanos e, a partir da identificação de possíveis territórios, selecionar aqueles que possuam potencial elevado devido à sua localização e à necessidade específica de seu entorno. A proposta não é reformular a dinâmica local, e sim fortificar seus aspectos positivos, solucionar alguns dos problemas encontrados e tirar o máximo proveito do potencial atrativo de ambos os bairros. Peter Zumtor (em Thinking Architecture), através de uma metáfora, nos exemplifica a importância de tais intervenções espaciais: quando jogamos uma pedra na água a areia se movimenta e depois se assenta novamente;, a agitação foi necessária e a pedra achou seu lugar, mas o lago nunca mais será o mesmo. As intervenções são necessárias e, após sua realização, os bairros nunca mais serão os mesmos, mas a intenção é que continuem com suas dinâmicas, assim como o lago não deixa de ser um lago com a presença da nova pedra. Os projetos apresentados a seguir se mostram como opções de intervenções nos vazios construídos e nos vazios territoriais, e procuram atender às necessidades de seu entorno e otimizar a exploração espacial dos bairros de Santo Antônio e São José. Em sua elaboração, os já apresentados conceitos de Bernard Tchumi – de tecnologias de estranhamento, do “choque” metropolitano, de desestruturação, de sobreposição, de cruzamento de programas e de eventos (the turning point) – serão mais profundamente explorados. Seguindo o conselho de Joseph Rykwert (em A sedução do lugar), procurase, neste trabalho, o envolvimento em alguns “pequenos projetos” ao invés de recorrer à grandiloquência. Os vazios explorados nesta etapa são quatro espaços pontuais que, inicialmente, serão tratados de modo desconexo, mas que, a seguir, serão interligados através dos vazios lineares, em uma utopia sóbria, a conectividade dos planos.
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1. O modelos para as intervenções a serem realizadas nos vazios construídos serão representadas pela intervenção no edifício Trianon (destacado em vermelho na figura ao lado) onde a atividade proposta é a implantação de um hotel + museu do carnaval + restaurante + mirante. Neste tipo de estruturas existentes as quais, atualmente, encontram-se abandonadas, o objetivo é explorar atividades que atendam à demanda e o potencial que cada uma possui. 2. Para exemplificar alguns tipos de intervenções a serem realizadas nos espaços classificados como vazios territoriais, três terrenos com características distintas serão explorados. 2.1. O primeiro local a ser trabalhado (destacado em verde na figura diretamente ao lado) será um terreno atualmente utilizado como estacionamento, localizado próximo à Casa da Cultura e à antiga estação Ferroviária onde, de acordo com o projeto Recife-Olinda, planeja-se a instalação do Centro Cultural Banco do Brasil, que comportará atividades como teatro, salas de exposição, café e Museu do Trem (pg. 183). Para este território, a atividade proposta é um pátio de exposições + café + local de reuniões, devido ao seu potencial de atividades culturais e à necessidade da implantação de um pátio nesta região dos bairros a fim de melhor integrar seu tecido à configuração de cheios e vazios presentes em outras localidades de Santo Antônio e São José. 2.2. O segundo vazio territorial a ser trabalhado encontra-se em um terreno de esquina, à margem do Rio Capibaribe que, atualmente, também é utilizado como estacionamento de veículos, localizado em uma parcela do solo da ilha não explorada pelos planos debatidos neste trabalho. Devido à carência de espaços verdes nesta porção da ilha, ao potencial atrativo específico de seu território e às suas condições físicas (alto edifício em sua lateral formando uma grande barreira e abertura para os demais lados proporcionando uma vista espetacular dos bairros) a atividade escolhida para o território foi a de uma praça destinada a pequenos eventos + mirante, procurando, assim, atrair a atividade turística na área e incentivar a apropriação do espaço pela população local.
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O último território pontual a ser explorado por este trabalho se apresenta, em maior escala, como uma tentativa de demonstrar a maleabilidade da arquitetura não solicitada e da variedade de escalas de intervenção. Essa área abrange o vazio territorial, o entorno do forte das cinco pontas e da praça Frei Caneca e o vazio construído localizado às margens da Bacia Portuária, não explorado pelos planos institucionais (tanto públicos como privados). Esse território se apresenta como um elo essencial para o estabelecimento de uma conexão do espaço público dos bairros com o Oceano Atlântico, visto que as remanescentes frentes d´água que encaram o horizonte estão prometidas a grandes construções. As atividades aí realizaveis serão a reformulação da Praça Frei Caneca + o estabelecimento de um parque + expansão do Museu da Cidade do Recife. “Arquitetura como um processo implica um resultado no qual a forma e, ate certo ponto, algo inesperado. Poderíamos dizer que para Einsenman pouco importam os resultados. O que aqui se busca não e um projeto predeterminado,imaginado previamente ou sujeito a um modelo do qual se tem consciência. A arquitetura e simplesmente o fim do processo.” Rafael Moneo Como método de elaboração projetual adotado no presente trabalho, as formas são resultado das escolhas derivadas de um processo, sendo este a leitura do potencial dos vazios em questão, com relação às necessidades intrínsecas do seu entorno e das linhas de ações intencionadas para a área. Como já foi discutido em momento anterior, o ponto relevante das intervenções realizadas não é a forma física que estas adquiram, por mais trabalhadas e fundamentadas que elas possam se apresentar, mas sim a capacidade da arquitetura como ferramenta para solucionar problemas e a relevância do projeto e das atividades a serem realizadas para a sociedade e para seu local de inserção.
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O contexto é encarado, nos projetos a serem realizados, da mesma forma como é visto por Einsenman, “não como algo herdado e recebido, mas como a realidade que o arquiteto parece ser forçado a inventar continuamente” (MONEO, 2008) O contexto não é somente o ambiente físico “per se”, mas suas aspirações. O lugar não é renunciado, aceita-se o seu passado e procura-se reafirmá-lo, porém não se prende nele as soluções formais. Como afirma Jane Jacobs (1992), para garantir a vitalidade de um local é necessária, entre outros elementos, a mistura de edifícios que variem em idade e condições. O objetivo das intervenções realizadas nos vazios aqui identificados é oferecer à área uma dinâmica que estimule a utilização dos espaços públicos, o turismo local e o desenvolvimento econômico dos bairros.
Edifício Trianon “Fomentar, nos municípios, a criação de museus e centros culturais que trabalham no campo da memória, com a finalidade de promover ações de preservação e dinamização dos bens patrimoniais locais” Ministerio da Cultura Seguindo a diretriz de ocupação dos vazios construídos, a fim de preservar os bens patrimoniais dos bairros de Santo Antonio e São José, o edifício Trianon foi escolhido, como visto, com o objetivo de utilizar sua estrutura existente, que se encontra atualmente desocupada – salvo no período carnavalesco – para a implantação de um hotel + museu + restaurante + mirante. No plano analisado da PRI Guararapes (ver paginas 187-190), a diretriz dada ao edifício é a da implantação de um shopping popular. Apesar de saber da necessidade desse tipo de estrutura, que visa a abrigar o comércio ambulante após sua retirada das vias de circulação, não acredito que a estrutura do edifício Trianon seja, morfologicamente, o local mais adequado
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para a sua implantação. A tipologia vertical predominante do edifício vai contra a dinâmica horizontal do comércio e choca-se com a volumetria física deste exemplar arquitetônico projetado por Rino Levi (projetado para atender a salas de escritórios e dois cinemas), o que provavelmente resultaria numa maior descaracterização da estrutura do que o emprego de outras atividades.
Projeto de Rino Levi, 1938
A escolha da implantação de um Hotel com restaurante e espaço para contemplação, e do Museu do Carnaval (além de uma loja e um café), procura atender a demandas presentes na área, tanto na escala local como na dimensão metropolitana. O incentivo ao turismo cultural nos bairros de Santo Antônio e São José destaca a necessidade de estruturas estimulantes e de apoio a tais atividades. Talvez retomar a função cinema no pavimento térreo e sobreloja fosse considerado um ato político- arquitetônico de mais caráter do que a opção escolhida de conversão deste espaço em um museu, uma loja e um estacionamento. No entanto, do ponto de vista realístico da demanda do local e da rentabilidade (considerando que a estrutura não atingiria o sucesso esperado como shopping popular) do empreendimento, a lógica de pensamento adotada a fim de encarar os vazios pelos seus potenciais e pelas vocações dos locais escolhidos, visando manter a preservação do patrimônio construído e da vitalidade da área, não pode ser deixada de lado. Para fazer tal edificação adaptável aos novos usos, as únicas intervenções físicas realizadas na volumetria externa foram a abertura de uma seteira no volume convertido em escada, a reestruturação do pavimento de coberta para abrigar atividades contemplativas e a abertura de uma entrada para veículos na fachada sudoeste da edificação. Com exceção desta última, as intervenções pouco são percebidas, ao caminhar pelo entorno, e a volumetria foi totalmente preservada. A substituição da cobertura de telha atual de um dos cinemas, por uma laje plana, intenciona retornar aos planos originais de Rino Levi e introduz o teto jardim não somente como um elemento que suporta novas atividades, mas também como um elemento que comunica a contemporaneidade da intervenção realizada.
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EdifĂcio Trianon Atualmente 83
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O outro cinema tem sua cobertura elevada na qual cria-se uma estrutura leve de ferro e vidro que permite a entrada da iluminação direta ao museu. Esta iluminação exacerbada e intencional serve para ilustrar mais fielmente a sensação do carnaval recifense e olindense, com forte tradição de carnaval de rua, que o museu procura narrar . No ambiente interno, as intervenções assumem duas escalas: uma intervenção mínima nos pavimentos superiores e uma mais radical adotada no pavimento térreo e na sobreloja. Em geral, as estruturas existentes são mantidas em ambos os casos; nos pavimentos superiores há a introdução dos volumes dos banheiros na estrutura existente e a modificação das aberturas das portas para que o programa seja melhor atendido, em três pavimentos (primeiro, segundo e terceiro). No volume destinado à administração, algumas paredes de vedação (não estruturais) são removidas, a fim de ceder espaço ao museu, a uma biblioteca e ao arquivo do museu. Nos pavimentos inferiores, a solução da implantação de uma escada de emergência resultou em uma das intervenções de maior impacto. A escada implantada, localizada num volume preexistente nos pavimentos superiores, e que não possui continuidade nos pavimentos térreos e sobreloja surge nesses pisos como um elemento focal. Se nesses primeiros pisos a escada permanecesse com a volumetria dos demais pavimentos, a escada se tornaria um elemento conflitante que geraria uma dubiedade significativa entre intervenção e elementos pré-existentes: além de interferir, drasticamente, na volumetria interna do espaço dedicado ao museu, acabaria com a leitura espacial do volume destinado ao cinema do Trianon. Como resultado deste conflito, a opção de tratar o elemento da escada como simbolismo da presente intervenção, fazendo seu volume surgir como um aspecto positivo que não entrasse em conflito com as funções a serem exercidas em seu espaço, se tornou o novo objetivo. A solução escolhida trata a escada como elemento central que gerencia os dois fluxos principais dos ambientes públicos: o museu e o restaurante do hotel. Logo na entrada, o visitante possui a escolha de caminhos: a escada que o leva ao restaurante ou o corredor de exibições temporárias que leva ao museu (é valido
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ressaltar que o acesso ao restaurante também pode ser feito pela recepção do hotel, que apresenta não somente escadas, mas também elevadores). O espaço que poderia ser considerado “residual,” entre a escada e a fachada do térreo e a sobreloja, é transformado em uma sala de exibição para o público externo, procurando assim estabelecer uma relação positiva com seu entorno. Apesar da barreira física de acessibilidade, as fenestrações em vidro permitem o acesso visual e procuram comunicar-se com o público externo, criando uma espécie de museu gratuito no exterior. A intenção com a tomada dessa medida é amenizar os efeitos da monofuncionalidade e da carência de permeabilidade criada com a implantação do museu no térreo. Nesse edifício o espaço de transição da esfera pública à privada se encontra na galeria que funciona como um espaço de passagem, de convivência, que estimula a integração visual com a da exibição da história do carnaval no exterior. Esse espaço de transição está presente ainda, com mais forca, na loja e no café do museu, com uma maior permeabilidade física e com a disponibilização de um mobiliário urbano que permite estender o tempo de permanência no local. A presença da loja no antigo “hall” do cinema procura manter a identidade do local, e a entrada é permitida como a volumetria original sugeria, porém, em toda a sua extensão, há uma forte integração visual com o ambiente externo. Apesar das atividades do museu se encerrarem no período noturno, sua comunicação com o exterior continua, pois através da implantação de uma iluminação adequada, a exibição ainda pode ser experienciada e a bilheteria permanece aberta, funcionando como controle de entrada para o restaurante do hotel. O café também pode permanecer aberto no período noturno, caso o movimento da área o permita. Dos conceitos apresentados por Bernardo Tschumi, a intervenção no edifício do Trianon se apropria da ferramenta do “choque metropolitano”, quando se apresenta contra a nostalgia da permanência. O que o edifício tem de valor e que deve ser preservado é sua forma. As atividades de cinema previamente instaladas não se adequam mais à demanda local e se
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tornaram obsoletas. Outro conceito aplicado foi o da “sobreposição”. O volume existente dos cinemas se transforma em atividades sem perder caráter, e o edifício vertical recebe um hotel, programa que interfere minimamente em suas características iniciais. O “cruzamento de programas” é a ferramenta indutora da vitalidade do edifico, porém os fluxos desses programas são cuidadosamente separados para evitar conflitos indesejáveis. No caso do edifício Trianon os “eventos” não conduzem a uma solução, por se tratar de uma estrutura existente, porém eles reinterpretam as soluções existentes, tirando proveito das limitações espaciais, como no caso do piso inclinado da sobreloja do volume destinado ao museu, previamente utilizado para uma melhor visualização da película exibida, que agora apresenta-se como um simbolismo das ladeiras de Olinda.
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Pavimento Terreo 88
Pavimento Sobreloja 89
Primeiro Pavimento 90
Segundo Pavimento 91
Terceiro Pavimento 92
Quarto Pavimento 93
Quinto Pavimento 94
Sexto Pavimento 95
Pavimento Coberta 96
Planta de Coberta 97
Corte AA´
Corte BB´
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Corte CC´
Corte DD´
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Fachada Nordeste
Fachada Noroeste
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Fachada Sudeste
Fachada Sudoeste
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Pátio de exibições “Eventos criam modos de adicionar flexibilidade a estruturas fixas [...] Eventos podem ainda serem usados como plataformas para criar marcos [...] Eventos podem também encorajar pessoas a visitar um local mais de uma vez e, ao abrigar uma serie de eventos diferentes, uma cidade pode se apresentar em um bom numero de mercados diferentes” Greg Richards, Julie Wilson A intervenção parte da ideia de criar um vazio, uma folha em branco, aberto às possibilidades, restrito por seu espaço, contido em seu espaço. Sua atividade não é definida, é um palco de intervenções, sejam essas planejadas ou espontâneas. Pode ser utilizado para a realização de diversos eventos, sejam esses festas, teatro, campeonatos esportivos, exposição de esculturas, feiras, festivais de filmes, e assim por diante. Sua condição é a temporalidade; a efemeridade é sua única regra existente. Como apoio/incentivo, uma construção é levantada, mantendo (entenda-se mantendo no sentido de busca a um passado não mais existente) a fachada da rua da Concórdia. Nessa edificação se encontram a administração desse pátio de exibições, um depósito, salas de exibição, banheiros e uma lanchonete/café, que mantêm a atividade pré-existente cujo recente volume, criado desta estrutura segue uma lógica contrária à morfologia urbana característica dos bairros. Essas atividades, ao mesmo tempo em que servem de suporte à atividade principalmente idealizada, servem como eventos catalisadores. A lanchonete/café possui o potencial de alcançar um público variado, do visitante inesperado, atrativo como local de reunião, de encontro, etc. A administração funciona não somente como gerenciadora do espaço, mas também como catalisadora de eventos, exercendo um papel essencial para que o vazio permaneça utilizado. Os usuários do pátio de exibições podem ser tanto de uma escala local – pessoas que frequentam o pátio por se encontrarem no entorno, ou por
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estarem realizando compras ou um passeio turístico, etc. – como de uma escala metropolitana, pois a estação de metrô se encontra nas proximidades do local e vias de circulação de relativa importância estão em suas margens, o que torna o local acessível a grande parte da população. “Ceder o espaço ao inesperado é estabelecer condições que tem o potencial de fazer avançar certas praticas sociais” Andrea C. Saturnino O pátio criado procura dar continuidade à malha urbana existente – através da manutenção da escala das fachadas – criar um vazio permanente, introduzir a estrutura de pátio tão característica em outros territórios dos bairros de Santo Antônio e São Jose. Não é um pátio religioso nem uma praça, mas sim um espaço aberto com configuração enclausurada em um tecido densamente construído. Um ponto-chave é que a conexão entre as duas vias seja mantida, permitindo que o espaço atraia um público também como espaço de passagem, induzindo esses rápidos visitantes a interagir com as atividades ali exercidas e aumentando o poder de atração do local. A atividade atualmente realizada no local é especificamente uma área para estacionamento de veículos, possuindo edificações de apoio à administração e lanchonete. Sua inserção neste espaço o degradou completamente com a demolição das edificações pré-existentes e a introdução de elementos não coerentes com a dinâmica onde está inserido (como as grades de ferro). O projeto não necessita se firmar em estruturas pré-existentes, além da relação da escala com seu entorno, pois as edificações localizadas nas proximidades se encontram completamente descaracterizadas, em termos de fenestrações e de materiais implantados, não podendo, assim, ser considerado como referencial histórico obrigatório. Os conceitos de Tschumi adotados na elaboração deste pátio de exibições, foram os mesmos empregados no edifício Trianon: o “choque metropolitano” se apresenta no uso de materiais destoantes deste entorno já descaracterizado. Procurando um minimalismo busca destacar-se das
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Extensão do MOMA de NY - PS1 + projetos de intervenção do nARCHITECTS e do BIG 108
edificações comerciais regidas pela publicidade, por cores e materiais diversos. A “sobreposição” ocorre no fato de a forma não seguir a função, não se adequar a uma função pré-determinada, mas evidenciar-se como um invólucro que permite abrir o leque para o acontecimento de diversas funções no mesmo espaço, sendo esta diversidade de atividades um “cruzamento de programas” constante. Aqui os “eventos” são parte essencial para a condução de uma solução formal, para que diversas atividades possam ser exercidas, é necessário que o ambiente seja adequado ao recebimento de todas elas então se faz necessário superfícies lisas para exibições de obras de artes, de filmes, bem como uma configuração espacial que permita a implantação de uma arquibancada, um palco, uma feira, uma quadra, etc. “Um dia, quem sabe, os vazios serão preenchidos pela arte. Ou pela felicidade das gentes, o único sucedâneo possível para a criação artística” João Paulo Cunha
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Ă rea atualmente 110
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1º Pavimento
Térreo 113
Coberta
2ยบ Pavimento 114
Corte AA´
Corte BB´
Corte CC´
Fachada Leste
Corte DD´
Fachada Oeste
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Pรกtio de Eventos 118
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Praça/Mirante Atualmente ocupado por um estacionamento à beira-rio e localizado na esquina, encontra-se um dos territórios com maior potencial paisagístico dos bairros. A intenção é transformar este pequeno estacionamento em uma praça/mirante. Ao contrário das outras praças encontradas na área, que foram pensadas no plano urbano, essa praça tem que apresentar um limite claro que entre em concordância com as demais construções do entorno, pois seu território foi idealizado para a implantação de uma densa edificação, e esta característica deve ser percebida na elaboração deste projeto. A ideia de seguir as diferentes escalas presentes no local e a busca tradicional de identificar praças com elementos naturais, de início levou a proposta para soluções com a vegetação como elemento limitador do espaço e que mantém as escalas mais baixas presentes no entorno, simulando a construção. O mirante, atividade tão necessária à área por possuir raras oportunidades de se ter uma ideia da unidade arquitetônica dos bairros como um conjunto, se relaciona com a escala mais vertical do espaço, se anexando ao edifício adjacente como um “parasita,” Na solução final optada, a relação do mirante, apesar de nos estudos formais se alterar diversas vezes, permanece a mesma, e ele procura comunicar-se com a escala do edifício adjacente, com a vista em seu entorno, tanto do rio como do conjunto construído. Um novo elemento construtivo, após alguns testes, é introduzido: uma grelha agora estabelece a relação com as edificações do entorno, uma nova ruína de um passado nunca existente, mas planejado. Essa grelha, alem de reforçar a idéia de um ambiente construído e, ao mesmo tempo, preservar o vazio existente, serve de suporte para receber vegetação trepadeira, introduzindo, assim, mais sutilmente elementos naturais em sua configuração.
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Com relação aos conceitos apresentados por Bernard Tschumi, o mais marcante nesta intervenção é o da “tecnologia do estranhamento,” que apesar de manter relação com o entorno, utiliza-se de novos materiais e tecnologias, e introduz o elemento da desfamiliarização como central em sua concepção. Outros conceitos, como o do “choque metropolitano”, ao destacar as diferenças entre a nova edificação e o centro histórico; o do “cruzamento de programas” e do “evento”, ao permitir que diversas atividades, além da de contemplação, sejam exercidas no ambiente e sejam essas indutoras das formas de diferentes dimensões, para abrigar atividades como brincar, comer, descansar, namorar, observar, etc. Também o conceito da “desestruturação, ao acabar com a distinção entre estrutura e ornamento, deixando a própria estrutura e as atividades como ornamento. Abaixo, pode-se observar a sequência de estudos que levou ao resultado final da praça/mirante. Inicialmente, se pensou em um esquema de plataformas contínuas em todos os níveis; logo em seguida as questões em relação à escala dos edifícios do entorno e a preocupação com a manutenção da identidade do terreno, como um ambiente construído, começaram a moldar mais precisamente os elementos de intervenção. Chegou-se à decisão da presença das plataformas até aos níveis mais altos, a fim de usufruir a vista, ao máximo, e da grelha como elemento construtivo de suporte à vegetação e que remete à escala e ao desenho urbano da área.
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Fachada Norte 126
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Complexo Forte das Cinco Pontas “Num mundo que se torna paulatinamente privatizado, os espaços públicos estão ganhando importância, mas também se tornando mais exigentes em termos de design porque a vida nos espaços públicos é opcional e não uma necessidade como antigamente” Jean Gehl Assim como no caso do edifício Trianon, essa intervenção surge como uma alternativa a proposta oficial realizada para a área. As maiores críticas ao projeto apresentado são em relação a se mostrarem contra as medidas gerais propostas para a área. Apesar do plano de mobilidade prever a diminuição da circulação de veículos para os bairros e a implantação de edifícios garagens, as intervenções propostas (e atualmente já realizadas) consistem na conversão de espaços para o fim de áreas de estacionamentos (por alegar que a atividade já é implantada informalmente nesses locais).
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Devido ao posicionamento do estacionamento do território do Forte das Cinco Pontas se encontrar próximo a vias de grande fluxo, separado pela estrutura do viaduto existente e de uma vegetação que o margeia, sua implantação não é considerada absurda, pois esse território se encontra relativamente segregado do tecido ativo consolidado. Nesse local, as intervenções foram, basicamente, a transferência das vagas de idosos e de portadores de necessidades especiais de debaixo do viaduto, para a frente da entrada principal do Forte, a mudança do local de entrada de veículos e a introdução de uma loja embaixo do viaduto a fim de dar ao local um maior poder de atração, evitando assim, que esta área se torne apenas um lugar de passagem. A loja aproveita-se do constante fluxo,tanto daqueles que estacionam para ir ao forte ou ao centro comercial, como daqueles que atravessam do centro comercial para a nova estrutura beira-rio. A intervenção proposta (e realizada) mais agravante se encontra na praça Frei Caneca, onde praticamente metade de seu território é convertido em 20 vagas de estacionamento e, por isso, a intervenção proposta para esta área é realizada sem tomar o projeto original como base. A interpretação que se tem do local é a seguinte: esta não é uma praça de lazer, ela é comemorativa, como diz seu nome. Ela deve funcionar como palco de um monumento, deve ajudar a contar uma história. A vegetação existente é mantida agrupada no oeste, à qual outras árvores são acrescentadas, somente uma árvore é relocada, pois esta se encontra no centro, no local destinado ao monumento. A fim de tornar a estrutura sustentável, do ponto de vista financeiro, e inibir a apropriação inadequada do espaço por veículos, é prevista a implantação de um quiosque que atenda aos turistas que embarcam e desembarcam no estacionamento ao lado, e aos demais transeuntes que circulam pela área. Outra intervenção realizada foi a conversão da metade das vagas do estacionamento, localizado no território de comércio intenso, numa larga calçada. Essa proposta foi adotada a fim de implantar uma arborização na área e permitir a ocupação espacial por mesas, procurando, assim, juntamente com medidas de estratégias políticas, incentivar a conversão dos empreendimentos comerciais em bares e restaurantes, com o que
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visem atender não somente aos turistas, mas principalmente à população residente existente e prevista de instalação no entorno. A fim de abrigar essas, e demais vagas de estacionamento que foram retiradas do tecido da área central, a construção de um edifício-garagem é prevista num quarteirão adjacente que apresenta suas construções descaracterizadas formalmente (projeto previsto no “circuito dos pátios,” pgs. 122-125). Uma proposta de intervenção mais drástica é a de demolição de parte do Viaduto das Cinco Pontas e a conversão da estrutura restante em um parque elevado. Após o estudo de alguns planos, para a área, e a defesa de alguns profissionais em alegar que esta infraestrutura não é necessária em termos de trafego, e que ela destrói a leitura original da paisagem do Forte das Cinco Pontas, a decisão de destruir, parcialmente visa reorganizar o tráfego e preservar a estrutura existente como apoio para novas atividades. Ao mesmo tempo em que se cede espaços públicos para estacionamentos, a proposta apropria-se de locais de passagem de veículos para sua conversão em um novo espaço público. Com relação à leitura paisagística do Forte das Cinco Pontas, a proposta agora integra o viaduto como elemento que auxilia no entendimento de sua configuração, permitindo um ponto de vista que proporciona uma visão geral do conjunto, visualmente integrando, mais uma vez, este espaço com a frente d’água. Este parque elevado abrigara uma pista de corrida que permita a prática de exercícios e, assim, possua um maior poder de atração sobre a população residente no local, e um espaço de contemplação destinado, principalmente, ao turismo. Com relação ao espaço identificado como último remanescente não explorado pelos planos da iniciativa privada nesta porção da ilha, à beira da bacia do Pina, a proposta é fornecer a tal espaço um uso publico que permita a integração da população a esta forte característica paisagística, fortalecendo a integração do tecido consolidado com sua posição geográfica e condições históricas do local. Nesse espaço, implanta-se uma grande estrutura destinada ao comércio, a serviços de alimentação e a atividades pré-existentes no local. Na coberta, as atividades esportivas que iniciam-se na pista de corrida presente no
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viaduto parcialmente demolido têm continuidade com a presença de uma grande rampa, que simula um monte e permite a prática de esportes como escalada, skate e ciclismo radical, por exemplo, e tem fim nas duas quadras posicionadas perto dos limites do terreno. Esse espaço público é ocupado, ainda, em sua parte térrea restante, por uma fonte interativa que procura reforçar os laços com a frente d’agua, um estacionamento com capacidade para 51 vagas e uma estrutura que funciona como bilheteria para o serviço de passeios de barco, centro de informação e loja turística. No Recife, com seu centro apresentando-se de forma predominantemente plana, a criação de uma topografia se faz nesta frente d’água, através de uma integração da escala do entorno com o nível do solo. A intervenção, tanto neste local como na apropriação do viaduto, procura quebrar a dicotomia bem consolidada do nível baixo, atividades públicas, nível alto, atividades privadas. Uma elevação do nível do território público permite, não somente um novo modo de vivenciar a cidade, mas também um novo modo de olhar sobre o tecido urbano consolidado, acessível à população e aos visitantes da área. Nessa intervenção no vazio, os seis conceitos apresentados por Tschumi foram utilizados. A “tecnologia do estranhamento” se faz presente no emprego de novas tecnologias para a criação de uma topografia não existente; o “choque metropolitano” também é refletido na critica à nostalgia da permanência, com a introdução de novas edificações e a reinterpretação de estruturas consolidadas. Aqui, a desestruturação se apresenta ao transformar a nova edificação em um grande ornamento, “o movimento em arquitetura como alternativa ao ornamento” (MONEO, 2008). A “sobreposição”aparece ao permitir que a forma e função se definam mutuamente, por abrigar mais de uma função e admitir o “cruzamento de programas” e que estes se fundam. A forma se adapta a funções idealizadas ao mesmo tempo que permite a introdução de diversas outras atividades a serem realizadas. Os “eventos” aqui são os verdadeiros condutores da solução formal final.
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Ă rea atualmente
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Maritime Youth house - BIG
Maritime Youth house - BIG
Green Carpet – Hiroshi Nakamura & NAP 144
High Square - BIG
High Line - James Corner Field Operations + Diller Scofidio + Renfro
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Uma utopia sóbria, a conectividade dos planos “Para se ganhar uma perspectiva de desenvolvimento dos espaços urbanos, nós diferenciamos entre “espaço publico” e domínio publico. Definimos espaço publico aqueles lugares onde a troca entre grupos sociais diferentes é possível e realmente acontece. Ao escolher o domínio publico como contexto, nos estamos nos posicionando em um debate vivo e complexo” Maartin Hager Os espaços públicos são uma fração de domínio público. Para garantir a viabilidade de um local, tanto o espaço público, quanto as demais dimensões do domínio público, precisam estar em sintonia. As interações elaboradas em “Praticando a arquitetura não solicitada”, se apresentam não somente como uma resposta aos diferentes modelos de ocupação espacial dos vazios urbanos, mas, principalmente como na alternativa para o estabelecimento de relações positivas entre o espaço público e esses espaços de domínio público, onde a integração espacial é exaltada através da sua fluida conexão entre o espaço interno e o externo. Tirando proveito da “montagem” ou “colagem,” como técnica, o presente trabalho utiliza-se dos artifícios de repetição, intervenção, substituição e inserção na elaboração do seu planejamento. A repetição no presente plano se encontra não somente na uniformização do mobiliário urbano, como na estratégia de intervenção, na repetição do método de ocupação dos vazios existentes. A inversão e substituição surgem com o emprego da “superposição’’ da “desestruturação”, com o “cruzamento de programas” e da “ tecnologia de estranhamento”. A inserção realizada neste trabalho se apresenta como a identificação, o estabelecimento e a organização de eventos na área dos bairros de Santo Antônio e São Jose. Após a exemplificação de dados de intervenção nos classificados “vazios construídos” e nos “vazios territoriais”, o plano elaborado para os “vazios lineares” procura conectar os diversos eventos
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urbanos através de um sistema de mobilidade de igualdade que permita o vivenciamento da área central da cidade nas diferentes escalas em que esta foi planejada. Os exemplos de requalificação urbana, todos de Copenhagen, Barcelona, Melbourne, Estrasburgo, Lyon, Oslo, Nova York, Rio de Janeiro e de diversas outras cidades que adotaram medidas pontuais em diversos territórios da cidade, incluindo a população local por meio de debates,, pesquisas sobre os problemas urbanos, inserção de estudantes nas áreas centrais (a fim de garantir vitalidade em diversos horários), forte ênfase no transporte público e no ciclismo, (a fim de garantir acessibilidade de pouco impacto nas áreas centrais), o restabelecimento de uma conexão da cidade com suas águas , a implantação de um projeto de iluminação adequado para incentivar atividades noturnas nas áreas centrais, a proibição de carros em determinado horários locais da área central e a implantação de estacionamentos que não interferissem na leitura espacial da cidade (em muitos os casos estudados, esta medida é realizada com a implantação de estacionamentos subterrâneos), a ênfase na manutenção do espírito do lugar dos locais de intervenção (principalmente no caso de Lyon, na França; a introdução de equipamentos urbanos que permitam apropriação do espaço (como bancos, mesas, etc.); estratégias políticas e de comunicação entre os diversos interessados na área, flexibilidade projetual (como na casa do Rio de Janeiro, onde normas de restauro foram repensadas, a fim de manter vitalidade da atividade de comércio consolidada); medidas que restauram as funções do espaço público como um local de encontro e de trocas a fim de alcançar a civilidade nestes espaços urbanos através da recuperação da sua vida social. Essas medidas obtiveram ótimos resultados na recuperação física e imagética dos centros urbanos de tais locais. Além de um incentivo econômico e turístico, funcionam como indicadores de caminhos a serem seguidos na reestruturação dos bairros de Santo Antônio e São Jose.
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Planos institucionais a serem implantadoos Planos acadĂŞmicos (ĂĄreas nĂŁo visadas nos planos institucionais) a serem explorados Planos a serem modificados propostos neste trabalho Planos novos propostos neste trabalho
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Centro histórico comercial / religioso Atração prioritariamente turística Atração tutística e para a populacao local Centro de negócios Edificação comercial / habitacional Edificações predominantemente Habitacionais
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Parques praças e jardins Pátios e Largos Edifícios Religiosos Mirantes Outros Monumentos Edificações predominantemente Habitacionais Paradas de Transpore Fluvial e Marítimo Edifícios Garagem
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As ações de integração realizadas nos “vazios lineares” foram: a pedestrianização de algumas vias para formar um “conjunto” identificável de qualidade do centro histórico-comercial/ religioso, a reestruturação da dinâmica ambulante na área; a restauração do conjunto arquitetônico histórico construído, a implantação de um mobiliário adequado, ações de incentivo ao uso do local no período noturno, reestruturação do sistema viário ( com sua integração entre transportes públicos de diferentes modais, edifícios-garagem e transporte privado). Assim como foi feito em Copenhagen, o processo de pedestrianização deve ser realizado em partes, como vem sendo feito pela prefeitura ao longo dos anos, que pedestrianizou algumas ruas dessas áreas centrais, há alguns anos (prioritariamente nas ruas do bairro de Santo Antônio). Atualmente, o processo de implantação de uma segunda fase (expandindo essa malha para algumas vias do bairro de São José) se encontra em fase de execução. O plano idealizado procura figurar os bairros de Santo Antônio e São Jose, em uma etapa futura, definindo que vias devem ser pedestrianizadas, quais deverão manter-se para o trafego de veículos motorizados, onde deverão ser implantados os edifícios-garagens. Terrenos para o edificio garagem
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Vias pedestrianizadas Faixas de pedestre elevadas EdifĂcios Garagens
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Com relação ao comércio ambulante dos bairros, como vimos no diagnóstico urbanístico, a proposta não é que este se extinga como um todo, mas que esteja locado em áreas que não disturbem a dinâmica local e não resultem numa baixa qualidade espacial das vias de circulação. Um exemplo claro da proposta a ser adotada, pode ser observado no projeto de intervenção do edifício Trianon, onde o local em que a fachada se torna cega por um longo percurso, um espaço é reservado para locação de comerciantes ambulantes procurando, assim, evitar um “vazio urbano” devido à configurações das edificações. Esse exemplo não quer dizer que em todos os locais, onde há muros altos e fachadas “cegas”, esse uso deverá ser previsto. No caso das vias que não possuem a dimensão adequada, como muitas das vias transversais do centro histórico comercial/religioso, esses “vazios” devem ser ocupados de formas alternativas, como a permissão da venda de quadros por pintores locais, que ocuparão somente a superfície desses espaços, ou a permissão da realização de intervenções artísticas como grafitagem, mural, etc. Em algumas vias, simplesmente a instalação de mobiliários urbanos de permanência prolongada, como bancos, já provocaria o efeito esperado, ao estimular a vitalidade local evitando sua degradação espacial. Com relação ao patrimônio histórico construído, as intervenções de restauração de fachadas a serem realizadas devem levar em conta o grau de descaracterização apresentado pelas edificações. Naqueles edifícios onde nada além da volumetria original pode ser identificado, como intervir? Ainda é considerada patrimônio tombado que deve ser recomposto só por se encontrar no perímetro de zona histórica ou legislações especificas podem ser adotadas nestes casos, permitindo a introdução de novos modelos arquitetônicos, respeitando a escala local, como podemos observar no projeto de Rafael Moneo para a prefeitura de Mucia, na Espanha (19911998), que se insere de maneira sutil, enriquecendo os bairros com diversidade construtiva sem se perder de vista seu conjunto arquitetônico.
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Essa discussão é delicada, pois apesar de não se querer recorrer ao pastiche no processo de requalificação desses locais, o temor que a permissão da construção de novos modelos arquitetônicos possa gerar, dependendo do grau de descaracterização que a edificação apresente, uma aceleração desse processo de degradação que se deseja combater, em outras edificações que ainda permitam um restauro genuíno é bem fundamentada. Oslo
Verona
Madri
Para que isto não ocorra seria necessário uma forte e constante fiscalização por parte do poder publico e dos órgãos responsáveis, e uma oferta de benefícios para aqueles que optassem por restaurar suas fachadas de acordo com as regras vigentes (sendo alguns desses instrumentos já existentes e apontados no anexo 2 deste trabalho). O que se deve levar em conta, ao normatizar o processo de restauração das fachadas, é que as aberturas descaracterizadoras do patrimônio construído são essenciais à dinâmica comercial – patrimônio imaterial dos bairros – e por isso, assim como foi realizado no caso do “Corredor Cultural” no Rio de Janeiro, devem ser preservadas. Essa consciência já é natural nas cidades Europeias em centros tradicionais, como podemos observar na foto ao lado. Deve-se destacar, nesse plano, a importância do mobiliário urbano como elemento conector que fornece ao espaço opções de permanência prolongada através de, por exemplo, implantação de bancos, iluminação adequada, equipamentos de suportes, lixeiras, telefones públicos e barriletes de proteção que impeçam a entrada de veículos em vias de pedestres, mas que sejam flexíveis para permitir a carga e descarga de mercadorias nos horários permitido. Com relação às ações de incentivo ao uso noturno nos bairros de Santo Antônio e São Jose, as medidas a serem tomadas são a permissão da entrada e estacionamento de veículos em algumas das vias pedestrianizadas, a implantação de um projeto de iluminação adequado, a fim de fortalecer a segurança local, e o incentivo à instalação de bares, restaurantes e casas noturnas, não somente no âmbito financeiro, mas
Frankfurt
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principalmente ao promover atividades noturnas como festivais, concertos, etc. A reestruturação do sistema viário se faz necessária, a fim de estabelecer um fluxo lógico das vias destinadas aos automóveis, após a realização do processo de pedestrianização de boa parte do tecido da área central. Como foi defendido no plano geral de mobilidade, o planejamento para a área deve permitir a integração entre diferentes modais. A implantação de edifícios-garagens é parte fundamental para que o processo de pedestrianização seja possível, devendo tais edifícios localizados em terrenos que se encontram adjacentes às vias de maiores fluxos e de dimensões adequadas, evitando, assim, a necessidade de circulação de automóveis no tecido central. A previsão de sistemas de transporte público alternativo como o emprego de VLT e de transporte marítimo (ver planos no anexo 3 deste trabalho) bem como o incentivo ao ciclismo (através do planejamento de bicicletários e rotas de conexão) são medidas essenciais para estimular a dinâmica local e contribuir para o “desafogamento” da malha viária existente. “O plano flexível tem seu ponto de partida na certeza de que a solução correta não existe, já que o problema que requer solução esta num estado permanente de fluxo: i.e., é sempre temporário.” Herman Hertzberger A flexibilidade do plano é essencial visto que sua implantação tem previsão de ser realizada em etapas. Medidas alternativas podem ser tomadas enquanto o plano não encontrar-se “completo” (entre aspas considerando que a cidade esta sempre em transformação, o que se considera por “completo”, aqui, é a conclusão das medidas previstas) como a conversão das vias específicas em vias de pedestre, inicialmente aos fins de semana, e a realização de eventos temporários como feiras, corridas, festas, etc., como acontece em alguns locais estudados como no caso de Nova York.
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Oferecendo-se suporte e divulgando projetos turísticos já existentes, como o “Trilhas do Recife” ou o “Lendas do Recife,” que passeiam pela área contando histórias dos livros de Gilberto Freire ou do já exemplificado (ver anexo 3), “Circuito da Poesia.” O objetivo do presente plano foca-se na revitalização para a conservação imagética e visa a atrair um publico variado para os bairros de Santo Antônio e São Jose procurando evitar o possível efeito de gentrificação na área ao procurar atrair um publico de renda mais alta. O objetivo é tornar novamente este em um espaço público por excelência, onde as diferenças são necessárias.
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Conclusão A intenção do presente trabalho não é que todas as medidas apresentadas sejam implantadas simultaneamente e que o centro se reabilite somente a partir delas. Um plano geral para a área abrange todos os pontos descritos: a manutenção do patrimônio imaterial, como instrumento de preservação do ambiente construído e da atividade e cultura local; a utilização do turismo, como um instrumento de preservação cultural e de incentivo econômico para o desenvolvimento local, e a relevância da história, da legislação, da memória e dos anseios do local para seu planejamento. “Experimentação é uma forma vital de abandonar a complexidade crescente das cidades, à procura de novos tipos de planejamento alternativo, capazes de absorver o que emerge e é gerado pelos meios urbanos. Providenciar espaços para isto – lugar de encontro – demanda uma valorização da descoberta de qualidades do espaço, além de sua reinterpretação. Esse viés de leitura elege a cidade como um laboratório e campo de experimentação” Marcos L. Rosa
Ao identificar os “vazios construídos,” os “vazios territoriais” e os “vazios lineares” como territórios de intervenção, e ao utilizar-se de conceitos de “tecnologias do estranhamento,” do “choque metropolitano,” da “desestruturação,” da “sobreposição,” do “cruzamento de programas” e de “eventos”, apresentados por Bernard Tschumi como técnicas geradoras e multiplicadoras de situações, procurou-se fundamentar a necessidade do vazio, principalmente do vazio ocupado, com atividades, um vazio encarado não como residual, e sim como estimulante para a multiplicação de relações sociais. A exploração dos vazios das áreas centrais como medidas impulsionadoras do processo de revitalização, procura mostrar uma alternativa de caminho a ser seguido sem a prepotência de impor-se como única solução ou como uma teoria infalível. As intervenções aqui exemplificadas devem funcionar como impulsionadoras, porém a verdadeira recuperação dos bairros é um processo lento e que exige aspectos que extrapolam as intervenções físicas.
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