Florestas marinhas As espĂŠcies de algas castanhas gigantes de Portugal
Edição: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda (info@gobius.pt) Produção de conteúdos: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda, segundo o novo acordo ortográfico. Coordenação editorial e executiva: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda Revisão: Dra. Maria Ester Serrão - Centro de Ciências do Mar (ccmar@ualg.pt) Fotografias: Jorge M. F. Assis - Gobius (pp 7, 28); Carlos Franco (p 4); Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores (pp 27, 31); Shutterstock (pp 11, 12, 14, 16, 18, 20, 22) Capa: Pôr do sol na zona entre marés de Viana do Castelo (Jorge M. F. Assis - Gobius) Esquemas e Ilustrações: J. T. Tavares - Gobius (pp 5, 6, 8, 10, 17, 19, 21, 23, 24, 25, 26); Jorge M. F. Assis - Gobius (p 9) Design gráfico: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda Impressão: Gráfica comercial, sobre papel reciclado. ISBN: 978-989-97260-0-0 Depósito legal: 324977/11 © Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda, 2011 A publicação ‘Florestas marinhas, as espécies de algas castanhas gigantes de Portugal’ não pode ser reproduzida por qualquer forma ou quaisquer meios eletrónicos, mecânicos ou outros, incluindo fotocópia, sem prévia autorização do Centro de Ciências do Mar e Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda.
Florestas marinhas As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal
Assis, J.1,3, Tavares, J.T.3, Serrão, E.1, Alberto, F.1, Ferreira, C.3, Tavares, D.3, Paulos, L.3, & F. Tempera2
1. Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal 2. Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores, 9901-862 Horta, Portugal 3. Gobius Comunicação e Ciência, Av. Infante D. Henrique, 41 1º Esq., 2780-063 Oeiras, Portugal
Floresta marinha
Florestas marinhas _ 5
O que são as florestas marinhas? Os habitats marinhos rochosos de baixa profundidade das regiões temperadas e frias são conspicuamente dominados por algas castanhas gigantes. Estas algas são vulgarmente denominadas por kelp. Outras denominações comuns atribuidas em Portugal, para este tipo de algas são laminárias, limo-correia ou golfe. A elevada produtividade das espécies de kelp, a sua complexidade estrutural e as dimensões que as caracterizam1, tornam-nas muito importantes para outras espécies marinhas, particularmente quando presentes em elevadas densidades, formando as florestas marinhas.
Porque são importantes? As florestas de kelp, juntamente com os recifes de coral e as pradarias de plantas marinhas, são habitats que constituem um bem ambiental, social e económico muito importante. São importantes zonas de proteção, reprodução e alimentação para uma grande diversidade de espécies animais. Peixes e invertebrados de elevado valor comercial são comuns residentes das florestas de kelp. As algas que constituem as florestas de kelp são importantes produtores primários e desempenham um papel ativo na minimização do fenómeno do aquecimento global, uma vez que fixam carbono que pode acumular-se nos sedimentos marinhos, reduzindo a quantidade de CO2 presente na atmosfera. Destas algas são também extraídos produtos como os alginatos utilizados na alimentação, cosmética e indústria. Nos últimos séculos, foram ainda utilizadas como fertilizante de solos, uma atividade outrora muito comum em Portugal e atualmente restrita a algumas zonas do litoral Norte (ex. Afife e Viana do Castelo). 1 O comprimento máximo registado do kelp-gigante Macrocystis pyrifera é de 65 m (inexistente em Portugal)
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Estima-se que os níveis de serviços do ecossistema das florestas de kelp seja na ordem dos biliões de euros anuais para a economia global, dependendo deste ecossistema centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
Onde existem florestas marinhas? As florestas de kelp distribuem-se nos oceânos temperados e frios de todo o mundo. Entre os gêneros mais frequentes, destaca-se o género Laminaria, que se distribui principalmente pelo Oceano Atlântico e na China e Japão. O género Ecklonia distribui-se pela Austrália, Nova Zelândia e África do Sul e o género Macrocystis ocorre no Nordeste e Sudeste do Oceano Pacífico e na Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. A região com mais espécies de kelp é o Pacífico Nordeste, da Califórnia ao Alasca. Conhecem-se cerca de 13 espécies de kelp nas águas europeias, das quais 7 distribuem-se por todo o território de Portugal continental, principalmente, a Norte do Cabo Mondego, sendo uma delas exótica, introduzida na Europa e nativa do Japão (Undaria pinnatifida). Só recentemente foi confirmada a existência de kelp no arquipélago dos Açores. . Distribuição das florestas marinhas a nível mundial
Floresta marinha na zona entre marĂŠs.
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Como se reproduzem? As espécies de algas kelp possuem um ciclo biológico com alternância de gerações, com uma fase muito reduzida, formada por poucas células, só visível ao microscópico (que produz gametas, e por isso denominado gametófito) e com uma fase de grandes dimensões que observamos no meio natural (que produz esporos, e por isso denominado esporófito). Os gâmetas masculinos (espermatozoides) possuem dois flagelos, que lhes permite nadar até aos gâmetas femininos (óvulos), atraídos por uma hormona sexual, e fertilizá-los. O ovo resultante divide-se constantemente, crescendo até formar uma nova alga castanha gigante (esporófito). Algumas espécies, como Saccorhiza polyschides são anuais, enquanto que outras são perenes, podendo viver mais de 20 anos. . Esquema genérico do ciclo biológico de uma alga kelp (adaptado de Simmons, 2005)
. gametófito masculíno
. esporos . gametófito feminino
. esporófito
. fase macroscópica (até 3 m)
. gâmetas
. fertilização do óvulo
. fase microscópica (menos de 1 mm)
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De que necessitam para viver? Para que as espécies de algas kelp se desenvolvam, um conjunto de fatores ambientais são imprescindíveis. Esses incluem a existência de rochas para se fixarem, uma concentração de nutrientes elevada (ex. azoto e fósforo), luz com elevada irradiância e temperatura adequada. As algas kelp dependem diretamente da intensidade solar disponível para realizar a fotossíntese. Por este motivo, a sua distribuição é limitada pela profundidade (até cerca de 30 m no Atlântico Norte e Pacífico Norte e até aos 120 m em condições de elevada penetração de luz, como no Mediterrâneo ou nas ilhas e montes submarinos no meio do Oceano). Por outro lado, a radiação ultra-violeta B pode inibir o crescimento de algas kelp em águas superficiais. Desta forma, quanto mais transparente é uma massa de água, mais profundo será o limite superior e inferior da distribuição de espécies de algas kelp. As espécies de algas kelp necessitam de utilizar os nutrientes disponível na coluna de água para o seu crescimento. No geral, as espécies de kelp tendem a estar associadas a regiões de afloramento costeiro, um processo oceanográfico responsável pelo ressurgimento de água fria e rica em nutrientes, de zonas de elevada profundidade para a camada superficial do oceano. Muitas espécies ocorrem em regiões de fortes correntes marinhas, que possibilitam o fornecimento de nutrientes dissolvidos na água para as lâminas das algas. . Esquema genérico da distribuição vertical de florestas marinhas em função da penetração de luz . água límpida luz a maiores profundidades
. água turva luz a menores profundidades
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A temperatura também é um fator que controla as populações de algas kelp. As diferentes espécies possuem intervalos de tolerância à temperatura bastante concretos que determinam a sua distribuição geográfica. De uma forma geral, as algas kelp ocorrem em águas de temperatura baixas ou moderadas.
Que forma possuem? Embora todas as algas tenham sido consideradas como plantas durante muito tempo, as algas castanhas são evolutivamente muito distantes das plantas. As algas não possuem verdadeiras raízes, caules, folhas e flores. Na sua grande maioria, as espécies de kelp são constituídas por um conjunto de lâminas, um estipe e uma base. As lâminas são estruturas planas, principais responsáveis pela absorção de nutrientes da coluna de água e pela realização da fotossíntese, processo de utilização da luz solar e moléculas simples como o dióxido de carbono e sais minerais, para produção de matéria orgânica. Este processo permite que cresçam, gerando ao mesmo tempo oxigénio e biomassa. O crescimento das espécies de kelp ocorre na base das lâminas, num tecido de células indiferenciadas com capacidade de divisão contínua. As terminações das lâminas são as partes mais velhas e encontram-se frequentemente esfarrapadas.
. Estrutura geral das espécies de algas kelp
Lâmina .
Lâmina .
Ao contrário das plantas com raízes, a base das espécies de Kelp não é responsável pela absorção de nutrientes. Essa é uma estrutura que funciona apenas para fixação da alga aos fundos rochosos.
Estipe . . Base
Estipe . . Base
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O estipe é uma estrutura flexível que suporta as lâminas e que permite aguentar fortes correntes marítimas. Em algumas espécies (ex. Saccorhiza polyschides) o tecido do estipe localizado a poucos centímetros da base expande-se ao longo do crescimento, transformando-se num bolbo que acaba por cobrir a sua base.
. Pormenor da região do estipe de Saccorhiza polyschides (fonte: algaebase.org)
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Floresta marinha Uma floresta marinha da espécie Laminaria hyperborea, ondula com a forte corrente a uma profundidade de cerca de 15 metros. Várias espécies de peixes utilizam-nas como regiões de abrigo e alimentção.
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Organismos que resistem Uma floresta marinha da espécie Laminaria ochroleuca, resiste à força da forte ondulação. As espécies de algas kelp estão preparadas para fazer face à ondulação do mar, bem como à exposição solar do verão.
Floresta marinha na zona entre-marĂŠs.
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Laminaria hyperborea
. Distribuição em Portugal continental
Laminaria hyperborea é uma espécie perene que pode viver até aos 18 anos. Em Portugal, distribui-se até aos 20m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral de regiões expostas a correntes, que vão desde o Rio Minho (Caminha) a Vila do Conde (Porto). O comprimento das lâminas varia com a estação do ano, idade da alga e localização, alcançando os 2 m em alguns casos. Em cada ano a nova lâmina cresce por debaixo da velha (início de novembro), deixando um claro colar entre as duas. O tecido da lâmina velha desaparece totalmente durante a primavera até ao início do verão. As lâminas são castanhas escuras, rígidas e espalmadas, normalmente, divididas em 5 a 20 tiras. A base da planta é formada por um entremeado de pequenos rizóides (hapteros) que resultam num órgão de fixação cónico em plantas adultas. O pé da alga é cilíndrico, de diâmetro maior junto à base, apresentando uma textura rugosa (exceto em plantas muito novas), bastante rígido. O comprimento do pé varia dependendo da localização e profundidade (geralmente maior com a profundidade). Esta espécie é facilmente confundida com Laminaria ochroleuca na costa Portuguesa. Uma característica distinctiva desta espécie é o facto do pé ser fortemente colonizado por outras espécies de algas e pequenos animais (permitindo fazer a distinção com a Laminaria ochroleuca).
Adulto .
. Jovem
Base de Laminaria ochroleuca.
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Laminaria ochroleuca
. Distribuição em Portugal continental
Laminaria ochroleuca é uma espécie de kelp perene. A idade máxima que pode atingir é ainda desconhecida (provavelmente da mesma ordem de grandeza do que a Laminaria hyperborea, isto é, 18 anos). Em Portugal, habita fundos rochosos do infralitoral de zonas abrigadas ou de moderado hidrodinamismo. Distribui-se dos 3 aos 18 m de profundidade (profundidade ótima de crescimento aos 5 m), desde o Rio Minho (Caminha) a Leça da Palmeira (Porto), reaparecendo a Sul, entre o Cabo Raso (Cascais) e o Cabo Espichel (Sesimbra) e na Costa Vicentina (Arrifana, Odemira). É conhecida por formar densas florestas em zonas não costeiras de grande profundidade (mais de 30 m), como a Montana de Camões (Cascais), o Banco Gorringe, e ilhéus Formigas no arquipélago do Açores. O comprimento das lâminas pode alcançar os 2 a 3 m em alguns casos. É uma espécie com elevada semelhança morfológica com Laminaria hyperborea. No entanto, tanto o estipe como a lâmina são mais claros, com um tom amarelado. Uma da principais características que permite distinguir esta espécie é o facto do pé da alga ser suave e, normalmente, limpo de colonização por outras algas ou pequenos animais. O pé cilindrico e a ausência de um bolbo são características distintivas em relação à espécie Saccorhiza polyschides.
Adulto .
. Jovem
Estipe e bolbo de Saccorhiza polyschides.
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Saccorhiza polyschides Saccorhiza polyschides é uma espécie anual, aparecendo na primavera e, geralmente, só sendo visível até finais de setembro. Em Portugal, distribui-se até aos 19 m de profundidade sobre fundos rochosos desde o Rio Minho (Caminha) a Aveiro, reaparecendo mais a Sul na região do Cabo Mondego (Figueira da foz), entre Peniche e a Ericeira, entre o Cabo Raso (Cascais) e o Cabo Espichel (Sesimbra) e na região do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, entre o Cabo Sardão (Almograve) e a Carrapateira (Vila do Bispo). As lâminas variam de comprimento com a idade, a profundidade e a localização, alcançando os 3m de comprimento em condições óptimas. A lâmina é castanha escura, larga, espalmada e dividida em 3-30 tiras ou fitas. A parte terminal da lâmina apresenta-se esfarrapada no final da estação de crescimento (final do verão). A base é, inicialmente, formada por pequenos rizóides (hapteros) que ficam cobertos pelo crescimento de um bolbo formado pela expansão de tecido, inicialmente, localizado a poucos centímetros da base. O bolbo pode ter até 30 cm de diâmetro. O pé é espalmado e retorcido na parte mais basal, muito resistente mas flexível. A forma do pé e a existência do bolbo são as características distintivas mais evidentes entre esta espécie e L. ochroleuca. Em estados juvenis as semelhanças são maiores entres as duas, contudo, podem diferenciar-se porque S. polyschides tem a alguns centímetros da base um anel saliente que irá formar o bolbo.
Adulto .
. Jovem
Saccharina latissima arrojada sobre areia.
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Saccharina latissima Saccharina latissima é uma espécie perene, pode viver de 2 a 4 anos e, em Portugal, coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada da região de Viana do Castelo. É muito comum na praia Amorosa, na zona a descoberto nas marés mais baixas. A sua distribuição em profundidade, em Portugal, não é ainda conhecida, no entanto, sabe-se que em outras regiões pode ser avistada até aos 30 m de profundidade. O comprimento das lâminas varia com a idade da alga e localização, normalmente, variando de 30 cm a 1,5 m em Portugal. É uma espécie que, em condiões óptimas, pode atingir os 3 m de comprimento. Esta estrutura pode apresentar de 10 a 50 cm de largura, e as algas de maiores dimensões podem apresentar margens onduladas. Durante o inverno perde a sua lâmina, retomando o seu crescimento até ao fim da primavera. No final do verão a lâmina apresenta-se degradada nas suas extremidades. Regra geral, esta espécie possui uma coloração castanho esverdeado, com a forma de uma banda única contínua. Possui uma zona de tecido mais espesso que confere rigidez à lâmina, ao longo da sua região central. O seu tecido pode ser mais suave ou rígido ao toque dependendo das condições do local, sendo, contudo, a lâmina na sua totalidade muito flexível. A base é, geralmente, compacta, com rizóides (hapteros) curtos e o pé é flexível e, normalmente, curto.
Adulto .
. Jovem
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Undaria pinnatifida Undaria pinnatifida é uma espécie anual, nativa do Japão que invadiu muitos dos mares e oceanos, desde a Europa até à Nova Zelândia. Foi recentemente detetada na região do Porto (2008) e do Cabo Mondego (2010). É uma espécie oportunista, de rápido crescimento, com a habilidade de colonizar ambientes perturbados que pode atingir 1,5 m de comprimento e tornar-se muito abundante. Por ser uma espécie não nativa, poderá alterar o equilíbrio das comunidades marinhas. Coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada pouco profundos, em zonas de baixo hidrodinamismo, dos 2 aos 20 m de profundidade. Em regiões protegidas da ondulação dominante pode formar comunidades bastante densas. A lâmina é larga e recortada, afunilando nas extremidades. Possui uma nervura central individualizada em todas as idades. O seu estipe é achatado e possui ondulações (semelhantes a Saccorhiza polyschides), mas nunca é helicoidal na base. Os indivíduos jovens apresentam uma lâmina pouco recortada, alterando-se esta característica gradualmente, estipe proporcionalmente mais longo.
Adulto .
. Jovem
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Phyllariopsis brevipes Phyllariopsis brevipes é uma espécie anual, que se distribui até aos 21 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral, na região de Perafita (Porto) e mais a Sul, entre Peniche e a ilha do Farol (Faro). Regra geral, atinge os 50 cm de comprimento, no entanto, em condições ótimas pode atingir 2 m. A lâmina é larga e oval, podendo rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades. Apresenta soros durante o verão, uma mancha escura na região basal da lâmina, onde se libertam os esporos. A sua textura é mais ou menos irregular com pontuações. Os indivíduos jovens são semelhantes aos adultos mas sem soros na lâmina, sendo esta mais clara. O estipe é bastante curto e fino (cerca de 3mm).
Phyllariopsis brevipes var. purpurascens A variedade purpurascens distribui-se dos 7 aos 10 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral, desde os Farilhões (Peniche) à praia da Ingrina (Vila do Bispo). É facilmente identificada através da localização da mancha de soros. Nesta, a sua localização não é imediatamente a seguir ao estipe como na espécie Phyllariopsis brevipes. Tal como Phyllariopsis brevipes a sua lâmina é larga e oval, pode rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades e atinge, regra geral, os 50 cm de comprimento.
Adulto .
. Jovem
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Phyllariopsis purpurascens Phyllariopsis purpurascens é uma espécie anual, de águas temperadas, que se distribui até aos 22 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral desde os Farilhões (Peniche) à praia da Ingrina (Vila do Bispo). É uma espécie que pode atingir os 1,5 m de comprimento. A lâmina é larga e em forma de lança, podendo rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades, principalmente, em zonas de elevado hidrodinamismo. Apresenta soros durante o verão, sob a forma de uma mancha escura na região basal (produzidos na parte inferior da lâmina, nunca atingindo o seu bordo), os quais possuem uma função reprodutora. A sua textura é mais ou menos irregular com pontuações. Os indivíduos jovens são semelhantes aos adultos mas sem soros na lâmina. Nesse caso, a lâmina apresenta-se, regra geral, de cor amarelada. A base é constituída por um disco simples com rizóides curtos. O pé é, no geral, maior que o dos indivíduos de Phyllariopsis brevipes, podendo atingir os 12 cm de comprimento. São espécies de maior profundidade podendo ser confundidas com os estados juvenis de S. polyschides, sendo o anel na base do pé desta última a característica distintiva neste caso.
Adulto .
. Jovem
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Como se estudam as florestas marinhas? O conhecimento da sua distribuição das florestas marinhas, ao longo das regiões costeiras e em profundidade, é fundamental para compreender o estado das populações e para a sua conservação. Vários grupos de investigação de Portugal têm trabalhado na monitorização periódica das populações de algas kelp, de modo a conhecer a sua distribuição e o seu estado de conservação. Para além disso, promovem o estudo da dinâmica e genética destas populações, da sua ecologia, bem como das espécies que delas dependem.
. Robô submarino em busca de florestas de Kelp, Formigas, Portugal
Biólogos ascendem à superfície após monitorização em mergulho de florestas marinhas.
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O projecto findkelp! Findkelp é uma iniciativa do CCMAR-CIMAR, da Universidade do Algarve, desenvolvida com a empresa Gobius Comunicação e Ciência, que se iniciou em março de 2008. É um projeto que recorre à integração de diversos técnicos e ferramentas científicas com o objetivo final de conhecer o estado das florestas marinhas de Portugal, bem como divulgar a sua importância junto das comunidades costeiras utilizando o binómio conhecer para proteger. Até à data foram conduzidos trabalhos que recorreram a ferramentas de participação comunitária e metodologias de validação estatística. Através de sessões públicas e oficinas de capacitação, formaram-se cerca de 200 voluntários mergulhadores que aportaram resultados inéditos e extremamente úteis sobre a distribuição atual de 6 espécies de kelp dos 0 aos 42 metros de profundidade, em todo o território de Portugal continental, incluindo os montes submarinos Gorringe e Montanha de Camões. Através de questionários efetuados a utilizadores da zona costeira, foi também possível obter informação sobre a distribuição das espécies de kelp para décadas transatas. Essa ação permitiu documentar uma regressão de distribuição de kelp, principalmente a Sul do Cabo do Mondego. Essa informação é o ponto de partida para que agora se monitorizem as regiões onde a regressão foi mais intensa, se comparem séries de dados temporais e sejam identificados os factores físicos, oceanográficos, climatéricos e antropogénicos responsáveis por essa alteração. Para além dos dados de distribuição, foram obtidos dados muito concretos sobre os habitats que são utilizados por cada uma das espécies de algas kelp. Esta informação é crucial para a sua proteção, por permitir informar os intervenientes sobre as áreas mais importantes para a continuidade de cada uma das espécies. Com a informação recolhida sobre as florestas marinhas de Portugal iniciaram-se vários trabalhos para melhor compreender a biologia destas espécies e as suas relações de dependência com espécies de valor comercial. Saiba mais e faça-se voluntário em www.findkelp.org.
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As florestas de marinhas dos Açores. O primeiro registo de espécies de algas kelp nos Açores data de 1971, quando a missão francesa Biaçores detectou a existência destas algas no Banco das Formigas, situado no extremo leste deste arquipélago. Dez anos mais tarde, a expedição holandesa CANCAP-V passou novamente pela zona, confirmando por dragagem a existência deste tipo de comunidades a 45 m de profundidade no lado leste dos Ilhéus das Formigas. Em 1990 e 1991, o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores recolheu alguns exemplares na mesma área, através de mergulhos profundos que serviram para confirmar a identificação da espécie. Desde 2002, as missões Bancos, promovidas pelo Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, iniciaram um levantamento das áreas efetivamente colonizadas por este tipo de algas no Banco das Formigas e estenderam a prospecção da espécie a outras áreas do arquipélago com características similares. Dado que a ocorrência de Laminaria ochroleuca nos Açores está concentrada a profundidades para além dos limites de segurança do mergulho em apneia ou com escafandro autónomo de ar comprimido, as prospecções efetuadas neste arquipélago exigiram tecnologias mais avançadas. Neste caso particular, o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores recorreu a pequenos veículos submersíveis de comando à distância e a uma câmara de vídeo suspensa. Os veículos submersíveis foram usados, essencialmente, para prospectar locais restritos onde se pretendeu inventariar com algum detalhe as espécies conspícuas associadas a estas florestas marinhas. A câmara suspensa, por seu lado, foi utilizada na delimitação geográfica e batimétrica das zonas colonizadas por laminárias, tendo sido utilizada para determinar a presença e abundância destas algas ao longo de trajetos aproximadamente lineares que chegaram a atingir mais de 1 km de comprimento. Dada a escassa informação disponível sobre os tipos de fundo ou a localização das florestas marinhas no planeamento da amostragem sobre o Banco das Formigas, combinaram-se levantamentos dispersos aleatoriamente sobre os diferentes sectores da coroa do banco com outros dirigidos a zonas de declive mais acentuado, onde a probabilidade de encontrar substratos rochosos adequados para o desenvolvimento de macroalgas era mais elevada.
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Os locais de ocorrência da espécie nos Açores parece confirmar a associação da espécie a condições oceanográficas caracterizadas por hidrodinamismo intenso e afloramento de águas frias e ricas em nutrientes. Até ao momento, a presença destas algas está confirmada no Banco das Formigas, situado entre São Miguel e Santa Maria, e na Baixa da Serreta, junto à ilha Terceira. No primeiro local, onde se identificaram os povoamentos mais exuberantes de laminárias dos Açores, estas algas dominam superfícies de rocha vulcânica de baixo e médio pendor entre os 43 m e os 79 m de profundidade. A sua ocorrência a tais profundidades só é possível devido à reduzida turbidez das águas oceânicas que banham os Açores, permitindo uma maior penetração da radiação solar na coluna de água, permitindo a fotossíntese até maiores profundidades. Nas zonas de maior densidade de espécies de algas kelp foram registados vários pés por metro quadrado, o que se pode considerar como uma densa floresta face aos povoamentos algais que caracterizam a generalidade dos fundos dos Açores.
Os estipes dos maiores exemplares não ultrapassam cerca de 1 m de comprimento, mas as longas lâminas que deles partem chegam a dar a cada planta comprimentos totais de 2,5 a 3 metros. Os peixes mais frequentemente nas florestas marinhas dos Açores são peixes-rei (Coris julis) e garoupas (Serranus atricauda), tendo-se ainda registado no estudo efetuado a presença de canário-do-mar (Anthias anthias), bodião-verde (Centrolabrus caeruleus), peixegalo (Zeus faber) e sopapo (Sphoeroides marmoratus). Imagem de Laminaria ochroleuca obtida por rôbo Saiba mais em www.horta.uac.pt
Florestas marinhas é uma publicação que surge no âmbito do projeto Findkelp (www.findkelp.org). Um documento que pretende comunicar a importância das florestas de algas kelp. É também uma homenagem aos voluntários que têm vindo a contribuir para o conhecimento do estado de conservação das florestas marinhas de Portugal.
ISBN 978-989-97260-0-0
9 789899 726000
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