AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Opinião | Falas da Terra
Glifosato: toda a verdade Texto_João Paulo Soares [Consultor]
“O glifosato deveria ser suspenso em todo o mundo” José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos 1. A natureza sintética e modo de acção Glifosato é o pesticida químico sintético mais usado na agricultura portuguesa. Glifosato é um herbicida de largo espectro, não selectivo e pós-emergente (Solomon and Thompson 2003). O seu modo de acção é a inibição de uma enzima essencial necessária à síntese de aminoácidos aromáticos nas plantas. Os seus efeitos letais são caracterizados pela clorose e bloqueio a acção da enzima que conduzem no fim à morte pela paragem do crescimento e necrose.
2. Omnipresente O aumento de procura do glifosato subiu exponencialmente com o paraceimento das ementes geneticamente modificadas para cultivos alimentares que podiam tolerar altas doses de Roundup. Com a introdução dessas sementes geneticamente 80
O Instalador Setembro 2017 www.oinstalador.com
modificadas, os agricultores podiam controlar facilmente as pragas nas suas culturas de milho, soja, algodão, colza, beterraba açucareira, alfafa; cultivos que se desenvolviam bem enquanto as pragas ao seu redor eram erradicadas pelo Roundup. Hoje já não é apenas o Roundup. Vários herbicidas contêm glifosato. Para além de fins agrícolas as multinacionais, em particular a Monsanto promoveu o Roundup, alegando ser biodegradável, e as formulações comerciais com glifosato aplicam-se abundantemente em zonas urbanas para controlo de ervas em ruas e caminhos, em valetas, parques infantis, campos de golfe, pátios de escola, gramados e jardins privados. Um tribunal francês sentenciou que esse marketing equivalia a publicidade enganosa. Esta poluição silenciosa e invisível é provavelmente mortal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o glifosato
é provavelmente cancerígeno em humanos e demonstradamente carcinogénico em animais de laboratório. Por seu turno a OMS classifica as substâncias cancerígenas para a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
3. Além do cancro Há uma vasta literatura científica que comprovam esse efeito contabilizada até ao momento em 245 artigos científicos. Além do uso do glifosato ter aumentado a incidência de cancro, há diversas publicações que ligam o glifosato a doença celíaca, infertilidade, malformações congénitas (efeitos teratogénicos), doença renal, desregulação hormonal, toxicidade hepática e até autismo. O glifosato pode causar toxicidade hepática séria em doses milhares de vezes menores que as permitidas por lei. (Nature, 9 de Janeiro de 2017)
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Falas da Terra | Opinião
4. Formulações comerciais usam surfactantes, como a taloamina, para aumentar a absorção do glifosato A molécula do glifosato apresenta lenta absorção, o que diminui sua eficácia agronómica. Um surfactante na maioria das vezes utilizados na agricultura corresponde a um aumento de 25 % da eficiência dos produtos. Constantemente são patenteadas novas composições adjuvantes para uso em formulações herbicidas contendo sais de glifosato em altas concentrações. (BiBTeX, EndNote, RefMan, 16 de Janeiro de 2014).
não existem limiares de contaminação aceitável. Ou seja, qualquer concentração de glifosato é perigosa e pode desencadear efeitos nefastos.
6. E feitos na biodiversidade e meio ambiente O glifosato tem uma elevada solubilidade em água, o que faz aumentar o seu transporte e biodisponibildades colocando todos os seres vivos aquáticos em risco. O glifosato está implicado no efeito branqueador dos corais.
5. O s limites legais e a dose mínima de glifosato
7. “ Banir o Glifosato” foi a mais rápida de todas as Iniciativas de Cidadania Europeia
No debate do glifosato entra a toxicologia e saúde pública. Um longo estudo meta-análise disponível livremente na internet sobre os chamados EDC (químicos disruptores hormonais- endocrine-disrupting chemicals) alerta para definir muito bem as doses mínimas. O efeito de dose mínima de um químico sintético nunca deve ser ignorada (Endocrine Review Journal , Junho de 2012). No caso da desregulação hormonal
Num período record de cinco meses mais de um milhão de pessoas, de todos os Estados-membros da União Europeia, assinaram a favor da proibição do herbicida glifosato. A Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE), foi liderada em Portugal pela Plataforma Transgénicos Fora. «A Comissão pretende reautorizar por mais 10 anos um herbicida que causa cancro
e malformações congénitas. O lucro privado não justifica o desprezo pela saúde pública e a ECI obriga Bruxelas a encarar os factos: os europeus não querem pesticidas em geral, nem o glifosato em particular», afirmou João Ferreira, agrónomo, coordenador da Plataforma.
8. Países que já proibiram o glifosato Rússia, Tasmânia, México e Sri Lanka já disseram NÃO aos herbicidas com glifosato. Na Comunidade Europeia a Holanda, a Bélgica, a França, a Dinamarca, a Suécia, a Escócia também disse NÃO a estes herbicidas.
9. Quais as alternativas aos herbicidas e ao glifosato? «Tanto em contexto urbano como em contexto agrícola, que se use exclusivamente alternativas não químicas, como a monda manual, mecânica ou térmica», referiu Alexandra Azevedo numa grande reportagem no Observador em 18.05.16.
O Instalador Setembro 2017 www.oinstalador.com 81