Matéria no jornal A TRIBUNA

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MARCOS CLEMENTE SANTINI DIRETOR-PRESIDENTE

SANTOS-SP DOMINGO 3 DE JULHO DE 2011 ANO 118 - Nº 100 R$ 3,00

Aúltima bruxariade HarryPotter Pottermaníacos contam as horas para a pré-estreia do Relíquias da Morte - parte II

ATREVISTA

Arte das ruas vai invadir sua casa

Gianecchini, além da beleza física

Grafite é incorporado à decoração e domina tetos, pisos e paredes

Atornãosedeixa envolverpelafama nempelo rótulode galã

Mudando o mundo Aos 13 anos, João Felipe Scarpelini enviou um e-mail para 100 pessoas ligadas a movimentos e entidades sociais pedindo ajuda para, de alguma maneira, mudar o planeta. Doze anos depois, o jovem santista já viajou 42 países em nome de organismos mundiais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), para ajudar a alterar duras realidades locais a partir da articulação dos próprios jovens. A-8 CARLOS NOGUEIRA

Tempo de INSS poderá ser maior para mulheres Proposta do Governo é que passe de 30 para 33 anos

O ex-presidente Itamar Franco morreu ontem no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele havia completado 81 anos na última terça-feira e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 21 de maio, para tratamento de leucemia, e teve diagnosticada uma pneumonia que agravou o caso. A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias. C-7

reduz os benefícios por morte e eleva o tempo de contribuição de mulheres em mais três anos: elas passariam a contribuir por 33 anos em vez dos 30 atuais, sendo mantidos os 35 anosparaoshomens. C-5

Pane elétrica em rampa da balsa danifica um veículo

Cãominhada agita a orla de Santos nesta manhã

Menos de 24 horas após entrar em vigor o novo valor da travessia de balsas, uma usuária teve o carro danificado por pane elétrica em uma rampa dasgavetaslocalizadasnamargem de Santos. Entre os argumentosparaaelevaçãodatarifa estão manutenção das embarcações, instalação de novos equipamentos e capacidadedefluxo deveículos. A-3

Mais de 20 mil pessoas são esperadas hoje na 7ª edição da Cãominhada, maior evento do segmento pet da Baixada Santista. A festa, que acontece das 10 às 14 horas, na avenida Bartolomeu de Gusmão, entre os canais 4 e 6, em Santos, tem atrações para toda a família e deve movimentar a avenida da praia. Haverá distribuição de brinde. A-5

ESPORTES ANTONIO SCORZA/AFP

Favorito,

Prefeitura é acusada de desmatar 2 Km de vegetação

Brasil estreia na Copa América

Seleção brasileira encara a Venezuela hoje, na estreia da Copa América. Neymar (foto) integra esquema tático ofensivo de Mano Menezes. B-3

Santos. A-6

Confira histórias de quem vive com as sobras dos alimentos

Corpo de Itamar será cremado

TURISMO Parque Inhotim, um grande museu de arte a céu aberto Santos vence o América-MG por 1 a 0 pelo Campeonato Brasileiro. B-1

Bom dia

Governo se mantém em posição equivocada ao admitir aporte de dinheiro do BNDES na operação entre Pão de Açúcar e Carrefour. A-2

BAIXADA SANTISTA São Sebastião. A-9

Petra Kvitova vence Maria Sharapova e conquista o título de Wimbledon. B-6

Navio-veleiro Cisne Branco está de volta a Santos

CHUVOSO

ÍNDICE

Domingo frio e úmido na Baixada Santista e no resto do litoral.

Visitas começam quarta-feira. C-6

Mín.

CADERNO A: Opinião, Baixada Santista, Falecimentos, Polícia e Tempo. CADERNO B: Esportes.

15º Máx. 21º

A-12

42 PÁGINAS

CADERNO C: Economia, Sindical, Porto, Brasil e Mundo. CADERNO D: Turismo. CADERNO E: Galeria e Social. CLASSIFICADOS.

LEON NEAL/AFP

Morre Itamar, o presidente do Plano Real

JOSÉ CRUZ/ABR - 20/4/06

O Governo preparou uma minirreforma da Previdência, que será enviada ao Congresso em setembro. Ela foi costurada em silêncio e nos bastidores, pelos ministérios da Fazenda e Previdência Social. A proposta

Cubatão. A-12

Alunos realizam ecofaxina em manguezal da Ilha Caraguatá


A-8

Baixada Santista

A TRIBUNA

www.atribuna.com.br

Domingo 3

julho de 2011

Vontade que gera transformação Morador de Santos, João Felipe Scarpelini, de 25 anos, percorre o mundo ajudando os jovens a modificar suas realidades CARLOS NOGUEIRA

BRUNO GUEDES DA REDAÇÃO

A persistente inquietação por transformar o mundo e uma breve mensagem de e-mail foram os primeiros sinais concretos de uma promissora caminhada altruísta de um adolescente de 13 anos. Com essa idade, João Felipe Scarpelini enviou um e-mail para 100 pessoas ligadas a movimentos e entidades sociais pedindo ajuda para, de alguma maneira, mudar o planeta. Doze anos depois, João Felipe já viajou 42 países em nome de organismos mundiais, como a ONU, para ajudar a alterar duras realidades locais a partir da articulação dos próprios jovens. Aos 25 anos, ele tem até livros publicados pela Comissão Europeia sobre como mobilizar a juventude para a promoção de um futuro melhor. E alimenta a certeza, atestada pela sua própria história, de que o poder de transformação está na mão de qualquer pessoa com tal vontade. Era o que sobrava em João Felipe. Natural de Botucatu e morador de Santos desde os 2 anos, ele não sabia direito como, nem em que circunstâncias, começaria a mudar a realidade desigual que o incomodava. “O que me marcava quando criança era meus pais fechando o vidro para meninos pedindo no semáforo. Chegou um ponto em que fechar o vidro, pra mim, não era mais aceitável”. Fato é que ele descobriu logo a dificuldade de se mobilizar para ajudar: só cinco dos 100 destinatários responderam o e-mail. “Dois diziam que eu poderia doar dinheiro. Outros três disseram que era muito jovem e minha vontade de mudar não se realizaria desta forma. Aí é que percebi como a participação social existe só no discurso, principalmente com os jovens”. João se deu conta de que se engajaria em projetos justamente para transformar a postura passiva perante o mundo. Na escola onde estudou, na Aparecida, criou junto com quatro amigos o grupo Reticências, que passou a realizar iniciativas como o Mudando a Cara. Por meio dele, os estudantes iam a ONGs ajudar em serviços cotidianos e participar de atividades com os assistidos. Entre os projetos dentro da escola estava uma peça teatral chamada Jovem: uma máquina de fazer problemas?, para desmistificar a visão geral de que a juventude é alienada e problemática.Nestaépoca,ajudou a articular no Poder Público a criação da Comissão Municipal da Juventude, que já ganhou status de conselho. Criou ainda um grupo de discussão com os alunos sobre como o jovemeraretratado pela mídia. “Pegávamos jornais e revistas para ler e debater. E o que se via era normalmente o jovem associado à violência, drogas e semprecomoseprecisassedeajuda”. A essa altura, aos 15 anos, João Felipe já fazia parte do Comitê de Gestão do Fórum Social Mundial e uma das reportagens que incomodou foi publicada na Capricho. Naquela época, a revista era voltada ao público feminino e, segundo ele, o fórum foi estigmatizado por esta publicação como evento de sexo, drogas e rock n’roll. “Escrevemos para a Capricho criticando a matéria e dizendo que o conteúdo da revista não representava a juventude, era muito superficial, não abria espaço para o debate sobre políticas públicas para esse público”. João Felipe foi chamado para o conselho editorial e escreveu o primeiro artigo de um espaço criado por ideia dele, sobre protagonismo juvenil. A Capricho recebeu mais de 300 cartas de leitores interessados pela coluna e pelo assunto. No site da publicação, o conselho jovem passou a veicular projetos sociais de adolescentes e, nas escolas, realizou encontros de mobilização. JoãoFelipe lançou nesta época a ideia de levar um grupo de representantes do segmento jovem no País para o Congresso Mundial de Jovens – ocasião em que se discutem políticas públicas para este segmento – pois o governo brasileiro não mandaria comitiva. Sem apoio do Poder Público e a partir da internet, liderou uma mobilização com outras pessoas das cinco regiões do

Mobilização “Fomos muito criticados quando conseguimos mandar três jovens para a COP 10 (evento para convenção de sustentabilidade). Questionavam o que o jovem teria para contribuir com a discussão climática. Era como um tema para ciência. Em 2009, já éramos 2 mil. E toda negociação agora tem uma cadeira para um representante jovem”

Ele já esteve em 42 países, representando organismos mundiais, como a ONU, e hoje consegue ganhar a vida através do ativismo social FOTOS ARQUIVO PESSOAL

“Todo mundo pode fazer. A internet é uma aliada, não há desculpa por não ter informação. Não precisa ser Ghandi. Dá pra mudar a realidade no próprio cotidiano” “Ainda temos uma cultura forte de esperar que o governo faça. Mas já há muitos jovens por aí estimulando a ação e agindo. As pessoas estão discutindo cada vez mais que tipo de políticas públicas elas querem para o País”

Na Zâmbia, atua em projetos nos quais jovens driblam as dificuldades

Nos últimos cinco anos, o ativista esteve em vários países africanos

João Felipe Scarpelini ativista social e consultor do Unicef

“Procuramos dar a melhor educação possível, com muito diálogo, mostrando a importância de fazer o bem. Mas educamos os três filhos igual. O João, que é o caçula, parece ter essa vontade de transformar dentro dele, como algo natural”

Lúcia Helena Pereira Scarpelini, professora, mãe de João Felipe

Brasil, ligadas a movimentos sociais, ejuntos todos promoveram sete encontros (um deles em Santos) para formar uma comitiva para o congresso. “Não éramos uma organização. Só pessoas com vontade defazer. E conseguimosmobilizar 10 mil pessoas”. Com apoio financeiro de uma empresa e legitimidade do Governo, 10 jovens foram ao congresso representando o Brasil. ONU

João Felipe terminou o ano de 2004 sem saber que carreira seguir,mas envolvido em diversos projetos sociais. Havia saído do EnsinoMédiomasqueriacontinuar com a missão que assumiu para si, mas pela qual até então agiavoluntariamente. Em dezembro, foi um dos três jovens selecionados pelo Governo Federal para participar, na Argentina,da COP 10, encontro anual de países que ratificam a Convenção da Organização das NaçõesUnidas(ONU)sobreDiversidadeBiológica. “O evento teve 38 jovens participando, mas a gente só observava. Fizemos uma mesa redonda e depois conseguimos em encontro com autoridades como o presidente do Banco Mundial e da Argentina, pedindo mais espaço para o jovem

O trabalho em comunidades de países carentes começa conhecendo a realidade, suas dificuldades e, depois, organizando grupos de trabalho

dentro da ONU. Eles não sabiam trabalhar com e para os jovens”, lembra ele. Ao longo dos anos, as constantes mobilizações e manifestações nos encontros anuais deram resultado: hoje, toda negociação precisa ter uma cadeira com o representante jovem. Em 2005, o ativismo social de João Felipe chamou a atenção da ONG Peace Child International, organização britânica que atua com o empoderamentode jovens em suas comunidades (empowerment young people) junto com a ONU. “A ONG trabalha com jovens de todo o mundo, em diversas comunidades, estimulando-os a participar de projetos de desenvolvimentosocial”.Convidado, ele ficou um ano como voluntário, ministrando palestras sobre mobilização social e atuando em iniciativas, e, em 2006, passou a tirar seu susten-

todoativismoatéentãovoluntário:assumiua gerênciado escritóriocentral daorganização. Nos últimos cinco anos, esteve na Índia, na Turquia, em países africanos como o Timor Leste, entre tantos outros lugares. “Nós chegamos ao local, entendemos a realidade, os problemas sociais e estimulamos os próprios jovens a proporem soluções junto conosco. Eles conhecem melhor seus problemas do que qualquer um de fora”, contou ele. Entre as iniciativas, por exemplo, está a criação de cooperativas de jovens para geração de renda. No Timor Leste, ele foi com a missão de mobilizar jovens a reconstruir o país a partir de medidas locais, após a guerra civil. ZÂMBIA

Atualmente, João Felipe atua como consultor pelo Unicef do

Unit for Climate, programa de ação juvenil para o enfrentamento de questões climáticas. Tem como bases de trabalho Nova York e Zâmbia. Neste segundo país, o segundo mais desmatado do mundo, ele atua em projeto com jovens como por exemplo a construção de uma escola flutuante para ser usada durante os três meses de enchente, durante os quais, hoje, todos ficam impossibilitados de estudar. Trabalha também no projeto em que os jovens desenvolvem meios de usar cada vez menos água na agricultura, no período de seca absoluta. Até 20 de julho, está em Santos ajudando a preparação para o Rio+20, conferência para o desenvolvimento sustentável que no próximo ano ocorrerá no Brasil. Mas não está de férias do trabalho: usa a internet para prestar a consultoria.

“Hoje, com 25 anos, já me sinto um pouco velho nesse trabalho de ser um protagonista juvenil, mas o mais importante é fazer a ponte para que os adolescentes de hoje participem e não encontrem as dificuldades que eu encontrei quando comecei. Tive de iraprendendo o que funcionava e o que não”, afirma ele, quecursa graduação emRegeneração Comunitária. João Felipe não se sente especial, nem dono de um dom de articular e mobilizar pela transformação social. “Todo mundo pode fazer. A internet é uma aliada, não há desculpa por não ter informação. E eu acredito que as pessoas estão seengajando cada vez mais, os jovens no Brasil estão assimilando a cultura de participaçãopopular.Nãoprecisairlonge. Dá pra mudar a realidade nopróprio cotidiano”.


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