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editorial
A vida de um mestre Nessa públicação percebemos como um
que tanto contribuíram para o crescimento
grande expoente da música nacional e in-
da música nacional. Nomes eternizados no
ternacional construiu sua carreira e se tor-
cenário nácional como Vinícius de Morais e
nou um dos principais responsáveis pela
Elis Regina aparecem de uma maneira que
popularização e intercionalização da músi-
você nunca viu antes, expondo e compondo
ca popular brasileira. Mergulhamos a fundo
a história do nosso arquiteto musical. Nessa
na vida de um mestre multi-instrumentista
públicação você irá ter a chance de conhecer
chamado Antônio Carlos Jobim, o Tom que
não somente a vida de Tom Jobim, mas o in-
tanta alegria e felicidade proporcionou ao
ício de uma nova era da música nacional e o
povo brasileiro com a genialidade de suas
sentimento patriota que ilustre artísta tinha
criações. Além disso, temos a oportunidade
pelo nosso país e que com toda certeza, foi
de disseminar algo muito importante para
fundamental para o seu sucesso profissional.
nós brasileiros que é conhecer a origem e Lucas Camargo
edição única - 17/06/2015
os grandes compositores, músicos e artístas
Editor
Redação e Edição
Fontes utilizadas
João Flesses
A Completar
Core Sans A, Caturrita, Ac-
Lucas Camargo Diretor A completar
cent Designers João Flesses
Papéis utilizados
Lucas Camargo
Capa - Couchê 300g Miolo - Couchê 150g
Jornalista Responsável
Impressão e acabamento
A completar
Técnicópias
Projeto Gráfico
Capa
Lucas Camargo
Lucas Camargo
João Flesses
João Flesses
2
índice
Biografia
Maestro soberano da música popular brasileira por Lucas Camargo
Músicalidade
O mais importante compositor da música brasileira por Gabriel de Sá
Vida íntima
Atleta da Música? extraído de Memória Viva
Bossa Nova
Contexto histórico do surgimento da Bossa Nova por Rainer Golçalves Souza
Garota de Ipanema
10 curiosidades sobre a Garota de Ipanema por Esnesto Neves
3
04 06 10 14 15
biografia
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim 25 de Janeiro de 1927 8 de Dezembro de 1994
O maestro soberano da Música Popular Brasileira A verdadeira verdade sobre Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim haverá de ser exata quando, ao relatar o anseio original do carioca da Tijuca-de-Ipanema, em vez de lembrar que ele queria ser um arquiteto, afirmar que ele foi o mais brilhante arquiteto das harmonias e melodias brasileiras. Tom Jobim, que chegou a cursar a Faculdade de Arquitetura propriamente dita, edificou o que veio a ser chamado Música Popular Brasileira, termo vago e generalizante como todo rótulo, mais impreciso quando engloba a obra de um gênio que se notabilizou por descrever em sons o que nem as palavras alcançam - a montanha, o Sol, o mar e outras maravilhas da arquitetura divina.
O Multi-instrumentista da MPB
Apesar de um dia ter afirmado que “fazer sucesso no Brasil
Compositor, maestro, pianista, cantor,
Tom nunca deixou de pensar em feijoada e caipirinha
arranjador e violonista com participação
enquanto os donos do mundo lhe serviam champanhe e
em mais de 50 discos, ele nasceu em 25
caviar e dançavam um som que nem era
de janeiro de 1927, na Cidade Maravilho-
para dançar. Feito um “Garrincha
sa que tanto descreveu, e morreu em 8
de fraque”, Tom encarava
de dezembro de 1994, na Nova York que
o mais suntuoso teatro
mordiscou a contragosto, para onde foi
gringo como se fosse um
porque sua música tinha horizontes tão
inferninho do Beco das
universais que se tornou indispensável
Garrafas, onde tocou
amplificá-la no centro do furacão mundial.
pra ganhar uns troca-
é ofensa pessoal”, por conta das críticas locais ao refinamento de sua obra, igualmente taxada de americanizada,
dos, no início dos anos 50. Acabou concedendo um típico chiado da Guanabara às idiossincrasias do jazz.
4
“
Dediquei minha vida à música brasileira, porque já tem francês para escrever música francesa, americano para escrever música americana. Tom Jobim
”
Aluno de Hans-Joachim Koellreutter e discípulo de Villa-Lobos e Debussy, arranjador da gravadora Continental, por onde lançou o primeiro sucesso, “Tereza da Praia” (1954), compositor das músicas da peça Orfeu da Conceição (em 1956, com letras de Vinicius de Moraes), Tom concebeu a trilha sonora da Pasárgada brasileira, o país futurista idealizado por JK e traçado por Oscar Niemeyer, o campeão mundial de futebol de 1958 que, movido por craques que subvertiam a lógica cartesiana dos joõesdas- canelas-brancas, se assemelhava ao genial João de Juazeiro (Gilberto do Prado Pereira de Oliveira), o craque que driblou a batida do samba para construir a bossa nova.
João Gilberto tocou violão no LP Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso; Tom Jobim forneceu as melodias e harmonias para este que foi o marco da bossa. João gravou “Chega de Saudade”, em 1959; Tom fez os arranjos. E compôs “Garota de Ipanema”, “Samba do Avião”, “Só Danço Samba”, “Ela É Carioca”, “Insensatez”, “Wave”, “Águas de Março”, “Retrato em Branco e Preto”, “Eu Sei que Vou Te Amar” e outra dezena de canções que carregam nos espaços silenciosos entre as vogais e as consoantes o mais sublime lirismo e o mais discreto suingue da música popular brasileira.
5
musicalidade
O mais importante compositor da música brasileira por Gabriel de Sá
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim detém, há várias décadas, o título de mais importante compositor do país. Muito do prestígio vem, além do número infindável de canções marcantes que criou, do fato de ter levado a música brasileira para o primeiro escalão do showbiz internacional. Contudo, a canção mais emblemática da carreira, Garota de Ipanema, parceria com Vinicius de Moraes e responsável por projetar o artista carioca mundo afora, foi uma das que menos gerou lucros para ele.
De nada valeriam os esforços dos her-
“Não foi Tom que levou a música brasileira para fora. Foi
deiros se Tom Jobim não tivesse tocado
a música dele que o levou”, opina Danilo Caymmi, que to-
definitivamente a alma do povo brasileiro
cou na banda do artista entre 1983 e 1994. “Tom tinha uma
com suas composições. Canções como
compreensão profunda do povo brasileiro.” Ana Jobim disse
Chega de saudade, Desafinado e Sam-
ao Correio que a família não planejou nada para marcar a
ba de uma nota só mantêm-se vivas no
passagem pelos 20 anos de morte do maestro soberano —
imaginário popular e ajudam a contar a
como o amigo e parceiro Chico Buarque o chamava —, mas
história do país no último meio século.
que devem celebrar o aniversário dele, em 25 de janeiro.
Quando morreu, o perfeccionista Tom Jo-
“Este, na verdade, é um momento doloroso”, comentou a
bim deixou 13 músicas em processo de
viúva.
criação. Elas pareciam prontas, mas, para o autor, ainda não estavam boas o bastante. Além disso, no arquivo dele, havia outras 181 partituras inéditas.
6
“Outra Vez” A. C. Jobim
A música “Outra vez” é anterior à Bossa Nova. O João colocou o ritmo de bossa nova e seguiu com a orquestra. Eu tinha gravado com o Dick Farney, era um sambacanção. Teve uma fase em que o João pensou em pegar todos aqueles clássicos, como “Por causa de você”, e botar tudo em bossa nova, coisa que jamais fizemos. No caso da “Outra vez”, gravada pelo João, a música ficou com uns espaços, enquanto o ritmo vai correndo solto, e as frases melódicas aparecem de vez em quando. O grande salto do samba-canção para bossa nova foi essa batida do João. Essa batida do João hoje em dia está incorporada. O universo todo conhece essa batida (SOUZA, CEZIMBRA & CALLADO, 1995: 120).
Artigo completo em:
http://www.anppom. com.br/congressos/ index.php/ANPPOM2013/ Escritos2013/paper/ viewFile/2502/441
Antonio Carlos Jobim concedeu essa
em Nova Iorque, em 21 de novembro
entrevista na década de 1990. A pri-
de 1962, João a interpretaria ape-
meira gravação de “Outra vez” (A. C.
nas com seu violão e o acompanha-
Jobim) foi realizada por Dick Farney
mento de Milton Banana na bateria
em 1954, com orquestra regida por
(JOÃO GILBERTO, 1982). Mas Jobim
Alexandre Gnattali (FARNEY, 1997).
não cita a execução no Carnegie Hall,
João Gilberto gravou a composição
como tampouco cita que “Outra vez”
em 1960, com direção musical de Tom
foi gravada por Elizete Cardoso, com
Jobim, para o disco O amor, o sorri-
violão de João Gilberto, para o disco
so e a flor (JOÃOGILBERTO, 1990).
Canção do amor demais, lançado em
No show Bossa Nova (New Brazilian
1958 (CARDOSO, 1998)
Jazz), apresentado no Carnegie Hall, 7
Arquiteto da mĂşsica popular brasileira
Tom Jobim 8
musicalidade
Na sua carreira profissional, Tom foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista.
Cantor
Compositor
Canto é o ato de produzir sons
Compositor (feminino: composito-
musicais utilizando a voz, variando
ra) é um profissional que escreve
a altura de acordo com a melodia
música. Normalmente o termo se
e o ritmo. Aquele que executa o
refere a alguém que utiliza um
canto ou, simplesmente, canta, é
sistema de notação musical que
chamado de cantor.
permita a sua execução por outros músicos.
Arranjador
Pianista
Arranjo, em música, é a prepa-
O pianista é um músico que toca
ração de uma composição musical
piano. Os profissionais da área
para a execução por um grupo es-
tocam peças a solo, em conjunto
pecífico de vozes ou instrumentos
com uma orquestra ou um conjunto musical, ou acompanhar um ou
musicais. Isso consiste basica-
Violinista
Maestro Maestro ou regente é alguém que
O violino é um instrumento musi-
rege uma orquestra ou coro. O ter-
cal, classificado como instrumento
mo também e aplicado a um virtu-
de cordas friccionadas. É o menor
ose ou grande compositor.
e mais agudo dos instrumentos de sua família 1 (que ainda possui a 9
vida íntima
Atleta da música? http://www.memoriaviva.com.br/mpb/tomjobim.html
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim
ma perdia um jovem atleta que praticava ca-
nasceu em 25 de janeiro de 1927, no bairro
poeira, peteca e vôlei de praia, além de at-
da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em 1931, ano
ravessar a nado a Lagoa Rodrigo de Freitas”
de nascimento de sua única irmã, Helena, a
sem dificuldades. Para compensar, estava
família se muda para Ipanema. Aos 13 anos
nascendo para o mundo o mais conhecido e
inicia seus estudos de piano com Hans Joa-
um dos mais respeitados compositores bra-
chim Koellreuter, um jovem alemão que fu-
sileiros.
gira do nazismo. Nesse tempo ele preferia certas aventuras e a prática de esportes. No alto de uma pirâmide humana na praia de Ipanema, em 1944, Tom tentou se apoiar no ombro de um amigo. Escorregou no corpo suado e despencou na areia o que resultou numa crônica dor no nervo ciático. “Ipane-
Em 1946, entra para a Faculdade de Ar-
Blanco, e Tom conheceria Vinícius de
grande passo para a Bossa Nova con-
quitetura, que é abandonada naquele
Moraes, de quem se tornaria parceiro,
squistar o mundo.
mesmo ano. Em 1949, casa-se com
dois anos mais tarde, ao musicar a
Thereza Hermanny, uma paulista pela
peça Orfeu da Conceição. Em agosto
Em 1962, Tom e Vinícius compõem
qual se apaixonara sete anos antes em
de 57, nasce Elizabeth, sua segunda
Garota de Ipanema e, em novembro do
Ipanema. No ano seguinte nasce Pau-
filha. Em 1958, compõe a trilha so-
mesmo ano acontece o show da Bossa
lo, primeiro filho do casal. Em junho de
nora para o filme Pista de Grama, de
Nova no Carnegie Hall, em New York. É
1953 acontece a primeira gravação de
Haroldo Costa. A música Eu não existo
a primeira viagem de Tom ao Estados
suas músicas: Pensando em Você, Faz
sem você, de Tom e Vinícius, inédita na
Unidos. Em menos de 5 anos, em ja-
uma semana (também de João Stock-
época, foi cantada no filme por Elizete
neiro de 1967, começaria a gravação
ler), na voz de Ernani Filho.
Cardoso, com acompanhamento de
do LP Francis Albert Sinatra & Antonio
João Gilberto no violão e Tom ao pi-
Carlos Jobim. A América já havia se
Já em 1954, Dick Farney e Lúcio Alves
ano. Ainda nesse ano, surgiriam o LP
rendido a Tom Jobim e à Bossa Nova.
gravam Tereza da Praia, que se tornou
Canção do Amor Demais, em parceria
Nos próximos dez anos sua vida seria
o primeiro sucesso de Tom, em parce-
com Vinicíus, tendo João Gilberto ao
uma eterna ida e vinda entre Brasil e
ria com Billy Blanco. Neste mesmo ano
violão e Elizete Cardoso como cantora;
Estados Unidos. Em maio 1978 Tom
seria lançado o LP Sinfonia do Rio de
e as gravações de Desafinado e Chega
viaja com Ana Beatriz Lontra para New
Janeiro, também em parceria com Billy
de Saudade, por João Gilberto. Era o
York, em lua de mel. O primeiro filho
10
do casal, terceiro de Tom, João Fran-
mesmo ano. Em 1949, casa-se com
Moraes, de quem se tornaria parceiro,
cisco, nasceria em outubro de 1979.
Thereza Hermanny, uma paulista pela
dois anos mais tarde, ao musicar a
Em março de 1987 nasce sua quarta
qual se apaixonara sete anos antes em
peça Orfeu da Conceição. Em agosto
filha, Maria Luíza Helena. Tom já tem
Ipanema. No ano seguinte nasce Pau-
de 57, nasce Elizabeth, sua segunda
60 anos.
lo, primeiro filho do casal. Em junho de
filha. Em 1958, compõe a trilha so-
1953 acontece a primeira gravação de
nora para o filme Pista de Grama, de
Tom Jobim morreu no dia 8 dezembro
suas músicas: Pensando em Você, Faz
Haroldo Costa. A música Eu não existo
de 1994, no Hospital Mount Sinai, em
uma semana (também de João Stock-
sem você, de Tom e Vinícius, inédita na
New York. Já nesta época, eram sete
ler), na voz de Ernani Filho.
época, foi cantada no filme por Elizete
as músicas suas com mais de 1 mil-
Cardoso, com acompanhamento de
hão de execuções nos Estados Unidos
Já em 1954, Dick Farney e Lúcio Alves
João Gilberto no violão e Tom ao pi-
(John Lennon e Paul McCartney, os
gravam Tereza da Praia, que se tornou
ano. Ainda nesse ano, surgiriam o LP
estrangeiros mais tocados no país, tin-
o primeiro sucesso de Tom, em parce-
Canção do Amor Demais, em parceria
ham 12).
ria com Billy Blanco. Neste mesmo ano
com Vinicíus, tendo João Gilberto ao
seria lançado o LP Sinfonia do Rio de
violão e Elizete Cardoso como can-
Em 1946, entra para a Faculdade de Ar-
Janeiro, também em parceria com Billy
tora; e as gravações de Desafinado e
quitetura, que é abandonada naquele
Blanco, e Tom conheceria Vinícius de
Chega de Saudade, por João Gilberto.
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entrevista de Maria Luiza Jobim
Opala e suas nuances sublimes Por Eduardo Araújo e Ana Clara Brant
Opala é o nome do mundo de Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim, junto do seu parceiro Lucas de Paiva (Mahmundi/People I Know) e representa, em partes, a cena da nova música fluminense. As nuances de Opala são sublimes e flertam com um pop oitenta, sobrevoando um aspecto nostálgico nas noites quentes cariocas.
12
“
-Tendo nascido no meio artístico, era meio inevitável seguir esse caminho? -Pois é. E tem os mais diversos tipos de artes na minha família. Tem meu pai, minha irmã Beth Jobim, que é artista plástica, o Daniel (sobrinho), músico também. Gosto muito de desenhar e pintar, tanto que escolhi fazer arquitetura por conta disso. Não cheguei a me formar, mas ocupou grande parte da minha vida. Continuo desenhando, mas acabei optando pela
Escrever em inglês foi um movimento natural.
”
Fui alfabetizada na língua
música mesmo.
-Atualmente você participa de uma
-Você sente alguma cobrança ou peso
trabalhos como produtores também
nova ‘safra’ de músicos, que desenvolve e se ajudam entre si, assim foi o Lucas
por ser filha de Tom Jobim? -Passei muito tempo evitando a música, mas foi inev-
de Paiva para esse novo EP, isso ocorre
itável. Acho que, inclusive, demorei tanto para escol-
para outras várias parcerias. Como
her essa opção, justamemte por causa disso, de ser
começou tudo isso?
filha de artista. Mas nunca senti nenhuma cobrança
-É, esse pessoal todo que faz mil coisas tem criado
ou pressão. Minha música é tão diferente da dele, sou
uma rede muito interessante. Eu e Lucas já nos con-
mulher. É outra coisa.
hecemos faz tempo por meio de família, mas nunca tínhamos tocado juntos. Isso foi acontecer depois do
-E como será essa apresentação aqui em
primeiro show da Mahmundi e quem me levou foi o
BH, no domingo que vem?
próprio Julio Secchin (Com quem na época estava gravando Night Lights).
-Nosso show tem uma tendência de ser mais calmo,
Amei o som de cara e surpresa de reencontrar o Lu-
intimista, apesar de ser um som eletrônico. A apre-
cas. A partir daí, surgiu o desejo de trocar e juntar
sentação tem vários formatos porque já nos apresen-
músicas. Marcela (vale) deu o primeiro passo, me
tamos em boates, em festas, mas em Belo Horizonte
mandando um e-mail falando que tinha curtido a
será num teatro. No repertório estarão as cinco faixas
Night Lights. Logo entramos em contato e comecei
do EP, mas vamos acrescentar outras composições
a encontrar o Lucas com cada vez mais assiduidade,
que já estão prontas. Vai ser uma coisa bem leve,
foi a partir de encontros na minha casa e na do Lucas
tranquila e espero que as pessoas curtam.
“
que criamos o Opala.
-O chillwave é uma ótima assinatura
Passei muito tempo
sua, quais suas maiores referências?
evitando a música, mas
-Acho que bandas como Nite Jewel, Wild Nothing, Blue Hawaii, Beach House.
foi inevitável. Acho que, inclusive, demorei tanto
-Onde começou a sua escolha por can-
para escolher essa opção,
tar em inglês e não em português?
justamemte por causa
-Escrever em inglês foi um movimento natural. Fui alfabetizada na língua e assim como eu, Lucas morou
disso, de ser filha de
muito tempo fora. No começo insisti no português,
artista. Mas nunca senti
mas as coisas saíam engraçadas, travadas!
nenhuma cobrança ou
-E de onde surgiu o nome Opala?
pressão. Minha música é
”
-O nome veio da pedra e da sonoridade da palavra.
tão diferente da dele, sou mulher. É outra coisa.
Após esse EP vocês tem planejamento para algum disco? Ou Videoclipe? Agora é show, show, show e um disco pro fim do ano.
13
bossa nova
O contexto histórico de surgimento da Bossa nova Por Rainer Gonçalves Sousa
Na década de 1950, o Brasil vivenciou algumas transformações que conseguiram aproximar elementos de natureza política, econômica, social e cultural.
Nesse período, a tônica
bates sobre a modernização
com o jazz norte-americano
o
governamental, fortemente
do Brasil também tinham
nas formas de interpretação
acreditava que a bossa per-
representada pelo manda-
outras características. No
e no ritmo desacelerado.
petuava nossa “colonização
to de Juscelino Kubitschek,
âmbito cultural, o discur-
era a de promover a mod-
so de modernização tinha
Além desses elementos ím-
música
ernização do país. Nesse
fortes vínculos com a ideia
pares, a Bossa Nova incor-
Por outro, diversos entusi-
sentido, a industrialização e
de cosmopolitismo. Sob tal
porou a questão da modern-
astas celebravam o fato da
a urbanização eram os ele-
aspecto, a possibilidade de
ização em diversas letras.
Bossa Nova se transformar
mentos centrais de alguns
transformar o Brasil em uma
Não raro, encontramos a
em um sucesso comercial
discursos e ações da época.
referência cultural de âm-
figura de um narrador que
de grande expressão, che-
bito internacional seria um
fala de experiências espe-
gando ao ponto de ser apre-
Essas ações de ordem mod-
modo de romper com a ideia
cificamente vivenciadas nos
ciada por públicos de outros
ernizadora impactaram os
de que o país sempre esteve
centros urbanos ou citando
países.
grandes
reproduzindo os referenciais
diretamente o movimento
estéticos estrangeiros.
das pessoas nas calçadas
Com o passar das déca-
centros
urbanos
do país, estabelecendo no-
discurso
nacionalista
cultural” ao dialogar com a
vos postos de trabalho e o
norte-americana.
e o trânsito dos automóveis
das, a Bossa Nova acabou
classes
É nesse contexto que a Bos-
pelas ruas asfaltadas. Carlos
sendo um gênero musical
médias. Em termos estatísti-
sa Nova, um gênero musi-
Lyra, Tom Jobim, João Gil-
encampado ao conjunto de
cos, a população brasileira
cal que marca esse mesmo
berto, Nara Leão e Edu Lobo
experiências musicais que
ocupava cada vez mais as
período, aparece como uma
foram alguns dos impor-
representam a Música Pop-
cidades e, com isso, o Bra-
manifestação
tantes ícones dessa novi-
ular Brasileira – mais comu-
sil deixava de ser um país
mente representou esse tipo
dade musical brasileira.
mente conhecida pela sigla
essencialmente
de demanda modernizante.
crescimento
das
agrário.
que
eficaz-
MPB. Por fim, a Bossa Nova
Em um primeiro instante,
Ao longo da década de
acabou sendo um marco
essas experiências foram
Por um lado, a Bossa Nova
1960, a Bossa Nova foi alvo
do hibridismo,
da mistura
claramente notadas nas ci-
reafirmava a tradição musi-
de aplausos e vaias no in-
de
referências
dades da região Sudeste.
cal brasileira ao ter o samba
terior das várias análises
estéticas a serviço de uma
Para além do desenvolvi-
como uma grande referên-
sobre tal manifestação de
manifestação artística
mento econômico, os de-
cia. Por outro, dialogava
nossa cultura. Por um lado,
original.
14
diferentes
garota de ipanema
Dez curiosidades sobre a Garota de Ipanema Por Ernesto Neves
Sentados no bar Veloso, 50 anos atrás, Tom Jobim e Vinicius de Moraes encantaram-se com a beleza da jovem Helô Pinheiro, que passava por ali rumo à Praia de Ipanema. Da admiração dos compositores surgiu Garota de Ipanema, uma das mais conhecidas músicas do planeta e que, mesmo após cinco décadas, continua sendo regravada e atualizada por cantores da nova geração. Composta em agosto de 1962, foi lançada somente em março de 1963, tornando-se o maior sucesso da Bossa Nova. Para homenagear a canção que é símbolo da beleza carioca nos quatro cantos do mundo, listamos 10 fatos curiosos sobre Garota de Ipanema.
Nome original
Poucos sabem, mas a canção escrita por Vinicius de Moraes e com melodia elaborada por Tom Jobim chamava-se originalmente Menina que Passa.
A estreia
Para sorte do público presente, a canção foi apresentada pela primeira vez na Boate Bon Gourmet, em Copacabana. Até o início do show, não se sabia direito como seria a melodia.
Versão em inglês
Nascida na Bahia, a cantora Astrud Gilberto deu voz à versão em inglês em 1964. Com arranjos do consagrado Stan Getz, a música estourou nos Estados Unidos e encantou o mais importante cantor da América, Frank Sinatra.
O dia em que Ipane ma virou a Groênlandia
Garota Heavy Metal
Em 2008, os roqueiros do Sepultura deram ao hino da Bossa Nova uma pegada, digamos, rock and roll. Apresentada durante o Grammy Latino daquele ano, em São Paulo, causou reações de fãs acostumados à doce melodia.
Expoente da New Wave dos anos 80, o grupo B-52’s fez uma versão inusitada para a música de Tom e Vinicius. Em Girl From Ipanema Goes To Greenland (ou a Garota de Ipanema vai para a Groênlandia), lançada em 1986, nossa musa deixa o calor de Ipanema e vai viver na inóspita ilha do Hemisfério Norte.
Em todas as línguas
Calcula-se em 170 as versões para a canção. E continua a ser regravada por grandes nomes, entre os quais se destaca a feita britânica Amy Winehouse (1983-2011).
A volta
Em 1985, 23 anos após o estouro da música, Tom Jobim voltou a se apresentar no Carnegie Hall. No espetáculo de encerramento após longa turnê pelo Brasil e Europa, foi ovacionado pelas 3.000 pessoas presentes. Tom voltaria ao palco novamente em 1994.
A bossa carioca conquista Nova York
O sucesso foi tamanho que, três meses após lançada no Brasil, a música foi apresentada em concerto do Carnegie Hall, em Nova York.
15
Nem tudo é festa
O sucesso motivou também disputas judiciais. Em 2001, Helô Pinheiro foi processada por herdeiros de Tom Jobim por usar comercialmente Garota de Ipanema em sua loja de roupas.
elis & tom
Elis Regina e Tom Jobim o início de mais uma parceria de sucesso Por Redação Bravo!
Para comemorar os dez anos de carreira, a cantora Elis Regina pediu um presente à gravadora: fazer um disco com Tom e com as músicas de Tom. O maestro relutou, mas acabou aceitando
“
“Ela conhece meu repertório melhor do que eu. Elis lembrava de arranjos que eu já havia esquecido. Uma coisa incrível.” Tom Jobim
”
16
Tom Jobim e Elis Regina em 1974
Aloysio de Oliveira produziu, Cesar Camargo
Tom odiava surpresas e queria mandá-los de vol-
Mariano e Tom fizeram os arranjos, Elis Regina
ta. “Não é que eu seja anti-social. É que sempre
cantou e teve a participação do maestro em algu-
funcionei, em termos profissionais, com mania de
mas faixas. Não sem antes Tom ter torcido o nariz
perfeccionismo. O Aloysio chegando assim, de
para algumas novidades modernas, como o piano
improviso, com a Elis a tiracolo me apavorou um
elétrico, que Elis defendia.
pouco”, disse Tom na época.
O disco Elis & Tom, gravado no início de 1974, em
No fim, tudo deu muito certo. Houve grande en-
Los Angeles, onde Tom estava morando, teve um
trosamento entre Tom e Elis, que conhecia pro-
começo tenso. Ele foi pego de surpresa pelo em-
fundamente o repertório do mestre. O disco ficou
presário de Elis Regina, Roberto de Oliveira, que
com 14 faixas, entre elas “Águas de Março”, “Só
telefonou avisando que um grupo de músicos e
Tinha de Ser com Você” e “Modinha”. O álbum foi
Aloysio de Oliveira estavam no avião rumo à Cal-
relançado em 2004.
ifórnia para gravar um LP com maestro.
17
entrevista
Clarice entrevista Tom Em 21 de setembro de 1968, Tom Jobim foi entrevistado pela escritora e jornalista naturalizada brasileira Clarice Lispector, para a Revista Manchete. - Como é que você encara o problema da
maturidade?
É
terrível ter quarenta anos? - Tem um verso do Drummond que diz: “A madureza, esta horrível prenda...” não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente.
- Não faz mal, Tom, a gente exige bem.
- Sofro se isto acon-
Há quem diga a liter-
tecer,
alguém
atura e a música vão
me leia apenas do
acabar. Sabe quem
to e mais sério fica na gave-
método vira-página
disse? Henry Miller.
ta. Que não haja mal-en-
dinâmico.
Escrevo
Não sei se ele queria
com amor e atenção
dizer para já ou para
e ternura e dor e
daqui
pesquisa, e queria de
ou quinhentos anos.
volta, como mínimo,
Mas
uma atenção com-
nunca acabarão.
Porque sinto uma espécie
pleta. Uma atenção
Riso feliz de Tom:
de falta de tempo da hu-
e um interesse como
pois hoje em dia estão ouvindo televisão e rádio de pilha, meios inadequados. Tudo o que escrevi de erudi-
tendido: a música popular considero-a seriíssima. Será que hoje em dia as pessoas estão lendo como eu lia quando garoto, tendo hábito de ir para a cama com um livro antes de dormir?
manidade – o que vai entrar
- Com a maturidade a gen-
mesmo é a leitura dinâmica.
te passa a ter consciência
Que é que você acha?
de uma série de coisas que antes não tinha, mesmo os instintos, os mais espontâneos, passam pelo filtro. A polícia do espaço está presente, essa polícia que é a verdadeira polícia da gente. Tenho notado que a música vem mudando com os meios de divulgação, com a preguiça de se ir ao Teatro
tanto o cômico é
“
que eu não tenho mais paciência de ler ficção.
do Drummond que
- Mais aí você está se
diz: “A madureza, esta horrível prenda...” não sei, fica mais capaz, mas também mais
”
acho
que
- Pois eu, sabe, também acho!
- Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso
- Não, meus livros
música, duas coisas
dos de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo. 18
eu
trezentos
da palavra falada e
não são superlota-
exigente.
a
negando, Clarice!
felizmente para mim
Clarice, a gente
esta pergunta, Clarice, a respeito da leitura dos livros,
o seu, Tom. E no en-
Tem um verso
Municipal. Quero te fazer
que
escrita são como a das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal. - E mineral também, e veg-
suas canções? Pense.
etal também! (Ele ri) Acho
Dei-lhe então a epígrafe de
amasse.
que sou um músico que
um de meus livros: é uma
Ai! que saudades me dá da
acredita em palavras. Li on-
frase de Bernard Berenson,
vida
um
tem o teu O búfalo e a Imi-
crítico de arte: “Uma vida
que nunca tive!
so, carente de amor e de
tação da rosa.
completa talvez seja aquela
- Sim, mas é a morte às vezes. rice. Tive uma (uma com huma)
cação com o não eu que não
experiência
que me revelou isso. Assim como também não existe o eu nem o euzinho nem o euzão. Fora essa experiência que não vou contar, temo a
despojamento.
Caí
os estudantes! Se eu não defender os estudando, estou desprotegendo meus filhos. Se esse eco do sucesso não nos interessa em vida, muito
menos
depois
da
morte. Isso é o que eu chamo de mortalidade.
“
experiência que não vou contar,
de savoir faire me
pessoal?
nifica reencarnação, então a
apavora.
estamos negando.
”
dia.
- Você acredita em reencarnação, Tom?
sua vida como com-
”
- Como compositor nenhuma. Na minha vida pessoal, a descoberta do eu e do não
- Como é que você
- A liberdade total. Se como
sente que vai nascer
homem fui um pequeno-bur-
uma canção?
guês adaptado, como artista
- As dores do parto são
eu.
- Qual é o tipo de música
brasileira
que faz sucesso no
me vinguei nas amplidões
terríveis.
do amor. Você desculpe, eu
cabeça na parede, angús-
não quero mais uísque por
exterior?
tia,
do
- Todos os tipos. O velho
causa de minha voracidade,
necessário, são os sintomas
mundo, Europa e Estados
tenho que é que beber cer-
de uma nova música na-
Unidos
veja porque ela locupleta os
scendo. Eu gosto mais de
mente exauridos de temas,
grandes vazios da alma. Ou
uma música quanto menos
de força, de virilidade. O
pelo menos impede a em-
eu
Qualquer
Brasil, apesar de tudo, é um
briaguez súbita. Gosto de
resquício de savoir faire me
país de alma extremamente
beber só de vez em quando.
apavora.
livre. Ele conduz à criação,
o
Bater
com
desnecessário
mexo
nela.
a
Gosto de tomar uma cerve-
- Houve algum mo-
gosto. (Foi devidamente providen-
mento decisivo na
ciada a ida da empregada
sua vida?
para comprar cerveja.)
- Só houve momentos decisivos na minha vida. Inclusive ter de ir, aos 36 anos,
paz de improvisar
aos Estados Unidos, por força do Itamaraty, eu que
um poema que ser-
gostava já nessa época de
visse de letra para uma canção?
-
Muitas
vezes,
que só entende de reencar-
Teus
nação quem tem consciên-
maiores que o mar.
cia das várias vidas que
Se um dia fosse tão forte
viveu. Evidentemente não é
quanto você
pode-se notar tese,
meu ponto de vista: se ex-
eu te desprezaria e viveria
iste reencarnação só pode
no espaço.
antítese e síntese.
ser por um despojamento.
Ou
então
eu
nas
criações
qualquer
em
domínio,
Você sente isso nas
te 19
momentos decisivos na minha vida. Inclusive ter aos Estados Unidos,
tou o que se segue:
talvez
“
Só houve
de ir, aos 36 anos,
- Não sei. Dizem os hindus
são
grandes estados de alma.
balanço de vime, e o céu
uma pequena pausa, me diverdes
completa-
pijama listrado, cadeira de azul com nuvens esparsas.
Ele assentiu e, depois de
olhos
estão
ele é conivente com os
temo a morte vinte - Tom, você seria cae quatro horas por
grandes emoções de positor e na sua vida
ja mas de estar bêbado não
Fora essa
as
Qualquer resquício
um eu para outro, o que sig-
ou externa?
- Além de tudo (ri) e vivam
foram
mos qualquer passagem de
por dia. A morte do eu, eu
além do eu, Tom.
Quais
eu mexo nela.
- Liberdade interna
- Tem alguma coisa
-
eu me neguei. Se nós nega-
morte vinte e quatro horas te juro, Clarice, porque eu vi.
há forma.
quanto menos
armadilha porque sem o eu,
amoro-
há nada. Mesmo no caótico
de uma música
numa
matemático
matemática. Sem forma não
Eu gosto mais
resta um eu para morrer.” - Isto é muito bonito, é o
- A morte não existe, Claagá:
“
que termina em tal identifi-
- Sinto demais isso. Sou
por força do
”
Itamaraty.
carreira internacional
A carreira internacional de Tom Jobim Por Daniel Setti
Tom foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. No ano seguinte compôs, com Vinícius, um dos maiores sucessos e possivelmente a canção brasileira mais executada no exterior: Garota de Ipanema.
20
O ano de 1962 foi significativo para os parceiros
O encontro de gigantes, que reunia a maior voz
Tom Jobim e Vinícius de Moraes, não só pelo
do planeta e o compositor que poucos anos
lançamento dessas duas canções e ainda de “Ga-
antes se tornara uma febre internacional, é resu-
rota de Ipanema” como pelo prêmio que Jobim
mido pela dupla em um deliciosos medley neste
recebeu pelo disco com João Gilberto, entregue
especial televisivo da cadeia NBC, dos EUA. Ella
pela National Academy of Recordings Arts and
Fitzgerald era a outra convidada do programa.
Sciences, na categoria Best Background Arrangement– o primeiro de muitos: em 1982 ele rece-
Arranjado pelo alemão Claus Ogerman – o
beria o Prêmio Sharp de Música Brasileira e, em
mesmo que trabalhou no álbum –, o pacote de
1994, o Grammy, na categoria Best Latin Jazz
canções começa e termina com clássicos da
Performance. Foi ainda o ano que ficou marcado
bossa nova, respectivamente “Quiet Night of
pela primeira viagem de Tom aos Estados Uni-
Quiet Stars” (a versão em inglês do canadense
dos, onde participou, ao lado de outros artistas
Gene Lees para “Corcovado”, de Tom) e
brasileiros, do Show da Bossa Nova, apresentado
“Girl From Ipanema” (adaptação do letrista
no Carnegie Hall de Nova York. Dois anos depois,
norte-americano Norman Gimbel para “Garota
voltaria às terras americanas para se encontrar
de Ipanema”, de Tom e Vinícius). Entre as duas,
com Ray Gilbert, que faria versões em inglês para
Sinatra e Jobim encaixam “Change Partners”,
suas músicas.
de Irving Berlin, “I Concentrate on You”, de Cole Porter.
Os EUA seriam palco de grande sucesso do músico Tom Jobim, que lançou por lá os LPs The
Um documento precioso, além de uma oportuni-
composer of Desafinado plays (Verve/1963),
dade de ver o maestro Tom ao violão, bem como
com arranjos de Claus Oggerman, e The Won-
de presenciar ele, um compositor sublime e
derful World of Antonio Carlos Jobim (Warner
auto-suficiente, se dedicando com afinco à inter-
Bros/1964). Ainda no início da década de 1960,
pretação de canções de outros autores. No caso,
teve uma versão instrumental de Desafinado gra-
duas de suas grandes influências, os autores de
vada por Stan Getz e que chegou a vender um
dezenas de standards norte-americanos Berlin e
milhão de cópias. Em 1967 gravou com Frank
Porter.
Sinatra o LP Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim. O ano de 1972 foi marcado pelo lançamento da primeira gravação de “Águas de Março”, que apareceria em gravação histórica em 74 no disco Elis & Tom, gravado em Los Angeles e lançado em 1974.
Encontro de gigantes: Frank Sinatra e Tom Jobim Frank Sinatra e Tom Jobim, dois dos gênios da música mais admirados por este blog, dividiram microfone – e algumas boas dose de uísque e tragadas de cigarro – na gravação do histórico álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, de 1967. 21
morte
O dia em que Tom Jobim morreu Por Daniel Zanella
Os vinte anos da morte do maestro soberano atestam o virtuosismo de sua obra, uma ruptura na história musical brasileira
Nosso Debussy
Para uma criança de nove anos, 1994 foi um ano longo e inédito – como são todos os anos da infância, intermináveis. O Brasil tinha sido campeão do
Vinte anos depois do fatídico plantão da Globo, o le-
mundo nos Estados Unidos e não poderia existir al-
gado de Tom Jobim segue invencível e infindável,
guém mais importante no Brasil que o Romário, ainda
o nome que está para a música popular brasileira
mais depois da morte trágica de Ayrton Senna. Ainda
como o piano de Claude Debussy está para a músi-
assim, as manhãs de domingo ficaram para sempre
ca francesa, divisor, imperial, embora ele dissesse
mais tristes na vida dos mais velhos. A um plano mais
também se identificar com as notas de Chopin. “Por
íntimo, um avô estava muito doente e logo viriam os
que a música brasileira se parece tanto com Chopin?
derramamentos da primeira paixão, a vizinha, que,
É o primeiro chorão da história”, disse Jobim cer-
ao saber de meus sentimentos, desceu correndo do
ta vez, em uma entrevista clássica ao Pasquim. Um
muro – o que nos separou para sempre. Por isso, foi
parágrafo depois o chama de “veado-herói”. E, com
com um certo estremecimento que recebemos to-
elegância, tira onda do crítico musical José Ramos
dos a chamada do plantão da Globo: na manhã de 8
Tinhorão, que não era lá um grande admirador da
de dezembro morria, em Nova York, então um lugar
obra de Tom.
muito longe, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, em decorrência de uma parada cardíaca.
Luzes da praia
Mesmo a infância não compreendendo muito bem as cores da morte, havia uma comoção diferente no ar, quase etérea. No dia seguinte, todas as emisso-
Surgido para o meio musical no fim dos anos 1950,
ras acompanhavam o cortejo fúnebre até o Cemitério
Tom deixou marcas indeléveis principalmente na dé-
São João Batista, em Botafogo. Logo aparecia um
cada de 1960, o período que ficou conhecido como
Chico Buarque transtornado, dizendo não acreditar
a década que mudou tudo – homem na lua, Wood-
no que estava acontecendo. Helô Pinheiro chorva
stock, Guerra do Vietnã, Golpe de 1964, Cinema
copiosamente. Os repórteres pareciam um tanto
Novo e a bossa nova. Em 1960, João Gilberto lança-
atônitos.
va um 78 rotações com “Samba de Uma Nota Só”, de Tom e Newton Mendonça, o que nos faria repetir
22
mais e mais que isso é bossa nova, isso é muito nat-
Uma de suas melhores histórias é relacionada ao dia
ural – e nunca mais a imagem banquinho + violão se
em que conheceu Vinicius de Moraes. O poetinha, já
dissociaria do gênero.
famoso, procurou-o porque precisava de um músico para criar as canções do espetáculo Orfeu da Con-
Tom Jobim não gostava de ser definido como um
ceição. No bar, Vinicius falou e falou sobre a peça
compositor de bossa-nova. Em seus quase quarenta
e seus propósitos intelectuais. Ao fim do monólogo,
anos de carreira, o admirador de Heitor Villa-Lobos,
Tom pergunta: “Mas vai ter um dinheiro nisso aí?”
Maurice Ravel e Lamartine Babo trouxe à canção as luzes da praia, os olhos da mulher amada, as pais-
Outro causo famoso com Vinicius é dos bastidores
agens da antiga capital brasileira e ainda elementos
de um show. Tom está cantando sem parar “Eu Sei
do folclore, como na retumbante e expressionista
que Vou te Amar”, letra de Vinicius. Subitamente lhe
“Matita Perê”. “As coisas mais geniais do Brasil es-
acomete um pensamento: “Pô, Vininha, você se ca-
tão no Nordeste”. Um álbum intenso e singelo como
sou nove vezes...”.
Urubu, de 1976, por exemplo, simboliza suas buscas musicais, sempre ilimitadas.
Muito ligado às questões da natureza, Roberto Menescal conta que, numa pescaria, começou a estran-
É verdade também que em sua esteira bossa-novista
har que o amigo não pegava nenhum peixe. O anzol
surgiram nomes como Carlos Lyra, Roberto Menes-
estava sem isca. Resposta: “E você acha que eu vou
cal, Sérgio Ricardo e Ronaldo Bôscoli, além da legit-
machucar os peixinhos?”
imação ao olimpo de um tal de João Gilberto. Mas o mundo mal sabia o que ainda estava por vir.
Conhecido por infernizar os músicos com seu perfeccionismo, era de definir as melodias e levar os letristas para um destino sonoro. Chico Buarque
Perfeccionista, por vezes foi mais famoso que Pelé
chamava isso de Golpe do Tom. João Gilberto passou incólume. Num especial para a televisão, Tom reconheceu ter tentado incluir uma nota fora do
Tom era respeitado e idiossincrático. Em 1972, por
acorde no fim de “Desafinado”. João Gilberto foi en-
exemplo, a atriz Jeanne Moreau, durante a gravação
fático: “Não”.
de Joana Francesa no Brasil, disse não saber quem era Pelé, mas conhecer muitas canções de Tom.
“Longa é a arte tão breve a Tom Jobim
23
vida.
”
Processo de criação O projeto da nossa revista foi concebido através de uma grande pesquisa de referêcia na área, tentamos extrair uma paleta de cor estilo anos 60, colorida porém com tons não tão fortes. Além disso, a tipografia serifada dos títulos e dos detalhes transmite uma classe característica da bossa nova. Quando falamos em Tom Jobim, não podemos esquecer do Rio de Janeiro, portanto, utilizamos em grande parte das páginas o elemento gráfico do calçadão de copacabana para referênciar ao rio de janeiro e além disso, deixar a composição das páginas mais orgânica, como é o nosso Brasil, cheio de belezas naturais e de artístas incríveis como Tom Jobim.
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