AH - Agronotícias | 18 e 19 de fevereiro de 2017

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Especial do jornal A Hora

FEVEREIRO | 2017

SAFRA RECORDE. Preço em baixa Apesar da boa produtividade, quem apostou no cultivo de milho amarga prejuízos devido a queda no valor da saca. De R$ 56 em junho de 2016, caiu para apenas R$ 27,67 essa semana. Especialistas cobram linhas de crédito para estimular compras da indústria.

Circulação mensal


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FEVEREIRO/2017

Editorial PREÇO DO FUMO

Informe

Agroeconômico INDICADORES

Variedade R$/kg

R$ /arroba

TO1

10,22

153,30

TO2

8,63

129,45

TO3

7,33

109,95

BO1

10,74

161,10

BO2

9,30

139,50

BO3

7,48

112,20

valor

atualização

CO1

10,31

154,65

Salário Mínimo

R$ 880,00

2016

CO2

9,06

135,90

TR

0,14%

11/16

CO3

109,65

CDI

1,04%

11/16

SELIC

14,25%

11/16

XO2

7,31 9,06 7,61

IPC-A

0,26%

11/16

XO3

6,24

93,60

XO1

135,90 114,15

PRODUTOS AGRÍCOLAS

Produto

Unidade

R$ mínimo

R$ médio

R$ máximo

Arroz em casca

50kg

47,00

48,48

52,00

Feijão

60kg

160,00

225,00

300,00

Milho

60kg

30,00

34,83

41,00

Soja

60kg

66,00

70,63

74,00

Trigo

60kg

28,00

28,70

30,00

Boi p/ abate

kg vivo

4,50

5,00

5,30

Cordeiro p/ abate

kg vivo

5,00

5,67

6,20

Suíno tipo carne

kg vivo

3,00

3,65

4,50

Vaca p/ abate

kg vivo

4,10

4,50

5,00

Leite (valor líquido)

litro

0,96

1,11

1,78

Economia comprometida

O

projeto de mudanças na legislação trabalhista apresentado pelo governo federal causa aflição entre todas as classes de trabalhadores, principalmente na agricultura familiar. De acordo com estudo do IPEA, em 71% das cidades brasileiras a receita oriunda da aposentadoria rural representa valor maior do que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). No Vale do Taquari existem em torno de 30 mil aposentados rurais, cuja movimentação financeira mensal chega a R$ 8 milhões. Entidades de classe, unidas à deputados e senadores, tentam manter o direito conquistado dos agricultores na Constituição em 1988. Enquanto nada é feito, o déficit do sistema alarga-se. Foi de R$ 24,5 bilhões em 2003 e chegou a R$ 85,8 bilhões em 2015. Não é correto usar este déficit

para justificar exageros, como prever o acesso ao benefício integral somente após 49 anos de contribuição. Outro ponto é incluir os agricultores nas regrais gerais e ainda prever uma contribuição obrigatória e individual ao Instituto Nacional do Seguro Social. Hoje cada produtor já contribui 2,1% sobre o valor bruto da venda de produção. A realidade de trabalho no campo é diferente e por sinal desconhecida do governo. Na atividade, 78% dos homens e 70% das mulheres começam a trabalhar antes dos 14 anos. Se a idade mínima saltar para 65 anos, significa que essas famílias terão de trabalhar por mais de 50 anos para receber o benefício – em 80% dos casos de apenas um salário mínimo. Não se trata de defesa a uma classe específica. Mas é preciso analisar cada categoria. Com

Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS

DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss

COORDENAÇÃO Giovane Weber

Diretor-geral: Adair Weiss Diretor de Conteúdo: Fernando Weiss Diretor de Operações: Fabricio Almeida

PRODUÇÃO Giovane Weber

ARTE Gianini Oliveira e Fábio Costa

uma carga de trabalho superior a doze horas por dia, sem descanso semanal e exigência de grande esforço físico, sob a influência direto do clima (sol, chuva, frio e calor), a decisão de parar nem sempre é uma opção. Na maioria das vezes é por necessidade, desgaste ou doença. Ao ignorar as características do meio rural, o país corre três grandes riscos: agravar o êxodo no campo, a elementar produção de alimentos e, ainda, reduzir a contribuição hoje considerada insuficiente. Se as mudanças vingarem, a estimativa da Contag é de que 70% dos produtores familiares não terão condições de fazer as contribuições mensais e ficarão de fora do sistema. Ao que tudo indica essa é uma das muitas fórmulas prestes a serem colocadas em prática, infalíveis diante de um enorme desequilíbrio.

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)



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Queda no preço da saca de R$ 56 para R$ 27 impacta safra deste ano. Especialistas cobram linhas de crédito para estimular compra e projetam redução da área cultivada no próximo ciclo

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Safra cheia derruba preço GIOVANE WEBER

D

epois da saca de 60 quilos atingir o valor de R$ 56 em junho de 2016 em Passo Fundo, o cenário atual frustra quem apostou na cultura. No auge da colheita no Rio Grande do Sul, o cereal está cotado a R$ 27,67. A família Jung, de Santa Clara do Sul, cultivou 80 hectares neste ciclo. Conforme Fernando a área só não foi maior por que em julho quando o cereal foi semeado, a previsão era de ocorrer uma estiagem em dezembro. Com 50% da área colhida, a produtividade por hectare varia entre 160 e 190 sacas. “É a melhor média da histó-

ria”, comemora. No entanto, o preço baixo desmotiva – oscila entre R$ 27,50 e R$ 30,75 a saca, dependendo da empresa compradora. “Temos um prejuízo de R$ 438 por hectare comparado ao ciclo anterior”, calcula. O custo por hectare chega a R$ 2,750 mil. Outra dificuldade é encontrar espaço nos silos instalados na região para armazenar parte do cereal e aguardar por uma melhor valorização. O recebimento do milho é feito com até 20% de umidade. O processo de secagem e estocagem não acompanha o ritmo da

colheita nas lavouras. A descapitalização das empresas que beneficiam o grão e destinam a matéria-prima para criações de frangos, suínos e gado leiteiro é mais um entrave. Devido a alta no ciclo passado, as indústrias não dispõem de crédito para fazer estoques. Segundo Jung , no Vale do Taquari, existe pouco mercado consumidor. “Se tivéssemos maior procura e concorrência, o preço com certeza seria melhor. Estamos nas mãos de duas ou três indústrias e estas ainda importam o cereal de outros estados ou países”, lamenta.

Crédito para estocar Conforme o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Estado (Apromilho), Cláudio de Jesus, a instabilidade desestimula o produtor. “Esse efeito gangorra pode resultar na diminuição da área no próximo ciclo”, alerta. Para manter uma margem de lucro satisfatória sugere um preço acima de R$ 35. O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, cobra linhas de crédito

para produtores e cooperativas efetuarem a compra. De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), Rogério Kerber, o produtor precisa avançar na venda antecipada do cereal. “Garante um valor mínimo e ajuda a evitar prejuízos em casos de safra recorde.” Na mesma linha de Pires, diz que é preciso oferecer crédito para as agroindústrias fazer estoques. Hoje a maioria está descapitalizada devido ao alto custo verificado no ano passado. O Ministro da Agricultura,


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FEVEREIRO/2017

Blairo Maggi adiantou que nas próximas semanas serão lançadas opções de negociação pelo Banco Central e Ministério da Fazenda capazes de proteger o produtor das oscilações.

Foco na exportação Para o engenheiro agrônomo da Emater, Alencar Rugeri, o cenário atual ainda permite rendimento dentro da média. Isso devido a produtividade recorde por hectare. Nas áreas de sequeiro a produção varia

Venda antecipada Apesar de ser um dos principais produtores e exportadores de milho do mundo, o país fechou o ano passado com o maior volume importado da história, desde 1989, quando os números passaram a ser contabilizados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). De janeiro a dezembro, a entrada do grão chegou ao volume recorde de 2,901 milhões de tonela-

das, um incremento de 685% na comparação com o total importado em 2015. Segundo o consultor Carlos Cogo, o cenário foi provocado por problemas climáticos. A menor oferta levou a escassez no mercado interno e elevou as compras externas para abastecer a indústria. “Inflacionou o preço. A saca chegou a valer mais de R$ 60, o dobro da média histórica”, diz. Os maiores volumes foram importados da Argentina e Paraguai. Para este ciclo o cenário é o inverso. As boas condições climáticas favoreceram a cultura. Se confirmadas as projeções oficiais, o país deverá aumentar em 26,9% a produção de milho e limitar a importação. Para Cogo, o desafio é ampliar as exportações, já que o levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento, prevê volume de 84,5 milhões de toneladas para este ano, na soma da 1ª e 2ª safras de milho. Cogo afirma que com o recuo do preço interno, o milho importado deixará de ser atrativo. “Com a safra que teremos precisamos exportar mais. Os preços estão se ajustando à paridade de exportação. Já há indicação de R$ 15 por saca em Mato Grosso para julho”, informa. Entre a produção e estoque, deverá somar quase 100 milhões de toneladas. Como o consumo interno é de cerca de 56 milhões de toneladas, haveria excedente superior a 40 milhões de toneladas. E não tem como exportar tudo isso, adianta. Para complicar a equação, os brasileiros precisarão enfrentar a concorrência do milho argentino no mercado internacional. Com tudo isso, a tendência é de que a saca do grão fique dentro da média histórica, que é de R$ 30. “No Sul, estimamos entre R$ 28 e R$ 32 a saca”, projeta.

Regional de Lajeado (55 municípios) •Área plantada (ha) 35,3 mil hectares

•Produtividade (kg – ha) 4,9 mil quilos

•Produção (t) 176 mil

Estado •Área (ha) 805,6 mil hectares

•Produtividade (kg – ha) 6 mil quilos

•Produção (t) 4,8 milhões

Regional de Lajeado

Regularidade de chuvas, investimento em tecnologia e genética resultam em produtividade acima de 190 sacas por hectare neste ciclo. Oferta elevada faz preço reduzir em R$ 29 a saca entre julho de 2016 e fevereiro. Entidades estudam formas de amenizar prejuízos

entre 100 e 160 sacas. Em lavouras irrigadas a quantidade colhida por hectare supera as 250 sacas. Rugeri recomenda a venda antecipada e diz ser um grande aliado do produtor. “Reduz a dependência e dá estabilidade para quem aposta na cultura”, defende. Com os preços em baixa, a comercialização encontra-se travada, pois em vez de vender o milho a esse valor baixo, os produtores preferem colher a soja e planejar o plantio de inverno, retendo a safra até ocorrer uma melhor definição do mercado. No estado, dos 805 mil hectares semeados, em torno de 38% da área está colhida. Em relação ao milho para elaboração de silagem (cerca de 350 mil hectares no RS), a colheita segue para o seu término (70%), com rendimentos considerados muito bons (entre 35 e 40 t/ha), com ótima qualidade de produto final. A Emater Regional de Lajeado contabiliza uma área de 35,6 mil hectares cultivados para produção de milho (grão) nos 55 municípios abrangidos. Por hectare, a produtividade ultrapassa as 93 sacas. Para silagem, o cultivo ocupa 33,8 mil hectares, com produtividade superior a 31 t/ha de massa verde.

Silagem •Área (ha) : 56,4 mil •Produtividade (kg – ha): 35,2 mil •Produção (t): 1,9 milhão

Preços (saca de 60 quilos) R$ 37,60 R$ 32,97

R$ 32,70

R$ 33,55

Média – 2012 – 2016

Média de fevereiro de 2016

R$ 27,67

Até dia 10 de fevereiro de 2017

Janeiro de 2017

Ano anterior – 2016

Fonte – Emater


06

Cereal em troca de ração O produtor Felipe Dick, de Santa Clara do Sul, vai estocar a produção em silos da cooperativa para qual comercializa o leite. A média colhida por hectare chega a 140 sacas. Outra parte do milho semeado é destinado para confecção de silagem. Devido aos problemas climáticos no ciclo anterior, a produtividade foi menor e afetou a qualidade da silagem. A quantidade de milho em grão colhida e estocada não supriu

GIOVANE WEBER

FEVEREIRO/2017

o consumo do rebanho de 40 animais ao longo dos 12 meses. Com a escassez do cereal, o valor do quilo da ração passou de R$ 1. Enquanto isso o preço pago pelo litro de litro despencou para R$ 0,90. “Esperamos uma mudança no cenário. O valor do litro já subiu e com maior oferta de milho, a ração está mais barata”, expõe. Por dia são produzidos em torno de 700 litros.

Ampliação de silos Devido a grande oferta de grãos (milho, soja e trigo), nos Vales do Taquari e Rio Pardo, a Cooperativa Rural dos Vales (Cooperval), instalada em Cruzeiro do Sul, projeta ampliar a capacidade de armazenagem. Conforme o gerente da unidade, Alexandre Schneider, o limite de estocagem chega a 19 mil toneladas. Além do aumento da área cultivada, devido a boa valorização do milho e soja na última safra, a habilitação para estocar milho subsidiado pela Conab, tornam o investimento viável e necessário para atender a demanda regional. Além de novos silos, está prevista a compra de uma balança rodoviária, um depósito de insumos

agrícolas e a médio prazo a instalação de uma fábrica de rações para agregar valor à matéria-prima estocada e comprada dos 1,5 mil associados. Quanto ao preço da saca de milho, projeta novas quedas para os próximos meses. Essa semana a saca está cotada em R$ 27,50. São R$ 9 a menos comparado ao valor pago em fevereiro de 2016. “Se a safrinha do Mato Grosso e Paraná ficar dentro da média histórica, a cotação despenca ainda mais”, antecipa. Embora tenha oferta na região, segundo Schneider, muitas empresas optam em comprar o milho destas regiões devido ao baixo valor praticado.

Cooperativa possui capacidade de estocar 19 mil toneladas. Espaço é insuficiente para a demanda


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07



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