Sinal verde para duplicação

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Florianópolis, sábado e domingo, 30 e 31 de março de 2013

Rio Tavares. Construção da segunda ponte desapropriará comunidade de pescadores que vive do extrativismo do berbigão na baía Sul

Sinal verde para

duplicação

fotos daniel queiroz/nd

EDITOR: Edson Rosa

A série #PautaND marca os sete anos do Notícias do Dia. As reportagens com esta identificação são bandeiras do ND que o leitor poderá acompanhar ao longo do tempo.

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Fauna. Garça, caranguejo e savacu são espécies do manguezal do rio Tavares

Área de manguezal cresce, apesar da estrada Uma série de fotografias aéreas, de diferentes épocas, é o argumento do Deinfra para mostrar que o trecho sul da SC-401, a rodovia Diomício Freitas, não interfere no ecossistema da Reserva Extrativista do Pirajubaé. As fotos, tiradas entre 1938 e 2002, mostram a redução gradativa de clareiras formadas por bancos de areia no miolo do manguezal do rio Tavares. Áreas que pareciam pequenas praias cercadas por densas florestas de manguebranco (Laguncularia racemosa) aos poucos também ficaram cobertas de vegetação. O fenômeno, segundo o engenheiro Willian Wojcikiewz, diretor de planejamento do Deinfra, só não ocorreu ainda com o mesmo vigor na faixa de domínio da rodovia. A foto de 1938 mostra o primeiro traçado, praticamente inalterado, com a ponte de madeira sobre o rio Tavares ligando a Costeira ao Carianos. Em 1957, já foi possível constatar o aumento da cobertura vegetal, escondendo praticamente todas as clareiras. Na foto de 20 anos depois, o manguezal fecha praticamente todos os 1.440 hectares protegidos pela reserva. Também em 1977, foi alterado o traçado original, com a ponte de concreto

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O ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade) deu parecer favorável ao licenciamento ambiental para duplicação da rodovia Diomício Freitas, o trecho Sul da SC-401. O projeto para a obra entre o elevado da Costeira e o estádio da Ressacada prevê a construção da segunda ponte sobre o rio Tavares e o alargamento bilateral do atual trajeto, cortando ao meio área de manguezal da Reserva Extrativista do Pirajubaé. O outro projeto, específico para o acesso ao novo terminal de passageiros do aeroporto Hercílio Luz, terá parecer em três semanas, segundo o biólogo Daniel Cohen-

ca, 42 anos, chefe da reserva. O ICMBio ainda aguarda parte da documentação da Fatma (Fundação Estadual do Meio Ambiente). “Só recebemos o plano ambiental básico, mas precisamos estudar melhor o projeto técnico da obra”, argumenta Cohenca. “Normalmente, temos 45 dias para analisar. Pediram pressa, e o parecer da Diomício Freitas foi elaborado em duas semanas”, explica. O parecer favorável do ICMBio coloca condicionantes ao projeto original do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutrura). Uma delas é a urbanização do espaço público sob as pontes, para recuperação ambiental, e evitar novas invasões depois de a obra pronta. “Com participação de técnicos do Ipuf (Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis) na elaboração do novo modelo arquitetônico”, observa Cohenca. O ICMBio quer a construção de porto para saídas de passeios turísticos e educativos no manguezal, monitorados pelo órgão e conduzidos pelos próprios extrativistas. Neste local, será erguido mirante para contemplação da fauna local. Espaço público semelhante está previsto para a outra extremidade da rodovia, no Carianos. O ICMBio também exige a recuperação de área degradada entre a estrada e a reserva do Pirajubaé, trilhas ecológicas e ciclovia - não prevista pelo Deinfra. A Diomício Freitas terá cinco passagens subterrâneas para proteção da fauna silvestre que habita a reserva - jacarés e quatis, por exemplo.

fotos reprodução/nd

Diomício Freitas. ICMbio dá parecer favorável à obra para viabilizar o novo acesso ao aeroporto

Embaixo da ponte. Família de Claudete Pereira sempre dependeu da pesca e do extrativismo, mas ela não sabe aonde ir

Prioridade é organizar extrativistas e valorizar berbigão

Reserva. Biólogo Daniel Cohenca tem planos para comunidade extrativista

O ICMBio sugere também a instalação de duas esculturas em homenagem ao pescador extrativista, como portais da rodovia. “É uma forma de valorizar a atividade tradicional, a culinária da Ilha e a população local”, explica o biólogo Daniel Cohenca, chefe da reserva de Pirajubaé. O maior desafio neste processo, no entanto, é administrar o conflito com a comunidade, quase toda ameaçada pela desapropriação. “Vão nos tirar daqui, e levar para onde? Como as famílias que sempre dependeram da pesca

e do berbigão sobreviverão?”, pergunta Claudete Pereira, 45, que, apesar de cadastrada no ICMBio, está sem trabalhar. “Fiquei doente, não posso ir para o mar, mas não permitem que outra pessoa trabalhe para mim, nem liberam a licença para meu filho mais velho, que casou, precisa sustentar a família e está na clandestinidade”, diz. Fernando Guimarães, 27, é outro que não sabe para onde ir. “Tenho meu rancho e minha canoa embaixo da ponte, mas nem licença para catar berbigão

consigo no ICMBio, que nada faz para organizar a comunidade. “Só multa e apreende nosso material de trabalho”, reclama. Cohenca, que chefia a reserva desde fevereiro, garante que a prioridade é organizar os extrativistas, e agregar valor ao berbigão. A proposta é construir posto de beneficiamento coletivo, substituindo a forma rudimentar de cozimento e descasca por métodos que garantam o selo de qualidade sanitária. “Assim, poderiam ampliar o mercado consumidor, até para outros estados”, diz.

Regeneração. Fotos mostram aumento da vegetação no manguezal e, segundo o Deinfra, que rodovias não interferem no ecossistema

substituindo antigo pontilhão, até que em 1994, apenas as margens da Diomício Freitas permaneciam sem a cobertura vegetal original. Apesar da ocupação desordenada, a foto de 2002 mostra toda a área fechada, inclusive nos trechos alargados pela estrada. Além do surgimento de mudas jovens, as copas das árvores antigas cresceram, assim como o diâmetro dos troncos. “Estas fotos comprovam que a estrada não interfere na vida do manguezal”, diz Willian Wojcikiewz. Segundo o engenheiro, os impactos da duplicação serão mínimos na área da reserva, com a construção de canais de drenagem, os “bueiros de equilíbrio”, para permitir a hidrodinâmica das marés. “Com a entrada da água do mar, a oxigenação do ecossistema estará assegurada”, argumenta. O aumento da cobertura vegetal, segundo o biólogo Daniel Cohenca, do ICMBio, deve-se ao alagamento de áreas antes estéreis pelas marés altas. “Trata-se de processo natural, lento, mas que comprova que o manguezal está saudável e que o processo de assoreamento é reversível. As raízes do mangue precisam permanecer submersas para o crescimento das árvores, mesmo com a maré baixa”, explica.

Hercílio Luz O novo terminal

Acesso

Obras viabilizam novo aeroporto Segundo cálculos do Deinfra, circulam pelo principal acesso ao Sul da Ilha mais de 35 mil veículos por dia no período normal, dos quais pelo menos 17,5 mil transitam devem utilizar o novo acesso ao aeroporto.O investimento previsto para a primeira etapa de obras, que inclui o acesso ao Sul da Ilha e ao novo terminal do aeroporto de Florianópolis, será de R$ 54 milhões. A ponte e o elevado estão orçados em cerca de R$ 18 milhões e as obras destinadas a pedestres somam R$ 1,8 milhão. O prazo para a conclusão é de 24 meses, prevê o Governo do Estado. A duplicação da avenida Diomício Freitas e a obra de acesso ao novo terminal do aeroporto ainda não tem prazo para começar. Apesar de já autorizadas pelo governador Raimundo Colombo, um dos desafios do Estado é não acentuar o conflito com moradores desalojados do trajeto da rodovia. A discussão é antiga, só as mudanças no projeto e cronograma se arrastam desde 2004. Está prevista a desapropriação de 317 imóveis. A primeira etapa das obras pagas pelo governo do Estado e previstas para serem concluídas em dois anos inclui a duplicação da Diomício Freitas, a construção de uma alça de contorno nas proximidades do estádio Aderbal Ramos da Silva, a Ressacada, o acesso ao Sul da Ilha e ao novo terminal de passageiros do Hercílio Luz.

I nício das obras: 11 de junho de 2012 P razo de conclusão: março de 2014 C usto: R$ 118 milhões

Terminal de passageiros S erão 35,8 mil metros quadrados, edificações auxiliares e todos os sistemas elétricos e eletrônicos.

Início das obras O rdem de serviço assinada em 14 de dezembro E staqueamento começa em 15 de fevereiro P razo de conclusão: segundo semestre de 2014 C usto: R$ 188 milhões

Instalação de equipamentos E sta etapa prevê o fornecimento e instalação de pontes de embarque (fingers) S tatus da licitação: previsão de publicação no site da Infraero em fevereiro P razo de conclusão: 2014 C usto: Divulgado depois da licitação C apacidade: O novo aeroporto Hercílio Luz terá capacidade para atender 2,7 milhões de passageiros por ano Fonte: Infraero


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