AH - Agronotícias | 28 de novembro de 2015

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Especial do jornal A Hora

NOVEMBRO | 2015

Circulação mensal GIOVANE WEBER

Hora de otimizar os custos Com a tendência de margens apertadas na safra de verão devido ao aumento de todos os insumos, a meta é ser mais eficiente, priorizar a gestão e fazer cultivos menos onerosos, sem alterar a produtividade. A ocorrência do El Niño agrava os riscos.

Páginas 12 a 19


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Editorial

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momento atual exige cautela e cabe ao produtor otimizar da melhor forma possível todos os recursos à disposição. Da porteira para dentro, dá para melhorar sempre. Está na hora de investir em gestão para diminuir o custo operacional e melhorar a eficiência. É necessário contabilizar os custos e avaliar se a atividade vale mesmo a pena. Caso a rentabilidade esteja negativa na sua avaliação, o produtor pode optar por arrendar para um vizinho ou mesmo buscar outra atividade que tenha menos risco no momento, como a pecuária. Um dos principais equívocos de muitos agricultores é não saber exatamente quanto gasta para fazer a lavoura. Falta de recursos, alta dos insumos e incerteza quanto ao clima devido ao El Niño podem quebrar um ciclo de cinco anos estáveis. As compras devem ser muito bem negociadas e planejadas. Assim como utilizar de maneira racional os insumos. Com as precipitações acima do volume normal, o que favorece doenças como a ferrugem, é preciso estar atento a um trabalho preventivo para evitar prejuízos. O agricultor deve pensar em todo sistema e não em apenas uma cultura de forma isolada.

É hora de estar com os pés no chão. Responsabilidade nos compromissos. É um momento para muito controle. A próxima safra vai selecionar, e só os bons permanecerão Não se pode tentar economizar suprimindo itens fundamentais no andamento do negócio, como a análise do solo, sementes de qualidade, plantar, adubar e tratar na hora certa e quantidade indicada. Com uma visão sistêmica e aplicação de um manejo racional da lavoura, o produtor deve buscar se capitalizar e estabelecer seu capital de giro, o que permitirá “navegar” com mais tranquilidade em momentos como o que vivemos, com a elevação de taxas de juros, que afetam financiamentos, incluindo o agrícola. Assim como aconteceu na década de 1990, quando muitos foram excluídos do processo produtivo devido a problemas de gestão e endividamento, o cenário se repete. Quem não souber fazer o correto levantamento de custos acumulará perdas, terá menos produtividade e lucratividade em comparação com ciclos anteriores. Há oito anos registramos boas safras e rendimentos. Com a oferta de crédito e o preço das commodities em alta, foi possível trocar máquinas, ampliar a área cultivada e comprar terras. Foram anos de “vacas gordas” e que não retornarão tão cedo. Está na hora de ser eficiente para conseguir superar a crise vivenciada em todos os setores e que começa a afetar o agronegócio. Fundado em 1º de julho de 2002 Vale do Taquari - Lajeado - RS Diretor Geral: Adair Weiss Diretor de Redação: Fernando Weiss Diretor Comercial: Sandro Lucas Diretor Administrativo: Fabricio Almeida

Índice

Cuidado com os excessos

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Os 90 dias vitais

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Safra de pêssego – menos frutas no pomar

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Entrevista com o pesquisador da FAO Teodardo Calles

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Ácaros ajudam no controle biológico

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Batata-inglesa – inovar para elevar a demanda

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Especial safra de grãos

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Susaf - Muito além das fronteiras municipais

Tenho dito A seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados. É uma pena. O Brasil tem as melhores condições para alimentar bem seu povo e o mundo. O agronegócio puxa a economia nacional e a de muitos estados. Só os governos não se apercebem. Já vi esse filme mais vezes. É um processo cíclico. Incentivam o setor primário e, depois, fazem de tudo para quebrá-lo. Começou com Delfim Netto quando os nossos concorrentes mundiais o aconselharam a tirar os subsídios do setor primário. Só que eles os têm historicamente. Foi quando nosso setor primário quebrou nas décadas de 80/90. No Banco do Brasil, participei da reconstrução. E agora começa toda a “novela” de novo. Mas também? Colocaram um representante do sistema financeiro como ministro da Fazenda. Querem o quê? Oreno Ardêmio Heineck – Diretor-executivo do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) IGL)

Época de crise financeira é aquela que precisamos de muito mais atenção no setor de produção. Fazer investimentos adequados para que os índices de produção atinjam resultados de ponta dentro do sistema produtivo. Produzir com produtividade. O apoio técnico é muito importante, pois poderá indicar alternativas para superar as dificuldades do momento, desde a preparação do solo, plantio, práticas de manejo, colheita, armazenamento, mercado e comercialização. Gilberto Moacir da Silva – Médico-veterinário e consultor técnico

O Brasil vive um momento muito delicado e de grande instabilidade econômica. Nesse esse or sua contexto, somam-se ainda os conflitos políticos que afetam o planeta num todo. Por dos vez, o meio rural precisa fazer verdadeiras manobras para administrar os elevados valores dos insumos necessários para encaminhar uma nova safra. É necessário ficar atento às pesquisas de mercado que são importantes indicativos de tendências. A agricultura depende também do fator clima que deve ser constantemente atualizado para obter maior precisão quanto ao encaminhamento das lavouras. No mais, sempre ter presente o fator administração para registrar os custos e evitar despesas desnecessárias. Afinal, neste ano está sendo plantada uma das safras mais caras da história. Lauro Baum – Presidente do STR de Lajeado

DIREÇÃO EDITORIAL Fernando Weiss

COORDENAÇÃO Giovane Weber

CRÉDITOS DA CAPA: Anderson Lopes, Gustavo C. da Silva e Divulgação.

PRODUÇÃO Giovane Weber

ARTE Gianini Oliveira

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)



Ciclo compreende os 60 dias antes do parto e os 30 depois . Nesse estágio, a vaca passa por muitas transições, incluindo mudanças fisiológicas e metabólicas que influenciam na produtividade. Cuidar da dieta, manejo e bem-estar é primordial.

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Os 90 dias vitais O

s 90 dias vitais são definidos como o período de 60 dias antes do parto (secagem das vacas) até 30 dias após o mesmo. Nesse intervalo de tempo, a vaca passa por alterações fisiológicas e metabólicas. A transição bem-sucedida determinará o sucesso da produtividade e ajudará a melhorar a rentabilidade da propriedade. Segundo o médico-veterinário Wagner Mitsuo Nagao de Abreu, o período de pré e pós-parto, definido como os 90 dias vitais da vaca, “é o alicerce que define a produtividade do animal para a próxima lactação.” Segundo Abreu, é a época ideal para aplicar as vacinas e vermífugos, pois evita a interrupção da venda de leite. Nesse momento, o produtor muda a forma de manejo e ajusta a dieta alimentar. Aconselha a observar o comportamento das vacas após o parto. “Se o animal ciscar no alimento, estiver de cabeça baixa, está doente e precisa de tratamento.” Chama atenção para o gerenciamento do balanço energético. De acordo com o especialista, durante a gestação e pós parto, o consumo de alimentos é sempre menor do que a energia gasta. Isso provoca um desequilíbrio, que pode resultar em doenças, aumento do intervalo para a vaca entrar no cio e elevação dos custos com medicamentos. “Precisamos reduzir a intensidade e a duração deste ciclo. O bem-estar, acompanhamento técnico e uma boa dieta alimentar ajudam a reduzir os riscos e os custos.” Pesquisas apontam que 50% do rebanho registra um caso de mastite durante a lactação, a metade verificada nos 30 dias após o parto. Além da perda financeira, Abreu alerta para a redução de até mil litros de leite

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dos ao preço médio de R$ 0,93 o litro. Outra dúvida esclarecida foi quanto à confecção de silagem e seu armazenamento. Na próxima safra, adotará cuidados considerados fundamentais pelo técnico para oferecer ao gado um alimento de qualidade e com alto índice de proteínas. “Observarei o período de maturação do milho, a umidade, a temperatura e o local onde deposito a matéria-prima.”

No período é importante cuidar do manejo, aplicar as vacinas e balancear dietas

durante o ciclo produtivo. A gestão e a formulação de dietas são componentes importantes na gestão do potencial de produção da vaca e do seu bem-estar. As vacinas são importantes medidas de controle de doenças sendo aplicadas em momentos estratégicos no perío-

do dos 90 dias vitais. A dieta devidamente formulada, e em ambiente limpo, e decisões de manejo são importantes para restaurar a competência do sistema imunológico da vaca o mais rápido possível após o parto. Elas trabalham com o sistema imunológico adquirido para ajudar a prevenir doenças respiratórias e reprodutivas na próxima lactação. Programas de controle de mastite são implementados para evitar novas infecções e para sarar as existentes.

Melhor taxa de reprodução

É o alicerce que define a produtividade do animal para a próxima lactação Wagner Mitsuo Nagao de Abreu, médico-veterinário

Leandro Diedrich, de Capitão, busca uma solução para o baixo índice de reprodução do rebanho. O intervalo chega a 18 meses em alguns animais. “Achei que era a alimentação ou a qualidade do sêmen. Conversando com um veterinário, percebi que preciso mudar o manejo e proporcionar mais bem-estar. Tudo interfere.” Diedrich mantém um plantel de 30 animais, cuja produção diária chega a 500 litros, vendi-

Gestão e infraestrutura

Na propriedade de André e Flávia Schorr, em Mato Leitão, a atividade leiteira se transformou na principal fonte de lucro faz dez anos. Na época, em parceria com o pai de André, o plantel era de 15 animais, cuja produção diária era de 200 litros, média de 13 por vaca. Há um ano, investiram R$ 350 mil em infraestrutura, ordenha mecanizada, sanidade, nutrição, genética e gestão. Os números mudaram. No free-stall, estão alojadas 55 vacas leiteiras. A média produzida por dia chega a 25. “Mudamos a forma de gerenciar e cuidar do rebanho. Tudo é calculado na ponta do lápis.” Outra mudança diz respeito ao Programa de Controle Reprodutivo do rebanho. Exames ginecológicos e diagnósticos de gestação são realizados por ultrassonografia e a utilização da IATF acelera a eficiência do rebanho. Schorr também prioriza o bemestar dos animais. Foram instalados ventiladores, cochos de água,camas, cortinas e sistema de aspersão e nebulização de água para evitar o estresse calórico. “Nas antigas instalações o calor provocava baixo consumo alimentar e a produtividade caía até 20%. Hoje aumentou em 10%.”



Excesso de chuva, calor fora de época, granizo, geada e vendavais prejudicam o rendimento nos pessegueiros. No Vale do Taquari, perdas se aproximam de 80%. Se não bastasse, o ataque de doenças como a podridão parda reduz a qualidade e o preço.

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Menos frutas no pomar A

safra de pêssego registra prejuízos devido às condições meteorológicas desfavoráveis. Para a indústria, é uma das piores dos últimos dez anos. Geada e granizo prejudicaram o desenvolvimento. Conforme levantamento da Emater Regional de Lajeado, a projeção inicial era de colher mil toneladas no Vale do Taquari. Após as intempéries, essa estimativa caiu para apenas 400 toneladas. Segundo o engenheiro agrônomo, Derli Bonine, o principal motivo para as perdas foi a ausência de frio, o que provocou brotações e florações irregulares. “Quando veio frio tardio em setembro, houve geada, chuva em excesso, vento e granizo. A maioria dos pomares foi devastada.” Em Arvorezinha, a produtividade prevista está em seis toneladas por hectare, frente as dez ton/ha inicialmente previstas. Em Roca Sales, onde estão em colheita as variedades premier, chimarrita, chiripá e aurora, as perdas calculadas pelos técnicos da Emater se aproximam de 80%. Em Vale Real, principal produtor do Vale do Caí, o excesso de chuvas no período de maturação dos frutos provoca queda de 70% no rendimento. A incidência da podridão parda, principal doença fúngica dos pomares de pêssegos, é elevada nesta safra. As causas são a falta de tratamentos, em função do excesso de chuvas, e as machucaduras causadas pelo granizo. Mesmo com uma produtividade menor, o preço da fruta não registra aumento. “Varia entre R$ 2,50 e R$ 3, dependendo da qualidade.” São em torno de 50 produtores na região, cuja área cultivada é de 74 hectares. A safra iniciou em outubro e se estende até dezembro. Além da venda in natura, parte das frutas é destinada para confecção de compotas e schmiers.

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50 milhões de latas. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas (Sindocopel), Paulo Crochemore, os frutos maduros, quando descascados e partidos, mostram aproveitamento de apenas 35%, tirando os pedaços com feridas e danos.” Mesmo com os lucros menores e aumento no preço dos insumos (latas e açúcares), o valor pago ao produtor terá um acréscimo de quase 50%. Em consequência, Paulo já estima que a lata chegue aos atacadistas a R$ 4,70 em média e com mais 70% sobre esse preço ao consumidor. “Ainda é menor do que se fosse importado.” Em Pelotas, há 700 produtores, totalizando três mil hectares. A região é responsável por 95,3% da área e produção de pêssegos tipo indústria no RS. No Brasil, são 21.326 hectares de pêssego segundo o Censo Agropecuário do IBGE. O maior produtor e consumidor da fruta é a China.

Produção do RS Mesmo com produtividade menor, preço compensa parte dos prejuízos

Área será reduzida O produtor Irto Marmentini afirma que perdeu um número considerável de frutas porque o pomar foi atingido pelo granizo quando o pêssego estava em formação. Mesmo assim, acumula uma queda de 70% no pomar de cinco hectares onde cultiva as variedades pampeano, premier, vanguarda e chimarrita. “Frio fora de época, chuvas, granizo, tudo influenciou. Das 600 caixas (20 quilos cada) previstas, vou colher apenas 250.” Embora o preço do quilo tenha registrado um aumento

de 50% em algumas variedades e chegue a R$ 5, o prejuízo é inevitável. Outra dificuldade é a ausência de mão de obra. Neste ano contratou um funcionário de Erechim. O gasto diário é de R$ 100. “Em dez anos pretendo parar com a fruticultura que hoje ocupa 21 hectares.”

Pior safra desde 2005 Em Pelotas, principal polo de produção de pêssegos em conservas, as 13 indústrias de doces estimam processar

4,5 mil hectares 58,8 mil toneladas 2,6 mil produtores – Pinto Bandeira, Caxias do Sul e Farroupilha são os maiores produtores – Estado produz mais de 50% da safra nacional – Setor movimenta até R$ 400 milhões – Gera 2,5 mil empregos diretos e indiretos

Produção do Vale do Taquari 74 hectares mil toneladas 50 produtores Dados relativos à safra de 2014 Fonte – Emater


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Para Calles, há uma série de desafios a superar, como a fome, que atinge cerca de um bilhão de pessoas no mundo, a degradação do solo, o aumento da população mundial, o surgimento de novas pragas, as mudanças climáticas e a poluição em geral.

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ENTREVISTA

“Temos de descobrir como gastar menos recursos e ainda produzir mais”

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egundo o pesquisador Teodardo Jose Calles Ramirez, representante do Escritório de Agricultura de Plantas Leguminosas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura em Roma, na Itália, a entidade tem cinco objetivos estratégicos: erradicar a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição, que hoje atinge um bilhão de pessoas, ampliar a produção sustentável em todas as culturas, reduzir a pobreza no meio rural, possibilitar sistemas eficientes de agricultura e ampliar o poder de recuperação em casos de desastres. A Hora – Qual o maior desafio do agronegócio nos próximos anos? Teodardo Calles – São vários, mas o principal é produzir de forma sustentável. Precisamos ampliar a oferta de alimentos por meio de um sistema diversificado que preserve os recursos para as próximas gerações. Se precisar usar agrotóxicos, que se faça de forma eficiente. É preciso ajudar os continentes a se defender dos desastres, principalmente no campo. Uma das saídas é a implantação de um sistema in-

tegrado de produção. Precisamos levar ao produtor novas formas de cultivo, tecnologias adaptadas à realidade de cada região. A agricultura de precisão em muitos países está bastante difundida, mas não sabemos se chegará a todos devido ao alto custo.

a produção. Temos que pensar como podemos utilizar os recursos de forma mais sustentável, pois as outras gerações precisam ter onde e como produzir.

O que mais preocupa na hora de produzir alimentos? Calles – Nós temos recursos naturais escassos, por isso, necessitamos usá-los com sabedoria. A monocultura leva à degradação do solo, poluição da água e perda de muitas variedades e espécies. A mudança do clima com influência do El Niño também preocupa. Precisamos aprender a economizar, colocar menos insumos e assim melhorar

A sustentabilidade só será alcançada a partir da conservação dos recursos naturais e do aumento da eficiência no seu uso.

Como podemos reduzir a forme no mundo? Calles – Conforme a FAO, há no mundo mais um bilhão de pessoas famintas. Até 2050 o planeta terá oito bilhões de habitantes. É difícil dizer se o Brasil será um grande produtor de alimentos. O país é uma das opções, mas não sabemos se o modelo usado é o correto. Temos feito muitas pesquisas e vamos uni-las e analisar qual o melhor a ser aplicado em cada região. Podemos melhorar as variedades, plantar em novos ambientes. A nossa preocupação é ter água e solos disponíveis. Esses recursos estão contaminados em muitos locais devido ao uso excessivo de agrotóxicos. Ainda teremos de conviver com essas tecnologias por muito tempo. Importante é usar de forma sábia e eficiente para que o processo produtivo fique menos químico e um pouco mais amigável. Considerações finais Calles – Não sabemos qual a solução para aumentar a oferta de alimentos no futuro. Se será a monocultura para produzir em larga escala ou se optaremos por diversificar as lavouras. O importante é não usar apenas um modelo. Se aqui no Vale do Taquari o sistema de produção integrado é bom, garante renda e oferta de alimentos, não podemos dizer que ele será bom para aplicar em outro estado ou país. A meta é utilizar melhor os recursos à nossa disposição, mantê-los e até recuperá-los para aumentar a produção.

Pesquisador da FAO Teodardo Calles


Pesquisa da Univates com ácaros predadores que se alimentam de outros ácaros evita uso de pesticidas. Trabalho é desenvolvido com produtores de morangos dos Vales do Taquari e Caí e da Serra Gaúcha. Além da redução dos custos, lucro aumenta com a venda de produtos cultivados de forma natural.

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Na propriedade de Kapler, o controle biológico com os ácaros ajuda a produzir morangos com mais sabor e reduz as perdas com pragas em 95%

Ácaros ajudam no controle biológico

O

s ácaros são seres tão pequenos que, muitas vezes, não é possível vê-los com os próprios olhos. Eles estão em todos os lugares e são, inclusive, causadores de doenças – tanto em espécies animais quanto em vegetais. Mas o que poucos imaginavam é que os próprios ácaros poderiam ser utilizados no controle biológico de plantações de alimentos. É nesse contexto que atua a equipe do Laboratório de Acarologia, coordenada pelo

É aplicar pesticida ou arcar com o prejuízo. Hoje colho uma fruta saudável e graúda Delmar Kapler, Produtor

professor Noeli Juarez Ferla, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Univates (PPGBiotec), Lajeado. Há cerca de dez anos, os pesquisadores desenvolvem trabalho conjunto com produtores de morango dos vales do Taquari e Caí e da Serra Gaúcha. Os produtores buscam na Univates aquilo que evita utilizarem pesticidas: ácaros predadores que se alimentam de outros ácaros. Conforme o professor Ferla, há dois grupos de ácaros: aqueles que se alimentam

de plantas (herbívoros) e aqueles que se alimentam de suas presas (predadores). “Estes reconhecem suas presas pelo odor e os comem.” No ambiente controlado do laboratório, são testadas como essas relações acontecem, para que possam ser aplicadas no ambiente natural, conta. A equipe coleta os ácaros e os leva ao laboratório para observá-los em nível microscópico. Em seguida, os pesquisadores aumentam as populações dos predadores e os devolvem para fazer o controle nas plantações.


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Menos custos e mais sabor

Perdas reduziram em 95%

Segundo Ferla, o morango produzido pelo controle biológico tem um sabor mais doce ou natural. “É no momento em que a planta se defende de alguns organismos que ela produz o sabor (substâncias secundárias) e, com a utilização de ácaros, podemos controlar a quantidade de organismos que queremos manter.” Isso não acontece com o uso de pesticidas, pois eles acabam com todos os seres e, assim, as plantas perdem a possibilidade de produzir seu odor e, por consequência, o seu sabor. O processo de controle biológico com ácaros é lento. O resultado é melhor percebido depois de dois ou três anos. São fornecidos ácaros predadores para produtores que têm desde 200 plantas até 35 mil plantas. Outro benefício é a diminuição dos custos de produção, já que não é necessária a compra de pesticidas e outras substâncias químicas.

O produtor Delmar Kapler, de Arroio do Meio, utiliza os ácaros há três anos para fazer o controle de pragas nos 12,5 mil morangueiros cultivados. “Meu cultivo é orgânico e perdia até 95% da produção. É aplicar pesticida ou arcar com o prejuízo. Hoje colho uma fruta saudável e graúda.” Outras vantagens são o sabor das frutas e o aumentou do rendimento por pé. “Passa de 300 gramas.” A produção de morangos iniciou há seis anos para complementar a renda baseada no cultivo de hortaliças e produção de peixes. Por ciclo são colhidos 3 mil quilos de morangos. Por serem orgânicos, o preço é mais elevado e chega a R$ 17 o quilo. Em Bom Princípio, sete produtores da Associação Ecomorango utilizam os ácaros para fazer o controle de pragas. Conforme o presidente José Veit, os primeiros testes iniciaram há dez anos. Na época o ácaro predador era comprado de São Paulo. Com a pouca eficiência recorreram ao

laboratório da Univates. “Quando aplicado corretamente ele elimina 100% as pragas.” O grupo cultiva 60 mil morangueiros, cuja produção média

por pé chega a 500 gramas por ano. A bandeja de 300 gramas é vendida a R$ 5 em feiras ecológicas e mercados da Serra Gaúcha.

Mercado cresce 15% O mercado mundial de defensivos agrícolas biológicos registra crescimento cinco vezes superior ao da indústria de defensivos químicos. A avaliação é da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, entidade que reúne os principais produtores desse mercado. Segundo dados consolidados pela CPL Bussiness Consultantes, de 2011 a 2014, o mercado mundial teve crescimento médio anual de 15,3%. No Brasil a percepção é de que as vendas desse setor cresçam entre 15% e 20% nos próximos anos.

O presidente da entidade, Pedro Faria Júnior, informa que esse setor cresce devido ao elevado custo para se desenvolver defensivos químicos, em torno de US$ 250 milhões, a demanda da sociedade por alimentos sem resíduos e ao fato do produto biológico, quando utilizado em alternância com o químico, permitir o prolongamento da vida útil dos defensivos químicos. Agricultura sustentável, maior resistência das pragas e oferta limitada de moléculas pelos produtores de químicos justificam a preferência dos produtores.


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Falta de áreas para plantio, retração do consumo e concorrência com outros estados são entraves para expandir o cultivo de batata-inglesa. Outra preocupação é quanto às perdas, que chegam a 40% do total produzido. Oferecer novas formas de consumir o produto é desafio para elevar a demanda.

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Inovar para elevar a demanda V aldecir Cagliare, de Carlos Barbosa, e Luiz Fink, de Bom Retiro do Sul, são pioneiros na região no cultivo de batata-inglesa, das variedades asterix e ágata. Neste ciclo, a produtividade na área de 20 hectares foi afetada pelo excesso de chuva e frio fora de época. “Choveu 400 milímetros em uma semana. Todo adubo foi levado e registramos uma queda de 50% na produção”, comenta Cagliare.

Por hectare foram colhidas 300 sacas de 50 quilos. Em safras normais, esse rendimento ultrapassa as 700 sacas. As intempéries influenciaram no tamanho. A maioria dos clientes prefere os tubérculos maiores, graúdos. Neste ciclo, mais de 30% das batatas colhidas é considerado abaixo do padrão normal. “Até se vende essas miúdas, mas o preço é desolador. Recebemos R$ 10 a saca, enquanto a maior alcança R$ 50.”

Diversificar a oferta do produto é uma saída para atrair novos consumidores Natalino Shimoyama, gerente-geral da ABBA

Com uma boa produção em São Paulo e Minas Gerais, o mercado ficou saturado e o preço despencou. Há poucos meses, o quilo chegou a R$ 2. Agora está cotado a R$ 0,80. O custo por hectare neste ciclo ficou em R$ 15 mil. “É quase inviável plantar. A saída seria beneficiar a matéria-prima, mas para isso precisaríamos nos unir em grupos.” Outra dificuldade é a falta de mão de obra. A colheita mecanizada é

possível, no entanto, o produtor destaca o alto custo do equipamento e a necessidade de terrenos planos, sem rochas. Oferta de sementes com qualidade é outro empecilho. “Eu mesmo faço as minhas para garantir o plantio e um bom rendimento.”

Pouca escala comercial No Vale do Taquari, a maioria das áreas cultivadas é destinada à subsisGIOVANE WEBER


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Principal hortaliça

São cultivados em torno de 129,9 mil hectares, cuja produção chega a 3,5 milhões de toneladas, segundo levantamento da Associação Brasileira da Batata (ABBA). O Estado de São Paulo é responsável por cerca de 18,5% da batata produzida no Brasil, sendo o segundo maior produtor, atrás apenas de Minas Gerais. Entre as cultivares mais plantadas, estão as importadas ágata (líder de mercado), asterix, atlantic, cupido, monalisa e mondial. Conforme o gerentegeral da ABBA, Natalino Shimoyama, os maiores entraves para a expansão da cultura estão relacionados à disponibilidade de áreas para o plantio, variedades mais competitivas, batata-semente de qualidade, irrigação das áreas, manuseio inadequado, desuniformidades, intempéries (calor, frio, chuva e seca) e problemas fitossanitários.

“Perdemos num todo 40% das hortaliças colhidas.” Ele ainda acrescenta à lista a falta de pesquisas, a retração do consumo, a comercialização e as legislações trabalhistas, ambientais e tributárias. “A oferta do produto é regulada pelo clima.”

Consumo em queda

Por ano, a média consumida por habitante chega a 14 quilos, número é cinco vezes maior na Europa e EUA. De acordo com o IBGE, em 2003 o consumo caiu para 5,2 quilos. A recuperação começou há nove anos. “Isso mostra que não há no Brasil uma cultura de consumo da batata e nem de sua importância nutricional", observa. Shimoyama ressalta a necessidade de se criar nichos de mercado, ou seja, variedades para cada mercado. “Diversificar a oferta do produto é uma saída para atrair novos consumidores.”

Produção Estado País

tência. Conforme o assistente técnico regional em Agroindústrias da Emater/ RS-Ascar, Alano Tonin, boa parte da hortaliça vendida nos mercados da região é comprada da Serra Gaúcha. Na Região Sul, há três épocas de cultivo - de primavera (safra), de verão e outono (safrinha). Entre as principais dificuldades, cita a pouca oferta de sementes com boa qualidade. “Influencia direto nos resultados da lavoura.” Além disso, a planta é muito suscetível a doenças, fungos, bactérias e vírus que provocam grandes perdas.” A produtividade média é de 16,9 toneladas por hectare. São Francisco de Paula é o maior produtor, com uma área de aproximadamente 3,6 mil hectares. Segundo Tonin, o RS representa 13% da produção nacional, alcança 400 mil toneladas. Minas Gerais produz 30%, Paraná 26% e São Paulo 20%.

129,9 mil hectares 3,5 milhões de toneladas rendimento por hectare – 27,5 mil quilos 35 mil hectares 400 mil toneladas

A batata é o quarto alimento mais consumido no mundo, depois do arroz, trigo e milho É originária dos Andes peruanos e bolivianos onde é cultivada há mais de sete mil anos Variedades mais cultivadas

Película vermelha: asterix, baronesa e macaca

Película amarela: ágata, catucha, cristal, eliza e monalisa

A produção total por ano alcança 19,6 milhões de toneladas e movimenta em torno de R$ 25 bilhões no país De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal seria que cada pessoa consumisse 400 gramas diárias de frutas, legumes e verduras (FLV). No Brasil, esse número fica em 150 gramas Fonte - Emater e ABBA


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CAPA

Com a tendência de lucratividade apertada, inclusive para a soja, a palavra de ordem é gestão. O produtor precisa buscar estratégias para maximizar os recursos disponíveis, calcular formas de reduzir os custos e usar cada centavo da melhor forma. A meta é um cultivo menos oneroso, colhendo igual ou mais do que em safras anteriores.

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Safra da eficiência A

safra de verão será uma das mais onerosas até hoje. Todos os insumos utilizados direto e indiretamente na lavoura registram aumento – fertilizantes, defensivos, sementes, óleo diesel, energia elétrica, mão de obra e até os juros do custeio. A ocorrência do El Niño, que traz chuvas acima da média nas principais regiões produtoras de grãos, agrava o quadro. Segundo levantamento da Conab, a safra de grãos 2015/16 está estimada entre 208,6 e 212,9 milhões de toneladas, com uma variação que pode chegar até a 2,1% (4.384 mil t) acima da safra 2014/15, quando registrou 208,5 milhões de toneladas. A soja aumenta ainda mais a

A palavra de ordem é economizar e aplicar bem os recursos disponíveis. O juros estão altos e o crédito escasso. Vou trabalhar com o que tenho e evitar dívidas desnecessárias.” Waldirio Beudler, produtor

participação nesses números, podendo chegar a 102,8 milhões de toneladas e acréscimo estimado entre 4,9 e 6,6 milhões de toneladas em comparação com a safra anterior, cuja produção somou 96,2 milhões de toneladas. Já o milho primeira safra, com produção estimada entre 26,5 e 28,2 milhões de toneladas, registrou redução entre 11,8 e 6,4% em comparação à safra 2014/15, de 30,1 milhões de toneladas. O trigo também deve sofrer uma redução de 6,8% frente ao último levantamento, devendo chegar a 6,2 milhões de toneladas, 4,3% superior à da safra passada. Isso em virtude do excesso de chuvas nas regiões produtoras. Segundo levantamento da

Consultoria Agroeconômica, o agronegócio brasileiro deve continuar na contramão da economia em 2016. Para o consultor Carlos Cogo, área plantada, produção e faturamento devem continuar crescendo. O Valor Bruto da Produção (VBP) da agricultura brasileira, para outubro/2015, está estimado em R$ 319,8 bilhões em 2016, 4,3% acima do estimado para este ano. Destaques para a soja, cujo faturamento deve atingir R$ 105,4 bilhões, cana-de-açúcar (R$ 50,5 bilhões), milho (R$ 36,8 bilhões) e café (R$ 22,3 bilhões). O PIB da Agropecuária deverá crescer 2,4% no ano que vem, contra uma projeção de novo recuo no PIB brasileiro, estimado em, pelo menos, -1,5%.


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Na dose certa Diante do cenário menos favorável, produtores traçam estratégias para otimizar os recursos disponíveis e garantir boa rentabilidade. Waldirio Beudler, 63, de Linha Wink, em Teutônia, semeará 20 hectares de milho em duas etapas (safra e safrinha) e outros 23 hectares com soja. Como em ciclos anteriores, segue regras fundamentais para evitar prejuízos. Focar a gestão, cuidar da qualidade das sementes utilizadas e da forma de instalar a lavoura, plantar bem sem abrir mão da tecnologia, fazer uso racional dos insumos para reduzir custos e ter um melhor retorno em produtividade também fazem parte do planejamento estratégico. “Saber gerenciar todas as etapas e estar atento às oscilações do mercado além da porteira pode ajudar a elevar o lucro em anos de rendimentos

apertados.” A compra antecipada de insumos, ainda em junho, gerou economia de até R$ 22 por saco de adubo. Mesmo com o clima de incertezas quanto aos preços, produção e condições meteorológicas, as expectativas são otimistas. Beudler espera repetir o resultado da safra passada quando colheu uma média de 150 sacos de milho e 75 sacas de soja por hectare. O preço da saca ficou em R$ 26 e 60 respectivamente. Antecipar a venda dos grãos é um risco que o produtor evita correr. “Prefiro primeiro colher. Caso tenha prejuízos, não precisarei me preocupar em como honrar o contrato.” Após a troca do trator, cujo investimento somou R$ 30 mil, não projeta a aquisição de máquinas ou implementos para os próximos anos.

Alerta na indústria O aumento da produtividade por hectare não compensará a área reduzida. A diminuição da oferta de milho impactará diretamente nas indústrias de aves, suínos e frangos, que têm no grão a base para a alimentação dos plantéis. Segundo estimativa da Emater, a demanda chega a seis milhões de toneladas, enquanto a produção será de 4,4 milhões. Para complementar, a saída será importar o cereal de esta-

dos como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o frete e o óleo diesel mais caros, o processo produtivo será mais oneroso e refletirá em preços mais elevados dos produtos nos supermercados. De acordo com Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Produtos Suínos do Estado (Sips), mesmo com o aumento da produtividade nos últimos anos, a oferta é insuficiente. Até o surgimento dos

milhos OGMs (transgênicos), havia condições de importar da Argentina, o que se inviabilizou pelas restrições estabelecidas. “Pela falta do cereal, perdemos a competitividade, em especial, das cadeias de aves e suínos.” Para Kerber, a diferença de custo entre o RS e outros estados obriga os setores de produção (que têm no milho insumo básico) a ser mais eficientes e buscar aumentar as vendas no mercado exterior para manter as margens

de lucro. “O bom status sanitário favorece este cenário. Mas em compensação, com alta nas exportações, eleva o preço desses produtos no mercado interno.” Para Cláudio de Jesus, presidente da Associação de Produtores de Milho (Apromilho-RS), o ideal é que haja políticas públicas para incentivar a produção. Um começo poderia ser a oferta de melhor condições de seguro, pois o produtor precisa de proteção.


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Menor área em 45 anos

CAPA Espaço destinado ao milho nas lavouras gaúchas caiu 50,3% de 1970 a 2015, mas produtividade cresceu 374,8% no mesmo período. A Emater estima recuo de 9,7% em relação a 2014. Na maioria das áreas, o cereal é substituído pela soja, devido ao preço, maior resistência às intempéries e por ser aceito como moeda de troca na compra de

equipamentos e insumos. O cultivo é considerado arriscado para quem não tem sistema de irrigação, pois o cereal exige umidade. Os custos por hectare são em torno de 50% maiores do que o da soja. Beudler, por exemplo, só plantou uma área de milho por insistência da mulher. Como em ciclos anteriores, prefere

dar mais espaço para a soja. “Preciso colher mais de 180 sacas de milho para compensar a rentabilidade proporcionada pela oleaginosa. Não tem como competir”, resume. De acordo com Cláudio Doro, engenheiro agrônomo da Emater em Passo Fundo, entre os motivos para explicar o crescimento da área ocupada com

Milho

soja, está o custo por hectare. “O cultivo de milho exige cerca de R$ 2,2 mil por hectare, enquanto o da soja, R$ 1,4 mil.” No entanto, Doro alerta para as consequências. A falta de rotação de culturas deixa o solo com pouca matéria orgânica e isso terá impacto direto na produtividade da próxima safra de soja.

Área de soja Á

EEm 1970

Para 2016

Em 2015

Área – 1.737 hectares Produção – 2.386 milhões toneladas Produtividade – 1.374 quilos

Área – 863,6 mil Produção – 5.633 milhões Produtividade – 6.524 quilos

Projeção para 2016 Área – 779,5 mil hectares Queda de 9,7% na área cultivada em relação a 2015 Produção – 4.404 milhões toneladas Produtividade – 5.650 quilos Queda de 13,4% em relação à safra anterior

50,3% foi a redução da área em 45 anos A produção aumentou 136,1% entre 1970 e 2015

* estimativa

Em 1970 Área – 871,2 mil hectares Produção – 976,8 mil toneladas Produtividade – 1.121 quilos quilos

Área – 5,4 milhões de hectares – aumento de 523,1% Produção – 15,2 milhões de toneladas – aumento de 1.456,2% Produtividade – 2,8 mil quilos – aumento de 149,8%


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CAPA

Acompanhamento técnico No campo, a orientação dos 58 engenheiros agrônomos vinculados à Cooperativa Cotrijal, com sede em Não-Me-Toque, é pelo aprimoramento no uso de insumos e tecnologias disponíveis aos mais de cinco mil agricultores associados, 90% deles produtores de grãos (soja, milho e trigo). O engenheiro Luiz Carlos Rohr percorre o campo todos os dias e recomenda um trabalho preventivo contra ataque de pragas e doenças em função do aumento das chuvas provocadas pelo El Niño. Aconselha o produtor a não reduzir o uso de tecnologias, a planejar a necessidade de fazer novos investimentos em máquinas e implementos e cuidar bem do solo. “Nosso trabalho é ajudar o produtor a gerir melhor seu trabalho na lavoura.” Entre os erros mais comuns em épocas de alta nos custos, enumera a escolha de sementes

de qualidade inferior, aplicação de menor quantidade de insumos e interrupção da rotação de culturas. “Isso representa menor produtividade e não economia.” Segundo ele, há muitas práticas de manejo da lavoura que não custam mais, como fazer o plantio, aplicar o adubo, os herbicidas, fungicidas e inseticidas no momento certo. Para a gerente da Cooperagri, de Teutônia, Cristiana Terra, especializada em gestão empresarial, o produtor deve buscar orientação técnica para qualificar a gerência do negócio. “Não se pode enxergar apenas o que sai do bolso. Estar ciente do que mantém a produtividade e os lucros é fundamental.” Faz cinco anos, a cooperativa desenvolve em parceria com o Sebrae programa de gestão e custos com 12 produtores. Com o acompanhamento, aprendem a quantificar os resultados.

Atenção redobrada ao solo Na propriedade dos irmãos Wilfüng (foto), em Linha Lenz, Estrela, um dos primeiros aspectos observados é a fertilidade do solo. Anualmente são feitas análises químicas para guiar as aplicações de adubo e fertilizantes nas lavouras de soja e milho. A formação de palha ajuda a manter a umidade em épocas de escassez de chuva. A escolha correta da semente é levada em conta, principalmente no milho, responsável por 50% do rendimento final. Juntos Gabriel, 67, e Danilo, 61, cultivarão mais de 30 hectares de soja. O milho ocupará 20 hectares. Parte do cereal será destinada à confecção de silagem para alimentar o rebanho leiteiro. O restante será vendido. A escassez de milho no mercado ajuda a elevar o lucro por saca. “Conseguimos vender o grão estocado da safra passada por R$ 35 e a tendência é

de subir”, destaca Danilo. Apesar do excesso de chuva na lavoura de trigo, os resultados foram satisfatórios. Para Gabriel, cultivar o grão no inverno ajuda a proteger o solo da erosão e da proliferação de ervas daninhas. Os custos assustam. O óleo diesel registra aumento de quase 10% e insumos como fertilizantes e adubos chegam a 30%. Danilo ainda precisa pagar parte do financiamento para compra de um trator. “Se tivermos uma boa safra, primeiro pago as dívidas. Caso sobre, pensamos em como investir para ampliar o rendimento da propriedade.” Ele nunca contraiu empréstimos bancários. Atribui isso ao planejamento e controle rígido das finanças. “Muitos nunca fizeram contas. Incentivados pelos agentes financeiros e vendedores, compram na emoção e depois quebram.”


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“O PIB deverá crescer 2,4% em 2016” O consultor Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica, fala sobre o impacto provocado pela alta do dólar, pela ocorrência do El Niño e pela redução da área cultivada para a safra de verão. A Hora – Como a alta do dólar e demais insumos como fertilizantes, óleo diesel, energia elétrica impactam na próxima safra? Carlos Cogo – O pacote de insumos básicos (sementes, fertilizantes e defensivos, dentre outros) responde por 58% a 65% dos custos de produção dos grãos no Brasil. Em média, 72% das matérias-primas necessárias à produção de fertilizantes e defensivos são importadas. A alta da taxa cambial impacta diretamente sobre esses insumos – a alta acumulada de 44,2% do dólar entre janeiro e outubro foi repassada parcial ou integralmente aos custos de fabricação/produção – e aos preços dos insumos. Sofreram impacto do reajuste os preços da energia, óleo diesel, fretes, irrigação, mão de obra e as taxas de juros do crédito rural.

Fornecer exatamente o que a planta precisa favorece o aumento da produtividade e reduz a possibilidade de perdas. Danilo Wilfüng, produtor

Qual o percentual de aumento nos custos nas principais áreas produtoras? Cogo – Pelas nossas projeções, teremos um incremento nos custos de produção dos grãos para a nova temporada 2015/16, em reais, entre 16,2% e 25,3%, em relação ao ano safra atual (2014/15), conforme o grau de “dolarização” dos custos de cada cultivo. Em dólares, os custos ficarão menores na próxima safra 2015/16, uma vez que as aquisições de insumos e demais despesas da safra atual (2014/15), que está sendo colhida, foram efetuadas a uma taxa média de câmbio de R$ 2,28. O custo de produção da soja,

por exemplo, em 2015/16, está estimado em R$ 2.934,10 por hectare na região dos Cerrados, 18,3% acima dos R$ 2.479,23 em 2014/15, com lucratividade negativa de 0,8% sobre o custo total. Em dólares, o custo está estimado em 911,21 por hectare em 2015/16, contra US$ 1.087,38 em 2014/15. Qual a maior desafio do próximo ciclo? Cogo – O clima. Dados da agência norte-americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) sobre os desvios de temperatura da superfície do mar (TSM) indicam que o fenômeno El Niño deve se intensificar até o fim do ano. Pode ser um dos mais intensos da história, segundo o Centro de Previsão do Clima (CPC) dos Estados Unidos. Projeção para a próxima safra frente à crise econômica? Cogo – No mais recente levantamento, a projeção é de 212,388 milhões de toneladas, 1,8% acima da atual (2014/15), cuja produção está estimada em 208,614 milhões de toneladas. Para 2015/16, a área de cultivo de grãos deverá crescer 1,3%, para 58,683 milhões de hecta-

Sofreram impacto do reajuste os preços da energia, óleo diesel, fretes, irrigação, mão de obra e as taxas de juros do crédito rural.

res, uma expansão de 771 mil hectares em relação aos 57,912 milhões de hectares cultivados em 2014/15. Confirma-se, assim, a tendência de redução de área em praticamente todos os cultivos de verão (primeira safra), com a expansão concentrada na soja, cuja área deverá crescer 4,1% em 2015/16, para 33,404 milhões de hectares (acréscimo de 1,311 milhão de hectares sobre 2014/15). O avanço da área de soja compensa o recuo previsto para a primeira safra (verão) nas culturas de milho, feijão e arroz. Para a segunda safra (inverno) de 2015/16, a projeção é de expansão da área de milho e de trigo. Considerações finais Cogo – O agronegócio deve continuar na contramão da economia brasileira em 2016. A área plantada e a produção de grãos devem continuar crescendo. O faturamento bruto do setor, em termos reais, deve continuar se expandindo. O Valor Bruto da Produção (VBP) da agricultura brasileira para outubro/2015 está estimado em R$ 319,8 bilhões em 2016, 4,3% acima do estimado para 2015. Destaques para a soja, cujo faturamento deve atingir R$ 105,4 bilhões, cana-de-açúcar (R$ 50,5 bilhões), milho (R$ 36,8 bilhões) e café (R$ 22,3 bilhões). O PIB da agropecuária deverá crescer 2,4% em 2016, contra uma projeção de novo recuo no PIB brasileiro, estimado em, pelo menos, -1,5%.


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“Ser eficiente sem deixar encolher a produtividade”

Após registrar aumento de 30% nos custos comparado com o ciclo anterior, Robson Augusto Steffens, 22, de Arroio do Meio, aposta no bom gerenciamento da propriedade e na diversificação para manter os resultados positivos. “A maior dificuldade será o clima. Chove muito e isso pode atrapalhar a semeadura e desenvolvimento das plantas.” Nos últimos cinco anos, foram investidos R$ 500 mil em infraestrutura e máquinas. A última compra foi um trator no início do mês. Para deixar em dia os financiamentos e consórcios, faz um rigoroso controle da receita e despesa. “Existe capital de giro, reserva de dinheiro no banco para eventuais dificuldades e as sobras são aplicadas para melhorar a produtividade do setor leiteiro, da produ-

ção de grãos e prestação de serviços para terceiros.” Com a economia baseada em três atividades, Steffens manteve a renda mensal estável. Outro diferencial é a busca por tecnologias inovadoras hoje disponíveis – sementes, adubos, fertilizantes, máquinas e

orientação técnica. Cultiva 35 hectares de milho (safra e safrinha) por safra, tudo destinado para a confecção de silagem para o rebanho de 46 vacas leiteiras, cuja produção chega a 930 litros por dia. “Plantar milho para grão é inviável pelo alto custo

Não dá para poupar na hora de escolher sementes, adubos, químicos ou tecnologia. Se plantar errado, o resultado será desastroso na hora de colher. Robson Augusto Steffens, produtor

e baixo preço.” A soja ocupará 30 hectares, cujo rendimento projetado é de 75 sacas por hectare. Para driblar as adversidades meteorológicas, optou por sementes mais resistentes e de alta performance. Steffens enumera quatro itens fundamentais para enfrentar os obstáculos da próxima colheita. O primeiro é diagnosticar, identificar o principal fator limitante ao aumento do rendimento de cada cultura. O segundo é inovar, buscar as novas tecnologias amparado por uma boa orientação técnica. O terceiro é aplicá-las corretamente na lavoura e por último fazer contas para otimizar cada vez mais os custos. “Avaliar sob ponto de vista técnico e financeiro o que realmente aumenta ou reduz a rentabilidade da lavoura, ou seja, o que proporciona mais dinheiro no bolso no final da safra.”


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Projeção safra de grãos 2015/16 Soja 15,2 milhões de toneladas – queda de 3,18% Área cultivada 5,42 milhões de hectares – aumento de 3,14% Milho 4,4 milhões de toneladas – queda de 21,82% Área – 780 mil de hectares – queda de 9,73% Outros 357,8 mil hectares serão destinados à produção de silagem – aumento de 2,47% Feijão 1ª safra 50 mil toneladas – queda de 6,45% Área – 40 mil de hectares – queda de 5,68% Arroz 8,2 milhões de toneladas – queda de 4,4% Área – 1,1 milhão de hectares – queda de 2,2% Canola 44 mil toneladas – queda de 8,5% Área de 37.444 hectares – queda de 7,5% Trigo Área de 913,5 mil hectares Produção – 1,6 milhão de toneladas Cevada Área de 35.275 hectares Produtividade média – 2,8 mil quilos por hectare Área total no RS 7.352.147 hectares (arroz, feijão 1ª safra, milho e soja) – acréscimo de 0,74%, em relação à safra anterior Produção total 27.955.987 toneladas – variação negativa de -7,05% A produção projetada para a safra 2015/16 é 10,46% maior que a média das últimas cinco safras O Valor Bruto de Produção pode gerar R$ 24,5 bilhões à economia do estado Fonte – Emater – Dados comparativos com a safra passada e estimativa para o próximo ciclo


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O selo do Susaf amplia para todo o RS a comercialização de produtos de origem animal agroindustrializados. Para obter o selo, é necessário que o SIM atenda a alguns critérios da lei, além das agroindústrias, que devem se adequar às normativas da Inspeção Municipal. No Vale do Taquari, apenas Encantado obteve o certificado.

Muito além das fronteiras municipais E

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ncantado é o primeiro município dos vales do Taquari e Rio Pardo a obter o certificado de adesão ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar (Susaf). O anúncio ocorreu em setembro. Conforme o técnico agrícola André Boeri, o primeiro ofício foi encaminhado em junho de 2013. A partir disso, o município começou um processo de ajustes e mudanças para se adequar às exigências. Uma das medidas implantadas foi a contratação de mais um veterinário. Para Boeri, o baixo número de cidades credenciadas é justificado em parte pela desestruturação do Sistema de Inspeção Municipal (SIM). “A maioria só fiscaliza. É preciso fazer um trabalho de vigilância e educação sanitária com os empreendedores.” Hoje, são mais de 90 agroindústrias familiares na região e a maioria depende da venda de produtos embutidos e carnes processadas. O técnico destaca os benefícios do programa. Além de possibilitar a abertura de novos mercados, garante ao consumidor um produto de mais qualidade, fabricado dentro das exigências sanitárias. “Cabe a nós manter o controle e ser cada vez mais responsáveis na cobrança das regras, pois passamos a ser modelo para a região.” Além de Encantado, Aratiba, Feliz, Res-

Com a certificação pelo Susaf, produtores conseguem vender para mercados de todo estado

tinga Seca, Salvador do Sul, Pinheirinho do Vale, Victor Graeff e São José do Sul já aderiram ao sistema. Em 2015, 40 municípios foram visitados pela Dipoa. Nos Vales, Venâncio Aires, Progresso e Estrela estão em processo de habilitação. Em todo estado, outros 280 municípios solicitaram a adesão.

Novos mercados

O engenheiro agrônomo e assistente técnico estadual da Emater/RS-Ascar em agroindústrias, Marcio Dalbem, enfatiza a importância dos empreendimentos atenderem às legislações tributária, ambiental e sanitária, e destacou a expansão de mercados para comercialização dos produtos.

“Novos pontos de venda permitem maior diversidade da produção e renda.” De acordo com Dalbem, mercados de grandes centros têm potencial para remunerar melhor os produtos da agroindústria familiar, citando o exemplo da Expointer, onde o queijo colonial foi comercializado em média a R$ 24 o quilo e o salame a R$ 26 o quilo, com valores significativamente superiores aos obtidos no mercado local. Para o técnico, o Susaf permitirá às agroindústrias maior segurança na participação futura em feiras, eventos regionais e estaduais. No entanto, chamou atenção para a qualidade dos produtos. É preciso focar na qualidade, ter produtos diferenciados e manter a qualidade da matéria-prima e do produto, defendeu.

O programa foi criado em 2011 para ampliar a comercialização de produtos oriundos de agroindústrias familiares que têm o SIM. Por da certificação, os empreendimentos podem realizar comércio intermunicipal.

Novos pontos de venda permitem maior diversidade da produção e renda” Marcio Dalbem, engenheiro agrônomo

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“Um leque de oportunidades” Segundo Moisés Vian, proprietário da agroindústria Primo Sole, do bairro Jacarezinho, a adesão ao sistema é a chance de fortalecer os negócios. “Num município com apenas 20 mil habitantes temos um público muito restrito. Com essa liberação pretendemos crescer até 20% no ano que vem.” O empreendimento foi criado há quatro anos, cujo investimento em infraestrutura e máquinas superou R$ 250 mil. Vian desistiu da profissão de pedreiro para se dedicar à fabricação de queijos, das variedades colonial (responsável por 80% das vendas) e temperados – em que são adicionados temperos à massa como pimenta, orégano, tomate seco, ervas finas e nozes. O preço do quilo varia entre R$ 14 e R$ 17. Por mês são industrializados dez mil litros de leite, comprados de três produtores locais. A adesão ao programa, segundo Vian, é uma oportunidade para manter o filho na propriedade. “É uma esperança e com mais opções de venda, priorizando a qualidade, com certeza nosso faturamento aumenta e ele conseguirá obter um bom salário sem precisar buscar emprego na cidade.” Maicon Fraporti e Suelen Toldo, da agroindústria Ouro Branco, da Barra do Coqueiro – distrito de Valdástico, comemoram a conquista. “É uma porta aberta para novas vendas e uma renda melhor”, comenta Fraporti. Eles vendem cerca de mil quilos de queijo por mês ao preço médio de R$ 12.


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Raça se destaca pela rusticidade, longevidade, excelente conversão alimentar e docilidade. No estado, há 30 criadores registrados. Plantel registra crescimento de 20% por ano. Qualidade do leite é um dos diferenciais.

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Gir leiteiro: versátil, eficiente e produtivo O

rebanho de gir leiteiro teve crescimento recorde no país. Em pouco mais de uma década, aumentou 400%. Chega a 150 mil cabeças, o maior entre os bovinos leiteiros. A principal vantagem, segundo os pecuaristas, é a resistência a doenças. A rusticidade permite aos animais se adaptarem em qualquer região e garante boa produtividade. Entre os fatores que alicerçaram a evolução genética da raça,

está o Programa Nacional de Melhoramento Genético do Gir Leiteiro (PNMGL), criado em 1985. Trata-se de um trabalho executado pela Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), com sede em Uberaba/MG, em conjunto com a Embrapa Gado de Leite. Por meio da inseminação artificial, o rebanho é difundido de forma mais ampla entre o grande e o pequeno produtor. Um exemplo expressivo da genética gir leiteiro no

estado são os dados de comercialização de sêmen em 2013, (incremento de 67,5% em relação a 2012), divulgados pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Foram compradas 89,4 mil doses, ficando atrás de Minas Gerais, onde foram aplicadas 260,4 mil unidades. Pecuarista e sócio do Núcleo Gaúcho de Criadores de Gir Leiteiro, Iliseu Pressler dedica-se à criação faz 13 anos, no sítio Sonho de Menino, em

Linha São José, Estrela. Mantém um plantel de 62 animais. Entre as vantagens, destaca a longevidade dos animais. “Vivem até 26 anos.” A boa adaptação ao calor e ao frio é outro ponto ressaltado. “Em Caxias do Sul, no inverno, as temperaturas ficam próximas de -5º e até neva. Ficam arrepiados, mas nada que possa prejudicar seu desenvolvimento.” Faz sete anos, começou a fazer o registro oficial da raça na Associação

de Criadores Gaúchos de Zebu. A boa genética e produção leiteira resultaram em prêmios em exposições como a Expointer. A vaca Isabela ganhou o primeiro lugar neste ano no quesito melhor úbere e vaca jovem com idade até 39 meses. Em 2016, o gado será julgado pela primeira vez na Expoagro Afubra, em Rio Pardo. Por ano são negociados em média 30 exemplares, entre matrizes e reprodutores. O valor médio de um touro de até dois ANDERSON LOPES


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NOVEMBRO/2015 anos chega a R$ 7 mil. A produção de leite é pouco explorada. No plantel de cinco vacas analisadas durante o período de lactação, a média produzida por animal ficou em 17,4 quilos. O trato foi feito à base de pastagem verde. Outras características são beleza e docilidade. “São extremamente mansos, ideais para serem criados em sítios. Adoram carinho e atenção.”

Crescimento de 20% ao ano Conforme Nathã Carvalho, gerente-executivo do Núcleo Gaúcho de Criadores de Gir Leiteiro, há em torno de 30 criadores no RS. O plantel registra crescimento de 20% ao ano. Para ele, o gir leiteiro se destaca pela rusticidade, longevidade produtiva e reprodutiva, docilidade, baixo custo de mantença, facilidade de parto, produção de leite a pasto (excelente conversão alimentar), dispensa a grande utilização de medicamentos,

exige pouca mão de obra e apresenta versatilidade nos cruzamentos. Os índices de produtividade variam de acordo com o manejo e nutrição. “A média varia entre 15 e 25 litros por dia. Em concursos leiteiros temos vacas que chegam a 60 litros.” Carvalho afirma que hoje 80% do rebanho leiteiro nacional é oriundo do cruzamento entre o gir leiteiro e o holandês-girolando. Outra característica é o sistema termorregulador

que permite que a vaca tolere altas temperaturas sem entrar em estresse térmico, comum em outras raças leiteiras, principalmente as europeias. A raça é pouco indicada para o corte, no entanto, destaca-se pela textura e maciez. A entidade foi fundada em outubro de 2009 em Estrela, com a presença de 15 criadores. Um ano após, a raça participou pela primeira vez da Expointer.

Leite de alta qualidade

São extremamente mansos, ideais para serem criados em sítios. Adoram carinho e atenção Iliseu Pressler, produtor

O leite é de grande qualidade nutricional, com alta porcentagem de gordura e proteína. Assim é um produto muito apreciado pela indústria de laticínios. Outra vantagem é a produção do Leite A2, que diminui a incidência de alergias à determinada proteína do leite, comum em outras raças leiteiras. O teor de gordura chega a 4,04%, proteína 3,03%, lactose – 4,58% e sólidos totais – 12,81%.

Consome menos alimento O criador Airton Carlos Schneider, de Lajeado, fala sobre as vantagens da raça. Na Cabanha Sossego, investe na propagação da genética em favor da atividade no estado. “É uma raça mais rústica,

que consome menos alimento e tem menos problemas com doenças, como mastite.” Embora a produtividade não seja tão elevada em comparação com vacas jersey e holandesa, o leite da gir tem mais gordura e proteínas. “É um produto com ótima aceitação e que ganha cada vez mais espaço.”

Como surgiu O gir é uma raça zebuína, originária da Índia, das regiões de Gir na Península de Kathiawar. Junto com as raças do tipo misore, ao sul, e as das regiões montanhosas, ao norte, é considerada de criação mais antiga. Os primeiros exemplares da raça gir devem ter chegado ao Brasil por volta de 1906, em uma das importações efetuadas por Teófilo Godoy. No entanto, Wirmondes Machado Borges, criador no Triângulo Mineiro, afirmou ter sido ele quem a trouxe em 1919. Mais quatro importações da Índia, em 1930, 1955, 1960 e 1962, foram importantes para a formação do gir brasileiro.



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