Caminhos da montanha

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Nossa Ilha EDITOR: Edson Rosa

notícias do dia

Florianópolis, sábado e domingo, 20 e 21 de abril DE 2013

20/21

DIAGRAMAÇÃO: Joice Balboa

Caminhos da

montanha

Morro dos Macacos Quarta-feira. Morro dos Macacos

Natureza. Morros revelam paisagens exuberantes de quatro cantos da cidade Reportagem: Edson Rosa Fotos Daniel Queiroz redacao@noticiasdodia.com.br

P

aisagens inéditas e efeitos da ocupação desordenada começam a ser mostrados a partir deste fim de semana, em série inédita sobre os cumes da Ilha. Depois de duas semanas de caminhadas pela mata, foram produzidas quatro reportagens sobre aspectos específicos de cada montanha, de onde se têm ângulos inéditos da cidade e de parte da região metropolitana de Florianópolis. Foram percorridos caminhos históricos, picadas de caçadores e trilhas abertas por guias locais. Árvores centenárias e nascentes de água cristalina são sintomas de floresta em plena fase de regeneração, de fauna e flora. A cordilheira central é formada por cadeias de montanhas que se estendem de Sul ao Norte da Ilha, separadas apenas pela planície de entremares do Campeche.

Pelo menos 70% da floresta primária foram derrubados para exploração de madeira nobre, ou implantação de pastagens e plantios tradicionais – cana, mandioca, café, milho e feijão. “O que restou de mata original são alguns hectares de canela no maciço do Peri”, diz Mauro Manoel da Costa, do Departamento de Unidades de Conservação Ambiental da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente). No morro do Ribeirão, palmiteiros aproveitam a falta de fiscalização e deixam rastros de destruição. No maciço da Costeira, a comunidade se organiza para implantar o parque municipal, e conter ocupações irregulares. A cordilheira do Assopro, entre Lagoa da Conceição e Ratones, não é protegida por lei municipal. Enquanto isso, no morro dos Macacos, a especulação imobiliária ameaça o corredor ecológico.

Maciço do Rio Vermelho, ao Norte Altitude: 440m

Terça-feira. Morro do Assopro

Morro do Assopro ou dos Caçadores Maciço da Lagoa, a Leste/Norte Altitude: 490m

Morro das Almas Maciço da Costeira do Pirajubaé/Centro Altitude: 480m

Segunda-feira. Morro das Almas

Aventura termina após 10 horas de caminhada na mata fechada

Nesta edição. Morro do Ribeirão

A Morro do Ribeirão Maciço da Lagoa do Peri, ao Sul Altitude: 532m

s dores no corpo das caminhadas anteriores persistiam. Mas o tempo estava bom e também precisávamos aproveitar a disponibilidade do guia que nos levaria ao morro do Ribeirão, o ponto mais alto da cidade, com altitude entre 532 e 537 metros – ou 600 metros, como relata o historiador Virgílio Várzea no livro “A Ilha”, edição de 1900. Mal acostumados com as “facilidades” das caminhadas anteriores, subestimamos o primeiro aviso do guia, que queria sair cedo para aproveitar a claridade do dia. Subestimamos a montanha. E, atrasados, chegamos à Freguesia uma hora depois do combinado com Carlos Eduardo da Cunha, 29, que a vizinhança só conhece por Pitu. Ele já nos esperava ansioso, com roupa camuflada, cantil e facão na cintura. Na mochila, equipamento fotográfico e o inseparável tablet, com internet e GPS. Só ali, enquanto subíamos a servidão ao lado da igreja Nossa Senhora da Lapa, o fotógrafo

Daniel Queiroz se deu conta que não havia mercado por perto, e não estava levando nada para comer. Apenas uma garrafa pet de dois litros de água. Sede não passaríamos, alertou Pitu. Fontes de água cristalina brotam das rochas e formam cachoeiras morro abaixo. Como na mata a regra básica é um cuidar do outro, subi consciente de que dividiríamos os três pacotes de bolachas, duas laranjas, a maçã e a manga que eu levava na mochila. Fome também não passaríamos, pensei. A subida até a laje da pedreira exigiu esforço. A vista exuberante da baía Sul, até a ponte Hercílio Luz, com os morros do Cambirela e da Pedra Branca ao fundo, nos entusiasmou. Queríamos chegar ao topo, ver a Lagoa do Peri do outro lado. Há três anos sem subir o morro, nosso guia precisou reabrir o caminho a facão. Em alguns trechos a trilha foi engolida por árvores caídas, folhas e tron-

cos de palmitos cortados e vegetação alta. Chegamos ao cume pouco depois das 16h. Na volta, Pitu resolveu encurtar caminho e descer pelo Alto Ribeirão, mas as dificuldades aumentaram. Encantados por um camaleão que se recolhia ao ninho, não percebemos que na floresta escurece mais cedo. Saímos da trilha e, iluminados apenas pela lanterna do celular e pela lua crescente, tivemos que abrir caminho para descer desfiladeiros e chegarmos a uma das cachoeiras que descem à localidade do Barro Vermelho. Seguidos desde o começo da caminhada pelos vira latas Catinga e Faísca, também famintos, chegamos à rodovia Baldicero Filomeno 10 horas depois. Neste momento, os plantonistas do Corpo de Bombeiros já tinham sido avisados pelos colegas da redação que estávamos sãos e salvos. • Continua nas páginas 22 e 23.

Companheiros. Carlos Pitu e os cães Catinga e Faísca, na cachoeira do Ribeirão


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