No que você está pensando

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No que vocês está pensando? João Nunes Todos os direitos reservados 2014, 1ª Edição Fanpage: https://www.facebook.com/ojoaonunes Twitter: @ joaonunesbr


No final de tudo eu só quero ter a certeza de que vivi. Chorei, sorri, senti, vibrei, amei, perdoei, menti, bebi. Cantei, dancei... Enfim, fiz o que tinha que ser feito, e na maioria das vezes fiz bem feito. Olhar pra trás? não. Olhei pra frente, mesmo que tenha sido pra assistir o mesmo filme nostálgico do passado ou tentar ver um futuro que nunca enxerguei direito. Então, saberei que não vivi em vão, e que não mudei o mundo nem nada, mas fiz o que tinha vontade.

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Ela parecia revoltada - Estou cansada de ser besta - Dizia com rancor. Era bonita e muito jovem. Tornou-se fria, egoísta. Saiu pro mundo. Bebeu, dançou, beijou na boca. Andava de salto, em carro importado - Não sou de ninguém - Afirmava. Ficou diferente, esnobe e segura de si. Mais forte, decidida, perspicaz, independente. Deixou de ser besta, deixou de sofrer. Nunca mais se magoou, nunca mais se permitiu, nem uma lágrima sequer. Secou. Virou outra mulher. Estava orgulhosa de si. Deu a volta por cima. Á noite, sozinha no quarto, ela tira a armadura. Se deita na cama e fica tola novamente, querendo um abraço, um colo e um cafuné.

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Pode até parecer simples, mas conquistar a felicidade é como construir uma casa. Você precisa escolher bem o lugar, desenvolver um projeto. Precisa ter um bom alicerce, paredes resistentes e um teto seguro. Vai precisar de alguns ajustes, algumas mudanças, mas é preciso fazê-las. Virão tempestades, raios, trovões, chuva, calor. Por isso tem que ser muito resistente. Enfim, se você quer conquistar a felicidade pense mais na estrutura, a decoração não vai resistir as ações do tempo.

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Ao contrário do que dizem por aí, desistir não é um sinal de covardia ou fraqueza. Desistir está tão intimamente ligada ao persistir, como a vida está a morte. É preciso coragem pra desistir e, principalmente, para assumir que desistiu. As vezes persistir pode ser até mais fácil que desistir, muitos podem te ajudar a persistir, mas poucos vão querer te apoiar na desistência. No entanto é preciso desistir pra que haja novas possibilidades. Quando você desiste do velho, você se depara com o novo. E o novo pode ser muito mais valioso que o velho. Além disso, toda vez que você persisti em algo, você automaticamente está desistindo, deixando coisas pra trás. Portanto não tenha medo de desistir, pois é preciso desistir do dia de hoje pra que o dia de amanhã possa nascer.

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E o menino só queria ver o palhaço e sua trupe. Beber do néctar da poesia e navegar no mar de versos e acordes de violão. Embora os moldes da burguesia o tenha vestido de moda, poderia ter ido de chinelo e camiseta velha e nada teria valido mais a pena. Não tinha pipoca nem algodão doce, nem arquibancada. Era tudo uma coisa só. Sem vips, pulseiras e camisetas coloridas. Apenas vozes gritando “A POESIA PREVALECE”. E essa prevaleceu até o fim. Foi soberana, imperativa. E o menino voltou pra casa, cheio de si, cheio de sonhos de flautas e violinos. A trupe desmontou seu circo e partiu, deixando saudade. Mas o menino foi embora repetindo entre lagrimas e sorrisos “Quero isso todo dia.”

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Por medo da morte, mutos nem nascem. Vivem na casca, no ventre, no solo. Subsolo. Nem brotam, nem nada. Nem nadam. Nem pulam, nem voam, nem saltam. São apenas... apenas.... apenas.... Não. Não são. Não serão. Nunca saberão o que é viver Apesar de estarem vivendo, ou melhor, sobrevivendo. Nada mais que apodrecendo, esmaecendo. Sem cor, sem luz, sem sombra, sem ser.

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Bom mesmo seria se a noite fosse o dia. Ao despertar, muitos deixam os sonhos esquecidos no travesseiro e partem, atrasados, inertes e sono lentos em busca de desejos e alegrias que nunca sonharam. A música alta no ouvido disfarça a pouca vontade de viver, existindo a contragosto. E mal também vai o humor, espremido entre suores e almas sem vidas, vivendo do ócio e do asco. E a programação segue até que findo o dia todos recorrem ao travesseiro onde ficaram os sonhos abandonados pela manhã.

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De fato todos somos inocentes. Atiramos dezenas de pedras enquanto que uma nos acerta a cabeça. A culpa é dele, ela que me bateu primeiro. Só me defendi. O que dá a rasteira é o mesmo que tenta curar o joelho ralado. E nesse rio de vitimas, piranhas levam dentadas enquanto que jacarés se escondem no mato. Mocinho mata bandido e princesa envenena bruxa malvada. Mas há um grito de guerra Cansei de ser bobo! É o que todos estão dizendo. Exceto vovó, que não cansa de dizer Todo mundo é bom, mas meu casaco sumiu!

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Inocente, como um menino descalço com seu algodão doce na mão, acreditei que a gentileza era uma via de mão dupla. No entanto, a verdade, que já havia me levado a cegonha e o velhinho do natal, me tomou também essa certeza. O rancor mordeu a cidade, arrancou-lhe o coração, que há muito não batia direito, mas ainda pulsava alguma gota de sangue quente. Agora pouco resta ao menino descalço. Talvez, ele ache um chinelo ou uma maça caramelada. Ou talvez no caminho deserto, encontre um circo de lona rasgada de arquibancada de tábua e sente ali a espiar outros pobres miseráveis de cuia na mão, esperando um aplauso ou uma moeda qualquer.

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Tentando vencer na vida perde-se o prazer de viver. As horas voam, o dia se acaba e nada se percebe. A não ser as dores de um corpo fatigado. Brotaram flores na árvore da calçada do vizinho e ninguém notou. Assim como a grama do jardim aparada e o camaleão que vagueia no estacionamento do prédio da esquina.Tudo é nada pra se ver e notar. Nota-se apenas o que incomoda. O ônibus atrasado a fila que não anda o sistema caiu a máquina quebrou. Há pressa nos automóveis nos passos nas posses. Há vontade de vencer, prosperar, chegar lá. Lá, onde tudo se acaba, inclusive o troféu, conquistado na árdua jornada da vida esquecida no campo de batalha. Enquanto isso as flores continuarão emergindo no vão. Sejam notadas, ou, não.

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O meu amor explodiu. Espatifou-se no ar Estilhaços lançados ao vento Múltiplos retalhos de cores e formas distintas Não mais engarrafado numa romântica comédia Não mais medido, retido na fonte. Monopolizado Desmedido, atrevido, abusado Entregue ao mundo abandonado carente Sofrente por opção. Meu coração bate asas voa como abelha Polinizando flores murchas e tristes Buscando alegrar outros jardins

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Não sei como se chama essas linhas que eu preencho nesse espaço vazio... Poesia, poema, crônica, verso, proza, sei lá, não importa. Não tem rimas, nem métrica, nem nada do que rege a boa gramática. tem alma. E alma não se aprende. É fácil se sentir só e carente, mesmo com todos os beijos e abraços. Mesmo com mil pessoas ao teu lado. Mas quando a tua voz encontra coro, quando teus ideais encontram abrigo, o corpo se aquece e todo vazio se enche e transborda em êxtase. Se minhas poucas palavras te acharam e se em ti fizeram morada, eis que a missão foi cumprida. Eis a minha herança. Aprendi que nós lemos para não nos sentirmos sozinhos. E é por isso que eu leio e por isso também que escrevo. Quero que alguém possa se sentir abraçado, querido, amado e, mais do que isso, entendido. Espero que minha alma possa manter-se sensível a ponto de dizer-te mais. Assim manteremos nossa sinergia e um vai enchendo o outro e tudo vai deixando de ser gris.

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Primeiro ato: desatar-se desbravar-se, ser Estender-se ao limite, explanar se Chegar ao extremo, ao fim, ao cume de si Segundo ato: Não ater-se, desprender-se, soltar as amarras Ocupar todo espaço, dilatar-se, não parar de sair Sem voltar atrás, seguir adiante, até sucumbir Terceiro ato: Atar-se, amarrar-se a vontade, deleitar-se Prender-se aos extintos, Extinguir-se, esgotar-se em êxtase Apaixonar, excitar, incitar, morrer, viver, regozijar, fim.

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São seis horas da manhã. Minha alma inquieta não cessa, não cansa. Enquanto que o corpo exaurido sucumbe ao macio colchão, ela se debate de um lado a outro. Agitada, sua, ofegante, pulsante. Uma insônia infinita. Aflita, ouço-a sussurrar: Mais, mais, mais, mais... Parece ter pesadelos, sonhos medonhos. Teme as migalhas, anseia insaciável: Mais, mais, mais... Acorde querida, não temas, seremos mais, muito mais. Alcançaremos a plenitude. Subiremos no mais alto monte e nos lançaremos ao abismo. Desceremos em queda, livre, a voar. Nada impedirá. Viveremos entre mil incertezas, profundas desilusões, coisas selvagens e vis. Beberemos do vinho da vida. Nos embriagaremos, mergulhados na fantasia, submersos na irrealidade, no sobrenatural. Profanaremos o corpo sagrado, entregaremos de bom grado a plenitude infinita do gozo. E nunca mais essa angústia de vida pequena, serena, sem paz.

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E de repente toda agitação para diante da sutileza minimalista de um poema. O solo de guitarra se esvai, vem o acorde sereno de um violão. Já não há mais gritos nem berros, apenas as cordas do violino sendo arranhadas delicadamente. Como folhas ao vento, notas bailam no ar e encontram ouvidos atentos. E tudo é belo e manso, como um dia de inverno. Me deixo abater. Não sei mais quem sou. Num instante voraz, noutro paz. Querendo bater, me deixo apanhar, carregar pelos braços. Flutuo em lembranças puras e doces. Parques, jardins, brisa do mar. Consumo cada gota desse instante em pequenas doses, logo o outro chegará. Desço na ultima estação, Maria fumaça parte e me deixa a esperar, o bala já vai passar.

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Minha identidade é um fardo, Números impressos num papel querendo dizer quem eu sou Arranco rótulos grampeados na testa: Hétero, homo, cult, rapper, rock, rico, plebeu Preto, branco, mulato, crente, ateu, atoa, macumbeiro, judeu Defina qual é teu deus, tua cor, tua crença, teu som Fale! Qual é tua terra? Egito ou Jerusalém? Teu pai é rei ou ninguém? Comunista, socialista, capitalista, humanista A lista é infinita, vai escolher? E teu partido, qual tua bandeira, senhor? A branca é inimigo, morreu Mas eu não quero ser nada disso, deixa eu passar por favor? Não, amigo. Aqui todo mundo tem opinião própria Escolha uma dessas aqui!

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Troquei a cueca por um maço de cigarros. Trouxe as balas de canela, a escova de dentes, o chinelo de dedo e tudo que tinha dois cheiros. Carreguei o que se deixa e deixei o que se costuma levar. A semente que se planta é o fruto que se quer arrancar. Um trago gostoso, a chama que queima devagar, a fumaça, não que dissipa, mas que dança no ar. O que incita o pensar, acalma a alma inquieta. O prazer que satisfaz. Se prende nos lábios, combina com vinho, noite de lua. Um minuto de paz. Gole de café quente, uma pinga mineira. Quanta coisa há de acompanhar um maço e uns amassos no sofá! E se amanhã regressar, levo o fogo e outro maço pra acender novas lembranças e tragar tudo de novo e deixar pra voltar.

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Qual o sonho que vale a pena? A que emplastro nos dedicaremos a ponto de nos consumirmos. Qual ideia nos levará a desfalecer? A paixão por ouro ou por carne? Por vaidade? Visto que toda conquista pessoal é vaidosa, assim como a partilhada também o é. Principalmente quando a conquista a dois é vaidade de um só. Mas sacrificar o emplastro, leia-se o sonho, também não é manter-se humilde em prol da satisfação do outro? E então: Direita ou esquerda? Eis uma bela bifurcação! Tendo em vista que nenhum dos dois caminhos nos livrará da pá de cal, pode-se dizer que tanto faz um ou outro. No entanto é bom lembrar que, até que se alcance o dia inevitável, é preciso agarrar-se a algo que dê o mínimo de satisfação, ou, talvez, o máximo. A fim de aliviar a doce tortura de existir.

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Não. Não me ensine a ter medo. Me deixe voar. Não me diga “faz mal” , quero provar. Não me proteja, me deixe cair. Deixe ralar. Tire esse casaco, não me dê guarda-chuva. Me deixe molhar, subir no sofá, pular a janela. Não tranque o portão, quero atravessar a rua correndo. Me deixe beber, quero fumar. Sair pra dançar, chegar noutro dia. Não me proteja do mundo, me deixe sair. Não quero essa bolha, tirar nota dez. Quero zerar. É preciso tropeçar, pisar numa poça de lama, partir o queixo. É preciso pegar o ônibus errado, se perder, não chegar. Não me torne um boneco de louça. Homem de “bem”, trabalhador, estudioso. Me deixe ser qualquer coisa, ou coisa nenhuma. Me deixe escolher. Não me moldure, não molde o meu ser. Me tire da prateleira. Eu não pedi pra nascer, mas já que nasci, me deixe viver.

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Deu-nos livre a ditadura. Desde os primeiros anos lá está ela a nos roubar a vida. A mãe que inocentemente má, grita: Cale a boca! Engula o choro. É a primeira que apresenta o amargo poder da frustração. Como viver uma criança que não pode chorar? Berrar a dor da palmada? E assim a sina se cria. Acorde! Vá dormir! Levante! Sente! Não minta! Não saia! Não ande! Vá pra escola! O tênis tem que ser preto! Não olhe pro lado! Faça agora! Arrume a mochila! Como culpar o soldado que arranca da mão a poesia e lança fora a canção se há muito já não se pode expressar? Por que rebelar-se, pintar a cara, se impede a criança correr? A quem se tenta enganar? Acontece que a dita dura todo o sempre. Até no último instante em que um infame qualquer há de dizer: Não morra! Você não pode morrer!

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Liberdade rima com solidão. Mas não se trata de uma solidão melancólica e depressiva. Não. É uma solidão calculada. Talvez até planejada. A solidão necessária ao auto conhecimento. A importante tarefa de interiorizar-se e ver-se por dentro. Maturar as dores e os dissabores. Reavaliar-se, reinventar-se. Aprender a levantar sozinho e enxugar a própria lágrima. Aprende-se também a comemorar sozinho e rir de si mesmo e não contar a ninguém. Sair pelas ruas a observar os andantes, ouvir conversas alheias no ônibus e na fila do banco. Viver só é sentar pra observar o mundo de cima da pedra mais alta. E se aprende muito ao se libertar e escolher a vida a um. Mas viver só não é estar só. Pelo contrário, se aprende também a escolher melhor as companhias e aproveitar intensamente esse intervalo entre a liberdade e a solidão.

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É, no mínimo, curioso, quando você pensa que a felicidade custa menos que uma passagem de ônibus. Quanta alegria havia naquelas tardes em frente a Tv, onde bastava a sessão da tarde, cream craker com goiabada e suco de maracujá. As corridas de tampilha, perna de pau e guiador. Uma felicidade inocente ao preço da imaginação. E esse era um mundo perfeito, que foi engolido pela ambição de coisas que diziam na televisão. Hoje sei que eram promessas vazias e que nós é que empurramos a felicidade sempre um passo à frente. Menosprezaram meu universo simples e fantástico e me fizeram acreditar que aquilo era miséria., mas na verdade era a mais pura riqueza. Hoje sei que miséria mesmo é não ter imaginação.

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Tenho alimentado o hábito de ouvir Clarice ante de dormir. Estou sempre com esperança de que ela vai me dar algum sonífero e me colocar pra dormir uma noite tranquila. E ela tem feito isso várias vezes. Escolhi “A descoberta do mundo” como livro de cabeceira. Descobri que Cazuza o tinha a esse propósito e roube-lhe a ideia. Outra noite li numa das crônicas uma entrevista que Pablo Neruda havia concedido a ela. Em meio a entrevista ela pergunta: Você já sofreu muito por amor? Ao que ele responde: Estou disposto a sofrer mais. Não sei muito sobre Pablo Neruda, mas naquela noite, fui dormir considerando-o o maior de todos os homens.

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“ O primeiro senso é a fuga. Bom, na verdade é o medo, daí então a fuga” Disse o poeta. Talvez isso explique o fato de alguém deixar a comodidade da zona urbana e se embrenhar mato a dentro. Mas de que medo se fala? Medo das ruas? De gente? De ser normal? De ser igual? Medo da vida moderna, acelerada e virtual? Não. Talvez seja apenas o medo de que um dia tudo isso vire vidro e cimento. de que o solo vire piso e dele nada mais brote senão um ramo de mato desesperado tentando romper a rachadura. Criamos o medo dos bichos. Deixamos o campo pra aglomerar as ruas onde habitam bichos urbanos e vis. Onde mora a crueldade e a injustiça. Onde se mata e se morre de medo. Me deixem com os macacos que não viraram gente e com as cobras que não andam e não falam. Viveremos todos fora das jaulas, livres. Talvez consigamos nos respeitar e saber onde começa e onde termina o direito e o espaço um do outro. E ao acordar em vez de uma buzina ou um comerciante eufórico ao telefone, me cante um pássaro qualquer que eu vou levantar, molhar a cara na fonte e ver uma ou duas borboletas dançarem. No fim do dia, depois da labuta, caio no buraco. Volto pra mato, pra terra e me enterro no país das maravilhas. De onde espero extrair fantasias, contar umas estórias e sonhar novos sonhos. João Nunes

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Não. Não falaremos de amor, pois isso envolve outras pessoas. Falaremos de felicidade. Essa sim, não depende de ninguém. Basta que pra isso cada um busque a sua e sejam todos felizes e sorridentes. Cada um com seu próprio brinquedo eletrônico e um bicho de estimação. Sendo assim, a alegria será constante. O amor pode trazer sofrimento. E isso ninguém quer mais. Ser feliz é a necessidade vigente, não ouse ir contra os padrões. Seja apenas feliz no seu canto. Deixe os outros em paz. Por quê incomodar alguém com um pouco de sentimento?

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Hoje, num papo trivial, me surge, inesperadamente, um frase daquelas que te forçam a pensar nela por um tempo: “A única razão de sermos tão apegados em memórias é que elas não mudam” Eu fico meio zonzo quando uma verdade me acerta na cara assim. Não é que realmente a lembrança é a única coisa que não muda, por mais que as pessoas venham a mudar? E por pior que sejam essas mudanças a memória não atualiza. A lembrança a cerca de algo ou de alguém, permanece ali, intacta, inabalável. E isso é meio mágico. Talvez você discorde dessa visão agora, mas se um dia perceber que é aí que se encontra o infinito, aquela coisa de eternidade, você vai entender que descobriu outro milagre da vida. E que o pra sempre é essa lembrança imutável que reside em cada um de nós.

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Tinha algo a falar sobre culpa, mas surgiu algo mais urgente. Portanto deixaremos a culpa pra depois. É que Clarice me falou sobre prisão e achei o tema oportuno pra gastar algumas linhas. Ela diz que “há aqueles para os quais a prisão é segurança.” E nisso eu concordo plenamente. A prisão é de fato o conforto dos covardes. Daqueles que não se arriscam a pisar no chão, se molhar na chuva ou subir numa árvore. É preferível o conforto de uma cama quentinha e de um emprego seguro. Para esses a segurança é o núcleo central. Portanto se escondem por trás de grades e muros. Evitam o mundo hostil e real, onde se precisa lidar com toda sorte de vira lata. A liberdade é um campo minado, uma pedra em falso. Pode ferir-se a qualquer momento. Ou, pode-se sentir o cheiro da vida. Das ruas, dos becos, das feiras. Do mato, do morro e de gente suada. Viva. É preciso coragem pra soltar as barras. E é preciso ser louco pra ter coragem.

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Lá fora, reina o silêncio. Modificado apenas por insetos acordados. Aqui dentro, algo grita. Há contrações. Palavras que movem-se buscando a atmosfera que contradiz o sossego de plantas e bichos do mato. O mundo. Deixo parir, alcançar o ar. Mas não me deixo sair do lugar. Que alcancem a quem devam alcançar. Sejam lá quem for. Outros insetos noturnos talvez. Outros mundos. Que cheguem a todo lugar, a todo individuo. Que alimentem almas sedentas e encontrem abrigo num peito aberto qualquer ou numa cabeça amiga da poesia.

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É incrível como ás vezes dá a impressão de que você está continuamente um passo atrás. A sua fila não anda, o ônibus acabou de passar. O sistema caiu senhor. Acabou as senhas. Fim do expediente. Desculpa, mas eu acabei de vender. Já foi alugado. Não é mais aqui. A vaga acabou de ser preenchida. Já tenho compromisso, se tivesse falado antes. Será o tal do destino fazendo seu jogo ou apenas a vida zombando de mim. Adianto o relógio, corro, durmo na fila, mas nada acontece. O que fiz ao tempo? Por que tanta ironia? Não já está na hora de me dá preferência? Um minuto que eu vou verificar. Acabou de acabar, eu sinto muito.

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Coisas de sábado à noite

É preciso aprender a viver só pra entender que as pessoas que nós encontramos no decorrer da vida surgem para somar e não para completar, Vivendo só, você descobre que tem mais força e coragem do que imagina. E que tem muito mais a oferecer do que a pedir. Viver só, também te ajuda a valorizar mais a companhia de pessoas especiais. Assim como te ensina a ser mais atento com o que há a tua volta. Hoje, por exemplo, eu percebi que as tangerinas estão ficando maduras e que nasceram umas flores amarelas no quintal. Notei também que as pessoas mais simples são as que mais sorriem. E que o sorriso delas, apesar de deselegantes, dão inveja.

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É tudo tão rápido quanto um encontro às dez Mova-se, corra, não pare! é urgente, gente O trem, bala, voa, avião, mais rápido por favor! Atrasos, filas, ônibus lotado todo dia, atrasado de novo Mas eu corri. Não parei, Nem amigo eu não fiz. Voei Á velocidade da luz, caminha-se na escuridão do ser Quem somos, operários de um mundo sem tempo? De um tempo sem vida O que tua lida ira te trazer, se não há tempo de colher o que se há de plantar? Desculpa, mas eu tenho que ir, o tempo é curto. Acabou. O dia, começa às seis. Corram! Vamos perder a vez A voz, o motivo, a razão, a vontade, a vida!

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Não se vai embora quando o pensamento fica. Não se separa, quando tudo ainda está conectado. E a saudade pode estar a distancia de um abraço apertado. É curta, mas não há quem não curta viver assim querendo. Porque quando querer é poder, pode-se tudo. Pode-se acordar coladinho e continuar sonhando. Pode-se estar apenas se olhando e continuar grudado. Quem vai saber? O que o dia afasta a noite torna a juntar. E tem frio que esquenta, boca que alimenta quem tem sede. Saciado está, quem sabe que não é só isso, pode durar. Até de manhã, noutro dia, outra vez, mais e tanto. Porque por enquanto não custa sonhar. Se acordado é estar de olhos fechados.

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Me disseram que a soma era complexa, eram mundo distintos e opostos. E me assustei com a dificuldade da soma e deixei de lado a calculadora. Deixei de somar. Mas com o tempo eu descobri que a soma também pode ser simples, apenas um mais um. E a descoberta mais interessante é que um mais um pode ser mais que dois, pode ser sorrisos, pode ser amizade, pode ser cumplicidade. E multiplica a ação, é mais emoção se somar, porque se for pra dividir é melhor que seja o travesseiro, o lençol, o chuveiro... a cama pequena, o sofá. E no fim a matemática é simples, não há o que complicar. É só mar e há mar pra somar mais, é só deixar a onda levar. Levar pra longe e trazer de volta o que for pra ficar. Afinal, no final o que a gente quer mesmo é que tudo seja infinito, então pra quê contar? Deixa o tempo passar lentamente, diminuindo a tristeza, o vazio, a incerteza, E se deixe levar, sem pressa, sem sessar, pois amanhã é mais um dia pra somar. E que possamos perder a conta, afinal de contas a soma de um mais um é mais. João Nunes

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Todos os dias à meia noite um ciclo se encerra. Por um lado é algo triste, porque muito não foi feito, palavras deixaram de ser ditas, abraços não se apertaram, nem lábios se encontraram. Mas por outro lado, ao primeiro segundo do próximo dia um novo ciclo se inicia. Na verdade nunca saberemos o que há pra ser a partir daí, porém uma coisa é certa: Abre-se uma nova janela, uma nova oportunidade de tentar mas uma vez. De certo que só ao fim do dia poderemos fechar a conta e ver o que foi feito e o que ficou pro dia seguinte. Mas até lá há muito o que se fazer. Quem sabe entre o almoço e o café da manhã surge um arco-íris... E se a noite virá a lua ou uma garoa de inverno ainda não sei, mas já agarrei a luneta e o cobertor e, venha o que vier, estarei pronto pra saborear mais uma vez o espetáculo da vida.

João Nunes

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De ontem, de hoje, de amanhã...

Todo dia pode-se descobrir algo novo sobre o amor. Ontem, por exemplo, eu descobri que o amor é mais que entrega, cumplicidade, dedicação ao outro. Descobri que o amor é superar a si mesmo. Seus medos, seus modos, seus mundos, complexos, confusos. E superando a si mesmo é que se dá espaço pro outro chegar e se aconchegar. E o outro se acomoda e se sente bem. E fazer o outro bem não é amor? Não que seja fácil se superar. É difícil como traçar uma linha reta com a mão esquerda (pra mim que sou destro). Mas amar é escrever sem pautas. Mesmo que saia tudo torto, no final a história pode valer a pena. E hoje eu descobri que o amor pode ter cheiro de café. E que pequenos gestos são grandes pra quem sabe o valor que eles têm. E que nada dá mais prazer que um abraço sonolento, um cheiro de sono, o beijo preguiçoso. E é tudo tão barato que dinheiro não pode comprar. Mas assim mesmo há quem seja capaz de dar uma fortuna por um segundo assim, sem preço a cobrar. E amanhã o que vou aprender? Bom, não hei de saber até que se faça um novo amanhecer e me traga um jeito de me superar e mais um pouquinho aprender um jeito novo de amar. João Nunes

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Às vezes é preciso morrer, porque na verdade viver cansa. E quando se chega ao fim, tudo que se quer é descansar de viver. Mas é quando se lembra que só se vive uma vez, quando se lembra disso, se perde o prazer ao descanso e, mesmo cansado, no limiar das forças, se tenta agarrar a qualquer sopro de vida que lhe dê qualquer coisa a mais de existência. E a gente acaba descobrindo que viver, na verdade, é uma busca desesperada e contínua de estar vivo. O espelho, frio e sincero, revela que independente do esforço se morre um dia de cada vez. E os olhos medrosos temem a escuridão. Lutando contra si, se dilatam a busca de um facho de luz. Não devem fechar-se, dizem entre si. Mas em vão lutam até cair vencidos e exaustos no chão de sonhos que nunca virão. A noite finda e logo vem o amanhecer levar outro dia e anunciar que o fim não tarda a chegar. Mas é cedo. E ainda há tempo...

João Nunes

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Pra onde vão os amores passados, há muito vividos? Onde se encontra as relíquias do coração? As fitas de Raul, o caderno de confidências que nada guardava em segredo. Onde ficou esquecido o colega do ginásio? E a pró do infantil? Cadê minha merendeira azul? A bola de gude, a pipa cortada com linha temperada. A primeira chuteira, o tênis do rambo. Onde está todo mundo? Vou contar até dez! Valeu? Valeu? Um, dois, três, salve eu! Um, dois, três, salve todos! Dois alto! Cansei de procurar. Talvez nunca mais encontre o medo do primeiro beijo, nem a árvore de natal de algodão. Mas sei que tudo deve estar em bom lugar. Onde todas as coisas se encontram. Onde as alegrias são eternas. Onde os amores nunca morrem e nada dura menos que pra sempre.

João Nunes

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Certa vez ela me disse que não tínhamos nada a ver. Eu discordei. Mas não tinha muito em comum mesmo. Só o gosto por café pela manhã. Mas o meu era doce. O dela meio amargo, como aquele tipo de chocolate. Só que outro dia, a gente somado na cama, tinha a ver. Havia sintonia de peito e de pele. Era como partes de uma percussão, que mesmo com suas formas distintas se fundem num só ritmo. E naquele instante não tinha nada incomum. Tudo era comum de dois gêneros: Nós. Era só fechar os olhos e sentir a perfeição dos contrastes. Perfumes que se misturam como cores numa aquarela. Vozes que entoam o mesmo canto. E então eu pensei: E daí se a gente não torce pro mesmo time?

João Nunes

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Hoje, eu queria voltar. Mas nunca se sabe se seu voto vai pra frente ou para trás. Talvez não votar seja a solução. O que não significa seguir adiante, pode ser apenas uma não decisão. Apesar do quê, não voltar pode ser caso também de orgulho. E quanto a isso repudia o coração que sabe votar. E não importa quantas voltas isso vai dar, redundância também é afirmação. Meu voto secreto é segredo de estado avançado de medo do partido. Pois partir é dividir o que já juntou e, mesmo levando cola, talvez nunca torne a grudar. Mas eleger à sorte é contradição. Afinal não se joga com o coração. Que mesmo partido levanta sua bandeira. E, abatido, ferido, não desiste da luta. A luta infinita e constante por um dia melhor. Que muitas vezes depende apenas de um voto.

João Nunes

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Na maioria das vezes é extraordinário quando se descobre algo sobre si. No entanto algumas vezes se descobre coisas que lhe deixam amedrontado. E nesse processo de lapidação, construção do próprio ser, eu descobri que posso ser um pouco mais tolerante, mais paciente e, com um pouco de esforço, posso ser até compreensivo. E isso é maravilhoso. É extraordinário saber o potencial que se tem para evoluir e quem sabe até ser um pouco útil a alguém, um pouco companheiro e amigo. Mas nesse mesmo processo de descobrimento, me veio à tona também que só sei amar demais, me entregar por completo. E isso é aquilo que dá medo. E é apavorante saber que tal coisa não tem cura. Está entranhado em cada célula do meu ser. E como é possível viver com essa descoberta? Ainda não sei. Não é como estar com uma doença terminal, mas é que isso também mata. E mata muitas vezes.

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Naquele dia eu sai batendo a porta. Menos de raiva que de frustação. Menos de frustração que de angústia. A culpa assistia à tudo intacta, esperando que alguém a reivindicasse. Mas foi em vão. Assim como aqueles três meses de insistência em manter-se firme diante da causa perdida. E antes que o sol nascesse, sepultava a esperança e olhava fixo a sua lápide em busca de algo a gravar na pedra. Mas a frase não passava de um “Aqui jaz”. Era como a semente que não germina. Apodrece sob a terra sem nunca ter visto a luz do dia. E não há água ou adubo que lhe façam surgir. Era como tentar esculpir na pedra com um pedaço de pau. Ainda posso escutar o estrondo da porta ecoando no vazio e o coração rebentando no peito. Mas aprendi a ir adiante, arrancar fora os retrovisores, olhar na direção do horizonte. E não é fácil manter o pescoço firme, sem olhar pra trás. É como tentar equilibrar um elefante na palma da mão. Mas na vida, muitas vezes é preciso se desconstruir por inteiro. Reaprender a existir e nascer de novo, com uma fagulha de esperança qualquer, ou alguma ilusão ou outra causa perdida que lhe faça sonhar. João Nunes

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Já havia passado da meia-noite quando os ventos começaram a se intensificar. A chuva era fraca, mas o suficiente para nos manter grudados na cama, enquanto potencializavam o barulho do vento. O medo começou a brotar lentamente ao percebermos que tratava-se de uma forte tempestade. E movidos pelo pavor silencioso, permanecemos imóveis sobre a cama. Apenas a abracei com mais força e pude notar seu coração disparado e apertei-a ainda mais forte contra mim. As pedras começaram a soltar-se do chão ao que uma, perdida, fez em pedaços o vidro da janela. Outras a seguiram até que não havia mais vidros, nem janelas. Assim como os móveis foram se desfazendo um a um, transformando nossa pequena decoração de natal num grande amontoado de entulho. Um pequeno silêncio se fez e, por alguns segundos acreditamos que o pesadelo havia chegado ao fim. Mas era como o silêncio que anuncia o grito e, com um tapa, o vento levou de súbito todo o telhado de uma só vez. O susto se deu de tal proporção que o único movimento possível foi apertar os olhos. Quando finalmente me tornaram as forças e consegui levantar, caminhei desolado por todo o ambiente a caça de algo que pudesse lembrar nosso lar. Mas foi em vão. Era como um cenário de guerra nos primeiros momentos de paz. Havia apenas o silêncio e o vento que soprava como se nada tivesse ocorrido. Voltei para o quarto, onde apenas a cama jazia intacta. Deitei novamente ao seu lado e a abracei ainda mais forte que antes. Ela, sem abrir os olhos, sussurrou, como quem acabara de acordar: “Não sobrou nada?”. Eu, sem abrir os olhos, como quem ainda procura o sonho inacabado, respondi: “Sobrou você.” João Nunes

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Volte amanh達....

Jo達o Nunes

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