O prédio que é uma cidade

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Cidade

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Florianópolis, sábado e domingo, 2 e 3 de março DE 2013

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Desenho sinuoso, proposta ousada

O prédio que é uma cidade

Referência. Inaugurado em 1978, Ceisa Center é um ícone do comércio na Capital PAULO CLÓVIS SCHMITZ pc@noticiasdodia.com.br PC_ND

O comércio de Florianópolis estava concentrado na rua Felipe Schmidt e tinha alguma expressão no outro lado da praça 15 de Novembro, nas ruas Tiradentes e João Pinto, quando a construtora Ceisa decidiu, em meados dos anos 70, erguer um grande centro de negócios na cidade. A primeira tentativa foi ocupar a área onde funcionava a Dipronal, revendedora da Ford, no local onde hoje se encontra a loja das Americanas. A negociação não evoluiu, e a opção foi pela avenida Osmar Cunha – a duas longas quadras da principal artéria comercial da Capital. A região era exclusivamente residencial, e a ideia do empreendimento ali foi recebida com acentuado ceticismo. A inauguração, com show performático da banda Dzi Croquettes, chocou os mais comportados. “Demorou seis anos para o Ceisa Center ser aceito pela cidade”, afirma Alfred Heilmann, síndico do prédio e presidente do Sindiconde (Sindicato dos Condomínios de Edifícios da Grande Florianópolis). O maior prédio comercial de Santa Catarina, com sua construção em forma de S, passou a ser ocupado principalmente por profissionais da área da saúde, que pagavam preços módicos por uma sala de 40 a 50 metros quadrados, como convinha a um empreendimento fora do eixo de varejo da Capital. A entrega do complexo, em 1978, ofereceu aos investidores a oportunidade de adquirir uma unidade como aposta que se revelaria vantajosa menos de uma década depois. O tempo provou que eles estavam certos, porque a cidade cresceu para aquele lado, puxada também pela expansão que ocorreu na avenida Beira-mar Norte, que deu outra configuração à avenida Othon Gama D’Eça e, por tabela, para a Osmar Cunha. “O Ceisa Center é referência porque está num ponto nobre, é uma das poucas galerias abertas da cidade (a outra é o ARS, entre a Conselheiro Mafra e a Felipe Schmidt) e tem um dos metros quadrados mais disputados da Capital”, diz Edison Valente Júnior, diretor comercial da Andrea Cardoso Assessoria Imobiliária, que há 20 anos vende e aluga imóveis no centro comercial.

Esforço. Síndico desde 1982, Alfred Heilmann fez muitas melhorias em anos recentes

Na fila pelas garagens

Adequações na estrutura e segurança

Com preços atrativos e facilidades de financiamento, teve gente que comprou um andar inteiro no Ceisa, nos anos 80 e 90, para revender depois ou alugar. Até hoje, o perfil do público é de classe média alta, sem ser elitizado como alguns shopping centers. “O Ceisa transformou o comércio no centro da cidade”, reforça Alfred Heilmann, que atua como síndico desde 1982. Um dado que atesta a importância do prédio é o preço de cada garagem – cerca de R$ 100 mil. “Há filas para comprar, mas nenhuma está à venda no momento”, garante Heilmann.

Embora esteja na função há duas décadas, foi nos últimos anos que o síndico Alfred Heilmann conseguiu apoio suficiente dos condôminos para realizar os investimentos necessários no prédio do Ceisa Center. Criou um projeto de modernização, modificou os elevadores e em 2011 concluiu as melhorias na parte interna do centro comercial. Aplicou os recursos que pode na pintura e na colocação de porcelanato, aperfeiçoou o sistema de segurança, instalou corrimões nas escadarias e portas corta-fogo. “Instalamos a mais moderna rede elétrica de Santa Catarina”, afirma ele. Hoje, tudo é absolutamente

Números, lucros e procura em alta Quem acompanhou o início turbulento se impressiona com os números do Ceisa. São 19.800 metros quadrados de área construída, 360 unidades e 177 boxes de garagem, além de 33 lojas no térreo onde se destacam agências de viagem (há pelo menos cinco delas), óticas, farmácias, cafés e lojas de roupas, perfumes e calçados. Diariamente, de segunda a sexta-feira, passam pelos elevadores dos três blocos em torno de 10 mil pessoas. O centro comercial abriga cerca de 1.300 funcionários, e só para atender o condomínio são 47 empregados. A agências dos Correios instalada na entrada da rua Leoberto Leal recebe 250 quilos de correspondências por dia. No bloco C há 20 salas de maior porte (duas por andar), com 180 metros quadrados cada uma.

Hoje, mesmo que tivesse R$ 1 milhão para gastar, qualquer investidor teria dificuldades para adquirir uma sala no térreo do Ceisa, porque a procura supera em muito a oferta. “Há 20 anos, esse mesmo imóvel custava menos de R$ 150 mil”, diz Edison Valente Júnior. A demanda é grande, porque os aluguéis rendem até 0,7% sobre o investimento, o que significa em torno de R$ 6 mil mensais por loja – acima, portanto, da maioria das aplicações financeiras disponíveis no país. O banco Daycoval, que trabalha com pequenas e médias empresas, é a única novidade em vista, e vem realizando obras para inaugurar a loja dentro de poucas semanas. As melhorias feitas nos últimos anos valorizaram ainda mais cada pedaço do prédio.

redes se instalaram aqui, apostando no centro da cidade em vista da escassez de terrenos para a expansão das construções na Ilha”, diz ele. É por isso, também, que a maioria das salas comerciais oferecidas hoje tem no máximo 25 metros quadrados. “Corredores largos como o do Ceisa são considerados desperdício de espaço”, complementa. A venda do ponto, um antigo hábito nos negócios de transferências comerciais na Capital, já chegou ao Ceisa, justamente por causa da disputa por espaços privilegiados como aquele. Luvas de até R$ 120 mil são exigidas para quem se candidata a entrar no imóvel. O boom das locações de lojas de chão como as do centro comercial faz com que alguns investidores já estejam embolsando até R$ 400 mil mensais só em aluguéis na cidade. Isso gerou um fato novo: muitos comerciantes se tornaram construtores, embalados pelo dinheiro que vem de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e de outros Estados brasileiros.

Eclético. Cerca de 1.300 pessoas trabalham no complexo de 19.800 metros quadrados

Corretor. Edison Valente Júnior destaca caráter nobre do ponto

controlado, do abastecimento de água ao fornecimento de energia. Com o apoio de técnicos da Petrobras, uma vistoria e correções estruturais foram feitas após aparecer um cheiro de gasolina no compartimento inferior de garagens. Também foi instalada uma central de informações no térreo, e a locação de espaços embaixo das escadarias permitiu a oferta de serviços como cópias de chaves e reproduções xerográficas. Sanitários masculinos, femininos e para paraplégicos atendem a cerca de 100 pessoas por dia. O lixo vai direto para contêineres, e o lixo hospitalar é separado num ambiente específico. Entre abril a maio deste ano está prevista a recuperação da fachada externa do prédio.

fotos débora klempous/nd

fotos débora klempous/nd

Contingência. Edifício ganhou forma de S porque não foi possível comprar terreno da frente

A construção do Ceisa Center em linha sinuosa nada tem a ver com a concepção arquitetônica do prédio da Copan, em São Paulo, projetado por Oscar Niemeyer. Os engenheiros locais viram-se na contingência de seguir esse padrão porque a intenção era ter frente também para a rua Vidal Ramos, e não houve jeito de convencer o proprietário do terreno pretendido a fechar o negócio. Newton Ramos, dono da construtora Ceisa, teve a coragem de apostar numa região sem atividades comerciais e usar curvas que ainda não estavam na cabeça da maioria dos arquitetos. “Era muita grandiosidade para a época”, lembra o síndico Alfred Heilmann. A diferenciais como o pé direito alto e a ampla largura dos corredores o corretor Edison Valente Júnior, da Andrea Cardoso Assessoria Imobiliária, acrescenta como fator que ajudou a fortalecer o nome do Ceisa a vinda de muitos investidores e profissionais do interior e de outros Estados para Florianópolis. “Grandes

Em detalhes. Prédio do Ceisa chama a atenção não só pela localização, mas também pela grandiosidade

Um investidor de primeira hora O dentista Altair Acorde atuava desde 1963 em Araranguá, no Sul do Estado, e viu no Ceisa Center uma boa oportunidade de investir na Capital, pensando também em se transferir para a Ilha no futuro. Em 1986, mudou-se definitivamente para Florianópolis, e convenceu amigos e conhecidos a fazerem o mesmo, num tempo em que muitos profissionais liberais da área da saúde – médicos, dentistas, psicólogos, podólogos – passaram a atender ali. A localização e a facilidade de estacionamento fazem a diferença, mas para Acorde pesou também a possibilidade de conviver com outros profissionais da área em que atua. Hoje, só ele emprega mais cinco pessoas no consultório localizado no bloco B. E destaca os cuidados que o prédio vem merecendo: “Nosso síndico se preparou para a função e tem grande conhecimento sobre condomínios”, diz.

Boa aposta. Altair Acorde, dentista, chegou em 1986 ao Ceisa e convenceu vários amigos a fazerem o mesmo


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