Livro de AB

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APRESENTAÇAO


S ÚM A R IO I - A Suiça Paulistana: Pompéia II - Modos de morar de Paulo Mendes da Rocha Análises comparativas e sociológicas III - Tectônica, comparativos e análises de obras do arquiteto Paulo Mendes IV - Processo criativo do Paulo Mendes, aplicado ao projeto V - Perspectivas indíviduais Catherine Giulia João Marina Vitória VI - Biografia

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A S U I Ç A P A U L I S TA N A : P O M P É I A

A cidade de São Paulo no período do século XIX, era uma cidade dominada por grandes chácaras compradas pela elite da época, onde se morava e produzia. Com o passar do tempo, os anos 90 fizeram com que essas chácaras fossem vendidas e transformadas em grandes indústrias, devido a necessidade da industrialização para o crescimento e desenvolvimento da cidade. Durante essa época, foram surgindo os bairros mais antigos da cidade. Em 1910, Rodolpho Miranda, compra uma grande parte das terras da Água Branca e da Lapa, a fim de construir um bairro designado a classe média. Para homenagear sua esposa Aretusa Pompéia, deu o nome daquele loteamento de Villa Pompéia. Sua característica formal de Vale, sempre foi valorizado, tanto que o nome “Suíça Paulista”, foi dado por Rodolpho por conta da altitude da região, do clima ameno e de seu ar puro.

O bairro evoluiu bastante no decorrer dos anos, e há quem diga que é um bairro caracterizado por possuir grande movimento e transformação. Desenvolveu-se no início como um bairro horizontal com muitas casas e sítios de arquitetura colonial, e hoje pode-se considerar um bairro vertical por seus edifícios modernos.


Nas imagens antigas acima, o decorrer dos anos nos mostra que a topografia da região, na maioria das vezes foi respeitada, ao construir as vias e as edificações. Paulo Mendes da Rocha usou desse artifício muito bem, ao projetar o Edifício Jaraguá, de forma preservar a vista para os vales dos rios Tiete e Pinheiros.


A sinuosidade do terreno não foi um obstáculo para o arquiteto, muito pelo contrário, ele usou essa característica ao seu favor. O edifício está muito bem acomodado ao terreno, na sua planta é possível perceber que a solução construtiva adotada é enfatizada através do desnível existente, o que resultou em uma independência estrutural. Seu subsolo possui acesso pelas

laterais do edifício, através de longas rampas que também respeitam a topografia. De uma maneira simples e discreta, essas rampas contornam a edificação e se tornam embasamento da praça no pavimento térreo. As rampas são perceptíveis ao desnível, porém, são implantadas tão naturalmente no terreno, que não há problemas em subir ou desce-las, diferente do


que acontece na região em geral, já que algumas vias são tão íngremes que alguns veículos não conseguem passar. O fato do Edifício Jaraguá possuir poucos andares e ser relativamente baixo, mostra a preocupação do arquiteto em respeitar o gabarito existente. Por ser uma região com muitas casas ainda presentes nos dias de hoje, os edifícios

que lá estão implantados, se destacam por conta da sua altura, e nem sempre do próprio edifício em si, mas sim da sua topografia. Então, o cuidado do arquiteto em construir um prédio “baixo” num desnível grande, é notado pela igualdade de alturas desses edifícios ao redor.


M O D O S D E M O R A R D O PA U L O M E N D E S

Engajar-se na questão do espaço doméstico na concepção do habitar contemporâneo é uma das dedicações do arquiteto dentro do patamar de intervenções urbanas. Embora não tenha realizado uma grande quantidade de edifícios verticalizados, seus exemplares são excepcionais, capazes de questionar um tema suscetível de ser abordado de forma pouco imaginativa e de tediosa repetição acrítica. (ZEIN, 2005)

O estudo abordado durante este capítulo compara obras (que de certa forma se assemelham - ou diferem - do objeto de estudo principal do trabalho, o edifício Jaraguá) de Paulo Mendes da Rocha sob aspectos não somente de caráter técnico arquitetônico, mas também sob análises de formatação sociológica que possa representar a carga histórica que determinados componentes espaciais da arquitetura e urbanismo carregam.


Edifício Guaimbê Em 1962, Mendes da Rocha desenvolve a obra pioneira sob o tema de habitações verticais, o Edifício Guaimbê, do qual, através de suas técnicas construtivas se tornou um marco da arquitetura brutalista no Brasil. (ÁVILA; CANEZ, 2016) Tal conceituação se dá, devido a aplicação massiva do concreto aparente e a tecnologia construtiva. Somado a isso, lajes entre pavimentos, quebra-sóis e demais elementos de concreto anexados ao volume da torre seriam pré-fabricados. Assim, o projeto acaba por ser um reformador nos paradigmas de construção da época no país, principalmente tratando-se de uma edificação residencial. Além disso, através da implantação e da espacialidade nas unidades habitacionais é possível exprimir a racionalidade já proposta nas técnicas construtivas anteriormente citadas.

O edifício se constitui de duas empenas portantes, paralelas às divisas laterais do terreno das quais suportam a carga nos pavimentos da torre, gerando uma planta livre de elementos estruturais em cada apartamento. A configuração espacial dos apartamentos é determinada por ambientes ortogonais e três ambientes - banheiro social, cozinha e área de refeições - possuem articuladores de convívio em formas curvas que se destacam na planta, criando passagens entre eles sem configurar corredores.


O apartamento conta com um desnível do qual estabelece os usos de hall, estar e refeições com sutileza, assim como na planta do edifício Jaraguá, esta última contudo, rebaixa as áreas de cozinha, refeições, aposentos para empregada e serviços e eleva o estar e as áreas íntimas, criando uma possibilidade de vista mesmo dessas áreas, através do recuo das janelas na fachada norte. Figura X. A volumetria do edifício Guaimbê é caracterizada por um prisma que se desprende do solo devido aos pilotis tal qual, é parte de uma solução que busca promover uma aproximação e conversação com o espaço urbano. Sua marquise entre a torre e o recuo frontal obrigatório, por exemplo, configura um vínculo importante entre o edifício e o lote, por conta de seu afastamento em 11m. Não há algum elemento de fechamento ou desnível na divisa entre o privado do lote e o público, o que promove uma fruição entre tais domínios.Vê-se clara a referência da cidade moderna no projeto, principalmente na localização do estacionamento no subsolo, proporcionando uma cota urbana livre para a circulação de pessoas e automóveis. (ÁVILA; CANEZ, 2016)


Edifício Clermont

O projeto, concebido dentro de uma conjuntura político-econômica no país principalmente entre os anos de 1967 e 1974, reflete tal circunstância em sua realização. A convite da construtora Formaespaço, arquitetos como Abrahão Sanovicz, Eduardo Almeida e Paulo Mendes da Rocha desenvolveram projetos-padrão conforme diretrizes estabelecidas pela construtora. No intuito de reduzir os custos construtivos a partir de uma execução mais veloz e racional, as propostas deveriam compreender os conceitos de modulação e industrialização. (ÁVILA; CANEZ, 2016) Conta com uma solução estrutural modular principal de 5m², e dentro dela, deriva-se uma malha modulada em 1m² da qual relaciona-se com as divisórias internas, porém

estas últimas não coincidem com as vigas e pilares. A tipologia habitacional não conta com desníveis e a organização espacial se dá em duas faixas longitudinais, sendo que em uma delas concentra as prumadas hidráulicas e os espaços com divisórias, e a outra corresponde ao amplo espaço de convívio. A diferenciação de usos através de níveis diferentes possuem ressalvas no edifício, em sua prumada de circulação vertical, a parada do elevador de serviço coincide com o patamar intermediário da escada, o que influi na setorização de usos na tipologia vendo que os cômodos para a empregada tornam-se independentes a partir de um acesso exclusivo

e de sua posição a meio nível em relação ao restante do apartamento.


Ao observar a planta dos edifícios estudados - guaimbê, jaraguá, clermont - é visto que as tipologias englobam uma leitura mais simplificada ao decorrer dos anos, o edifício clermont, construído em 1973 apresenta a área de convívio social de forma clara e abrangente, onde não possui nenhum tipo de divisória, uma planta livre, enquanto o guaimbê detém uma liberdade em tal área, contudo não tanto quanto clermont. Há, portanto uma forma de delimitação de usos de forma sutil pelo arquiteto prezando pelo convívio e organização espacial.


E d i f í c i o e m Va l l e c a s - M a d r i Sua implantação - assim como Guaimbê - se constitui de um térreo em pilotis, legitimando a posição de Mendes da Rocha em relação ao plano urbano e público da edificação, o dever social que a propriedade privada deve exercer para com a cidade. “A intervenção de ordem urbana promovida pelo Ministério do Fomento à Habitação espanhol e administrada pela Empresa Municipal de Viviendas de Madri – EMV compreendia a construção de edifícios de uso misto mas com ênfase no programa habitacional, resultando na materialização de milhares de moradias. A realização do empreendimento também considerava a expansão das linhas de transporte público, especialmente a do metrô.” Edifício residencial de interesse social, realizado em 2004 conjuntamente com escritório madrileno Bellosillo y Asociados, e com a colaboração do escritório paulistano MMBB, decorre de ação do governo espanhol junto à área de expansão da Ensanche de Vallecas.(ÁVILA; CANEZ, 2016)


As obras do arquiteto Paulo Mendes da Rocha que serão analisadas e comparadas, foram retiradas do documentário “PMR 29’: vinte e nove minutos com Paulo Mendes da Rocha”, conduzido por uma conversa em seu escritório no ano de 2010. Esse documentário sintetiza algumas ideias básicas do arquiteto, por ser uma conversa descontraída e informal, Paulo Mendes, discute sobre suas quatro obras que foram selecionadas para o filme e para o melhor entendimento de sua conduta projetual. Entre elas estão o Ginásio do Clube Paulistano, o Museu Brasileira da Escultura, a Casa do Butantã

e a Casa Gerassi. Assim como as quatro obras escolhidas para análise e comparação possuem semelhanças referentes ao seu partido projetual, as outras obras elaboradas pelo arquiteto também seguem a mesma linguagem de projeto. Durante toda sua conversa, passando por cada uma de suas obras, Paulo Mendes deixa muito evidente sua intenção ao implantar certo edifício em determinado lugar. Ele mesmo diz que os programas envolvidos são elementares, em seu caráter funcionalista e exigências corriqueiras, a intenção é arranjar uma maneira para que as atividades de diferentes usos se tor-


T E C T Ô N I C A , C O M P A R AT I V O D E F A C H A D A S D E OBRAS DO ARQUI MA ESCALA.

As duas imagens abaixo foram posicionadas uma ao lado da outra propositalmente para simplificar a comparação e análise visual entre elas. Ambas possuem o eixo horizontal fortemente destacado, sinalizado na imagem por uma linha tracejada branca, criando interações entre os espaços internos e externos do edifício, entre o público e o privado, sutilmente desenhado pelo arquiteto. Com a intenção de criar todo um conjunto harmonioso, que envolve as situações corriqueiras e o potencial existente do lugar/ terreno, o arquiteto complementa com soluções estruturais. No Ginásio do Clube Paulistano, foi desenhado uma estrutura semelhante a um pavilhão, que é possível interagir embaixo dele. Essa estrutura é uma esplanada que está debruçada sob a rua. Em relação ao sistema estrutural do MUBE, o arquiteto optou pelo material concreto armado, característica elementar em suas obras, porém seu design é particularidade do Museu. A opção pelo museu ser subterrâneo foi para facilitar o escoramento da grande peça de concreto, citação do próprio


As outras duas obras comentadas no filme, são residenciais. Porém, possuem a mesma escolha de material, concreto armado na Casa do Butantã e concreto pré fabricado na Casa Gerassi e também possuem semelhança geométrica em sua fachada, aberturas horizontais e térreo livre suspenso.

Em sua conversa, retratada no documentário, Paulo Mendes descreve a estrutura da Casa do Butantã. A laje de piso nervurada de concreto vence vãos de 1.07m e possui apenas 4 cm de espessura, representando uma consistência estrutural muito delicada. Ele relata também a situação dos sistemas hidráulicos e elétricos que precisava resolver e adaptar para o sistema estrutural da casa e sua solução aplicada a tal detrimento. Assim, o arquiteto diz com suas palavras que “solução de projeto é divertimento, não basta resolver o problema puro e simplesmente, senão acaba em uma solenidade estúpida, esse divertimento surge como o elogio da maneira como foi solucionado o problema”.


A Casa Gerassi é uma casa projetada por um sistema estrutural pré-fabricado, sujeito a críticas de vizinhos que não consideravam uma construção industrial no método de pré-fabricação aplicado a um projeto residencial, conta Paulo Mendes da Rocha no filme. Ele obteve essa escolha por ser um método eficiente no país e de uma praticidade técnica. Sendo contrário a todo um discurso da opressão da classe operária trabalhadora, do trabalho manual e do antigo sistema de construção de casas de pessoas elitizadas, Paulo Mendes defende sua posição dizendo que toda essa

questão de sistema construtivo pode ser chamado de “exibição do êxito da técnica, uma questão muito importante da arquitetura”. Em relação ao edifício principal norteador do documento regido, o edifício Jaraguá, é formado pela estrutura de concreto armado, uma malha de seis pilares afastados a dois metros e meio da fachada que compõem a estrutura projetada com base nessa premissa. O tratamento da distribuição espacial e a diferença de nível resultante da solução estrutural servem para fornecer visões desejadas na direção leste-oeste. (MONTANER, 2010)


A bifrontalidade é viabilizada pela solução estrutural, em que a altura das vigas acarreta na criação de um segundo nível no apartamento-tipo assegurando a vista por sobre cômodos que ficam na cota inferior. As duas lajes em níveis distintos, suportadas por vigas de seção esbeltíssima – 18cm x 110cm –, irão contribuir para a setorização da planta-tipo. Sendo que a estrutura ainda compreende três pares de pilares, internos ao perímetro da planta, como os únicos obstáculos estruturais em uma área superior a 200,0 m². A solução estrutural

fica visível especialmente na elevação norte, que “nada mais é que um corte do prédio, apenas fechado por um pano de vidro” (18). Outra característica relevante do projeto decorre da solução para a circulação vertical, que diferentemente ao verificado nos dois precedentes de Mendes da Rocha com uma única unidade por pavimento – Guaimbê e Clermont – se localiza no centro da planta. Tal configuração acarreta na tripartição de usos com a definição de zonas específicas em torno do núcleo de circulação. (ÁVILA; CANEZ, 2016)


A imagem abaixo demonstra a fachada inteira de caixilhos pretos e os detalhes das molduras das janelas em concreto, representando a sutileza e a composição de materiais utilizados na obra arquitetônica.

Para finalizar as comparações e análises entre as obras do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o edifício selecionado foi o Guaimbê. Em relação a parte estrutural do edifício, ela é composta por uma cortina de concreto armado que proporciona uma continuidade espacial interna e a possibilidade de criar inúmeros sub-espaços inesperados, devido o uso de paredes curvas. A fachada, exposta a máxima iluminação solar é composta pelo brisesoleil desenhado exclusivamente para esta obra arquitetônica. (MONTANER,


P R O C E S S O C R I AT I V O D O P A U L O M E N D E S , A P L I C A D O AO P RO J E TO

De acordo com o livro “maquetes de papel” o arquiteto Paulo Mendes nos mostra parte de seu processo de criação dos seus projetos, que se dá nas maquetes feitas em seu próprio escritório com os materiais disponíveis como maneira de tornar os primeiros rabiscos iniciais em algo palpável.

“É a maquete como croquis... A maquete que você faz como um ensaio daquilo que está imaginando...Como o poeta quando rabisca, quando toma nota...A maquete aqui é um instrumento que faz parte do processo de trabalho; são pequenos modelos simples.” (p. 22) Maquetes de papel Imaginar um projeto ainda inexistente exige uma grande reflexão, portanto parte dela é desenvolvida no manuseio e no contruir das maquetes, assim que o arquiteto possui uma síntese da questão proposta coloca em modelo físico, pois, segundo ele, a maquete verifica o volume, as proporções, os vazios gerados, a relação urbana e humana. Deixando claro que a experimentação é fundamental para a criação e pensamento, pois é a materialidade da ideia, o modelo físico é a extensão da própria mente.


“É importante saber o tanto de empirismo que há nisso tudo para não se pensar que a questão da erudição pode abolir a experimentação”. (p. 26) Paulo Mendes, Maquetes de papel As ideias do arquiteto, de acordo com Catherine Otonalo, possuem respaldo no pensamento de Flávio Motta, professor da FAUUSP, na significação da palavra “projeto” como “interdisciplinar de combater a fragmentação do conhecimento”. O desenvolvimento criativo tem como premissa a compreensão do território e a articulação com o projeto, como vemos no edifício jaraguá e sua implantação, a reflexão deste deve também contar com a capacidade transformadora deste no âmbito cultural e social, além do arquiteto considerar o saber interdisciplinar como física, geografia, artes plásticas e literatura como contribuidores no desenvolvimento projetual. Utiliza da visão crítica como mecanismo refletir e o questionar, assim uma possível metodologia para compreender as reais premissas e conceitos no construir. “(...) mas por que razão o arquiteto fez isso?” (p.30) Paulo Mendes, Maquetes de papel


No discurso, o arquiteto nos mostra o processo de imaginação integrado ao contínuo experimentar, pensar e materializar como indispensáveis na forma de raciocínio para criação, lembrando sempre a questão da convivência integrada a cidade. Através estudo da disposição do território, do conhecimento e da memória do local nos levam a organizar, compor e tomar decisões de como projetar, não só para o presente, mas para uma visão de futuro com os desejos e aspirações do presente. “Portanto, o que você transmite é um discurso uma lição queira você ou não! A arquitetura só pode ser assim, voltada para a dimensão da nossa permanência no universo.” p.59 Maquetes de papel

O período do edifício Jaraguá se encontra na fase em que há um ideal da dignificação humana, a dimensão consciente e social, assim como em outros projetos do arquiteto utiliza o concreto como meio de liberdade espacial e de expressão. A escolha do concreto com caráter brutalista e duro traz também a alusão ao urbano, uma arquitetura que abre para a cidade “brutalista caboclo” (o projeto ao topo tendo a vista panorâmica da cidade), com características da massividade industrial e das formas industriais, além do funcional, o que leva a consciente na interação humana dos espaços internos e externos, sem hierarquias, mostrando um conceito aberto e participativo entre a cidade e o projeto arquitetônico. (SUBIRATS, EDUARDO, 2012)



EDIFÍCIO JARAGUÁ POR C AT H E R I N E KO D A M A

Paulo Mendes da Rocha em seus projetos deixa claro a criação e articulação de espaços públicos e privados, seja em edifícios públicos ou residenciais. Tendo um compromisso com a cidade e a sua realidade. Considera o entorno como parte do processo compreensão para a elaboração do projeto e busca a acomodação desse no terreno, observando e considerando o gabarito, desníveis e o impacto do projeto no espaço.


“O principal valor deveria ser o do lugar, o do espaço em que se encontram os edifícios. Para que as cidades tenham vida, as pessoas têm que viver nelas, não utilizá-las apenas por algumas horas. Os políticos deveriam compreender isso.”

Em seu processo criativo considera a materialização da ideia muito importante como os modelos físicos, que são para ele a própria extensão da mente. A experimentação é algo fundamental e não deve estar desvinculada da teoria e nem vice-versa, pois ambos são complementares, assim como o conhecimento interdisciplinar para a implementação de técnicas construtivas e compreensão social. Vemos em seus depoimentos e projetos a visão crítica acentuada, questionando conceitos, as necessidades ou mesmo o mero funcionalismo. O arquiteto defende em depoimento que “a solução de projeto é o divertimento, não basta resolver o problema puro e simplesmente, senão acaba em uma solenidade estúpida”.


EDIFÍCIO JARAGUÁ POR GIULIA COPPINI

Não só trabalho de Paulo Mendes da Rocha, mas como a arquitetura brasileira, traz ao pensamento reflexões sobre a política como influência direta na arquitetura, as conjunturas acabam por serem expressas dentro de espaços, materiais e modos de viver. Paulo Mendes possui um olhar apurado para urbanismo, que, nos tempos atuais, muitas vezes acaba por esquecido de forma que acaba-se criando edifícios voltados apenas para dentro do lote, sem envolvimento com a cidade. Ao apreciar tal visão do Arquiteto em estudo, desponta novas concepções de opinião ao modo que existem pontos extremamentes desenvolvidos que excedem os paradigmas da época construída e ao mesmo tempo pontos que ainda remetem ao passado tóxico enraizado nas mentes brasileiras.


O edifício Jaraguá acaba sendo um resumo dos ideais do arquiteto, mesmo sendo uma obra de caráter privativo e habitacional, é possível observar questões como a importância dada ao reconhecimento da topografia do local, a altura do edifício acompanhar de certa forma o gabarito do bairro, a forma costumeira de se habitar ali, a atenção com a escala do pedestre ao fazer uma praça pública ao decorrer do recuo frontal do terreno, ou seja, um interesse ao proporcionar para a cidade - e não só aos moradores que ali vivem - qualidade urbana em sua


EDIFÍCIO JARAGUÁ POR J O A O M ATO S

Arquitetos contemporâneos vêm questionando o papel da representação gráfica no desenvolvimento de um projeto, as novas tecnologias abrem novas possibilidades de representação gráfica as quais alteram o processo criativo de um arquiteto. Peter Eisenman discute essa mudança de paradigma em seu texto ___________. Nesse contexto de influências do método projetual está a obra de Paulo Mendes da Rocha. Como "método" prevalente em suas obras foi percebido o croqui e mais especificamente o croqui em corte, contudo tais desenhos já contém o essencial do partido arquitetônico em forma de esquema.


No caso do edifício Jaraguá o croqui em corte apresenta a descontinuidade do nível do apartamento, em outro modo de representação como planta, vista ou perspectiva tal partido não seria tão evidente. O corte de Paulo mendes nesse caso apresenta claramente o partido de se inserir na paisagem ao apontar as duas possíveis vistas de dentro do apartamento – a vista para o rio pinheiro e a vista para o rio tietê. Logo mesmo que o desenho do arquiteto contenha insinuações quanto a forma e materialidade do edifício,

há também a tentativa de explicar ideias mais abstratas, como no caso a importância da visão humana enquadrada pelos limites do apartamento, seu piso e seu teto. Outro ponto recorrente no croqui de Paulo Mendes da Rocha do edifício Jaraguá é a definição estrutural. No corte esquemático já é aparente as colunas a viga e o formato da laje, portanto a partir de tais desenhos é possível dizer que a estrutura é parte integrante do projeto desde sua concepção primária. Por fim é possível concluir que a representação gráfica de Paulo Mendes demonstra suas prioridades - no caso do edifício Jaraguá- formais, tectônicas e de implantação. Tal croqui é o objeto necessário para expressão do arquiteto e reflete em sua obra.


TEXTO MARINA



EDIFÍCIO JARAGUÁ POR V I T Ó R I A PA R A DA

Algo que é simples e muito claro dizer quando analisamos as obras e os projetos do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, e a sua maneira única de aproveitar a infraestrutura e a morfologia urbana do local, que possibilitam experimentar novas técnicas construtivas.

A natureza pioneira e prática dos projetos habitacionais do arquiteto, exibe diversos tipos de soluções adotadas em cada um deles, pois tiveram a oportunidade de serem soluções testadas e analisadas antes das obras serem concebidas, a fim de não sofrer com o fracasso imediato de algumas delas. Essa prática de análise é considerada um padrão do arquiteto, e se torna única e expressiva como linguagem projetual, realizada dentro de suas obras habita-


Cada uma tem sua exuberância, sua força e sua característica marcante, e apesar de sempre utilizar os mesmos materiais em diversas obras, sua grandiosidade vem da parte experimental, das novas técnicas e abordagens distintas em cada edifício construído.


BIOGRAFIA




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