Revista Desquadro

Page 1

RA CONHEÇA O ND CAND OL IDATO FE

Desquadro

14

Edição 01 13 de março de 2015 desquadro.com.br

Jean Wyllys ABERTO AO DEBATE DA CANNABIS

11

OS PRIMEIROS ÁLBUNS DE DE 2014 E O QUE VEM POR AÍ

ELIANE BRUM MEU FILHO, VOCÊ NÃO MERECE NADA

13

Ele fez do rap a música popular brasileira

CRIOLO 04

10



EDITO RIAL

LEGALIZAR AS DROGAS Para proteger o usuário e desempregar o traficante.

A questão das drogas está cercada de falácias e preconceitos. Existe o usuário, que faz uso recreativo, e o dependente, que é outra situação. Mas como diz Eduardo Galeano, "a culpa não é da faca". A maioria dos usuários de drogas não vira dependente, mas apenas faz uso recreativo, por isso é necessário distinguir o uso do abuso, proteger o primeiro como liberdade individual e tratar do segundo na perspectiva da saúde, ajudando o dependente, como se faz com o alcoólatra ou com aquele que abusa do Lexotan ou de determinados analgésicos ou antidepressivos. Pensemos no álcool: o abuso dele traz mais problemas à sociedade que o próprio crack, enquanto seu uso recreativo não traz problema algum, é socialmente aceito, faz parte da cultura, da religião e é até mesmo incentivado. Quase toda a população consome álcool, mas nem toda a população é alcoólatra! Da mesma forma, os usuários recreativos de maconha, cocaína, êxtase ou qualquer outra droga têm de ter sua liberdade respeitada: se alguém tem o direito de encher a cara num bar ou em casa, também tem o direito de fumar um baseado! Você nunca fez? Isso está dentro da liberdade individual, e a pessoa tem de estar consciente dos danos que aquela droga pode causar. As consequências sociais das políticas atuais, que parecem ser ignoradas pela população mais abastada — cuja maior preocupação é a violência do usuário do crack e o fato de o filho ser abordado pelo traficante na saída do colégio —, e que influem diretamente na vida das comunidades mais pobres, que vivem à margem do

Estado, como forma de higienização social. A forma como as crianças e adolescentes das comunidades são vulnerabilizados ao crime organizado pela ausência de interesse do Estado em lhes dar as mesmas condições de humanização e de vida com pensamento jamais será corrigida com políticas de repressão ao consumo de drogas! Muito pelo contrário, só piora! Por último, a criminalização não produz qualquer benefício à sociedade nem sequer naquilo que implicitamente promete. Alguns ingenuamente ainda acreditam que a simples proibição impede que alguém faça uso de alguma substância, mas está provado que isso não acontece. O consumo de drogas não se reduziu pela criminalização, mas aconteceu o contrário. E o que temos, então, é crime organizado, violência, corrupção policial, insegurança, milhares de mortes, criminalização de jovens das favelas e das periferias, presídios lotados onde esses jovens têm seu futuro aniquilado e drogas de má qualidade vendidas de maneira informal, sem controle, a pessoas de qualquer idade, em qualquer sítio e sem pagar impostos. Tudo errado! O caminho é outro. Legalizar o consumo é tirar o usuário recreativo da inútil marginalidade e estigmatização.

04 Criolo: Um em um Milhão Criolo começa a sentir os efeitos de uma carreira promissora que já extrapola o universo do rap por Gustavo Silva

10 Como se fabricam crianças loucas Os manicômios não são passado, são presente. por Eliane Brum

11 Inicia-se o debate da legalização da maconha Jean Wyllys ousa ao colocar legalização na pauta do Senado por Antonio Burani

13 Seis melhores álbuns de 2014 lançados até agora BEYONCÉ, Mil Coisas, No Mythologies To Follow, The New Classic, Segue o Som e Vista pro Mar

Revista Desquadro música, política e sociedade João Pedro Kist e Karine Naue

Desquadro

03


UM EM UM ~

MILHAO O

Criolo começa a sentir os efeitos de uma carreira promissora que já extrapola o universo do rap

P O R G U S T AV O S I LVA

chamado às armas da torcida ecoa algumas vezes por um Pacaembu que, apesar do frio invernal da noite de quarta-feira, reúne uma massa de quase 30 mil alvinegros, divididos entre vascaínos de um lado e os torcedores do clube mandante em 90% do Desquadro

04



CRIOLO do estádio. Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, cara de poucos amigos, fuma um cigarro atrás do outro a cinco bancos de distância. Adriano, o Imperador sem trono, sem jaqueta e sem frio, também está na área reservada - e demarcada como tal nos assentos - à comissão técnica. Ao meu lado, está um dos loucos do bando. A jaqueta bordô do Timão o protege da baixa temperatura e cobre a camisa do time que ganhara de presente da Nike pouco antes, personalizada com um nome: Criolo. Os figurões parecem não chamar a atenção dele. As reações ao jogo são contidas. As palmas são batidas de forma quase aristocrática e, emulando um técnico com os movimentos, indica para onde os jogadores deveriam se deslocar em campo, tocar e receber - mas tudo de forma sutil. Algo parece conter Criolo que, em um passado não muito distante, aquecia-se para os jogos em frente ao estádio com duas maria-moles (uma bebida de boteco, mistura barata de conhaque e Contini), churrasquinho e pernil. "Hoje, o dia é dele", ele aponta para o pai, sentado ao nosso lado. Seu Cleon, cabelos brancos, barriga da vivência de 61 anos, "um negro lindo, de traços fortes", segundo o próprio filho, é um homem de poucas palavras, seguro de si e dono da situação. Ele também veste a camisa com o nome artístico do filho Kleber Cavalcante Gomes nas costas, assim como uma funcionária da Nike, que modificou o gênero da palavra e tornou-se a "Criola". "As pessoas às vezes vão aos shows e pintam as camisas com meu nome. É uma corrente do bem", o rapper diz, emendando uma de suas expressões recorrentes: "É muito louco isso tudo". "É digno? Não é fruto de roubo ou de sacanagem? Então eu aceito a ajuda", Criolo reflete sobre a própria situação atual, contando com suporte em diversas frentes. A dentista - que lhe extraiu os dentes do siso e um molar podre - cobrou apenas o valor do material utilizado. O apartamento onde mora (pelos próximos 30 dias) no luxuoso bairro central de Higienópolis é de uma amiga, que o convidou para partilhar a residência sem custos. A assessora de imprensa se encantou de tal forma com o trabalho dele que quis agenciá-lo, mesmo que não recebesse por isso. No campo, o goleiro Julio César está solidário aos adversários. Toma um gol no primeiro chute, mas o

Corinthians vira o jogo e faz dois antes dos primeiros 45 minutos. O arqueiro continua a dar sustos e emoções no segundo tempo, mas a vitória vem, junto com a liderança do campeonato. Com razão, Criolo havia profetizado, como corintiano legítimo e como artista na estrada há 23 anos: "Vai ser sofrido".

Pode não ser a melhor coisa, mas procuro fazer o melhor pra mim, pras pessoas que me cercam, pra sociedade. Em um primeiro momento, há muitas semelhanças entre o papo de Criolo e o de um jogador de futebol. Apesar de nunca começar uma frase com a expressão "com certeza", a preferida dos boleiros em entrevistas, todas as respostas dele permeiam o discurso da humildade, da contribuição - modesta - ao time (no caso dele, o cenário do rap paulistano), do trabalho duro e da recusa em criticar o outro. Só que enquanto as palavras de homens que ganham mais de R$100 mil por mês soam demagógicas e intragáveis, Criolo exala uma sinceridade difícil de ser contestada, seja pelo modo carismático - não exaltado - como transmite sua mensagem, seja pelo passado (causas vitais para entender a construção de seu caráter e até mesmo de sua personalidade artística). Desde o lançamento de Nó na Orelha, seu elogiado segundo disco - a estreia veio em 2006, com Ainda Há Tempo -, a rotina de Criolo é ser artista em tempo integral, diferentemente dos tempos em que seu nome ecoava apenas na periferia do rap, quando ainda assinava como Criolo Doido e cantava ao mesmo tempo em que exercia outros "corres": ele já foi empacotador, caixa, repositor, vendedor de roupas de porta em porta, homem-placa, além de ter trabalhado durante 13 anos como professor e educador social com crianças e adolescentes. Abandonou a faculdade de artes (e, em uma segunda oportunidade, a de pedagogia) por perrengues financeiros. O dinheiro só não o deixou abandonar a música. "A gente costumava conversar com os

amigos: 'Quanto é este tênis aqui? Quanto é sair pra ir na pizzaria? Não, isso dá tantas horas de estúdio'. Essa era a conta que a gente fazia", ele lembra, com um riso inocente. Convidado a participar da edição mais recente do Rock Gol, torneio de futebol entre artistas promovido pela MTV, Criolo teve como parceiros de time os membros do Planta & Raiz, NX Zero e ForFun. Ouviu da torcida o coro de "perna de pau", ocupou o banco de reservas, mas, no último jogo, foi eleito o capitão do time. A função dele era sintomática: meio de campo. "Eu sempre fui um cara...", ele faz uma pausa por alguns segundos, desviando o olhar, em busca do melhor exemplo para se definir. "Eu era o último escolhido pra jogar bola. Eu era aquele cara nota C, aquele que não sentava nem na frente, nem no fundão. Sempre fui invisível, igual à maioria dos jovens. Eu era um comum." O rosto de traços fortes, mas sem chamativos que o tornem diferenciado, dá suporte imagético à análise. As palavras ainda ganham reforço dos versos de "Sucrilhos": "Eu sou nota 5 e sem provoca alarde / Nota 10 é Dina Di, DJ Primo e Sabotage". Com Nó na Orelha, porém, Criolo tem, sim, provocado alarde. O álbum ganhou críticas favoráveis, o que dá fôlego para garantir vaga em listas de melhores do ano. Os ingressos para os shows de lançamento do disco se esgotaram em poucas horas - um show extra teve o mesmo destino. A música dele chegou à televisão - ele gravou com Serginho Groisman, na Globo, e também com uma equipe da rede pública France Télévisions, que produz documentário sobre a música brasileira (trazendo também depoimentos de Milton Nascimento, Lenine, entre outros). Ao lado de Emicida - de quem é amigo e com quem contracena no clipe "Então Toma" -, Criolo coloca novamente o rap sob a luz da cultura popular, um fenômeno esporádico que, no cenário nacional, teve sua maior voz na violência lírica explícita dos Racionais MC's. Mas limitar Criolo ao rap é resumir demais a música e a pessoa. Ele sabe soar romântico e emotivo, mas também agressivo e sarcástico quando os temas pedem. Nas conversas cotidianas, a voz é de tranquilidade serena, longe do estereótipo rapper das falas carregadas de gírias. O olhar pode ser estático, direcionado ao interlocutor, acompanhado de gestos Desquadro 06


pastorais com mãos que vão e voltam ao centro do peito como se acolhessem um abraço. Mas, na praça de alimentação de um shopping, ele parece esquecer o crepe de tomate seco e rúcula que repousa na mesa durante o almoço e a mim também. Os Pode não ser a olhos vagam pelo espaço. Está melhor coisa, mas pensando em uma procuro fazer o nova música - algo que faz "25 horas por melhor pra mim, dia". Não se trata de uma constatação por pras pessoas que vias de observação, me cercam, pra mas sim um fato comprovado pelo sociedade. recibo do hotel que O sucesso fez t i r a d o c a s a c o com que o cantor acomodado em seu tenha sempre sua colo. Frente e verso agenda lotada de da folha estão cheios shows, festivais e de versos formados premiações por letras e traços cidade, e a segunda dose generosa de identificáveis apenas pelo próprio autor. "Às vezes eu maria-mole repousa na mesa de tenho uma ideia de uma letra, de uma sinuca. Criolo abraça e beija a mãe e, melodia", explica, "e peço pra depois de escutarem a história alguém o celular para poder gravar." juntos, ganhamos uma carona para a Em uma viagem de van, no meio da estação de trem. No caminho, ela madrugada, Criolo acordou Marcelo conta sobre o Café Filosófico Cabral, produtor de Nó na Orelha e (projeto da qual é mentora), cujo baixista dos shows, apenas para t e m a d a ú l t i m a e d i ç ã o f o i registrar as ideias que tinha em neurolinguística. Graduada em filosofia (ela ministra aulas da mente. "Olha só, meu celular, R$ 80, matéria em uma escola estadual) e parcelado", ele saca o modelo do em pedagogia, bolso. "Não toca música; não tenho Dona Vilani também é pós-graduada MP3; não tenho gravador; ganhei em língua, literatura e semiótica. Os um aparelho de som há pouco livros de Foucault, Nietzsche e tempo, mas tá estragado." Criolo outros intelectuais e filósofos cascaouve música o tempo todo, mas d u r a e s p a l h a d o s p e l a c a s a porque ela está presente em todos os denunciam a formação. A influência lugares. Já não a escuta, como fazia dela sobre Criolo é imensa - os dois antes, no ambiente familiar rodeado estudaram juntos durante todos os pela coleção de LPs dos pais e anos do ensino-médio -, mas "fitinhas cassete do Scorpions, Raul implícita: está na amplitude do S e i x a s , N a t K i n g C o l e " , raciocínio, na exposição das ideias e, responsáveis pelas bases de sua como o presente demonstra, na formação cultural. Outras artes, perseverança. "Eu sou um grãozinho como cinema e literatura, são de areia numa praia onde tem tantos secundárias - ou nem isso. "Ih, eu talentos, só faltam oportunidades sou uma besta", ele responde com iguais para eles mostrarem o humor autodepreciativo quando trabalho", ela filosofa. A praia de questionado sobre seus hábitos de Criolo é o rap - ou a própria vida, por leitura. O tema, por sinal, é um dos associação. "Não dá pra falar da preferidos da mãe do rapper. Dona minha vida sem falar de rap, e não dá Vilani, a mãe de Criolo, passa de pra falar de rap sem falar de coisas carro em frente ao bar onde o filho da minha vida. Não é um hobby, não escuta uma história sobrenatural de é uma coisa que vou fazer para um sambista da velha-guarda 'desestressar', não é uma atividade contada por um amigo. Estamos no musical que acabou dando certo. É Grajaú, distrito pobre no extremo sul minha vida mesmo." de São Paulo, o mais populoso da

O silêncio dentro da casa é quebrado por barulhos de animais - às vezes o latido do cachorro vizinho, ora passarinhos brigando no ninho do telhado. "Pra mim é uma grande surpresa tudo que tá acontecendo", diz Criolo, analisando o momento profissional. O papo se dá na escada de concreto na casa dos pais, no Grajaú, onde moram também uma irmã e o sobrinho (um irmão mora em uma casa no mesmo lote). "O tudo que, pra mim, é muito", ele completa. "Mas, para os grandes mestres da nossa música, é só um capitulozinho do que estamos fazendo." "Mas tem verdade no que eu faço. Pode não ser a melhor coisa, mas procuro fazer o melhor pra mim, pras pessoas que me cercam, pra sociedade. O hip-hop me ensinou isso. O rap me ensinou a preocupação que se tem com aquilo que se escreve." Por isso, Criolo não teme as engrenagens do hype que articulam o pop. "Nunca fiz música pensando no financeiro", havia falado dias antes, durante o jogo do Corinthians. "É difícil encontrar alguém que acredite em honestidade musical, mas tem quem faça música, nos quatro cantos do Brasil, com o coração." O rompimento para o estrelato ainda vem aos poucos para Criolo. As pessoas o abordam agora, com a repercussão do trabalho? "Um pouquinho. De vez em quando rola Desquadro 07


um 'escutei sua música', mas bem brando." Alguém já tirou uma foto, pediu um autógrafo? "Não, não, não rola, não." O tom da resposta é envergonhado, como se a pergunta não fizesse sentido algum em seu universo de rapper, MC e, em resumo, de artista. A humildade e a modéstia de Criolo são amparadas por uma inocência de quem não está acostumado a lidar com a música como negócio. A parte burocrática da carreira, inclusive, fica por conta de Beatriz Berjeaut, empresária dele e esposa de Daniel Ganjaman, produtor de Nó na Orelha. A residência do casal também serviu de hospedagem por alguns tempos nos últimos meses. Convidado a participar da edição mais recente do Rock Gol, torneio de futebol entre artistas promovido pela MTV, Criolo teve como parceiros de time os membros do Planta & Raiz, NX Zero e ForFun. Ouviu da torcida o coro de "perna de pau", ocupou o banco de reservas, mas, no último jogo, foi eleito o capitão do time. A função dele era sintomática: meio de campo. "Eu sempre fui um cara...",

O música mudou sua vida e mudou a música popular, mostrando os problemas da periferia e suas pelicularidads

ele faz uma pausa por alguns segundos, desviando o olhar, em busca do melhor exemplo para se definir. "Eu era o último escolhido pra jogar bola. Eu era aquele cara nota C, aquele que não sentava nem na frente, nem no fundão. Sempre fui invisível, igual à maioria dos jovens. Eu era um comum." O rosto de traços fortes, mas sem chamativos que o tornem diferenciado, dá suporte imagético à análise. As palavras ainda ganham reforço dos versos de "Sucrilhos": "Eu sou nota 5 e sem provoca alarde / Nota 10 é Dina Di, DJ Primo e Sabotage". De volta à estação Grajaú, o trem aguarda. Criolo carrega uma mochila com algumas roupas que pegou de casa para levar para Higienópolis e um violão, que será objeto de estudo semanalmente na companhia de Marcelo Cabral. O instrumento atrai os olhares de alguns passageiros. "Ih, não tenho ritmo nem pra andar", ele resume, ao falar de suas poucas habilidades com as cordas. Entre alguns papos triviais, Criolo me pergunta: "Você,

que é do meio, acha mesmo que tem alguma coisa acontecendo?" Já no metrô, um rapaz aborda Criolo, sem saber quem ele é, apenas para conversar sobre guitarristas que utilizam as cordas invertidas - assim como Criolo, canhoto. Assim que as portas se abrem, um homem lhe estende a mão e o cumprimenta, dando parabéns pelo novo disco. Subimos as escadas, e, findado o papo entre eles, o fã se distancia. Criolo se vira, com um sorriso. "Pô, você viu? O cara veio falar comigo sobre o trabalho. Não é muito louc..." Antes que pudesse terminar a frase, um outro rapaz, trajando agasalho do Corinthians, se põe entre nós para dar um alô, repetindo o processo acontecido há pouco. O papo é rápido, e termina com Criolo exclamando para o fã: "Vamo, Curintia!" O sorriso no rosto do rapper atinge uma nova proporção, e vem acompanhado de uma pergunta que agora ele faz a si mesmo: "Será que tem mesmo algo acontecendo?» .



SOCIEDADE

Meu filho, você não merece nada

A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada.

– porque obviamente não acontece – na balada e foi aprovado no sentem-se traídos, revoltam-se com vestibular de Medicina. Este atesta a a “injustiça” e boa parte se emburra e excelência dos genes de seus pais. desiste. Esforçar-se é, no máximo, coisa para Como esses estreantes na vida adulta os filhos da classe C, que ainda foram crianças e adolescentes que precisam assegurar seu lugar no país. ganharam tudo, sem ter de lutar por Da mesma forma que supostamente ELIANE BRUM q u a s e n a d a d e r e l e v a n t e , seria possível construir um lugar sem d e s c o n h e c e m q u e a v i d a é esforço, existe a crença não menos construção – e para fantasiosa de que é Historiadora do cotidiano, conquistar um espaço no possível viver sem sofrer. ninguém, por só sabe existir na palavra. mundo é preciso ralar mais brilhante De que as dores inerentes Uma repórter que retrata m u i t o . C o m é t i c a e que seja, a toda vida são uma histórias de pessoas e honestidade – e não a a nomalia e, como consegue tudo problemas comuns em cotoveladas ou aos gritos. p ercebo em muitos o que quer. nosso País e que são Como seus pais não jovens, uma espécie de deixados de lado conseguiram dizer, é o traição ao futuro que diariamente. mundo que anuncia a eles uma nova deveria estar garantido. Pais e filhos não lá muito animadora: viver é para têm pagado caro pela crença de que a o conviver com os bem mais os insistentes. felicidade é um direito. E a jovens, com aqueles que se frustração um fracasso. Talvez aí Por que boa parte dessa nova tornaram adultos há pouco e esteja uma pista para compreender a com aqueles que estão tateando para geração é assim? Penso que este é geração do “eu mereço”. um questionamento importante para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais quem está educando uma criança ou Basta andar por esse mundo para preparada –e, ao mesmo tempo, da um adolescente hoje. Nossa época testemunhar o rosto de espanto e de mais despreparada. Preparada do tem sido marcada pela ilusão de que mágoa de jovens ao descobrir que a ponto de vista das habilidades, a felicidade é uma espécie de direito. vida não é como os pais tinham lhes despreparada porque não sabe lidar E tenho testemunhado a angústia de prometido. Expressão que logo com frustrações. Preparada porque é muitos pais para garantir que os muda para o emburramento. E o pior capaz de usar as ferramentas da filhos sejam “felizes”. Pais que é que sofrem terrivelmente. Porque tecnologia, despreparada porque fazem malabarismos para dar tudo possuem muitas habilidades e despreza o esforço. Preparada aos filhos e protegê-los de todos os ferramentas, mas não têm o menor porque conhece o mundo em perrengues – sem esperar nenhuma preparo para lidar com a dor e as viagens protegidas, despreparada r e s p o n s a b i l i z a ç ã o n e m decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar porque desconhece a fragilidade da reciprocidade. limitações – e que ninguém, por mais É como se os filhos nascessem e matéria da vida. E por tudo isso brilhante que seja, consegue tudo o imediatamente os pais já se sofre, sofre muito, porque foi que quer. ensinada a acreditar que nasceu com tornassem devedores. Para estes, o patrimônio da felicidade. E não foi frustrar os filhos é sinônimo de Quando converso com esses jovens fracasso pessoal. Mas é possível no parapeito da vida adulta, com ensinada a criar a partir da dor. uma vida sem frustrações? Não é suas imensas possibilidades e riscos Há uma geração de classe média que i m p o r t a n t e q u e o s fi l h o s tão grandiosos quanto, percebo que estudou em bons compreendam como parte precisam muito de realidade. Com colégios, é fluente em do processo educativo duas tudo o que a realidade é. Sim, Nossa época outras línguas,viajou premissas básicas do viver, assumir a narrativa da própria vida é para o exterior e teve tem sido a frustração e o esforço? para quem tem coragem. Não é acesso à cultura e à marcada pela Ou a falta e a busca, duas complicado porque você vai ter tecnologia. Uma geração ilusão de que a f a c e s d e u m m e s m o competidores com habilidades que teve muito mais do felicidade é m o v i m e n t o ? E x i s t e iguais ou superiores a sua, mas que seus pais. Ao mesmo uma espécie alguém que viva sem se porque se tornar aquilo que se é, tempo, cresceu com a de direito. confrontar dia após dia buscar a própria voz, é escolher um ilusão de que a vida é com os limites tanto de sua percurso pontilhado de desvios e fácil. Ou que já nascem condição humana como de sem nenhuma certeza de chegada. É prontos – bastaria apenas que o viver com dúvidas e ter de responder m u n d o r e c o n h e c e s s e a s u a suas capacidades individuais? pelas próprias escolhas. Mas é nesse Nossa classe média parece desprezar genialidade. movimento que a gente vira gente o esforço. Prefere a genialidade. O Tenho me deparado com jovens que grande. esperam ter no mercado de trabalho valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é Crescer é compreender que o fato de uma continuação de suas casas – esforçado” é quase uma ofensa. Ter a vida ser falta não a torna menor. onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. de dar duro para conquistar algo Sim, a vida é insuficiente. Mas é o Foram ensinados a pensar que parece já vir assinalado com o que temos. E é melhor não perder merecem, seja lá o que for que carimbo de perdedor. Bacana é o tempo se sentindo injustiçado queiram. E quando isso não acontece cara que não estudou, passou a noite porque um dia ela acaba.

A

Desquadro

10


POLÍTICA

Maconha na pauta do Congresso Projeto de lei também reduz pena para quem vende outras drogas ilícitas. Deputado diz que lei não 'libera a maconha' nem aumentará nº de usuários. Por Antonio Burani

O

deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) protocolou na última quarta-feira (19) projeto de lei que autoriza a produção e venda de maconha no país. Pela proposta, o governo teria o controle da comercialização por meio do registro dos locais de produção e pontos de venda, além de ficar obrigado a padronizar e inspecionar o produto. Também fica permitido o cultivo limitado da planta da cannabis, matéria-prima da droga, dentro da casa do usuário. Este é o segundo projeto sobre descriminalização da maconha que começa a tramitar na Câmara no intervalo de um mês. No final de fevereiro, outro projeto semelhante, de autoria do deputado Eurico Júnior (PV-RJ), foi protocolado na Casa. No Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou, também em fevereiro, que levará para discussão projeto de iniciativa popular sobre a regulamentação do uso da maconha. A proposta de Jean Wyllys estabelece que cada pessoa pode cultivar até 12 pés de cannabis em casa para consumo próprio, sendo que seis plantas devem estar prontas para a colheita e outras seis imaturas. O produto colhido deve render, no máximo, 480 gramas da droga e fica isento de registro e inspeção pelo governo. Pelo projeto, no varejo, a venda de maconha fica limitada a 40 gramas mensais por indivíduo. O texto não especifica como deve ser feito o cadastro de compradores para exercer esse controle. O texto também estabelece que caberá ao Ministério da Agricultura a responsabilidade pelos trâmites de registro e padronização do comércio de cannabis e derivados, além da responsabilização pela inspeção. Já a inspeção de aspectos sanitários da droga ficaria a cargo do Ministério d a S a ú d e . "A regulação que este projeto de lei propõe não 'libera a maconha', que já é livre, mas estabelece regras para sua produção e comercialização baseadas em critérios técnicos e

O jovem deputado levanta bandeiras polêmicas para um congresso tão conservador

científicos, bem como nas experiências de políticas públicas que foram bem sucedidas em outros países. E seu efeito não será o aumento ou a redução da quantidade de usuários ou de comerciantes", diz Wyllys na justificativa do projeto. Segundo o projeto, os locais de venda de maconha, para uso recreativo ou medicinal, devem ser licenciados. No caso da venda

medicinal, deve haver receita médica. Fica proibida a criação de qualquer tipo de registro ou a coleta de dados sobre consumidores de drogas que incluam qualquer tipo de identificação pessoal. A proposta também prevê que se crie o Conselho Nacional de Assessoria, Pesquisa e Avaliação para as Políticas sobre Drogas, que será mantido com recursos dos impostos recolhidos pela comercialização de Desquadro 11


repartições públicas nos estudos de políticas sobre drogas e tem entre suas prerrogativas a atribuição de recomendar ao governo a retirada de outras substâncias da lista de drogas ilícitas. O texto faz, ainda, uma série de alteração na lei 11.343, que cria o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Uma das alterações é a que reduz de cinco para quatro anos de prisão a pena mínima para quem produz, fabrica, importa ou vende drogas ilícitas, exclusivamente para os casos de fim de obter lucro. Na legislação atual, a pena de cinco anos de prisão vale também para quem fornece a droga gratuitamente. "Consideramos este projeto um primeiro passo de uma mudança mais profunda que deve continuar, já que somos favoráveis à regulação de todas as drogas, o que deverá chegar após um amplo processo de debate, conscientização e construção de um modelo alternativo ao atual, evidentemente fracassado", informa o texto de Jean Wyllys. "Nas ruas, não vai se poder fumar, sobretudo próximo às escolas. O projeto estabelece que, nos lugares de venda, a exposição do produto tem que estar regulamentada e o consumidor tem que estar a par dos danos que ocorrem com o consumo", ponderou o deputado. "Além disso, estabelece que o Poder Executivo deverá delimitar zonas de cultivo e levar em consideração critérios de preservação ambiental e limites máximos para a extensão de terras destinadas ao plantio e fabricação de produtos derivados da maconha", disse. Conforme o texto, 50% da arrecadação com tributos decorrentes das atividades serão destinados ao financiamento de políticas públicas para tratamento de dependentes químicos. Outro ponto do projeto prevê anistia para as pessoas processadas por tráfico, desde que as prisões não sejam decorrentes de crimes com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo ou tráfico internacional de drogas . Para o deputado, é preciso que a sociedade encare o debate do ponto de vista da segurança e da possibilidade de geração de emprego e renda. "O projeto prevê que essas pessoas presas por pequenas quantidades possam entram na venda legal, desde que registradas", disse. "A gente precisa enfrentar essa questão e dar uma segunda chance para essas pessoas que entram no tráfico pela pobreza." No Senado, também tramita um projeto de lei de iniciativa popular que trata da legalização do plantio doméstico de maconha e do comércio em locais

licenciados. O projeto de lei, relatado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), foi proposto por meio do portal e-cidadania do Senado, onde qualquer pessoa pode fazer proposições legislativas, e recebeu mais de 20 mil assinaturas eletrônicas de apoio. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) protocolou na última quarta-feira (19) projeto de lei que autoriza a produção e venda de maconha no país. Pela proposta, o governo teria o controle da comercialização por meio do registro dos locais de produção e pontos de venda, além de ficar obrigado a padronizar e inspecionar o produto. Também fica permitido o cultivo limitado da planta da cannabis, matéria-prima da droga, dentro da casa do usuário. Este é o segundo projeto sobre descriminalização da maconha que começa a tramitar na Câmara no intervalo de um mês. No final de fevereiro, outro projeto semelhante, de autoria do deputado Eurico Júnior (PV-RJ), foi protocolado na Casa. No Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou, também em fevereiro, que levará para discussão projeto de iniciativa popular sobre a regulamentação do uso da maconha. A proposta de Jean Wyllys estabelece que cada pessoa pode cultivar até 12 pés de cannabis em casa para consumo próprio, sendo que seis plantas devem estar prontas para a colheita e outras seis imaturas. O produto colhido deve render, no máximo, 480 gramas da droga e fica isento de registro e inspeção pelo governo. Pelo projeto, no varejo, a venda de maconha fica limitada a 40 gramas mensais por indivíduo. O texto não especifica como deve ser feito o cadastro de compradores para exercer esse controle. O texto também estabelece que caberá ao Ministério da Agricultura a responsabilidade pelos trâmites de registro e padronização do comércio de cannabis e derivados, além da responsabilização pela inspeção. Já a inspeção de aspectos sanitários da droga ficaria a cargo do Ministério da Saúde. "A regulação que este projeto de lei propõe não 'libera a maconha', que já é livre, mas estabelece regras para sua produção e comercialização baseadas em critérios técnicos e científicos, bem como nas experiências de políticas públicas que foram bem sucedidas em outros países. E seu efeito não será o aumento ou a redução da quantidade de usuários ou de comerciantes", diz Wyllys na justificativa do projeto.

O Ministério da Agricultura a responsabilidade pelos trâmites de registro e padronização do comércio de cannabis e derivados, além da responsabilização pela inspeção. Já a inspeção de aspectos sanitários da droga ficaria a cargo do Ministério da Saúde. "A regulação que este projeto de lei propõe não 'libera a maconha', que já é livre, mas estabelece regras para sua produção e comercialização baseadas em critérios técnicos e científicos, bem como nas experiências de políticas públicas que foram bem sucedidas em outros países. E seu efeito não será o aumento ou a redução da quantidade de usuários ou de comerciantes", diz Wyllys na justificativa do projeto. Segundo o projeto, os locais de venda de maconha, para uso recreativo ou medicinal, devem ser licenciados. No caso da venda medicinal, deve haver receita médica. Fica proibida a criação de qualquer tipo de registro ou a coleta de dados sobre consumidores de drogas que incluam qualquer tipo de identificação pessoal. A proposta também prevê que se crie o Conselho Nacional de Assessoria, Pesquisa e Avaliação para as Políticas sobre Drogas, que será mantido com recursos dos impostos recolhidos pela comercialização de produtos da cannabis. O órgão deve auxiliar outras repartições públicas nos estudos de políticas sobre drogas e tem entre suas prerrogativas a atribuição de recomendar ao governo a retirada de outras substâncias da lista de drogas ilícitas. O texto faz, ainda, uma série de alteração na lei 11.343, que cria o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Uma das alterações é a que reduz de cinco para quatro anos de prisão a pena mínima para quem produz, fabrica, importa ou vende drogas ilícitas, exclusivamente para os casos de fim de obter lucro. Na legislação atual, a pena de cinco anos de prisão vale também para quem fornece a droga gratuitamente. "Consideramos este projeto um primeiro passo de uma mudança mais profunda que deve continuar, já que somos favoráveis à regulação de todas as drogas, o que deverá chegar após um amplo processo de debate, conscientização e construção de um modelo alternativo ao atual, evidentemente fracassado", informa o texto de Jean Wyllys. "Nas ruas, não vai se poder fumar, sobretudo próximo às escolas. O projeto estabelece que, nos lugares de venda, a exposição do produto tem que estar regulamentada e o consumidor tem que estar a par dos danos que ocorrem com o consumo". Desquadro 12


OS PRIMEIROS ÁLBUNS DE 2014

Iggy Azalea

Vanessa da Mata

No Mythologies To Follow

The New Classic

Segue o Som

Vista pro Mar

Ela chegou ditando regras

O rap é o novo clássico atual

O ritmo que Vanessa segue

Silva de novo, de novo e de novo

Você conhece aqueles fenômenos Pop que surgem do nada: um dia brota uma mina loira (ou quase sempre são) de seus 18 ou 19 anos cantando muito ou com alguma coisa que chama muito a atenção. Bom, pelo que tudo indica, a sueca MØ pode ser a próxima. Para quem não conhece, Karen Marie Ørsted, ou apenas MØ (pronuncia-se “moo”), é uma cantora dinamarquesa que aos pouco vem ganhando espaço na cena pop mundial. Lá pelos idos de 2012, ela lançou “Maiden”, seu primeiro single e aí não parou mais. Durante todo o ano passado Mø lançou várias músicas, se apresentou em programas de televisão, saiu em turnê pelos EUA e até colaborou com Avicii em “Dear Boy”, faixa do disco mais recente do DJ. Na primeira vez que ouvi, o som da moça me lembrou muito Lana Del Rey, com uma vibe meio futuro dos ano 60. Mas, ouvindo melhor dá pra perceber que as músicas tem uma pegada bem electro pop, que deixa todo mundo com vontade de dançar, ou pelo menos mexer o ombrinho. Dizem que o show é incrível, ela não para de se mexer um minuto, faz cover de Spice Girls e dá até pra se sentir em uma aula de aeróbica. MØ é intensa, de um jeito incrível faz de sua um verdadeiro mantra. Pode ser que a suéca não seja a voz de sua geração, mas, provavelmente será de alguma, perdida por aí. A espera de alguém. Durante todo o ano passado Mø lançou várias músicas, se apresentou em programas de televisão, saiu em turnê.

Depois de muita espera, Iggy Azalea finalmente lançou seu primeiro álbum. Intitulado “The New Classic”, nele podemos perceber sua evolução musical desde seu primeiro single 'Work', lançado em Março de 2013. Após diversos adiamentos e mais três singles promocionais. Iggy classifica o conceito de seu álbum como uma cápsula do tempo. O seu sentido de “clássico” não varia para o lado hypado e culto, e sim algo que marque a visão musical daquele momento que está escutando. Eletrônico, dançante e energético, “The New Classic”, mostra, em suma, a história de Iggy, soando um pouco repetitiva em alguns momentos em faixas como “Impossible is Nothing” e “Rolex”. Em “Fuck Love”, podemos notar uma mixagem excessiva na produção de Diplo, já em “Walk the Line” notamos uma forte influência do rapper Eminem em seus violentos vocais, que os executa de forma maestral na faixa. Em “Just Sayin'” percebemos uma forte segregação do material encontrado no álbum, com sonoridade e letras completamente direcionadas ao pop. Rixas a parte, encontramos forte influência dos típicos instrumentais de Azealia Banks na faixa “Goddess” – talvez inseridos pelos produtores em comum presentes nas carreiras de ambas as cantores. Em “Just Sayin'” percebemos uma forte segregação do material encontrado no álbum, com sonoridade e letras completamente direcionadas ao pop.

O som segue por debaixo dos caracóis do cabelo de Vanessa da Mata, ondulando em várias tonalidades. Num lugar distante do passado ficou a garota que, sentada nos degraus de um teatro vazio em São Paulo, foi apresentada a Gilberto Gil como “uma menina” de quem todos ainda ouviriam falar, como lembra o próprio Gil no texto de apresentação do disco. No seu sexto trabalho, ela fixa seu nome num singular patamar da MPB, entre a cantora pop, que a massa reconhece de hits como “Não me deixe só” e “Boa sorte/Good luck”, e a intérprete de fino trato, que é capaz de reconhecer a força de Sly & Robbie (a mais potente cozinha do reggae, que a acompanhou em “Sim”, seu terceiro disco) e que traz para o seu lado, desta vez, craques como Fernando Catatau, Marcelo Jeneci, Lincoln Olivetti e Money Mark. Num disco de forte marca feminina, é apoiada neles e nos fortes ombros dos produtores Liminha e Kassin que Vanessa resume sua carreira e tenta avançar, entre as curvas do reggae e s t i l i z a d o ( “ To d a humanidade veio de uma mulher” e “Homem invisível no mundo invisível), brilhando na alegria (“Rebola nêga”, com seu balanço sincopado) e na tristeza (com a dramática “Ninguém é igual a ninguém”, colorida pelo teclado de Jeneci). Nos extremos, a dispensável versão de “Sunshine on my shoulders" (de John Denver) e o poderoso encanto de “Homem preto».

Silva mostrou seu valor desde o início de sua carreira, muito antes do lançamento de Claridão (2012), já que o disco chegou com seis músicas que já conhecíamos de seus EPs anteriores. Com isso, Vista pro Mar entrará para a discografia do capixaba Lúcio Souza como seu segundo álbum, mas carrega nos ombros onze faixas pensadas só para ele e uma identidade ainda mais própria que o anterior, dois fatores que contribuíram para a qualidade final da obra. Vista pro Mar, a faixa, abre o trabalho e já mostra muito do que ouviremos nos próximos 48 minutos (tempo que passa bem rápido e, se você se descuidar, logo vem um repeat e mais outro, mais outro e outro). É uma música animada, que coloca o agradável timbre do cantor em um universo contemporâneo alinhado às tendências e, como eu disse, dentro de uma estética de teclados e percussão eletrônica que se mistura às ondas em trechos específicos do disco. É um clima de fechar os olhos e de dançar, ou os dois ao mesmo tempo. Vista pro Mar estabelece, já no título, a perspectiva de quem está em terra firme mirando o azul do horizonte. No caso de SILVA, como já suspeitávamos, sua carreira possui esta amplitude quando contemplada daqui em relação ao futuro. Como poeta, como cantor, como artista - Lúcio pode mergulhar à vontade. É uma música animada, que coloca o agradável timbre do cantor em um universo contemporâneo alinhado às tendências e, como eu disse, dentro de uma estética de teclados e percussão. Desquadro 13

Silva


O QUE VEM POR AÍ

Disco de Lana Del Rey já está nalizado Lana Del Rey atualmente enfrenta a velha pressão de um mal que atinge a todos os cantores: o segundo álbum. Principalmente quando esse segundo álbum é sucessor da obra-prima do século XXI, "Born To Die". Sabemos que na verdade o "Born To Die" é o segundo álbum da musa, já que ela lançou o "Lana Del Ray" em 2010, mas não estamos considerando-o pelo menos motivo que não consideramos o "Katy Hudson" da Katy Perry ou o "Red And Bue" da Lady Gaga (todos vieram antes das divas adotarem a persona que tem hoje). Continuando, Lana tem o desafio de tentar ao menos chegar perto da beleza que é o "Born To Die" com o "Ultraviolence", seu novo álbum, que - gritos liberados está finalizado. O novo álbum da deusa dos lábios de 7kg está mais próximo do que imaginávamos. A informação veio da própria cantora, que por meio de DM, revelou que o álbum está finalizado. Veja na imagem (via Lana Del Rey Brasil). "Tendo uma noite muito boa. O álbum está finalizado e está lindo (...) Não se preocupe, você vai amar o 'Ultra'. Ele é tão errado e requintado". “Eu queria que estivéssemos todos aqui reunidos para tentar visualizar o encerramento de um capítulo antes de lançar o novo disco, Ultra-Violence”, disse a cantora ao público que estava no local para a exibição. Mas além do título, que faz referência ao famoso livro de 1962 de Anthony Burgess, Laranja Mecânica, ela não revelou mais nenhum detalhe.

Lana Del Rey no set de gravação do primeiro single de Ultraviolence

Adele está gravando novo álbum

Adele irá voltar depois de ter um lho O próximo disco de Adele, sucessor do fenômeno de vendas "21", deve chegar ao mercado em meados de 2014. "Atualmente, Adele está em um estúdio de gravações em Londres, em modo de confinamento pelas próximas semanas", disse uma fonte ao tabloide Daily Mirror. "Quatro faixas estão prontas em termos de composição e agora ela está fazendo vocais preliminares com música de fundo e cantores. O restante do disco será feito em Los Angeles. A sensação é a de que Adele está voltando às suas raízes, como um pouco de jazz moderno e umas duas canções antigas e clássicas", acrescentou o informante. A equipe de Susan Boyle negou rumores veiculados pelos tabloides de que a data de lançamento do novo trabalho de Adele nos EUA teria adiado a chegada ao mercado do próximo disco da artista revelada no programa Britain's Got Talent. Na América, as duas estrelas têm contrato com a Columbia Records. Pelo Twitter, Boyle confirmou que o seu quinto LP terá lançamento mundial no fim deste ano. Segundo informações do jornal The Sun, a dupla fará uma parcerira no sucessor de 21, o aguardado segundo álbum da britânica. “A razão por que Adele apenas ficou um curto período de tempo no concerto de Prince, deveu-se ao fato de, para ela, ter sido apenas uma reunião de negócios, ela tinha que ir para casa. Eles querem trabalhar juntos no seu próximo álbum”, disse uma fonte ao tabloide. Adele tem passado muito em estúdio, segundo a publicação, pora uma grande pressão de sua gravadora. "Os produtores da gravadora estão muito entusiasmados e pessoas da indústria dizem que o lançamento do novo registo de Adele será antes do previsto”. Eles querem trabalhar juntos no seu próximo álbum”, disse uma fonte ao tabloide. O novo álbum ainda não tem previsão de estreia, mas segundo um dos produtores de Adele, Sales Moss, será divulgado ainda esse ano. Recentemente, uma música chamada “Devil On My Shoulder” foi registrada por Adele, e pode vir a compor o novo CD.

PERFIL Randolfe

Rodrigues

No início dos anos 90, a geração cara pintada dava os primeiros passos pelas ruas do Brasil nas frentes de luta do movimento estudantil. No Amapá, um garoto magrinho, com cabelo bem preto e espetado, de sotaque pernambucano, liderava as passeatas pelo Fora Collor, organizava grêmios nas escolas secundaristas e se metia em todo tipo de debate político que aparecia pela frente. Entre os 13 e os 16 anos, o jovem Randolph Rodrigues – o “ph” do nome foi substituído por “fe” quando se tornou candidato a cargo eletivo – já era a mais barulhenta liderança estudantil em Macapá. Filho de sindicalista do PT, cedo rompeu com a corrente do pai, o urbanitário Januário Martins, para se juntar aos grupos mais à esquerda do partido. Mas, isso não o fez menos obediente em família. Até hoje, Januário cerca o filho de cuidados, fiscaliza a saúde e cobra a presença de Randolfe nos almoços e celebrações familiares. Do tempo que pedalava uma bicicleta velha até o campus da Universidade Federal do Amapá, onde cursou História, aos dias de hoje, Randolfe tem a mesma impressionante paixão pela política. Mestre em Políticas Públicas, também se graduou em Direito para compor o arcabouço de conhecimentos necessários para seu mister. Aos 38 anos, com cara de menino e riso fácil, foi apelidado de Harry Potter quando resolveu disputar a presidência do Senado contra José Sarney, jogando farofa na festa da unanimidade. Randolfe recorreu ao filho Gabriel, de 15 anos, sua cópia mais rechonchuda, para entender a saga do bruxo adolescente. Não deixa escapar nada, e queria saber o que significava aquele apelido e, sobretudo, suas nuances subjetivas. Segundo ele, seu compromisso é com os mais pobres, as políticas sustentáveis a integridade na política. “Nós podemos mais”, é seu lema. Do tempo que pedalava uma bicicleta velha até o campus da Universidade Federal do Amapá, onde cursou História, aos dias de hoje, Randolfe tem a mesma impressionante paixão pela política.

Desquadro

14



Desquadro Pense fora do quadro. Desquadro.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.