AH - Agronotícias | 30 janeiro de 2016

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Especial do jornal A Hora

JANEIRO | 2016

Circulação mensal GIOVANE WEBER

O espaço destinado ao cultivo de milho reduziu neste ciclo. O aumento das exportações, aliado à alta do dólar, eleva o preço do grão e ajusta a oferta no mercado. Risco de desabastecimento gera apreensão nas cadeias de suínos, aves e leite.


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JANEIRO/2016

Editorial

Um perigo real e iminente assusta o agronegócio, representado no grave quadro de superencarecimento de milho que assola violentamente as maiores cadeias produtivas da Região Sul e ameaça causar pesados e irreversíveis prejuízos à avicultura e à suinocultura. Desemprego na indústria, insolvência de criadores e quebradeira de empresas são os efeitos temíveis se a crise não for contornada. Entre outubro de 2015 e janeiro deste ano, a saca do grão de 60 quilos saltou de R$ 37 para R$ 42, um aumento superior a 50%. Com o dólar alto e a abertura de mercados internacionais, mais de 30 milhões de toneladas foram tirados do mercado doméstico. O milho existe, mas seu preço é absurdamente elevado: a saca é vendida a até R$ 46 em algumas regiões. O RS precisa importar até dois milhões de toneladas para atender a demanda das cadeias de suínos e aves, responsáveis por manter milhares de empregos na cidade e no campo. Apesar do governo anunciar leilões dos estoques públicos, o transporte da Região Centro-Oeste para a Sul encarece a saca e torna o processo inviável tanto para a indústria. É um tsunami que pode levar muitos a falência, provocando uma nova debandada de famílias para a cidade.

Precisamos estancar rapidamente essa crise do milho, caso contrário, milhares de produtores e muitas agroindústrias de pequeno e médio porte sucumbirão. Isso representará altas taxas de desemprego na cidade e aumento significativo do êxodo rural no campo. O espaço destinado ao milho nas lavouras gaúchas caiu 50,3% de 1970 a 2015, mas a produtividade cresceu 374,8% no mesmo período. Insuficiente para atender a demanda pelo produto, insumo escasso representa encarecimento para os produtores e para as agroindústrias. A conjugação de uma série de fatores contribuiu para se chegar a esse ponto, com redução tão drástica da produção. Os produtores migraram para a soja, com grande liquidez no mercado de commodities, menor custo de produção e melhor remuneração final. Outro fator negativo será o aumento do preço final da carne e derivados no mercado. A ABPA já anunciou que o percentual poderá chegar a 15% nos próximos meses. A carne bovina registra incríveis 60% de aumento desde 2014. Para a indústria manter os lucros, resta focar o mercado externo. China e Coreia anunciaram o interesse na compra, mas já existe quem os abasteça, portanto, são clientes em potencial a ser conquistado. Caso nenhuma medida consistente seja anunciada pelo governo para estimular a produção e a garantia de abastecimento às indústrias, essa crise poderá ser igual ou pior àquela registrada em 2011/12. Na época, o governo federal permaneceu indiferente e apático. Como consequência, milhares de criadores faliram, dezenas de agroindústrias fecharam ou foram incorporadas aos grandes grupos econômicos – em um processo de concentração industrial sem precedentes. Boa leitura Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS Diretor Geral: Adair Weiss Diretor de Redação: Fernando Weiss Diretor Comercial: Sandro Lucas Diretor Administrativo: Fabricio Almeida

Índice

Ameaça ao agronegócio

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Cultivo de pepino gera lucro

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Criação de cabras – mercado rentável e em expansão

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Coleta automática assegura qualidade

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Entrevista com o diretor-executivo do IGL Ardêmio Heineck

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Especial – safra de milho

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Referência em responsabilidade ambiental

Tenho dito A seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados. Nós vivemos um regime de economia livre, um sistema capitalista. Já debatemos muito essa questão que é bastante complicada. O produtor que planta vai olhar o cenário de mercado e optar pelo produto que estiver com melhor remuneração, que seja mais viável e render mais dinheiro. Podemos até ter políticas públicas, linhas de crédito para financiar as lavouras, mas na hora de plantar ele vai fazer essa conta. Se o valor do milho, como ocorreu neste ciclo, estiver baixo, a quantidade estocada for elevada e não houver perspectiva dee melhora, vai plantar soja. A demanda é maior e o preço é mais alto. Não podemos interferir. É uma questão de mercado. Foi debatido um acordo entre indústrias e produtor com o objetivo de definir um preço mínimo, mas isso não deu certo. O plantio de uma ou outra cultura sempre dependerá da oferta e demanda do mercado. Valdecir Folador – Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) Neste momento, o dólar em alta gera melhores condições de exportação para o milho e, com previsão de menor produção nesta safra, teremos menos oferta interna e melhor preço para o milho produzido. O setor pecuário está bastante prejudicado, pois o custo de produção dos animais se eleva com o alto custo do milho e o preço pago pela indústria frigorífica está em baixa. Neste cenário, duas situações se apresentam em pauta: a primeira, disponibilizar milho dos estoques do governo federal com preço compatível para o segmento pecuário. A segunda, estimular o produtor a aumentar a área de produção de milho para próxima safra. Com o preço em alta, já existe possibilidade de termos um aumento de produção na safrinha. Se isso acontecer, o governo federal entra no mercado, adquirindo parte da produção para manter um preço estável e reforçar o seu estoque regulador. Gilberto Moacir da Silva – Médico-veterinário e consultor técnico

Considerando as diferenças de custo de produção e cotação de mercado entre as culturas da soja e do milho, desfavoráveis à cultura do segundo insumo, influenciadas pelo mercado e moeda internacionais, e, considerando ainda a oferta de crédito rural e seguro agrícola, entendemos que possa estar ao alcance dos governos o estabelecimento de políticas de preço mínimo mais elevado e de incentivos à irrigação que possam garantir a colheita de uma cultura que, além dos fatores s. desfavoráveis anteriormente mencionados, tenha sensibilidade maior às estiagens. Carlos Augusto Lagemann – Gerente regional-adjunto da Emater Regional de Lajeado jeado

DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss

COORDENAÇÃO Giovane Weber

PRODUÇÃO Giovane Weber

ARTE Gianini Oliveira

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)



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O cultivo de pepinos, em Canudos do Vale, se tornou sinônimo de emprego e lucro. Há 15 anos, a família Zenatti substituiu a lavoura de fumo pela cultura. De empregada passou a dona do próprio negócio. Por semana, comercializa 2,1 mil quilos para todo estado.

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Cultivo de pepino gera lucro GIOVANE WEBER

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m Canudos do Vale, o cultivo de pepino se tornou uma opção para reduzir a dependência das plantações de fumo. No município, 80% do ICMs é gerado pelas produções de frangos, fumo, suínos e leite. Há 15 anos, a família Zenatti foi uma das pioneiras a apostar na cultura. Conforme Gilmar, proprietário da agroindústria de conservas, a ideia surgiu no ano 2000 quando voltou a estudar. Durante um intervalo, leu em uma revista que o governo estadual financiava projetos para instalar os empreendimentos. Aplicou R$ 30 mil na construção do prédio e compra das máquinas para iniciar o processamento da matéria-prima. A família substituiu o cultivo de 40 mil pés de fumo pela produção de pepinos. “Foi uma aposta que deu certo.” No auge da produção, Zenatti chegou a ter 13 funcionários e envazar até dois mil quilos por dia. O calote de distribuidores quase o levou à falência. Foi obrigado a desfazer a sociedade com o irmão e manter apenas uma empregada. “Crescemos muito rápido, sem planejamento. O pepino virou um problema”, brinca. A quantidade processada hoje alcança 200 quilos por dia durante a safra, entre novembro e dezembro. A matéria-prima é fornecida por produtores do próprio município, além de Fazenda Vilanova e Progresso. Na entressafra, vem de Minas Gerais. É vendida em embalagens de 300 gramas a 1,8 quilo. O preço varia entre R$ 2,50 e R$ 11 a unidade. Além do pepino, outras hortaliças são processadas. No total, são oito variedades, entre vagem, minimilho, tomate seco, cenoura, rabanete e outros.

Por dia são processados em média 200 quilos em época de safra

Como funciona o processo O cultivo

– O plan plantio antio ocorre ocor em agosto e setembro. A safra inicia em novembro novemb no mbro e sse estende até fevereiro – As pla plantas lantas che chegam a atingir dois metros de altura. Cada um produz pr uma dois quilos do fruto em média – Os fru frutos surgem antes das flores e levam três dias para rutos surg atingir tamanho ideal em períodos de calor atin ingi gir o tama – O me e paga mais pelos pepinos que atingirem mercado prefere pr até centímetros, considerados ideais para o envasamento até 15 centíme – Ca Cada da planta necessita de três litros de água/dia para atingir bons bo índices de produção – O preç preço chega a R$ 1,60 ao produtor eço do quilo q – A plan planta bem em temperaturas entre 20 e anta se desenvolve de 25ºC 25

Substituím Substituímos mos o cultivo de 40 mil pés de fumo pela produção de pepino. Foi uma aposta que deu certo Gimar Zenatti, proprietário

A fabricação fabbricaçã de conservas

– Os pepinos são lavados em um tanque durante cerca de cinco minutos – Depois de selecionados conforme o tamanho, são colocados em potes de vidro com capacidade para 300 gramas ou 1,8 quilo – Costuma-se adicionar cebolas, pimenta e outras variedades antes do preenchimento com vinagre quente – Em seguida, são colocados em uma caldeira onde o vidro é vedado


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Sabor ainda é desconhecido pela maioria e oferta é menor que a demanda. Produtores e empresários defendem campanhas de marketing para incentivar o consumo, profissionalizar o setor e tornar a caprinocultura uma atividade mais lucrativa.

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Mercado rentável e em expansão

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leite de cabra é valorizado desde a antiguidade, usado por gregos, romanos e egípcios desde os primórdios da civilização. Reza a lenda que o produto é benéfico à longevidade, afrodisíaco, e que, inclusive Cleópatra, famosa rainha egípcia, banhava-se com ele para manter a pele hidratada e rejuvenescida. Mitos à parte, o fato é que o leite de cabra é um alimento completo, rico em vitaminas, proteínas e sais minerais. No Brasil, conquista mercado, tanto na forma de leite pasteurizado como na forma de leite em pó e, recentemente, em embalagens tetrapak tipo longa vida UHT. Estudo do pesquisador Raimundo Nonato Braga Lôbo, da Embrapa Caprinos e Ovinos, com base em dados da FAO (2009), revela que o setor emprega 300 mil famílias, com

cerca de 1,5 milhão de pessoas. A produção chega a 21 milhões de litros por ano. Para atender a demanda o Brasil, importa lácteos da Suíça, Portugal, Espanha e Holanda. Segundo o Ministério da Agricultura, o rebanho nacional de caprinos tem cerca de 14 milhões de animais, distribuí-

O que falta é mostrar e convencer os produtores que se trata de uma oportunidade de negócio Aurora Maria Guimarães Gouveia, presidente da Caprileite

dos em 436 mil estabelecimentos agropecuários. É o 16º no ranking mundial. Grande parte encontra-se no Nordeste, com ênfase para Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará. A produção brasileira de leite de cabra contribui com apenas 1,3%, aproximadamente 141 mil toneladas, enquanto a França, maior produtora de queijo de leite de cabra, produz cerca de 500 mil toneladas por ano. Até 1988, não havia comercialização legalizada de leite de cabra no Brasil, e todo comércio era clandestino. Segundo a presidente da Caprileite, Aurora Maria Guimarães Gouveia, hoje a demanda por leite de cabras e seus derivados é maior que a oferta, o que faz desse um bom mercado, rentável e em crescimento. Aos poucos, essa realidade começa a mudar com novos

investimentos em genética, alimentação, instalações, reprodução, sanidade do rebanho, além da implantação de uma legislação específica à ovinocaprinocultura. “O que falta é mostrar e convencer os produtores que se trata de uma oportunidade de negócio. É preciso profissionalizar, organizar a cadeia produtiva, pois essa vem se destacando no cenário brasileiro como uma atividade de grande impacto socioeconômico.” Entre os empecilhos, cita o alto custo de produção que dificulta a legalização do negócio. Outro obstáculo é o elevado preço dos insumos, cujos valores são muito superiores em comparação aos para bovinos. Na maioria das lojas, não há itens voltados para a atividade. “Isso reflete em produtos mais caros no mercado.”


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Desconhecimento Com 3,3 mil cabras de leite, o RS vê boa parte da produção seguir para as regiões Nordeste e Sudeste. Duas indústrias processam o leite do estado: uma em solo gaúcho e outra no Rio de Janeiro. Em 2011, elas processaram 1,1 milhão de litros do RS. O preço do litro pago aos criadores chega em média a R$ 1,40. A Cappry'S, que processa o leite de cabra no estado, recebeu mais de 600 mil litros de 20 produtores. O diretor Alessandro Gestaro diz que o sabor do produto ainda é desconhecido. É voltado para um nicho, especialmente

para os intolerantes a proteínas existentes no leite de vaca, caseína alfa-s1 e lactoalbumina. “Segundo pesquisas, isso corresponde a 20% da população.” Gestaro afirma que a indústria investe em processos para reduzir o sabor forte e uma estratégia foi se unir à soja. “Era nossa grande concorrente, agora é aliada." A produção também foi profissionalizada. A indústria, por exemplo, precisou eliminar os fornecedores que tinham problemas de logística ou produção. “Balizamos em 36 mil a 37 mil litros por ano porque o produtor tem que ter renda.”

O produto ainda enfrenta estranhamento quanto ao sabor. Alessandro Gestaro, empresário

Aliado na renda mensal Em 1996, o casal Remi Eloi e Delci Klein, de Linha Pontes Filho, em Teutônia, comprou 25 exemplares, a maioria da raça anglo-nubiana. O investimento foi de R$ 8,7 mil, mas houve prejuízos porque não entendiam de manejo. “Eram bonitas, mas pouco rentáveis na produção.” Com orientação técnica e auxílio de outros produtores, passaram a criar as raças sani e parda. “Comparadas com raças bovinas, são as holandesas e jérsei. Dóceis, exigem pouco cuidado, de fácil manejo e registram boa produtividade.” Na época, outros quatro produtores iniciaram a criação. Hoje restam dois – um em Westfália e outro em Estrela. O rebanho da família Klein passa de 70 animais, dos quais 47 estão em lactação. A média produzida é de dois litros por cabra, cerca de 700 por semana. “Algumas produ-

zem até 4,5 litros”, revela Delci. Recebem R$ 1,41 por litro. Quando iniciaram a venda, o valor era de R$ 1. Eram produzidos quatro litros por dia. “Os vizinhos ficaram espantados. Ganhavam apenas R$ 0,17 por litro de leite de vaca.” Parte da matéria-prima é vendida para Viamão. O restante é comercializado na propriedade ao preço R$ 3. O recolhimento ocorre a cada sete dias. Após a ordenha, o leite é armazenado em um resfriador e conservado a temperatura média de 1,6oC. “O período de coleta é muito longo e o leite perde parte do potencial proteico.” O trato é feito à base de pastagem cultivada em uma área de seis hectares e 1,2 mil quilos de ração, específica para estimular a produção de leite. Segundo Klein, a procura pela matéria-prima é maior do que

oferta. “Falta mão de obra qualificada, orientação técnica e pessoas dispostas a lidar com a atividade.” Apesar dos contratempos, o empreendedor acredita que no futuro lucrará ainda mais com a atividade. A renda mensal alcança R$ 4 mil.

Leite é visto como remédio No início, a atividade é complementar, pois nenhum criador consegue viver só dela. Para que aumente, as pessoas precisam conhecer o produto. Segundo Delci, elas ainda não têm o hábito de consumir o leite de cabra. “É visto como remédio. Hoje, as pessoas que consomem são as que têm intolerância à lactose ou por re-

comendação de um médico. Quando o leite de cabra for, de fato, inserido na alimentação diária das pessoas, haverá um maior crescimento na produção”, projeta. Segundo Remi, o desenvolvimento da atividade esbarra no baixo consumo e no alto preço do produto no mercado. “O leite longa vida chega a custar R$ 6 o litro, enquanto o queijo passa de R$ 52.” Ainda, de acordo com o produtor, o consumo do leite de cabra, que tem valor nutritivo maior se comparado com o de vaca, deveria ser estimulado. “A preferência da população ainda é pelo leite de vaca. Poderíamos ter campanhas para mostrar as qualidades nutricionais. O produto também poderia ser acrescentado à merenda escolar”, sugere.


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JANEIRO/2016 FOTOS GIOVANE WEBER

Para saber • A gestação dura

5 meses • O primeiro cio ocorre aos 7 meses de idade – ideal é ter peso entre 35 e 40 quilos – esse período ocorre entre janeiro e junho • Uma cabra produz em média dois a 4,5 litros de leite por dia – atinge o pico na terceira cria – a partir da quinta, a produção começa a cair • Dócil e de baixa estatura, quando adulta, a cabra

Poderíamos ter campanhas para mostrar as qualidades nutricionais. Remi Eloi Klein, produtor

pesa entre 45 e 70 quilos • A carne apresenta 2,75 gramas de gordura • Uma cabra com 30 quilos produz carcaças de 12 quilos

Falta volume de produção O vice-presidente da CRMV-RS, José Arthur de Abreu Medeiros, destaca a falta de escala de produção e desconhecimento sobre o consumo como uma das maiores dificuldades para o setor se desenvolver. “O leite é visto como um negócio, mas a oferta ainda é pequena. A carne é muito pouco explorada. Inexiste abatedouro. Hoje a atividade se baseia na ovinocultura quando tratamos de tecnologias para resolver doenças e manejo do rebanho.” Cita a necessidade de divulgar a atividade e levar os derivados para os mercados. “O leite é visto como

remédio. Apenas crianças com asma tomam.” Segundo Martins, um dos reflexos de que a cadeia produtiva é pouco eficiente é a participação cada vez menor da caprinos em feiras como a Expointer. Destaca que a ovinocultura cresce e conquista mercado pelo fato de fazer parte da cultura dos gaúchos. “Sempre tivemos ovelha no campo. Seja pela carne ingrediente tradicional na alimentação ou seja pela lã, ótima fonte de renda.” Para o médico-veterinário, falta uma política estadual de estímulo à criação.

“A carne é mais saudável do que a de frango” Segundo o médico-veterinário e diretor da Apris, Gustavo Domingues, a carne de cabrito é considerada uma das mais saudáveis. Além da maciez e sabor, os principais diferenciais são: baixo teor de gordura, baixa taxa de colesterol, rica em cálcio e proteína, presença de ômega 3 e ômega 6, que têm papel anti-inflamatório e estão diretamente ligados à resistência imunológica. Entre todo no mundo, a carne caprina é a mais magra (contém o menor teor de gordura), inclusive, mais que a de frango. Em cada 100 gramas de carne assada ao forno, a carne caprina apresenta 2,75 gramas de gordura, contra 3,75 da de frango, 17,14 da bovina e 25,74 da suína. Segundo Domingues, o segredo está no tipo de criação e abate, além da comercialização da raça boer – considerada a melhor para o consumo por ter até 78% mais carne do que os cabritos de outras

raças. Os cabritos nascem após cinco meses de gestação e são desmamados aos 60 dias. Os animais ficam em confinamento de 60 a 90 dias e são abatidos quando alcançam 30 quilos. Produzindo carcaças de 12 quilos. Em seguida, os cortes são embalados a vácuo e congelados. “Esse alto rigor de higiene e padronização garante uma carne de altíssima qualidade com sabor inalterado”, afirma Domingues. Fundada em 2007, a Apris é uma marca da CapriVales, empresa pioneira na produção e comercialização de carne premium de cabrito em São Paulo. A indústria tem parceria com criadores do Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, além de uma criação própria, com cerca de duas mil fêmeas. A Apris oferece oito cortes de cabrito: pernil, paleta, costela, carré, carne em cubos, linguiça, linguiça apimentada e kit cabrito.


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Dispositivos eliminam contato do transportador durante a coleta de leite cru na propriedade. Os testes iniciaram neste mês. O método permitirá maior mensuração de volumes e qualidade do produto entregue à indústria.

Coleta automática assegura qualidade GABRIEL MUNHOZ

A

fase de testes do Projeto Metodologia de Coleta de Automática de Amostras de Leite, desenvolvido pelo Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) em parceria com a Embrapa Clima Temperado e Cosulati, iniciou neste mês. Entre as metas, estão combater as fraudes, melhorar a qualidade do leite que chega à indústria e restabelecer a confiança do consumidor, abalada pelas fraudes denunciadas pelo Ministério Público. Lançado em dezembro em Capão do Leão, o mecanismo estudado há mais um ano consiste na automação completa da coleta do leite cru nas propriedades. O dispositivo foi desenvolvido exclusivamente para eliminar o contato do transportador com o produto. Hoje, as amostras coletadas para análise são retiradas dos tanques de armazenamento pelo transportador. A adoção do sistema tecnológico, que conta inclusive com GPS e é instalado nos caminhões-tanque, permitirá que a coleta das amostras seja feita dentro de um sistema fechado, resfriado e autônomo, tornando desnecessária a manipulação do produto. Segundo o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, o RS tem totais condições para expandir a produção, conquistar mercados e ser líder nacional em qualidade. “Vamos colocar o RS na posição de referência que ele merece. Teremos condições de dar garantias de forma absoluta à sociedade. Existe base

Caminhão é equipado com medidor automático de vazão e computador de bordo mede o volume de leite

Garantimos mais transparência e o rastreamento do processo produtivo. Ganhamos mais competitividade. Clenio Pillon, chefe-geral da Embrapa Clima Temperado

genética, produção, qualidade, tecnologia e conhecimento para isso.” O equipamento pode chegar a R$ 150 mil e é desenvolvido por cinco empresas. De acordo com a pesquisadora em Qualidade do Leite, Maira Zanela, o sistema prevê a coleta automática sem interferência humana. Os equipamentos fornecem, em tempo real, dados como volume de leite, temperatura, hora de coleta, informações do produtor, do transportador e da indústria. O presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, afirma que o método permitirá maior mensuração de volumes e qualidade do leite entregue à indústria, mas frisa que, para se tornar

realidade nas empresas, a proposta dependerá de incentivos. “É bom para todos – produtor, transportador, indústria e clientes.” Alguns deles ainda dispõem de GPS acoplado que permitem georreferenciar o processo, o que indica o local exato das propriedades e trava qualquer tipo de captação fora de rota. “É uma forma de qualificar o processo de rastreabilidade para conquistar novos mercados.” A expectativa é que mais de 20 mil amostras de leite sejam coletadas nos próximos 15 meses. Conforme enfatiza o secretário da Agricultura Ernani Polo, a implantação da Lei do Leite também ajudará a intensificar


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a fiscalização de toda a cadeia produtiva. “São vários processos que precisam ser monitorados para que o leite que sai bom dos tetos da vaca chegue perfeito ao consumidor.” Medidores automáticos serão acoplados a cinco caminhões que transportam leite para a Cooperativa Sul-Riograndense de Laticínios Ltda (Cosulati).

Números – O RS é o segundo maior produtor de leite do país, atrás de Minas Gerais. – Nos últimos dez anos, a produção cresceu 98%. – Mais de 110 mil famílias, em 95% dos municípios gaúchos, estão envolvidas com a produção de leite. – Cada vaca produz, em média, três mil litros por ano. Fonte – Seapi

Saiba mais Durante dois anos, serão feitos três tipos de coleta – manual, por um transportador; manual, por um técnico da Embrapa; e automática, com o equipamento. Em paralelo, ocorrerá a avaliação dos tanques de armazenagem, variações da temperatura, condições das estradas e outros quesitos. Os ajustes técnicos necessários para aprimorar o processo serão feitos pela Embrapa com auxílio do Ministério Público. Os testes custarão R$ 500 mil, sendo R$ 360 mil pagos pelo Sindilat e o restante pela Embrapa. A ideia é estender o sistema a todos os caminhões coletores de leite no RS. O valor do investimento será dividido entre produtores, indústria e transportadores.

Como é feita a coleta Manual Uma régua mede o volume. Após é conectada a mangueira de sucção para transferir o leite até o tanque resfriado do caminhão. O motorista coleta uma amostra e entrega à indústria.

Automática Um computador de bordo é instalado no caminhão para medir a vazão. Por meio de um GPS, são inseridos os dados do produtor. Se o caminhão estiver na propriedade errada, o leite não será carregado. Após lançar todas informações, a mangueira é conectada. Antes de chegar ao tanque, uma amostra é recolhida em frascos de 40ml automaticamente, etiquetado com o código de barras que identifica o agricultor. A amostra é entregue à indústria para, em caso de adulteração, saber a procedência. Por último, os dados registrados pelo computador como volume de leite, horário e temperatura da coleta, informações do produtor, do transportador e da indústria são transferidos, via internet, para a fábrica. Um extrato é entregue ao produtor.


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Instituto Gaúcho do Leite traça objetivos para a cadeia leiteira, responsável por gerar 9% do PIB estadual e reunir mais de cem mil produtores em 94% dos municípios gaúchos. Além de buscar qualificar todo processo produtivo, meta é incentivar a criação de novos produtos para elevar o consumo.

ENTREVISTA

“Nossa missão é incluir e qualificar o produtor”

C

riado em 2014, o Instituto Gaúcho do Leite (IGL) tem a responsabilidade de realizar ações que possam consolidar a produção gaúcha – hoje a segunda maior do país, atrás de Minas Gerais. Como desafio principal, o diretor-executivo Oreno Ardêmio Heineck destaca a necessidade de garantir a inclusão do maior número de produtores e promover sua qualificação. “Nosso objetivo é coordenar a produção, aumentar a competitividade do setor e dos produtos lácteos.” Em 2016 serão atendidas quatro mil propriedades. Outra meta é diversificar a produção leiteira e elevar o número de derivados. “Precisamos focar o consumidor. Ter cada vez mais opções para atender diferentes gostos.” A Hora – O que muda com a implementação do programa voltado à qualidade do leite? Oreno Ardêmio Heineck – Começo a resposta fazendo justiça aos elos da cadeia do leite gaúcho: todos buscam fazer sua parte com a maior

qualidade possível. Isso, contudo, não é suficiente. Há a necessidade de implantar metodologias e processos padrões, levando a qualidade do leite e derivados para os indicadores dos normativos nacionais e internacionais. E aí mostrar ao onsumidor que mercado e ao consumidor o é só intrínsea qualidade não ca, mas também ém oficialmente reconhecida. Reflete-se eflete-se no aumento de vendas, endas, de renda para todos. Uma a cadeia leiteira moderna e perenizada. renizada.

Importante te termos cada vez mais união, rmos em trabalharmos conjunto, mente aberta udanças. para mudanças.

Diretor-executivo do IGL Oreno Ardêmio Heineck

Aumentar o número de derivados do leite é uma opção? Heineck – Sim. Temos cerca de 50 derivados lácteos.

Países com cadeias leiteiras desenvolvidas têm cerca de 350. Por que isso? Focam o consumidor. Com isso têm cada vez mais derivados que atendam a nichos de mercado, a gostos diferenciados. São produtos de venda crescente e com elevado valor agregado. Outros segmentos industriais trabalham assim (automotivo e moda, por exemplo). Com tecnologia, dinamismo na criação de novos produtos e sabendo o que o consumidor quer, as vendas se mantêm e crescem.


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Como conquistar novos mercados e o exterior? Heineck – Implementar e divulgar programas oficiais de qualificação da cadeia leiteira, produzir com foco em nichos de mercado, destacar os valores nutricionais do leite e derivados, contrapondo alguns profissionais que induzem as pessoas a não consumir um alimento dos mais completos. O mercado mais à mão é o nacional com uma elasticidade de expansão mínima de 20%. Paralelamente, temos que nos especializar para exportar nossos excedentes. Quais as ações previstas para 2016? Heineck – Programas focados na qualidade beneficiando produtores, transportadores e indústria. Nessa, atenção especial às de pequeno porte e às familiares. Implantação de selos de qualidade, de denominação de origem e de indicação de procedência. Campanha de divulgação do leite gaúcho e de suas qualidades. Conhecer e ouvir projetos regionais na cadeia do leite. Gradual padronização de procedimentos dentro da Lei do Prodeleite/ RS. Projetos estruturantes nas

sintonia com nossas 35 entidades associadas.

O mercado mais à mão é o nacional com uma elasticidade de expansão mínima de 20%. Paralelamente, temos que nos especializar para exportar nossos excedentes

áreas da genética, qualidade do leite e de saneamento quanto à tuberculose e brucelose bovina. Presença crescente junto aos órgãos técnicos e às esferas decisórias em Brasília. Trabalhar cada vez mais em

Qual a forma de “salvar” o pequeno produtor, fomentar a gestão e a qualidade no processo produtivo? Heineck – Precisamos ter o convencimento de que ele é importante, assim como sua permanência na atividade. Importante para ele, para os municípios e para o estado. A visão do IGL é includente, trabalhando, por meio das entidades para incluir o maior número de produtores num processo qualificado e rentável de produção. Nos quadros do IGL, temos Fetag, Fetraf e Coceargs que representam mais de 95% dos produtores de leite. Nossa vice-presidência é ocupada pelo presidente da Fetag. O estado tem elevado índice de cooperativas que exercem importante papel includente. Dessa forma, juntos, focados e unidos, levar programas de qualificação, boas práticas agropecuárias para a grande base de produtores. E apoiar a indústria para que venda cada vez mais. A criação de condomínios como este da Dália Alimentos é

uma saída viável? Heineck – É uma das grandes saídas. Por meio deles, justamente se traz dezenas, centenas de pequenos produtores, dos quais muitos talvez abandonariam a atividade para um processo qualificado e rentável de produção. Mas, acima de tudo, com qualidade de vida. A atividade leiteira é das que mais exigem assiduidade, poucas folgas aos produtores. Os condomínios também ajudam muito nesse sentido. Considerações finais Heineck – A trilogia do Programa e do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do RS – Prodeleite/RS e Fundoleite/RS, mais o IGL, dotam o segmento gaúcho de uma estrutura equivalente às modernas cadeias produtivas leiteiras mundiais. Há muito, mas muito a fazer mesmo. Estamos atrasados. Importante termos cada vez união, trabalharmos em conjunto, mente aberta para mudanças. A cadeia produtiva do leite gaúcha tem um potencial fantástico, está bem estruturada e tem desenhado como fazer as coisas.

Entrevista feita por e-mail


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CAPA

Embora o espaço para o cultivo de milho tenha reduzido quase 10% neste ciclo, a produção deve se aproximar da colhida na safra passada. O aumento das exportações eleva o preço e ajusta a oferta do grão no mercado. Especialistas projetam risco de desabastecimento para o segundo semestre. Situação coloca em risco as cadeias de suínos, aves e leite. Custos com ração disparam.

Área diminuiu. E

Produtividade aumentou

spaço destinado ao milho nas lavouras gaúchas caiu 50,3% de 1970 a 2015, mas produtividade cresceu 374,8% no mesmo período. A Emater estima recuo de 9,7% em relação a 2014. Na maioria das áreas, o cereal é substituído pela soja, devido ao preço, maior resistência às intempéries e por ser aceito como moeda de troca na compra de equipamentos e insumos. O cultivo é considerado arriscado para quem não tem sistema de irrigação, pois o grão é

Cabe ao produtor monitorar as pragas e torcer para as condições meteorológicas se manterem assim. Cláudio Dóro, engenheiro agrônomo

exigente em umidade, além do custo por hectare ser em torno de 50% maior do que o da soja. No entanto, quem decidiu apostar na cultura agora é recompensado com preço em alta e boa produtividade devido à alta do dólar e das exportações e também à atuação do El Niño. A produção gaúcha pode chegar a 5,5 milhões de toneladas, muito próxima as 5,6 milhões de toneladas da safra passada. Conforme o último boletim da Emater, o desenvolvimento das espigas e a formação dos grãos indicam possibilidade de altas

produtividades nos mais de 780 mil hectares cultivados no estado. De acordo com a entidade, a saca de 60 quilos no ano passado era negociada, em média, a R$ 26. Neste mês, alcançou R$ 31, com perspectiva de chegar a R$ 40 nos próximos meses. As primeiras lavouras começaram a ser colhidas há duas semanas nos vales do Taquari e Rio Pardo e na Região Noroeste. Em termos de produtividade, a média varia entre 7 mil e 8,4 mil quilos por hectare. Cláudio Dóro, engenheiro


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agrônomo da Emater em Passo Fundo, destaca a ocorrência do El Niño como benéfica. Trouxe chuva abundante aliado às altas temperaturas e bons períodos de sol. “Cabe ao produtor monitorar as pragas e torcer para as condições meteorológicas se manterem assim. A produtividade pode chegar a sete mil quilos.” Um dos motivos para o crescimento da área ocupada com soja é o custo por hectare. “O cultivo de milho exige cerca de R$ 2,2 mil por hectare, enquanto o da soja, R$ 1,4 mil.” No entanto, Dóro alerta para as consequências. A falta de rotação de culturas deixa o solo com pouca matéria orgânica e isso terá impacto direto na produtividade da próxima safra de soja. Para Cláudio de Jesus, presidente da Associação de Produtores de Milho (Apromilho-RS), o ideal é que haja políticas públicas para incentivar a produção. Um começo poderia ser a oferta de melhor condições de seguro, pois o produtor precisa de proteção. Cita que diversos estados reduziram o plantio de milho de primeira safra, entre eles, os maiores produtores, como Minas Gerais (-6,0%), RS (-14,6%) e Paraná (-21,3%).

Mesmo com a área menor, acredita em uma safra com volume maior ao do ano passado. A entidade projeta rendimento médio de 117 sacas por hectare. “Quem não plantou milho perdeu uma boa chance de ganhar dinheiro neste ciclo.” Destaca que devido à demanda mundial aliada à alta do dólar, o preço se mantém elevado e gera excelente lucro ao produtor.

Quem não plantou milho perdeu uma boa chance de ganhar dinheiro neste ciclo Cláudio de Jesus, presidente da Apromilho

Alerta na indústria A diminuição da oferta de milho impactará diretamente nas indústrias de aves, suínos e frangos, que têm no grão a base para a alimentação. Segundo estimativa da Emater, a demanda chega a seis milhões de toneladas. Para complementar, a saída será importar o cereal do Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o frete e o óleo diesel mais caros, o processo produtivo será mais oneroso e refletirá em preços mais elevados dos produtos nos supermercados. De acordo com Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Produtos Suínos do Estado (Sips), mesmo com o aumento da produtividade nos últimos anos, a oferta é insufi-

ciente. Até o surgimento dos milhos OGMs (transgênicos), havia condições de importar da Argentina, o que se inviabilizou pelas restrições estabelecidas. “Pela falta do cereal, perdemos a competitividade, em especial, das cadeias de aves e suínos.” Para Kerber, a diferença de custo entre o RS e outros estados obriga os setores de produção (que têm no milho insumo básico) a ser mais eficientes e buscar aumentar as vendas no mercado exterior para manter as margens de lucro. “O bom status sanitário favorece este cenário. Mas em compensação, com alta nas exportações, eleva o preço desses produtos no mercado interno.”


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Preço da carne aumenta

Após a carne bovina registrar aumento superior a 60% em dois anos nos supermercados gaúchos, chega a vez de frangos e suínos passarem por reajuste. De acordo com projeção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), ambas devem encarecer em cerca de 15% nos próximos dias. A variação decorre de altas no custo de produção. As cotações do milho e do farelo de soja, por exemplo, dispararam em diversas regiões do Sul e Sudeste do país nas últimas semanas, motivadas pela escassez

dos cereais e pela crescente nas exportações. No caso do milho, principal integrante na confecção de rações, o preço da saca subiu 14% apenas neste ano na praça de referência de Campinas, em São Paulo, passando a R$ 42. Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em comparação ao mesmo período do ano passado, a saca de milho encareceu mais de 50%,. A condição deixa líderes do setor apreensivos. Para o presidente-executivo da ABPA, Francisco Turra, a primeira safra é insuficien-

te para atender a demanda interna, ainda mais com as exportações aquecidas, o que deve resultar em novos aumentos. “A escassez de produto disponível e o custo do transporte para trazê-lo do Centro-Oeste criam dificuldades até para manter os mesmo níveis de produção na avicultura e na suinocultura, que estão gradativamente sendo reduzidos.” Ele defende a intervenção do governo para travar novos reajustes. A entidade sugere leilões do estoque público e incentivo aos produtores para o plantio da chamada “sa-

frinha”, visto as lavouras de milho perderem espaço para a valorizada soja. Uma das peculiaridades do RS é que a demanda interna supera a oferta. Como o estado produz abaixo do próprio consumo, com déficit de até dois milhões de toneladas, o milho precisa vir de outras regiões do país, o que gera custos extras com frete. Nas próximas semanas, o cereal deve começar a ser importado de países vizinhos, como Paraguai e Argentina, em virtude da projeção de dificuldades na chamada safrinha. GIOVANE WEBER

A escassez de produto disponível e o custo do transporte para trazê-lo do Centro-Oeste criam dificuldades até para manter a produção na avicultura e na suinocultura[...] Francisco Turra, presidente da ABPA

Exportações em alta Com a valorização do dólar no segundo semestre do ano passado, os setores de grãos e carnes ampliaram as negociações com o mercado externo. Mas o que resulta em euforia para a indústria acaba em transtorno ao consumidor brasileiro.

A maior demanda eleva os preços no país. Exemplo disso ocorreu com a carne bovina, que retomou vendas a países como Argentina e Estados Unidos no ano passado. Como a produção brasileira manteve patamares semelhantes, o produto en-

careceu de modo geral. Em 12 meses, conforme índice de preços do Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), o incrementou chega a 28% no RS. Condição semelhante ocorreu com a carne suína. De acordo com levantamen-

to da ABPA, as exportações acumularam crescimento de 9,7% no último ano, em comparativo a 2014. A Rússia lidera as compras do Brasil, com 44,6% das negociações. A carne de frango teve crescimento de 5,76% nas vendas para o exterior.


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“Muitos vão quebrar” As criações de suínos e frangos são uns dos carros-chefes da economia de Santa Catarina. Em 90 dias, a saca de milho subiu de R$ 27 para R$ 42, um aumento de mais de 50%. Conforme o presidente da Organização das Cooperativas de SC (Ocesc), Marcos Antônio Zordan, foi encaminhado pedido ao governo federal para que seja feita a abertura de leilões para a venda do grão e promover a transferência dos estoques da Região Centro-Oeste para a Sul. Pede-se também a concessão de subsídio de R$ 10 por saca transportada para o estado a ser deduzida dos créditos de PIS e Cofins que as indústrias da carne têm junto à Receita Federal. Hoje, a produção de milho em Santa Catarina gira em torno de 2,5 milhões de toneladas ao ano. Desse total, 40% é transformado em silagem para o gado de leite. Com o abate de mais de um bilhão de aves e 12 milhões de suínos ao ano, o estado precisa importar mais

de 3,5 milhões de toneladas de milho, o que o coloca como o maior comprador do grão dentro do país. De acordo com o presidente da cooperativa Aurora, Mário Lanznaster, a alta dos insumos, como ração e medicamentos importados, reduziu os ganhos da indústria. Mas parte da perda foi compensada com o aumento das exportações, que foram recorde no ano passado. Em 2015, o Brasil vendeu 555 mil toneladas de carne suína para outros países, com aumento de 9,7% em relação a 2014. Destacou que a cooperativa conta com um estoque de milho para os próximos 60 dias, mas enfatizou que é preciso estancar rapidamente essa crise do milho, caso contrário, milhares de produtores e muitas agroindústrias de pequeno e médio porte fecharão as portas, provocando milhares de desempregos na cidade e nova onda de êxodo rural no campo. “Muitos vão quebrar. É um tsunami que nós estamos

É um tsunami que nós estamos enfrentando. Mário Lanznaster, presidente da Cooperativa Aurora

enfrentando.”, alertou Lanznaster. Uma boa notícia para o setor foi o início das vendas para a China nos últimos meses, além da liberação recente das exportações de Santa Catarina para a Coreia do Sul. “É positivo sim. Mas esse mercado tem que ser conquistado. Tanto a China quanto a Coreia já têm quem as abastece. Eles vão vir aqui, vão visitar o nosso Ministério da Agricultura, vão visitar as agroindústrias, visitar os produtores. Aí, você passa a conquistar os clientes de lá que queiram comprar. Não é da noite para o dia, com certeza”, esclarece Folador. A Rússia foi o país que mais comprou carne de porco do Brasil no ano passado, com quase metade das exportações.


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Margem negativa

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“Está difícil se manter na atividade” O produtor Martin Müller, de Teutônia, cria frangos (23 mil animais por lote) e vacas leiteiras (175 litros por dia). A margem de lucro reduziu de uns tempos para cá. O vilão é o preço da ração. “O quilo está cotado em R$ 1,08. Pelo litro de leite, recebo apenas R$ 0,87. O jeito foi reduzir em 50% a quantidade tratada às vacas.” Por mês, o consumo chegava a dois mil quilos, divididos entre 16 animais. Com apenas 12 hectares, três desses com pastagem permanente, destina todo milho para silagem. “Além do custo elevado

dos insumos, não há local adequado para armazenar o grão. Produzir a própria ração também é inviável. Está difícil o produtor se manter na atividade.” Müller retornou à propriedade em 1988, após trabalhar de empregado em uma cooperativa da cidade. No caso dos frangos, o aumento do valor da ração não interfere nas contas, pois são criados no modelo de integração. O criador entra com instalações e mão de obra. “Recebo R$ 0,53 por ave. Quando este custo aumenta, quem paga é o consumidor final.” GIOVANE WEBER

Os criadores independentes registram salto negativo após a disparada do preço do milho. Conforme o presidente da Acsurs, Valdecir Folador, a situação pode comprometer toda cadeia produtiva e muitos empregos. Segundo ele, o preço da saca de 60 quilos está orçado em R$ 47, colocado na granja em Santa Catarina. O custo de produção está acima do valor pago pelo quilo do suíno. “O quilo do grão chega a R$ 3,40 e o preço de venda apenas R$ 3,10.” Em janeiro de 2015, a situação era mais confortável. A saca de milho estava cotada a R$ 24, 60, o custo só suíno em R$ 2,90 e o valor recebido era de R$ 3,88, de acor-

do com dados da entidade. Além do milho, outros itens tiveram reajuste como a energia elétrica, diesel e impostos. Folador alerta para possível escassez de milho no estado devido à alta nas exportações. Acredita que a liberação dos estoques da Conab não soluciona o problema, apenas ameniza. “Seis mil quilos por produtor é pouco na venda a balcão e o preço chega a R$ 36,60 a saca.” Projeta um trimestre bastante complicado para o setor com preços em queda, menor consumo devido à alta da inflação, menor poder aquisitivo, período de Carnaval e compras de material escolar.

Governo anuncia leilões O Ministério da Agricultura lançará edital para vender 500 mil toneladas de milho estocado na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para tentar conter o forte aumento dos preços no mercado doméstico. Os lotes a serem negociados virão, primeiro, de estoques da Conab em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e RS. O primeiro leilão, de 150 mil toneladas, ocorre no dia 1º de fevereiro. O consumo gaúcho de milho gira em torno de 120 mil toneladas por semana. O consultor Carlos Cogo lembra que o estoque oficial total de milho, de cerca de 1,5 milhão de toneladas, atende a menos de 3% da demanda doméstica, o que limita a capacidade do governo de interferir. “Pode dar uma tranquilizada, mas não por muito tempo. Os preços subiram muito e a situação é

apertada.” Para ele, o ritmo de embarques tende a cair com a entrada da safra de soja que ainda está no início da colheita. Com isso, os exportadores devem dar prioridade à oleaginosa, que tem maior liquidez. Assim, os negócios com milho devem ser direcionados para o mercado interno, atendendo a avicultura e suinocultura. No entanto, quem depende de milho deve ver pelo menos mais 7,5 milhões de toneladas serem embarcadas ao mercado externo até fevereiro. “A atuação do governo é conveniente, mas é uma gota no oceano. Antes da safra nova, não tem como aliviar a situação. A safra que vem também não resolve, mas dá um alívio. Se a produção de verão no Paraná não tiver problemas, ajuda. Depois vem a safrinha de Mato Grosso”, diz.


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Na propriedade de Müller, em Estrela, a produtividade média nos 30 hectares cultivados deve chegar a 150 sacas por hectare neste ciclo

Bons resultados na lavoura Quem decidiu cultivar o grão é recompensado com bons preços e alta produtividade. É o caso do agricultor Waldirio Beudler, de Linha Wink, em Teutônia, que semeará 20 hectares de milho em duas etapas (safra e safrinha). Com o tempo bom, investiu em adubação, variedades mais resistentes e alta tecnologia. A média das primeiras lavouras

colhidas alcança 120 sacas por hectare. “O excesso de umidade causou ferrugem e isso prejudicou em parte o enchimento das espigas. Mesmo assim, a rentabilidade está boa.” Em comparação à safra anterior, o preço da saca de 60 quilos aumentou 34% e é vendida a R$ 35. O produtor Carlos Müller, de Estrela, se arrepende por não

ter aumentado a área destinada ao cereal. “Tivemos chuva em abundância, altas temperaturas e dias de sol, ideal para a cultura. Perdi a chance de ganhar dinheiro.” Enquanto destinou 250 hectares para a soja, o milho ocupou apenas 30 hectares, cuja produtividade deve chegar a 150 sacas por hectare. Conforme dados da Emater

Regional de Lajeado, neste primeiro ciclo, foram cultivados 34.820 mil hectares destinados para produção de grãos, cuja estimativa de rendimento está projetada em 5.214 quilos por hectare. Outros 40,6 mil hectares foram cultivados para fazer silagem. Segundo o técnico regional da Emater de Lajeado na área de Organização Econômica, Alano Tonin, a ocorrência do El Niño favoreceu o cultivo. “Tivemos apenas problemas pontuais. Alguns produtores precisaram repor adubo e ureia ou até replantar pequenas áreas.” As altas temperaturas e menores índices de chuva devem influenciar pouco no resultado, pois a maioria está em fase final de enchimento de grãos. Caso a previsão de volumes baixos de chuva até a primeira quinzena de fevereiro se confirme, algumas áreas podem registrar perdas localizadas. “Não pode faltar umidade entre as fases de florescimento e pendoamento. Com as boas precipitações, as plantas fixaram as raízes na superfície. Com os dias de calor, logo sofrem.”


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“Plantei por teimosia” Arcenio Messer, de Teutônia, destinou 21 hectares para o grão nesta safra. Com um rebanho leiteiro de 42 vacas, parte é destinada para silagem. O restante é colhido em forma de grão. O baixo preço pago em 2015 desanimou o produtor. “Pagaram R$ 16 a saca. Ainda tenho 1,5 mil sacos estocados e pretendo vender agora. Plantei por teimosia, pois se fosse analisar o custo dos insumos, previsão do tempo e de preço na época de semeadura, teria apostado na soja.” Cada hectare cultivado está orçado em R$ 3 mil. Para compensar o custo, estima ser necessário colher 85 sacas. A projeção é de

alcançar até sete mil quilos. A ausência de chuvas nos últimos 20 dias preocupa, pois 35% da lavoura está em pendoamento ou na fase final de enchimento de grãos. A safra das primeiras áreas deve começar em fevereiro. O grão é vendido para uma cooperativa. Sem espaço para armazenar o grão na propriedade e fazer a própria ração, compra o insumo pronto. Destaca o aumento de até 20% nos últimos seis meses. “Deveriam beneficiar a matéria-prima e não exportar. Depois quando falta compram de outros e nós pagamos caro por isso. Nosso lucro é cada vez menor.”

Oportunidade de emprego Evandro Lenhart, de Colinas, deixou o emprego na cidade e voltou para trabalhar no campo. Com experiência na operação de trator e caminhão, atua como prestador

EM 1970

de serviços para um produtor de Estrela. Recebe R$ 10 por hora. Na safra passada, foram 75 dias de trabalho nas colheitas de milho e soja e produção de

EM 2015

Área

Área

1.737 hectares

863,6 mil hectares

silagem. “Está cada vez mais escassa a mão de obra qualificada. A remuneração é boa.” Nos próximos meses, após a safra de verão, pretende fazer um curso para operar colheitadeira.

PROJEÇÃO PARA 2016 Área: 779,5 mil hectares Queda de 9,7% na área

Produção

Produção

2.386 milhões

5.633 milhões

toneladas

toneladas

Produtividade

Produtividade

1.374 quilos

6.524 quilos

cultivada em relação a 2015 Produção 5,5 milhões toneladas Produtividade: 7 mil quilos Fonte – Emater

Em tempo A abertura oficial da colheita será no dia 4 de fevereiro, na propriedade da família Costa Beber, em Condor (RS). Neste ano, o tema será o pós-colheita, com destaque para secagem e armazenamento dos grãos.


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GIOVANE WEBER

“País pode ter falta de milho” O mercado brasileiro pode enfrentar nova escassez de milho no segundo semestre de 2016, com possibilidade de importar alguns volumes dos Estados Unidos e da Argentina, em função de uma safra praticamente estável e de mais uma temporada com fortes exportações, projeta a consultoria Agroconsult. A empresa reduziu a previsão para a safra total do cereal no país em 2015/16 para 85,6 milhões de toneladas, ante previsão anterior de 88,5 milhões. Se confirmado, o volume será recorde, mas apenas 1% superior ao volume colhido em 2014/15. Ao mesmo tempo, o Brasil deverá terminar o ano comercial 2015/16 (de fevereiro a janeiro), referente aos grãos colhidos no ano safra 2014/15, com embarques recordes, de cerca de 34 milhões de toneladas, estima a Agroconsult. Com o real desvalorizado ante o dólar, a competitividade do grão brasileiro no exterior deverá se manter ao longo de 2016, estimulando as exportações e enxugando o mercado doméstico inclusive no segundo semestre, quando

é colhida a segunda – e principal – safra de milho do país. A Agroconsult projeta que as exportações de milho do Brasil no novo ano comercial poderão ficar entre 30,5 milhões e 31 milhões de toneladas. “A gente pode ter uma situação muito estranha. Podemos ter que revisar os números de exportação para baixo (pela indisponibilidade de produto) e eventualmente ter até que importar da Argentina ou dos Estados Unidos”, estimou o diretor da Agroconsult, André Pessôa. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Brasil vá chegar em 31 de janeiro com estoques de passagem de dez milhões de toneladas, um dos maiores dos últimos anos. Na avaliação de Pessôa, esse volume está mal distribuído no país e, em boa parte, nas mãos de produtores capitalizados que não têm interesse imediato em vender, podendo gerar escassez localizada em determinados meses do ano. “O fluxo não fecha em todos os lugares. Vai ficando muito curto esse estoque”, afirmou o analista.

Antecipar a compra A situação de escassez e de preços recordes já é um problema enfrentado por muitas empresas compradoras, que dependem do milho para a ração animal. Os preços de referência do milho no mercado à vista do Brasil bateram na semana passada a máxima histórica de 43,44 reais por saca de 60 kg, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa. Segundo Pessôa, a situação de mercado enxuto deverá se estender ao longo do ano, mesmo com uma nova grande safra do cereal, tudo em função dos grandes volumes a serem exportados. “Os grandes compradores têm que se antecipar (fechando contratos de entrega futura). O risco de desabastecimento no segundo semestre já entrou na agenda”, sugere.


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País recolhe 94% das embalagens de agrotóxicos. Programa criado em 2000 pela Afubra e SindiTabaco beneficia 130 mil produtores de fumo em 563 municípios do RS e SC. Após 15 anos, foram devolvidas 12,3 milhões de unidades. Dessas, 91% foram recicladas e o restante foi incinerado.

Referência em responsabilidade ambiental N ão há, no mundo, uma iniciativa de logística reversa de embalagens de defensivos agrícolas pós-consumo como no Brasil. De acordo com o presidente João Cesar Rando, do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), 94% das embalagens plásticas primárias (aquelas que entram em contato direto com o produto) são devolvidas pelos agricultores brasileiros nas mais de 400 unidades de recebimento em 25 estados e no Distrito Federal. Esses índices tornam o Brasil referência mundial nesse segmento, ao destinar corretamente um percentual mais significativo de embalagens plásticas do que os países que têm sistemas semelhantes. Segundo estudo setorial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o recolhimento chega a 76% na Alemanha, 73% no Canadá, 66% na França, 50% no Japão e 30% nos Estados Unidos. No Brasil, desde 2002, o artigo 53 do decreto 4.074 determinou que “usuários de agrotóxicos e afins devem efetuar a devolução das embalagens vazias e respectivas tampas aos estabelecimentos

comerciais em que foram adquiridos”. A legislação também prevê responsabilidades por parte dos canais de distribuição, dos produtores, das indústrias fabricantes e do poder público. Pioneiro, o Programa de Recebimento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos foi criado no ano 2000, antecedendo a legislação sobre o tema. Desenvolvido de forma itinerante pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) e empresas associadas, com o apoio da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), ob-

jetiva preservar o ambiente de possível contaminação por descarte inadequado de embalagens vazias e disseminação de resíduos de agrotóxicos, além de proteger a saúde e a segurança dos produtores de tabaco e familiares. O primeiro recolhimento ocorreu em 23 de outubro de 2002, em Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul. De lá para cá, 563 municípios do RS e Santa Catarina são atendidos pela coleta itinerante que percorre 2,3 mil pontos de recebimento nos dois estados. O programa beneficia 130 mil produtores de tabaco. Após 15 anos, mais de 12,3 milhões de embalagens foram recolhidas. Por serem pequenos agricultores diversificados, os fumicultores também têm a oportunidade de entregar as embalagens de produtos utilizados em outras culturas nas pequenas propriedades.

Novidade Após 15 anos, mais de 12,3 milhões de embalagens foram recolhidas João Cesar Rando, diretor-presidente do Inpev

Os registros passaram a ser feitos por um aplicativo. No momento da entrega, o cadastro do produtor é atualizado e ele recebe o comprovante de entrega das embalagens, com o registro da data e da quantidade de recipientes.

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Números da destinação • 415 unidades de recebimento • 113 centrais – 302 postos • 91% recicladas e 9% incineradas • 94% das embalagens plásticas recolhidas • Mais de 320 mil toneladas destinadas entre 2002 e 2014 • Previsão para 2015 – 45.500 mil toneladas • 25% é oriundo da Região Sul Fonte – inpEV

Ranking mundial 1º lugar – Brasil (94%) 2º lugar – Alemanha (76%) 3º lugar – Canadá (73%) Fonte – BNDS/inpEV

Uso de defensivos por cultura/hectare/quilos Maçã – 70

Algodão – 21

Batata-inglesa – 35

Citros – 21

Tomate – 28

Tabaco – 1,1

Fonte – ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP – Dados secundários Sindag e IBGE, 2012

Tríplice lavagem – passo a passo

1 2 3 4 5

Esvaziar totalmente o conteúdo no tanque do pulverizador Adicionar água limpa à embalagem até ¼ do seu volume. Repetir a operação até três vezes

Tampar bem e agitar por 30 segundos

Despejar a água no pulverizador

Inutilizar a embalagem fazendo perfurações no fundo

Utilize sempre o Equipamento de Proteção Individual (EPI)



O cultivo de uva em área coberta ganha espaço na região. Protegida das mudanças meteorológicas, há redução no uso de agrotóxicos e aumento do valor da fruta no mercado. Safra registra perdas de até 80% devido às intempéries.

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Recurso garante produção com menos uso de agrotóxico

L

onge do vento, granizo, geada e da maioria dos problemas provocados pelo tempo, a uva cultivada em área coberta garante maior segurança para os viticultores. Em uma safra como esta, com muitos estragos provocados principalmente pelos vendavais, a proteção da videira é ainda mais essencial e ajuda a manter os lucros. A técnica consiste em usar uma cobertura em todo o parreiral. As uvas ficam protegidas como em uma estufa. Uma estrutura de madeira sustenta telas ao redor da plantação. No chão, há a vegetação nativa e em pontos estratégicos são colocadas armadilhas para os insetos. Toda área é irrigada. Todas as ações protegem o parreiral do excesso de chuva, do granizo, do sol, de doenças e até da poluição. Além disso, propiciam a redução considerável no uso de agrotóxicos. O custo é de R$ 80 mil por hectare. A técnica garantiu a Celson Kohlrausch, de Linha Bastos, em Marques de Souza, uma qualidade invejável nos parreirais, além de um aumento significativo do preço. “A uva é diferente e saborosa. O consumidor sente que é um produto diferenciado e que vale a pena pagar mais por isso.” Há 15 meses, cultiva 12 variedades de uvas de mesa (itália, rubi e sem sementes, as principais), em ambiente protegido. Colheu a primeira safra em dezembro, ao preço médio de R$ 7 o quilo. Enquanto os demais produtores registraram perdas de até 80% nos parreirais, Kohlrausch não teve problemas com as adversidades meteorológicas e colheu frutas de excelente qualidade. Ele é um dos pioneiros no uso da técnica na região. “Não se

perde nada com geada, vendavais, granizo, excesso de chuva ou sol forte.” O terreno inclinado e arenoso favorece a filtração e o escoamento da água no terreno. A cada fileira de plantas, um plástico “furado” permite a entrada do sol e ajuda a liberar a umidade que fica no parreiral e causa o ataque de fungos. Em épocas de seca, o espaço recebe 20 mil litros de água.

Não se perde nada com geada, vendavais, granizo, excesso de chuva ou sol forte. Celson Kohlrausch, produtor


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Queda na produtividade

GIOVANE WEBER

A safra de uva foi afetada pelas condições meteorológicas adversas. Cachos têm tamanho cinco vezes menor em relação ao normal. Em alguns pomares, as perdas alcançam até 80%. Conforme o técnico em Fruticultura da Emater Regional de Lajeado, Derli Bonine, neste ciclo houve insuficiência de frio nos meses de junho e julho. Em agosto, as altas temperaturas estimularam a formação de brotos, afetados pelo granizo e geada registrados em setembro. Aliado a isso, o excesso de umidade impediu o produtor de efetuar os tratamentos fitossanitários. A antracnose e principalmente o míldio são constantes nos vinhedos. De modo geral, há redução de 30% na produção inicialmente prevista. Devido à pouca oferta, o preço se mantém em alta. A uva comercializada na Ceasa ou em mercados da região está cotada em R$ 3 o quilo. Neste mês, iniciou a colheita das frutas desti-

nadas para a fabricação de suco e vinho na região alta do Vale do Taquari, onde está concentrada a maior área de parreirais. Entre as dificuldades, Bonine destaca a falta de mão de obra e o envelhecimento dos agricultores. A situação influencia na redução da área cultivada em algumas cidades, como em Dois Lajeados, maior produtor de uvas da região. “Desde 2010 a área caiu de 800 hectares para 560.” Segundo Olir Schiavenin, vice-coordenador da Comissão Interestadual da Uva, o pico da safra no estado ocorre da segunda metade deste mês até o fim de fevereiro, de acordo com a região de cultivo e a variedade. Relata que o contratempo neste ciclo foi o El Niño, que provocou perdas consideráveis pelo excesso de umidade, geada e granizo. Em algumas localidades na serra, os prejuízos passaram de 80%. A produção menor já fez aumentar o preço da fruta.

O quilo da uva isabel é vendido por R$ 0,78, valor 15% maior em relação à safra passada. A colheita gaúcha ficará entre 350 milhões e 400 milhões de quilos, metade do volume da última safra, 702 milhões de quilos. Moacir Mazzarollo, presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), também estima que a produção reduzirá em até 350 milhões de quilos devido às adversidades meteorológicas. O excesso de chuva na floração foi o maior fator de perda nesta safra.

Produção nos vales do Taquari e Caí Uva destinada à indústria 898 produtores 1.248 hectares 19,7 mil toneladas

Uva de mesa

Fruta valorizada

Há 15 meses, Kohlrausch cultiva 12 variedades de uvas de mesa em ambiente protegido. Safra com frutas de excelente qualidade foi finalizada em dezembro

Apesar da produção menor, a qualidade e o sabor agradam os consumidores da uva de mesa colhida pela família de Nadal, no interior de Muçum. Os primeiros cachos foram colhidos em novembro. “O calor e as chuvas anteciparam a retirada das frutas em um mês. O preço compensa a queda de 50%”, destaca Andreia. Cada quilo foi vendido por R$ 3,50. As últimas uvas serão colhidas nesta semana. Andreia conta que o trabalho exige paciência, para não comprometer a aparência dos cachos. “Quando corta, não pode pegar muito na mão porque tira o brilho. A uva fica feia e não vai ter presença na caixa quando chegar no mercado”, ensina. Os parreirais da variedade niagára rosa ocupam 2,5

hectares. Além da uva, a família cultiva bergamota em área de 1,5 hectare, das variedades montenegrina, pokan e caí. Por ano, produz 500 caixas de 20 quilos cada. A oferta menor de frutas também terá reflexos na Festa da Uva em Caxias do Sul. De acordo com o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Araí Horn, a meta é comprar 220 mil quilos, da variedade niágara, para distribuir de graça aos visitantes. “Devido às intempéries, a produtividade e a qualidade foram prejudicadas. Não ficaremos sem uva.” Em 2014, os produtores receberam R$ 1,60 pelo quilo durante o evento. Neste ano, o preço pode passar de R$ 2. A Festa da Uva ocorre entre 18 de fevereiro e 6 de março.

465 hectares 6,2 mil toneladas 231 produtores

Saiba mais A safra de 2015 foi 16% maior do que a anterior. O RS produziu 702,9 milhões de quilos. Desse total, 90% foi de variedades americanas e híbridas, utilizadas para a elaboração de vinho de mesa e suco. Os outros 10% foram de uvas viníferas para produção de vinhos finos e espumantes. Em 2014, a safra foi de pouco mais 606 milhões de quilos. Do volume processado, 55% foi destinado à elaboração de sucos (em litros, 190,9 milhões) e 45% para vinhos, resultando em 251 milhões de litros. Foram produzidos mais de 441,8 milhões de litros de bebidas derivadas da uva.



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