Evolução para eLearning 2.0

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2008 III Congresso de Educação a Distância dos Países de Língua Portuguesa João Garrido

[EVOLUÇÃO PARA ELEARNING 2.0] Implicações para o Design de Aprendizagens num ensino a distância com recurso à Internet


Sobre o autor: João Paulo Teixeira Garrido (Mestre em Multimédia em Educação pela Universidade de Aveiro) – joaoptgarrido@gmail.com; http://n‐learning.blogspot.com/ Sobre o texto: O presente texto é uma adaptação da parte final da Dissertação de Mestrado de João Garrido, sob o título “Estruturação de Conteúdos de eLearning na Formação Contínua”, apresentada à Universidade de Aveiro em 2007 para a obtenção de grau de Mestre em “Multimédia em Educação”, e apresenta‐se como um complemento à comunicação em PowerPoint apresentada no “III Congresso de Educação a Distância dos Países de Língua Portuguesa” pelo próprio autor. Palavras‐chave: eLearning 2.0, web 2.0, aprendizagem online, mobilidade, publicação, colaboração, folksonomies, micro‐conteúdos, agregação, adaptative learning, design de aprendizagens. Resumo: A Internet e a forma como a usámos tem vindo a evoluir, pelo que o eLearning também seguirá esse caminho. Esta comunicação pretende fazer algumas reflexões sobre a próxima geração do eLearning (a qual tem vindo a ser denominada por eLearning 2.0), olhando para algumas das ferramentas de aprendizagem emergentes na Web 2.0 e fazendo uma análise, quer dos respectivos potenciais em termos de formação a distância, quer das implicações que estas terão na modelação daquilo que será o eLearning, nomeadamente ao nível do Design de Aprendizagens. Neste sentido, serão abordados tópicos nas áreas das novas Tecnologias móveis, da Publicação pessoal e colaborativa, das “Taxonomias populares” (folksonomies), dos Micro‐conteúdos e sua Agregação em plataformas de “Aprendizagem adaptativa” ou em “Ambientes personalizados de aprendizagem”.

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1.

A Problemática

Pretende‐se com esta apresentação fazer algumas reflexões sobre a próxima geração do eLearning (a qual tem vindo a ser denominada por eLearning 2.0), olhando para algumas das ferramentas de aprendizagem emergentes na Web 2.0 e fazendo uma análise, quer dos respectivos potenciais em termos de formação, quer das implicações que estas terão na modelação daquilo que será o eLearning de futuro. Comecemos por analisar o que tem sido e o que será o eLearning do futuro, iniciando esta nossa reflexão com a citação de um parágrafo de um artigo publicado no The Guardian. “Like the web itself, the early promise of e‐learning ‐ that of empowerment ‐ has not been fully realised. The experience of e‐learning for many has been no more than a hand‐out published online, coupled with a simple multiple‐choice quiz. Hardly inspiring, let alone empowering. But by using these new web services, e‐learning has the potential to become far more personal, social and flexible.” The Guardian (15/11/2005)1 As promessas trazidas pelo advento da Internet, em especial na área do eLearning, nomeadamente no que toca aos potenciais do eLearning na formação dos indivíduos, como é referido em cima no The Guardian, não se cumpriram. Contudo, pela utilização de novos serviços que começam a surgir na Internet, tudo pode mudar. A Internet e a forma como a usámos está a evoluir, pelo que o eLearning também seguirá esse caminho. Ferramentas como os blogs, os wikis, os podcasts, e serviços como os fornecidos nos sites youtube2, flickr3 e netvibes4, estão a alterar os comportamentos dos utilizadores da Internet, os quais começam, também eles, a serem produtores de conteúdo. A publicação de conteúdo, por seu lado, começa a deixar de estar dependente de aplicações de software de utilização local, para passar a ser feita directamente on‐line, sem ser necessária qualquer outra ferramenta que não o próprio browser. Por outro lado, os aparelhos digitais de criação de conteúdo começam a andar, literalmente, nas nossas mãos. São as máquinas fotográficas digitais, os ipods, os telemóveis (alguns dos quais verdadeiros computadores com capacidades multimédia) que dão a possibilidade a qualquer pessoa, em praticamente qualquer local (desde que tenha cobertura de rede sem fios), publicar os seus próprios conteúdos, numa vertente de mobile learning. Os novos serviços a que se referia o artigo no The Guardian, eram precisamente aqueles que estão a mudar toda a forma de usarmos a Internet:

1

Disponível no URL http://education.guardian.co.uk/elearning/story/0,10577,1642281,00.html (consultado em 25/4/2007) 2 http://www.youtube.com 3 http://www.flickr.com 4 http://www.netvibes.com 3


Publicação pessoal – ou seja, os serviços que permitem a qualquer utilizador publicar os seus próprios conteúdos sem necessitar de um software específico, nem aprender a trabalhar com ele (é o que acontece no caso dos blogs); Publicação Colaborativa – isto é, os sítios da Internet onde os utilizadores podem, em conjunto com outros utilizadores, criar conteúdos (por exemplo os Wikis, dos quais o mais famoso é, sem dúvida, a Wikipedia5); Folksonomy – referindo‐se à forma como a informação está a ser categorizada colaborativamente na Internet. Os utilizadores são encorajados a atribuir palavras‐chave a pequenos pedaços de informação ou dados, os quais servem como referências de categorização (tags) para outros utilizadores que procuram esses conteúdos (os exemplos mais notórios vêm do flickr6, na área da fotografia, e do youtube7, na área dos vídeos); Media e aparelhos – no que toca ao hardware de massas, como o ipod, os telemóveis e outros sistemas digitais móveis, que permitem ao utilizador criar conteúdo e, em alguns casos, publicá‐lo de imediato; Agregação de Conteúdo – como acontece com as tecnologias de RSS, as quais permitem ao utilizador agregar os pequenos pedaços de conteúdo existentes de forma caótica na Internet e dar‐lhes organização, criando assim os seus próprios sistemas de significação (temos como exemplos o netvibes8 e a página pessoal do google9).

“Teachers are starting to explore the potential of blogs, media‐sharing services and other social software ‐ which, although not designed specifically for e‐learning, can be used to empower students and create exciting new learning opportunities.” O’Hear (2006)10. Como refere O’Hear (2006), na área do ensino e da formação, também os professores e formadores já começaram a perceber as vantagens da utilização destas ferramentas e serviços, levando a sua utilização a dimensões nunca vistas numa sala de aula ou de formação. O aluno/formando tem, assim, a possibilidade de contactar com outros alunos/formandos noutras partes do mundo, consultar conteúdos ou partilhar os seus, enfim, contactar com o mundo real e ser ele próprio criador de significados, logo, de conhecimento.

5

http://www.wikipedia.org http://www.flickr.com/ 7 http://www.youtube.com/ 8 http://www.netvibes.com/ 9 http://www.google.com/ig 10 http://www.readwriteweb.com/archives/e-learning_20.php (consultado em 24/4/2007) 6

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2.

O papel do Designer de Aprendizagens neste novo contexto

Qual o papel do Instructional Designer (ou designer de experiências de aprendizagem) e do professor/formador neste contexto? Deixarão de ser necessários? A resposta a estas perguntas ainda está por dar, havendo aqui um campo fértil para o estudo do papel do Design de Aprendizagens neste novo mundo. Contudo, já se começam a adiantar algumas novas formas de encarar o conteúdo e, aquilo que vinha sendo advogado na área do design centrado no aluno ou na comunidade, começa a parecer uma realidade cada vez mais próxima. De facto, o conteúdo já não passará pela criação de cursos, na verdadeira acepção do termo, mas micro‐conteúdo, o qual está disseminado pela Internet. Como demonstra Leene (2006) na citação que se segue, os blogs são uma dessas formas de micro‐conteúdo. “The fact that a blog consists of individual postings is the start of MicroContent. These blog postings can not only be published on web‐pages, but also in syndication formats such as RSS and Atom. By publishing postings in these formats a user syndicates his content, so that other may re‐use it.” (Leene, 2006:31)11. Uma vez que é possível fazer a sua agregação, este tipo de micro‐conteúdo permite que o utilizador o agrupe e organize da forma a dar‐lhe significado. Neste sentido o professor/formador ou designer de aprendizagens passa a ter nas suas mãos ferramentas que superam, em termos de criação de conhecimento, qualquer plataforma de eLearning que possa ter existido. Se, por um lado, o eLearning deixa de ser o meio e os media, para passar a ser mais uma plataforma onde se facilita a aprendizagem, como é referido na transcrição a seguir: “What happens when online learning ceases to be like a medium, and becomes more like a platform? What happens when online learning software ceases to be a type of content‐consumption tool, where learning is "delivered," and becomes more like a content‐authoring tool, where learning is created? The model of e‐learning as being a type of content, produced by publishers, organized and structured into courses, and consumed by students, is turned on its head. Insofar as there is content, it is used rather than read – and is, in any case, more likely to be produced by students than courseware authors. And insofar as there is structure, it is more likely to resemble a language or a conversation rather than a book or a manual.” (Downes, 200512). Por outro lado, o facto de ser o próprio aluno/formando a criar o conteúdo levanta o problema da sua validade para os outros que o irão reutilizar. Pode ser que as Folksonomies, já aqui referidas, sejam uma solução em termos de avaliação desses 11

http://www.microlearning.org/MicroConf_2006/Microlearning_06_final.pdf (consultado na Internet em 25/4/2007) 12 http://www.elearnmag.org/subpage.cfm?section=articles&article=29-1 (consultado na Internet em 25/04/2007) 5


recursos; contudo o papel dos professores/formadores ganhará aqui novas dimensões que também é necessário estudar. No que diz respeito à agregação de micro‐conteúdos, também as novas tendências apontam no sentido do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que permitam ao aluno/formando criar conhecimento, havendo, nesse âmbito, novas vertentes na concepção da aprendizagem que estão a influenciar a sua concepção, como é o caso do Adaptive Learning (ou Aprendizagem Adaptativa): “Adaptive learning is important because it enables learners to select their modular components to customize their learner‐centric learning environments. Secondly, it enables them to offer flexible solutions that dynamically adapt content to fit individual real‐time learning needs.” (TrainingPlace13). Trata‐se aqui de uma nova forma de encarar os percursos de aprendizagem, ou seja, da sua criação pelo próprio aluno/formando. Que vantagens trará esta nova concepção da aprendizagem para o próprio aluno? A disponibilização de diversos percursos de aprendizagem num curso, traz alguma vantagem qualitativa em termos de aprendizagem. De futuro, com o desenvolvimento de tecnologias que lhes dêem suporte, os percursos serão construídos pelo próprio aluno/formando. Mais uma vez se colocará o problema do papel do professor/formador nessa construção de conhecimento. Voltando ao design de eLearning, também se colocará o problema do que será um curso nesta nova era denominada de eLearning 2.0. Anita Rosen (2006:6)14 avança com uma nova concepção dos cursos: “So what does a 2.0 course look like? 2.0 courses should never be a hodge‐podge assembly of old methodologies delivered through new technologies. They should be a true “2.0 course,” rather than a selfpropelled PowerPoint presentation or CBT training presented on a PDA. 2.0 courses provide just‐in‐time training. They are used as a resource — not a one‐time event. A 2.0 course lasts 15 to 20 minutes, runs smoothly on any configuration of device (high resolution, portable) or PDA, and delivers smoothly on all versions of Web browsers. Finally, 2.0 courses incorporate the best‐of‐breed techniques from Web design and instructional design.”

13

http://www.trainingplace.com/source/research/adaptivelearning.htm (consultado na Internet em 25/04/2007) 14 http://www.readygo.com/e-learning-2.0.pdf (consultado na Internet em 25/4/2007) 6


3.

Conclusões

Qualquer que seja o futuro da Internet, continuar‐se‐ão a criar cursos e conteúdos, enquanto soluções comerciais, sendo essa uma área que irá continuar a apostar na qualidade das aprendizagens, logo, também no design dos conteúdos. No âmbito do ensino, uma vez que o valor dos conteúdos disseminados pela Internet, poderão ou não ter o seu devido valor, há que encontrar formas de ensinar a seleccioná‐los, mas também a agregá‐los de forma significativa. Também os Designers de Aprendizagens e os Professores deverão fazer uma aposta na criação de conteúdos de qualidade, e nesse âmbito, as Teorias e Modelos do Instructional Design, terão sempre a sua função orientadora, mesmo que seja na criação dos micro‐cursos e micro‐conteúdos da era eLearning 2.0. 4.

Bibliografia

Downes, S. (2005). E‐learning 2.0. In eLearn Magazine. http://www.elearnmag.org/subpage.cfm?section=articles&article=29‐1 (consultado na Internet em 25/04/2007) Leene, A. (2006). MicroContent is Everywhere. In Micromedia & e‐Learning 2.0: Gaining the Big Picture ‐ Proceedings of Microlearning Conference 2006. http://www.microlearning.org/MicroConf_2006/Microlearning_06_final.p df (consultado na Internet em 25/4/2007) O’Hear, S. (2006). e‐learning 2.0 ‐ How Web Technologies are Shaping Education. http://www.readwriteweb.com/archives/e‐learning_20.php (consultado na Internet em 25/4/2007). Rosen, A. (2006). Technology Trends: e‐Learning 2.0. In Learning Solutions ‐ e‐ magazine. http://www.readygo.com/e‐learning‐2.0.pdf (consultado na Internet em 25/4/2007)

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