A ajuda que chega tarde Falta de planejamento atrasa a reconstrução após a enchente.
Entenda a conta de luz Infográfico desvenda as taxas que deixam a conta de energia elétrica mais pesada.
O caminho dos hortifrúti Saiba de onde vêm os vegetais que você consome.
Editorial: O jornal Matiz está passando por mudanças e continuará se transformando. Assim como todo periódico jornalístico está sujeito a adaptações para continuar cumprindo seu papel informativo, não poderia ser diferente com uma publicação-laboratório. Criado com o objetivo de ser um espaço experimental de produção jornalística para as disciplinas Agência de Notícias I e Agência de Notícias II, o periódico ultrapassou as barreiras laboratoriais e desenvolveu identidade própria, galgando espaço de visibilidade junto a outros segmentos informativos. Nesta edição o Matiz passa a ser o periódico experimental da Plataforma de Notícias i4, tornando-se laboratório para os estagiários da AgExJor - Agência Experimental de Jornalismo, do Curso de Jornalismo da Unipampa. Por se tratar de uma publicação na qual os acadêmicos produzem material jornalístico sob a tutela de um orientador, acreditamos que seja um profícuo espaço de aprendizado e experimentação das práticas de reportagem, tão comuns ao universo dos fazeres noticiosos. Nossa matéria-prima é a realidade, nossa ferramenta a boa prática jornalística e nosso produto a reportagem. Por ter periodicidade mensal, o Matiz terá a factualidade como pauta, mas não se aterá somente a ela, abrirá espaço para a interpretação e a experimentação de linguagem. Os estagiários serão instigados a produzir textos com caráter autoral mas a partir de um viés inquiridor e perscrutador da realidade. Nosso compromisso não é com o furo jornalístico, mas sim com a contextualização dos fatos para o leitor, por isso os textos são mais extensos, densos e ilustrativos. Além de mudanças nos aspectos editoriais, o projeto gráfico também está passando por tranformações. O Matiz torna-se, assim, um campo de estudo da estética, usando ferramentas tecnológicas que permitem o desenvolvimento de layouts diferenciados. A proposta é inovar também no formato da publicação. Nesta edição trazemos duas reportagens e um infográfico explicativo. A reportagem de capa mostra os entraves burocráticos da máquina pública no processo de reconstrução das residências atingidas pela enchente na cidade, evidenciando que o planejamento ainda é o elemento essencial em tempos de crise. A outra reportagem aborda um assunto mais leve - mas não menos
importante: questiona e mostra de onde vêm os alimentos consumidos pelos são-borjenses. O infográfico explicativo sobre a tarifa de energia elétrica é o primeiro de uma série que tem por finalidade elucidar as diferentes taxas incluídas nas prestações de serviços básicos, que nem sempre conhecemos, mas somos obrigados a pagar. O infográfico inaugura a seção de serviços do Matiz, voltada para informar de modo objetivo e lúdico os consumidores acerca de detalhes que nem sempre são aparentes ou compreensíveis. Agradecemos aos idealizadores do periódico, acadêmicos que já estão em vias de concluir ou já concluíram o Curso de Jornalismo e que aceitaram o desafio de erigir uma publicação de qualidade como o Matiz. Planejar um produto jornalístico não é tarefa fácil, exige um certo nível de conhecimento, muita dedicação, e, acima de tudo a tríade “fé, força e foco”. Eis o novo (e mutante) Matiz. Esperamos aprofundar assuntos do cotidiano, apresentando os fatos a partir de diferenciados, pertinentes e críticos pontos-de-vista. Continuamos tendo a ética como princípio e o bom senso como guia, pois nosso objetivo é informar com qualidade a população são-borjense. Uma boa leitura a todos! Profa. Joseline Pippi Editora Geral
Expediente: Ano II / Edição 09 / Setembro de 2014. Matiz é o jornal-laboratório da Agência i4. Coordenação e Edição Geral: Profa. Dra. Joseline Pippi (MTb) 12.164. Reportagem e diagramação: Bianca Garcia, Jeferson Balbueno, Léslie Bernicker e Marcus Sadok. Colaboradores desta edição: Fábio Giacomelli e Vagner Correa. Periodicidade: mensal Edição flip disponível nos seguintes sites: Agência i4: < http://200.132.142.12/site/> Plataforma ISSUU: <http://issuu.com> Foto de capa: Fábio Giacomelli
O Cais do Porto, espaço turístico mais conhecido de São Borja, ficou embaixo d’água.
Reconstrução ainda é promessa Por Marcus Sadok//Fotos de Fábio Giacomelli A maior enchente dos últimos 40 anos em São Borja desabrigou mais de duas mil pessoas em julho deste ano, levando o poder público municipal a decretar estado de emergência e entrar na fila para receber auxílio federal. Mais uma vez a agilidade das instâncias governamentais é colocada em xeque frente à (in)consistência dos planos de reconstrução e auxílio aos cidadãos atingidos pela cheia do rio Uruguai. O porto da cidade foi totalmente inundado, com o nível do rio atingindo a marca dos 14 metros, levando consigo tudo o que havia pela frente. Moradias ficaram sob a água, lavouras foram destruídas e até animais foram levados pela força da correnteza. Resultado: um prejuízo estimado
em 20 milhões de reais. Mais uma vez os atingidos pela cheia ficaram à mercê do auxílio governamental para a reconstrução de suas casas. Após parte da fronteira oeste do Rio Grande do Sul ser invadida pelas águas do rio Uruguai (Uruguaiana e Itaqui também foram atingidas) o governo federal anunciou auxílio para as famílias reconstruírem suas moradias, recurso que começou a ser liberado somente 40 dias depois de o rio atingir sua cheia histórica. Dos 40 milhões de reais oferecidos em Uruguaiana pela presidente Dilma Roussef em julho passado, apenas 11 milhões foram liberados. Para São Borja foi destinado cerca de um milhão de reais – valor muito abaixo do orçado pela Defesa Civil do município para a reconstrução dos locais atingidos.
Outro entrave no processo de reconstrução é o caminho percorrido pelo dinheiro até chegar aos desabrigados. Alessandra Maciel Rodrigues, uma dona de casa de 41 anos, além de perder a casa, teve quase todos os móveis comprometidos. De acordo com Alessandra, a prefeitura prestou assistência nos primeiros momentos, mas nada relacionado à reconstrução de sua moradia. Desde então, a dona de casa está à espera da ajuda que viria do governo federal. “O prejuízo foi total. Não obtive nenhum auxilio financeiro”, conta. Se faltou planejamento para evitar que as famílias fossem atingidas ou mesmo avisar a população ribeirinha sobre a iminência da enchente, a atuação das instâncias governamentais (nos três níveis) também vem sendo alvo de críticas quanto à agilidade em resolver a situação. As casas volantes que foram prometidas ainda não chegaram até a população atingida, assim como o aluguel social e os kits de higiene e cestas básicas. A Defesa Civil do Município, através do Secretário de Segurança Pública e Trânsito, Élcio Carvalho, rebateu as críticas. Segundo Élcio, a burocracia e morosidade do processo de reconstrução após situações de emergência ocorre por diversos fatores. Um dos principais entraves, segundo ele, são as barreiras impostas pelo Tribunal de Contas e também pelo Ministério Público para a liberação do dinheiro. Isso se justifica, por conta da especulação do mau uso do dinheiro público: “Nós não temos problema nenhum que venha um conselheiro do Tribunal de Contas, seja do estado ou da União, acompanhar os gastos. O que não pode acontecer é o que está acontecendo agora: demora na distribuição de verbas”, argumenta. Um dos problemas mais antigos que ressurgem quanto há enchente é a inexistência de monitoramento do rio em São Borja. Segundo Élcio, em época de cheia o acompanhamento é realizado através do serviço de monitoramento da Prefeitura naval Argentina, que através de postos de observação, atualizam em tempo real as informações sobre o estado do rio. “Quando começou a enxurrada acompanhamos as cidades Argentinas, tudo via internet e fizemos uma projeção para a nossa realidade. Não há nada de científico, é empírico mesmo”, explica o secretário. No país inexiste um serviço de medição dos níveis fluviais do rio Uruguai que emita alerta quando houver possibilidade de enchente. O acompanhamento é realizado a partir do método observacional: subiu o nível do rio nas cidades rio acima, em algumas horas o repique atinge São Borja. “Quando parou de subir em Garruchos levou 24 horas para parar de subir aqui”, enfatiza Él-
As vias de acesso próximas ao Porto foram inundadas pelas águas do rio. cio em relação ao processo de vazão das águas. O governo do estado tem planos de investir cerca de 50 milhões na aquisição de equipamentos de monitoramento das águas do Uruguai, mas a tecnologia já tem destino certo: Itaqui e Uruguaiana. Para São Borja, pouco resolverá, tendo em vista que ambas cidades localizam-se rio abaixo. Para Élcio, terá pouca utilidade o serviço: “a água vem como uma onda lá do norte do estado. Então, quando essa onda chegar aqui perto o fato já está acontecendo e essa afirmação seria irrelevante para a gente”, afirma. Quanto à perspectiva de uma solução para o problema, o Secretário é enfático: “é mais prático acompanhar o site da Prefeitura Naval Argentina”, finaliza. A falta de um sistema eficiente de alerta e a demora em auxiliar na reconstrução das moradias esbarra num outro fator de caráter cultural, comum na região: a existência de moradias próximas ao rio. Mesmo havendo legislação atual
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Nossa preocupação é ter o recurso. Mais de 40 dias após a enchente vimos que há muito discurso e pouca ação. Estamos cobrando das instâncias governamentais, pois o que não podemos fazer é deixar a população mal atendida. Élcio Carvalho, Secretário de Segurança Pública e Trânsito
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que inibe a construção de casas às margens dos cursos fluviais, a realidade são-borjense evidencia outra situação: há várias famílias que residem às margens do rio. “As pessoas viveram, vivem e querem viver na beira do rio. Então não é bem assim nós simplesmente vamos tirar”, afirma Élcio. O impasse da realocação de moradores ribeirinhos é uma preocupação constante, mas adquire maior proporção no período de cheia do Uruguai. Há curto prazo, não há desenlace prático para o caso, pois envolve planejamento e alocação de verba e nem sempre as instâncias governamentais envolvidas atuam em sincronia. “Vamos trabalhar para construir 150 casas e tentar remover as pessoas. Isso será após a enchente, como um plano de prevenção”, alude Élcio. Sobre uma possível solução para agilizar o processo de repasse de verbas por parte dos governos federal e estadual, não há consenso. Assim como a enchente, os entraves continuarão intermitentes.
O governo prometeu auxílio, mas não veio nada ainda Alessandra Maciel Rodrigues, dona de casa
InfoGRÁFICO
Entenda sua conta de luz Por Léslie Bernicker
“O prazo, o atraso, o aumento, a data de vencimento...” anuncia a publicidade de remédio para dor de cabeça, mostrando que pagar as contas no início do mês pode ser um problema. No Brasil geralmente é, tendo em vista que nem sempre as tarifas são visibilizadas de modo claro para o consumidor. Você sabe quais taxas compõem o valor da energia elétrica que sua família consome mensalmente? 4,9% A tarifa cobrada na sua conta deve garantir o 7,06% fornecimento de energia de qualidade e assegurar aos prestadores dos serviços receita suficiente para cobrir 5,07% custos operacionais e remunerar investimentos necessários para expandir a capacidade de geração e garantir o atendimento. A tarifa é dividida em três custos distintos: energia gerada, transmissão e distribuição e encargos setoriais. Os valores da tarifa gerada para 27,5% cada contribuinte variam de acordo com o consumo mensal. Tomamos como exemplo a conta ao lado para gerar os dados percentuais.
ICMS
Imposto sobre a Circulação de Mercado e Serviços (ICMS) é previsto na Constituição Federal de 1988 (art. 155), o imposto é competência de cada estado e do Distrito Federal, por isso alíquotas varia de uma região para outra. A distribuidora tem o dever de cobrar o ICMS diretamente na conta de luz e repassar para o Governo Estadual.
CIP Contribuição para Custeio de Serviços de Iluminação Pública (CIP) é prevista pela Constituição Federal (art. 149-A) estabelece que entre as competências do Município está a de, conforme a lei especifica aprovada pela Câmara Municipal, dispor a forma de cobrança e base de calculo da CIP. Neste caso, é atribuído ao Poder Público a reponsabilidade por quaisquer serviços de projetos, implantação, expansão, operação e manutenção das instalações de iluminação pública. Em via disto, a concessionária arrecada o imposto é repassa para a prefeitura municipal. O valor é repassado mesmo quando o consumido não paga a conta de luz.
55,3%
Energia Transmissão Tributos Encargos Distribuição
Energia Gerada A energia gerada cobrada em sua conta de luz é composta pela luz que você utiliza durante o mês, pelos encargos e tributos, e transmissão e distribuição. Os encargos e tributos não são decididos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), eles são instituídos por leis. Os encargos são criados por leis aprovadas no Congresso Nacional. Seus valores constam nas resoluções ou despachos da ANEEL e são recolhidos pelas distribuidoras através da conta de luz. Já os tributos são o pagamento de compulsórios devidos ao poder público, a partir de determinação legal, e que asseguram recursos para o governo e suas atividades. A transmissão e distribuição tratam-se do transporte de energia das geradoras até a sua casa. Pois é: o trânsito de energia elétrica também é cobrado.
COFINS/PIS Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) são cobrados pela União para manter programas voltados para o trabalhador e para manter programas sociais do Governo Federal. As alíquotas são de 1,65%(PIS) e 7,6% (COFINS) e são apuradas de forma não-cumulativa.
Economizar é sempre uma boa ideia
Custo
60W 1,80 Kw/h
15W 0,45 Kw/h
R$0,61
R$0,15
*Acesa durante 1 hora por dia, durante um mês.
Consome
Fluorescente
Tipo de lâmpada
Incandescente
Veja na simulação* abaixo a diferença entre as lâmpadas expressa em valores (a partir do valor tabelado pela Aneel de R$0,34 o KW/h - fora impostos).
Além de contribuir para a preservação ambiental e afastar o perigo de um apagão, a economia de energia também ajuda a prevenir o gasto excessivo no orçamento mensal. Um bom modo de perceber a diferença em termos de economia é considerar o velho exemplo da comparação entre lâmpadas. Uma lâmpada incadescente normal, aquela de luz amarelada, consome cerca de quatro vezes mais energia que uma fluorescente compacta, e ambas têm a mesma intensidade e iluminam mais ou menos na mesma forma. A lâmpada incandescente mais comum de ser encontrada é a de 60 Watts, cujo brilho corresponde a 800 lúmens (medida da intensidade de ‘iluminação’ da lâmpada). Para atingir os mesmos 800 lúmens, uma lâmpada fluorescente compacta necessita apenas de 15W de potência, ou seja, quatro vezes menos energia. Veja na simulação abaixo a diferença entre as lâmpadas expressa em valores (a partir do valor tabelado pela Aneel de R$0,34 o KW/h - fora impostos).
Dona Joana é uma dona de casa de classe média que tem o hábito de comprar diariamente hortifrutigranjeiros para o consumo de sua família. Ela, que adora cozinhar, procura sempre os alimentos mais frescos e de boa qualidade para colocar à mesa. Mas mesmo com todo o esmero e planejamento das refeições, sempre há um momento em que falta uma cebola, uma salada, alguns legumes para a sopa ou de acompanhamento para o prato principal. Nesses momentos, onde buscar legumes e verduras? Todas as famílias têm uma Joana, alguém responsável pelo preparo dos alimentos, que geralmente se preocupa com a qualidade e também
com a procedência do que é consumido. Mesmo com a correria de sua rotina, busca fazer as melhores escolhas, tanto em relação aonde comprar como em se tratando do que comprar. Na correria do dia-a-dia, nem sempre é possível tomar as melhores decisões, o que acaba ocasionando o desperdício de tempo, dinheiro e, por vezes, ficando sem os vegetais fresquinhos para as refeições. No intuito de auxiliar Joana a encontrar frutas, verduras e legumes de melhor qualidade, o Matiz percorreu os principais pontos de venda de alimentos na cidade, descobrindo como são produzidos e onde são vendidos os vegetais que os são-borjenses mais consomem em suas refeições.
De onde vêm nossos vegetais? Por Bianca Garcia//Fotos de Bianca Garcia e Vagner Correa
Os vegetais são os elementos mais consumidos nas refeições.
As frutas são mais procuradas nas estações mais quentes do ano. A cidade possui três grandes redes de supermercados, algumas fruteiras e mercados menores, além das feiras, onde os produtores vendem sua produção local diretamente para o consumidor. Cada empresa conta com um rol de diferentes fornecedores, tanto de fora quanto da própria cidade, que devem alcançar um determinado volume de produção e apresentar os produtos com a qualidade exigida pelo comprador. Os supermercados são abastecidos em grande parte pela Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento S.A.), localizada em Porto Alegre, que centraliza a entrega e comercializa seus produtos para todas as regiões do estado. Como a quantidade de consumidores é maior, a demanda por produtos é vultosa, exigindo mais do fornecedor. Legumes como cebola, alho e frutas como tomate, maçã e banana têm muita saída e são comprados em grande quantidade de produtores que podem dar conta - geralmente aqueles que produzem em larga escala, em grandes propriedades. Jadir Neitzel, responsável pelo hortifrutigranjeiro do Supermercado Nacional, relata sobre como é feita a reposição dos alimentos, “Eu faço o controle diário e os pedidos para o Centro de Distribuição e Ceasa. Faço a verificação da quantidade e reponho conforme a demanda com os produtos que temos no estoque. Por exemplo, o tomate e a batata são os que têm mais saídas,
então faço uma média de 10 sacos por dia, o total de 300 kg de cada. Os produtos orgânicos, por exemplo, vêm duas vezes por semana, eles vêm de outros estados, como São Paulo. Assim como temos os produtos dos produtores locais, como a alface que recebemos em torno de 120 unidades por dia.”. Se a quantidade de alimentos que podem ser entregues diariamente ao supermercado é um dos fatores que delimitam e dividem os fornecedores. Outro fator, sem dúvida, é a qualidade dos vegetais. Os vegetais folhosos, perecíveis em menos tempo, como alface e rúcula, geralmente são produzidos em locais próximos, por pequenos ou médios produtores, que têm como fazer frente à demanda dos consumidores e cumprir os prazos de entrega. Em São Borja, apenas um produtor local fornece verduras para as grandes redes de supermercados. O Agrônomo Evaldo Morari é o único produtor e fornecedor de alface, rúcula e agrião em São Borja. Há 18 anos produz hortaliças através do sistema hidropônico. Evaldo tem a liberdade e a responsabilidade de, em alguns locais, estipular a quantidade de verduras a serem entregues no varejo. Em mercados maiores, não tem tamanha liberdade, ele recebe a encomenda e todos os dias é feita a entrega das verduras. O produtor, além disso, oferece cinco variedades de alface como a mimosa, a crespa, a lisa, a roxa (mimosa e lisa roxa) e a americana. “Entrego todos os dias de manhã, inverno, verão, chuva e sol. Eu colho um dia antes, à tardinha, e no outro dia até às oito horas da manhã está tudo no mercado”, conta. Mas não apenas nos supermercados que os consumidores podem encontrar legumes, frutas e verduras. Como uma típica cidade do interior, São Borja conta com um sistema de pequenos armazéns e fruteiras que também abastecem o mercado local. A Fruteira Nadalon é um exemplo. Há dez anos a família Nadalon inaugurou um espaço para comercializar seus produtos. Alface, rúcula, couve, tempero-verde, pepino, chuchu, repolho, morango, melão, milho, moranga, beterraba, dentre outros, são produzidos por eles mesmos em sua propriedade no interior do município. Na pequena horta onde começaram nos fundos do armazém, hoje produzem parte das verduras e algumas frutas que são comercializadas. Embora a produção seja variada, alguns produtos são comprados de outros fornecedores, como frutas não adaptadas ao clima ou fora da estação. “Frutas como banana e mamão vêm da Ceasa”, explica Ivete Nadalon, dona da fruteira. Na Fruteira Serrana o cenário não é diferente. Há sete anos a família Boschetti mantém o estabelecimento como uma das fruteiras de refe-
rência na cidade. Alguns dos produtos comercializados vêm da Ceasa, de outras regiões do estado e também de pequenos produtores da cidade. As verduras à venda são oriundas da produção hidropônica do agrônomo Evaldo Morari. Todos os produtos são repostos diariamente pela manhã e fiscalizados durante o dia. “As frutas vêm de Porto Alegre, já a alface, a rúcula e o agrião vêm do produtor local. O Gerente, William Boschetti está sempre supervisionando para a melhor conservação dos nossos produtos, fora a Vigilância Sanitária que faz o monitoramento de seis em seis meses”, afirma Gisele Nunes, funcionária da Fruteira. Outra opção para o consumidor que gosta de variar as frutas e legumes do cardápio são as feiras realizadas na cidade. Em São Borja existem dois espaços fixos onde os mais de 25 agricultores familiares cadastrados comercializam seus produtos. A Feira no Centro da cidade e a Feira do Produtor Rural no Mercado Público Municipal recebem os produtores que nas quartas e sábados vendem sua produção de hortaliças, legumes, laticínios e derivados, geralmente produzidos em pequenas propriedades rurais no entorno da cidade. Essa é a forma de renda das famílias, que encontram nas feiras do município o meio de comercializar suas mercadorias. Esses espaços são reconhecidos por serem voltados para a parcela de consumidores adeptos da produção orgânica (sem agrotóxicos).
Se tem qualidade, tem fiscalização? O consumidor geralmente faz a escolha de acordo com seus critérios próprios: a verdura mais bela, o tomate mais rígido, a cebola com a casca mais rosada, que nem sempre estão de acordo com o padrão de qualidade exigido pela Vigilância Sanitária ou mesmo pelo estabelecimento comercial. Cada espaço de venda tem suas regras próprias, em adequação à legislação vigente. A gerente do supermercado Baklizi, Veridiana Goulart, afirma que há controle de qualidade no setor de hortifrúti tanto por parte do estabelecimento quanto por parte da vigilância sanitária, que mensalmente realiza suas visitas de controle e fiscalização. Segundo a gerente que há três anos supervisa o setor, diariamente os encarregados da seção monitoram as bancadas e os produtos, retirando os itens estragados e higienizando o local. “Há sempre esses cuidados por se tratarem de produtos perecíveis, mantendo a nossa qualidade; e para o consumidor sempre sair ganhando, fazemos o feirão nas terças e quartas com preços reduzidos, onde nossos produtos como tomate e batata sempre tem boa saída”, explica Veridiana. Na Fruteira Nadalon, são os próprios donos que fazem o controle de qualidade, auxiliados pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). A vigilância sanitária também faz a visita rotineira de fiscalização. “Durante o dia, há a
Existem diferenças entre verduras e legumes? Muitas vezes nos confundimos com a nomeação correta para cada grupo de alimentos, pois além de haver uma grande variedade, são todos considerados da mesma “família”. Essas hortaliças são classificadas em grupos como os vegetais cultivados, como folhas, caules, raízes, frutos e sementes para o consumo dos seres humanos. Embora haja a variação por termos técnicos, que separam em outras categorias como legumes e verduras, são todas consideradas hortaliças, por pertencerem às folhas ou por serem folhosas. Os elementos diferenciadores são as variedades como os legumes, que são os frutos das plantas leguminosas, e as verduras – folhas propriamente ditas, e também seus respectivos valores de carboidratos. Vejamos alguns exemplos:
Verduras: acelga, alface, agrião, couve, escarola, espinafre, repolho, rúcula, (entre outras) e as flores (alcachofra, brócolis e couve-flor).
Legumes: abóbora,
abobrinha, berinjela, chuchu, pepino, pimentão, tomate, entre outros; os caules são aipo, aspargo e palmito; os tubérculos como batata e as raízes que são beterraba, cenoura, mandioca, nabo, rabanete, entre outras.
Na hora da compra é preciso verificar alguns quesitos, como cor e consistência. verificação dos alimentos nas bancadas pelos nossos secretários”, conta Ivete, enfatizando que cada um faz sua parte para garantir a qualidade do produto. No Supermercado Nacional há o Clube de Produtores que faz parte da Walmart, que possui regras próprias de fiscalização, como normas de controle, termos de agrotóxicos, de embalagem e regularidade nas entregas, por parte dos produtos que são vinculados ao mercado. Essa fiscalização também acontece com a coleta dos alimentos no próprio mercado, que faz a análise do produto e manda o laudo com respostas do que foi encontrado para os respectivos produtores.
Vanessa Oliveira, nutricionista, nos dá dicas de como escolher os alimentos e higienizálos, “deve-se procurar alimentos íntegros, sem cortes e deterioração. Nunca optar por alimentos pela metade ou com cortes, isso pode ser indício de que a outra parte do alimento estava comprometida, o que faz com que ambas partes estejam infectadas”, explica. Para auxiliar o consumidor a fazer um bom uso de seus alimentos, Vanessa complementa, “Sempre lavar em água corrente, ou se possível, lavar com água clorada, essa solução pode ser feita em casa com alimentos crus, para matar microrganismos, o que não agride o alimento”.
Como escolher o melhor hortifrúti?
A confiança do consumidor
A imagem e o preço vendem primeiro, mas quando há uma checagem mais minuciosa sobre o alimento que desejamos comprar, entra em questão a qualidade. Cor, consistência e cheiro são alguns dos elementos checados pelo consumidores na hora da compra. A consumidora Sheila Muhlbair prioriza a qualidade “Eu vejo se o alimento está consistente, faço o tato para sentir a firmeza, consistência. Por exemplo, o tomate, se ele estiver murcho eu já não o levo. A batata eu pego para conferir se não está podre, e assim com os demais, frutas também. A cor, o cheiro influência, mas eu sempre olho uma a uma para ter certeza de um bom alimento”, explica. Não só esses cuidados são importantes na hora de consumir um alimento natural. Além destes, na hora de seu preparo é fundamental saber dar o destino certo para cada alimento.
A qualidade desses produtos na feira é atribuída por quem confia no controle da agricultura familiar. Para Marli Fagundes que frequenta a Feira no Mercado Público há 40 anos, consumidora assídua de legumes e vegetais, aposta e garante nas propriedades que compra, “Aqui o preço é mais acessível, os produtos são bons e não contém coisas tóxicas, é melhor comprar aqui do que no mercado, onde às vezes, encontramos alimentos lindos, mas que contém produtos químicos, e aqui não, são produtos naturais”, explica. Para as famílias que tem como parte se sua rotina comprar em grandes mercados, ou mesmo em pequenas fruteiras na esquina de casa, é fácil encontrar produtos de qualidade à disposição nas bancadas do hortifrúti dos estabelecimentos distribuidos pela cidade. Basta apenas conhecer os produtos que se quer e saber onde procurar.
Você já conferiu em nossa matéria alguns detalhes do trabalho do engenheiro agrônomo Evaldo Morari. Vamos mostrar como ele desenvolve o cultivo hidropônico de alfaces, rúcula e agrião.
Hidroponia A base do cultivo hidropônico é: água e nutrientes. Com quatro funcionários, os quatro mil metros quadrados de plantação rendem cerca de dois mil pés de alface todos os dias. São seis estufas com o Sistema DFT (“deep film technique”) que faz circular a água de forma intermitente, em circuito fechado e outras duas com o sistema “floating” ou flutuante, onde as plantas ficam flutuando em cima dos nutrientes em um tanque de 16 mil litros. Quando chegam a um tamanho adequado, as hortaliças são replantadas diretamente sobre placas de isopor com orifícios para as raízes. Quando se trata de cultivo, tudo inicia pela semente. As sementes são depositadas em pequenos quadrados de espuma fenólica, de 4cm2, onde germinam. A cada dois dias são plantadas 15 bandejas com cerca de 345 sementes cada; a maioria germina e dentro de 20 dias já estão prontas para o primeiro transplante. Tudo gira em torno do ciclo de crescimento, onde o desenvolvimento das plantas comandam as transposições nos sistemas. Antes de serem transplantadas pra o sistema DFT ou o floating, elas passam por três transposições em espuma de fenol: 4cm2, 25cm2 e 35cm2. As alfaces, por exemplo, passam por duas transposições antes de finalmente serem plantadas nos canos, onde finalizam seu ciclo de crescimento e estão aptas à colheita em torno de dez dias. São 50 dias da semente até a colheita, em dias curtos sem sol, é em torno de 70 ou 80 dias.
Plantas & variedades A rúcula é plantada num substrato agrícola com fibra de coco que absorve bastante água, por este ser leve, não deixa a planta saturada de água e é inerte de nutrientes, o que não interfere na sua adubação. O agrião tem sistema diferente de plantio. Basta plantá-lo na água e depois basta colhê-lo. O desenvolvimento da planta se dá por brotamento a partir dos talos. As cinco variedades de alface cultivadas seguem o sistema de replantio e depois migram para os sistemas DFT ou floating. “No verão, o sistema floating é o melhor, pois volume de água é mais constante. São 16 nutrientes que a planta precisa, que hoje já vêm pronto para elas receberem e a reposição depende do consumo e crescimento da planta”, explica Evaldo. Diariamente a granja Morari produz cerca de 1.500 pés de alface. “Hoje São Borja não comporta essa quantia”, afirma Evaldo. Para explicar melhor sobre a escolha do sistema hidropônico, o engenheiro agrônomo conta que “as doenças que batem aqui são iguais as do solo, só que em compensação, aqui é em torno de 10%. Quando há uma doença eu as elimino sacando as fora. É mais rápido, mas tudo depende do clima. Dentro de um mês pretendo estar com duas novas estufas, com as sementes também já plantadas.”. Em se tratando da qualidade, Evaldo é enfático quando fala a respeito de sua produção hidropônica: “Por que consumir verduras do sistema hidropônico? Porque é sadio, é bem conduzido, eu vivo investindo, não parei nunca no negócio para ele não morrer, tenho regularidade inverno, verão, datas comemorativas como natal, na época em que todo mundo está fazendo festa é o dia em que eu mais tenho que trabalhar. É por isso que eu sempre estou vendendo bem meu produto e acho que eu estou adquirindo esse mercado que hoje eu tenho aqui por causa disso”, ressalta o produtor.