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Jorge Miranda

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Jorge Miranda

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edição do autor 2018 2


Para o jovem das tardes no 5521B, irmão da menina bonita que morava próximo à igreja, o qual eu nunca soube como se chama.

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SUMÁRIO

Rander, 6 Pedro, 7 Sérgio, 8 Walter, 9 Lucas, 10 Rogério, 11 Bernardo, 12 Marcel, 13 Vinícius, 14 Caio, 15 Luiz, 16 Adriano, 17 Diego, 18 Gabriel, 19 Victor, 20 Danilo, 21 Rheubert, 22 Henrique, 23 Daniel, 24 Fernando, 25 Matheus, 26 Samuel, 28 Zé, 29 Felipe, 30 William, 33 Douglas, 34 Alysson, 35 Assis, 36 Jean, 38 Arailton, 39 O pequeno Hans, 40 Leonardo, 41 Arthur, 42

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nem todos os homens que saem de minha casa saem da minha cama nem todos aqueles que saem da minha cama saem de dentro de mim nem todos os que saem de dentro de mim chegaram sequer a lá entrar não, nada é tão líquido assim Bénédicte Houart

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Rander Despojar a capa o cinto as vestes o arco e a espada até reconhecer em ti algum tipo de Davi cuja voz envereda o rebanho cujos dedos excitam a cítara cuja cabeça é ungida de beleza. O primeiro orvalho em Gilboa também é o último orvalho em Gilboa: todas as águas que desceram entre os lajedos levam o teu nome.

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Pedro Você desalinhava o céu como se fosse um rio onde as duas margens marcavam o antes e o depois de eu ter atravessado a sua vida. Como um barco no qual o remador cantarola as canções que o avô ensinou ao pai que ensinou ao filho que ensinou a quem amava eu me deitei sobre as águas da sua história. E assim choveu. Como toda chuva, essa também foi postiça mas jamais infértil.

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Sérgio Aprendi olhando para as suas coxas que é preciso ser absolutamente contemporâneo.

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Walter das recusas: mar que desaprendeu a ouvir nĂŁo alvo que nĂŁo acertou a flecha.

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Lucas Sejamos sinceros. Não nos conhecemos. Das poucas vezes que nos vimos, todas foram pontualmente ao acaso. É por uma extensão bem mínima que eu te alcanço, como quando consigo olhar para você e não me vejo, pois esse todo que parcialmente te compõe, essa margem maciça do primeiro ato me apaga e, então, resta só você. O cisne não é um signo – eu já te disse isso nenhuma vez. Uma espécie de encontro zero, no qual toda a possibilidade é um interdito uma regra um salto uma cicatriz uma tentativa um impulso. Um dia, eu te vi como um menino nu, mas você não era um menino, você era um homem, e sua nudez transformava em opacidade toda a nudez do mundo porque você havia conseguido estar absolutamente nu. Alguém pode tocar a delta de um rio na sombra pois a ausência de luz não impede que cursos se deságuem. Há ali um ensaio. A distância entre dois poros é medida em coragem. Façamos da vontade uma habitação onde as mulheres possam nos ver dançar. Esta carta rompe este ciclo de nenhumas vezes. Sejamos sinceros. Que pena.

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Rogério Aquilo que chamamos de verdade pode ser apenas uma parcela de realidade muito mal traduzida. Disso procede a importância de educarmos os nossos sentidos vírgula todos os onze mil que possuímos.

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Bernardo Na lâmina de toda espada há um leão cuja respiração se devota ao Infinito. O corpo das palavras é um jogo de areia inominável: cabe a nós brincar conforme Salomé e Filemôn ensinaram.

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Marcel O primeiro Marcel supôs um rosto que se amanhecia por detrás dos livros gentileza e curiosidade fizeram da cordialidade um bom apelido para o desejo. O segundo Marcel vivenciou um rosto que se distanciava da manhã imaginada frustração e resiliência entardeceram a transparência - o caos é a alavanca dos afetos. O terceiro Marcel já era um outro: tão exageradamente si que só a si bastava. je est un autre, dizia Rimbaud cujo primeiro nome era Jean-Nicolas mas bem que poderia ser Marcel.

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Vinícius A tua pele camuflada de Malevich jamais me decepcionaria quando ela me traísse. Não é a vontade ou o desejo ou o sexo ou o caráter ou a brecha dos contratos ou a economia das vantagens e ganhos ou o comparecimento e a ausência de tudo isso de cada isso de qualquer isso que determina todas as traições. A pele e somente a pele na extensão secreta da liberdade que ela te concede ela a pele e somente a pele trai como se convém e deve. Abra a janela. Vê deste miradouro tudo aquilo que passa e não te aquece. Sorri para mim como quem diz: afaste-se. Oxalá um quadrado preto e um quadrado vermelho fossem como o cheiro dos javalis lampejando o imediato cio do corpo: uma entrega votiva uma trilha legível um silêncio sincero uma cena.

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Caio Eu já tive a oportunidade de ter nas mãos a fotografia de uma raposa, uma Vulpes vulpes também conhecida como raposa vermelha. A raposa era uma imagem desenhada, minto, uma imagem consultada, porque por se tratar de uma fotografia partia da premissa de um olho. A raposa era uma imagem retocada porque a fotografia aprimora o real antes de retornar a ele como imagem, como fenômeno anacrônico. Uma raposa não precisa de seios fartos para amamentar a sua prole. Nem se fosse um demônio ou uma máscara ou um moinho ou uma professora. Uma raposa bonita se torna ainda mais bonita em uma fotografia porque uma fotografia é uma marca e marcas são sensíveis a mentiras.

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Luiz Punição e homenagem: dedicar ao algoz o gozo e deduzir do gesto o gosto de vingar-se. A experiência primeira do prazer foi pisada no lagar dos opressores sob o conselho dos ímpios no caminho dos pecadores entre a roda dos escarnecedores - a escola.

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Adriano

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Diego bença teu silêncio foi o ponto de partida para que o nome ficasse descalço e descalço e descalço permaneci de pé: em algum passo entre a presença e a invisibilidade uma caravana de ciganos cruzou sorrindo o peito que não me apadrinhou ainda assim me acolheu o teu

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Gabriel Subarashī: o sol nascente dança no seu cu .

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Víctor Não existe res perit domino no bate-papo do uol. No manual prático de civilidade nós apenas atravessamos a rua: vai comigo.

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Danilo Dentro do meu labirinto os seus dedos foram DĂŠdalo Teseu ou o prĂłprio Minotauro?

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Rheubert Nos países nórdicos, quando estão alfabetizando as crianças, como elas diferenciam ii de ü em letra cursiva? Na quadrilha da vida, queremos ser J. Pinto Fernandes - nada tão bom quanto achar um espelho na multidão. O abraço que eu pedi para lhe mandar nunca deve ter chegado. Passo bem. Meu detector de metais sentirá saudades.

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Henrique limões janelas vestidos teatros fabricados bibliotecas moinhos museus enquanto você amarra os cadarços do seu tênis uma temporalidade nos escuta: nunca.

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Daniel E disse o Senhor dos Exércitos a Jeremias: Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas. Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer. Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. (e o luar invertido me contava em meio a falsos aniversários como os seus olhos me moldavam. Uma pena que não houve aula de literatura comparada alguma que me permitisse retribuir um aceno até hoje parcial e incompleto. Feliz Ano Novo).

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Fernando Prefácio Entre o linho a te esconder a nudez costurar uma partitura que não te lembre a infância. Antes que traga à tona a diplomacia do corpo a arquitetura do desejo o calor das mãos platônicas. Assim meu corpo seja um reino para o meu arquiduque e todos os meus segredos o excitem tanto quanto o gosto de cupuaçu nos lábios o sumo do coração das alcachofras o fascínio das samambaiaçus e embaúbas e o gozo dos nossos melhores passatempos. Epílogo Pequeno infante curioso e desinibido: à flâmula da frustração hasteada no seu pau só os mendigos prestam reverência. Pena que o seu reino – o seu reino – seja a pele; menos que isso: o incêndio impaciente da pele, o lado de fora da carne, da casa onde forasteiros se iludem, se divertem e vão embora sem ser lembrados.

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Matheus Acaso objetivo para espantar fantasmas: diante do mistério, luzir. Não como um tecido - seda e bordado sobre o linho; talvez como um corpo que escreve e apaga e escreve e apaga e escreve e apaga e escreve e apaga e escreve e apaga aquilo sobre o qual tanto pensa tanto pende e tanto hesita. Somos coroados. Sim. Sacrossantos. Certos de que a presença do segundo garante a existência do primeiro fiquemos com as coisas perenes, o futuro do palpável. A mais bela surpresa: o homem-jasmim se revelava como uma carta confessional bem em meio ao apocalipse. Aquela escada vermelha no Hotel Esfinge por ironia não nos guarda nenhum segredo. É a expectativa do real, a tela e a vitrine. A roseira que nos toca sem nos darmos conta. É o seu sorriso tentando ser meu enquanto renuncio a qualquer forma de posse em prol de um nós, alegria que comunga na entrega. Não seria um recital do Budu, um livro de Stendhal, 26


um quadro da Tarsila, um poema da Orides, um verso da Fuertes, um estudo do Octavio ou um mantra do Piva uma outra forma de nudez? Fiquemos, pois, de novo, nus, ensaiando a intimidade da luz.

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Samuel Quisera eu morar na sua voz e no timbre da sua língua roçar alguma dicção atrevida capaz de fazer até o ouro mais fosco e esmaecido dançar. Ou deixar que este tritão alado dormente em sua garganta acordasse em alguma reentrância dos meus ouvidos e convertesse o silêncio rijo teso hirto em arrepio. Que o mundo se cumpra como metonímia: do grão da sua voz floresça em mim até a parcela mais rouca e grave do seu corpo - uma linguagem.

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Zé Guarda-me em suas nuvens. Apascenta-me em alguma eternidade provisória do seu céu. Porque seu céu tem vontades enquanto o meu tem apenas vésperas. Contudo determinados céus comportam mais de uma nuvem e nenhuma delas é solstício de si mesma. Paul Celan e Adão Ventura viram o mesmo céu mas a tempestade que vara de ponta a ponta o meu coração nasce é das suas nuvens.

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Felipe - Vamos tomar um café? você me convidava assim para, em cada momento seguinte, me desconvidar alegando já existir algum outro compromisso um ensaio uma aula muitos textos para ler estudar as leis e as performances tomar um café com uma amiga que seja realmente importante. Um dia, no entanto, ao acaso a gente se encontra e você me diz - Oi que bom finalmente te ver vamos tomar um café! Eu penso como quem encena: Não, não quero tomar um café. O que eu queria é que a gente se convidasse para tomar um café e não que o acaso marcasse esse evento pela gente. Porque quando o acaso faz isso pela gente é como se secretamente dissesse: - Ei vamos aproveitar que já estamos aqui e para aqui viemos não um pelo outro mas cada um por seu próprio motivo individual e, de uma vez por todas, vamos tomar logo esse café e então nos livrarmos desse enfado 30


dessa obrigação que arrastamos há tempos e, assim, não termos mais nenhum compromisso pendente pesando sobre as nossas mais verdadeiras e sinceras vontades. O que eu queria é que a gente se convidasse para tomar um café, caso em que eu e você ergueríamos algum tipo de empatia cuja semelhança se aproxima sem recorrer à dúvida, sem se equivocar na transparência legível de um afeto que não se reduz a levar você para cama, abrir as suas pernas e lhe foder como se você fosse apenas uma cadela no cio que goza confundindo coito com amor; ou eu terminar como uma postagem no seu tumblr onde você publica poesias e o quanto amava os seus ex-namorados. Porém, eu respondo: - Obrigado pelo convite hoje eu não posso estou muito atarefado quem sabe outro dia. Eu escrevi um poema para você. Eu adoraria declamar esse poema que eu escrevi para você enquanto a gente tomasse um café. O poema que eu escrevi para você é o único que eu consegui memorizar. Há e não há um pouco da gente nesse poema intitulado “Os Atores”:

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Os Atores A curiosidade matou o cordeiro. (no palco, o seu personagem se chamava “Warley” e cantava maravilhosamente bem O Amor, aquele poema de Maiakóvski na voz da Gal a mulher mítica do qual qualquer verso lhe serviria de epígrafe de convite de armadilha). Você me nomeou com todos os nomes do erro: este pas de deux se tornou nossa mise-en-scène, deserto cuja pele só os nômades habitam. Como se esse nós existisse, nos despedimos com um aperto de mão uma palmada nas costas e um vago abraço. E eis que as pessoas, elas não vão embora.

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William O florete, sendo uma arma de ponta, só pode tocar o tronco. Logo, espera-se precisão de quem a utiliza. Para a espada, todo o corpo é uma área válida. Importa, portanto, a estratégia. O sabre se compreende da cintura para cima - mas seu corte abrange pontas e laterais. Evoca agressividade. (essa luta esportiva designamos comumente como desejo).

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Douglas Dançar a alegria de um corpo sincero às próprias fronteiras exige que do velho homem nasça o novo homem e da violência explosiva dos músculos flua o suor - pele em estado de sede. É por esta liberdade que nós morremos: para que as águas que saram cheguem a quem nos tem ofendido, para que a nossa carne sacie a fome daqueles que têm fome e que todos saibam de fato que gosto tem a salvação. Assim o corpo amanhece junto ao gozo mesmo após a via-crúcis.

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Alysson É mais fácil ser pelo não, ser pela contramão, pois a aspereza do mundo revela o que não ser, o que se atenta contra a natureza da índole. Porém, difícil ser o que se quer ser, pois cobra certezas rígidas demais para quem quer ser seu próprio refúgio e fortaleza. Nenhum espaço efêmero seria a ambivalência mais desatenta e precisa de si assim tão bem. E o não ser? Assim também seria? A hipotética verdade alenta: talvez. Que assim seja. Ou não. Amém.

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Assis E o que os atores fazem? Perguntam trivialidades. Pagam contas. Mentem. Você me faz lembrar do Pedro, o da chuva postiça. Assim como nele, meus sapatos também não cabem em você. Nós sabemos o que acontece com sapatos que não nos cabem mais. São inúteis como uma unha roída, um leão improvisado, um dente surdo, uma plateia repetida, um ex em cena. A chuva irriga o chão, mas nem por isso este chão é obrigado a gostar dela. A exatidão dos afetos é impressionante. A alegria é cênica como uma facada. Quando eu assisti à Fauna, a bomba atômica não esteve dentro de mim.

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Com a extinção das espécies, todas as peças de teatro do mundo se tornarão desnecessárias. A escala humana como dispositivo do universo tudo encerra. Estaria alguma coisa se rompendo? Dois metros. Um metro. Um centímetro. Um silêncio é a maior distância entre duas palavras. etc.

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Jean O mapa do oceano de Lewis Carroll é, na verdade, o mapa do nada. Todavia lá estão as indicações de norte, sul, leste, oeste latitudes, longitudes meridianos, equinócios zênite, nadir e um equador o que comprova que até o vazio precisa de coordenadas (tanto quanto a Iugoslávia precisa de seus príncipes, ainda que não exista mais sequer uma Iugoslávia)

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Arailton Uma mordida menos ameaçadora do que a própria ameaça da mordida, do que o ímpeto ou a vacilação de fazer do pedaço do corpo uma ponte no qual o íntimo do outro corpo também se comunique. Um gesto cuja equivalência seja um fruto em seu esforço de dádiva, a exata; a consentida anatomia insinuando a suculência. A hesitação importa: o onde e o agora dançam no desejo dos olhos, na doutrina do canto, na violência imperdoável dos thygres. Nem aposta nem exigência apenas alguma disciplina noturna para que os que logram retornem à cama e sonhem com algum mantra oscilando ao redor das próprias tentações porque o ego, esse sim floresce em bonitos jardins dos quais montamos inesperados buquês e ramalhetes.

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O pequeno Hans Você não é nenhum dos 201 moinhos do canto V de Altazor, de Vicente Huidobro. Você é o molino de molino molino del molino molino en molino molino con molino molino para molino molino como molino molino a molino molino que molino molino molino.

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Leonardo Na pele da capela azul oramos para SĂŁo Beloved & Loveless: nossa primeva comunhĂŁo (our honest mistake).

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Arthur Pode um raio cair duas vezes na mesma pista de dança no mesmo pedaço do mapa na mesma xícara de chá. Um corpo não pode ser feito só de medo e covardia, tampouco o caos deve ser a segunda casa de ninguém. A engenharia do abandono foi capaz de construir uma bonita e conveniente fortaleza onde você confortavelmente habita. No jardim, os frutos, que não amadurecem, são dispensados como se eles nem ao menos tivessem existido. Um vazio reconta a moral da história: Fantasmas têm mãos confiáveis mas ainda assim são fantasmas. Fantasmas têm mãos confiáveis mas ainda assim são fantasmas.

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