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Florianópolis, sábado e domingo, 20 e 21 de abril DE 2013
Rastros de palmiteiros Morro do Ribeirão. Corte clandestino da palmeira-juçara acentua a devastação na montanha mais alta de Florianópolis
Reportagem: Edson Rosa Fotos Daniel Queiroz redacao@noticiasdodia.com.br
A
s marcas estão por toda parte. Galhadas secas obstruem pequenas cachoeiras, e troncos cortados em sequência formam clareiras abaixo das copas centenárias de figueiras-brancas, garapuvus e uma ou outra canela. Vestígios de acampamentos também são rastros deixados pelo corte clandestino e sem controle de palmito, a palmeira-juçara, em picadas abertas a foice e facão nas encostas do morro do
Ribeirão, o ponto mais alto da Ilha – com altitude entre 532 e 537 metros. Mão de obra barata, no Sul da Ilha os cortadores de palmito atuam sistematicamente em todos os morros do maciço da Lagoa do Peri. Dentro e fora do parque municipal criado pela Lei 1.828/81 e, a exemplo das demais áreas de mata atlântica teoricamente protegidas na Ilha, ainda não cadastrado no SNUC (Sistema Nacional das Unidades de Conservação). Os cortadores de palmito, segundo fiscais do parque, são ma-
teiros experientes, geralmente recrutados em Biguaçu, Palhoça, Navegantes e Itajaí. Com suprimento suficiente para longos períodos, e água pura abundante ao lado das áreas desmatadas, ficam de 15 a 45 dias embrenhados na mata. Com tempo de sobra para percorrer de um lado ao outro da montanha e descer carregados. “É gente perigosa, andam armados e prontos para o confronto. Alguns sequer têm documentos”, diz Mauro Manoel as Costa, chefe da Divisão de Implantação e Manejo do Departamento de Unidades de
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Conservação da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente). Além da falta de fiscalização, os palmiteiros contam com a colaboração de moradores da região com acesso a áreas de corte. “Pessoas que permitem a entrada e ensinam antigas trilhas de caçadores. Depois, facilitam a saída das caminhonetes com a carga extraída ilegalmente”, completa Costa. Em extinção nas matas da Ilha, o palmito cortado clandestinamente no morro do Ribeirão vira conserva em microempresas da região e Itajaí, com qualidade sanitária duvidosa.
Beleza. Da laje da pedreira, no caminho do topo da Ilha, é possível ver toda a baía Sul, parte do Continente e a ponte Hercílio Luz
Floram e Polícia Ambiental não sobem o morro
Vista inédita da cidade é prêmio para chegar ao cume
Desarmada e deficiente, a fiscalização da Floram jogou a toalha. Reconheceu a fragilidade da estrutura municipal e entregou o palmito à Polícia Militar Ambiental. As denúncias são constantes, dentro do parque e na APP (Área de Preservação Permanente) do entorno. “Mas não temos como monitorar a mata, a área é extensa, e repassamos a eles”, diz um dos fiscais da Floram. Segundo moradores, foices e facões não são apenas ferramentas para os palmiteiros, apesar de alguns já terem sido ameaçados também por armas de fogo. Na Polícia Ambiental, o argumento é o mesmo. “Trabalhamos de acordo com a demanda, mas não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, diz o soldado Vitor Oliveira. Fora das rondas de rotina, as providências adotadas após denúncias de corte são barreiras
Ir ao cume da Ilha tem sido como brincadeira de crianças para várias gerações no Ribeirão da Ilha. Passar por caminhos de carro de boi e reabrir antigas trilhas de caçadores são momentos de lazer para quem lida com a rotina cansativa da pesca e da maricultura, principais atividades econômicas da comunidade mais açoriana de Florianópolis. A subida árdua não desencoraja o fotógrafo amador Carlos Eduardo da Cunha, o Pitu, 29, que percorre os caminhos da montanha desde a infância. “Fui pela primeira vez aos nove anos, sem avisar nada para não preocupar a família”, conta. Mais tarde, quando desaparecia por algumas horas, os pais sabiam que estava no morro. “Os antigos contavam que escravos fugiam dos senhores de engenho, e se escondiam aqui no alto”, diz. Enquanto descansa na laje sobre pedreira abandonada
na SC-406, em parceria com a PRE (Polícia Rodoviária Estadual). Pelos levantamentos recentes de Mauro Manoel da Costa, o corte indiscriminado das últimas reservas de palmito nas matas de Florianópolis se acentuou nos últimos 15 anos. Matéria-prima da polpa do açaí consumida em sucos e vitaminas nos centros urbanos, e alimento preferido de tucanos, aracuãs, gralhas, gaturamos, macacos-pregos e outros animais silvestres, a palmeira-juçara se espalhou pelas montanhas da Ilha por dispersão natural. As florestas ocorriam, principalmente, no entorno de cachoeiras dos maciços do Peri e da Costeira do Pirajubaé. Em menor escala, também entre a cordilheira da Lagoa e Vargem Grande. “A falta de fiscalização e de educação ambiental facilita este tipo de crime na mata. E abre caminho para a especulação imobiliária”, alerta Costa.
Na mata. Troncos de palmito são cortados perto da cachoeira do Ribeirão da Ilha, onde também vive o camaleão
pela empresa Engepasa, e usada eventualmente por escaladores ou treinamento de militares da Base Aérea de Florianópolis, Pitu mostra a baía Sul lá embaixo – do Ribeirão à ponte Hercílio Luz. A parte continental da Capital, São José e Palhoça aparecem à frente, onde a Pedra Branca e o Cambirela se destacam na Serra do Tabuleiro. Trecho duplicado da 101 é visto entre Praia de Fora e Enseada do Brito. Foram três paradas para matar a sede e encher os cantis em cachoeiras que formam o Ribeirão. Até a pedra do Caçador, rocha inclinada que serve de abrigo para fogueiras e pernoite seguro. Alguns metros acima, surge o marco de concreto que sinaliza o topo da Ilha, depredado por vândalos que levaram o brasão do Exército Brasileiro. Lá em cima, se enxerga de ângulos inéditos parte da Lagoa do Peri, do Morro das Pedras e do Campeche, com a ilhota ao fundo.
Freguesia. Igreja Nossa Senhora da Lapa de frente para o mar, na baía Sul