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A investigação do grande júri

CAPÍTULO XVII A INVESTIGAÇÃO DO GRANDE JÚRI

Logo depois de me despedir do Asilo de Insanos da Ilha de Blackwell, fui convocada a comparecer perante o grande Júri. Atendi à convocação com prazer, porque desejava ajudar às filhas mais infelizes de Deus que deixara para trás como prisioneiras. Se eu não pudesse trazer-lhes a maior dádiva de todas, a liberdade, esperava que pelo menos pudesse influenciar os outros para tornar a vida delas mais suportável. Descobri que os jurados eram cavalheiros, e que não precisava tremer diante daquelas augustas presenças.

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Eu jurei que minha história era “somente a verdade, nada mais que a verdade” e, em seguida relatei tudo — do Lar Temporário até a liberdade. O procurador adjunto Vernon M. Davis conduziu a investigação. Os jurados então requisitaram que eu os acompanhasse numa visita à Ilha, o que aceitei com satisfação.

Esperava-se que ninguém ficasse sabendo da nossa viagem à ilha, mas pouco depois de lá chegarmos veio ter conosco um dos comissários de caridade e o doutor MacDonald, da ilha Ward.7

Um dos jurados contou-me que, em conversa com um homem acerca da instituição, soube que eles foram alertados sobre a nossa chegada uma hora antes de desembarcarmos na ilha. Isso deve ter acontecido enquanto o júri examinava o pavilhão de loucos de Bellevue.

Aquela viagem para a ilha foi bastante diferente da minha primeira. Desta vez viajamos num barco limpo, enquanto o que eu havia utilizado antes, segundo disseram, estava em reparos.

Algumas enfermeiras foram examinadas pelo júri e fizeram declarações contraditórias entre si, assim como contradisseram minha história. Confessaram que a visita realizada pelo júri havia sido discutida entre elas e o médico. O doutor Dent declarou que não tinha meios de confirmar se o banho era frio e a quantidade de mulheres colocadas na mesma água; e também que sabia que a comida não era o que deveria ser, mas que era devido à falta de recursos.

Sobre as enfermeiras serem cruéis com seus pacientes, ele teria algum meio de assegurar isso? Não, ele não tinha. Ele disse que nem todos os

7 Na ilha Ward, próxima à ilha de Blackwell (atual ilha Roosevelt), ficava o manicômio da cidade de Nova York, subordinado ao da Ilha de Blackwell.

médicos eram competentes, o que também se devia à falta de meios para garantir bons médicos. Em conversa comigo, ele disse: “Fico feliz que tenha feito isso agora e, se soubesse o seu propósito, teria a ajudado. Não temos meios de saber como as coisas vão indo, a não ser da maneira que fez. Desde que sua história foi publicada, encontrei uma enfermeira no Albergue que colocava pacientes para vigiar nossa chegada, exatamente como você afirmou. Ela foi demitida.”

A senhorita Anne Neville foi trazida ao nosso encontro, e eu fui à ala para encontrá-la, sabendo que a visão de tantos cavalheiros estranhos a excitaria, mesmo que ela fosse sã. Era como eu temia. As atendentes disseram que ela seria examinada por vários homens e ela estava tremendo de medo. Embora eu a tivesse deixado apenas duas semanas antes, ela parecia ter sofrido de uma doença grave naquele intervalo, tão alterada era sua aparência. Perguntei se ela havia tomado algum remédio e ela respondeu afirmativamente. Então eu disse a ela que tudo o que precisava fazer era contar ao júri o que havíamos feito desde que fui levada com ela para o asilo, para que ficassem convencidos de que eu era sã. Ela só me conhecia como senhorita Nellie Brown, e ignorava totalmente minha história.

Não lhe pediram que jurasse, mas seu relato deve ter convencido todos os ouvintes sobre a verdade de minhas declarações.

“Quando a senhorita Brown e eu fomos trazidas para cá, as enfermeiras eram cruéis e a comida era ruim demais para ser ingerida. Não tínhamos roupas suficientes e a senhorita Brown pedia por mais o tempo todo. Eu a achei muito gentil, pois quando um médico prometeu a ela algumas roupas, ela disse que daria para mim. É estranho dizer que, desde que a senhorita Brown foi embora, tudo ficou diferente. As enfermeiras estão muito gentis e temos muito o que vestir. Os médicos vêm nos ver com frequência e a comida foi muito melhorada.”

Será que precisávamos de mais evidências?

Os jurados, em seguida, visitaram a cozinha. Estava muito limpa, e duas barras de sal estava posicionadas ostensivamente logo perto da porta. O pão em exibição era lindamente branco e totalmente diferente do que nos era dado para comer.

Encontramos os salões em perfeita ordem. As camas estavam com o melhor aspecto em semanas e, na Ala 7, os baldes em que éramos obrigadas a nos lavar foram substituídos por bacias novas e brilhantes.

A instituição estava exposta e não foi encontrada nenhuma falha.

Mas as mulheres de quem eu havia falado, onde estavam? Nenhuma foi encontrada onde eu as havia deixado. Se minhas afirmações não eram verdadeiras em relação a essas pacientes, por que elas foram transferidas, para me impedir de encontrá-las? A senhorita Neville reclamou diante do júri de

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ser transferida várias vezes. Quando visitamos a ala mais tarde, ela voltou ao seu antigo local.

Mary Hughes, de quem eu havia falado como aparentemente sã, não foi encontrada. Alguns parentes a haviam levado embora. Para onde, eles não sabiam dizer. Quanto à mulher clara de quem falei, que foi enviada para cá por ser pobre, disseram que foi transferida para outra ilha. Eles negaram conhecer a mulher mexicana e disseram que nunca houve uma paciente assim. A senhora Cotter recebeu alta, e Bridget McGuinness e Rebecca Farron foram transferidas para outros alojamentos. A garota alemã, Margaret, não foi encontrada, e Louise foi enviada para outro lugar da Ala 6. Sobre a francesa Josephine, uma grande e saudável mulher, disseram estar morrendo de paralisia, e que não poderíamos vê-la. Se eu estava errada no meu julgamento da sanidade dessas pacientes, para que eu teria passado por tudo isso? Quando vi Tillie Mayard, ela havia mudado tanto para pior que estremeci quando a avistei.

Eu não esperava que o grande júri me apoiasse depois de ter visto tanta coisa diferente do que eu havia relatado durante minha passagem. No entanto os jurados ficaram do meu lado, e o relatório deles ao tribunal recomendou que fossem executadas todas as mudanças que eu propus.

Tenho um consolo pelo meu trabalho: com base na força da minha história, o comitê de orçamento atribuiu um milhão de dólares a mais em benefício dos insanos.

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