PORTO ALEGRE
ARQUITETURA MODERNA em Universidade Feevale Curso de Arquitetura e Urbanismo Teoria e Historia da Arquitetura e Urbanismo IV - Prof. Bruno Cesar de Mello - 2012/01 Acadêmico: Jorge Luís Stocker Jr.
ARQUITETURA MODERNA EM PORTO ALEGRE
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entro da disciplina de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo IV, ministrada pelo prof. Bruno Cesar Euphrasio de Mello, foi proposta uma visita ao meio urbano da capital gaúcha, para que conhecessemos pessoalmente algumas obras importantes do modernismo em Porto Alegre. Conhecia de antemão algumas realizações dos arquitetos modernos em Porto Alegre: nasci ali e sou apaixonado por esta cidade, motivo pelo qual já percorri a pé muitas de suas ruas, praças e parques. Mas um olhar mais atento sempre revela detalhes interessantes que passariam despercebidos. E com esta certeza participei da caminhada orientada pelo Prof. Bruno, promovida na tarde congelante do dia 16 de junho de 2012. É sempre um prazer voltar para um lugar conhecido e com o qual nos sentimos, de alguma forma, relacionados. Assim, podemos conhecer novos detalhes que passaram despercebidos.
Edifício Sulacap (1938) e paisagem da Av. Borges de Medeiros (croqui).
INTRODUCAO
Foi um prazer, portanto, a oportunidade de percorrer as ruas de Porto Alegre com o olhar voltado para este período da nossa arquitetura. Uma excelente oportunidade de enxergar com outros olhos aqueles recantos tão conhecidos.
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ARQUITETURA MODERNA EM PORTO ALEGRE
fonte: Mapeamento sobre software Google Earth
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CAMINHO PERCORRIDO
artimos da frente do chalé da praça XV, junto ao Largo Glênio Peres. As marcações em amarelo demonstram a localização dos prédios modernistas visitados.
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Fig. 01: Ed. Guaspari. Projeto: Fernando Corona.
Fig. 02: Ed. Comendador Azevedo. Projeto: Arq. Guido Trein e Fernando A. de Moura
visita teve como ponto de partida o Chalé da Praça XV de Novembro. Dali, logo em seguida avistamos o Edifício Guaspari (1936) (figura 01). Vejo este edifício como um marco da introdução da linguagem moderna na cidade de Porto Alegre: apesar de tirar partido da linguagem Art Déco, o faz de forma volumétrica e não apenas como decorativismo geometrizado na fachada. Desta forma, em área central da cidade, conseguiu implantar «ares» modernizantes que devem ter mexido com o imaginário de uma época. Hoje infelizmente o Ed. Guaspari encontra-se «blindado» por placas metálicas, embora protegido como bem do tipo estruturação pelo inventário do município. De qualquer forma, continua desempenhando com eficiência o papel de transição entre a escala mais baixa do Mercado e Prefeitura, e a escala mais alta do «cânion» de edifícios da Borges de Medeiros, configurando um espaço urbano de qualidade única no centro da cidade. Em seguida, visualizamos o Edifício Comendador Azevedo (1951) (figura 02). A volumetria pura, ainda que muito vinculada a uma conformação urbana tradicional, chama atenção neste edifício que traz como característica marcante o balanço sobre a esquina chanfrada do térreo. A aplicação de janelas em fita ainda era provavelmente bastante modesta na cidade quando da construção deste edifício, tratando-se de uma solução nitidamente vinculada ao movimento moderno. Em seguida, estivemos em frente ao Edifício-Sede da Montab (1976) (figura 03). Este destaca-se pela liberdade formal praticada pelo arquiteto.
O formato elipsóide em planta é compensado por uma estrutura bastante regular. A solução parece adequada ao programa de edifício comercial, que pode ser dividido internamente conforme as necessidades de cada empresa ali instalada. Desta forma, libera-se a fachada para as janelas em fita, que destacam-se como grandes rasgos no volume curvo. Todo volume passa uma impressão de flutuar, devido a encontrar-se praticamente «em balanço» apoiado sobre a grande estrutura de concreto armado. Igual destaque tem a torre onde ocorre a circulação vertical, ornamentada com uma escultura metálica belíssima de autoria de Carlos Tenius.
Fig. 03: Ed. Sede do Montab (croqui) Projeto: Arq. Roque Fiori.
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Fig. 04: Tribunal de Contas da União. Projeto: Arq. Jayme Lompa, ampliado pelo Arq. Emil Bered
Fig. 05: Ed. Presidente Antônio Carlos. Projeto: Arq. Edgar Graeff
O próximo edifício visitado foi o Tribunal de Contas da União (1956) (figura 04). A quantidade de ampliações que o prédio já sofreu certamente prejudica a leitura do projeto original, mas embora um pouco banalizado, o traço discreto e cuidadoso sobrevive, e pode ser encontrado com um olhar mais atento. Em seguida, foi interessante verificar pessoalmente o Edifício Presidente Antônio Carlos (1952) (figura 05), tendo em frente a planta baixa esquemática dos pavimentos-tipo. A solução espacial e volumétrica moderna ficou submetida a esbeltez do lote, fruto de uma divisão fundiária ainda muito ligada ao passado colonial. Ainda assim a solução encontrada é muito adequada, chamando a atenção a aplicação da chamada «janela ideal» como esquadria dos dormitórios. O Palácio da Justiça (1952) (Fig. 06), com sua imponência e inteligente aplicação dos pontos da arquitetura moderna corbuseana, merece certamente integrar o rol de obras mais relevantes do nosso modernismo. A elegância do volume puro suspenso sob pilotis é ímpar, bem como o fato de ter se atingido o caráter solene que uma edificação deste porte pedia apesar da utilização de formas simples. Uma recente restauração coordenada por um dos arquitetos projetistas fez, finalmente, justiça ao Palácio, dotando-o da estátua em seu pano cego, dos brise-soleil e ainda de outros elementos previstos no projeto original e até então jamais executados. Por este motivo, o Palácio da Justiça dá margem a uma série de problematizações interessantes a respeito da arquitetura moderna como patrimônio cultural, do valor do projeto original em relação ao contruído e mesmo, da peculiaridade de restaurar um monumento moderno frente aos conceitos regularmente aplicados na retauração da arquitetura vernacular e Beaux-Arts.
Fig. 06: Palácio da Justiça (croqui) Projeto: Arqs. Carlos Fayet e Luís F. Corona
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ARQUITETURA MODERNA EM PORTO ALEGRE Ainda no entorno do Palácio da Justiça (fig. 07), verificou-se o Edifício Faial (1962) (figura 08), situado numa esquina. A diferente solução de fenestração de acordo com o ambiente contido parece um dos principais méritos do projeto. Chama atenção ainda o corpo da escadaria helicoidal, disposto em separado do bloco principal de forma semelhante a solução encontrada pelo Arq. Lúcio Costa nos prédios do Parque Guinle. A diferença é que neste exemplar porto-alegrense o arquiteto opta pelo fechamento mais opaco. O uso dos cobogós também remete ao mesmo projeto. Fig. 07: Palácio da Justiça Projeto: Arqs. Carlos Fayet e Luís F. Corona (estátua de autoria do Arq. Fayet)
Fig. 08: Edifício Faial Projeto: Arq. Emil Bered
A visita foi finalizada na Av. Salgado Filho, onde verificamos o Edifício Jaguaribe (1951) (figura 09). Chama atenção o cuidadoso jogo de planos verticais e horizontais da fachada. O contraste entre formas, cores e luz e sombras é de qualidade ímpar, caracterizando este exemplar como um grande expoente da arquitetura moderna gaúcha, principalmente no que tange ao programa residencial. A própria Avenida Salgado Filho, com seu canteiro central arborizado e com o conjunto de prédios de qualidade (entre os quais, o Edifício Sede da CRT (1964) (Fig. 10) ), exemplifica uma visão de urbanismo moderno, ou melhor, o «moderno possível» dentro de um contexto fundiário tradicional da cidade de Porto Alegre. Na própria visita pudemos perceber o quanto este aspecto está degradado em função da publicidade excessiva e, principalmente, da adoção da rua como grande «terminal rodoviário». Resta descontextualizado um local importante da cidade, onde a vivência do espaço deveria ser uma constante, e não a mera espera de transporte coletivo.
F i g . 0 9 : E d i f í c i o J a g u a r i b e Projeto: Arqs. Fernando Corona e Luís F. Corona
Fig. 10:Edifício CRT (1964) Projeto: Arqs. Luís F. Corona, Emil Bered e R o b e r t o V e r o n e s e
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Teatro São Pedro e o Palácio da Justiça (1953): Contrastes entre duas linguagens arquitetônicas.
passeio orientado pela arquitetura modernista de Porto Alegre mostrou-se muito importante para que tomar conhecimento de forma mais aprofundada das realizações deste movimento arquitetônico na capital do Estado. Foi essencial a visualização das plantas baixas contidas na apostila, para qualificar a fruição dos edifícios: além de analisar o aspecto exterior e a solução formal, foi possível contextualizar estas decisões dentro da realidade de cada projeto, entendendo seu funcionamento. Além dos edifícios modernistas, aproveitou-se a visita para vivenciar uma série de espacialidades interessantes no centro, contemplando o Paço Municipal, o eixo da Av. Sepúlveda na Praça da Alfândega, o Cais do Porto, a Igreja das Dores, entre outros. Desta forma, foi possível concluir que a riqueza e o encanto de Porto Alegre está justamente nestes contrastes. A peculiaridade está na qualidade dos exemplares existentes, qualificando a relação entre arquiteturas de diferentes épocas. Cada qual traduz diferentes visões de arte e mesmo modos de viver, morar e trabalhar, enriquecendo a paisagem urbana de Porto Alegre .
CONCLUSAO
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