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Série polêmica da artista visual Viviane Cardell questiona a assexualidade das bonecas Barbie

O ano era 2006, quando Viviane Cardell, artista plástica com formação também em Antropologia, lançou sua primeira série de vulvas idealizadas. A coleção foi apresentada em Madri, na Espanha, e posteriormente em São Paulo, no ano de 2009. Desde então, suas obras vêm sendo expostas em mostras e galerias particulares.

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Recentemente, em dezembro de 2022, Cardell apresentou o projeto VoaVulva na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, em Portugal. Nesse, a artista transpôs suas vulvas para o papel de seda de pipas, que ganharam o céu da cidade pelas mãos de mulheres de origens diferentes.

O questionamento levantado pela série Toy Pussy atravessa a hipersensualização de um objeto de consumo [a boneca], que ao mesmo tempo é um mero cabide para acessórios. “quando todos [os acessórios] são suprimidos, e a boneca fica finalmente nua, revela-se a representação de uma mulher assexuada, sem qualquer sinal de vulva entre suas pernas”, aponta a artista. A série também faz um alerta a um modelo de feminilidade imbuído de uma carga simbólica avassaladora e sustentado pela indústria do consumo, “que incutiu uma fábula na cabeça das crian- ças”, segundo Cardell. “A de que, para se tornar mulher, é fundamental que se obtenham novas roupas, sapatos, casas, móveis, imóveis, outros bonecos, um mundo inteiro, sempre”, explica. Viviane não criou suas obras para o público infantil, exatamente, mas foram concebidas por causa dele. Com Toy Pussy “proponho uma reflexão acerca dos papéis sexuais impostos por uma cultura que subtrai uma consciência saudável da própria sexualidade, tratada como tabu, ao mesmo tempo em que o hiperssexualiza, tornando-o vulnerável a toda forma de abuso”, detalha.

Ao conceber a coleção de vulvas imaginárias para a Barbie, “idealizo uma cura simbólica para a boneca mutilada, e para as meninas românticas que crescem sequestradas por um modelo superficial de feminilidade”, almeja a artista. A obra, segundo Cardell, apresenta um contraponto à cultura de padrões rígidos de beleza, “especialmente às mulheres para que se convertam em ‘corpos obedientes’, expressão cunhada por Naomi Wolff em seu livro ‘O Mito da Beleza’”, discute a artista.

Cardell aponta que “são alarmantes as notícias sobre o crescimento exponencial de cirurgias estéticas do órgão genital feminino, com as vaginoplastias, labioplastias e ninfoplastias, com o objetivo de adquirir uma vagina ‘delicada como uma Barbie’, essa tal boneca que não tem vagina”. Quando apresentadas, a expografia reproduz uma vitrine de brinquedos, onde as vulvas coloridas ficam dentro de caixas acrílicas transparentes com rótulos, como nas embalagens de brinquedos. Mesma inspiração que envolve outros detalhes, como frases que integram as caixas e explicam os brinquedos.

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