Guião o conflito de camila joana bordad'água 8568

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“O conflito de Camila”

Joana Borda D’Água, 8568

O conflito de Camila Guião de J. Bolota Borda D’Água


“O conflito de Camila”

Joana Borda D’Água, 8568

FADE IN

CENA 1. EXT/TARDE- FACULDADE DE BELAS ARTES PORMENORES DA ENTRADA DA FACULDADE A imagem abre na entrada da faculdade e apresenta-se sobre o aparato normal: uma certa confusão moderada onde livros e pensamentos são partilhados. Uns estudantes entram, uns saem enquanto outros conversam num ambiente bastante sociável.

Som ambiente

CAMILA Não faço a mínima de como conseguirei escrever uma história! (Desesperada)

COLEGA DE TURMA Epaaaa! Lá estás tu a criar histórias onde elas não existem… (Sem pachorra, a revirar os olhos, com um sorriso maroto) Olha!(Como quem tem uma ideia luminosa) Podes sempre pegar numa delas!

CAMILA Eu sei, eu sei...Bah! Lá estou eu outra vez a fingir que sou complicada, na é?

COLEGA DE TURMA Sim Camila! (Concordando com a cabeça)

CAMILA Falei aquilo que me ia na cabeça mas sei que isto não é nada que não se faça! Eu sei! (Respirando fundo) Sem nervos, Camila! Corta para:


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CENA 2. INT/MANHÃ- QUARTO/CASA DE CAMILA No seu quarto arrumado, tirando uma ou outras peças de roupa que estão em cima da cama, Camila começa a dobrar a roupa. CAMILA (Falando sozinha) Opa, Camila! Deixa-te mas é disto e vai pensar numa história…(Enquanto dobra uma camisola sem olhar para ela e enfiando-a na gaveta que tem umas peúgas penduradas). Quer dizer… (Pegando no top que usa para fazer yoga) Não… (Acenando a cabeça) primeiro é o conflito! (Como se fosse uma grande descoberta) Na… É isso mesmo! Ok… conflito então! (Animada, dobra as peúgas e enfia-as para dentro do armário, fechando a gaveta com força) Um conjunto de forças antagónicas que levam uma personagem a agir! Ahah! (Rindo-se orgulhosa de saber a definição de conflito)

A porta do armário fecha-se mas volta a abrir-se com a força de Camila e uma camisa cai.

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CENA 3. INT/NOITE- QUARTO/CASA DE CAMILA Com a cabeça deitada sobre a mesa, como quem está à espera que uma ideia caísse do céu, Camila começa a pensar sobre o que mais gosta de fazer e o que marca a sua vida. CAMILA (Falando sozinha) Aiii! (sorrindo e levantando a cabeça lentamente) é isto! é agora! Ok! Bora lá! (Dando palmadinhas apressadas na escrivaninha).

Começa por escrever a Storyline no seu portátil: “ Um rapaz que luta pelo sonho de ser animador na Pixar Studios, sem o apoio do pai, acaba por não gostar do emprego de sonho, despedindo-se”. CAMILA (Falando sozinha) Ok… (Parada a olhar em frente em direção à parede, petrificada). É isto mesmo! (Com ar petrificado e cara séria)

Ganhando entusiasmo, de repente, Camila envia um e-mail ao tio, pedindo opinião ao seu tio.

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CENA 4. INT/MANHÃ- QUARTO/CASA DE CAMILA Camila vê o seu e-mail e verifica que já tem um feedback do seu tio, onde este escreve: “Querida sobrinha, pelo que li, não tens uma personagem com um conflito consistente, nem tão pouco uma história que resulte… É só uma situação, tá? CAMILA (Falando sozinha) Pois… o meu tio é capaz de ter razão. Era só uma situação… (encolhendo os braços). Escreve uma outra história, agora baseada na história da sua avó como modo de conhecer algo dela que não tivera oportunidade de presenciar: “Júlia vive uma paixão que se torna casamento com uma pessoa que acaba por maltrata-la. Nunca tomara uma posição em prole dos filhos, pois dependia de Xavier para sustentar os filhos. No entanto, chegando a um ponto em que perde a noção de quem é devido à angústia que carregou durante anos, decide pôr fim à vida de Xavier.”

CAMILA (Falando sozinha) Opa, não sei se esta vai resultar… encostando as costas à cadeira e espreguiçando-se). Mas não, esta é uma boa maneira de conhecer melhor a minha avó. (Ar infeliz mas decidido, olhando para o teto como se fosse a sua fonte de inspiração).

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CENA 5. INT/NOITE- QUARTO/CASA DE CAMILA Camila envia outro e-mail ao tio a pedir uma opinião sobre a nova história, desta vez sobre a sua avó. Passados uns minutos O Tio responde.

STOCK-SHOT DE PASSAGEM DE TEMPO

TIO DE CAMILA (E-mail electrónico) “Camila, Camila… Tanto entusiasmo ao retratar esta história, que conseguiste camuflar o seu potencial com o final tão dramático que lhe deste. É uma pena. Vai pensando noutra história! Eheh :p”.

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CENA 6. INT/MANHÃ- QUARTO/CASA DE CAMILA Camila levanta-se bem cedinho, começa logo a escrever uma outra história, bebendo o seu chazinho verde matinal. Bastante convicta de que quer e vai conseguir arranjar um conflito consistente, escreve a seguinte história: “Incompreendido pela família por ser mau aluno, numa família onde o pai se demonstra intolerante, Benjamim, com sete anos, enfrenta o pai, não aguentando a pressão. Este acaba por retirar de Benjamim aquilo que mais adora, a dança, acreditando que é com rigor e disciplina que consegue educar o filho. O que se desconhece é que o filho tem dislexia.” Camila envia uma nova mensagem ao tio a pedir, novamente a sua opinião.

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Cena 7. INT/TARDE- QUARTO/CASA DE CAMILA Deitada na cama e esperando a resposta do tio, ouve a notificação de uma mensagem: “Novamente, Camila… Não tens conflito! Mas qual é o problema do rapaz ter dislexia? Muita gente a tem e vive bem com isso! Querida sobrinha, estás proibida de escrever uma nova história! Vai fazer outros trabalhos, vai sair, vai ver o mar e os passarinhos, mas não penses mais nisto durante uns dias.

Num ambiente desarrumado, onde a cama se confunde com a banca de uma loja, num dia de saldos, Camila encontra-se sentada em frente à sua secretária repleta de papéis mal tratados a ler a mensagem do Tio. CAMILA Xiça! Como é que é possível? Tantas histórias escritas seguidas de tanta pesquisa e reflexão e mesmo assim não consigo arranjar um bom conflito! Parecem tão bonitas, tão boas. Ainda me iludo ao pensar que cheguei à certa mas não… (Com tom irónico e abanando a cabeça). Tenho sempre um e-mail do meu querido tio a dizer: “Não dá, querida sobrinha! Passa a outra. Não tens conflito” (Fazendo uma voz de gozo). Mas também… (Mudando o tom e ganhando consciência) Se eu gostasse do que escrevesse também já tinha mandado as opiniões, do meu querido tio (arregalando os olhos), à fava! (encolhendo os braços)

Camila, colocando uma música para relaxar, deita a cabeça sobre a mesa, suspirando.

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CENA 8. INT/NOITE- QUARTO/CASA DE CAMILA Ao chegar a casa, de uma festa a que fora para desanuviar a cabeça e pegando no tapete de yoga, começa a lembrar-se, da festa e da figura de parva que fizera.

FLASHBACK- INT/NOITE- CASA DE AMIGA DE CAMILA Camila está na festa onde persegue os amigos a pedir ajuda, lamuriando-se sobre o conflito que não consegue arranjar. AMIGA DE CAMILA Epá, mas qual é a neura?! Eu também vivo um enorme conflito com a matemática e não me vês a queixar! (Rindo-se) FIM DO FLASHBACK CAMILA Já nem me apetece fazer yoga! (arrumando apressadamente o tapete) Que parva! Vou para uma festa para me distrair e só consigo pensar na nhanha de um conflito! (irritada, com um olhar confuso, tropeça no tapete e começa a chorar e a rir-se, de si mesma, ao mesmo tempo que se olha ao espelho)

E como se não bastasse ainda não ter uma história, enquanto os outros já têm todos uma, ainda tenho de ler a Antígona? (Irritada, continuando a olhar-se ao espelho enquanto limpa as lágrimas de crocodilo) Ai a antígona! Qui coisa má lindá! (Com ar e voz de gozo). Raio que o parta o conflito dos Creontes e das Isménias! Quer dizer, para o meu querido tio (novamente com tom de gozo) estraguei a história da minha avó pois dei-lhe um final muito dramático. Então e furar o fígado com as próprias mãos é o quê? Romântico? LOL! (Seca)


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Corta para: CENA 9. INT/MANHÃ- CASA DE BANHO/CASA DE CAMILA Certo dia, ainda sem chegar a conclusão alguma e tomando banho, começa a refletir, mas de modo bastante calmo, com uma calma que não sentia à alguns dias.

CAMILA É isto mesmo! Vou contar a minha própria história! Já não quero saber! (Tranquilamente decidida) EUREKA! Como diz o outro! Ahah (rindo-se de si própria)

CENA 10. INT/TARDE- ENTRADA/CASA DE CAMILA Camila convida o seu tio para ir a sua casa de modo a contar que já tem história, uma história definitiva desta vez.

TIO DE CAMILA Querida sobrinha, todas as histórias têm potencial, desde que o autor acredite nelas. Eu só te incentivei a abandonar todas as tuas histórias pois sabia que não acreditavas nelas! Tu própria sabes que a confiança tem muita influência na tranquilidade de uma pessoa. Sua tontinha! Sais mesmo ao teu Tio! (Dando uma palmadinha no braço de Camila)


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Corta para: CENA 11. INT/NOITE- QUARTO/CASA DE CAMILA Camila vai então deitar-se, a ver se descansa a cabecinha, no entanto não consegue dormir, por não conseguir despachar a tarefa de arranjar um conflito. Já bem de madruga, onde a noite está bem cerrada, Camila começa a ouvir vozes. Vozes estas que se integram num discurso imaginário e que pertencem a escritores com percursos reconhecidos, tais como Aristóteles, Cesário verde e José Saramago. 1ª VOZ (Imaginário de Camila) Não sabes um que é um conflito!!!

2ª VOZ (Imaginário de Camila) Falo de poesias e ritmos mas sou a base teórica que te leva ao conflito que tanto procuras, minha queridaa!

Entretanto, no meio deste sono composto por diálogos alucinados e imaginários, Camila fala com o Fernando Pessoa.

VOZ DE FERNANDO PESSOA (Imaginário de Camila) Como é achas que eu consegui escrever quarenta e nove poemas numa noite só? A minha inspiração vem do ópio. É isto que me acalma o desassossego da alma.


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Corta para: CENA 12. INT/NASCER DO DIA- QUARTO/CASA DE CAMILA Sem sono nenhum, Camila acorda num sobressalto, muito direita na sua cama, com os olhos esbugalhados).

CAMILA É isto! (Serena) Camila liga o portátil e começa a escrever: “Uma boa aluna universitária cuja tranquilidade de vida é interrompida quando tem de escrever uma história para a qual não consegue arranjar um conflito consistente. Entre diálogos alucinados e imaginários com escritores famosos, onde a exaustão se redimensiona, percebe que o maior conflito está dentro de si, resolvendo escrever sobre a sua história.”

FIM


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