Cidade EDITOR: Rodrigo Lima
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Florianópolis, terça-feira, 8 de janeiro DE 2013
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@rodrigolima_ND fotos daniel queiroz/nd
Casal usa pedra para arrombar lojas na Vidal A Vidal Ramos estampou os jornais em 2012. A ruazinha estreita no Centro da Capital foi revitalizada. Com cara nova e etiquetada como “open shopping” ganhou status de grã-fina. Em 2013, volta ao noticiário por um motivo menos badalado. Sete lojas foram arrombadas. Duas fecharam as portas. O prejuízo ultrapassa os R$ 140 mil. As forças de segurança não encontram solução imediata. Os comerciantes revoltam-se. As fachadas padronizadas são ofuscadas pelos tapumes postos no lugar dos vidros quebrados. Das 57 lojas da Vidal Ramos, nove foram arrombadas. Em alguns casos, mais de uma vez, sempre de madrugada. Entre 4h e 6h. Apedrejadas. A pedra de 20 quilos na Döll não é peso de porta. Foi com ela
Assaltos. Revitalizada, a rua Vidal Ramos virou alvo preferido dos arrombadores
Violência à solta no Centro
que assaltantes invadiram o armazém pela terceira vez, desde dezembro. Logo à frente, a proprietária da Safari, Daniela Lourenço, guarda a pedra e o vídeo que revela um casal, conhecido por pechinchar na rua, se aproximando da vitrine, apreciando a mercadoria, recuando para o lado oposto e lançando com força o objeto às 5h13 do dia 6. Três saques – desde outubro. O prejuízo da lojista é de R$ 15 mil. Na Optica Santa Luzia a trégua foi menor. Em 15 dias, R$ 50 mil a menos e a necessidade de repor o estoque para não fechar as portas – como fez o bistrô onde agora é a Lacqua de Fiori, recepcionada no seu quinto dia de inauguração com uma prateleira de perfumes saqueada. A prática se banalizou de tal
forma na Vidal que o Restaurante Mirantes foi invadido por uma bandeja de doces. O caixa ficou intacto. R$ 50 mil depois, a loja Pax se precaveu. Francieli Ortiga, gerente, tem dez chaves para entrar na loja, que agora tem vidros blindados e vigia. A Raphaella Booz também contratou um profissional que despertou do cochilo com estilhaço dos cacos. Já a Petróleo apelou: “Passa-se ponto”, avisa a faixa. Insatisfeitos com a atuação policial, os comerciantes planejam terceirizar a segurança, informa a coordenadora da Câmara de Lojistas da Vidal Ramos, Rose Macedo Coelho. Mas o comandante Araújo Gomes se defende: “Há um ano e meio eram dois arrombamentos por dia, agora são dois por semana”.
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Criminalidade. Em sete dias, duas mil ocorrências foram registradas pela polícia Polícia Militar de mãos atadas
aline torres aline.torres@noticiasdodia.com.br
O vício em drogas não é crime. Não cabe à polícia combatê-lo. Cabe aos programas sociais. Em Florianópolis há o Creas POP (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua), e a Abordagem de Rua - nenhuma das instituições foi criada com o propósito de tratar dependentes químicos. As prisões são regidas por
@alinetorres_ND
O Centro de Florianópolis tem duas faces. Durante o dia, os principais registros na 1ª DP (Delegacia de Polícia) são perdas de documentos e turistas lesados pela rapidez dos batedores de carteira. À noite, a violência ganha forma – sobe pelos telhados, apedreja lojas, saqueia mercadorias, assalta, agride e consome o que arrecada nas bocas de crack. Desde o início do ano foram mais de duas mil ocorrências. Para o comandante do 4° Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Araújo Gomes, os moradores de rua são o pivô da criminalidade no Centro. Dados das secretarias de Assistência Social e do Planejamento Urbano indicam que 500 pessoas vivam dessa forma. O número flutua de acordo com as migrações. Mas, a tendência é o calor e a facilidade de esmolar os turistas atraia outros desabrigados para a cidade. O perfil dos sem-teto foi traçado pela PM. Na maioria, são viciados em pedra ou álcool, há doentes mentais e os chamados “sociais”, condenados à miséria por infortúnios. É o grupo que aceita se submeter às regras do Albergue da Maçonaria, na avenida Hercílio Luz, reaberto no final do ano passado e com capacidade para 30 pessoas. Mas são os consumidores de crack que transformaram a arquitetura criminosa da cidade, de acordo com Gomes. A fissura pela pedra não espera. Os crimes são praticados próximos ao abrigo, diferente da prática habitual, que afasta os delinquentes das moradas. No Centro, a população de rua se abriga nas escadarias da Catedral, na Praça 15 de Novembro, no Terminal Cidade Florianópolis, no Largo da Alfândega e em alguns casarões abandonados, que vêem sendo fechados. Até o momento, foram 11. Escuras e desertas, as áreas próximas alardeiam perigo. O Parque da Luz e abaixo do viaduto da José Mendes, na Prainha, são as zonas ditas “vermelhas” pela PM.
divergências. A Polícia Militar só age nos flagrantes. “Estamos com as mãos atadas”, afirma Araújo Gomes. Já a Polícia Civil conduz as investigações. Mas as detenções esbarram na legislação. Na constituição brasileira, furto é configurado como crime afiançável e a condição de réu primário é mantida. Impera o jogo do prende e solta. “Já prendi caras com 30 passagens pela polícia, que foram soltos no mesmo dia”, afirma Araújo. A soltura foi o resultado das 108 prisões, feitas pelo 4° Batalhão em 2012.
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Santa Mônica de dia e Centro à noite São erros urbanísticos que alimentam o crime, analisa Araújo Gomes. O principal é o desequilíbrio das ocupações – conhecido como “purismo”. Ladrões
Vigilância. Nem as câmeras intimidam criminosos
infestam o bairro Santa Mônica durante o dia. Com perfil residencial, os moradores só voltam para casa à noite. No Centro, a lógica é inversa. Há mais comércio que residências. Quando restaurantes, lojas e bares fecham suas portas a terra é de ninguém. Meia-noite, as 72 câmeras da Central de Monitoramento da Polícia Militar registram o vai e vem de uma multidão antes recolhida nos seus mocós. Saques, brigas, arruaças. E os três postos da polícia pouco amenizam a marcha descontrolada e impune.
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Lojas arrombadas.
1. Raphaela Booz 2. Petroleo 3. Lacqua Di Fiori 4. Santa Luzia 5. Doll 6. Essencial Perfumaria 7. Mirantes 8.Pax 9. Safari