Portefólio — Da abstração à concretização —
FICHA TÉCNICA TÍTULO Portefólio: da abstração à concentrização.
DIRETOR GRÁFICO E EDIÇÃO DIGITAL Jorge Nicolau
REDAÇÃO Jorge Nicolau
E-BOOK 22 páginas
EDITORA Jorge Nicolau Publicações
CONTACTO jdiogo.nicolau@gmail.com
Junho de 2015.
ÍNDICE UM PERFIL CRIATIVO DE MIM PRÓPRIO
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TRABALHOS ACADÉMICOS 06 POST
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As razões que me fizeram optar pela comunicação estratégica
TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO
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Campaña del No
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PERFIL
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Singularidades de uma rapariga ruiva
ARTIGO DE OPINIÃO
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A lusofonia não existe?
TRABALHOS EXTRACURRICULARES
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CRÓNICA
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5 grandes razões para ver a série Borgen
CRÓNICA
Polémicas marcam a 60a. edição da Eurovisão
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INFOGRAFIA
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Quem é o recordista eurovisivo?
MIM PRÓPRIO
CRIATIVO DE
UM PERFIL
“un Longe de mim redigir um manifesto anti-marcas. Mas
“
branded é, por enquanto, o meu modo de estar na vida. Claro que (con)vivo com as marcas no meu dia-a-dia. Mas, no meu caso, não são as marcas que uso que definem aquilo que sou. Sou um mau cliente, confesso. Infidelidade será talvez a palavra que melhor resume a minha relação com as marcas; ando sempre a trocar de marcas. Sei que tenho umas ideias algo bizarras para o mundo em que vivemos. E isso até é algo que considero positivo. As minhas ideias são flexíveis, abertas a novos pontos de vista enriquecedores. Pronto. Faço sempre o mesmo. Esqueço-me sempre de me apresentar. Sou o Jorge. E este é o meu portefólio.
PORTEFÓLIO
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ACADÉMICOS
TRABALHOS
POST
As razões que me fizeram optar pela comunicação estratégica
Traidor à ‘pátria jornalística?’ Não diria tanto. A verdade é que muita gente (se não toda, mesmo) dizia (e, alguns, ainda o dizem) que tinha perfil, jeito para a coisa (entenda-se jornalismo). E não escondo que jornalismo era, até há bem pouco tempo, a escolha indubitável — era claro como água. Fui vendo umas séries e lendo uns livros e artigos que me solidificaram as ideias de querer ser jornalista e de, um dia, quem soubesse, conseguir mudar o mundo para melhor. Isto foi um processo que se avolumou até ao dia em que tive uma espécie de epifania. Estava a pesquisar spots publicitários para levar para a aula de Publicidade e Relações Públicas. Para variar, o tema pelo qual guiei a minha pesquisa era (não se surpreendam): política. Vi vários spots (alguns, nossa senhora!). Até que encontrei o spot. E é sobre esse spot que se irá versar a minha primeira publicação neste blog. Tinha uma musiquinha (de intervenção, mas sem o estilo de música de intervenção) que fica na cabeça; é viciante — é uma música que toda a gente sabe cantar! Antes de mais, vamos lá explicar o contexto. O spot de que falo é o do vídeo abaixo — um spot realizado na sequência da
convocação de um referendo no Chile para a, na prática, continuidade ou não do regime ditatorial de Augusto Pinochet. Quando tudo indiciava que o ‘Sim’ (opção defendida pelos partidários de Pinochet) venceria, a campanha opositora (a do ‘Não’) decide mudar radicalmente de estratégia de comunicação. Em vez de mostrar somente o que havia de mau no regime ditatorial de Pinochet, optam pela abordagem oposta: ‘montar’ um conjunto de estereótipos (positivos) daquilo que aconteceria se o ‘Não’ vencesse — materializaram em imagens simples aquilo que seria a vida dos chilenos em democracia. “La alegría ya viene”, era o slogan e a ideia principal do novo Chile que se pretendia construir. Este conjunto de promessas passadas como se fosse um anúncio publicitário fizeram com que um dos mais ferozes regimes ditatoriais do século XX caísse. E como é que isto influenciou a minha escolha? Ora bem, houve um desmistificar de algumas ideias não tão positivas que se têm sobre esta área. Este spot demonstrou-me que, ao contrário do que muitos dizem, as forças ocultas da comunicação, por vezes, conseguem mudar o mundo para melhor.
PORTEFÓLIO
Último frame do spot televisivo da campana do ‘NO’ (vídeo presente no post, publicado no blog-projeto Perquirir - perquirir.blogs.sapo.pt).
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TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO
verdadera operación limpieza, como lo remarcarían sugestivamente las grandes quemas de libros de los primeros días, desde La Guerra de los mundos, de H. G. Wells, hasta El Capital de Marx” (Errázuriz, 2009: 139). O ressurgimento da democracia demoraria mais de década e meia. Devido a pressões internacionais, que se tornavam cada vez mais fortes, e a uma obrigação da Constituição do
Trabalhos académicos
Campaña del No
11 de setembro de 1973. “¡Yo no voy a renunciar! Pagaré con mi vida la lealtad del pueblo,” dizia Allende (1973) pela rádio, ao povo chileno, aquando do assalto ao Palácio de la Moneda (na imagem), durante o levantamento militar que derrubaria o governo que liderava e que havia sido, três anos antes, democraticamente eleito. Neste dia, a democracia chilena morreu e o novo regime começou “una
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Assalto ao Palácio de la Moneda, uma das operações do golpe de Estado de 1973.
novo regime, o governo chileno decide então colocar a questão do regime a referendo. A pergunta propunha a continuidade ou não no poder, do então ditador Augusto Pinochet. Na prática, a questão tratava o fim ou não do regime ditatorial (Cronovich, 2013). O referendo realizou-se a 5 de outubro de 1988. “Todas las forças democráticas, desde la Democracia Cristiana hasta el
Partido Comunista” fizeram campanha pelo “NO a Pinochet,” enquanto que as forças armadas e os partidos mais à direita no espectro político “pidieron el SI” (Mario Amorós, 2001: 60). Do que falarei aqui não será do refe- rendo propriamente, mas sim da campanha do No e a influência que a mesma teve no resultado final da votação popular.
Esta campanha é, no meu entender, uma das melhores campanhas políticas de sempre. É talvez a campanha mais bem-sucedida dos últimos anos, no que toca a posicionamento e visão de futuro: a mensagem não era difusa; era, inequivocamente, bem entendida por todos, mesmo pelos que dogmaticamente se opunham. E tudo isso captou a minha atenção.
PORTEFÓLIO
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Trabalhos académicos
A esta campanha aplicam-se, no meu ponto de vista, duas teorias persuasivas. Por um lado, temos uma proposta mais racional. Falamos então da teoria persuasiva económica. Isto porque, neste caso, a ‘compra’ é um ato refletivo. O ‘produto’ oferecido era o fim da ditadura, um nova era com a alegria restaurada e a pobreza irradicada. Apela, se assim podemos dizer, ao chamado ‘consumidor racional’, visto que (quase) todos os argumentos utilizados eram da mesma índole. Em termos gerais, a mensagem era: votem No e terão um futuro que vos propomos - uma proposta
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Manifestação popular a favor do No.
racional à espera de uma decisão fundada e ponderada. Por outro lado, valoriza um símbolo, um valor social incontestado - a liberdade, conceito que traz consigo outras ideias como alegria, felicidade, democracia, desenvolvimento. Resumindo, é feita a promessa de uma vida melhor, de um novo Chile. Para além do mais, a campanha revelou-se transversal a classes sociais e faixas etárias, conferindo-lhe isso o estatuto de integradora. Na transmissão desta mensagem, a proposta racional torna-se, por vezes, num apelo emocional. No mais famoso anúncio publici-
tário desta campanha, conseguimos, de forma inequívoca, perceber qual a estratégia de comunicação escolhida. Em vez de se mostrar somente o que havia de mau no regime ditatorial de Pinochet, optou-se pela abordagem oposta: ‘construir’ um conjunto de estereótipos (positivos) daquilo que aconteceria se o No vencesse — materializaram em imagens simples aquilo que seria a vida dos chilenos em democracia. Uma mudança radical era necessária. E essa foi a mensagem claramente transmitida, que levou, posteriormente, à mobilização popular (Cronovich, 2013). Neste caso concreto, a publicidade é de
cariz institucional e participativa e teve como objetivo principal vender a ideia de democracia ao eleitorado chileno. Para além disso, serviu para informar e dar a conhecer aos eleitores os argumentos da campanha do No; credibilizou a oposição e melhorou a sua imagem, depois de década e meia de proibição e diabolização da mesma, por parte da ditadura militar; envolveu/agregou todo o povo chileno em volta de um projeto aspiracional. Traçados os objetivos, defino agora o posicionamento, ponto fulcral para o sucesso da campanha. Como vimos atrás, a campanhã do No distingui-se da do Si na estratégia usa-
da. Foi definido então que o conceito deveria ser “alegria” e que a partir do mesmo deviam ser desenvolvidas todas as ações de campanha, das quais destaco o já referido spot televisivo (2011). Assim, a campanha do No posicionouse de uma forma a ser identificada com a alegria, a liberdade, caraterísticas que, certamente, a diferenciavam da campanha opositora. Este posicionamento traduziu-se numa frase-chave, muito simples e bastante persuasiva: “Chile, la alegría ya viene” (“Chile, a alegria está a chegar”). Claridade, pertinência, credibilidade e, em certa medida,
originalidade foram os ingredientes usados para que o público-alvo (o eleitorado) percebesse inequivocamente a mensagem que lhes estava a ser transmitida. Para além das ideias de alegria e liberdade era também transmitida a ideia de integração: “juntemos la alegría de norte a sur” (Cartaz, 1988). Todos eram convidados a juntaremse a este movimento. A própria identidade visual do movimento demonstrava isso: um arco-iris que significa o fim da tempestade (da ditadura) e o (re)aparecimento do sol (democracia); missão ‘que junta todos no mesmo barco’ (Cronovich, 2013).
PORTEFÓLIO
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Trabalhos académicos
“A team of the country’s best publicity agents led the charge to produce the most important ‘commercial’ of the decade: selling the idea of democracy” (Cronovich, 2013: 1). A produção desta campanha foi algo complexa. Juntou diversos grupos de pessoas, de diversos meios de atividade. Desde artistas, ativistas políticos, até a estrategas
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Um frame de um dos spots televisivos da campanha do No.
de comunicação, todos ajudaram a moldar uma imagem otimista do que seria futuro do país se o No ganhasse. E isso resultou. A campanha deixou uma marca profunda na memória coletiva do povo chileno. “All the good publicists were on the ‘No’ side.” (Cronovich, 2013: 13). Para além disto, a equipa do No beneficiava da vantagem de
qualquer pessoa que não fosse pró-Pinochet pudesse, potencialmente, fazer parte da oposição. O facto de ‘vender’ uma ideia (ou perspetiva de futuro) e não um candidato beneficiou, largamente, a campanha do No, que, ao contrário da do Si, não teve que defender um ‘candidato’ com a reputação manchada. Grande parte da campanha passou-se
na televisão. Mais do que nunca, a televisão teve um papel fulcral na determinação da orientação do voto. O arco-iris e o jingle “Vamos a decir que NO” continuam, ainda nos dias de hoje, nas mentes chilenas. A campanha foi tão bem sucedida que levou à vitória do No e a uma participação eleitoral extraordinária, de 92% do eleitorado.
Mais, a coligação de partidos que suportava esta campanha, concorreu às eleições gerais de 1990, as primeiras eleições democráticas desde 1973. A coligação ganhou essa e todas as outras eleições subsequentes, ocorridas nas duas décadas seguintes. Apesar de a democracia chilena, nos dias de hoje, não ser ‘o paraíso na Terra’ que ha-
via sido prometido em 1988, as promessas de uma vida sem medo, perseguições e censuras e de participação na vida pública sem esperar represálias foram, contra as espectativas dos mais céticos, cumpridas.
Referências bibliográficas: Allende, S. (1973). Último discurso de Salvador Allende. [http://www.ciudadseva. com/textos/otros/ultimo_discurso.htm, consultado em 03-04.2015]. Amorós, M. (2001). Chile, la herida abierta. (1st ed.). Madrid: CESOC Editorial. Cartaz de Invitación a la Concentración en final del No en Santiago (1988). [http:// upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/Invitaci%C3%B3n_a_la_Concentraci%C3%B3n_final_del_No_en_Santiago.jpg, consultado em 03.04.2015]. Cronovich, P. (2013). The “No” Campaign in Chile: Paving a Peaceful Transition to Democracy. Conversation on the Liberal Arts, Westmont College, Santa Barbara, CA. Feb. 22, 2013. Santa Barbara: Gaede Institute for the Liberal Arts. Errázuriz, L. H. (2009). Dictadura Militar en Chile: Antecedentes del golpe estético-militar. Latin American Resaerch Review, vol. 44, no.2: 136-157. SPOT de la campaña del NO para el Plebiscito de 1988 - “La Alegría ya viene” (2011). [https://www.youtube.com/watch?v=l9QR1f-UnEo, consultado em 03.04.2015].
Recomendações: Visionamento do filme No: http://www. imdb.com/title/tt2059255/ PORTEFÓLIO
Leitura do post do blog Perquirir (o meu projeto de Relações Públicas) sobre este acontecimento: http://perquirir.blogs.sapo. pt/435.html
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PERFIL
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Trabalhos académicos
Singularidades de uma rapariga ruiva
esespera. À espera do comboio, sempre o mesmo de todos os dias. Ana Rita Sousa Machado, uma ruiva de estatura baixa, aguarda, algo impaciente, pelo comboio que a leva de regresso à Trofa. Os números que ligam Ana Rita ao comboio são os de quarenta minutos diários, aos quais se juntam outros sem contagem fixa, dependentes da compatibilidade de horários dos vários transportes utilizados. No total, mais de hora e meia diária de viagem. “Para mim o mais importante é estar perto de quem realmente me faz feliz se para isso é necessário fazer uma viagem tão grande todos os dias, então eu faço,” afirma Ana Rita. Acrescenta: “nas viagens, por norma, aproveito para descansar, visto que saio muito cedo de casa e chego sempre tarde, mas na altura de avaliações estudo bastante e aproveito para ler todos aqueles livros ou artigos que por vezes fazem toda a diferença quando estamos a realizar um teste.” Natural do Porto e habitante da Trofa, Rita percorre diariamente a linha ferroviária do Minho em direção a Braga. Contudo, o caminho a ser percorrido poderia ser o contrário. De facto, a sua primeira opção no concurso de acesso ao ensino superior foi o curso de Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. “O Porto é a minha cidade.” Este sentimento de afeto em relação à cidade e a maior proximidade foram fatores preponderantes para essa escolha. Todavia, viria a ser colocada no curso de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho. Esta colocação refletia
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Rita Machado, a perfilada.
a sua segunda escolha. Mesmo assim, afirma frequentar um curso que gosta. Para além disto, e, afirmando-se como uma “boa comunicadora” ou, pelo menos, como uma pessoa que se sabe expressar bem, Rita assume que a escolha da área de formação foi a mais acertada. Confessa-se “faladora” e admite que o curso consciencializou-a para a realidade do “saber ouvir num mundo cada vez mais ruidoso.” “Gostamos muito da Rita,” salientam as amigas da turma. Apesar disto, Rita admite que o sentimento oposto predomina entre os seus pares. “Acho que a maior parte dos meus colegas não gostam de mim” ao que acrescenta: “penso que uma parte da responsabilidade também é minha.” “Muitas vezes falo por cima dos outros”, destaca Rita, temendo que se adquira uma ideia errada sobre si. Para além do trajeto académico, Rita destaca outros acontecimentos relevantes da sua vida. Quando questionada sobre o episódio mais triste, Rita muda subitamente de expressão facial e, com um suspiro, declara “foi a morte do meu avô materno.” Relativamente ao futuro, Rita afirma que aquando da entrada no curso gostaria de ser jornalista. Mas “agora estou indecisa entre jornalismo e RP.” Define-se como “determinada a percorrer os caminhos que forem necessários para ser bem-sucedida.” Mas, no imediato, caminho só há um: o de regresso a casa. E é ao som da chegada do comboio que a entrevista a uma vida sobre carris acaba.
ARTIGO DE OPINIÃO
A lusofonia não existe?
L
usofonia, mas que raio é isso? Penso que esta será a primeira questão a fazer-se. Decompondo a palavra, percebemos logo que se trata de um vocábulo criado para identificar os falantes (fonia) da língua portuguesa (luso). Este termo, segundo Fernando Cristóvão, doutorado em filologia românica, é “mais amplo e mais denso do que o simples conceito linguístico, além de mais adequado do que outros que com ele pretendem concorrer.” Quer concordemos, quer não com a posição de Fernando Cristóvão, algo é factual: a lusofonia existe materialmente e é reconhecida. Este reconhecimento culmina numa organização (de valor questionável), apelidada de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Apesar de ter sido formada com o intuito de ser uma organização empenhada na cooperação intergovernamental para a preservação da paz, democracia, justiça e desenvolvimento entre as nações componentes deste refinado clube, estas expectativas goraramse rapidamente. Boaventura Sousa Santos, prestigiado sociólogo e professor universitário, chama-lhe até uma forma de neocolonialismo encetada por dois países: Portugal e Brasil, se bem que o mesmo admite que Portugal tem tido um papel menor, quase como sofrendo de uma ‘capitis diminutio.’ Rejeitando a lusofonia apresenta-se António Pinto Ribeiro que, num artigo publicado no suplemento cultural ípsilon do jornal Público, declara que “a lusofonia é a última marca de um império que já não existe. E o último impedimento a um trabalho adulto sobre as múltiplas identidades dos países que falam português.”
A minha Pátria é a língua portuguesa” — Fernando Pessoa
PORTEFÓLIO
“
Neste seguimento, mas defendendo a lusofonia, Rodrigo Tavares, num artigo publicado na revista Visão, afirma que “a verdadeira lusofonia, o conjunto de identidades culturais existentes entre aqueles que falam as várias ondulações do português, precisa de se desportugalizar. A portugalização da lusofonia e da identidade dos que falam português gera resistência. É uma reação primitiva de autopreservação. Nos países africanos, descolonizados há pouco tempo, a defesa é a agressividade ou a vitimização. No Brasil, reage-se com gélida indiferença ou jocoso menosprezo.” Podemos atentar que, pelas perspetivas que apresentei, há várias opiniões, posições e sentimentos que se pode ter em relação à lusofonia. Mas uma coisa é certa: algo tem de mudar. Ou se mata o moribundo ou regera-se o dito. Não podemos ficar num meio termo que não beneficia todos, que mata aos poucos os componentes mais frágeis desta complexa equação. Assim, e apesar de atrás ter dito que a lusofonia existe, tendo a concordar que a lusofonia é um imaginário criado por nós portugueses para tentar suavizar a perda de meio mundo num espaço de século e meio. Há coisas que demoram a digerir, e esta é uma delas. A megalomania lusitana (e não lusófona) faz com que pensemos que a língua difundida pelo mundo fora é uma bênção, um grande marco dos nossos ‘egrégios avós.’ Mas não só – é também a marca daquilo que nunca mais deveríamos ser: fracos com os fortes e fortes com os fracos. Haverá outra frase que nos defina tão bem?
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CURRICULARES
E X T R A
TRABALHOS
CRÓNICA
5 grandes razões para ver a série
1. É bem mais realista que as séries diretamente concorrentes. 2. Vemos um realidade diferente da nossa. 3. Um dos protagonistas é mulher - e é primeira-ministra. 4. É feita de gente aparentemente “normal.” 5. É uma produção DR (Danmarks Radio).
Aclamada um pouco por todo o mundo, Borgen (ou, em português, Castelo) joga certamente no mesmo campeonato de séries já consagradas como House of Cards ou The Newsroom. A série constrói-se à volta de Birgitte Nyborg, líder de um partido centrista dinamarquês, um partido menor na coligação pré-eleitoral de esquerda. Por força de circunstâncias estranhas e de jogos de bastidores, Birgitte torna-se na candidata mais forte, levando-a a vencer as eleições e a ser eleita primeira-ministra. 1. Em House Of Cards, por exemplo, há um exagerar no que toca a esquemas e reviravoltas muitas vezes quase inconcebíveis – a política faz-se de grandes golpes. Em Borgen, a mensagem que é passada é precisamente a contrária: a política faz-se de pequenos esforços. No entanto, por vezes, faz-se também de pequenos golpes, sempre necessários. É o “ser-se profissional”, como afirma a protagonista da série, quando se vê obrigada a demitir o seu braço direito no Governo, perante as exigências dos outros partidos na coligação governamental. Borgen é uma série mais próxima da realidade, mas que conta com muitos personagens idealistas, que várias vezes se confrontam com o dilema entre ser-se pragmático e fazer o que tem de ser feito, ou ser-se idealista e suportar potenciais consequências, maior parte das vezes, desagradáveis.
4. Este, parece-me, é o ponto fulcral, distintivo desta série. Agarra-nos ao ecrã o facto de as personagens serem bastante reais. Ou seja, é fácil identificarmo-nos com uma, ou várias personagens e encaixá-las num segmento social do nosso quotidiano – nada é demasiado ‘estratosférico,’ distante das pessoas ditas ‘normais.’ 5. A DR é a estação pública de rádio e televisão da Dinamarca. Produziu a série The Killing (com uma reputação notável perante a crítica) e, por duas vezes nos últimos 15 anos, o Eurovision Song Contest, um em 2001 e outro no ano passado, considerado pela crítica como um dos melhores de sempre e que contou com a participação de Pilou Asbæk (um dos actores da série), enquanto co-apresentador do concurso. Por isso, só há que confiar nos dinamarqueses no que toca à produção de conteúdos televisivos. Adicionemos a tudo isto uma extraordinária banda sonora (da responsabilidade de Halfdan) e estamos perante uma obra intelectualmente estimulante, que contraria tudo o que é feito por cá. A crítica tem sido tão favorável que até se fala que a National Broadcasting Company (NBC) – estação televisiva americana – poderá comprar os direitos da série televisiva para realizar uma adaptação à realidade americana.
PORTEFÓLIO
2. De facto, o que se nos apresenta no ecrã não é nada próximo do mainstream americano e, muito menos, uma realidade parecida à nossa. A sociedade dinamarquesa é bastante diferente da nossa. Existe, em geral, uma conduta ética e moral mais séria do que cá. Basta ver os rankings da corrupção e de funcionamento da Justiça, onde a Dinamarca surge nos primeiros lugares, enquanto Portugal ocupa os lugares do meio da tabela para baixo (quando não está perto do fundo). Por exemplo, no início da série, vê-se a primeira-ministra (na altura ainda deputada) a ir para o Parlamento de bicicleta. Na Dinamarca, os deputados e restantes governantes consideram-se funcionários públicos e, como tal, julgam não ter autoridade moral para serem beneficiados com regalias especiais e injustificadas.
3. Que me lembre, esta é a primeira série televisiva sobre política, onde os holofotes estão todos sobre uma mulher (Sidse Babett Knudsen, ou Birgitte Nyborg, na série), que desempenha o mais alto cargo público da Dinamarca – é primeira-ministra. É-nos dada uma visão do poder que é bem mais interessante do que o olhar masculino. Estamos perante um rigor e uma integridade muito mais sedutores. A série foi pródiga em antever o que se ia suceder um ano após o início da sua transmissão: a eleição de Helle Thorning-Schmidt como a primeira primeira-ministra da história da Dinamarca. Terá a série influenciado o resultado das eleições? Adam Price, produtor da série, diz que não, mas acredita que, depois de ter-se abordado na série vários temas tabu, estes (re)começaram a ser discutidos pela opinião pública, nomeadamente o caso da discussão das políticas imigratórias.
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CRÓNICA
Trabalhos extracurriculares
Polémicas marcam a 60a. edição da Eurovisão
“Suécia, Suécia, Suécia” foi o que mais se ouviu, durante a votação final. Foi renhido até ao último terço da maratona de votação. A partir daí, a Rússia deixou de ser ameaça e o medo que se fazia sentir e os apupos que se faziam ouvir desapareceram. O público rejubilou-se com a vitória sueca, apesar de, durante as actuações, ter vibrado mais com a balada italiana. Para além dos apupos e assobios à Rússia, outra polémica marcou este ano: a Itália ganhou, em termos de televoto. Desculpemme, não ganhou... arrasou. Ficou mais de 80 pontos à frente do segundo classificado, que, no voto do público, foi a Rússia. A participação italiana foi, por sua vez, arrasada pela intervenção do júri que a colocou num, para muitos, suspeito sexto lugar. Suspeito, porque há quem sugira que há um forte lobby por parte da poderosa indústria musical sueca, uma das maiores da Europa, que pode
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Performance de Måns Zelmerlöw, vencedor da competição.
ter coagido de uma forma simpática os votos de vários júris nacionais. Da conjugação dos dois resultados surgiu o resultado final: em primeiro lugar a Suécia, em segundo a Rússia e em terceiro a Itália. Segundo a crítica, este ano não foi tão forte como os anteriores. Todavia, não deixam de afirmar que, mesmo assim, fomos presenteados por grandes canções. No top 3 das apostas, surgiram a Suécia, a Rússia e a Itália, segundo esta mesma ordem. Tanto a canção sueca, quanto a russa foram produzidas por quem mais sabe de música na Europa (ou que, pelo menos, sabe como se ganha este concurso), os suecos. Já a canção italiana é interpretada por um grupo famoso internacionalmente, os Il Volo. Apresentações à parte, há uma coisa a destacar – o resultado final depois da votação foi exactamente igual à ordem definida pelas apostas. Curioso, diria.
A Eurovisão é um grande espectáculo de luz, cor e som. Talvez, por isso, há quem apelide este espetáculo de circo. Há quem até pergunte como se faz um cantiga para a Eurovisão. Há ainda quem adore este “show.” “Show” sim, porque é, verdadeiramente, um grande evento musical. Passemos aos factos: é transmitido em directo para 200 milhões de telespectadores e seguido por mais de um bilião de pessoas em várias plataformas. Apesar de o cenário ser pomposo, em Portugal não é lá muito famoso. O share de audiências passou de, em 2008, 46,7% (cerca de 1.700.000 telespectadores) para 13,2% (cerca de 500.000 telespectadores). Pronto. Apesar do cenário português, dá para perceber que isto é o maior evento musical à face da terra, pelo menos em termos quantitativos. Muitos cantores, muitas canções, muita luz, muita cor, muito som, muita gente a assistir (quer ao vivo, quer pela televi-
são e pela internet), um palco enorme. Podia continuar a enumerar. Daria uma lista quase interminável. Pode-se apontar, contudo, uma grande falha. Apesar de não ser culpa directa da principal entidade organizadora, a European Broadcast Union (EBU), este festival perde no que toca à qualidade das canções a concurso. Entre as várias canções concorrentes, que costumam ser à volta de 40, só cerca de dez a doze são de boa, ou grande qualidade. Junte-se a isto um facto inédito: a participação, pela primeira vez, de um país um pouco distante da Europa... a Austrália. E a estreia até teve um resultado bastante bom: um quinto lugar entre vinte e sete. É um feito algo extraordinário tendo em conta que Portugal participa nesta competição há mais de 50 anos e nunca conseguiu ganhar. Pior que isto. O nosso melhor resultado foi pior que o resultado australiano: foi um sexto lugar,
numa altura em que competíamos contra 22/23 países. Deixemo-nos de lamúrias. Este ano, o concurso teve um conceito algo sui generis, especialmente para uma organização, que diz não tolerar mensagens políticas nas letras das canções. Building Bridges é uma afirmação política pela igualdade entre géneros, pela emancipação da comunidade LGBT, algo que, ainda que de forma indirecta, condicionou (e de que forma) uma vitória russa. É ainda de destacar um episódio cómico. Não, não me refiro às já habituais novelty songs. Falo dos três países (um deles foi Portugal) que ficaram ‘pendurados’ durante a votação. É caso para dizer ‘parece que a chamada foi a baixo.’ No caso português, a chamada de retorno está a tornar-se cada vez menos apelativa…
PORTEFÓLIO
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Trabalhos extracurriculares
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Infogrรกfico relativo a quem jรก ganhou e por quantas vezes o Eurovision Song Contest. Fonte: eurovision.tv.
INFOGRAFIA
Quem é o recordista eurovisivo?
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Š 2015 Jorge Nicolau