Futuro da rádio passa pela convergência com outras plataformas

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Futuro da rád passa pela convergência com outras plataformas

As rádios de informação, Antena 1 e TSF, registam, desde junho de 2012, aumentos sucessivos de audiências, segundo dados do Bareme Rádio, da Marktest. A conjuntura nacional e internacional levanta mais questões entre os cidadãos e motiva uma maior procura de informação, esclarecimentos e respostas. No caso da Antena 1, a subida de audiências ocorre após um corte de 20% nos custos da grelha, explica Fausto Coutinho, o diretor de infor­mação, numa entrevista que também aborda a estratégia para o futuro, o papel das novas plataformas e os desafios enfrentados pelo meio rádio.


dio Fausto Coutinho, diretor de informação da Antena 1


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? Que fatores estão na origem do incremento de audiência das rádios de informação? ! Julgo que as circunstâncias da conjuntura internacional, mas sobretudo nacional, trazem novos desafios, preocupações, angústias e ansiedades, o que leva as pessoas a procurar cada vez mais informação. Isso pode justificar, de forma geral, a subida das rádios – não diria das de informação, mas das que apostam na palavra. No caso da Antena 1, a subida resulta de uma estratégia planeada em con­ junto pelas direções de informação e de programas, para aproximar a rádio das pessoas e das suas preocupações. Não só aumentou a audiência, como aumentou substancialmente o share, para números nunca vistos nos últimos 20 anos, o que significa que não só estamos a atrair ouvintes, como eles permanecem mais tempo. Isto resulta também do facto de cada vez mais procurarmos temas que dizem respeito às pessoas e que vão ao encontro das


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preocupações que elas têm e às respostas que procuram no dia-a-dia. Este modelo de rádio de palavra, mais do que de informação, porque há muitos conteúdos que não são informativos, mas recrea­ti­vos, é uma obrigação do serviço público. O caminho que traçámos e as estratégias que definimos são uma aposta ganha. As pessoas identificam-se com a forma como a Antena 1 faz rádio, pela sua credibilidade e pelo grau de exigência que impomos a nós próprios. ? Acha que o ouvinte de hoje é mais exigente? ! Sem dúvida. Hoje, cada ouvinte tem mais informação à disposição, não só nas plataformas clássicas, mas nas novas plataformas. São ouvintes mais exigentes e melhor informados. A rádio evoluiu, nos últimos anos, para uma maior interatividade com os ouvintes, o que lhes proporciona a possibilidade de


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participar e intervir de alguma forma nas discussões e nos debates, o que constitui um elemento verdadeiramente atrativo. Eu diria que uma das marcas distintivas da Antena 1 é o rigor da informação, da palavra. A nossa programação está a refletir o planeamento e uma estra­tégia, que não é do momento, mas consolidada. Julgo que estamos a conseguir esse retorno, em termos da credibilidade que os ouvintes nos atribuem e da empatia que estamos a conseguir criar com eles. ? A Antena 1 disponibiliza programas informativos, desportivos, de humor e sobre artes e cultura? O que é que os ouvintes mais procuram? ! O desporto. Principalmente os relatos de futebol, até porque a Antena 1 é neste momento o único canal que dedica importância e espaço informativo não apenas aos clubes grandes, mas também aos pequenos. É uma informação transversal que tem atraído mui-


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tos ouvintes. O formato de informação da Antena 1, em prime time, é também muito atrativo, também pela transversalidade geográfica dos temas, o que tem contribuído muito para a coesão nacional, através de programas como o “Portugal em Direto”, por exemplo, dedi­ cado às regiões. São espaços importantes para que as regiões tenham voz e para que essa voz possa chegar a Lisboa. Fizemos uma alteração muito impor­tante no último ano, porque o “Portugal em Direto” tinha quatro versões, uma no norte, outra no centro, outra em Lisboa e outra a sul. Não fazia sentido, o território nacional é uno e uma boa reportagem em Bragança pode ser ouvida no Algarve. Além disso, com o formato anterior, uma ansiedade de Bragança não chegava aos “ouvintes do poder” no Terreiro do Paço, porque a emissão era local. Acabámos com esse desmultiplicar da emissão e foi um passo importante, porque se torna muito mais atrativo para quem participa nas reportagens, uma vez que as pessoas ficam a saber que a sua voz chega mais longe. Portanto, o desporto,


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o “Portugal em Direto” e o formato de informação, descon­traída mas rigorosa, exigente mas capaz de criar empatia, são muito importantes. A informação, sobretudo porque trata de temas da vida das pessoas, que não são distantes. E falo em distância emocional, porque nunca perdemos a noção global. Temos feito reportagens em todo o mundo e uma vasta cobertura dos temas que marcam a atualidade no mundo inteiro, com uma rede de correspondentes que nos permite fazer isso. Temos a preocupação de enquadrar Portugal nesse mundo, sem perder a referência local. Isso reflete-se na programação informativa e recreativa e na importância que damos à chamada informação útil, como a meteorologia ou o trânsito, que é uma referência. ? A crise económica e financeira que o país atravessa pode ter aumentado a procura pela informação, especificamente a económica? A rádio é eficaz no esclarecimento das dúvidas que daí advêm? ! Nos últimos dez anos, a rádio intensificou a informação económica, para se adaptar às necessidades das pessoas. Contudo, a rádio é o meio mais difícil para traduzir a linguagem técnica. É o meio que exige mais esforço dos comunicadores, porque não tem imagem, nem acesso ao grafismo. Ainda assim, acho que contribui, e muito, para descodificar o jargão técnico e para levar a um maior número


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de pessoas uma linguagem mais simples, mas nem por isso menos rigorosa. Verificou-se o reforço das equipas especializadas em economia, política internacional e assuntos europeus. Tivemos, durante anos, uma parceria com o Jornal de Negócios e hoje temos uma com o Diário Económico. Procuramos ter essa mais-valia especializada que só os jornais económicos podem ter. Nenhuma rádio tem este nível de especialização e criamos estas parcerias para ter acesso a informação privilegiada sem qualquer custo para a rádio.


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? A colaboração entre meios pode ser o caminho para ultrapassar a crise originada pela quebra das receitas publicitárias? ! Já o fazemos há alguns anos. No caso das rádios do grupo RTP, a nossa colaboração começa por ser interna, temos hoje uma maior proximidade entre a rádio e a televisão, que nos permite aproveitar as mais-valias de cada meio. Temos, internamente, uma enorme capacidade e várias valências que temos vindo a aproveitar e a intensificar. Externamente ao grupo, só procuramos sinergias temporárias ou específicas, como o caso que referi da informação económica, ou como também já tivemos para a informação desportiva, em que ganhamos a especialização que não podemos ter. A tese de colaboração entre meios, que vai além da organização interna, implica que os órgãos se redimensionem e encurtem, agregando-se ou colaborando. Isso tem um perigo iminente, o dos despedi­mentos. E não é esse o caminho que estamos a seguir, mas o do melhor aproveitamento dos recursos que temos. O aspeto mais curioso desta subida de audiência é que ocorre depois de um corte de custos de grelha de 20% entre 2012 e 2013. A Antena 1 fechou 2012 com um rigor e uma execução orçamental como nunca tinha ocorrido na RTP, desde que a rádio e a televisão estão juntas. É interessante perceber que, apesar do corte na despesa, conseguimos aumentar a audiência, o que significa mais critério e mais rigor na execução


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orçamental. Não perdemos nada, fomos ao mundo inteiro, ninguém informou como nós sobre a guerra na Síria ou sobre outros pontos do mundo, estivemos onde era preciso estar. Infelizmente, já vários grupos tiveram de dispensar funcionários e todos estão a fazer cortes. Nós temos um plano de rescisões amigáveis ainda em curso e, como já foi dito pelo presidente, não se excluem outros cenários. ? A estação tem vindo a ganhar mais ouvintes através do online ou através da emissão tradicional? ! Não sei responder com rigor, porque não sei quantos dos ouvintes cruzam as duas emissões. Eu próprio sou um ouvinte clássico, mas não dispenso a internet nem as plataformas móveis. E num universo tão pequeno quanto Portugal, certamente haverá muitos ouvintes nas várias


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plataformas. Crescemos muito no online, mas também na emissão tradicional. E o equilíbrio entre as diferentes plataformas é absolutamente fundamental. Hoje, a rádio não vive sem o online e o online, por si só, não teria o valor que tem se não estivesse associado a uma rádio ou a uma televisão. ? O digital está a potenciar o rejuvenescimento do meio? ! A rádio teve a necessidade de se reformatar, muito por via do digital. Mas, mesmo antes disso, nos últimos vinte anos, houve transformações muito importantes e em vários momentos a rádio sentiu a necessidade de se aproximar das pessoas e de ser mais informal. O digital abriu portas mais amplas e introduziu novos desafios, que resultam de um novo olhar dos utilizadores. Quem mais recorre à internet são os jovens, facto que permitiu, a quem pensa a rádio, perceber que há uma franja de ouvintes muito importante, com um olhar diferente e outras leituras da atualidade, que importa também servir.


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? De que forma podem as rádios portuguesas aproveitar as potencialidades do digital? ! Devem consolidar o caminho que já estão a seguir. O grupo RTP tem uma noção clara do posicionamento e do que é necessário fazer em relação ao online. Importa agora dar passos seguros e consolidar a estratégia, sendo que as novas plataformas são um desafio constante, já que as transformações tecnológicas surgem com tal rapidez que obrigam, por vezes, a um reposicionamento da estratégia. A RTP está numa situação privilegiada porque se apercebeu disso há muito tempo e percebe a importância da inovação tecnológica e de não perder este comboio. ? O que está reservado para o futuro da rádio? ! Neste momento temos dois tipos de desafio. A curto-prazo, ao nível das rádios RTP, já está a ser trabalhado o aproveitamento das sinergias e da convergência de conteúdos com a televisão e as restantes plataformas. Este desafio introduz algumas alterações que são, no limite, alterações culturais das próprias redações. Levam-nos a trabalhar cada vez mais em conjunto, numa tentativa de reduzir custos, mas, mais do que isso, para criar uma equipa capaz de dar resposta às exigências


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das diferentes plataformas, sem nunca perder a identidade e a autonomia de cada meio e as características próprias que inevitavelmente têm de ser respeitadas. Não podemos perder nunca a noção das características e dos públicosalvo de cada meio, mas isso não nos impede de trabalhar e planear em conjunto, todos temos a ganhar. Este é o grande desafio dos próximos tempos da rádio enquanto meio – adaptar-se às exigências e aos desafios introduzidos pelas multiplataformas, sem perder a noção da sua identidade. A rádio não é, nem nunca foi, um meio menor. A rádio tem uma coisa que mais nenhum meio tem: permite a cada ouvinte definir, na sua cabeça, o que é a atualidade e que imagens está a receber. A imagem limita a imaginação, mas, com a rádio, a imaginação pode voar pelas palavras. Essa é a magia da rádio e, enquanto ela não desaparecer, a rádio não desaparece.


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