Revista Semana

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Tiragem: 1500 exemplares - Setembro de 2010 - Universidade Federal de Santa Catarina - www.semanadojornalismo.ufsc.br

Expediente Reportagem Bárbara Dias Lino Gian Kojikovski Jéssica Butzge João Schmitz Laís Mezzari Lucas Pasqual Luisa Nucada Luisa Pinheiro Maíla Diamante Marília Labes Rafael Canoba Rosielle Machado Suélen Ramos Tiago Moreno Vinicius Schmidt Colaboração Hélio Shuch Juliana Sakae Edição Bárbara Dias Lino Gian Kojikovski Jéssica Butzge Laís Mezzari Maíla Diamante Rosielle Machado Suélen Ramos Wesley Klimpel

Carta ao Leitor A terceira edição da Semana Revista consolida a tradição da publicação. Trazendo matérias sobre os temas das palestras e das mesas redondas, a revista é um aperitivo para a 9ª Semana de Jornalismo da UFSC. A intenção é aguçar a curiosidade e trazer bagagem de conteúdo para o leitor aproveitar melhor o evento. Entre as matérias produzidas pelos alunos do curso e colaboradores, o leitor encontrará o remake de uma matéria de Eliane Brum sobre a velhice, a entrevista com Palmério Dória e a resenha do último livro de Xico Sá. O esclarecimento do papel do ombudsman, um panorama sobre a crítica cultural no país e a abordagem investigativa ou bem-humorada do esporte são textos que também procuram refletir a diversidade de temas da semana. O aprendizado com as edições anteriores foi fundamental para que a revista saísse. Erros antigos foram evitados ou reinventados. Algumas dificuldades sempre permanecem, mas incentivam melhorias futuras. Foi constante, também, o trabalho de equipe, principal marca de todas as atividades envolvidas com a organização da Semana. Do grupo de repórteres, editores, diagramadores e ilustradores, fica a intenção de que os propósitos da revista se realizem nas próximas páginas. Folheie, leia, ria, informe-se, critique: leitor, a Semana Revista é toda sua.

Revisão Jéssica Butzge Joice Balboa Laís Mezzari Luisa Nucada Maíla Diamante Mariana Chiré Rosielle Machado Wesley Klimpel

Maíla Diamante

Editoração Joice Balboa Ilustrações Ezael Zart Michele Balboa (capa) Coordenação Editorial Laís Mezzari Maíla Diamante Coordenação Gráfica Joice Balboa Carolina Dantas

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índice Coberturas extremas: jornalismo em situações de risco..................07 MACUMBA CULTURAL.............................................................................................08 blumenau: diário da tragédia..........................................................................11 dÍFÍCIL SUPERAR. ESQUECER, PIOR AINDA...........................................................13 LINGUAGENS PARTICULARES: COMO ESCREVER PARA PÚBLICOS ESPECÍFICOS .15 nova mulher, velhos valores..........................................................................16 sem pudores e meias-palavras........................................................................19 imprensa na contramão: quem vai salvar o impresso?.............21 OS JORNAIS PODEM DESAPARECER?.............................................................22 jb queria a elite cultural....................................................................................23 herói de espuma e fiscal do asfalto brasileiro..........................................25 repórteres de olho: investigação de escândalos políticos.............27 vinte anos de poder e escândalos..................................................................28 iNVESTIGAÇÕES DE GASTOS PÚBLICOS...............................................................30 a opinião consentida: olhares sobre a crítica cultural.............33 SEM ESPAÇO PARA CRITICAR................................................................................34 Blogs EVIDENCIAM A CRÍTICA CULTURAL......................................................36 jornalismo esportivo: panorama e inovações............................37 respostas impagáveis.........................................................................................38 É só futebol?........................................................................................................40 palestras 9ª semana...........................................................................................41 tempo

que

insiste

em

passar..................................................................42

o jornalismo pelas ruas...................................................................................44 ombudsman: o sac dos jornais......................................................................46 fiscal do jornalismo há 14 anos.....................................................................48 hobby: desafiar políticos...............................................................................50 os esquecidos homens-jurubebas................................................................53 Perfis DOS CONVIDADOS.....................................................................................55 4

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Programação

9ª semana do jornalismo ufsc 13/09/2010 - 17/09/2010

13.09

08h30 – 12h Minicursos 14h – 15h30 Exibição de documentários 17h30 – 19h Mesa de discussão “Coberturas extremas: jornalismo em situações de risco” Convidados: Alberto Gaspar, Caio Guatelli e Letícia Silva 20h – 21h30 Palestra de abertura com Eliane Brum

14.09

Local: Auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE)

08h30 – 12h Minicursos 14h – 15h30 Exibição de documentários 17h30 – 19h Mesa de discussão “Jornalismo esportivo: panorama e inovações” Convidados: André Kfouri e Marcos Castiel 20h – 21h30 Palestra com Suzana Singer, ombudsman do jornal Folha de S. Paulo

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17.09

08h30 - 12h Minicursos 15h - 17h Mesa de discussão “Imprensa na contramão: quem vai salvar o jornal impresso?” Convidados: José Luiz Longo, Octavio Guedes e Luís José Meneghim 17h30 - 19h Mesa de discussão “Repórteres de olho: investigação de escândalos políticos” Convidados: Edson Sardinha, Lúcio Vaz e Paulo Alceu

16.09

08h30 - 12h Minicursos 14h - 15h30 Exibição de documentários 17h30 - 19h Mesa de discussão “A opinião consentida: olhares sobre a crítica cultural” Convidados: Jotabê Medeiros, Pablo Villaça e Bruno Moreschi 20h - 21h30 Palestra com Palmério Dória

15.09

Programação

17h30 - 19h Mesa de discussão “Linguagens particulares: como escrever para públicos específicos” Convidados: Nina Lemos, Jardel Sebba e Thiago Momm 20h - 21h30 Palestra de encerramento com Xico Sá 23h Festa de encerramento - 1007 Boite Chick

* Programação sujeita a alteração. Os minicursos acontecem nas dependências do curso de Jornalismo 6

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Nos últimos anos, a imprensa exibiu dezenas de casos de desastres naturais, guerras e massacres. O furacão Katrina, o tufão extra-tropical no sul do país, o terremoto no Haiti, a enxurrada no Vale do Itajaí, a Guerra no Iraque e no Afeganistão, a chacina étnica na Nigéria. Nessas situações jornalistas e fotógrafos vão a campo correr os riscos da cobertura, enquanto, na redação, editores tentam organizar a bagunça para a publicação mais rápida possível. Só quem esteve envolvido com reportagens em momentos de crise entende os desafios que estas situações extremas impõem.

Coberturas extremas: jornalismo em

situações de risco


Macumba Cultural Terremoto no Haiti traz à tona a maldição da falta de sensibilidade na cobertura jornalística

N

o fim da noite de 12 de janeiro de 2010, todas as emissoras brasileiras divulgaram o mesmo áudio do coronel Alan Sampaio sem informações precisas. O chefe de Comunicação Social do Batalhão Brasileiro no Haiti (BRABATT), atordoado pelo terremoto de sete graus na escala Richter e pela morte de incontáveis brasileiros e haitianos, a cada ligação, repassava um número maior de mortos, que chegou a 250 mil. Não havia jornalistas brasileiros por lá. Com apenas um aeroporto internacional, Porto Príncipe começava a receber na manhã do dia 13 todo o fluxo de repórteres e ajuda humanitária em um revezamento contra o tempo. Na escala da cobertura dos principais veículos de comunicação do Brasil, poucos falavam francês (o idioma oficial do país, porém não o mais falado) e nenhum falava ou entendia o créole haitiano. A correspondente enviada pela Rede Globo, Lília Teles, tentava se comunicar em vão em inglês, caminhando entre os destroços de Porto Príncipe. “What are you feeling?”, perguntou ela para uma enfermeira recém encontrada embaixo dos escombros de um hospital. O militar que a descobriu alertou primeiro a equipe de filmagem para depois perguntar à moça se ela gostaria de um pouco de “water”. A barreira cultural prejudica a cobertura jornalística no momento em que se inicia a má interpretação dos fatos. “Uma reportagem falou sobre a dificuldade da retirada dos corpos, porque os familiares se negavam a receber ajuda”, lembra Pierre Junior Jentil, haitiano missionário que mora em Florianópolis e acompanhou o terremoto pela televisão. “Eu penso que, se fosse meu parente debaixo dos escombros, eu iria querer retirar o corpo com carinho”, contesta Pierre, mesmo entendendo a importância do enterro imediato na situação. “Acredito que faltou sensibilidade cultural”, finaliza. Pierre Jentil conseguiu contato com os familiares apenas cinco dias após o terremoto, devido à queda do siste-

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ma de telefonia do país. As notícias sem novidade, as imagens de desespero repetidas durante o dia e o número crescente de vítimas geraram preocupação e nenhuma informação. O site da Cruz Vermelha virou página principal, com nomes de familiares que procuravam dar informações aos parentes de outro país. No meio tempo, todos os jornalistas da região o procuraram para noticiar “haitiano sem notícia da família”. Uma repórter de um jornal local o havia entrevistado uma semana antes sobre cultura haitiana, mas esqueceu do fato; assim como três prometeram ajudar e nunca retornaram. A radialista e apresentadora de televisão, Rose Michelle Fortune, criticou a posição dos correspondentes internacionais, principalmente dos franceses, pela falta de sensibilidade da cobertura jornalística. “Eles falavam como se fosse uma maldição divina do povo negro, e reduziam tudo a uma inevitável catástrofe natural”. A jornalista haitiana lembra que o país é o mais pobre das Américas e já não tinha infra-estrutura. A dimensão do ocorrido, segundo ela, tem muita influência na falta de políticas públicas para seu país. Mas consente: “Os repórteres relataram a real situação, foi horrível mesmo”. Antes de 2010 O critério de noticiabilidade do Haiti sempre foi o lado negativo, como o conflito, a violência ou os furacões e enchentes sazonais que destruíram o norte do país. Reginald Castene, haitiano que migrou para os Estados Unidos, criticou – antes do terremoto – as matérias veiculadas internacionalmente sobre seu país: “Se você vive nos EUA e não conhece meu país, você pensaria que o Haiti é o pior lugar do mundo. Você nunca iria querer vir aqui”. O mesmo coronel Alan Sampaio que noticiou o terremoto em primeira mão, quando entrou no contingente em julho de 2009, não esperava que às vésperas do seu retorno para o Brasil iria presenciar um dos maiores terremotos do mundo. Na época, Sampaio era responsável pelo recebimento das equipes de reportagem brasileiras, que, em sua maioria, escolhiam produzir matérias sobre o país na BRABATT. “O repórter às vezes vem com uma ideia preconcebida e a gente tira essa noção que ele tem do Haiti”, contou o coronel. As reportagens do Globo Esporte, da revista Brasileiros e do jornal O Dia, entre muitos outras realizados em 2009, contaram com todo o apoio e logística do Ministério da Defesa. A pauta, acordada entre a

Correspondentes falavam como se fosse uma maldição divina do povo negro, e reduziam tudo a uma inevitável catástrofe natural.

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Comunicação Social do BRABATT e os repórteres, passa por aprovação no Centro de Comunicação Social do Exército. “A gente acha melhor mantê-los aqui, prover toda a alimentação e alojamento, e conduzir essa equipe de acordo com a pauta que deseja estabelecer. Ela já chega com tudo agendado, só tem que trabalhar”, afirma Alan Sampaio. A edição 25 da revista Brasileiros trouxe na capa a matéria “O Haiti é aqui”, escrita pelo estudante de Jornalismo Victor Ferreira. A linha de apoio afirma que o repórter “escapa das atividades oficiais e conhece de perto a favela mais violenta do mundo”. A matéria, como é o padrão de acordo com Alan Sampaio, foi apurada em menos de uma semana e se detém à mesma pauta das outras: país mais pobre do mundo, presença militar brasileira, história política do Haiti e futebol. Pierre diz que entende da importância da rapidez da informação, mas fala do perigo da superficialidade que corre: “Geralmente o Jornalismo só pega uma imagem para generalizar o caso. Se fala de ajuda, o repórter filma uma pessoa que está recebendo uma doação e esquece dos que não vão conseguir”. Pautas que poderiam desmistificar o país, sobre cultura, vuduísmo, ditadura, revolução escrava, discriminação racial ou colonização cultural não ganham espaço. Um dia após o terremoto, o cônsul geral do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine, quase acaba com a história da única revolução escrava e negra do mundo em poucas palavras: “Acho que, de tanto mexer com macumba, o africano, em si, tem maldição. Todo lugar que tem africano tá ferrado”. Perguntado sobre as palavras de Antoine, Pierre é ríspido: “Não vou concordar com o cônsul. Os outros países que estão fazendo guerra e atirando bomba nos outros: esses países mexem com que?”.

Juliana Sakae

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Blumenau: diário da tragédia O estudante Giovani Nasatto enviava todo dia um apanhado do que acontecia em seu bairro, atingido pelas enchentes Progresso é um bairro residencial afastado quase 13 quilômetros do centro de Blumenau, onde o morro Spitzkopf, um dos mais conhecidos da cidade, impõe seus 940 metros de altura. Logo abaixo, fica a Avelino Pering, rua circular com calçamento de pedra e casas de alvenaria com muros baixos. Em frente à casa verde, que chama atenção por causa dos pirulitos gigantes fincados na terra do jardim, cães vira-latas brincam no meio da rua, atrapalhando os carros. Quem chega ali não diz que o lugar foi destruído pela enxurrada dois anos atrás. Os únicos sinais do incidente são entulhos acumulados em dois terrenos baldios e encostas irregulares dos morros em volta. Em 23 de novembro de 2008, o arquivista e estudante de Jornalismo, Giovani Nasatto, estava em casa com a esposa e a sogra, no lote 160 dessa rua, quando a energia elétrica caiu, às cinco da tarde. Gicele e Dilma, esposa e sogra de Giovani, já tinham

passado sufoco quando o quintal foi invadido pela lama que a chuva arrancou dos morros, mas as notícias que ouviam no radinho de pilha eram preocupantes. Por volta das três da manhã desabou um pedaço do muro que dividia o terreno da família com o do vizinho. Com medo dos estalos e do barulho das árvores que caiam, foram todos para baixo do beiral do telhado, na frente da casa. Não voltaram para dentro até amanhecer. Um dos morros à beira da estrada que liga o Progresso ao resto da cidade desmoronou, impedindo a entrada e saída de veículos do bairro. Giovani faltou uma semana ao trabalho de arquivista, que tinha conseguido recentemente no Jornal de Santa Catarina, e só entrou em contato com o chefe Fabrício Cardoso, na época editor executivo do Santa, quando o sinal de internet voltou na região. Fabrício propôs que ele escrevesse um diário sobre os desmoronamentos no bairro e a situação da sua família. Giovani estava se formando e, embora não estivesse muito estimulado a exercer a profissão, gostava de contar histórias e fotografar, por isso

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“Não tinha como não ajudar. A gente via aquele povo todo sem casa nem nada e ia ficar parado?”

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aceitou fazer o trabalho. O estudante fez um apanhado do que acontecia no bairro e passou a enviar textos para o Santa, todos os dias. Uma das moradias soterradas pela lama do Spitzkopf foi a dele. “... um vizinho comentou que iriam voltar à nossa casa para tirar mais coisas. Eu não queria me arriscar e fomos dar uma volta para não ver aquilo. A casa estava inteira quando saímos. Na volta, um colega comentou que não via mais o telhado dela. Corremos ao local e o que encontramos foi uma multidão olhando de boca aberta para um monte de destroços, onde antes existiam três casas”. O sobrado de alvenaria onde Giovani morava com a família era grande, num lugar bem iluminado da rua. Tinha dois quartos, duas salas, cozinha, banheiro, lavanderia e uma construção à parte, com o quarto do casal e uma cozinha. Em frente à casa, um gramado enorme com uma goiabeira. Atrás, o morro que ninguém acreditava que pudesse desabar. Por causa da cheia do Itajaí-Açú, rio que corta Blumenau, e dos deslizamentos de terra em várias cidades do Vale do Itajaí, 135 pessoas morreram em Santa Catarina e cerca de 10 mil perderam

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suas casas. Chovia há 90 dias, quando o rio transbordou. No dia 25 de novembro o Prefeito João Paulo Kleinubing decretou estado de calamidade pública em Blumenau. “Muita gente ajudou porque o estrago era grande mesmo” conta o dono do mercado Comercial Ferrari, Alexandre Tarig, que doou cestas básicas para os desabrigados. “Não tinha como não ajudar. A gente via aquela gente toda sem casa nem nada e ia ficar parado?”. Ele e outros vizinhos ajudaram a recolher o que deram conta, antes do sobrado de Giovani ser soterrado. Uma amiga do jornalista cedeu uma quitinete, onde ele e a esposa ficaram por um tempo, até se mudarem para um apartamento no centro da cidade. Dilma, a sogra de Giovani, está até hoje nesse lugar, esperando auxílio da prefeitura. O jornalista diz que a formação acadêmica não mudou sua visão sobre o desastre. “Apesar de eu ter estudado jornalismo, não creio que isso tenha me influenciado muito. Tive, claro, um impulso, pois isso ajudaria minha possível carreira”. O diário de Giovani ganhou a página central da edição de 2 de dezembro do Jornal de Santa Catarina. Thiago Moreno


Difícil superar. Esquecer, pior ainda Vítimas de catástrofes sofrem com lembranças traumáticas, mas há tratamento

A sensação é de fra- Humanista Internacional, são gilidade. A força das duas faculdades imprescindíáguas tirava nossas veis, que ajudam a realizar e próprias forças, mas construir as atividades do cotínhamos que recome- tidiano. Apesar de tão imporçar”. As palavras são de uma tantes, elas podem ser prejuestudante da segunda fase diciais quando enclausuram do curso de jornalismo da o indivíduo no sofrimento. UFSC. Géssica Silva foi uma “Depois da última enchente das vítimas das enchentes fiquei traumatizada, ainda teque atingiram Santa Catarina nho sonhos com isso. Quanem 2008, deido chove muixando milhares Reconstruir a pior to forte tenho de pessoas de- cena vivida é um insônia, não é sabrigadas. Ela fácil superar”, tratamento eficiente e sua família, conta Géssica. que possuem para superar traumas De acordo com casa em Palhoa psicóloga Sirça, viveram o mesmo drama ley Bittú, esses são sintomas em 1995 e em 1998. Por três típicos de estresse pós-trauvezes, perderam móveis, rou- mático, que ocorre quando pas, brinquedos e alimentos. a pessoa revive o trauma por “Para mim, a enchente de meio de memórias intrusas 2008 foi a pior, pois eu esta- (flashbacks) ou pesadelos. va sozinha em casa e tive de Quem viveu episódios dololevantar 90% dos móveis sem rosos normalmente procura a ajuda de ninguém”, relata. esquecê-los, mas deve-se coPara quem passa por situa- locar a tragédia numa gavetições como essas, a própria nha da memória, e só abri-la mente pode se tornar uma quando for desejável? Qual é inimiga, quando insiste em a melhor forma de lidar com trazer à tona as lembranças as lembranças? mais sofridas. Escolher a pior cena viviA memória e a imagina- da e reconstruí-la é um tração, segundo o Movimento tamento eficiente, de acordo

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com o Programa de Ajuda Humanitária e Psicológica (PAHP). Esse grupo é formado por terapeutas em EMDR, a sigla americana para Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares. A EMDR é um método novo de psicoterapia que estimula as regiões do cérebro onde as lembranças dolorosas ficam armazenadas por meio da movimentação dos olhos. Fobias, síndrome do pânico, ansiedade e depressões são alguns transtornos que o método atenua. O PAHP usa desse método para ajudar vítimas de tragédias a superarem seus traumas, que

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empobrecem e limitam a qualidade dos relacionamentos, interferindo no bem-estar e na saúde emocional. O objetivo é aliviar os impactos psicológicos para que as pessoas possam reerguer suas vidas. O PAHP foi idealizado pela psicóloga Ana Maria Zampieri. O programa já ofereceu ajuda humanitária para as vítimas das catástrofes naturais de Santa Catarina, Maranhão, Chile, Niterói, Angra dos Reis e Paraitinga. Só nos estados catarinense, paulista e maranhense foram assessoradas 3600 vítimas. A terapia em EMDR funciona do seguinte modo: o paciente elege uma cena, uma lembrança dolorosa e pensa em tudo de negativo relacionado a ela. O terapeuta estimula os movimentos oculares do indivíduo, para que os olhos se comportem como se estivessem na fase REM do sono (Rapid Eye Movement). Assim, aciona-se as regiões do cérebro que armazenam as lembranças ruins. Esses estímulos são feitos até que as memórias sejam menos perturbadoras. O tratamento também é realizado em bombeiros, soldados, médicos e enfermeiros que sofrem a chamada traumatização secundária, de tanto verem cenas chocantes. Apesar de Géssica e sua família terem sofrido por três vezes com os danos provocados pelas chuvas, seus pais não pretendem sair de Palhoça. “Nunca pensamos em nos mudar, pois temos uma relação afetiva com o lugar em que moramos. A rua onde moro era de meu avô materno e ficou de herança para seus filhos, e como meus avós não estão mais vivos, talvez esse seja o único laço que mantenha a família unida”. Luisa Nucada

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A EMDR é um novo método de psicoterapia que estimula as regiões do cérebro onde as lembranças mais dolorosas ficam armazenadas


Enquanto a oferta de revistas segmentadas aumenta nas prateleiras das bancas, quantidade e qualidade parecem atuar de forma inversamente proporcional. Inova-se pouco nas propostas e na linguagem. A maior aposta costuma ficar com o jornalismo para gêneros, onde também se vê pouca novidade. Ao mesmo tempo em que muitas revistas femininas se transformam em clichês machistas, várias masculinas encaram homens como meros apreciadores de nudez. Como investir em publicações que inovem de alguma forma e se comuniquem com seus públicos sem subestimá-los?

Linguagens particulares:

públicos

como escrever para

específicos


Nova mulher, velhos valores Revistas para públicos femininos moldam comportamentos e mantém os estereótipos conservadores que afirmam rejeitar

Fama e poder em cinco lições por Beyoncé”, “20 maneiras de ficar três quilos mais magra” e “Como fazer seu casamento ser ainda melhor que o namoro” são exemplos de típicas chamadas de capa de revistas femininas brasileiras. Os temas sexualidade, moda, saúde e beleza são os que dominam as páginas, e também são frequentes reportagens que tentam influenciar o comportamento da leitora, seja na maneira como ela deve tratar o namorado, nas dietas que deve fazer para ficar sempre magra ou nos cosméticos que deve usar para se manter bonita e jovem. No artigo “Feminismo e representações sociais: a invenção das mulheres nas revistas femininas”, a professora do departamento de história da UnB Tânia Swain afirma que, nos produtos culturais destinado a esse público, o feminismo aparece reduzido à sua forma mais simples com assuntos quase sempre ligados à domesticidade, sedução e reprodução. “A ausência de debate político, de assuntos econômico-financeiros, das estratégias e objetivos sociais, das questões jurídicas e opinativas é expressiva quanto à capacidade de discussão e criação e ao próprio nível intelectual das mulheres que as compram”, explica Swain. O público-alvo das revistas femininas é a mulher branca, de classe média, jovem, instruída e heterossexual. Para a pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) da UFSC, Cláudia Regina Nichnig, mulheres de diferentes raças e etnias, de classes populares, mais velhas, obesas e lésbicas se tornam invisíveis. “Além disso, acredito que as personagens das revistas têm sua representação, em geral, relacionada à moda, à beleza, ao sexo e ao amor”, completa. No livro Système de la mode, o sociólogo Roland Barthes comenta que a mulher representada pela moda é “feminina imperativamente, jovem absolutamente, dotada de uma identidade

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forte e entretanto de uma personalidade contraditória. (...) Seu trabalho não a impede de estar presente em todas as festas; ela sai todo fim de semana e viaja todo o tempo. (...) A mulher da moda é ao mesmo tempo o que a leitora é e o que sonha ser.” Uma das características mais fortes do jornalismo feminino é o discurso persuasivo, que tem como objetivo influenciar o comportamento das leitoras, criando regras de como devem agir. Esse tipo de texto apresenta comandos, com o uso de verbos no imperativo, para superar um determinado problema e alcançar resultados desejáveis. Numa matéria sobre beleza da edição de julho da revista Nova, por exemplo, “Quer causar boa impressão na entrevista de emprego ou na reunião com a chefia? Use coque sofisticado e clássico, invista em uma pele impecável”, é a descrição de um dos looks sugeridos. Segundo a professora do curso de Letras da Universidade Federal do Pampa Clara Dornelles, no artigo “A influência das revistas femininas na formação de identidade da mulher”, esses periódicos moldam tanto a visão que a mulher tem de si própria quanto a que a sociedade tem dela. O discurso utilizado não é ingênuo e influencia o olhar da leitora ao mesmo tempo em que reflete o posicionamento de quem escreve as reportagens. “Apesar de haver uma tendência a mostrar uma nova imagem da mulher, o texto acaba mantendo representações de gênero tradicionais. (...) A aceitação desses antigos estereótipos resulta em desvantagens para a mulher na sociedade. Mulheres recebendo salários mais baixos que os homens; mulheres acreditando que o casamento e a maternidade são estágios pelos quais elas devem obrigatoriamente passar se quiserem ser mulher de fato”, lamenta Dornelles.

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Apesar de haver uma tendência a mostrar uma nova imagem da mulher, o texto acaba mantendo as representações femininas tradicionais

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A revista Nova, por exemplo, representante da Cosmopolitan no Brasil, começou a ser publicada em 1973 e foi a primeira revista feminina a representar a mulher fora da esfera privada, ou seja, como participante de relações em toda a sociedade, incluindo as relações de trabalho. A imagem construída pela Nova é a de um periódico moderno e transgressor, mas o que se vê de fato nas reportagens é uma tendência a reforçar uma visão conservadora da sexualidade e das relações de gênero. Em uma das matérias da revista com o título: “Como dar uma virada no seu casamento para melhor”, a jornalista Daniela Folloni propõe cinco desafios para que a esposa melhore a convivência do casal e deixa a entender que na maioria das vezes os problemas dependem apenas da mulher. O texto destaca que a leitora deve “Colocar seu casamento como prioridade. Ele deve vir antes do trabalho, antes de tudo... de verdade”. Esse exemplo caracteriza o discurso exortativo e reforça os estereótipos femininos e masculinos. A pesquisadora Regina Nichnig acredita que atualmente existe a preocupação de não se escrever reportagens de forma sexista, homofóbica ou racista, mas se prestarmos atenção no discurso e na forma como são mostradas as imagens femininas nas revistas, pode-se sim pensar em machismo. “Percebi, por exemplo, o quanto ainda é comum o humor relacionado à violência contra as mulheres, apesar de todas as manifestações feministas e da existência de uma lei específica de enfrentamento a esse tipo de violência, que é a Lei Maria da Penha”. Regina destaca ainda que em revistas femininas como Marie Claire e Nova há muitas reportagens construídas em função do homem, como na matéria “50 homens charmosos e solteiríssimos que querem receber sua mensagem”. O personagem masculino também aparece na hora de classificar a mulher, muitas vezes citada apenas como esposa, filha, neta ou mãe, sendo ligada a alguma figura masculina. “Isso ocorre porque algumas delas ainda são destaque nas revistas por pertencerem a uma família. Quando se deveria exaltar o fato de que cada vez mais mulheres são destaque por sua própria carreira profissional ou por terem uma posição de independência na sociedade”, explica Nichnig. Luisa Pinheiro

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Sem pudores e meias-palavras O universo feminino bem-humorado e livre de clichês é tema do blog 02Neurônio

S

em hipocrisia, até Olga Benário devia ter seus momentos de falar sobre homens, cabelos e roupas. E se é para assumir a mulherzinha interior, por que não escrachar a ponto de transformar textos femininos em humor corrosivo? O 02 Neurônio faz isso. Com pitadas de sarcasmo, ironia, perspicácia. E sem machismo barato. O grupo é formado por Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso. Unidas pela força chamada “dor de cotovelo conjunta”, as três jornalistas decidiram apostar no “façavocê-mesmo” mais pop dos anos 90: o fanzine. Hoje, dez anos depois, mantêm o blog www.02neuronio.com.br, já escreveram seis livros, colunas para o jornal Folha de S. Paulo e roteiros de programas para TV Globo e GNT. O tema costuma ser um só: o universo feminino. E isso inclui crônicas sobre relacionamentos, listas a respeito de qualquer coisa, guias para lidar com homens, manifestos contra a canalhice e por aí vai. No início chamado por al-

guns de “zine de cornudas”, por outros de “produto de feministas loucas”, elas resistiram sem medo de tratar abertamente de tabus, usando o bom humor para quebrar regras de comportamento – e de jornalismo. Em Almanaque para garotas calientes (Conrad Livros, 99 p.), por exemplo, dedicam um capítulo inteiro ao sexo anal. Sem censuras. É no mesmo tom que o trio escreve sobre qualquer assunto atraente a uma mulher que, apesar de moderninha, não se envergonha de se interessar por política e lingerie ao mesmo tempo. E as três jornalistas conseguem fazer isso sem parecerem fúteis. Sim, elas falam de dieta, mas não dão receitas milagrosas. Pelo contrário, defendem o direito feminino de ter barriguinha – para elas, é justamente nas adiposidades abdominais que está uma das maiores injustiças entre homens e mulheres. Claro, elas falam de moda. Mas chamam o evento paulista de São Paulo Fashion Freak.

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Glossário do “Almanaque para Garotas Calientes” Descontrol: sinônimo de atitudes exageradas. Ex: figurino descontrol, doce descontrol, qualquer coisa descontrol. Boneca Inflável: esposa ou namorada de muito tempo que é traída mas não sabe (ou não quer saber). Pretê: namorado, quasenamorado, namorado em potencial. Contatinho: quando aquele pretê que você já tinha se livrado percebe isso e telefona de novo para tentar te comer. E o pior: consegue. Eu quero matar: usado em momentos de ódio aos pretês. Pode ser usada a expressão completa: “Eu quero matar todos eles, não vai sobrar nenhum”.

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Momentos clássicos do blog Eu tô superego descontrol! Não faz a menor idéia que merda é essa? Superego descontrol é uma delicada fase da vida em que os hormônios ficam completamente alterados. Se parece muito com o cio, mas os humanos convencionaram chamar de paixão.

Lógico, elas falam de sexo. Mas não publicam “12 dicas para atingir um orgasmo daqueles”. Elas cronicam. No “Dossiê do tamanho do pau”, por exemplo, encontram-se pérolas como: “Tenho que contar um segredo que carrego há anos: eu chorei segurando um pau pequeno”. É esse o humor doisneurônico. Tão diferente da água com açúcar genérica de algumas revistas femininas que chega a chocar pela falta de pudor e meias-palavras. Escrevem “pau”, sem medo. Usam humor escrachado com orgulho e atingiram um nível tão particular de linguagem que desenvolveram vocabulários próprios. Por isso, no começo dos livros há um glossário com as expressões usadas pelo trio, como que para alertar: no 02 Neurônio não se fala a língua dos clichês.

Aprenda a se infiltrar num papo sobre dieta Vigilante do peso é assim: você paga uma taxa para ir se pesar semanalmente e paga também para ouvir palestras idiotas. Pagando, você também tem direito a ler um cardápio. E pagando mais ainda, também pode comprar congelados feitos à base de queijo cottage. O objetivo da dieta é que você fique pobre. Sem dinheiro para comer você... surpresa! Vai emagrecer. Sexo anal, esse mistério Dizem que a primeira ruga que a mulher ganha provém da expressão facial que ela faz quando ouve a sugestão ‘chupar?!’. E a segunda, quando ela faz biquinho e arregala os olhos espantada e repete ‘no c*?!’. O homem-calhau Calhau é um jargão do jornalismo que indica uma propaganda do próprio veículo, quando não há um anúncio de verdade. Homem calhau é aquele sujeito que você fica por total falta de opção. Você pode usar a expressão de maneira abreviada: “encontrei o meu calhau ontem”. Não adianta achar horrível, todo mundo tem um calhau. E o pior: todo mundo é calhau de alguém. Feminino: Mulher-calhau. Manifesto contra a canalhice masculina Aos homens: “Vocês se acham o máximo só porque comem um número x de mulheres. Se quiséssemos, poderíamos comer muito mais gente que vocês. Isso porque os homens sempre querem comer todo mundo. Perceberam a matemática? Mas não, obrigado, não vamos sair dando. E não é por moralismo, é só porque não precisamos provar nada para ninguém. Nossa sexualidade é coisa mais resolvida. Perceberam a diferença?

Rosielle Machado

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O fim da versão impressa do Jornal do Brasil deixou muitos profissionais com frio na barriga. Num cenário onde a internet e as revistas crescem, as tiragens dos grandes jornais caem e as assinaturas diminuem. Nos Estados Unidos, títulos com décadas de vida sucumbiram à crise, decretaram falência e trouxeram à tona a pergunta feita por Philip Meyer em seu livro mais famoso: Os jornais podem desaparecer? Na contramão dos jornalões, publicações populares aumentam suas tiragens e fazem a alegria dos publishers nacionais. O segundo jornal mais lido do país, de acordo com o IVC, é um tablóide popular. E se o problema estiver nos preços? Com a internet não é preciso pagar para ler uma notícia, desvalorizando os R$3 pagos num jornal. Se este é o problema, porque não criar um produto gratuito? A fórmula parece ter dado certo: já existem redes internacionais de jornais sem preço, como o Metro.

Imprensa na contramão: quem vai salvar o

jornal impresso?


Os jornais podem desaparecer? Philip Meyer diz que jornalismo de qualidade pode salvar o impresso

A

crise econômica mundial nem tinha começado quando Philip Meyer, professor de jornalismo da University of North Carolina, iniciou a pesquisa que deu origem ao livro Os jornais podem desaparecer? Como salvar o jornalismo na era da informação. A obra traz um quadro das transformações do mercado jornalístico nos Estados Unidos ao longo do século XX, um panorama do funcionamento das empresas através de amostras pesquisadas e analisadas, além de dados das próprias companhias. O livro ajuda a entender como os grandes conglomerados de mídia funcionam e de que forma eles se estruturaram ao longo dos anos para fazer do jornalismo um negócio lucrativo, que enriqueceu famílias, investidores e grupos empresariais. Num tom de autoajuda, o autor parece a todo o tempo querer instigar jornalistas a adotarem o que ele dita como solução: fazer um bom jornalismo para garantir investimentos e retorno

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financeiro. Meyer afirma isso maioria dos dados é da Kniapoiado em dados e mode- ght Ridder. A obra fica palos, que indicam o jornalismo recendo um estudo de caso qualitativo como boa parte da companhia em que Meyer do caminho para o sucesso. trabalhou por vários anos, Os números dos “jornais dona de jornais de pequenas de nicho” raramente são ex- e grandes cidades. O autor pressivos do ponto de vista poderia ter explorado dados da quantidade de leitores, de jornais mais expressivos mas financeiem crise finanramente são Os números dos “jornais ceira, como o os que melhor New York Tise colocam no de nicho” raramente são mes e o Wall mercado, mui- expressivos, mas são os Street Journal, to pela questão que melhor se colocam no pouco citados da fidelidade mercado financeiramente ao longo do do público. livro. Com a interÉ pena que net, leitores que antes tinham a leitura de Os jornais podem o jornal impresso como fonte desaparecer? pareça mais rede informações gerais, hoje levante para administradores as têm, gratuitamente, na de grandes jornais do que tela do computador. O autor para os próprios jornalistas, defende que mídias substi- que podem ficar perdidos tutas, principalmente a inter- em meio a tantos números e net, devem ser complemen- jargões econômicos. tares às tradicionais. Para ele, a diferença está em estimular João Schmitz o veículo impresso e, ao mesmo tempo, seu site. Como o livro muitas vezes parece um manual de administração de empresas, as questões referentes a esse tema deixam o leitor um pouco desconfiado, já que a

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JB queria a elite cultural brasileira Com público-alvo mais específico, diário não se preocupava com audiência

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a entrevista que concedeu em misso com a quantidade. Qual foi o públi2009, o editor-chefe do Jornal do co-alvo escolhido? Brasil disse que o veículo estava Almeida - Decidimos que seria um leitor mais opinativo e buscava quali- de elite, não elite econômica, mas uma elite dade de público, não quantidade. cultural. Para isso, passamos a trabalhar com Para justificar a estagnação do crescimento o refinamento da informação que tratamos. da circulação do JB, registrado de 2006 para Estamos tentando tornar o jornal mais analíti2007, Rodrigo Almeida mencionou que o co, através da extensão da editoria de opinião, aumento da audiência não valia a pena com a Sociedade Aberta, que trafega e se espalha prejuízos crescentes para a empresa e a cir- por todo o jornal. Hoje entregamos um mateculação eletrônica era de grande importância rial realmente opinativo para a sociedade. para se medir o alcance do jornal. Um ano Com a segmentação, os anunciantes depois da entrevista, o Jornal do Brasil, um também passam a pertencer a um grupo dos mais antigos do país, não é mais impres- mais fechado. Como lidar com isso, já que so. A redação online do JB, bem os jornais dependem deles? estruturada segundo Almeida, “Passamos a trabalhar Almeida - Não saberia dar agora é o carro-chefe do jornal, com o refinamento da uma resposta com precisão. Ao o primeiro do país só na interinformação. Entregamos mesmo tempo em que temos net, confirmando o temor de essa busca de um leitor mais que os jornais podem sim de- um material opinativo qualificado, temos como prinpara a sociedade” saparecer. cipal anunciante a Casas Bahia. Formado em Jornalismo pela Confesso que não é uma equaUniversidade Federal do Ceará (UFC), Rodrigo ção fechada, que dá pra entender completaAlmeida assumiu o posto de editor-chefe do mente. Você busca um público A-B e anuncia Jornal do Brasil em julho de 2009. Nas insta- para C. Acho que um jornal segmentado não lações alugadas da redação do JB, na Zona tem essa questão da diferença de anuncianNorte do Rio de Janeiro, ele defende que o tes porque também lidamos com informação, jornal se preocupe mais com a qualidade do não só opinião, por isso a publicidade não público, construindo um veículo opinativo, acompanha fielmente o nível dos leitores. do que com a quantidade de leitores, mesma Com a ascensão de classes você acredipostura adotada pelo seu chefe e presidente ta que os atuais consumidores de jornais do Jornal do Brasil, Nelson Tanure. populares podem passar a consumir uma Em 2008, o presidente do JB afirmou publicação como o JB? que o foco do jornal passaria a ser a quaAlmeida - Se ascenderem socialmente, eslificação dos leitores, fugindo do compro- pero que migrem para um jornal como o nos

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“Os leitores querem poucas histórias. Talvez os jornais populares tenham achado a medida certa para seu público-alvo” so. Com a própria questão da universalização do ensino, a tendência é que você tenha um público com um grau de exigência crescente. O que acredito é que os jornais tendem a se tornar menores, tanto no formato quanto na quantidade de informações, como os populares. Eu ainda acho que os leitores querem uma boa história - e poucas histórias, pois eles estão cada vez mais sem tempo. Talvez os jornais populares tenham encontrado a medida certa, dentro da sua definição de público. De 2006 para 2007, na última análise do Instituto Verificador de Circulação (IVC), quando o JB ainda era filiado, os números mostravam um aumento da circulação em 27%, de um ano para o outro. Esse crescimento se mantém? Almeida – Não se mantém. Não adianta ter uma audiência crescente se você tem prejuízos crescentes. Nossa meta é chegar aonde dá para chegar ganhando dinheiro para crescer. Com o alto custo do papel, concorrência acirrada - principalmente com as organizações Globo - custo de produção elevado, retração do mercado publicitário entre 2008 e 2009 e com a redução geral de leitores, não adianta buscar uma elevação recorrente de audiência. Calcular a circulação eletrônica é o que vai possibilitar medir, hoje, o grau de influência do jornal, dentro e fora do país. Os jornais que têm a pretensão de alcance nacional, atualmente, não têm expressividade fora de suas praças. Tem que se considerar a questão da internet também- diferente da questão da produção - no modo de entrega da informação e a importância de se ter uma redação online bem estruturada, como a nossa. (J. S.)

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Herói de espuma e fiscal do asfalto brasileiro João Buracão fez justiça, arranjou briga e virou propriedade do jornal Extra

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le é feito de espuma que existia bem em frente e papel, pesa ape- ao local onde trabalhava, no nas 15 quilos, mas bairro de Marechal Hermes, ostenta um cava- no Rio de Janeiro. nhaque de respeito Foi praticando sua pescae sobrancelhas grossas que ria que o até então desconheintimidam qualquer autori- cido boneco do Irandi conhedade. Ele quase nunca fala, ceu o repórter do jornal Extra mas sempre foi de muita ati- Fernando Torres. O pescador tude. João Buracão, como foi de crateras saiu na capa do batizado pelo jornal carioca jornal de 13 de fevereiro e Extra, foi o cidadão que mais no mesmo dia a prefeitura trabalhou no ano passado e, estava em frente à borrachaapesar de estar aposentado, ria, dando fim ao buracão e é lembrado a outros 500 como o mito O boneco foi capa do que existiam nacional que naquela rua. De jornal e no mesmo dia foi do anonitão feliz, o bormato à fama a prefeitura do Rio de racheiro manem menos de Janeiro deu fim a 500 dou o boneco um ano, gra- buracos daquela rua. para o jornal, ças a sua compara ele poder petência para acabar com os ajudar pessoas que, como buracos do asfalto. ele, penavam para atravessar O personagem desta his- a buraqueira por aí. O que o tória é criação do borrachei- Irandi não imaginava é que ro carioca Irandi Pereira da tinha criado um novo superRocha, com quem aprendeu herói, genuinamente brasileia pescar nos buracos do as- ro: de calça, camisa, sapatos falto, sentado numa cadeira e boné. Dali em diante, o disde praia, com uma vara fei- tinto boneco da cara vermeta de cabo de vassoura, em lha passou a se chamar João frente à cratera da rua Piraí. Buracão e ganhou a confianA pescaria era o protesto do ça dos brasileiros. borracheiro contra o descaso O telefone do jornal não da prefeitura com o buracão parava de tocar. Era gente de

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todo canto pedindo socorro a João Buracão. O filho do borracheiro percorreu mais de 10 mil quilômetros com o Extra pelas estradas fluminenses, conseguiu que tapassem mais de 160 mil buracos, foi assunto em 180 reportagens, apareceu no Fantástico e no Jornal Nacional. Em pouco tempo, João Buracão não era só notícia, tinha virado celebridade. Foi convidado da novela global das oito, ganhou cinco músicas em sua homenagem, uma delas da funkeira Valesca Popozuda, e tomou até café da manhã com Ana Maria Braga. O fiscal do asfalto foi um diplomata. Construiu uma relação de respeito com os políticos cariocas e foi o único cidadão recebido em quatro audiências com prefeitos. O grande fã e amigo, Eduardo Paes, considera João um ca-

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João Buracão ganhou 22 irmãos quase gêmeos que continuam, nos confins esburacados do Brasil, o trabalho que ele começou

rioca dos bons. Influenciado por ele, o prefeito do Rio criou até um setor especial na Secretaria de Obras, a “Demanda Buracão”, e tapou mais crateras do que em ano de eleições. O único desentendimento de Buracão foi com a prefeita de São Gonçalo, Aparecida Panisset. O coitado do boneco foi sequestrado e agredido pelo irmão dela só porque elogiou o asfalto caprichado (que contrastava com o tapete esburacado do resto da cidade) da rua onde morava a ilustre senhora. O incidente deixou fraturas. Com braços e pernas enfai-

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xados, João contou com os cuidados do povo para ficar bom logo e não desistir de prosseguir com seu trabalho. “Graças ao meu pai, o borracheiro Irandi, sou feito de espuma, papel e jornal resistentes à corrupção. Tenho sangue sim. E ele ferve quando vejo a que ponto chega a falta de sensibilidade do poder público”. Até feijoada da Tia Surica de Madureira ele provou. O herói de papel era sempre recebido com todas as pompas e circunstâncias. Para qualquer buraco que fosse, tinha sempre uma mesa farta de comida, geralmente rodeada de muita gente. Os moradores é que indicavam as melhores (e maiores) crateras para ele pescar. Aí era só posar para a foto e esperar pelo novo asfalto, que geralmente vinha rápido. João chega a se emocionar ao falar do carinho que as pessoas tinham por ele. “Quem disse que é preciso ter músculo para sentir um coração? Todas as vezes em que um morador me olha e diz que o esgoto não entra mais na sua casa ou que a suspensão de seu carro nunca mais quebrou, meu peito explode de alegria”. Na Alemanha e Espanha, a competência de Buracão também ficou conhecida.

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Ele até deu umas entrevistas para jornalistas gringos, mas diz, meio encabulado, que nunca se deixou levar pela fama.“Sou um boneco pescador e meu negócio é caçar crateras. Nasci para fazer o bem e por causa disso sobrevivo. Não quero fortuna ou abraços falsos.” Buracão ganhou 22 irmãos quase gêmeos que fazem até hoje, nos confins esburacados do Brasil, o trabalho que ele começou no Rio de Janeiro. Brotou João Buracão na Bahia, em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e até o João Buraqueira no Acre, todos caçando crateras e cobrando soluções do poder público. Modéstia à parte, João acha que sua trajetória foi brilhante. Com a cabeça erguida e o sorriso largo no rosto, diz que se orgulha muito do trabalho que fez. “Mostrei a todos, dos que dirigem um Fusca aos que pilotam uma BMW, o tamanho do problema. Contra o descaso, sou a cidadania. Em forma de boneco”. João Buracão se aposentou, hoje só pesca por lazer e oferece apoio moral aos caçadores de buracos espalhados pelo país. Agora lá no Extra, o boneco do momento é Zé Lixão, mas o João, esse virou mito. Suélen Ramos


Políticos gastam 50 mil reais públicos em panetone. Celebridades e cozinheiros particulares viajam por conta da Câmara. Servidores públicos se transformam em funcionários fantasmas: atos que deveriam ser públicos são secretos. Qual o papel do jornalista em um país onde CPIs fazem parte do dia-a-dia? Entre meias, cuecas e colchões, até que ponto é válida e permitida a investigação da política pela imprensa? Como repórteres podem trabalhar em conjunto com o Ministério Público? Quando a linha editorial do veículo interfere nas publicações?

Repórteres de olho: investigação de

escândalos políticos


Vinte anos de poder e escândalos Reeleição, denúncia e CPI: quanto mais longo o mandato, mais corrupção?

T

odo sistema tem governo Itamar Franco e foi um suas falhas e qual- dos principais responsáveis por quer governo é pas- instituir o Plano Real. Filiado ao sível de erros. Desde PSDB, assumiu uma postura 1994 o Brasil foi go- econômica neoliberal que revernado por dois partidos com cebeu muitas críticas da oposiideais opostos e ambos foram ção. Durante os oito anos que assolados por escândalos de esteve na presidência acontecorrupção. Será que o número ceram escândalos que geradesses escândalos tem relação ram um documento feito pelo com a quantidade de anos no Partido dos Trabalhadores (PT) poder? listando os 45 casos de corrupEntre denúncias e CPIs, já ção da gestão FHC. se passaram Um dos ca20 anos desde sos de maior Embora os partidos que o primeiro repercussão foi sejam de ideologias presidente da o escândalo do república elei- opostas, os dois últimos Sivam, no qual to por voto po- presidentes tiveram o o ministro da pular assumiu mesmo tipo de postura Aeronáutica, Brio cargo. Fer- em seus governos gadeiro Mauro nando Collor Gandra, e o emde Mello caiu com pouco mais baixador americano, Júlio Céde dois anos de governo,no sar dos Santos, foram acusaprimeiro caso de impeachment dos de tráfico de influência na da América Latina. Desde en- escolha da empresa respontão, foram três presidentes, sável pela instalação de radadois deles ficaram oito anos res de defesa na Amazônia. no poder e os escândalos que Outro episódio foi a propina tomaram grandes proporções na privatização das empresas na mídia foram constantes. Vale do Rio Doce e da TeleFernando Henrique Cardo- mar, quando o ex-tesoureiro so assumiu a presidência no da campanha de FHC, Ricardo dia 1º de janeiro de 1995. Ha- Sérgio de Oliveira, foi acusado via sido ministro da Fazenda do de pedir propina para obter o

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apoio dos fundos de pensão aos consórcios vencedores da compra. Também veio à tona a emenda da reeleição, com gravações que revelaram que alguns deputados do Acre receberam até 200 mil reais para votar a favor da emenda da reeleição. O atual presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, tomou posse em 1º de janeiro de 2003 e entregará o cargo no mesmo dia de 2011. Integrante da oposição desde que entrou para a política, está no PT desde sua criação. Lula é o presidente mais popular da história do país, mas seu período de governo foi alvo de grandes escândalos políticos. O principal deles, o Mensalão, foi responsável pela queda dos ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Economia, Antônio Palocci, além do presidente nacional do partido, José Genuíno. Outra grande denúncia desse período foi a Operação Sanguessuga, que chegou a investigar 90 parlamentares, abrindo processo contra 72 acusados de superfaturar a compra de ambulâncias. Mais alguns casos notá-


Casos de grande repercussão na mídia veis: Escândalo dos Bingos, Escândalo dos Correios, Caso Daniel Dantas, dentre outros. O professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC e especialista em história do pensamento político, Tiago Losso, diz que no caso do Brasil, após a ditadura militar, não é possível fazer um paralelo entre o número de anos no poder e a quantidade de escândalos políticos de um governo, já que, embora os partidos dos presidentes da república sejam de ideologias opostas, os dois tomaram o mesmo tipo de postura durante os anos na liderança do país. “Talvez daqui a algum tempo, se olharmos para trás, veremos esses 16 anos como um grande bloco de anos que o Brasil teve um mesmo tipo de desenvolvimento”, afirma. Além disso, para Losso, muitos políticos que apoiam o governo hoje são os mesmos que apoiavam Fernando Henrique Cardoso, e alguns são aliados do governo desde antes da abertura política. “José Sarney, por exemplo, em nunca foi oposição. Desde a época da ditadura era aliado do governo e saiu dali para ser presidente, depois foi aliado de FHC e hoje apoia o presidente Lula” completa. Gian Kojikovski

1 – Collorgate: O primeiro impeachment da América Latina foi também o maior escândalo da história recente da política brasileira. Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente do Brasil eleito por voto popular após a ditadura militar. Assumiu o cargo em 15 de março de 1990 e deixou em 29 de dezembro de 1992, após a denúncia feita pelo seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello, que envolvia o presidente em um esquema de corrupção junto com o tesoureiro de campanha Paulo César Farias. 2 - Anões do Orçamento: Dividia-se em dois esquemas. No primeiro, deputados que eram responsáveis pela elaboração do Orçamento da União criavam emendas que destinavam parte do dinheiro a entidades filantrópicas controladas por laranjas. No segundo, esses mesmos deputados incluíam verbas orçamentárias para grandes obras no país, em troca de grandes comissões de empreiteiras. O nome deriva da baixa estatura da maioria dos deputados envolvidos. 3 – Mensalão: Denunciado por Roberto Jefferson (que também fazia parte do esquema), consistia no pagamento de uma “mensalidade” de 30 mil reais aos parlamentares para que o executivo tivesse todos os seus projetos aprovados. Esse pagamento vinha por meio do “valerioduto”. O publicitário Marcos Valério era responsável por pegar emprestado dinheiro de bancos privados utilizando uma de suas empresas e repassar esse dinheiro aos deputados que receberiam o dinheiro. 4 - Operação Sanguessuga: CPI que abriu processo contra 72 parlamentares no escândalo de desvio de dinheiro que era usado para a compra de ambulâncias. As atividades foram investigadas pela Polícia Federal na Operação Sanguessuga, que descobriu que o esquema envolveu mais de 110 milhões de reais e começou durante a gestão de José Serra no Ministério da Saúde. 5 – Escândalo da Sudam: Mais de 1,2 bilhão desviados da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, o escândalo levou a renúncia do então presidente nacional do PMDB e do Senado, Jader Barbalho, que mais tarde foi preso por alguns dias devido ao envolvimento no esquema. Vários outros deputados do Norte também foram envolvidos nas denúncias, além de superintendentes da Sudam. Lista por Lúcio Vaz, com texto de Gian Kojikovski

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Investigação de gastos públicos Jornalistas relevam como a internet pode ser útil na análise de gastos das contas públicas

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inda eles, nossos velhos conhecidos. Uma agenda cheia de contatos, a noção de como o Estado funciona e a leitura de documentos oficiais são prérequisitos para que matérias jornalísticas sobre corrupção sejam feitas. Se o cultivo de fontes é o maior obstáculo para quem está começando, restam alguns instrumentos de que o estudante de jornalismo pode e deve fazer uso para, quem sabe um dia, tornar públicas as imoralidades políticas. No 5° Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo realizado nos dias 29 a 31 de julho, os congressistas que participaram da palestra Investigando os Gastos Públicos tiveram contato com sites que podem ajudar nas investigações nessa área. A Semana Revista traz para o leitor alguns deles. O palestrante Gil Vicente, coordenador da ONG Contas Abertas, mostrou como é

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possível acompanhar gastos com cartões corporativos, despesas dos ministérios e transferências de dinheiro da união a estados e municípios, além de casos em que esse acompanhamento rendeu boas pautas. Desde sua criação, em 2005, o Contas Abertas procura melhorar a transparência dos recursos públicos. Vicente lembrou que a Lei Complementar 131 - adendo da Lei de Responsabilidade Fiscal - obriga a União, os Estados e os Municípios com mais de cem mil habitantes a trazerem informações detalhadas na internet sobre seus orçamentos e movimentações financeiras, nos chamados Portais da Transparência. Todas as notas fiscais dessas movimentações devem ser entregues para a Controladoria-Geral da União. No caso do governo federal, essas notas obrigatoriamente constam no Sistema Integrado de Administração Financeira, SIAFI. Em termos correntes, o

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SIAFI é uma conta única, onde o orçamento e os gastos públicos são registrados inclusive com o nome do servidor que os efetua. É a fonte primária para apuração da movimentação do dinheiro público. Para citar um exemplo de como os dados do sistema podem ajudar numa investigação jornalística, podemos lembrar do escândalo dos cartões corporativos, que derrubou a ministra da Promoção da Igualdade Social, Matilde Ribeiro. Porém, um detalhamento mais aprofundado de algumas informações não estão disponíveis para o usuário comum. Em investigações jornalísticas, muitos profissionais pedem ao Contas Abertas o acompanhamento desses dados. Ao entrar no portal do SIAFI (www.tesouro.fazenda. gov.br/siafi) e clicar no banner Execução Orçamentária e Financeira, qualquer um pode ter acesso a tabelas, gráficos e interpretações das movimentações financeiras da União. Os termos técnicos e a quantidade de números podem confundir os menos experientes - e, se for o caso, incentivá-los a conhecer o funcionamento da máquina estatal. Se a procura é por legibilidade, o Portal da Trans-

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parência do Governo Federal, citado no congresso pelo jornalista Leandro Colón ( jornal O Estado de S. Paulo) como fonte de pautas, traz os dados registrados no SIAFI em linguagem mais acessível ao usuário menos acostumado ao acesso direto ao sistema. O site do Contas Abertas também possui essa facilidade. Além do Contas Abertas e dos Portais da Transparência, o jornalista também pode se valer de outros sites com dados relevantes da administração dos recursos públicos. O portal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (www.planejamento. gov.br) é um exemplo. Ao entrar na página do Servidor Público do portal e clicar em Publicações (menu do lado direito da tela), o primeiro documento exibido será o Boletim Estatístico de Pessoal. Ali estão disponíveis dados mensais sobre a despesa dos funcionários da União, o número de servidores públicos e a distribuição por faixa de remuneração. Os boletins são extensos e bem completos, e podem fornecer números que enriquecem matérias sobre gastos - inclusive os abusivos - com o funcionalismo público. Esses boletins são apenas alguns dos vários

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Diário Oficial como pauta Além do acompanhamento dos gastos públicos em sites como o Portal da Transparência, Evandro Spinelli, do jornal Folha de S. Paulo, também recomenda aos jornalistas políticos a leitura do Diário Oficial, DO. Leis, licitações, atas: todas atividades dos órgãos de administração pública estão ali. A leitura é árdua e burocrática, mas necessária. “O ideal é ler o DO logo ao acordar. Assim o sacrifício acaba rápido.”, brinca. A visibilidade de um Diário Oficial é obrigatória e todos podem ter acesso a documentos públicos. Foi a partir da desconfiança em relação à indisponibilidade do DO da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná que jornalistas da RPC (filiada à rede Globo) e da Gazeta do Povo descobriram o mega-escândalo político dos “Diários Secretos”. O caso foi divulgado na TV, na internet e no jornal impresso em março deste ano e provocou grande mobilização popular. A equipe teve acesso, por meio de fontes de dentro da Assembleia, aos DO’s dos anos 2006 a 2009 - cerca de 700 edições. Coletaram os dados, fizeram um banco de dados, e após dois anos de apuração, descobriram um sistema de corrupção que envolvia funcionários fantasmas e laranjas, fraude no sistema bancário, contratação de apadrinhados e supersalários. O Ministério Público denunciou, atualmente, e a Polícia Federal investiga o grupo, suspeito de desvio de cem milhões de reais dos cofres públicos.

relatórios disponibilizados pelo Ministério do Planejamento que pautam ou ilustram matérias sobre gastos governamentais. Abundância de informações, porém, só é útil para quem sabe o que fazer com elas. O jornalista que deseja se enveredar pelos caminhos da política deve conhecer bem a legislação que rege a administração pública para

entender o significado dos números relacionados aos gastos do governo. Sem uma noção, por exemplo, das leis que regem o planejamento e a execução das políticas públicas federais - o plano plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias (LDO) e o orçamento anual (LOA) -, os dados reveladores de corrupção nesses portais podem passar despercebidos.

Grande quantidade de informações, porém, só é útil para quem sabe o que fazer com elas. O jornalista que deseja se enveredar pelo caminho da política deve conhecer bem a legislação

Responsáveis por um número expressivo de capas de jornais e prêmios jornalísticos, as reportagens sobre escândalos políticos exigem dos iniciantes um bom tempo de estudo de termos legais e a capacidade de farejar irregularidades em sistemas de dados e documentos oficiais.

Maíla Diamante

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Céu ou inferno dos artistas, há um eterno impasse sobre a influência da crítica cultural na opinião pública. Qual é, afinal, o papel da crítica? Como acontece esta relação entre crítico, criticado e público? Com a internet, qualquer pessoa pode fazer crítica cultural em sites, blogs, fóruns e microblogs, tornando instável a fronteira entre críticos “amadores” e profissionais. Nesse contexto, como se forma um crítico hoje?

A opinião consentida: olhares sobre

a crítica cultural


Sem espaço para criticar Análise cultural diminui gradativamente nos impressos

Muitos meios de comunicação justificam a falta de cobertura sobre cultura devido à abrangência da internet

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Não há mais lugar para reflexão, para memória, para se demorar em um texto. A crítica cultural hoje tem um papel muito pequeno, e o jornal corta gradativamente esse espaço.” A pergunta era qual a influência da crítica no mercado cultural e esta foi a resposta de Manoel Ricardo de Lima, coordenador editorial da Editora UFSC, que já escreveu resenhas e críticas para jornais como a Folha de S. Paulo, o Jornal do Brasil e a revista Cult. Desmistificando a ideia de que a crítica estimula o comércio de produtos culturais, Lima completa: “é uma questão que fica muito mais entre as pessoas que discutem o problema ou que estão dentro do meio. E isso não tem nada a ver com consumo.” Como duas grandezas diretamente proporcionais, à medida que se encurta o espaço da crítica cultural nos jornais, sua infiltração na sociedade diminui. Segundo artigo do crítico de arte José Roberto Teixeira Coelho, o Brasil passa por um processo de embrutecimento cultural. Há alguns anos, cem linhas era o tamanho mínimo para um texto crítico; hoje, pede-se para falar de uma exposição de arte em apenas 40 linhas. Dos quinze jornais que receberam material para divulgação sobre o lançamento do segundo álbum da banda gaúcha “Cartola”, apenas dois – Zero Hora e ABC - publicaram resenhas críticas a respeito. O empresário musical Antônio Meira, agente da Lado Inverso Empreendimentos Culturais - agência dos gaúchos Nenhum de Nós e Paulinho Supekovia - disse que esse número é muito inexpressivo, principalmente comparado a década de 1980, quando o CD começou a ser comercializado. Meira entende que a tecnologia e a mudança no mercado, como a queda nas vendas de CDs, estão associados à fragmentação e migração da crítica cultural para a internet. Desenvolvendo-se em meios especializados, como os blogs e a universidade, as resenhas, colunas e artigos sobre temas culturais não conseguem alcançar todos os públicos de forma expressiva, sejam eles leitores de cultura ou não. O jornalista e sociólogo András Szantó, em palestra ao programa “Rumos

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do Itaú Cultural”, disse que a internet tem sido uma desculpa convincente para alguns líderes do noticiário. Szantó conta que muitos meios de comunicação justificam a falta de cobertura sobre cultura devido à abrangência da internet, afirmando que qualquer um pode entrar online e descobrir centenas de artigos sobre qualquer assunto. O jornalista acredita que “a cultura é algo que une e surpreende, expõe ao inesperado. Os jornais são essenciais por publicarem todas as manhãs assuntos que não reparamos por conta própria”. Para Eduardo Veras, jornalista e professor de Comunicação e Realização Audiovisual da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos) e crítico de arte do caderno de cultura do Zero Hora por quase 17 anos, a crítica nasce ligada à consolidação do mercado de cultura, mas com o passar do tempo muda de função, em-

bora continue contribuindo em alguma medida para que as pessoas façam escolhas diante do que lhes é oferecido culturalmente. Sobre a função e poder influenciador da crítica hoje, Veras diz “que gosta quando o texto consegue iluminar sua percepção sobre algo; é nesse sentido que ela cumpre sua função mais rica, mais potente, mais quente”. A crítica necessária é aquela que procura entender os objetos culturais, mesmo que não consiga responder a todas as perguntas que se pode fazer: por que isso é do jeito que é? Por que interessa tanta gente? Por que não interessa? Com o que se relaciona? Existe uma demanda para a crítica questionadora, mas o espaço para que ela possa atingir a sociedade como um todo ainda não está definido. “A internet? Talvez. Os jornais e as revistas estão cheios de gêneros opinativos, mas opinião é diferente de crítica; ela pode ser vaga ou não fundamentada”, responde Veras. Até que se perceba amplamente que o lugar para a crítica cultural fundamentada e acessível precisa ser reconstruído, por enquanto, a universidade é o lugar onde se produzem ensaios mais construídos sobre a obra de um autor ou determinado problema da cultura, conclui Jardel Dias Cavalcanti, colunista do Digestivo Cultural, site que publica desde 2000 críticas sobre livros, filmes, dança, peças e restaurantes. Marilia Labes

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Blogs evidenciam a crítica cultural Leitores consomem e produzem conteúdo, mas podem difundir ideias comuns

A

democratização da informação causada pela internet é bilateral. Não é apenas a forma utilizada pelos comunicadores para chegar ao consumidor de cultura que está mudando. Há a possibilidade de leitores enviarem uma resposta imediata ao autor sobre sua produção ou mesmo tornaremse fontes de informação. Os blogs já são extensões consolidadas dos mais importantes meios impressos. O jornal Folha de S. Paulo, desde 2005, disponibiliza exemplares da ferramenta em sua página virtual. Atualmente, conta com 30 diferentes páginas, sete delas voltadas para a área de cultura. Entre os textos de opinião mais populares estão as críticas culturais, um dos primeiros gêneros jornalísticos a migrar para a internet. Na criação do site do jornal The New York Times, por exemplo, o blog de crítica cinematográfica foi uma das primeiras páginas criadas. A possibilidade de criar blogs pessoais com tamanha

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facilidade e de forma gratui- vre, o texto do blog facilmenta faz de um simples usuário te recebe a prepotência da um crítico em minutos. A li- certeza, como diz o especiaberdade de expressão é um lista em crítica cultural, Raul discurso interessante às artes Antelo: “os textos feitos para e estes tipos de site permi- os diários online são muitas tem que opiniões populares vezes leves, porém, pretenganhem voz siosos, porque frente às opinijulgam estar Atualmente o jornal ões dos críticos acima do coprofissionais. Folha de S. Paulo conta mum iletrado Em seus co- com 30 blogs em sua dos mortais“. mentários, os página virtual, sete deles A livre escrita usuários estão voltados para a cultura está também muitas vezes ligada à falta mais interesde comprosados em defender do que misso e pode conter inforem discutir. É comum nessa mações incorretas ou mal forma de interação o envio apuradas e levar à difusão de único, em que não há conti- ideias comuns. nuidade da discussão. Antelo ressalta que “o O dono do primeiro blog blog é o meio, não o fim”. profissional de jornalismo “Enquanto a burguesia, alta, brasileiro, Pedro Dória, defi- pequena ou mínima, contine as páginas pessoais como nuar alimentando a cultura uma forma de reunião da de só ler livros de auto-ajuda, opinião em comum. “Muitas biografias de celebridades e vezes sinto que o blog é ape- vademecuns de gosto mais nas a desculpa para aquelas do que duvidoso, continuapessoas estarem ali em volta, remos, rasteiramente, vegeporque elas estão a fim é de tando, num debate viciado e conversar entre si”. canhestro. Mas a culpa não é A liberdade, porém, pode do blog. Ele é o sintoma”. esbarrar na falta de conteúRafael Canoba do. Apesar da escrita mais li-

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Como o repórter pode entrevistar o jogador de futebol sem ter como resposta o discurso batido de “graças a Deus, fizemos os três pontos”? Como contar um jogo de maneira diferente, sem narrar o placar enquanto aparecem cenas dos gols? A 9ª Semana do Jornalismo pretende trazer uma visão inovadora sobre o jornalismo feito atualmente na área de esportes.

Jornalismo esportivo:

panorama & inovações


Respostas impagáveis A Semana Revista traz para o leitor as pérolas das entrevistas esportivas

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erta vez, um repórter perguntou para o zagueiro Antônio Carlos Zago, ex-jogador da Seleção Brasileira: “por que os jogadores sempre têm as mesmas respostas?” Zago não pensou duas vezes e respondeu: “porque vocês, repórteres, sempre fazem as mesmas perguntas.” Ele estava certo, mas nem sempre as respostas dos jogadores são tão parecidas assim.

Bom, eu não achei nada, mas o meu companheiro ali achou uma correntinha; acho que é de ouro, dá pra ele vender!” Josimar, ex-lateral-direito da Seleção Brasileira na Copa de 86, ao ser perguntado por um repórter sobre o que achou do jogo.

“ “

Clássico é clássico e vice-versa...” Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção quando perguntado sobre as dificuldades do jogo contra o Inter.

Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida ser humana.” Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico, falando sobre como o craque foi importante para ele.

Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja” Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção, quando questionado sobre o entrosamento do time campeão da Libertadores de 1995.

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A partir de agora meu coração tem uma cor só: rubronegro.” Fabão, zagueiro baiano ao chegar ao Flamengo.

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“ “

O sugerimento foi da minha filha.” Dunga, já como técnico da Seleção, após ser perguntado sobre quem indicou o casaco que ele usava durante a partida.

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Quando entro em campo, minha naftalina sobe.” Jardel (Gênio), ex-atacante do Grêmio e da Seleção, questionado sobre o que sentia em um jogo decisivo.

O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente.” João Pinto, jogador do Futebol Clube do Porto, de Portugal, explicando como o clube saiu de uma crise.

“ “

Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu...” Claudiomiro, ex-meia do Internacional-RS ao chegar a Belém do Pará para disputar uma partida pelo Brasileirão de 72.

Eles fingem que pagam e eu finjo que jogo” Vampeta, na época jogador do Flamengo, reclamando do constante atraso nos salários.

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Campeonatinho mixuruco, nem tem segundo turno!” Garrincha durante a comemoração da conquista da Copa do Mundo em 58.

Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado!” Jardel, referindo-se aos Toyotas e Mitsubish’s que viu quando foi jogar a final do Mundial de Clubes Não tem outra, temos que jogar com essa mesma” Reinaldo, do Atlético Mineiro, ao responder a pergunta do repórter se ele ia jogar com aquela chuva.

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Gian Kojikovski

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É só futebol? Carta de um leitor irritado

Sou consagrado. Muitos lutam para me conquistar, e premio grandes campeões. Quem me vence será lembrado pela história, e já presenciei e proporcionei partidas das mais emocionantes. Tradição e juventude passam pelos meus gramados, sabendo que jogam aqui sua vida e seu futuro, por um espaço entre os grandes. Sei o quão importante sou para o esporte e para aqueles que o amam. Mas vocês, não. Jornalistinhas que acham que sabem de tudo e que querem controlar o que o povo todo sabe: vocês dizem fazer um favor à população, representando e informando a massa. Mas o que vocês sabem sobre o que importa ou não? Meu nome faz tremer quase qualquer um, e sou esquecido a cada quatro anos. Sim, no período em que eu devo aparecer, na MINHA parte do calendário, a cada quatro anos vem esta maldita Copa do Mundo. Quem vai prestar atenção no meu campeão, se vocês, jornalistas, que ganham para isso, não se importam. Eu, Wimbledom, dono da grama mais sagrada da Inglaterra, represento aqui uma nação de revoltados. Sempre gostei do seu trabalho, pelo menos quando tratava de tênis. Faziam a cobertura necessária, em um lugar mais, em outro menos, mas sempre falavam. Sei que não posso generalizar, pois há lugares que se lembraram de mim neste período. O problema é que não sou o único. As quadras fechadas, espalhadas pelo mundo, são deixadas de lado, mesmo recebendo o campeonato onde vocês, brasileiros, têm o maior sucesso: a Liga Mundial de Vôlei. Até mesmo o próprio futebol concorre com a Copa! Veja, por exemplo, a Liga dos Campeões da Europa. Os jogos da primeira fase aconteceram durante o mundial. Sem falar da Fórmula 1, da luta, e tantos outros que não se pronunciam. Resolvi dar a cara a tapa e registrar minha reclamação. Se querem me boicotar, tentar me derrubar, vão em frente! Agora que isso é injustiça, ah é!” Indignado, Torneio Grande Slam de Wimbledom, Inglaterra. Vinicius Smidht

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A apuração nas ruas, a análise dos jornais, a exposição dos políticos e a malandragem no texto jornalístico estão em pauta na 9º Semana do Jornalismo. Os palestrantes Eliane Brum, Susana Singer, Palmério Dória e Xico Sá abordam estes temas e a Semana Revista dá uma pequena amostra do que vem pela frente.

Palestras

da

9ª semana


Tempo que insiste em passar Semana Revista faz o remake de uma das reportagens de Eliane Brum

A

casa grande com o jardim florido se deparava com olhos tão lúcidos como os de sempre me chamou a atenção. O dona Maria Carolina, que com seus 101 anos lugar, antes isolado do resto da ci- questionava o tempo todo as minhas pergundade, hoje ocupa uma quadra inteira tas e recusou-se a dizer o próprio sobrenome. de uma movimentada área do bairro “Meu nome no jornal? Só quando eu morrer”. Kobrasol, em São José. A arquitetura do prédio Assim como os habitantes da casa, cada tilembra uma casa comum, não fosse pela placa jolo ali também tem uma história para contar. que dizia “Lar dos Velhinhos de Zulma”. De lá O Lar dos Velhinhos de Zulma foi construído vinha uma música suave e alegre há 43 anos por um grupo espírita de uma sanfona. Entrei. que batia de porta em porta peOs assuntos no sofá Sorrisos de boas vindas ilumi- são quase sempre os dindo a doação do valor de um navam cantos da sala que parecia tijolo. Demorou dez anos até a mesmos: programas parada no tempo. Um brilho vicasa ficar em pé. Hoje o lar abriga de televisão, doenças e 35 pessoas: 14 homens e 21 munha de olhares atentos e sempre ansiosos por um rosto novo, al- parentes que se foram lheres. guém diferente, uma novidade na E era rodeado por essas murotina dos dias que insistem em passar quase lheres que sempre estava Oswaldo Damázio. sempre iguais. Com 77 anos de um sorriso fácil e contagianQuando cheguei, estavam servindo maria- te, nunca foi casado. Sentado no sofá entre as mole, e era a hora de trocar as fraldas. Um se- duas colegas, Oswaldo fala da casa como um nhor que se equilibrava em um andador insis- lugar mais próximo de Deus. “Eu aqui, estou no tia em provar a novidade: céu, não sei o que os outros dizem, mas estou - Quero maria-mole no céu.” Quando jovem, foi motorista do corpo - Mas o senhor tem que trocar as fraldas de bombeiros, correu pela cidade procurando primeiro! apagar os incêndios que hoje ficaram na lem- Mas eu queria a maria-mole antes. brança. Da rapidez desses tempos, Oswaldo - Não, não. Fralda e depois maria-mole. guardou o jeito de falar, que muitas vezes o Decretou, por fim, a enfermeira. Ele acatou obriga a repetir as frases para ser entendido. esbravejando. Ao lado dele, com a fala mais lenta e um A primeira sensação que tive foi a de estar ar cansado, estava Maria Nascimento Tomas. em um ambiente infantil. Talvez pelos dese- A ex-empregada doméstica de 84 anos parece nhos na parede ou pelas trocas de fraldas, com querer se esconder por trás da echarpe verde a diferença de que lá haviam corpos cansados, de tricô. No momento seguinte, assume um alguns quase ausentes. Minha consciência des- tom de tristeza e indignação. Maria lamenta pertava, perturbada e desconcertante, quando estar em uma cadeira de rodas e ter que acei-

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tar que os outros façam para ela o que já foi seu ofício. As únicas distrações que tem hoje são assistir TV, comer e dormir. Gostaria de poder ler um livro, mas não sabe. Os assuntos nos grandes sofás são quase sempre os mesmos. Entre um cochilo e outro, falam sobre os programas de televisão, as doenças que tem ou já tiveram e os parentes que já se foram, alguns bem mais jovens que eles. O adeus aos mais próximos era tão costumeiro que a dor se tornou algo constante. A atenta e curiosa senhora de 71 anos, Gertrudes Bruner tem medo da solidão. Antes de morar ali vivia com a filha, mas estava sempre sozinha. “Aqui tem sempre alguém para conversar”, alegra-se. E foi conversando com dona Gertrudes que entendi que a rotina deles é esperar pela próxima refeição. “Aqui é muito bom, a comida vem sempre na hora certinha. De manhã tem um cafezinho com leite, à tarde tem...” e me disse o horário e o cardápio de todas as refeições com um ar de satisfação. Os olhos de Gertrudes têm ar conformado, mas reparam em tudo. Foi ela quem me apresentou Alcinéia, uma senhora de porte elegante, com batom vermelho nos lábios e brincos nas orelhas. “Ela sempre se arruma assim. Até para o café da manhã”, me diz Gertrudes, ao pé do ouvido. A senhora elegante senta ao meu lado e culpa o hábito pela vaidade: “sempre fui assim.” Alcinéia brinca, diz ter quinze anos, quer conversa, mesmo sem conseguir articular bem as palavras depois dos quatro AVCs. Essa mulher que ainda guarda beleza, vaidade e sorriso fala com o corpo, com os olhos, com a alegria de estar ali. Os quartos da casa são coletivos, um para os homens, outro para as mulheres. Ficar em um dos quartos individuais é um luxo cedido somente aos mais debilitados. Como se o direito à privacidade fosse um último recurso na

Djalma Gonçalves não desiste de aprender a tocar sanfona

tentativa da busca pela paz. O refeitório é grande e arejado. Na parede há um quadro com desenhos de frutas. Natureza morta que colore a vida dos que, dia após dia, só esperam sentar no mesmo lugar para comer, que a refeição esteja boa e que, caso seja a última, que ao menos esteja quente. Saí de lá com uma sensação boa. Com a promessa da volta. Cruzei os portões para voltar à minha casa, mas percebi que algo ainda me intrigava: a música. Voltei. Era Djalma Gonçalves dos Santos quem tocava. Os 75 anos de semblante tranqüilo me encantaram desde o primeiro momento. O atual músico e ex-marceneiro segurava uma lustrosa sanfona e disse ainda não saber tocar muito bem. Comprou o instrumento há dez anos, porque achava bonito os sanfoneiros tocando nas festas. As mãos habilidosas dedilham as teclas direitas da sanfona que lembram o instrumento que lhe era familiar, o teclado. Djalma só lamenta não ter muita coordenação motora na mão esquerda, consequência de um derrame. Mas ele segue treinando, encantando e sempre aprendendo.

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Bárbara Dias

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O jornalismo pelas ruas Para se tornar um bom repórter é preciso caminhar

U

ma boa formação em jornalismo possibilita várias funções, mas, sem dúvida, o início de tudo é o aprendizado do ofício de repórter – o profissional das perguntas, nunca das respostas. Assim fica estabelecido: quem quiser desempenhar bem no mercado de trabalho que vá se preparando, e isto significa capacidade de perguntar. Muitos têm dificuldade para isto, por razões como falta de estímulo, de curiosidade, o que implica em falta de interesse, e também porque custam a entender o simples em jornalismo, que as matérias mais interessantes geralmente são originadas nas pessoas, também simples, que sempre têm alguma coisa para contar. São destas histórias que resultam grandes reportagens. E onde estão estas pessoas? Nos governos, em ambientes climatizados e tapetados, em grandes organizações, ou espalhadas pelas ruas, na sobrevivência de cada dia, ou ainda em locais públicos onde se aglomeram em busca de algum serviço? O jornalismo trata de tudo, mas o repórter deve saber que existem os profissionais das respostas, habituados e interessados em entrevistas, porque percebem aí oportunidade de algum ganho. Mas qual seria o interesse de um mendigo em uma entrevista, ou mesmo de um coveiro, e de centenas de pessoas “do povo” que podem ser encontradas em pequenos negócios, terminais de ônibus, emergências de hospitais, mercados e feiras livres, enfim, na rua? As cidades são estruturas que oferecem a diversidade social, por definição. Na área rural, por exemplo, diferentes tamanhos de propriedades agrícolas, e, por extensão, desiguais classes sociais, não se encontram lado-a-lado. Os bairros urbanos, e recentemente os condomínios fechados, se formam atraindo semelhantes em renda, mas a rua é democrática, nela todos são submetidos à exposição pública, logo, fontes acessíveis. E pelas suas diferenças, histórias e casos de vida que rendem sempre novas reportagens, e isso é o que se espera do jornalismo. Não existe “mistério” operacional para o trabalho. O lead é uma pauta-padrão, portanto, serve para qualquer assunto. Mas

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há distinção entre repórteres, conforme a capacidade de “percepção” para fatos que contenham interesse jornalístico e “saber escutar” sua fonte. Um outro componente da competência é a qualidade de negar preconceitos. Viver com eles é, com certeza, a maneira mais segura de ir ao encontro do fracasso profissional. Se existe uma regra primeira do jornalismo é respeitar as pessoas. Uma segunda é valorizá-las, e o jornalismo, quando conta algo delas, consegue este efeito porque destaca o que, normalmente, não provoca atenção. A valorização se dá pelo registro da personalização de indivíduos e funções que se reproduzem no quase anonimato. O mundo da rua é abordado por impressos, televisão e sites de notícias, mas, com freqüência, na forma de fait-divers. Este tipo de móvel da informação mascara o que apenas uma boa apuração pode extrair: a imensa rede de fatos, dos mais variados tipos que, por natural, permanece subjacente até que um repórter se interesse. Fait-divers são apenas relatos de acontecimentos inusitados na aparência de uma fotografia, ou seja, estáticos. Porém, aqui, o jornalismo deve descrever movimento de alguma forma de existência através de relações causais, conexões entre causas e efeitos, porque é isso que interessa como informação. O “extraordinário”, como principal apelo jornalístico, não cabe nestas pautas. Ele não deixa de aparecer, mas o impacto deve estar na história contada e reportada. É certo que a rua tem muito de pitoresco, afinal, são nestas “calhas” que escoa toda uma cidade, e, embora ele tenha algum valor jornalístico, sempre será menor diante de uma pauta sobre relações sociais de sobrevivência. Para conhecê-las, é preciso caminhar, e um ótimo exercício (não somente físico) para estudantes de jornalismo que pretendem ser repórter é andar pelas ruas de sua cidade, observando muito bem o que existe e o que se passa. Enfim, os fatos estão por aí, e seus donos, pessoas estranhas. O repórter entrevista, perguntando e anotando respostas. Nesta interação a estranheza some, porque alguma história está sendo revelada.

Um outro componente da competência é a qualidade de negar preconceitos. Viver com eles é, com certeza, a maneira mais segura de ir ao encontro do fracasso profissional

Hélio Schuch, profº do Departamento de Jornalismo da UFSC

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Ombudsman: o SAC dos jornais A profissão surgiu na Suécia, mas hoje faz parte das redações de todo o mundo. Nas palavras do ex-ombudsman Caio Túlio Costa, funciona como um “orelhão de leitor” . A 9ª Semana do Jornalismo recebe Suzana Singer, atual ombudsman da Folha de S. Paulo. Mas será que todos sabem qual o seu papel dentro de um jornal? A Semana Revista fala sobre a história desse profissional e explica sua função. A palavra ombudsman surgiu na Suécia em 1809, e significa “representante”. Era o funcionário designado a ouvir as reclamações dos cidadãos quanto ao governo sueco, um ouvidor-geral do século XIX. O termo fez sucesso e os países vizinhos adotaram o modelo. A Alemanha foi o primeiro país não escandinavo a criar um cargo semelhante, em 1957. Mas foi somente em julho de 1967, nos Estados Unidos, que apareceu o primeiro ombudsman de imprensa. Em Louisville, no Kentucky, os jornais Courier-Journal e Louisville Times, ambos do mesmo grupo, selecionaram John Hechenroeder para

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ocupar a função de ombudsman. Na época, seu principal trabalho era responder diretamente às queixas do público. O jornal Washington Post foi o primeiro periódico a publicar, em suas próprias páginas, as reclamações dos leitores, através do ombudsman Richard Harwood. O jornalista também tinha, à sua disposição, uma coluna semanal para criticar as ações do jornal. Essa prática chegou ao Brasil em 1989, quando, após três anos de análise baseada no sucesso dos ombudsmen do jornal espanhol El País e do próprio Post, a Folha de S. Paulo incumbiu o jornalista Caio Túlio Costa de exercer a função. Foi o primeiro veículo de informação da América Latina a contar com o profissional. Desde então, vários outros estabeleceram o cargo, como o jornal O Povo, os portais iG e UOL, e a TV Cultura. No livro O Relógio de Pascal, Caio Túlio Costa define o ombudsman como “orelhão de leitor”: recebe as queixas dos leitores, critica o jornal internamente e, uma vez por semana, comenta os meios de comunicação a partir da visão do público.

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O mandato de cada ombudsman é estabelecido pela empresa onde está empregado. No jornal O Povo, o prazo é de um ano, mas não há limite para renovações: o jornalista Plínio Bortolotti manteve-se na função por seis anos, de 2002 a 2007. Em sua última coluna como ombudsman da Folha, no dia 5 de janeiro de 1997, o jornalista Marcelo Leite elogiou o prazo estipulado pelo jornal para que um profissional permaneça no cargo: “Sábia é a regra adotada na Folha que fixa o mandato do ombudsman em no máximo

O Washington Post foi o primeiro a publicar as reclamações dos leitores em suas próprias páginas


Relatos de quem já passou pelo cargo dois anos. Muito mais tempo no liquidificador, desandaria a liga delicada com leitores e Redação, como ovos, azeite e limão na maionese. A acidez prevaleceria, degradando uma invenção civilizada em grumos e azedume”. Pouco tempo depois, esse prazo foi estendido para mais um ano. Para ter liberdade de criticar o jornal abertamente, o ombudsman tem alguns benefícios: não pode ser demitido enquanto ocupa o cargo, tem livre acesso à redação e garantia de no mínimo seis meses no jornal após deixar o posto, como é o caso da Folha de S. Paulo. Com o objetivo de regularizar e guiar os ombudsmen de todo o mundo, foi criada, em 1980, a ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização dos Ombudsmen de Imprensa), uma organização sem fins lucrativos. Para participar, é necessário o pagamento de uma taxa anual de 150 dólares. Assessores de imprensa, escolas e publicações jornalísticas podem se filiar como membros associados. Entre as missões da ONO estão assegurar que o ombudsman se dedique a proteger e expandir a qualidade do jornalismo, mantendo-se neutro e justo frente às queixas do público. Lucas Pasqual

Quando alguém é pago para defender o leitor “Começa aqui a coluna semanal do ombudsman da Folha. O nome pode parecer esquisito mas indica uma função que tem dado certo em outros países. Tanto na área pública (como na Suécia onde o ombudsman é uma espécie de ouvidor geral) quanto no jornalismo (como nos EUA, onde ele serve de advogado do leitor). No caso do ombudsman do The Washington Post (EUA) a sua coluna virou obrigatória. Ele anota os erros e às vezes até reescreve reportagens. Também aponta acertos e não se contenta em analisar apenas o “Post”. Fala dos outros jornais e dos veículos. Faz “média criticam” a crítica da mídia. Na Folha esta coluna irá no mesmo passo. Vai comentar as notícias da semana e a maneira como a imprensa tratou os assuntos com um único objetivo: ler o jornais e escutar as notícias com olhos e ouvidos de leitor exigente. Informação correta é requisito para se ter opinião e decidir as coisas da vida.” Trecho da primeira coluna do ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, Caio Túlio Costa, publicada em 24 de setembro de 1989. O conselho do Beraba “Da minha parte, cabe reconhecer que estava coberto de razão o jornalista Marcelo Beraba, amigo e ex-ombudsman da Folha de S. Paulo que, já em meados de 2008, ao conhecer o formato desta ouvidoria, alertou: “O ombudsman, se é de TV, tem de ter um programa regular na grade da emissora. Não bastam apenas a análise interna e a coluna no site. Não abra mão disso”. Abri. Deu no que deu. Ou deu no que não deu.” Trecho de texto feito pelo ombudsman da TV Cultura, Ernesto Rodrigues, que lamenta a falta de visibilidade da coluna. Publicado no site da emissora em 07 de julho de 2010. Ombudsman demitido A imprensa brasileira parece não estar mesmo segura de seu compromisso com o leitor. Lá fora, a figura do “representante dos leitores” é uma realidade consolidada em grandes jornais da Europa e Estados Unidos. Ali, ao contrário do que aconteceu no AN Capital e na Folha, as regras do jogo são respeitadas. Trecho da coluna do ombudsman do jornal O Povo (Fortaleza), Lira Neto, que tratava de demissões de colegas de cargo feitas logo após o fim do mandato. Publicada em 16 de fevereiro de 1998.

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Fiscal da mídia há 14 anos Observatório da Imprensa é o maior espaço para crítica da mídia impressa na atualidade

“A pauta primordial é o desempenho e as responsabilidades da mídia. O jornalismo deve satisfações a quem serve”

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Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito” é o slogan do site do Observatório da Imprensa (OI), grupo pioneiro na prática do metajornalismo no país, especialização que faz a análise crítica do trabalho da mídia. Há 14 anos, o site mantém artigos focados na atuação dos meios de comunicação e monitora o jornalismo brasileiro. O projeto surgiu graças ao artigo do jornalista e cineasta Alberto Dines, “O papel do jornal e o jornal do papel”. O texto escrito na década de 70, em plena crise do petróleo e aumento do preço dos jornais impressos, iniciou a sistematização da visão crítica sobre o jornalismo e influenciou na criação do Observatório da Imprensa. Inspirado no artigo, Dines ainda lançou o livro O papel do jornal, mais seletivo e contextualizado que o texto anterior, para estender as discussões sobre a produção de um jornal em época de crise econômica. Foi depois de criar o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1993, que Dines fundou o grupo Observatório da Imprensa, com alguns amigos portugueses. O projeto se consolidou com a migração para a internet, impulsionada pela possibilidade de atuar com mais força na sociedade. Luiz Egypto, colaborador do Observatório desde 1997 e redator-chefe há 11 anos, diz que nenhuma das 20 pessoas que trabalham na redação do site se sustenta só com esse trabalho.“Embora consigamos manter um nível de profissionalização alto, a remuneração é insuficiente e, para alguns, nula. Há colunistas fixos que eu nem conheço pessoalmente, mas admiro seus artigos”. Sobre a linha editorial do Observatório, o redator-chefe diz que tudo é direcionado para a crítica da mídia. “Derrubo artigos maravilhosos se os meios de comunicação não forem o foco. Da mesma forma que publico coisas com as quais não concordo, mas que merecem o meu respeito”. Desde 1998, o site ganhou versão televisiva e está no ar pela TVE Cultura. De acordo com Alberto Dines, programa

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baseia-se na ideia de que “a crítica da mídia só se legitima quando ela é voltada para o público que consome a informação”. O site também teve uma versão impressa que circulou durante três anos, era gratuita e distribuída aos assinantes a cada 15 dias. Dines diz que não há conflito de interesses entre as empresas midiáticas e os colaboradores do Observatório que trabalham para elas. “É uma atividade garantida pela Constituição. Nosso papel tem a ver com a excelência jornalística. Não achamos a mídia um horror, fazemos a crítica para a melhoria do jornalismo”. De acordo com Egypto, os editores responsáveis têm um papel primordial no site, pois “nada é publicado sem o nosso olhar”. Ele diz que todos os editores são orientados a evitar publicações suscetíveis à indústria do dano moral. Ofensas, apologias ao nazifascismo, pedofilia, racismo ou textos considerados escatológicos não vão ao ar. Mas a quem pertence o Observatório da Imprensa? De acordo com o próprio site, a todos os que se interessarem pela continuação do projeto. O redator-chefe diz que para colaborar com o site basta ser um cidadão e se manifestar de maneira coerente à proposta do veículo. “A pauta primordial é o desempenho e as responsabilidades da mídia. O jornalismo deve satisfações a quem serve”. Jéssica Butzge

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Hobby: desafiar políticos Através do jornalismo, Palmério Dória faz justiça com as próprias mãos

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almério Dória é um daqueles jorna- quer livro quando editava O Nacional, lá nos listas que já fez de tudo, fato notá- anos 1980. Havia apenas o inevitável interesvel mesmo para alguém que está há se por José Sarney, o político que roubou a mais de quarenta anos na profissão. carteira da História ao assumir a presidência Trabalhou nos jornais Folha de S. que seria de Tancredo. O semanário era de Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, ostensiva oposição ao governicho dele. nas revistas Interview, Placar e Caros Amigos Só pensei em A Candidata que virou picoalém de ter sido editor da Revista Sexy. Nas lé em 2002. Primeiro fiz uma reportagem na telinhas, trabalhou na TV Cultura e foi chefe revista Caros Amigos - “O nome dela é Rosede reportagem na Rede Globo. Para comple- ana, mas pode chamar de Sarney” - sobre o tar, fez jornais alternativos como O Nacional projeto de transformar o Brasil num Grande e o Ex-. Atualmente é crítico literário do site Maranhão. O PFL, hoje Democratas, queria Arte Ref. fazer da então governadora daquele Estado, Hoje, com 60 anos, vive em São Paulo e já o número um do miserê, presidente do país. escreveu cinco livros: Mataram o Presidente - Parti para o livro, no calor da hora, quando Memórias do Pistoleiro que muRoseana caiu na corrida presidou a história do Brasil (1976), “Não confio na justiça, dencial na esteira do já famoso A Guerrilha do Araguaia (1978), embora ela venha sendo Caso Lunus, o milhão e tanto de Evasão de Privacidade (2001), reais que a Polícia Federal pegou generosa comigo” A candidata que virou picolé no escritório dela e de seu mari(2002) e Honoráveis Bandidos do em São Luís. Um retrato do Brasil na era Sarney (2009) Honoráveis Bandidos veio há uns dois anos, Dória não tem medo de processos, mas quando eu soube que havia um projeto de também não confia na justiça. E ainda se re- limpeza da biografia dele, sempre obcecado fere aos Sarneys como famiglia, em alusão à em passar para História como “o presidente máfia italiana. O jornalista fala de política e da transição democrática”, que consistia em jornalismo sem papas na língua. uma biografia autorizada, uma autobiografia Semana Revista - José Sarney é seu tema e uma cinebiografia. Uma mentira em novelo de reportagens desde o jornal O Nacional, de que valia a pena desmontar. 1986. Além disso, também escreveu o livro Evidente que eu tinha reunido bom mateA candidata que virou picolé sobre Roseana rial com a reportagem e o primeiro livro. Mas Sarney. Com tantos anos de apuração, como precisei voltar ao Maranhão e novas apurafoi feita a seleção do que iria para Honoráveis ções e outras entrevistas foram feitas. EnBandidos? quanto isso, o clã metia-se em novos casos de Palmério Dória - O Nacional e os livros polícia, com Fernando Sarney ameaçado de ir são coisas diferentes. Não pensava em qual- em cana. José Sarney voltou pela terceira vez

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à presidência do Senado, quando estouraram Covas, e uma deputada federal, a mato-grosaqueles escândalos dos atos secretos e rou- sense Thelma de Oliveira. balheira generalizada na Casa no ano passaNão confio na Justiça, embora ela venha do. Derrubaram o governador do Maranhão, sendo generosa comigo. Mas confio no taco Jackson Lago, e colocaram no lugar Roseana, da minha advogada. A ideia deles é te quea filha dele que perdeu no voto. brar ou botar na cadeia. Até agora não colou. Tudo aconteceu enquanto o livro era to- Só tomam meu tempo e paciência. Mas não cado à média de um escândalo por dia. Por desafiar essa turma é como não viver. Eles esisso, para que não virasse catálogo telefônico, capam sempre, mas é bom tentar fazer justiça eu e meu velho parceiro Mylton Severiano só com as próprias mãos. botamos nele o que era absolutamente reSemana Revista - Honoráveis Bandidos levante para mostrar como a atingiu rapidamente o ranking dos famiglia montou o império “Só um sátrapa como livros mais vendidos do país, mas no todo nesse meio século de lançamento em São Luís houve uma o Sarney imagina que manifestação a favor do Sarney. O rapinagem promovida pelo clã no Maranhão e no país, pode deter o vento” senhor esperava essa repercussão baseada no tripé terra, comunegativa? Houve outros episódios nicação e energia. Se eu tivesse tempo, o livro como este? seria mais sintético ainda. Na verdade, ele é Palmério Dória - Não foi uma manifesuma grande reportagem, esse gênero que tação a favor de Sarney. Foi uma agressão uns e outros dizem que morreu. pavorosa num ambiente em que circulavam Semana Revista - Os seus livros sempre mulheres (algumas gestantes), velhos e criantratam de temas polêmicos, como política e ças. Basta olhar no Youtube: “Pancadaria em as entrevistas obtidas quando o senhor era São Luis”. Mas repito: não foi pancadaria, foi editor da Revista Sexy, publicadas no livro agressão. Vinte fascistóides, a mando de caEvasão de Privacidade. Como lida com a pos- patazes de Sarney, tentaram melar o lançasibilidade de processos? mento do livro no Sindicato dos Bancários do Palmério Dória - Não gosto do termo re- Maranhão, uma entidade democrática e plupórter investigativo. Existe repórter não inves- ripartidária. Antes a famiglia tentou impedir a tigativo? Então, quando você parte para uma venda do livro nas livrarias mais importantes apuração, não pode pensar na possibilidade de São Luis, por coincidência de sócios do clã, de processos ou coisa que o valha. e mandou raspar os outdoors que anunciaVocê só precisa estar escudado na vam o lançamento. verdade. O princípio vale para reDe fato nunca passei por um sufovista masculina ou para o poder. co como aquele, com lançamento de Tudo é jornalismo. pedras, tortas e ovos. Como já disse Não lido apenas com a possibiuma vez, acho que eles queriam fazer lidade de processos. Respondo no uma omelete. Mas o episódio voltoumomento a três, movidos por se contra os agressores. O livro, que gente poderosa: um juiz, estava em quarto lugar na lista um filho de ex-goverdos mais vendidos, passou nador paulista, Mario em seguida para o primei-

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ro. E ali, naquela noite, depois da ação dos aprendizes de jagunço, foram autografados mais de 500 livros. Semana Revista - A apuração para o seu livro foi feita baseada em entrevistas, documentos e publicações. Além disso, existem dados de contas bancárias de alguns governantes. Como o senhor chegou a estas informações? Palmério Dória - Esses dados são da Operação Boi Barrica, desencadeada contra Fernando Sarney e sua gangue. Eles estão no capítulo do livro que trata dela. A nós coube a honrosa tarefa de contar os primórdios da acumulação de bufanfa da famiglia na Suíça; a operação realizada por Fernando Sarney num banco de Brasília para salvar parte da fortuna do clã no sequestro da poupança promovida por Fernando Collor, combinada entre os dois honoráveis - o presidente que saía e o que entrava -, entre outros assaltos ao dinheiro

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que na verdade é público; e a conta fabulosa que o falecido Dante de Oliveira, o autor da emenda das diretas que o celebrizou, mantinha na Suíça, hoje administrada pela mulher dele, a deputada federal Thelma de Oliveira. A tal que abriu um processo contra mim. Semana Revista - Como o senhor vê a atuação da imprensa no caso de censura ao Estadão, que divulgava informações sobre Fernando Sarney e a Operação Boi Barrica? Palmério Dória - Só um sátrapa como Sarney imagina que pode deter o vento. Hoje, o relatório da Polícia Federal é quase de domínio público. Todo jornalista que cobre política conhece seu conteúdo. Mesmo assim, Fernando Sarney pode ficar tranquilo. Ele vai ter os pulsos adornados por algemas. Podem ser de ouro, prata ou bronze. Mas algemas o aguardam. Semana Revista - O senhor acredita que com a aprovação do projeto Ficha Limpa, a corrupção no governo deve se extinguir? Palmério Dória - Não dá pra entender uma lei que todos - parlamentares, juízes, procuradores, advogados - dizem que é incerta e não sabida. Ninguém sabe se vale pra hoje ou um remoto amanhã. Tem cheiro, pinta e jeito de que não pega. E não vai pegar. Quer apostar? O crime organizado, que domina grandes setores do Estado por meio dos chefes políticos, não pode ser detido por uma simples lei. Só por uma ação da envergadura da Operação Mãos Limpas, como aconteceu na Itália, onde a Justiça abalou as conexões dos mafiosos com alguns dos políticos mais importantes do país. Sem povo na rua e boas celas para os honoráveis, eles jamais serão detidos.

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Laís Mezzari


Os esquecidos homens-jurubebas No livro Chabadabadá os machões têm o seu valor

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formato quadrado do livro lembra bem mais uma revista HQ do que uma coletânea de crônicas. As ilustrações da obra em estilo pulp, criadas pelo artista Benínio, deixam explícita a influência dos quadrinhos. Chabadabadá – Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea Que Se Acha, recebe um tratamento editorial tão antiquado quanto seu objeto de estudo a ser lapidado: o homem-jurubeba. Com sua linguagem afetada e multirreferencial que rende o bom-humor natural do livro, Xico Sá, cronista e exemplar da espécie em extinção, descreve as características do novo homem sob dois aspectos: o macho na época da mulher independente e a popularização do metrossexual. Jurubebas e metrossexuais são extremo opostos. Nada de cosméticos para um real jurubeba - no máximo um Leite de Colônia ou talvez um pouco de creme Minancora nas espinhas. Nada dessas novas carnes frescas regadas pelos molhos cítricos da moda, feitos a base de frutas exóticas ou de temperos caseiros, cultivados ali mesmo na área de serviço da casa dos homenshortinha, mesma classe biológica dos metrossexuais. Nada de nouvelle cousine. O bifão-roots é o prato-mestre da gastronomia jurubeba. Três componentes em um mesmo prato, no máximo: arroz, feijão e bife. Variações? Um ovo estalado, talvez batata-frita. Um vinho pode acompanhar um momento adequado ou para algo mais romântico - sim, o homem-jurubeba pode ser romântico. E por que não seria? O homem-jurubeba pode também chorar e afogar as mágoas ao lado de Waldick Soriano, ou se confessar para seu clássico terapeuta, o cachorro (vira-lata, poodles não servem). Quanto aos vinhos, é bom lembrar que o bom homem-jurubeba não deve se assemelhar aos homens-bouquet. Não irá cheirar rolhas de vinhos, mexer a taça, cheirar de lá, de cá, cuspir de volta pro copo e beber mais uma vez. O cronista também olha para as mudanças nas mulheres que

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Hoje os ‘eu te amo’ saídos da boca de um homem ficaram mais raros. Mas algumas coisas parecem vir da medula masculina: eles ainda têm o velho medo do par de chifres

afetaram o comportamento masculino. Lembra da clássica músi ca popular “Ronda”, de autoria de Paulo Vanzolini, e inúmeras vezes regravada. “De noite eu rondo a cidade/ A lhe procurar, sem encontrar/ No meio de olhares espio/ Em todos os bares/ Você não está...”. Não dificilmente nos vemos hoje no papel dessas mulheres de antigamente. Talvez não rondemos mais bar a bar, balada por balada, mas nossos aparatos tecnológicos estão sempre a postos na busca pelas mulheres independentes na noite. O autor, porta-voz dos homens-jurubeba, critica a febre da boa forma feminina, e o consequente sumiço das mulheres-confort, de suas carnes macias, fofinhas. Junto com as críticas, Xico Sá também lembra a chegada de algumas qualidades que renderam elogios ao sexo oposto. Exalta, o moderno e misterioso corte curto “estilo Joãozinho”. E não é somente através das novidades que o autor fala bem das “fêmeas que se acham”. São inúmeras as odes às mulheres. O jurubeba-master consegue ser mais sensível às fêmeas que todos os tipos de novo homem. Ele faz um elogio à beleza da musa quando acorda na manhã seguinte, mesmo para as feias. O cronista lista cada um dos bons motivos para amá-las: basta um deles para considerá-la bela. Um pescoço, os pés... A não ser o cotovelo, que realmente não tem beleza alguma. Hoje, os “eu te amo” saídos da boca de um homem ficaram raros. As cartas de amor e a arte de se pedir em namoro parecem estar em extinção. Mas algumas coisas parecem vir na medula masculina: eles ainda têm o velho medo do par de chifres, por exemplo. Talvez isso seja universal, para todos os tipos de homem. Mas o hábito do velho “sinal de fumaça” - a reunião em volta da carne queimada na hora do churrasco está guardado com orgulho apenas pelos homens-jurubeba. Xico Sá lembra que essa característica que se perde aos poucos é pré-histórica. É a clássica relação do macho alfa: homem-carne-poder. Xico Sá é amigo-filósofo de mesa de bar, vouyer das ruas e ombro amigo para ouvir quais são as características desses novos homens rendidos às modernices e lembrar a existência dos esquecidos homens-jurubebas. No boca-a-boca também faz a pesquisa histórica de seu livro em várias crônicas, que lembram desde Virgulino Lampião - como revolucionário entre os machos homens - até Carmen Miranda, mãe brasileira de todos os travestis. Rafael Canoba

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Perfis Eliane Brum - Eliane Brum é gaúcha, de Ijuí. Em 1988 começou a trabalhar no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde ficou por 11 anos. Em 2000 virou repórter especial da revista Época. Publicou três livros-reportagem: Coluna Prestes - o avesso da lenda, A vida que ninguém vê e O olho da rua - uma repórter em busca da literatura da vida real. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de jornalismo e literatura, entre eles o Prêmio Jabuti e Prêmio Vladmir Herzog. Em 2008, recebeu o troféu especial da ONU em reconhecimento ao seu trabalho jornalístico na área de Direitos Humanos e na defesa da Democracia. Suzana Singer - Jornalista formada pela PUC de São Paulo, Suzana Singer também cursou ciências sociais na USP. Trabalha na Folha de S. Paulo há 23 anos, foi repórter e teve cargos de chefia nas editorias Educação, Ciência e Suplementos. Participou da criação do caderno Folhateen, do Guia da Folha e das seções Saúde e FolhaCorrida. Em março de 2004 assumiu a função de Secretária de Redação, onde ficou até janeiro de 2010, quando substituiu Carlos Eduardo Lins da Silva no cargo de ombudsman. Palmério Dória - Em seus 40 anos de profissão como jornalista, já trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, nas revistas Interview, Placar e Caros Amigos, além de ter sido editor da revista Sexy. Também fez parte da TV Cultura e foi chefe de reportagem na Rede Globo, além de jornais alternativos como O Nacional e o Ex-. Atualmente é crítico literário do site Arte Ref e possui cinco livros: Mataram o Presidente - Memórias do Pistoleiro que mudou a história do Brasil, A Guerrilha do Araguaia, Evasão de Privacidade, A candidata que virou picolé e Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney Xico Sá - Jornalista e escritor, nasceu no Crato, no Cariri, e iniciou sua trajetória profissional no Recife. É colunista da Folha de S. Paulo, do portal Yahoo! e dos jornais Diário de Pernambuco, Diário do Nordeste e O Tempo. Na televisão, participa do Cartão Verde, programa da TV Cultura, e do Notícias MTV. É autor, entre outros livros, de Modos de macho & modinhas de fêmea, Divina Comédia da Fama e o mais recente Cha-ba-da-ba-dá, aventuras do macho perdido e da fêmea que se acha.

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Caio Guatelli - Possui formação em fotografia pelo SENAC de São Paulo. Trabalhou para o jornal O Estado de S. Paulo de 1996 a 1999 e para a Folha de S. Paulo de 2000 a 2008. Hoje, possui sua própria agência de fotografias e faz free-lance. Ganhou os prêmios Abril e Folha de Jornalismo em 2005 e 2008. Caio foi o primeiro repórter fotográfico brasileiro a desembarcar no Haiti para cobrir o terremoto que atingiu o país no começo deste ano. Enviado pela Folha, o fotógrafo chegou a Porto Príncipe no dia seguinte ao desastre, e foi embora cinco dias depois, após julgar ter visto e fotografado o suficiente.

Letícia da Silva - Formada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), atualmente comanda as editorias de Geral e Segurança no Jornal de Santa Catarina. Em 2008, participou da coordenação das equipes de reportagem que cobriram a enxurrada em Blumenau para o jornal e o site Santa.com. No episódio, Letícia organizou as equipes, editou matérias e produziu conteúdo para a Rádio Gaúcha, Atlântida e CBN. Embora não fosse editora na época, foi uma das poucas pessoas que conseguiu chegar à redação do Santa nos primeiros dias.

André Kfouri -É jornalista formado pela FIAM. Iniciou sua carreira como rádio-escuta na Rádio Jovem Pan de São Paulo, em 1993. Após um ano e meio, passou a integrar a equipe de esportes da emissora. Desde 1995, trabalha na ESPN Brasil como repórter e apresentador. Entre outros eventos, esteve nas Olimpíadas de 1996, 2000, 2004 e 2008. E nas Copas do Mundo de 1998, 2006 e 2010. É colunista do Diário Lance! e tem um blog no Lancenet!.

Marcos Castiel - É editor de esportes do Diário Catarinense e comentarista da Rádio CBN/Diário. É colunista substituto no DC e tem um blog no clicRBS, o “blog do Castiel”, um dos mais acessados. Completou 17 anos de RBS em agosto, e começou sua carreira em 1988. Passou por rádio, TV e jornal. Foi setorista de Grêmio, Internacional, Figueirense, Avaí e Criciuma. Esteve na Copa América de 1995 e nas Olimpíadas de Pequim em 2008, como enviado especial. Recentemente, acompanhou a seleção brasileira antes da Copa, em Curitiba.

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Pablo Villaça - Crítico de cinema desde 1994, colaborou com publicações nacionais como MovieStar, Sci-Fi Cinema e SET. Em 2002, tornou-se o único membro latino-americano a fazer parte da Online Film Critics Society. Em 2005, lançou seu primeiro livro, O Cinema além das Montanhas, biografia do cineasta Helvécio Ratton. Hoje, além de editor do site Cinema em Cena (do qual foi criador 1997), é também professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

Bruno Moreschi - Formou-se em jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em São Paulo, passou pelas redações do jornal O Estado de S. Paulo e do portal Veja São Paulo. Atualmente colabora para a revista Piauí, Bravo! e ffwMag.

Jotabê Medeiros - Formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, já atuou como crítico na revista SomTrês, foi subeditor da revista Veja São Paulo, editorassistente e repórter da Folha de S.Paulo, editor-executivo da rede de televisão CNT/Gazeta e, desde 1994, é repórter de cultura do jornal O Estado de S.Paulo. Hoje o jornalista também mantém um blog onde assina textos sobre música, filmes e livros.

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José Luiz Longo - Diretor editorial do jornal gratuito Metro (SP), já atuou como editor executivo do Estado de Minas, chefe de reportagens do antigo Diário Popular, repórter do jornal O Globo, da Gazeta Mercantil e editor do Diário do Grande ABC.

Octávio Guedes - Editor-chefe do jornal Extra (Grupo Infoglobo), trabalha nesta publicação desde 1998. Formado pela Universidade Federal Fluminense, trabalhou no Jornal do Brasil , O Globo e O Dia. Ganhou um Prêmio Esso de Jornalismo em 2007 na categoria “Primeira página”.

Jardel Sebba - Estudou na Universidade Federal de Goiás e começou a vida profissional no Curso Estado de Jornalismo em 1999. Foi repórter e editor da revista VIP entre 2000 e 2004. Em 2005, participou do projeto de reformulação da revista Sexy. Desde 2006, é editor da Playboy.

Nina Lemos - É repórter da Revista TPM e faz parte do 02 Neurônio, trio de jornalistas que escrevem sobre o universo feminino com sarcasmo e ironia. Especializada em escrever para mulheres, Nina Lemos é também autora do romance Ditadura da moda.

Thiago Momm - Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), já foi repórter de Turismo da Folha de S. Paulo e editor da revista para adolescentes its. Hoje é co-criador e editor-chefe da revista Naipe, projeto de comunicação para universitários da grande Florianópolis, Itajaí e Balneário Camboriú.

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Patrocínio da 9ª semana do jornalismo

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