Ameaça invisível

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Florianópolis, sábado e domingo, 6 e 7 de abril DE 2013

Ameaça invisível

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Reação. Presidente do Sindiconde, Alfred Heilmann, diz que as taxas são altas demais na região

Risco. Prédios antigos têm problemas de sobrecarga de energia, e bombeiros não dão conta da fiscalização PAULO CLÓVIS SCHMITZ pc@noticiasdodia.com.br pc_ND

podem explodir a qualquer momento. Os bombeiros admitem os problemas, inclusive a insuficiência de pessoal. “Agendamos as vistorias por ordem de chegada, mas é comum a fiscalização ser feita 20 ou até 30 dias depois da solicitação”, afirma o tenente-coronel Carlos Maia, comandante do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, com sede em Florianópolis. Vanderlino Vidal, chefe da Divisão de Perícia de Incêndios do Corpo de Bombeiros, revela que há muitos casos de saídas de emergência bloqueadas (com portas cadeadas ou chaveadas) e outras que estão abertas quando deveriam ficar fechadas para impedir a saída de fumaça para as escadas em situação de incêndio.

Escondidos. Edifícios mais velhos têm problemas que não são vistos por todos os observadores

Enigma no destino das taxas

Demanda alta criou a triagem de risco Um dos mais revoltados com a situação é o presidente do Sindiconde (Sindicato dos Condomínios de Edifícios da Grande Florianópolis), Alfred Heilmann. Ele diz que os bombeiros cobram uma taxa elevada, em torno de 10% sobre o valor do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), e a fiscalização não é realizada com a periodicidade ideal. Também síndico do Ceisa Center, ele garante que a cobrança configura bi-tributação, porque a taxa já é paga quando o prédio solicita o “habite-se” e quando os condomínios comerciais obtêm o alvará de funcionamento

anual. Heilmann acha que uma vistoria rigorosa deveria ser feita a cada três anos, como ocorre em outros Estados. Na opinião de Vanderlino Vidal, do Corpo de Bombeiros, “o país inteiro tem problemas para atender a demanda”, o que criou a figura da triagem de risco. O trabalho em edifícios comerciais é feito de forma preventiva, na medida do possível, com a checagem de extintores, mangueiras e iluminação de emergência em áreas de uso comum. “Em apartamentos e escritórios, a avaliação é apenas visual no gás e nas instalações elétricas”, informa.

O presidente do Sindiconde (Sindicato dos Condomínios de Edifícios da Grande Florianópolis), Alfred Heilmann, é muito cobrado pelos síndicos da região por causa das taxas cobradas pela prefeitura da Capital, consideradas altas demais, e pela incapacidade do Corpo de Bombeiros de fazer todas as vistorias solicitadas. Ele exibe um documento que demonstra o custo salgado do serviço: o Ceisa Center, complexo do qual é síndico, deveria pagar R$ 8.469,05 pelo trabalho, mas negou-se a fazer isso porque a vistoria alcançaria apenas as áreas de uso comum do edifício de três blocos, 360 unidades e 19.800 metros quadrados de área construída. “Não recolhemos porque é irregular”, informa ele. Pior que isso é o fato desse dinheiro, recolhido pela Se-

Seminário vai discutir tema na Ilha (Associação Catarinense de Engenheiros), em Florianópolis, vai discutir a segurança em instalações e serviços em eletricidade, com a participação de especialistas na área. O presidente da associação, Celso Ternes Leal, defende que laudos técnicos sejam feitos por engenheiros elétricos para garantir a situação dos síndicos e condôminos, já que a vistoria dos bombeiros é superficial. Ele também acha que falta aqui uma lei já criada em outros Estados que obrigue os prédios com mais de 30 anos a pedir laudos que avaliem as partes estrutural e elétrica. “No litoral, especialmente, os índices de corrosão são muito elevados”, justifica.

cretaria de Finanças da Capi- serão efetivamente careadas tal, não ir para o Funrebom para o Funrebom e adminis(Fundo de Reequipamento do tradas por um conselho gestor Corpo de Bombeiros), como com a participação de entidadeveria ocorrer, se perdendo des representativas da cidade. na vala comum do caixa mu- Em Florianópolis, tomando por nicipal. Evitando entrar nessa base as taxas para a liberação polêmica, o comandante do 1º de eventos, o Corpo de BomBatalhão de Bombeiros Mili- beiros cobra R$ 0,65 por metro tar, Carlos Maia, diz que “até quadrado vistoriado. O gerente a administração passada [na de condomínios da Precisa SoPrefeitura] parte do recurso era luções Condominiais, Marcelo canalizada para outras finalida- Becker, estima que os bombeides”. Alegando que estava des- ros chegam a cobrar R$ 3.000 tinando um percentual do pelo trabalho, dedinheiro para uma ativipendendo do tamadade ligada aos bombeinho do edifício. Proros, o município adquiriu curado por meio de banheiros químicos para parcial sua secretária, o seuso nas praias da Ilha de Síndico do Ceisa cretário de Finanças, Santa Catarina. José Luiz Coelho, Center diz que Agora, Maia tem o não deu retorno ao bombeiros só compromisso do prefeito Notícias do Dia para fazem vistoria Cesar Souza Jr. de que as nas áreas de uso falar sobre o destino verbas advindas das taxas comum do prédio dos recursos.

Sinistros são mais comuns em residências

marco santiago/nd

Não há números relativos a Santa Catarina, mas um levantamento feito em São Paulo mostrou que 83% das unidades internas dos condomínios não têm sistema de aterramento (fio terra), porque os prédios são antigos, e 85% apresentam falhas nos pára-raios. Isso contraria uma exigência da NBR 5410, que trata das instalações elétricas de baixa tensão. No Rio de Janeiro, 100% dos prédios com mais de 15 anos estavam na mesma situação. A pesquisa constatou ainda que 77% dos edifícios apresentavam aquecimento excessivo nos condutores. Um seminário programado para o período de 21 a 23 deste mês na sede da ACE

fotos débora klempous/nd

A segurança dos prédios comerciais da Grande Florianópolis, em especial os construídos há mais de 40 ou 50 anos, vai de mal a pior. O “habite-se” é, em grande parte dos casos, renovado anualmente pelas prefeituras sem vistoria do Corpo de Bombeiros, que dispõe de apenas 20 homens – quando não há soldados de férias, em licença ou cedidos a outros órgãos – para dar conta dos 6.000 condomínios na região. A fiscalização é feita sob demanda, ou seja, quando solicitada pelo síndico ou responsável pela edificação, e os demais casos ficam à mercê da sorte, sempre com riscos de in-

cêndio pela sobrecarga da fiação antiga e pela multiplicação dos computadores e aparelhos de ar condicionado. Embora os fios fiquem escondidos sob o reboco ou dentro de tubos e canaletas, não é difícil perceber, em construções antigas e em postes nas vias públicas, as gambiarras feitas por lojistas negligentes e por empresas de telefonia e fornecimento de energia elétrica. Nas ruas Antônio Luz, João Pinto e Nunes Machado, no centro antigo da Capital, a profusão de fios e cabos é assustadora. Nos prédios, engenheiros apontam a fiação envelhecida, abaixo da bitola recomendada pelas normas técnicas, e mangueiras gastas e furadas pela falta de uso e troca como bombas-relógio que

Carga. Muitos aparelhos de ar condicionado no Centro

Os bombeiros atendem a dois casos de incêndios por dia na Grande Florianópolis, atribuídos a negligência, crime ou vandalismo. Muitos são provocados por GLP, fritadeira elétrica, ventiladores, estabilizadores de tensão e outros equipamentos domésticos. Vanderlino Vidal, chefe da Divisão de Perícia de Incêndios do Corpo de Bombeiros, diz que 57% dos sinistros ocorrem em edificações unifamiliares,

ou seja, residências particulares – onde o sistema preventivo não é exigido. Sem condições de atender aleatoriamente, sem solicitação, os bombeiros priorizam boates, bares com música ao vivo, clubes sociais, cinemas e igrejas. Existe, segundo Vidal, um plano para ampliar em 274 homens o quadro dos bombeiros, com a determinação do governador do Estado de que uma parte seja

colocada na fiscalização. Para o tenente-coronel Carlos Maia, comandante do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, um aumento significativo do efetivo depende de concurso público, e por enquanto a corporação vem tirando homens das guarnições de prontidão para treinar e disponibilizar mais soldados nas vistorias. O atendimento é feito a partir de solicitações protocoladas no Pró-Cidadão, vinculado ao município.


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