Especial do jornal A Hora
FEVEREIRO | 2017
SAFRA RECORDE. Preço em baixa Apesar da boa produtividade, quem apostou no cultivo de milho amarga prejuízos devido a queda no valor da saca. De R$ 56 em junho de 2016, caiu para apenas R$ 27,67 essa semana. Especialistas cobram linhas de crédito para estimular compras da indústria.
Circulação mensal
02
FEVEREIRO/2017
Editorial PREÇO DO FUMO
Informe
Agroeconômico INDICADORES
Variedade R$/kg
R$ /arroba
TO1
10,22
153,30
TO2
8,63
129,45
TO3
7,33
109,95
BO1
10,74
161,10
BO2
9,30
139,50
BO3
7,48
112,20
valor
atualização
CO1
10,31
154,65
Salário Mínimo
R$ 880,00
2016
CO2
9,06
135,90
TR
0,14%
11/16
CO3
109,65
CDI
1,04%
11/16
SELIC
14,25%
11/16
XO2
7,31 9,06 7,61
IPC-A
0,26%
11/16
XO3
6,24
93,60
XO1
135,90 114,15
PRODUTOS AGRÍCOLAS
Produto
Unidade
R$ mínimo
R$ médio
R$ máximo
Arroz em casca
50kg
47,00
48,48
52,00
Feijão
60kg
160,00
225,00
300,00
Milho
60kg
30,00
34,83
41,00
Soja
60kg
66,00
70,63
74,00
Trigo
60kg
28,00
28,70
30,00
Boi p/ abate
kg vivo
4,50
5,00
5,30
Cordeiro p/ abate
kg vivo
5,00
5,67
6,20
Suíno tipo carne
kg vivo
3,00
3,65
4,50
Vaca p/ abate
kg vivo
4,10
4,50
5,00
Leite (valor líquido)
litro
0,96
1,11
1,78
Economia comprometida
O
projeto de mudanças na legislação trabalhista apresentado pelo governo federal causa aflição entre todas as classes de trabalhadores, principalmente na agricultura familiar. De acordo com estudo do IPEA, em 71% das cidades brasileiras a receita oriunda da aposentadoria rural representa valor maior do que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). No Vale do Taquari existem em torno de 30 mil aposentados rurais, cuja movimentação financeira mensal chega a R$ 8 milhões. Entidades de classe, unidas à deputados e senadores, tentam manter o direito conquistado dos agricultores na Constituição em 1988. Enquanto nada é feito, o déficit do sistema alarga-se. Foi de R$ 24,5 bilhões em 2003 e chegou a R$ 85,8 bilhões em 2015. Não é correto usar este déficit
para justificar exageros, como prever o acesso ao benefício integral somente após 49 anos de contribuição. Outro ponto é incluir os agricultores nas regrais gerais e ainda prever uma contribuição obrigatória e individual ao Instituto Nacional do Seguro Social. Hoje cada produtor já contribui 2,1% sobre o valor bruto da venda de produção. A realidade de trabalho no campo é diferente e por sinal desconhecida do governo. Na atividade, 78% dos homens e 70% das mulheres começam a trabalhar antes dos 14 anos. Se a idade mínima saltar para 65 anos, significa que essas famílias terão de trabalhar por mais de 50 anos para receber o benefício – em 80% dos casos de apenas um salário mínimo. Não se trata de defesa a uma classe específica. Mas é preciso analisar cada categoria. Com
Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS
DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss
COORDENAÇÃO Giovane Weber
Diretor-geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor de Operações: Fabricio Almeida
PRODUÇÃO Giovane Weber
ARTE Gianini Oliveira e Fábio Costa
uma carga de trabalho superior a doze horas por dia, sem descanso semanal e exigência de grande esforço físico, sob a influência direto do clima (sol, chuva, frio e calor), a decisão de parar nem sempre é uma opção. Na maioria das vezes é por necessidade, desgaste ou doença. Ao ignorar as características do meio rural, o país corre três grandes riscos: agravar o êxodo no campo, a elementar produção de alimentos e, ainda, reduzir a contribuição hoje considerada insuficiente. Se as mudanças vingarem, a estimativa da Contag é de que 70% dos produtores familiares não terão condições de fazer as contribuições mensais e ficarão de fora do sistema. Ao que tudo indica essa é uma das muitas fórmulas prestes a serem colocadas em prática, infalíveis diante de um enorme desequilíbrio.
Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)
04
Queda no preço da saca de R$ 56 para R$ 27 impacta safra deste ano. Especialistas cobram linhas de crédito para estimular compra e projetam redução da área cultivada no próximo ciclo
FEVEREIRO/2017
Safra cheia derruba preço GIOVANE WEBER
D
epois da saca de 60 quilos atingir o valor de R$ 56 em junho de 2016 em Passo Fundo, o cenário atual frustra quem apostou na cultura. No auge da colheita no Rio Grande do Sul, o cereal está cotado a R$ 27,67. A família Jung, de Santa Clara do Sul, cultivou 80 hectares neste ciclo. Conforme Fernando a área só não foi maior por que em julho quando o cereal foi semeado, a previsão era de ocorrer uma estiagem em dezembro. Com 50% da área colhida, a produtividade por hectare varia entre 160 e 190 sacas. “É a melhor média da histó-
ria”, comemora. No entanto, o preço baixo desmotiva – oscila entre R$ 27,50 e R$ 30,75 a saca, dependendo da empresa compradora. “Temos um prejuízo de R$ 438 por hectare comparado ao ciclo anterior”, calcula. O custo por hectare chega a R$ 2,750 mil. Outra dificuldade é encontrar espaço nos silos instalados na região para armazenar parte do cereal e aguardar por uma melhor valorização. O recebimento do milho é feito com até 20% de umidade. O processo de secagem e estocagem não acompanha o ritmo da
colheita nas lavouras. A descapitalização das empresas que beneficiam o grão e destinam a matéria-prima para criações de frangos, suínos e gado leiteiro é mais um entrave. Devido a alta no ciclo passado, as indústrias não dispõem de crédito para fazer estoques. Segundo Jung , no Vale do Taquari, existe pouco mercado consumidor. “Se tivéssemos maior procura e concorrência, o preço com certeza seria melhor. Estamos nas mãos de duas ou três indústrias e estas ainda importam o cereal de outros estados ou países”, lamenta.
Crédito para estocar Conforme o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Estado (Apromilho), Cláudio de Jesus, a instabilidade desestimula o produtor. “Esse efeito gangorra pode resultar na diminuição da área no próximo ciclo”, alerta. Para manter uma margem de lucro satisfatória sugere um preço acima de R$ 35. O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, cobra linhas de crédito
para produtores e cooperativas efetuarem a compra. De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), Rogério Kerber, o produtor precisa avançar na venda antecipada do cereal. “Garante um valor mínimo e ajuda a evitar prejuízos em casos de safra recorde.” Na mesma linha de Pires, diz que é preciso oferecer crédito para as agroindústrias fazer estoques. Hoje a maioria está descapitalizada devido ao alto custo verificado no ano passado. O Ministro da Agricultura,
05
FEVEREIRO/2017
Blairo Maggi adiantou que nas próximas semanas serão lançadas opções de negociação pelo Banco Central e Ministério da Fazenda capazes de proteger o produtor das oscilações.
Foco na exportação Para o engenheiro agrônomo da Emater, Alencar Rugeri, o cenário atual ainda permite rendimento dentro da média. Isso devido a produtividade recorde por hectare. Nas áreas de sequeiro a produção varia
Venda antecipada Apesar de ser um dos principais produtores e exportadores de milho do mundo, o país fechou o ano passado com o maior volume importado da história, desde 1989, quando os números passaram a ser contabilizados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). De janeiro a dezembro, a entrada do grão chegou ao volume recorde de 2,901 milhões de tonela-
das, um incremento de 685% na comparação com o total importado em 2015. Segundo o consultor Carlos Cogo, o cenário foi provocado por problemas climáticos. A menor oferta levou a escassez no mercado interno e elevou as compras externas para abastecer a indústria. “Inflacionou o preço. A saca chegou a valer mais de R$ 60, o dobro da média histórica”, diz. Os maiores volumes foram importados da Argentina e Paraguai. Para este ciclo o cenário é o inverso. As boas condições climáticas favoreceram a cultura. Se confirmadas as projeções oficiais, o país deverá aumentar em 26,9% a produção de milho e limitar a importação. Para Cogo, o desafio é ampliar as exportações, já que o levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento, prevê volume de 84,5 milhões de toneladas para este ano, na soma da 1ª e 2ª safras de milho. Cogo afirma que com o recuo do preço interno, o milho importado deixará de ser atrativo. “Com a safra que teremos precisamos exportar mais. Os preços estão se ajustando à paridade de exportação. Já há indicação de R$ 15 por saca em Mato Grosso para julho”, informa. Entre a produção e estoque, deverá somar quase 100 milhões de toneladas. Como o consumo interno é de cerca de 56 milhões de toneladas, haveria excedente superior a 40 milhões de toneladas. E não tem como exportar tudo isso, adianta. Para complicar a equação, os brasileiros precisarão enfrentar a concorrência do milho argentino no mercado internacional. Com tudo isso, a tendência é de que a saca do grão fique dentro da média histórica, que é de R$ 30. “No Sul, estimamos entre R$ 28 e R$ 32 a saca”, projeta.
Regional de Lajeado (55 municípios) •Área plantada (ha) 35,3 mil hectares
•Produtividade (kg – ha) 4,9 mil quilos
•Produção (t) 176 mil
Estado •Área (ha) 805,6 mil hectares
•Produtividade (kg – ha) 6 mil quilos
•Produção (t) 4,8 milhões
Regional de Lajeado
Regularidade de chuvas, investimento em tecnologia e genética resultam em produtividade acima de 190 sacas por hectare neste ciclo. Oferta elevada faz preço reduzir em R$ 29 a saca entre julho de 2016 e fevereiro. Entidades estudam formas de amenizar prejuízos
entre 100 e 160 sacas. Em lavouras irrigadas a quantidade colhida por hectare supera as 250 sacas. Rugeri recomenda a venda antecipada e diz ser um grande aliado do produtor. “Reduz a dependência e dá estabilidade para quem aposta na cultura”, defende. Com os preços em baixa, a comercialização encontra-se travada, pois em vez de vender o milho a esse valor baixo, os produtores preferem colher a soja e planejar o plantio de inverno, retendo a safra até ocorrer uma melhor definição do mercado. No estado, dos 805 mil hectares semeados, em torno de 38% da área está colhida. Em relação ao milho para elaboração de silagem (cerca de 350 mil hectares no RS), a colheita segue para o seu término (70%), com rendimentos considerados muito bons (entre 35 e 40 t/ha), com ótima qualidade de produto final. A Emater Regional de Lajeado contabiliza uma área de 35,6 mil hectares cultivados para produção de milho (grão) nos 55 municípios abrangidos. Por hectare, a produtividade ultrapassa as 93 sacas. Para silagem, o cultivo ocupa 33,8 mil hectares, com produtividade superior a 31 t/ha de massa verde.
Silagem •Área (ha) : 56,4 mil •Produtividade (kg – ha): 35,2 mil •Produção (t): 1,9 milhão
Preços (saca de 60 quilos) R$ 37,60 R$ 32,97
R$ 32,70
R$ 33,55
Média – 2012 – 2016
Média de fevereiro de 2016
R$ 27,67
Até dia 10 de fevereiro de 2017
Janeiro de 2017
Ano anterior – 2016
Fonte – Emater
06
Cereal em troca de ração O produtor Felipe Dick, de Santa Clara do Sul, vai estocar a produção em silos da cooperativa para qual comercializa o leite. A média colhida por hectare chega a 140 sacas. Outra parte do milho semeado é destinado para confecção de silagem. Devido aos problemas climáticos no ciclo anterior, a produtividade foi menor e afetou a qualidade da silagem. A quantidade de milho em grão colhida e estocada não supriu
GIOVANE WEBER
FEVEREIRO/2017
o consumo do rebanho de 40 animais ao longo dos 12 meses. Com a escassez do cereal, o valor do quilo da ração passou de R$ 1. Enquanto isso o preço pago pelo litro de litro despencou para R$ 0,90. “Esperamos uma mudança no cenário. O valor do litro já subiu e com maior oferta de milho, a ração está mais barata”, expõe. Por dia são produzidos em torno de 700 litros.
Ampliação de silos Devido a grande oferta de grãos (milho, soja e trigo), nos Vales do Taquari e Rio Pardo, a Cooperativa Rural dos Vales (Cooperval), instalada em Cruzeiro do Sul, projeta ampliar a capacidade de armazenagem. Conforme o gerente da unidade, Alexandre Schneider, o limite de estocagem chega a 19 mil toneladas. Além do aumento da área cultivada, devido a boa valorização do milho e soja na última safra, a habilitação para estocar milho subsidiado pela Conab, tornam o investimento viável e necessário para atender a demanda regional. Além de novos silos, está prevista a compra de uma balança rodoviária, um depósito de insumos
agrícolas e a médio prazo a instalação de uma fábrica de rações para agregar valor à matéria-prima estocada e comprada dos 1,5 mil associados. Quanto ao preço da saca de milho, projeta novas quedas para os próximos meses. Essa semana a saca está cotada em R$ 27,50. São R$ 9 a menos comparado ao valor pago em fevereiro de 2016. “Se a safrinha do Mato Grosso e Paraná ficar dentro da média histórica, a cotação despenca ainda mais”, antecipa. Embora tenha oferta na região, segundo Schneider, muitas empresas optam em comprar o milho destas regiões devido ao baixo valor praticado.
Cooperativa possui capacidade de estocar 19 mil toneladas. Espaço é insuficiente para a demanda
FEVEREIRO/2017
07